terça-feira, junho 08, 2010

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Ueba! Já tô de corneta!
JOSÉ (MACACO) SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/06/10


É a Copa dos Macho... cados! Só Felipe Melo e Josué que, de tão ruins, não pegam nem contusão


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo! HEXA É NOSSA! E quem foi o corno que inventou a corneta? E os argentinos podem fazer sexo na concentração, só não podem levar mulher! E depois da passagem do Dunga pela África, eles incluíram mula sem cabeça em safári!
Aliás, em homenagem ao Dunga, já mudaram até o nome da cidade: JohannesBurro!
E o amistoso com a Tanzânia? Adorei o nome do estádio: MKAPA! E o jogador da Tanzânia: MGOZI. Mkapa e Mgozi!
E o Galvão apareceu. O novo apelido do Galvão Urubueno: HEXAGERADO! Vai gritar mais que viúva tirando atraso de cinco anos. GOOOOOL! Grito de Galo Véio!
E essa: "Mulher do presidente da África do Sul trai com guarda-costas". Ueba! O primeiro pé na bunda da Copa. Copa animada: já começou com pé na bunda. O presidente levou bola nas costas!
E o busão da seleção? Duas frases no ônibus da seleção: "Cuidado! Direção Defensiva!". Outra: "Lotado nada. Aqui tá cheio de banco". É o famoso Dunga Tour! Aceitamos Reservas!
E só se fala em contusão. A Copa dos Macho... cados! Só o Felipe Melo e o Josué que, de tão ruins, não pegam nem contusão. Rarará!
E olha o cartaz no elevador de um amigo meu: "Venha assistir aos jogos do Brasil junto com seus amigos de condomínio no salão de festas. Informações e confirmação com Maradona, apto 82"! E o do 82 aparecerá pelado também? Rarará! Sabe por que o Dunga não toma Viagra? Porque já é cabeça-dura. E a bola, Jaburu? Ô bola feia! Mais feia que as minhas. Rarará!
Seleção dos Peladeiros. Continuam chegando sugestões dos leitores de seleções melhores que a do Dunga. Ou seja, qualquer uma. Fala pro Dunga levar o time de Perebas Futebol Clube de BH: Briôco, Alan Bique, Fez na Calça, Pastel de Vento, Filho do Padre, Cabeção, ET sem Antena, Ceguinho Caolho, Fimose e Torresmo Cabeludo!
Ou então o meio de campo do time de Santa Clara: Peloto, Astolfo Frango D'água e Caga Fogo! Eu quero a foto do Caga Fogo. Pra colar no álbum. Rarará! E no lugar do Júlio César, o goleiro do time do Lixão de Vargem Grande: Mão de Maionese! Hexa Garantido! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SILVIO FERRAZ

O Mágico de Nós

Silvio Ferraz
O Globo - 08/06/2010
 
 Os baús com roupas do presidente Lula começam a deixar a Granja do Torto, sua residência oficial partilhada com o Aerolula, e seguem para armários no Centro de Pesquisas Esotéricas com seu nome, em São Bernardo do Campo. Fica em Brasília, entre poucos ternos, o smoking com lapelas cravejadas de pedras falsas e brilhosas que o presidente-mágico veste quase que diariamente.

É seu uniforme de ilusionista, que usa em picadeiros espalhados pelo mundo, com sua corda dourada de dar nós. É o profissional das mentiras que, ora se aperfeiçoa em técnicas iranianas com o mágico e domador Ahmadinejad, ora com o vizinho do norte, Chávez, El Brujo — claro, sempre às custas do contribuinte, que paga quase cinco meses de salário para cobrir os impostos que sustentam sua corte e seus sonhos.

Nos últimos tempos decidiu exibirse com maior intensidade. Afinal, o Mágico de Nós necessita passar seu cacife eleitoral para uma múmia. A arquibancada reage, pasmem, a favor do ilusionista, conforme indicam as pesquisas recentes. Na outra ponta do picadeiro, para alegria dos aloprados, o holofote ilumina seu ajudante e escudeiro preferido, que nunca o deixou: Zé Dirceu.

O povo ouve os aloprados se esgoelarem e, por que não?, esgoela-se também. Primeira mágica, do campo núcleooriental: segurar uma bomba atômica, sacudila e mostrar ao mundo que está oca. Seu colega iraniano levanta seu braço em regozijo. O anão Celso Amorim, segundo ajudante do ilusionista, passa outro bilhete para seu Guia Lula — “É hora de baixar a porrada no crioulo com nome de árabe”. Com um olhar de soslaio, Lula lê e vai em frente, para atender à confraria de mágicos sul-americanos — El cocalero Evito e Brujo Chávez.

No seguinte, entra para dar mais uma laçada com sua corda mágica. O Mágico de Nós aponta com suas lantejoulas para um canto do picadeiro.

Brilham os holofotes em cima da alegria do norte brasileiro, o Marimbondo de Porre, como é chamado em determinadas rinhas maranhenses, ou Ali Sarney e os 40 Ladrões, como é mais conhecido em outras.

