quarta-feira, janeiro 05, 2011

VINICIUS TORRES FREIRE

Chuva, lama e chantagem de verão
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/01/11
Faminto de ministérios e boquinha, PMDB dá o troco e ameaça tumultuar logo cedo as contas do governo Dilma

NÃO DEMOROU muito para o PMDB reagir ao fato de Dilma Rousseff ter encurralado o partido num cercadinho ministerial muito mais modesto que o imaginado logo depois de fechadas as urnas.
Perdidos alguns ministérios e algumas bocas notórias desde o "mensalão" e mesmo antes, o partido agora faz a chantagem de sempre a fim de abocanhar diretorias rendosas de estatais. Ameaçam tumultuar o Congresso de modo a fazer com que o salário mínimo seja fixado em R$ 560, pelo menos, em vez dos R$ 540 decididos pelo então governo Lula-Dilma, na "transição".
Ontem teve reunião "coisa nossa" do PMDB, na casa de Michel Temer. O pessoal falou grosso e cobrou a fatura na casa do vice-presidente da República, que corre o risco de se tornar ministro extraordinário da administração de chantagens e de outras manifestações de grandeza política e moral do PMDB.
Como foi publicado nestas colunas no dia de 17 de dezembro passado: "O PMDB está quieto demais depois de ter levado uma carraspana de Dilma. Quando virá o troco?".
Veio cedo. Haverá mais. Em breve, virá a eleição da Câmara, à qual o PT deve chegar estremecido, para não falar da birra do PSB. Vai haver fofoca até fevereiro, quando deve ser votado o mínimo. Haverá a briga pela boquinha de segundo escalão. Haverá a revanche devido aos cortes de emendas parlamentares. O governo vai ter de tocar votações no Congresso abrindo e fechando a torneira das emendas.
Não há dinheiro para um mínimo maior de R$ 540. O governo vai fazer mágicas e milagres para colocar o Orçamento no tamanho da arrecadação deste ano. Mesmo que o governo Dilma não tenha um plano de controle de gastos de médio prazo (uns quatro anos), é preciso organizar pelo menos as contas de 2011.
Conter gastos em 2011 equivale a comprar um seguro, ao menos, condição mínima para um governo mais ou menos tranquilo, sem escapadas preocupantes da inflação e altas de juros dispendiosas demais. Bom mesmo seria um plano organizado de reforma fiscal. Mas, na falta provável de um programa desse tipo, que pelo menos venha algum remédio, ainda que medíocre. De resto, em 2012 já tem eleição, e em 2014 haverá outra (anos de gastos maiores), com uma Copa pelo caminho, para piorar. Alguém duvida de que o governo fará gastos excepcionais para compensar atrasos e roubalheiras nas obras?
Isto posto, conclui-se que o PMDB ameaça chutar a escada de Dilma logo no início de seu mandato, num assunto muito sério.
Não há solução de curto prazo para esse tipo de coisa. Um meio de minorar o problema seria o anúncio de uma reforma da administração pública, alardeada de modo a encurralar moralmente o pessoal da barganha chantagista. A reforma não sairia imediatamente, mas daria um novo tom à conversa pública sobre o assunto. Andando a tal reforma, a alta administração federal seria aos poucos profissionalizada, seria reduzido o número de cargos à disposição da negociata, o que, de quebra, facilitaria a fiscalização das nomeações malandras.
Mas a coisa começou mal. O ministério Dilma tomou posse e tudo o que sabemos até agora é o nome dos ministros. Assumiram sem programas, sem compromissos, sem metas. Nada profissional

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