segunda-feira, abril 04, 2011

GEORGE VIDOR - É cedo


É cedo 
GEORGE VIDOR

O GLOBO - 04/04/11

Os objetivos de política econômica quase sempre são contraditórios, ou até antagônicos em alguns momentos. Crescimento acelerado com inflação em queda - e contas externas equilibradas, ainda por cima - só é possível em raras ocasiões. Depois do Plano Real, o Brasil trocou inflação por dívida pública, e agora está trocando investimento por inflação acima do centro da meta (4,5%).

Menos mal, embora tal troca tenha necessariamente vida curta. Diante do comportamento dos preços internacionais, a inflação em 2011 somente recuaria para 4,5% com freada brusca da economia, que paralisasse os investimentos e elevasse a taxa de desemprego de 6% para 9%, por exemplo. Mesmo assim, isso não resolveria o problema, pois qualquer retomada posterior da economia traria de volta a inflação.

Nesse ambiente de cobertor curto, o jeito é moderar o crescimento da economia. Com o ajuste em andamento, o Banco Central espera que o Produto Interno Bruto (PIB) evolua 4% em 2011 (comparado aos 7,5% de 2010, é algo relevante). Se esse esforço se mostrar insuficiente para empurrar a inflação para o centro da meta (e uma parte considerável do mercado financeiro acha que esse risco existe), a estratégia terá de ser mudada. Mas a hora dessa decisão ainda não chegou.

O advogado (é uma tradição da família dele: o pai, João Pedro, sempre se apresentava assim) Jorge Hilário Gouvêa Vieira assumiu há um ano a presidência da Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNSeg) com missão definida. Qual seja, traçar uma estratégia para aproximar o setor - de natureza sisuda, conservadora - dos consumidores. Durante muito tempo, especialmente no período da inflação aguda, o mercado esteve concentrado no seguro de automóveis, mas, à medida que a economia brasileira evolui, multiplicam-se os espaços para outros ramos (vida, acidentes, proteção ao patrimônio, saúde, riscos de negócios, etc.). O mercado segurador representa hoje cerca de 5% do Produto Interno Bruto, faturando aproximadamente R$180 bilhões por ano. Embora cresça a um ritmo anual de 12%, pode se expandir bem mais se caminhar para a massificação de produtos. O seguro de vida, por exemplo, é fundamental para as famílias mais pobres, que não têm capacidade de poupar. O governo até cogita criar uma modalidade de seguro no programa Bolsa Família, pois a morte de um dos integrantes do núcleo de beneficiários quase sempre agrava as dificuldades financeiras dessas pessoas mais necessitadas.

Após o primeiro ano de trabalho, dividindo suas atividades profissionais com a presidência da CNSeg, Jorge Hilário se sente frustrado. É que surgiram tantos problemas institucionais no meio do caminho (o governo quase criou uma "Segurobrás" e restringiu novamente o mercado ressegurador, após uma suave abertura) que seus planos iniciais tiveram de ser adiados. Mas ainda não jogou a toalha e espera ver a importância do seguro devidamente reconhecida. "Não pode ser um projeto de longo prazo, pois não tenho mais idade para estender meu mandato", diz ele, bem-humorado.

A Usina de Estreito, no Rio Tocantins, está pronta para entrar em operação comercial. A primeira turbina, com capacidade para gerar 135 megawatts, passou nos testes. Quando tiver todas suas máquinas instaladas, a hidrelétrica de Estreito poderá gerar mais de 1.000 megawatts. A inauguração oficial depende agora da agenda da presidente Dilma. Estreito é quase vizinha à ponte da ferrovia Norte-Sul que liga as duas margens do Tocantins (uma delas, no Maranhão).

Com apenas 40 anos (tinha 20, quando montou a empresa, prestando serviços na área de telecomunicações), Carlos Ramos, dono da Telmart, não quer ser mais "empresário-empregado". Para manter um crescimento de 35% ao ano, com retorno na faixa de 20% a 25% do capital, Ramos contratou recentemente dois diretores executivos, Adriana Lima (ex-Intelig, ex-TIM) e André Ceciliano (ex-IBM, ex-Avaya), que terão a tarefa de tornar a Telmart uma das principais integradoras de tecnologia nas empresas que se apoiam em sistemas de telecomunicações no atendimento ao público. A carteira da Telmart tem mil clientes, muitos deles empresas grandes.

Como industrial bem-sucedido, líder de classe, e, a seguir, na vida política (senador e vice-presidente da República), José Alencar fez um contraponto decisivo na discussão sobre as taxas de juros de equilíbrio na economia brasileira.

Desajustes estruturais e conjunturais explicam a necessidade de juros altos no Brasil, porém, não os excessivos que, por sua longa duração, produziram sérios efeitos colaterais, a ponto de neutralizar parte dos objetivos da política monetária.

Ao insistir nesse contraponto, Alencar no mínimo constrangeu os defensores dos juros excessivos e, de certa forma, ajudou as autoridades monetárias a aproveitarem janelas de oportunidade que se abriram para a redução das taxas básicas de juros.

Levará tempo até que o país tenha taxas de juros próximas da média internacional. Mas a dose excessiva, o exagero, ficou para trás.

Fundos de pensão de estatais eram geralmente estruturados com o sistema de benefício definido. A maioria deles, projetando seus compromissos futuros, ficou desequilibrado. O fundo dos funcionários da Cedae (com cerca de 12 mil participantes, sendo mais da metade aposentados) tinha um déficit atuarial projetado de R$719 milhões. Para resolver essa situação, os funcionáios da Cedae, na ativa, estão sendo estimulados a trocar seus planos de benefício definido por contribuição definida.

Saio de férias.Volto a ocupar esse espaço no início de maio, se tudo correr bem. 

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