quarta-feira, janeiro 21, 2009

EDITORIAL

Decadente aos 25

Folha de S. Paulo - 21/01/2009
 

O MOVIMENTO dos Trabalhadores Rurais Sem Terra completa 25 anos de existência, mas não amadurece. Ameaça, agora, "invadir" cidades, ou seja, intensificar sua atuação nos centros urbanos. É um modo insensato de render-se à realidade, que já lhe ameaça a sobrevivência e a identidade.
Um sintoma de desnorteio são as turras com seu padrinho, o governo Lula. Patrocinador e patrocinado não se entendem sobre cifras de assentados.
Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, computa 520 mil famílias assentadas desde 2003. O MST considera os dados espúrios e reconhece só 163 mil famílias contempladas. Acusa Lula de não ter cumprido nem 30% da meta do Plano Nacional de Reforma Agrária.
A chegada do PT ao poder federal coincide com o esvaziamento do MST. O total de famílias invasoras baixou de 65.552, em 2003, para 49.158, em 2007. O número de novas famílias acampadas em torno da bandeira vermelha caiu de 59.082 para 6.299 no mesmo período, decréscimo de 89%.
Três foram as frentes abertas pelo governo aliado que contribuíram para desidratar o MST. Primeiro, a cooptação de vários quadros próximos para a burocracia estatal. Ela criou uma aparência de interlocução que esvaziou em parte o radicalismo retórico de suas lideranças.
Houve, ademais, a expansão do Bolsa Família, que principiou com 3,5 milhões de agraciados em 2003 e atingiu 11 milhões em 2008. Esse mínimo colchão de renda ajudou a solapar a base de adesão ao MST. Ela se apoiava na insegurança econômica e foi reduzida, também, pela recuperação do emprego até os meses finais do ano passado.
Por fim, Lula fez minguar o fluxo de recursos para organizações-satélite que sugavam verba estatal em nome do MST. No primeiro mandato, fluíram cerca de R$ 10 milhões por ano para as burras de ONGs que lhe faziam as vezes de testas-de-ferro. Em 2008, pingou R$ 1,4 milhão.
Encurralado pela própria decadência, o MST reage a seu modo. Desta vez, sua vanguarda de ativistas recebe a ordem de avançar sobre as cidades, protagonizando mais ações estapafúrdias e desconexas. Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença e a desconfiança da maioria da população.

DORA KRAMER

Refazer a América


O Estado de S. Paulo - 21/01/2009


Vinte minutos e nenhuma mistificação. Barack Hussein Obama foi ao ponto e disse apenas o necessário num discurso de posse sem enfeites.

Realista no traço do perfil da crise, duro com as ameaças à segurança de seu país, generoso na referência aos mais pobres, conciliador na proposta de estender a mão a quem se propuser a “abrir o pulso”, entusiasmado e otimista ante a tarefa de conduzir a nação ao reencontro dos valores que fizeram dos Estados Unidos a maior, mais perene e poderosa democracia do mundo.

Obama não falou de si, não exaltou suas qualidades, não vestiu o figurino de salvador, não vendeu facilidades nem se mostrou intimidado ante a imensidão das dificuldades.

Falou de tolerância, de honestidade, de patriotismo, de coragem, de lealdade, de trabalho. Exibiu-se ao planeta como o homem certo na hora exata.

Se será um excelente ou um medíocre presidente é uma dúvida a ser tirada ao longo dos próximos quatro anos. Agora, Obama cumpre o papel concernente ao momento de poço fundo. Tem a medida necessária ao tamanho do rombo.

Para um problema imenso, só uma solução radical como a eleição de um presidente negro por fora, multirracial por dentro, algo alternativo nas maneiras, neófito na política para o tamanho das trajetórias habitualmente cumpridas antes da chegada ao topo, jovem e ao mesmo tempo tradicionalista.

Cioso da missão de representar o início de uma era de recuperação da economia, da credibilidade interna e externa, da capacidade de indignação perdida diante de tantos e tão escabrosos desastres ocorridos sob a administração George W. Bush.

Frank Rich, colunista do New York Times, fala a respeito num artigo em que compara a comoção provocada pela divulgação dos papéis do Pentágono sobre a guerra do Vietnã, em 1971, e a apatia dos americanos frente aos descalabros em série do governo Bush: as mentiras sobre as armas de destruição do Iraque, as torturas nas prisões de Guantánamo e Abu Ghraib, os bilhões gastos nas guerras e na reconstrução do Iraque, a crise econômica, a corrupção, o clientelismo, a incompetência.