Sua filha aparece contorcendo-se numa difícil dança do ventre — onde entram dólares, saem euros. Lula dá outro nó — desta vez na seção petista maranhense da arquibancada.

“Freeze”, ordena, copiando os poderosos agentes do FBI, que todas as noites o deixam mesmerizado quando assiste às Telas Quentes noturnas.

O próximo número é o mais embasbacante: a multiplicação dos pães, a seis meses de deixar o picadeiro. Abre os nove dedos e começa a jogar tijolos de dinheiro, com o entusiasmo de Chacrinha lançando bacalhau. “Para o companheiro Sarkozy e sua decadente economia industrial”, grita, “36 bilhões de dólares em jatos Rafale”; “Para a fábrica de salsichas Bertin e outras empreiteiras que, no fim, a seguirão, outros 36 bilhões de reais, e mais outros tantos que virão em pagamentos adicionais, a construção da hidrelétrica de Belo Monte”; “Para a Marinha, acostumada a comprar sucata francesa, um submarino nuclear Sarkozy sem o reator Bruni, é claro”. Enquanto a Banda dos Fuzileiros Navais explode com a marcha “Tem nego bebo aí”, outro palhaço, Marco Aurélio Top Top, surge no picadeiro em cambalhotas, correndo e dando bananas para os contribuintes calados, pasmos com o espetáculo. O Mágico de Nós verifica que os nós estão cegos, bem apertados, e acena frenético para as arquibancadas. Claro, ele quer voltar.

