quinta-feira, fevereiro 17, 2011

LUIZA NAGIB ELUF

Real Parque 
LUIZA NAGIB ELUF
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/11

O crescimento desordenado da cidade de São Paulo gera o maior tributo que os seus moradores têm que pagar: a má qualidade de vida


O Real Parque é um bairro da zona oeste de São Paulo, habitado por pessoas de classe alta. É um local privilegiado, mas sofre com a ocupação irregular do solo e a existência de favelas que só fazem crescer.
Fruto da omissão do poder público por anos, da indiferença da sociedade e das desigualdades regionais do país, o crescimento desordenado de São Paulo gera o maior tributo que seus moradores têm que pagar: má qualidade de vida.
As lacunas no planejamento urbano e a situação caótica dos bairros são as causas geradoras de trânsito insuportável, sujeira, poluição e insegurança. A criminalidade prolifera onde não há organização.
Por isso, as favelas se prestam de maneira ideal ao tráfico de drogas, aos sequestros e cárceres privados, à receptação, ao estupro, ao homicídio. A boa notícia é que a Prefeitura de São Paulo está iniciando obras de urbanização na região da favela Real Parque.
A ideia é verticalizar as moradias, otimizar o aproveitamento dos terrenos e destinar habitações decentes aos moradores que lá se encontram há anos. A providência trará benefícios a todos os habitantes do distrito e também à cidade de maneira geral.
No entanto, notícias de imprensa dão conta de que moradores de nove condomínios de alto padrão posicionaram-se contrariamente ao projeto apresentado pela prefeitura e buscaram as autoridades pleiteando a paralisação das obras.
Alegam que o número de habitações populares que será construído no local é maior do que o tamanho da favela e que o projeto elaborado não prevê estacionamentos.
A prefeitura, como sempre faz, ouviu os moradores e espera-se que sejam atendidas as reivindicações justas. No mais, é muito importante unir esforços para solucionar os problemas de São Paulo.
Estatísticas apontam que 25% da população da cidade encontra-se favelizada. As novas habitações, ainda que populares, terão um padrão de qualidade evidentemente maior do que as atuais moradias oferecem. Em consequência, a criminalidade local tenderá a cair, o lixo terá destinação mais adequada, e os moradores do bairro poderão usufruir de maior bem-estar.
A situação da população carente é uma responsabilidade de todos nós. Precisamos arregaçar as mangas e ajudar a recuperar a dignidade das áreas degradadas que nos rodeiam. O Plano Diretor recomenda, justamente, que os distritos da cidade, na medida do possível, procurem oferecer moradia e trabalho para a população de todos os níveis de renda, inclusive estabelecendo algumas zonas especiais de interesse social (Zeis).
E os moradores do Real Parque estão vivenciando uma oportunidade interessante de colaborar com seu próprio bairro e com toda a cidade de São Paulo.

LUIZA NAGIB ELUF é procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo. Foi secretária nacional dos Direitos da Cidadania no governo FHC e subprefeita da Lapa na gestão Serra/Kassab. É autora de "A Paixão no Banco dos Réus" e de "Matar ou Morrer - O Caso Euclides da Cunha", entre outros.

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