“Após oito anos sendo surrada pelo governo Bush, a nação ficou semicatatônica”, escreve Rich a propósito da absorção de tais acontecimentos ao cotidiano de um país que já não se espantava com mais nada.

Um país que obrigou um presidente da República recém-reeleito a renunciar porque se descobriu que a campanha dele, com a ciência de Richard Nixon, o presidente em questão, espionara a sede do Partido Democrata. 

Na avaliação do analista, Barack Obama terá mais chance de defender uma “política nova e incisiva” quanto mais se empenhar em revelar aos americanos tudo sobre “as malfeitorias de Bush”. Frank Rich, no entanto, na véspera da posse duvidava dessa possibilidade por causa de declarações de Obama defendendo a necessidade de “olharmos para a frente, e não para trás”. 

Obama nada disse que faça supor a abertura de investigações, mas tampouco deixou de levar em conta o que se passou e proclamar a mudança genuína, “o fim dos sentimentos mesquinhos e das falsas promessas, das recriminações e dos dogmas desgastados que por tanto tempo estrangularam a nossa política”. 


Tipo exportação

Bob Woodward, célebre repórter do caso Watergate, escritor, editor do Washington Post, lista “dez lições para o presidente Barack Obama aprender com o governo Bush”, que merecem ser lidas e absorvidas por governantes em geral. 

1. É o presidente que dá o tom. Não seja passivo ou tolere divisões virulentas.

Quer dizer, o papel de árbitro é essencial e indivisível.

2. O presidente precisa fazer com que todos se coloquem, mesmo - ou especialmente - quando há divergências.

As posições e opiniões dos auxiliares precisam ser de conhecimento do chefe.

3. Um presidente precisa fazer o dever de casa para elaborar e respaldar suas políticas.

Não pode, nem deve, atuar “de ouvido”.

4. Presidentes precisam ser francos e se certificar de que más notícias cheguem ao Salão Oval (o gabinete presidencial).

O isolamento é nefasto e contraproducente.

5. Presidentes precisam fomentar a cultura do ceticismo e da dúvida.

Certezas inabaláveis são um atalho para o equívoco.

6. Presidentes recebem dados contraditórios, e precisam classificá-los de forma rigorosa.

Não abrir mão, portanto, do discernimento pessoal.

7. Presidentes devem dizer a mais dura verdade ao povo, mesmo que isso signifique dar notícias muito ruins.

Otimismo tem hora.

8. Motivos nobres não são garantia de uma política eficiente.

Os fins não necessariamente justificam os meios.

9. Presidentes devem insistir num pensamento estratégico.

Visão de longo prazo é indispensável.

10. O presidente deve adotar a transparência. Alguma versão do que aconteceu na Casa Branca (ou no Palácio do Planalto) sempre vai se tornar pública

ÉLIO GASPARI

Não eram sapatos gastos, eram História


O Globo - 21/01/2009
 

Naquela esplanada onde já houve um mercado de escravos, o movimento de quem chegava para a festa da posse de Barack Obama começou quando ainda era noite e a temperatura estava a sete graus negativos, suficiente para congelar a água das garrafinhas. Nada havia para fazer senão esperar várias horas. Mas aquela gente esperou séculos. 

Desta vez, no chão, a festa era deles, extensiva a quem fosse capaz de gritar "Obama" com um sorriso no rosto. Para Rodrick Moore, funcionário da Universidade da Carolina do Sul, foram oito horas de volante. Para Eivind Petersen, diplomata norueguês, enrolado num cobertor azul, foram oito horas de vôo. Fernando Souza, de Salvador, enrolado na bandeira brasileira, esperava o fim da cerimônia para voar de volta. 

Tanya Moore, estudante de ciências do laboratório no Ohio, tinha outra conta. Às oito da manhã, quando o sol já aparecera, ela informou: 

"Faltam quatro horas para George Bush ir embora." Repetiria o lance, com absoluta felicidade: "Faltam 45 minutos." Não havia lugar melhor para a contagem regressiva de Bush. 