Contribuintes pagam quase cinco meses de salário para sustentar a corte

JOSÉ PASTORE

A ilusão da liberdade

José Pastore
O Estado de S. Paulo - 08/06/2010

O sonho de muitos brasileiros é ter o seu negócio ou trabalhar por conta própria. Nessa condição eles esperam ter uma vida mais segura e mais livre para ter tranquilidade e poder ficar um bom tempo com a família. Daí os nomes de "profissionais liberais" e "consultores independentes". Será que é assim mesmo? As pesquisas indicam que não. São muitas as pressões que rodeiam os que prestam serviços de forma individual - os independentes.
Nesse nicho, a concorrência é enorme. Os contratantes (empresas e pessoas) buscam o mais alto nível de competência pelo mais baixo nível de remuneração. Longe de ser ilimitada, a renda dos independentes é rigorosamente definida pelo mercado. Além disso, o prestador individual de serviços depende muito de uma boa rede de contatos para ter acesso às oportunidades de trabalho, o que demanda investimento de tempo e de recursos financeiros. Trata-se de uma longa caminhada até chegar a ponto de ser disputado.
Ao começar nessa carreira, o independente compreende logo que a vida de seus familiares depende exclusivamente de seus ganhos, que por natureza são incertos. A angústia de ficar parado o atormenta o tempo todo. O independente trabalha sempre pensando no próximo contrato, por saber que o atual pode não ser renovado.
Esse profissional descobre também que o trabalho não é tão independente assim, pois, ao ser contratado por uma empresa, ele tem uma dependência técnica que muitas vezes é mais rigorosa do que a dependência jurídica - a do vínculo empregatício. De fato, muitos entendem logo que são amarrados às normas e exigências dos contratantes.
O seu controle do tempo é muito limitado. É comum o caso do contratante que se sente no direito de chamar o contratado a qualquer hora, o que gera grande aflição entre os que trabalham para várias empresas. Afinal, o tempo é um bem finito.
Outra surpresa. A independência em relação ao quadro de pessoal das empresas contratantes é ilusória. Na maioria dos casos, os prestadores de serviços dependem de informações dos funcionários fixos, que com frequência sonegam dados por temerem perder seus empregos para quem vem de fora. O ambiente passa a ser de tensão e desconfiança e, em muitos casos, chega ao conflito.
Outra ilusão diz respeito às jornadas de trabalho. Os independentes trabalham muito mais do que os empregados fixos que cumprem oito horas por dia e pronto. Ademais, os tempos de trabalho são irregulares, pois é de sua responsabilidade apresentar os resultados no tempo estipulado no contrato. Pontualidade é essencial para quem deseja ser respeitado e recontratado.
Para contornar o risco de cópia de seu trabalho - o que é inevitável - e vencer a concorrência, o profissional independente tem de estar sempre na frente na sua arte para, com isso, poder oferecer a novidade que os seus competidores não têm. Isso exige um investimento contínuo em atualização profissional.
Se as jornadas de trabalho são erráticas e se nos dias da semana não dão conta de terminar o trabalho ou de bancar as necessárias horas de estudo, a família tem de ser compreensível com a ausência do independente nos feriados e fins de semana. O sacrifício que é imposto à mulher (homem) e filhos produz sentimentos ambivalentes e desagradáveis.
Essa é a vida dos independentes. As incertezas de trabalho e de renda são estressantes. Os testes de qualidade são feitos em cima de cada tarefa. Ao menor erro, a reputação cai por terra e as oportunidades desaparecem.
Para agravar a sua angústia, o governo brasileiro persegue os profissionais independentes por achar que eles fazem isso para gozar uma boa vida e burlar a legislação trabalhista, ignorando que a realidade mudou. As empresas modernas utilizam verdadeiras constelações de colaboradores: os empregados fixos para trabalhos contínuos e estratégicos e os profissionais independentes para tarefas especializadas. Todos são seres humanos e precisam de proteções.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Antes tarde do que talvez
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 08/06/2010
Em clima de Copa, o relator Walton Alencar Rodrigues, do TCU, leva hoje ao tribunal um processo - mais um - sobre gastos dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Em debate, despesas em torno de R$ 2,7 milhões.
Encerrado há três anos, parece que, na Justiça, o Pan do Rio não vai terminar nunca. As denúncias foram repartidas em incontáveis processos, alguns já encerrados e outros a passo de tartaruga. E o comitê organizador sustenta, sempre, que as despesas estão todas corretas e comprovadas.
Direito de imagem Circula um bolão, no Ministério do Trabalho, em Brasília, sobre até quando vai a greve de seus servidores.
Embora o movimento esteja se esvaziando - até na porta do MT a barulheira parou -, a aposta geral é que ele "tem de durar" até o final da Copa.
Os pais da ideia 
Se era para, no final, admitir o apoio ao PMDB e a Helio Costa, porque Fernando Pimentel insistiu tanto, até ontem, na candidatura? Para deixar claro aos eleitores mineiros, segundo seus assessores, que a responsabilidade por essa "escolha" era do Planalto e do PT federal.
E Pimentel avisa: não está deixando a campanha de Dilma.. Vai acumular com a campanha ao Senado.
Balão de ensaio
Bráulio Mantovani (Tropa de Elite) e Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo) se juntam para projeto teatral. Fazem a peça Menecma, orçada em mais de R$ 1 milhão. 
Estão confirmados a dupla de atores Paula Cohen e Gustavo Machado.
Reza organizada
O Ministério da Cultura decidiu apoiar projeto do "mapeamento das rezadoras e rezadores" do Ceará.
Depois de identificados, pretende-se organizar o primeiro congresso da categoria. 
Segredos cubanos
Sai até o final do ano Os Últimos Soldados da Guerra Fria, novo livro de Fernando Morais, com histórias inéditas sobre a inteligência cubana.
Para contá-las, o autor fez mais de 100 entrevistas. Pela Companhia das Letras.
Ação e reação 
Naji Nahas contra-ataca. Apresenta na Justiça recurso para questionar o direito de defesa e a produção de provas, do qual diz ter sido privado.
Quer provar que, para compensar um cheque que estaria sem fundos, em 1989, as bolsas de valores do Rio e de SP venderam carteira de ações não vinculadas a suas operações diárias.
Tô na moda
Monica Serra, que não faz parte do mundo fashion, vai bater cartão nesta SPFW.
Monta estande para divulgar seu projeto Se Toque, dedicado ao combate ao câncer de mama.
Pega geral
No embalo do filme Tropa de Elite 2, está para sair, também, o livro Elite da Tropa 2.
Escrito por Luiz Eduardo Soares, ele traz a sequência do best seller que deu origem ao filme de Zé Padilha.
Nenê sequinho
Nelson Jobim, da Defesa, vai dar medalha a uma empresa de fraldas. A Pom-Pom doou um milhão de fraldas para as vítimas do terremoto no Haiti.

ARNALDO JABOR

A miséria já teve uma "função social"
ARNALDO JABOR

O GLOBO - 08/06/10

Falar da miséria nos alivia porque para nós, os bacanas, a miséria é apenas um problema existencial.
Muitos artistas e intelectuais que falam na miséria como tema de livro ou filme, ou políticos que usam a miséria como curral eleitoral, ganham dinheiro ou votos com a miséria dos outros. Ou seja, a miséria dá lucro.
Na verdade, para entendermos o horror que nos envolve, temos de analisar os que "não" são miseráveis, a burguesia, as classes médias, a estrutura do país, a formação torta do Estado.
Quem quiser fazer uma tese ou ficção sobre o atraso nacional tem de estudar os "formadores" da miséria - os séculos de oligarquias e patrimonialismo.

