quarta-feira, janeiro 20, 2010

GILLES LAPOUGE

Ação de Washington expõe lentidão da UE

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/01/10


O desembarque dos EUA no Haiti deixou a Europa estupefata. O que aconteceu com Barack Obama, que há um ano vem sendo descrito como um homem indeciso e hesitante? Em poucas horas, ele encontrou 10 mil soldados, 19 helicópteros, 1 hospital flutuante com 12 salas cirúrgicas e instalou tudo isso no Haiti, tomando, de passagem, o aeroporto de Porto Príncipe.

Aviões humanitários franceses, brasileiros e italianos tiveram de dar meia-volta e pousar em outro país, o que provocou a cólera de Alain Joyandet, secretário de Estado da França. Ele disse que "protestaria", mas, em seguida, o presidente Nicolas Sarkozy o desmentiu.

Entretanto, é verdade que o "golpe" de Obama despertou as desconfianças antiamericanas. As imagens de Porto Príncipe suscitaram lembranças desagradáveis: a exibição de força, a arrogância dos soldados, a mania dos generais americanos de colocar os generais europeus em sua insignificância. A irritação foi tão gritante que Obama divulgou uma espécie de justificativa: "Não viemos para submeter os outros, mas para ajudá-los a se reerguer."

As críticas dos "antiamericanos" seriam mais audíveis se a Europa tivesse tido um bom comportamento. Ocorre que a União Europeia se limitou a dar o espetáculo que ela representa melhor: o de sua impotência e de suas discórdias.

O novo presidente da União Europeia ficou mudo. A nova ministra das Relações Exteriores, a britânica Catherine Ashton, não foi ao Haiti. Ela achou que poderia se esquivar fazendo críticas indiretas a Hillary Clinton, que, no entanto, estava lá. "Catherine Ashton não pretende fazer turismo de desastre", era o que se dizia.

A opinião pública já começa a se cansar. Esses haitianos estão ficando monótonos. Só se fala neles. Todos esses mortos, essas crianças desfiguradas. Nós amamos esses pobres coitados, mas é que o Haiti é um país maldito! Por outro lado, a França mostrou, mais uma vez, que tem coração. O ministro da Imigração, Brice Hortefeux, disse que o país não mandará de volta os haitianos que estão em situação irregular na França. Pelo menos por enquanto.

O público se cansa. Ontem, uma rádio apresentou uma transmissão sobre o Haiti. Com o testemunho do poeta haitiano Metellus, que falava de sua dor, de todos os crimes que a ilha sofreu pela mão de estrangeiros, de Napoleão a Jules Ferry, sem falar nos crimes americanos. E, durante, todo o tempo, não paravam de chegar e-mails dizendo: "Chega de Haiti! Nós, franceses, também temos nossos problemas!"
*Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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