Empossado na Presidência, Barack Obama fechou gloriosamente um ciclo da história americana que começou bem antes do nascimento do companheiro, quando uma vendedora chamada Rosa Parks entrou num ônibus, sentou no assento destinado aos brancos e não quis se levantar. Não há apenas um negro na Casa Branca, até porque o pastor Thomas Robb, diretor da Ku Klux Klan, já informou que ele "é só metade preto". 

Os negros americanos liquidaram a fatura. O presidente é negro. O procurador-geral também, bem como a embaixadora nas Nações Unidas. O trisavô de Michelle Obama foi escravo numa plantação de arroz. Os netos da geração que marchou (ou não) nos anos 60 tornaram-se parte da elite americana. Susan Rice, a embaixadora na ONU, é sobrinha-neta de Vernon Jordan, que em 1961 era um jovem advogado e escoltou a primeira estudante negra admitida por ordem judicial na Universidade da Geórgia. 

A meia hora de caminhada da escadaria onde Obama tomou posse, está guardado um par de mocassins com os saltos tipo anabella quase completamente comidos. Durante dez anos, aqueles sapatos ficaram em algum canto da casa de uma professorinha negra de 25 anos, mulher de um militante que tomara 125 cadeias por conta das encrencas de Martin Luther King. Eram a um só tempo coisa velha e memorável. Um dia veio-lhe a ideia de oferecer os mocassins ao Museu de História Americana. E lá estão eles, com a informação: estes foram os sapatos que Juanita Williams usou na Marcha de Selma. 

Em março de 1965, Barack Obama ainda não completara quatro anos, viviam em Selma (Alabama) 15 mil negros, mas só 156 deles podiam votar. Uma primeira marcha andou seis quarteirões e acabou-se a cacetadas. Não adiantou. Duas semanas depois os negros marcharam por 80 quilômetros, durante cinco dias e quatro noites. Eram 300 na partida e foram 25 mil na chegada, na capital do estado. 

Os sapatos de Juanita eram um pedaço da História dos Estados Unidos e ela percebeu. Depois de Selma o presidente Lyndon Johnson pôs fim às chicanas eleitorais contra os negros e desafiou uma audiência usando o título de uma canção de protesto: "We shall overcame" ("Nós triunfaremos".) 

Estranho. Nas festas da posse de Obama evitava-se essa canção. Não precisava, pareceria provocação. Afinal: triunfamos.

PATRÍCIA KOGUT

NOTA 10
Para a estreia de "Caminho das Índias", anteontem, na TV Globo. A direção e as equipes de produção, figurino e caracterização deram um show na novela de Glória Perez
NOTA 0
Para o "A tarde é sua", da Rede TV!, que, em época de "Big Brother Brasil", só fala do reality show. São horas de discussão sobre o mesmo tema, com direito a "especialistas" convidados







Duas fases em ‘Caras e bocas’

“Caras e bocas”, nova novela das 19h, terá duas fases: a primeira se passará em 1993. A segunda será nos dias atuais. Vilã da trama, Deborah Evelyn no início usará um cabelo curto “para dar uma remoçada” e, depois, aparecerá com um “corte moderno”.

 

E mais... 
Deborah embarcará no dia 10 de março para a África do Sul onde gravará cenas da trama de Walcyr Carrasco. Ela, que não conhece aquele país, ficará hospedada num luxuoso resort. Afinal, Judith é diretora de uma empresa de mineração, em São Paulo.

LOUISE CARDOSO (Filomena) visita o shopping cenográfico de “Malhação”, o Gran Plaza. Na novela, sua personagem será dona de uma loja de cosméticos. E sua sobrinha, Yasmin (Mariana Rios), vai ajudá-la a cuidar do negócio. O shopping ficará ao lado do Múltipla Escolha

Batente 
O elenco de “A grande família” ainda está de férias, mas os redatores já voltaram ao batente. Eles se reuniram no início desta semana para começar a discutir o programa e as novidades que vêm por aí. As gravações recomeçarão em março.

De volta 
Miguel Falabella voltará à Marquês de Sapucaí no carnaval deste ano. O autor de “Negócio da China” já tirou suas medidas para fazer o terninho que usará na ala da diretoria da Grande Rio.

Números 
“Caminho das Índias”, novela de Glória Perez, que estreou anteontem na TV Globo, marcou média de 39 pontos no Ibope, com 61% de share. Sua antecessora, “A favorita”, de João Emanuel Carneiro, começou com média de 35 pontos. Já o “Big Brother Brasil” de anteontem, véspera de dia de eliminação, registrou média de 32 pontos.