Um estudo psicológico sobre alguns de nossos principais líderes políticos explicaria mais o país do que cem volumes economicistas.
Nós fazemos parte da miséria brasileira. Em nós, e não nos morros e periferias, está o segredo, ou melhor, a explicação para a ignorância e o desabrigo de nosso povo.
A miséria de nossa formação não atingiu apenas os escravos libertos, os subempregados, os analfabetos. A miséria atingiu todos nós.
Não na blindagem de nossos carros apavorados, mas na blindagem de nossos corações contra o lado de fora da vida. Não basta sofrermos com o "absurdo" da miséria. Ela é uma construção minuciosa feita por um sistema complexo.
A miséria não é absurda; ela é uma produção.
Há alguns anos, a miséria era vista com vagos sentimentos caridosos. Ela era até idílica, nas "favelas dos meus amores". Tolerávamos tristemente a miséria, desde que ela ficasse longe, quieta, sem interferir na santa paz de nosso escândalo. A miséria tinha quase uma... "função social".
Contra nossa vontade, hoje sabemos que a miséria se entranha em nosso egoísmo, na busca maníaca de felicidade e prazer, esquecendo a existência do "outro" - este ser longínquo e desagradável. Pouquíssimos de nós pensam como o imperador filósofo Marco Aurélio: "O que é bom para a abelha tem de ser bom para a colmeia".
Além disso, a miséria não está apenas naqueles que se lixam para ela, mas também nos que se acham seus "proprietários", que a consideram seu latifúndio ideológico.
Existe a política da miséria dentro da miséria de nossa política. Transformar a miséria em bandeira, sem entender o conjunto que nos inclui, usar a miséria para uma simplificação oportunista de "ricos e pobres", usar a miséria como um divisor de águas para a complexidade de nossos problemas é uma atitude miserável e resulta nos vexames a que temos assistido neste governo, que tem o alívio hipócrita de ser "contra" ela - isso justificou roubalheiras, crimes e mentiras, legitimou a invasão do Estado pelos "amigos" do povo, que fazem sucesso junto aos ignorantes que adulam na mídia da política virtual.
Os pelegos sempre se disfarçaram de pobres.
A miséria está nos "sanguessugas", está nas emendas espertas ao orçamento, está na sordidez do sistema eleitoral, está na falsa compaixão dos populistas, está nas caras cínicas, torpes, "lombrosianas" dos ladrões congressistas, está na lei arcaica e sem reformas, está na atitude olímpica e gelada de juristas impassíveis, está nos garotinhos na rua e nos garotinhos da política.
Mas, o tempo passou e a miséria cresceu - a espuma suja na champanha do progresso.
Com o avanço da indústria de armas, das drogas, da internet, a miséria foi tocada pela evolução do capitalismo e começou a se modernizar.

A violência é, de certa sinistra forma, um upgrade na miséria, antes tão dócil. A violência nos pegou de surpresa, com velhas armas. Ninguém sabe o que fazer.
Antes, os governantes oscilavam entre a repressão sangrenta, entre a queima de favelas ou a construção de guetos.
Mas, hoje, a miséria é grande demais para ser erradicada.
Somos miseráveis porque poderíamos ter um país muito melhor e não sabemos fazê-lo.
A miséria habita nosso egoísmo, nossa cegueira proposital em não ver o mal e a dor dos desvalidos.

É miserável nossa fome de consumo supérfluo, é miserável nossa angústia por pequenos problemas, nossas neuroses de mínimas causas, é miserável o que pagamos a empregados frágeis, é miserável nossa ideia de posse no amor e no sexo.
Somos miseráveis porque até os ricos poderiam lucrar com a justiça social, mas eles só pensam a curto prazo; somos miseráveis na alma, em nossa amarga alegria, em nossa ignorância política, em terrores noturnos, em síndromes de pânico, em noites vazias nos bares ameaçados, nos perigos das esquinas, em amores despedaçados; a miséria está no esforço para esquecê-la, no narcisismo deslavado que aumenta entre as celebridades, na ridícula euforia das sacanagens e nas liberdades irrelevantes.
A miséria está até na moda - vejam este texto de um catálogo "fashion": "Use uma calça bacana, toda desgastada, bata na calça com martelo, dê uma ralada no asfalto ou esfregue a calça com lixa, ou, por fim, atropele seu jeans, passe por cima dele com o carro (blindado?). A moda pede peças puídas, como ficam depois de um ataque das traças ou baratas. E, se você tem algo a dizer sobre a vida, diga com sua camiseta, nas estampas com frases no peito..."
Só que antes só falava de miséria quem não era miserável; só falava em "fome" quem comia bem. Agora, os miseráveis nos olham e nos criticam.

Hoje, a miséria desfila nas ruas ameaçadoramente, de sandália, bermudas e corpo nu. Não se esconde pelos cantos mendigos. Nossas elites desatentas estão mais ligadas e percebem aos poucos que nós é que temos de nos reformar.
Não tem mais jeito: a miséria tem de ser integrada a nossas vidas. Temos de conviver com ela, pois também somos miseráveis.
E mais: os miseráveis não esperam nada de nós ou dos governos. Estão indo à luta.
Não resolveremos nada. Eles é que vão fazer isso.
A miséria está nos modernizando.

TUTTY VASQUES

Os cornos da África


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/06/10
Chifre, na África, não deve ter o significado vexatório que outras culturas conferem ao termo. Fala-se muito por lá no efeito afrodisíaco do corno do rinoceronte, cujo desenho na testa do animal inspira também a designação daquele recorte pontiagudo no mapa do continente, o chamado "Chifre da África". Ainda que os zulus polígamos não liguem a expressão ao adultério, imagina a situação do presidente Jacob Zuma recebendo convidados estrangeiros na África do Sul com sua nova condição matrimonial divulgada pela imprensa mundial: ele agora tem três mulheres, uma namorada e um monumental par de chifres.
Nompumelelo Ntuli, a segunda primeira-dama do país, estaria grávida de um ex-guarda-costas presidencial que, ao saber da suspeita de paternidade, teria cometido suicídio no final do ano passado. O barraco ganhou puxadinho na edição de domingo do Sunday Times, com a revelação de um ator sul-africano que confessou também ter andado na lambreta de Ntuli.
Nada que ontem tenha constrangido o presidente Zuma a conclamar os patrícios a usarem camisinhas durante a Copa do Mundo. Tomara que só em casa não lhe deem ouvidos.

