quinta-feira, dezembro 02, 2010

CELSO MING

Não é só um saldo menor 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 02/12/2010

Não é apenas a queda do superávit (diferença entre exportações e importações), de 35,4% no comércio exterior do Brasil, que precisa ser examinada a partir dos números ontem divulgados. Há um punhado de outras coisas que precisam de mais análise.

As importações nos 11 primeiros meses deste ano dispararam 43,9%, uma enormidade num cenário geral de crise e de estagnação do comércio exterior global. O Brasil se tornou um bom porto para produtos encalhados no resto do mundo em consequência da queda do consumo e da recessão. Mas não dá para dizer que esse crescimento das importações seja apenas efeito da sobrevalorização do real (baixa cotação do dólar em relação à moeda nacional). É principalmente resultado do forte aumento do consumo (mais 10%) que, por sua vez, está relacionado com o salto da renda (mais 12%, sem desconto da inflação) e do crédito (mais 20%). E, é claro, esses fatores estão por trás, também, do recuo do saldo positivo.

O excelente desempenho das exportações não ficou muito atrás do apresentado pelas importações. Cresceram nada menos que 30,7% no acumulado do ano (até novembro), apesar da retração mundial das encomendas em decorrência da crise e também da baixa do dólar, que encareceu o produto exportado. É um resultado excepcional.

Em cada setor da indústria, há aqueles que se queixam de que essa exuberância das exportações se deve apenas ao bom momento das matérias-primas metálicas e das commodities agrícolas, em prejuízo dos produtos da indústria. É verdade que os altos preços dos produtos básicos vêm garantindo uma receita 40,4% maior com exportações nessa categoria. Mas não se pode desdenhar do que acontece com os outros segmentos. As exportações de produtos manufaturados, os mais sensíveis ao câmbio adverso, estão 19,2% mais altas. E a dos semimanufaturados (açúcar, celulose, ferro, ligas, óleo de soja, etc) avança a 38,0%.

O bom volume de exportações de manufaturados também tem a ver com as importações, na medida em que a indústria está importando cada vez mais matérias-primas, peças e componentes e, dessa forma, barateando o produto final. O mesmo se pode dizer do setor de máquinas. Na última sexta-feira, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, lembrava que, em apenas quatro anos, a indústria importou nada menos que US$ 125 bilhões em máquinas e equipamentos, mais do que o dobro contabilizado no período de 2003 a 2006 (inclusive). É também fator relevante de modernização da indústria.

A indústria reduziu sua participação no PIB, de 21% nos anos 70 a alguma coisa ao redor dos 15% em 2010. Mas isso só marginalmente tem a ver com o processo de desindustrialização da qual se queixam tantos empresários. Por trás desse fenômeno está o fortalecimento relativo da agroindústria e do setor de serviços.

Argumentar que esse arranjo está produzindo desemprego não tem o menor cabimento. Hoje, apenas 6,1% da população economicamente ativa está sem trabalho. É o melhor indicador de toda a história brasileira.

Mais tempo de vida pra você
Cada ano, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer aumenta de três a quatro meses. É a primeira observação que se pode fazer das informações ontem divulgadas pelo IBGE.

Mudanças à vista
São números que apontam para impactos enormes na economia e na política nos próximos anos. Uma população mais velha exigirá grandes mudanças no sistema de Previdência Social para garantir mais aposentadoria. É um futuro com mais geriatria do que pediatria, mais lar de velhinhos e menos creches e escolas.

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