DANTON MELLO e Carol Oliveira na festa de estreia de “Caminho das Índias”

Francesa 
Mayana Neiva, que fez parte do elenco da minissérie “Queridos amigos”, começa a filmar esta semana “Os normais 2”. No longa, sua personagem será uma francesa.

Alô 
O público não deixa passar nada. O celular de Lara (Mariana Ximenes), em “A favorita”, aparece na lista da Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) de dezembro.

‘Menina veneno’ 
Em fevereiro, o cantor Ritchie vai regravar clássicos de sua carreira, em estúdio. O revival, que será lançado em DVD, vai ser exibido no Canal Brasil.

CAROLINA DIECKMANN e Giovanna Antonelli no show de Raoni Carneiro, ator de “Negócio da China”

COLUNA PAINEL

Inconfidência


Folha de S. Paulo - 21/01/2009
 

Um dia depois de ser anunciado secretário do governo José Serra (PSDB-SP), Geraldo Alckmin telefonou ontem para Aécio Neves (PSDB-MG). O diálogo foi de uma elegância ímpar, mas o governador mineiro manifestou a aliados a avaliação de que Alckmin "se apequenou" ao aceitar o convite.
Já pela manhã, Aécio decidiu que faria circular na imprensa uma graça: a de que agora está finalmente "contemplado" no governo Serra, como se tivesse "emplacado" Alckmin no secretariado paulista. De fato, horas depois surgiram declarações em que ele se diz "pessoalmente prestigiado" com a nomeação. Aécio disputa com Serra a candidatura tucana à Presidência, em 2010, e até anteontem tinha em Alckmin um conveniente personagem a atazanar o adversário.

Bombeiro
Aécio, aliás, recebe hoje a visita do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que vai tomar o pulso do mineiro. Amanhã repetirá a dose em São Paulo, em encontro com Serra -dias depois, seguirá para Cuba. 

Bis
Nos bastidores, líderes do PSDB já negociam a reeleição de Sérgio Guerra à presidência da sigla por mais dois anos -o mandato expira em novembro. A avaliação é que sua permanência manteria o comando nacional do partido fora do eixo São Paulo-Minas em 2010, sendo que Guerra tem trânsito nas duas alas. 

Na geral
Diante do veto da diplomacia dos EUA a assento especial para congressistas de outros países, o deputado Maurício Rands (PT-PE) foi a Washington por conta própria. Um dos pontos altos de sua participação na posse de Barack Obama foi fotografar a população malhando um boneco de George Bush. 

Pela TV
Ontem, o embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, passou o dia em Recife, ao lado do governador Eduardo Campos (PSB-PE). Embaixadores não foram convidados para a posse. 

Garganta 1
Os ruralistas, até aqui quietos, vão se somar ao coro dos descontentes após o péssimo resultado do emprego em dezembro, que registrou 134 mil vagas a menos no campo. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) fará reunião no dia 10 de fevereiro para decidir a pauta que será levada a Lula. 

Garganta 2
Serão três demandas principais: leilões emergenciais de alimentos para evitar queda dos preços, desoneração da cadeia agrícola e, como sempre, o alongamento das dívidas do campo com os bancos oficiais.

Inflação
Um dia antes de o Ministério do Trabalho anunciar números de desemprego recorde para o mês de dezembro, o presidente Lula assegurou no domingo, em artigo no jornal uruguaio "El País", que seu governo incorporou mais de 10 milhões de brasileiros ao mercado de trabalho -2,3 milhões de vagas a mais do que os números oficiais do ministério, que apontam a criação de 7,7 milhões de postos formais desde 2003. 

Traço
A TV Câmara tirou do sério o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), candidato a presidir a Casa. A grade da emissora tem exibido com frequência animações e filmes infantis. "Depois dizem que não tem espaço para entrevistas sobre a eleição", reclama o peemedebista. 

Linha
O PT da Câmara chamou reunião para 30 de janeiro. Um dos assuntos será reforçar o apoio a Michel Temer (PMDB), apesar da divisão entre PT e PMDB no Senado. Vozes dissonantes já começam a aparecer. "O PT tem que reabrir o debate, porque é muito ruim um partido só ficar com as duas Casas", diz o deputado Dr. Rosinha (PR). 