Sabe a nora do Galvão?
A revista VIP aproveita o gancho da Copa para mostrar em suas páginas "a nora do Galvão Bueno de lingerie". Só se fala disso na redação da TV Globo em Johannesburgo. Talita Stoppazzolli (foto) não chega a ser unanimidade, mas fala-se mal até da bola na
África do Sul.
Estigma
A sogra de Cid Gomes está
inconformada. O governador do
Ceará embarca hoje para a Copa do Mundo. Imagina-se que sem ela, né?

Acredite se quiser
Na execução do Hino da Tanzânia no estádio de Dar Es-Salaam, a agulha agarrou no disco logo nos primeiros acordes da canção. É o tipo de teste que faltava à seleção. A maioria dos jogadores brasileiros jamais tinha visto nada igual.
Fashion Silva
O figurinista do Faustão, definitivamente, pirou! Entrou numa fase psicodélica de dar saudades daquelas camisas polo que o celebrizaram.
O famoso quem?
A gente percebe que está ficando velho gagá quando lê a notícia de que Amy Winehouse deu canja no show do cantor carioca Rodrigo Lampreia, em Londres, e se dá conta de que nunca ouviu falar desse sujeito. Só pode ser a idade, né não?!
0 x 0
Empatados em tudo nos dois turnos também no Ibope, Dilma e Serra já se preparam para disputar as eleições nos pênaltis. Precisa ver se vai valer a paradinha do Lula.
Pior de tudo
O futebol de Elano foi salvo de crítica mais contundente pela geração de imagens da TV da Tanzânia, de longe a pior coisa do último amistoso da seleção antes da Copa. 

LUIZ GARCIA

A próxima briga
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 08/06/10

Frase do dia, colhida entre as sábias observações de famoso filósofo oriental cujo nome me escapa no momento: o ruim é simples, o bom é sempre meio complicado.

Vejam o caso do projeto de lei do Ficha Limpa. Como todo mundo sabe, mas a metade já esqueceu, trata-se do caso raríssimo (se não for inédito) de uma iniciativa da sociedade civil, estimulada e organizada por um grupo de juristas, propondo a inelegibilidade de candidatos condenados pela Justiça.

Foi bela campanha, vitoriosa em quase tudo.

O “quase” se deve a um ponto importante: o texto original determinava a inelegibilidade a partir de condenação em primeira instância. O plenário da Câmara deu uma colher de chá para os fichassujas, determinando que a barreira só exista a partir da segunda instância; quer dizer, no caso dos candidatos já condenados por tribunais colegiados, integrados por desembargadores.

Nesses termos o projeto passou no Senado e foi sancionado — em tempo recorde, reconheça-se — pelo presidente Lula.

No fim das contas, criou-se uma barreira para os fichas-sujas, embora dando uma colher de chá inteiramente desnecessária para aqueles com recursos suficientes para enfrentar um round a mais nos tribunais e pular por cima dela.

Além disso, os senadores mudaram para pior a redação do projeto que receberam da Câmara. No texto transformado em lei, não está claro se a barreira existe para candidatos já condenados ou se só para os que venham a sê-lo.

Também não está claro se a nova lei vale para as eleições deste ano.

São dúvidas que o Tribunal Superior Eleitoral terá de resolver. Esperemos e confiemos.

No fim das contas, tudo quase bem: antes uma lei mais camarada com quem não deveria merecer camaradagem alguma do que lei nenhuma. Talvez o mais importante é que ficou o exemplo: querendo exercer o seu direito a tomar iniciativas, a sociedade — ou seja, você — sempre pode mudar as coisas para melhor.

E aí, sociedade civil? Qual vai ser a próxima briga que você vai encarar?

MERVAL PEREIRA

Baixarias 
Merval Pereira 

O Globo - 08/06/2010

A campanha presidencial brasileira está atingindo graus de baixeza política que se costuma criticar nas eleições americanas. Por lá, é habitual na época da eleição surgirem livros escandalosos com supostas revelações contra os candidatos, um hábito que os marqueteiros republicanos cultivaram e que acabou sendo usado também pelos democratas contra George W. Bush.

Mas o surgimento de dossiês com supostas acusações que derrubarão o candidato tal ou qual já está se tornando uma nociva tradição, graças ao PT.

Agora, sabe-se que a campanha da candidata oficial Dilma Rousseff tentou contratar ex-agentes de informação para montar dossiês contra o candidato do PSDB, José Serra, e parentes dele, além de grampos telefônicos, o que introduz na disputa eleitoral um tom acima de ilegalidade.

