sábado, maio 01, 2010

CELSO MING

A Petrobrás chama capital
Celso Ming 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/05/10

A Petrobrás decidiu não esperar mais. Vai realizar a operação de capitalização da ordem de R$ 110 bilhões (ou US$ 60 bilhões)até o fim de julho. Em entrevista exclusiva a esta Coluna,o diretor financeiro, Almir Barbassa, avisa que a Petrobrás está segura de que, até o fim de maio, sairá a aprovação do Congresso
para o projeto de lei que garante a operação de cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo de propriedade da União à estatal.“Se, apesar de nossa aposta, essa aprovação não sair, teremos de fazer a capitalização de outro jeito.”
A cessão onerosa é a maneira pela qual aUnião vai transferir à Petrobrás os 5 bilhões de barris que se encontram nas jazidas do pré-sal (in situ). Esse volume de petróleo corresponderá à parcela que o Tesouro subscreverá no capital da empresa, não em dinheiro, mas em petróleo.O projeto do governo federal prevê que a cessão onerosa se faça primeiramente com o repasse de títulos de dívida pública, que,em seguida, servirão para a Petrobrás pagar o petróleo que receberá da União.
Barbassa explica que a decisão tomada ontem não é um plano B. “É o mesmo plano,com algumas modificações.”
Uma dessas modificações tem a ver com o preço (de referência) do barril pelo qual será feita a transferência. Ele será determinado pela certificação a ser
apresentada nas próximas semanas pela consultoria americana especializada
DeGolyer&MacNaughton, já contratada pela Petrobrás.
Na semana passada, a Agência Nacional do Petróleo(ANP)abriu licitação para uma certificação oficial que deverá ser contratada no final de maio. Como o resultado dessa certificação só sairá em setembro ou outubro e a Petrobrás tem
pressa, o Conselho de Administração da empresa autorizou ontem a capitalização
nas condições de preço a serem definidas pela DeGolyer.
Barbassa não acredita em que haja diferença relevante entre os resultados da
avaliação dos preços do petróleo da União a serem apresentados pelas duas
consultorias.“Um dos principais fatores que poderia determinar diferenças significativas seria o risco de reservatório, ou seja, a existência ou não do volume pretendido(5 bilhões de barris). Mas esse risco não existe,porque,em caso de insuficiência de volume, a União se comprometerá a fornecer petróleo de outro reservatório. Se houver diferença,faremos um ajuste”, disse. Do ponto de vista do preço de subscrição das ações, a diferença a ser ajustada é pouco relevante. Ela só teria importância no acerto do preço final dos 5 bilhões de barris que a Petrobrás terá de pagar à União.
Mais mudanças. Outra novidade na decisão da Petrobrás é o tratamento a ser dado aos direitos de subscrição que não vierem a ser exercidos pelos atuais acionistas. A decisão é abrir a subscrição das sobras a qualquer interessado,
dando-se, no entanto, prioridade de exercício para os acionistas. A subscrição
adicional será feita, portanto, por oferta pública, assegurada a prioridade
para quem já possui ações da estatal.
Embora essa deva ser a maior operação de capitalização de uma única empresa em todos os tempos, Barbassa avisa que a Petrobrás tem certeza do seu sucesso: “Basta ver o entusiasmo suscitado no exterior pela capitalização do
Banco do Brasil.”
Se a Petrobrás fosse esperar pelos resultados da certificação do petróleo a
ser encomendada pela ANP,a capitalização teria de ser feita em duas etapas,
a primeira, imediata, sem a cessão onerosa, de US$20 bilhões a US$25 bilhões; e a outra, a da cessão onerosa, no valor de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões. “Mas o risco de desgaste seria alto e a primeira etapa do processo poder ia ser fortemente prejudicada pelas dúvidas que se levantariam em relação à segunda etapa.”
Barbassa não entende que a queda de preços das ações na Bolsa (neste ano, de 11%, no caso das ordinárias,e de 10%,no caso das ações preferenciais) atrapalhe a operação de capitalização. “É normal que os preços sejam jogados para baixo antes do encerramento do processo. Pode até ser um estímulo adicional para
a subscrição.”
O diretor afirma que a disposição do Tesouro é a de subscrever todas as sobras que eventualmente não tiverem interessados, inclusive as ações preferenciais(sem direito a voto).
Somente a subscrição da Petrobrás pelos acionistas estrangeiros poderá trazer cerca de US$ 20 bilhões para o Brasil. Esse é um volume que deverá alterar as projeções de entrada de investimentos estrangeiros no País.

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