De volta
O advogado Cláudio Vieira, ex-secretário de Fernando Collor e mentor da Operação Uruguai, está na corrida por vaga no Tribunal de Justiça de Alagoas. Ele integra a lista sêxtupla encaminhada ontem pela OAB-AL. 

Tiroteio


"Em vez de criticar férias de ministros, o Paulinho deveria agradecer a Deus e a alguns deputados por não engrossar a estatística do desemprego." 

Do deputado 
ANDRÉ VARGAS (PT-PR), em resposta a Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), absolvido pela Câmara da acusação de desvio de recursos do BNDES, que havia reclamado das férias dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda).

Contraponto

Segundas intenções

Uma semana após ter dado adeus à eleição municipal sem sequer ter passado ao segundo turno da disputa, o ex-governador e agora secretário de Desenvolvimento do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), recebeu a visita do ex-deputado Cunha Bueno, que lhe presenteou com o livro "Dicionário das Famílias Brasileiras", de sua autoria, em parceria com Carlos Barata. Ao agradecer, o tucano brincou, diante dos seus assessores:
-Quando me elegi governador, você foi me visitar no Palácio e não pediu nada. Agora que perdi a eleição, me traz um presente. Se a primeira visita eu já achei incomum, agora é que não entendo mais nada...

FERNANDO RODRIGUES

Areia movediça no Congresso


Folha de S. Paulo - 21/01/2009
 

Poucos assuntos interessam menos ao conjunto dos brasileiros do que a sucessão para a presidência da Câmara e a do Senado. No universo paralelo da micropolítica, a história é bem outra. 
Ontem, enquanto Barack Obama tomava posse em Washington, caciques partidários maquinavam freneticamente apoios e traições para a disputa do dia 2 de fevereiro. 
Em política não se deve fazer previsões. "O problema do vaticínio é que depende do futuro" é o lema em Brasília. Não há, portanto, como saber o desfecho das eleições no Congresso. Mas há indicações de que o PMDB sairá um pouco mais rachado, mesmo essa sendo quase uma impossibilidade física para uma sigla já tão fragmentada. 
De um lado, o grupo de senadores do PMDB comandados por Renan Calheiros e José Sarney. Do outro, os deputados peemedebistas sob a liderança de Michel Temer e de Geddel Vieira Lima. 
Em teoria, Sarney e Temer são os favoritos para ganhar as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente. A vitória de ambos restabeleceria uma tradição no Congresso, com o partido dono das maiores bancadas ficando com o comando. Na prática, o quadro se torna muito mais complexo. 
A entrada de Sarney na disputa parece ter acomodado as forças no Senado. Mas atrapalhou a empreitada de Michel Temer. Na Câmara prevalece uma certa aversão a respeito de dar o comando inteiro do Congresso para o PMDB. 
Não que deputados nutram um sentimento elevado pela divisão de poder ou pela democracia. O problema é uma eventual vitória conjunta do PMDB na Câmara e no Senado reduzir a um só o guichê da fisiologia. Essa é a gênese do ambiente pantanoso na disputa atual. 
Tudo somado, dada a esperteza geral, é real a chance de alguém ser engolido pela areia movediça do processo. Sarney ou Temer.

MÓNICA BERGAMO

O CANDIDATO E O COICE


Folha de S. Paulo - 21/01/2009
 

De um cacique do DEM, acreditando que a nomeação de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) para o secretariado de José Serra não significa que ele, Alckmin, conseguirá ser candidato ao governo de SP em 2010: "A única certeza que temos é que o Serra é candidato [à Presidência] e que, por isso, como diria o caboclo, encostou no coice da mula para ela não chutar".

BALANÇA 
O DEM ainda apostava, ontem, que o candidato de Serra continua sendo o secretário Aloysio Nunes Ferreira, da Casa Civil -que terá menos visibilidade que Alckmin, mas gozará de liberdade maior para "fazer política".

VENDAVAL 
O governo brasileiro deve baixar a exigência de uso de equipamentos nacionais para que empresas participem do primeiro leilão de energia eólica do país-que deve ocorrer até o fim do trimestre e já atraiu o interesse de grupos portugueses e espanhóis. "A exigência hoje, em torno de 70%, é intransponível", diz o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente. "Vamos diminuir num primeiro momento para garantir o sucesso do leilão."