Junto a tudo isso, anunciase em press releases escandalosos distribuídos como propaganda política um livro de um jornalista investigativo que supostamente revelaria os bastidores das privatizações, com denúncias de corrupção.

Nas campanhas eleitorais americanas, episódios semelhantes já relatados aqui na coluna ficaram tristemente famosos, como o filmete de propaganda eleitoral dos veteranos de guerra do Vietnã acusando o candidato democrata de 2004 John Kerry de não merecer as medalhas e honrarias por bravura que recebeu.

Um livro foi publicado com o título de “Unfit for command” (“Despreparado para comandar”), tendo ido para a lista de best-sellers.

Outros candidatos a presidente também foram alvos de campanhas difamatórias, como o próprio George W.

Bush e Bill Clinton, mas os dois foram reeleitos.

Um dos livros mais violentos contra o expresidente Bush foi escrito por Molly Ivins, uma jornalista de esquerda do Texas, que, a começar pelo título, marcou o presidente com um apelido depreciativo: “Shrub”, o mesmo que “Bush” em inglês, uma espécie de arbusto.

O livro “Shrub: The short but happy political life of George W. Bush” (“A curta mas feliz vida política de George W. Bush”) faz acusações pesadas sobre negociatas e acordos políticos.

A relação passada de Barack Obama com o ex-pastor radical reverendo Jeremiah Wright, ou com William Ayers, professor de Chicago que participou de um grupo terrorista nos anos 60 do século passado, foram assuntos do livro “Um caso contra Barack Obama, a improvável ascensão e a não examinada agenda do candidato favorito da mídia”, de David Freddoso, um jornalista de direita da “National Review”, lançado em plena campanha de 2008.

Aqui no Brasil, o PT estaria inaugurando uma nova estratégia eleitoral ao abrigar no comitê eleitoral de sua candidata o jornalista que lançará seu livro em plena campanha, com acusações contra Serra.

As explicações dadas até agora pela direção do PT sobre a participação do comitê eleitoral na produção de dossiês contra o candidato tucano não passam de tentativas vãs de escapar da acusação central: por que o jornalista Luiz Lanzetta, principal responsável pela montagem da assessoria de imprensa do comitê eleitoral da candidata oficial, reuniriase com dois ex-agentes de órgãos de informação? Se foi ele quem convidou os arapongas, ou se foi contatado por eles, não faz a menor diferença.

O fato concreto é que quem não está interessado em dossiês e grampos telefônicos não marca reunião com conhecidos personagens que atuam na clandestinidade do sistema de informações.

Da mesma maneira, não se justifica a indignação de Dilma Rousseff por ter sido apontada por José Serra como responsável pelo dossiê, e muito menos o processo do PT contra o candidato tucano.

Se Lanzetta trabalhava no comitê eleitoral de Dilma, sendo um dos principais responsáveis pelo esquema de comunicação da campanha, qualquer decisão que tomasse seria de responsabilidade final da candidata, mesmo que ela não soubesse de nada.

Esse vício petista de a principal figura política fugir da responsabilidade alegando desconhecimento vem de longe, a começar pelo escândalo do mensalão.

O presidente Lula se disse traído num primeiro momento, os principais líderes petistas choraram na tribuna da Câmara quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou na CPI que recebera dinheiro ilegal no exterior pela campanha de Lula, mas pouco a pouco a versão oficial foi se modificando.

Lula, de não saber de nada, acabou sendo o primeiro a justificar o ocorrido, afirmando que se tratava de dinheiro de caixa dois, que seria muito comum nas campanhas eleitorais brasileiras.

Hoje, já disse várias vezes que o caso não aconteceu, ou que o que aconteceu foi uma trama tucana para pegar petistas em uma armadilha.

Até hoje o episódio dos “aloprados” petistas em São Paulo na eleição de 2006 para o governo estadual não foi esclarecido, apesar de toda a alardeada eficiência da Polícia Federal.

Assessores diretos do presidente Lula e do então candidato ao governo paulista pelo PT Aloizio Mercadante foram apanhados em flagrante com um monte de dinheiro para comprar um suposto dossiê contra o tucano José Serra, e ninguém sabia de nada, ninguém viu nada. E ninguém está preso.

Desta vez, a coisa se repete com requintes de ilegalidade, pois estavam tentando até mesmo grampear o candidato adversário, e ninguém também sabe de nada.

O responsável pela contratação de Lanzetta, o exprefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, homem de confiança de Dilma, a quem conhece desde a luta armada contra a ditadura militar, não sabe de nada, mas está sendo afastado do comando da campanha, de onde o próprio Lanzetta já foi saído.

E a candidata fica indignada com a insinuação de que ela tem responsabilidade sobre o que ocorre em sua própria campanha eleitoral.

Durma-se com um barulho desses.

