segunda-feira, fevereiro 22, 2010

PAINEL DA FOLHA

Serviço terceirizado

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/02/10

Foi de caso pensado que o discurso de Dilma Rousseff no congresso do PT pouco se deteve em comparações com o governo passado. Houve apenas a indireta "não sucumbimos a modismos ideológicos" e a ironia a respeito de "mudar a regra no meio do jogo", esta em referência à emenda da reeleição de FHC.
Não que o Planalto tenha desistido da estratégia plebiscitária, longe disso. Mas o núcleo da campanha considera que a tarefa de bater nos tucanos deve ficar, na medida do possível, a cargo de Lula e do partido -além, é claro, de Ciro Gomes (PSB). Nenhum deles perde nada com o revide do PSDB. Mas a candidata, que já tem fama de brava e passa por um processo de "paz-e-amorização", precisa ser preservada.




Água no feijão. O discurso de Dilma nunca foi planejado para ser curto. Mas cresceu de última hora na esteira das emendas à esquerda aprovadas no documento do PT, na tentativa de marcar diferenças entre programa de partido e programa de governo.

Uniforme. Foi o marqueteiro João Santana quem sugeriu a Dilma usar a mesma blusa vermelha que ela vestiu no mais recente comercial do PT e na foto do painel instalado no palco do congresso.

Pequeno detalhe. Quando Lula deu a estocada em José Dirceu, dizendo em seu discurso que, na montagem do primeiro ministério, o dirigente petista queria dar Minas e Energia ao PMDB, mas a pasta já tinha dono (no caso, Dilma), Dirceu comentou com quem estava a seu lado: "Ele só não conta que foi ele quem me mandou oferecer Minas e Energia ao PMDB".

Onde pega. Um PhD em Lula atribui a estocada a dois fatores: a) ele não convive bem com o enorme crédito que se dá a Dirceu pela vitória de 2002; b) desejo de afastá-lo de qualquer protagonismo na campanha de Dilma.

É como eu disse. De Tarso Genro, no congresso: "Lula escolheu muito bem a Dilma. Justamente para que ela preenchesse o vazio" (pós-mensalão). Isso foi pouco antes de o presidente subir ao palco e sugerir que a imprensa havia distorcido as palavras do ex-ministro da Justiça ao falar em "vazio" no partido.

Fama. Romero Jucá comentou no congresso que, ao renovar sua direção, o PMDB promoveu uma "limpa" e só manteve quem é a favor da aliança com o PT. Um dirigente do PC do B notou: "E depois os stalinistas somos nós...".

Cobras... Na conversa que Lula teve com Jucá e Michel Temer antes de irem todos ao pré-lançamento de Dilma, sobrou para Patrus Ananias e Fernando Pimentel: o presidente disse que os dois petistas, postulantes à vaga de candidato ao governo de Minas Gerais, estariam mais interessados em "destruir um ao outro" do que em chegar a um entendimento com o PMDB.

...e lagartos. Sobrou também para o peemedebista Geddel Vieira Lima. Segundo Lula, o ministro da Integração se meteu numa situação difícil ao insistir em enfrentar Jaques Wagner (PT), que buscará a reeleição na Bahia.

Falou comigo? No embarque para Brasília rumo ao congresso do PT, Aloizio Mercadante (SP) foi cercado por militantes do partido aos gritos de "nosso governador". O senador, que de início imaginava renovar o mandato, escondeu-se atrás de um jornal.

Resistência 1. No condomínio PSDB-DEM, mesmo os descontentes já aceitam o fato de que, salvo se José Serra desistir da Presidência, o candidato em SP será Geraldo Alckmin. A exceção é o vice Alberto Goldman, que não pode ouvir falar no ex-governador.

Resistência 2. A contrariedade de Goldman não deve mudar o desfecho da novela, mas preocupa os alckmistas. Afinal, ele estará governador durante a campanha.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

Isso não é tão importante. Acho que até eu vaiei o Zé Alencar na primeira vez em que ele foi vice, porque eu era sindicalista na época. E hoje ele é uma unanimidade no PT.

Do deputado MARCO MAIA (PT-RS), minimizando o temor peemedebista, não confirmado, de que Michel Temer fosse vaiado no evento de lançamento da pré-candidatura de Dilma Rousseff.

Contraponto

Do fundo do baú Senadores do PT se revezavam na tribuna, em plena Quarta-Feira de Cinzas, para discursar em homenagem aos 30 anos do partido, objeto de congresso que terminou anteontem em Brasília. João Pedro (AM) foi o primeiro:
-Nós precisamos ter um perfil mais humanitário, mais solidário-, disse, referindo-se aos desafios do pós-Lula.
Na sequência, Eduardo Suplicy defendeu:
-É o momento da aceitação, por consenso, da candidatura da ministra Irma Passoni à sucessão...
Ele logo se corrigiu, mas a confusão entre Dilma e a ex-deputada petista fez explodir o riso no plenário.

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