quarta-feira, janeiro 21, 2009

EDITORIAL

Decadente aos 25

Folha de S. Paulo - 21/01/2009
 

O MOVIMENTO dos Trabalhadores Rurais Sem Terra completa 25 anos de existência, mas não amadurece. Ameaça, agora, "invadir" cidades, ou seja, intensificar sua atuação nos centros urbanos. É um modo insensato de render-se à realidade, que já lhe ameaça a sobrevivência e a identidade.
Um sintoma de desnorteio são as turras com seu padrinho, o governo Lula. Patrocinador e patrocinado não se entendem sobre cifras de assentados.
Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, computa 520 mil famílias assentadas desde 2003. O MST considera os dados espúrios e reconhece só 163 mil famílias contempladas. Acusa Lula de não ter cumprido nem 30% da meta do Plano Nacional de Reforma Agrária.
A chegada do PT ao poder federal coincide com o esvaziamento do MST. O total de famílias invasoras baixou de 65.552, em 2003, para 49.158, em 2007. O número de novas famílias acampadas em torno da bandeira vermelha caiu de 59.082 para 6.299 no mesmo período, decréscimo de 89%.
Três foram as frentes abertas pelo governo aliado que contribuíram para desidratar o MST. Primeiro, a cooptação de vários quadros próximos para a burocracia estatal. Ela criou uma aparência de interlocução que esvaziou em parte o radicalismo retórico de suas lideranças.
Houve, ademais, a expansão do Bolsa Família, que principiou com 3,5 milhões de agraciados em 2003 e atingiu 11 milhões em 2008. Esse mínimo colchão de renda ajudou a solapar a base de adesão ao MST. Ela se apoiava na insegurança econômica e foi reduzida, também, pela recuperação do emprego até os meses finais do ano passado.
Por fim, Lula fez minguar o fluxo de recursos para organizações-satélite que sugavam verba estatal em nome do MST. No primeiro mandato, fluíram cerca de R$ 10 milhões por ano para as burras de ONGs que lhe faziam as vezes de testas-de-ferro. Em 2008, pingou R$ 1,4 milhão.
Encurralado pela própria decadência, o MST reage a seu modo. Desta vez, sua vanguarda de ativistas recebe a ordem de avançar sobre as cidades, protagonizando mais ações estapafúrdias e desconexas. Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença e a desconfiança da maioria da população.

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