MÔNICA BERGAMO

Morumbi nas oitavas 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 08/06/2010

O São Paulo F.C. vai apresentar hoje, em reunião com o comitê paulista para a Copa de 2014, no Palácio dos Bandeirantes, duas opções para a reforma do Morumbi. A primeira é gastar R$ 630 milhões para a remodelação, mas só se houver garantias de que o estádio abrigará a abertura do Mundial. A segunda é fazer uma reforma mais modesta, de R$ 300 milhões, que credencia a arena para receber partidas até as oitavas de final. O governo e a Prefeitura de SP devem apoiar esta última.

CLASSIFICAÇÃO
A avaliação do comitê paulista, segundo um de seus integrantes mais graduados, é a de que, mesmo reformado "modestamente", o Morumbi chegará às vésperas da Copa em condições melhores do que a maioria das futuras arenas do Mundial, ainda em projeto, e poderá ser credenciado para fases mais agudas da competição.

GAROTA-PROPAGANDA 1
A equipe da Natura está se desdobrando para encontrar uma maquiagem para Marina Silva (PV) em seus programas de TV. Alérgica, a candidata até agora só tinha se dado bem com uma base japonesa, trazida de Paris por amigos do maquiador Marcos Padilha, responsável pelo "make-up" da presidenciável nos programas dirigidos pelo cineasta Fernando Meirelles. Ele já passou beterraba nos lábios da candidata para dar cor a ela sem provocar reações.

GAROTA-PROPAGANDA 2
Para não perder a chance de Marina ser, digamos, "garota-propaganda" da Natura, empresa do candidato a vice em sua chapa, Guilherme Leal, a companhia indicou até uma maquiadora, Isabela Turcato, para tomar conta dela. Isabela, que assumiu o posto há cinco dias, diz que usar produtos da Natura não é imposição, mas que faz isso porque a marca é "nacional, natural, ecológica: a cara da Marina".

GOSTO RUIM
Quando começa a ter reações alérgicas, Marina fica com gosto de metal na boca, segundo disse à equipe.

Parece que ela está mastigando uma moeda.

CHANTILLY
A "Playboy" escalou Bob Wolfenson e Jacques Dequeker para clicarem Cleo Pires, que será a estrela do ensaio de nudez da edição especial de agosto, mês em que a revista celebra seus 35 anos.

O contrato com ela foi assinado ontem.

EM CASA
Como vai estrelar a próxima novela das seis da TV Globo, Cleo pediu à "Playboy" que os ensaios fossem feitos no Rio de Janeiro. A revista queria levá-la à Europa.

SAMBA EM CAMPO
Jogadores baixaram no Parque Antarctica para assistir ao show de gravação de CD e DVD do grupo Exaltasamba, no sábado.

AS NOVAS DE CHICO
Chico Buarque já mostrou para os amigos mais próximos três novas canções que compôs.

PRÓXIMA VÍTIMA
Um dos protagonistas de "Passione" vai morrer na metade da trama. "Lá no Projac [complexo de estúdios da TV Globo], os atores ficam se perguntando: "Será que sou eu?" Estão loucos pra saber", diz o autor Silvio de Abreu.

SÓ NA MAGRELA
A atriz colombiana Angie Cepeda ("Pantaleão e as Visitadoras"), que integra o elenco de "Heleno", de José Henrique Fonseca, comprou uma bicicleta para passear pela orla carioca nas folgas das filmagens. "O Rio é uma cidade maravilhosa para andar de bicicleta", diz ela.

MODA TURCA
Depois de se inspirar em Paris e em Londres nas últimas edições da São Paulo Fashion Week, o estilista Mario Queiroz escolheu Istambul, na Turquia, como tema da coleção que apresenta no domingo. "Sem garotinhos, só homens de verdade", diz ele, sobre os modelos que estarão na passarela.

FAVELA NA TELA

O diretor Cacá Diegues recebeu convidados para exibição do filme "5 x Favela: Agora por Nós Mesmos", no sábado, no Itaú Cultural.

CURTO-CIRCUITO

O seminário "Os Grandes Temas que Preocupam os Brasileiros", do grupo de empresários Lide, acontece hoje no Caesar Park, com palestra de Carlos Augusto Montenegro.

A festa iSHEE, de Aline Prado, Mari Lemos e Paulo Troya, estreia hoje, às 23h, no clube Alberta #3, no centro. 18 anos.

O projeto social Aliança Gourmet realiza hoje noite em prol das obras da Associação Aliança de Misericórdia. Os restaurantes que participam do evento irão doar 30% da renda obtida no evento.

A escritora Maria Goret Chagas lança o livro "Realize...Tudo o que Seu Coração Deseja", hoje, às 19h30, na Saraiva do shopping Ibirapuera.

BRASIL S/A

Ordem no galinheiro
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 08/06/10

Aumento da Selic com expansão do PIB em ritmo chinês é movimento para prolongar o crescimento


Esta será uma semana como há muito não se via, com o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre exibindo crescimento em ritmo chinês e o Banco Central dando outra volta no torniquete dos juros — na contramão das combalidas economias avançadas. Tais movimentos não são contraditórios, mas complementares à luz do modelo atual.

