terça-feira, abril 12, 2011

CELSO MING - A reboque das expectativas


A reboque das expectativas
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

É visível a deterioração da credibilidade do Banco Central e do governo na condução das expectativas do mercado.
Ninguém mais crê em que a inflação medida pelo IPCA feche o ano em 5,6%, como previu o Banco Central em seu Relatório de Inflação. Ontem, o Relatório de Mercado, feito pelo Banco Central em sua Pesquisa Focus, apontava um salto ao final de 2011 de 6,26%. Uma semana antes, a média das projeções estava nos 6,02% (veja gráfico).
Os observadores vão se dando conta das inconsistências dos administradores da política econômica - e não apenas do Banco Central. As apostas do governo em que os preços internacionais das commodities recuarão ou permanecerão estáveis não são coerentes com a hipótese assumida pelas autoridades de recuperação dos países industrializados. E, na semana passada, o Fundo Monetário Internacional divulgou estudo que adverte para o inevitável aumento dos preços do petróleo a mais longo prazo (veja o Confira). Isso significa que não dá para contar com esse fator baixista da inflação interna e é perigoso comprometer o caixa da Petrobrás, que precisa urgentemente investir, para estimular o consumo de combustíveis com preços artificialmente baixos.
Os modelos do Banco Central para aferir o pulso da inflação futura levam em conta que os preços da gasolina permanecerão estáveis. Os fatos já desmentem essa projeção, na medida em que os preços internos da gasolina subiram 7,4% nos últimos seis meses, unicamente em razão da alta do etanol que vai na mistura carburante. Fora isso, cada vez mais os observadores entendem que é inevitável a elevação dos preços da própria gasolina, ao passo que parece improvável que os preços internacionais do petróleo recuem para abaixo dos US$ 100 por barril de 159 litros.
Os preços começam a se movimentar desde agora por outro fator já contratado pelo governo: o reajuste de 14% do salário mínimo em 2012. Num regime de quase pleno emprego e de forte escassez de mão de obra, esse é um fator que qualquer planejador considera na sua estrutura de custos. Além disso, essa paulada no salário mínimo será um importante propulsionador das despesas correntes do setor público. No entanto, até agora, o Banco Central não foi capaz de reconhecer o impacto desse fator em seus textos oficiais, que avaliam o comportamento futuro da inflação.
Também tira credibilidade esse jogo de gato e rato das autoridades da Fazenda e do Banco Central nas suas tentativas de conter ora o forte avanço do crédito, ora a excessiva valorização do real, sem definir claramente o alvo prioritário. São restrições que vêm sendo feitas à base de improvisações e casuísmos e deixam soltos segmentos inteiros da economia, como o setor de serviços, o crédito imobiliário, o leasing, o cheque pré-datado e os financiamentos do BNDES.
Não é preciso ser estrategista para entender que qualquer batalha se ganha, primeiramente, no campo da comunicação. O governo Dilma está perdendo a batalha pela conquista dos corações e mentes. E o Banco Central, tão ciente da importância da condução das expectativas, vai ficando a reboque também aí, porque mostra excessiva tolerância com seu principal inimigo.

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