segunda-feira, dezembro 21, 2009

GEORGE VIDOR


Retorno de 20%

O GLOBO - 21/12/09



Administradores de fundos fechados de investimento (incluindo fundos de pensão restritos a empregados de algumas empresas) estão mirando em um retorno de 20% em média, por ano, para o capital aplicado. É um objetivo ambicioso, mas em 2009 vários administradores conseguiram alcançálo, ajudados pela recuperação dos preços de quase todas as ações na bolsa.

Em 2010 talvez seja possível repetir a dose, pois essa é a expectativa de valorização de algumas (e não de todas) ações. Além disso, estão surgindo oportunidades de diversificação de investimentos, com esse patamar de retorno, até mesmo na incorporação de imóveis destinados a famílias de baixa renda, o que é uma surpresa, pois sempre se disse que a margem de lucro nesse nicho de mercado era muito estreita, e que só valeria a pena explorálo de maneira massificada, com a construção de milhares de unidades simultaneamente.

Se essas expectativas se confirmarem, o Brasil, realmente, começará a resolver o problema do seu déficit habitacional.

A oferta de gás natural para a indústria aumentará gradativamente ao longo dos próximos meses no Rio, em função da entrada em operação de uma nova unidade de processamento e separação das frações do produto em Cabiúnas (Macaé), e de mais um gasoduto de lá até a Refinaria Duque de Caxias. Esse mesmo sistema deverá atender ao futuro Comperj, complexo petroquímico que a Petrobras está construindo em Itaboraí.

Mas, um dos primeiros beneficiários desse aumento de oferta será a Riopol, petroquímica da Quattor (associação entre o grupo Unipar e a Petrobras), vizinha da refinaria.

A Riopol foi pioneira na utilização de gás natural como matéria-prima para fabricação de eteno e polietilenos, mas nunca conseguiu funcionar a plena capacidade, pois desde a sua inauguração o fornecimento do seu principal insumo se mostrou instável e/ou fora dos padrões desejados.

Agora parece que o problema será finalmente resolvido, e assim a Riopol poderá produzir mais 100 mil toneladas anuais de polietileno, o equivalente a 20% da capacidade instalada da fábrica. Isso deverá ocorrer em meados de 2010, propiciando um salto significativo na produção.

As descobertas de grandes reservatórios de óleo e gás na camada do pré-sal fizeram a cobiça se espalhar pelo país a ponto de atuais governantes de estados não produtores, e suas bancadas no Congresso, movimentaremse para mudar as regras de distribuição de royalties até mesmo sobre campos do pós-sal em produção há anos.

A arrecadação decorrente do petróleo não chegaria a alterar a realidade econômica desses estados, e o volume em disputa nem é suficiente para detonar um conflito separatista entre produtores e não produtores.

Mas o episódio pode ter consequências graves no mundo político, pois daqui para frente será difícil se chegar a um acordo que concilie os interesses dos diferentes entes federativos do país. A solidariedade entre os estados talvez tenha sido riscada do mapa político.

Nessa disputa não há só vilões e só mocinhos. Por trás dela está uma terrível constatação: a receita de royalties, mesmo crescente, não modificou radicalmente a realidade econômica e social de municípios produtores, em parte por falta de planejamento, em parte porque os recursos - com honrosas exceções - não se destinaram a investimentos capazes de gerar benefícios permanentes para as populações locais (exemplo: universalização dos serviços de saneamento básico, reordenamento urbano, estímulo a atividades produtivas não dependentes de maneira direta do petróleo etc.).

Ou seja, os próprios estados e municípios produtores abriram o flanco para serem atacados.

E nessa briga todo mundo saiu perdendo.

A indústria do petróleo vai acelerar fortemente os investimentos do país em 2010. Estão sendo esperadas pelo menos 12 plataformas de perfuração que, para operarem na costa brasileira, precisarão de rebocadores, barcos de apoio, ferramentas etc.

Tudo isso exigirá um número expressivo de importações temporárias de material e equipamentos não produzidos no país. Essas importações temporárias são submetidas a um regime especial de tributação chamado Repetro. A Abespetro, associação que reúne 32 empresas prestadoras de serviços na área de petróleo, calcula que no ano que vem serão necessários 400 atos declaratórios que possibilitem a importação temporária pelo regime do Repetro.

Tal processo funcionou bem, na Receita Federal, de 2001 a 2008, mas em janeiro deste ano uma nova portaria burocratizou tremendamente o ponto de partida, ou seja, a habilitação para os atos declaratórios.

Em 2007, a média mensal de atos declaratórios de Repetro na região do Rio de Janeiro e Espírito Santo foi de 19. Em 2008, aumentou para 25, e este ano, não passou de 9. Já há 350 processos na fila e dentro das normas estabelecidas pela portaria será difícil agilizar a aprovação dos atos declaratórios.

Enquanto isso, equipamentos, cujo aluguel diário é caríssimo, ficam parados na Baía de Guanabara esperando renovação da importação temporária.

Desejo, antecipadamente, bom natal a todos!

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