VENDAVAL 2 
E Minc já negocia com o ministro Guido Mantega, da Fazenda, a diminuição de impostos para incentivar a fabricação de equipamentos de energia eólica no Brasil.

ILIMAR FRANCO

Sarney atropela

Panorama Político 
O Globo - 21/01/2009
 

O senador José Sarney (PMDB-AP) chega à reta final das eleições para a presidência do Senado como favorito. Depois de ter dito três vezes não ao presidente Lula, na segunda-feira ele se justificou: "O partido está pressionando, a bancada exige a candidatura". O presidente aceitou, mas alertou-o de que não tinha como tirar o petista Tião Viana (AC) da disputa. Sarney, que preferia ser ungido, retrucou decidido: "Tudo bem, vamos ter eleições". 

Turma do Aécio vê operação abafa 

A cooptação do ex-governador Geraldo Alckmin pelo governador José Serra (SP) caiu como uma bomba na ala que defende a candidatura presidencial do governador Aécio Neves (MG). "Estamos com medo que se tente criar um fato consumado. Nosso sentimento é que a cúpula não quer patrocinar uma disputa transparente e leal", criticou o deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG). Considerado um porta-voz de Aécio no Congresso, Nárcio cobrou ontem que o partido decida as regras para a realização de prévias e adverte: "Se ficarmos desconfortáveis, se nos tirarem do jogo, seremos obrigados a buscar outros caminhos". 

O senador Sarney na presidência do Senado é equilíbrio, respeitabilidade e uma relação afável com a oposição" - José Agripino, líder do DEM no Senado (RN) 

MAPA DO EMPREGO. O estado do Rio perdeu 19.342 postos de trabalho em dezembro, um declínio de 0,65%. Em números absolutos, o setor de serviços foi o que mais demitiu no mês passado e o comércio, o que mais contratou. Entre os municípios com mais de 30 mil habitantes, Rio das Ostras foi o que teve maior crescimento relativo do emprego formal em 2008 e São Francisco de Itabapoana, o pior resultado. 

Selo verde 

O presidente da Abiec, Roberto Gianetti da Fonseca, e o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) negociam um pacto que pretende coibir o abate clandestino de gado. Hoje são comercializadas 15 milhões de cabeças ilegalmente.

Olé! 

O senador Gim Argello (DF) é o novo líder do PTB. Antes que Romeu Tuma (SP) se articulasse, Argello obteve a assinatura de cinco dos sete integrantes da bancada. O ex-líder Epitácio Cafeteira (MA) ocupará um cargo na Mesa. 

Curto e grosso 

Na reunião de anteontem, o presidente Lula pediu aos presidentes da CUT, Artur Henrique, e da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, que parem de brigar, argumentando que esse não é o momento para isso. Atualmente, a maior divergência é em torno da proposta de redução da jornada de trabalho e dos salários. Uma repórter perguntou a Paulinho, inocentemente, se eles brigam muito. "Nós brigamos pra &*#@!", respondeu. 

Costuras paulistas 

Depois de atrair DEM, PMDB, PPS, PV e compor com Geraldo Alckmin, José Serra assedia agora o PSB. Os socialistas paulistas dizem que os partidos de esquerda têm simpatia pelo chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), o preferido do governador para sua sucessão. O PSB está preocupado em ficar isolado em 2010 devido à aliança nacional PT-PMDB e está ressentido com o governo federal por ter pressionado o PDT a sair do Bloco de Esquerda. 

O PDT anuncia hoje seu desembarque do Bloco de Esquerda e apoio à candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara. 

DEBATE. O candidato do PMDB à presidência da Câmara, Michel Temer (SP), não aceitou participar de um debate na TV Câmara contra seus três adversários. 

SE A ELEIÇÃO para a presidência do Senado fosse hoje, o senador Tião Viana (PT-AC) teria 25 votos e o senador José Sarney (PMDB-AP), 56.

QUARTA NOS JORNAIS

Globo: Obama anuncia reconstrução dos EUA e promete era de paz

Folha: Obama toma posse com promessa de reconstruir os EUA e liderar o mundo

Estadão: Obama promete nova era de responsabilidade nos EUA

JB: O presidente da esperança

Correio: O que ele quer mudar

Valor: Obama prevê tempos difíceis

Gazeta Mercantil: Obama promete ação e audácia

Estadão: Em busca do orgulho perdido

Jornal do Commercio: Tolerância, esperança e paz