domingo, dezembro 05, 2010

FÁBIO COLLETTI BARBOSA

O papel dos bancos
FÁBIO COLLETTI BARBOSA
FOLHA DE SÃO PAULO  05/12/10
O país precisa investir na infraestrutura, e o sistema financeiro deve buscar respostas a esse desafio


HÁ 15 DIAS, assisti à peça "O Mercador de Veneza", de Shakespeare, com o fantástico Al Pacino no papel de Shylock, o banqueiro avarento.
Será que é assim? Afinal, que papel cumprem os bancos? De forma simplificada, cabem aos bancos três importantes papéis na sociedade: 1) proteger e rentabilizar a poupança dos indivíduos e das empresas; 2) financiar o consumo e o investimento; 3) prover serviços de pagamento e de recebimento.
São missões importantes, com diferentes matizes de acordo com os momentos econômicos.
Historicamente, o crescimento acelerado da economia no mundo sempre foi suportado e impulsionado pela atividade bancária eficiente. Foi assim na Idade Média em Veneza, em Gênova e em Florença, entre outras tantas cidades europeias que viviam do comércio e precisavam dos bancos para financiar suas empreitadas.
A correlação entre o tamanho e o vigor das economias e dos respectivos sistemas financeiros pode também ser constatada pela força que tiveram no século 20 os bancos ingleses, seguidos pelos norte-americanos e pelos japoneses. Agora, observamos a emergência dos gigantescos bancos chineses. Economias fortes, bancos fortes. E vice-versa.
O crescimento da economia brasileira nos últimos anos tem várias raízes. Uma delas é o crescimento do crédito. Saímos de um total de R$ 380 bilhões em 2002 para algo como R$ 1,6 trilhão em setembro último.
Novas formas de financiamento, como o crédito consignado e a ampla oferta de cartões de crédito, entre outras, viabilizaram o aumento do número de tomadores de crédito de 8,5 milhões de pessoas em 2004 para mais de 25 milhões agora.
Foram financiadas até outubro de 2010 cerca de 800 mil habitações com recursos da poupança e do FGTS, sendo parte delas dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, representando um crescimento de 52% em relação ao mesmo período em 2009.
Empresas de pequeno e médio portes, antes sem acesso ao crédito bancário, agora passaram a ter crédito para seus investimentos e suas necessidades de capital de giro.
As taxas médias de juros têm caído, e os prazos se alongado, permitindo o acesso a um número maior de tomadores. Ganham todos.
Com essa inclusão de novos tomadores de crédito, surgem algumas responsabilidades, como a questão da educação financeira e de clareza nas operações para o cliente contratar o produto mais adequado.
Responsabilidade levada a sério pelos bancos, mas que também passa por toda a sociedade e conta com o apoio do próprio setor público. Os objetivos dos clientes e do sistema financeiro só podem ser perpetuados por uma relação de transparência.
A economia é dinâmica, e novas necessidades vão aparecendo. Com a crescente inclusão social, o país precisa agora focar nas necessidades de investimento na infraestrutura. O sistema financeiro deve, pois, buscar respostas a esse desafio.
Os projetos de infraestrutura que se analisam demandam recursos vultosos e por prazos bastante mais longos. Recursos do BNDES serão utilizados, mas não serão suficientes para atender a toda essa demanda. É necessário criar mecanismos que permitam aos bancos desempenhar o papel que deles se espera.
Precisamos pensar por um prazo mais longo, seja na poupança, seja no planejamento de nossos investimentos. Temos, por exemplo, que nos livrar de vez da indexação diária do CDI, incompatível com o cenário de alongamento.
Esses "problemas novos" mostram evolução da sociedade, assim como o debate que hoje existe entre governo e empreendedores do setor industrial e do sistema financeiro na busca de soluções.
Não existe contraponto. Os objetivos são convergentes, e o sucesso do sistema financeiro em atender esse desafio ajudará a economia a caminhar de forma mais sólida.
Todos saem ganhando. O papel avarento de Shylock é cada vez mais uma percepção anacrônica, há muito substituída por estruturas profissionais e preparadas para fazer a sua parte na construção de uma sociedade melhor.


FÁBIO COLLETTI BARBOSA, 55, administrador de empresas, é presidente do Grupo Santander Brasil e da Febraban. Escreve mensalmente, aos domingos, neste espaço.

2 comentários:

  1. Muito bonito o discurso do presidente, mas eu só deixei de alimenta-lo com juros e taxas depois que passei a organizar-me financeiramente. Foi mais fácil do que eu pensava. Na internet tem várias ferramentas para deixar a sua vida financeira organizada.

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  2. Anônimo7:39 AM

    isso é propaganda enganosa...a verdadeira está no site da ONG
    www.lesadosporseguradoras.com.br

    o que tem lá ele não fala...

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