O desempenho do PIB será conhecido hoje, com atraso de dois meses e uma semana que o IBGE já poderia encurtar para um mês. A decisão sobre a Selic o BC divulgará na quarta-feira, depois da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). A taxa deve subir outra vez.

O crescimento da economia foi forte entre janeiro e março, pouco menos de abril a junho e deverá seguir desacelerando na comparação trimestral até final do ano e em 2011. Essa é a expectativa entre os analistas, e não significa que torçam pelo inverno da economia.

PIB crescendo de um trimestre para outro ao ritmo de 2%, o que dá 8% em termos de taxa anualizada, faria a economia ferver. Não há produção a médio prazo capaz de atender a demanda que se formaria no mercado como consequência dessa expansão sobre a renda interna.

O BC, portanto, sobe os juros porque a economia vai muito bem, obrigado — assim como têm feito os BCs da China, da Austrália, do Canadá, da Índia, países que viram a crise global pelo noticiário. Agem assim não para frustrar o crescimento, mas para prolongá-lo.

Em certos casos, para prevenir indigestão, caso da China, onde o mercado imobiliário apresenta sintomas de bolha prestes a romper.

A capacidade de produção das empresas, assim como a de oferta de infraestrutura, cresce conforme a expectativa da demanda, mas ela tende a desacelerar diante de duas tendências de sentidos opostos e resultados equivalentes: o superaquecimento ou a recessão. Ambas deságuam em crise. Excesso ou falta de demanda cria instabilidade.

Duas sequelas são mencionadas com frequência: inflação e deficits em contas externas, estes, como resultado de o país consumir acima da capacidade instalada de produção. Não só esses fatores alteram a inflação e as contas correntes, mas são os mais frequentes.

O conceito de estabilidade tem um componente de subjetividade que o modelo macroeconômico praticado com poucas variações desde 1999 procura relativizar, servindo-se de medidas também subjetivas, mas entendidas como objetivas se tiverem credibilidade. O BC entra ai.

Como GPS da economia
A meta para a inflação, assumida há alguns anos em 4,5% anuais, é o principal dos sinalizadores dessa espécie de GPS da economia. Os resultados líquidos da balança comercial e dos fluxos de capitais também são monitorados, mas sem metas explícitas.

Em geral, há o entendimento de que os deficits externos não devem passar de 3% do PIB. O ritmo de expansão trimestral do PIB, enfim, dá a avaliação derradeira. Se ele evolui com a inflação escapando da meta e com deficits externos cumulativos, indica, tal como taxa de colesterol elevada no sangue, riscos de enfarte econômico.

A taxa do dólar, nesse cenário, é como a tontura em cardíacos: um sinal de anormalidade, não causa de enfermidade.

Blefe do BC e da Fazenda
Assim estamos com a economia: o organismo está sadio, mas poderá exigir atenção adiante à falta de cuidados precoces. O BC receita para tal situação a medicação de juros, a Selic, que deveria vir acompanhada da prescrição de dieta fiscal pela Fazenda.

Os doutores do BC e da Fazenda no governo Lula, no entanto, costumam divergir do diagnóstico, embora haja mais blefe que contrariedades genuínas nesse entrevero. Como é mais fácil subir juros, apesar da gritaria, do que cortar gastos públicos, o BC toma tiro, mas faz o que o próprio governo e o mercado financeiro esperam que faça.

A inflação desinflada
Com a inflação pelo IPCA fechado no meio de maio girando a 5,26% em 12 meses (a variação no mês inteiro será divulgada amanhã) — acima, portanto, da meta no ano de 4,5% —, o deficit externo anual até abril em 1,99% do PIB e crescendo e PIB bombando, o BC entrou em campo. No mês passado, tirou a Selic do remanso e a elevou de 8,75% para 9,5%. A previsão é que repita a dose. E o que se passa com a inflação? Está refluindo, sobretudo a projetada. Isso porque o BC pôs a Selic em ação. E não houve a pressão de demanda vislumbrada pelos economistas. Tem piloto ao volante da economia.

Histerismo lucrativo
O ano eleitoral aguça a percepção dos analistas, mas há também um bem bolado movimento histérico. Pela oposição, para lançar dúvidas sobre a capacidade do governo de gerir a economia em meio à crise global. Com a popularidade de Lula nos píncaros, o governo faz que nem está ai: abre o cofre, sobrecarregando a política monetária.

O mercado financeiro, que lucra arbitrando as taxas dos papéis do Tesouro, se aproveita da contradição entre o fiscal e o monetário, o que, de algum jeito, também pauta a ação do BC. Algo precisa ser feito, e o BC faz, se outros não fazem. Argumenta-se que, se em vez de aumentar juros, o crédito ao consumo fosse desestimulado, haveria o mesmo resultado com menos ônus econômico. É possível.

Mas antes é preciso indagar se o governo — leia-se, Lula — daria aval a tal política. O juro é mais neutro quanto ao resultado. Já o contingenciamento do crédito discriminaria os mais pobres, com os quais a candidata do PT colhe maior apoio. Tal discussão hoje é ociosa.