domingo, dezembro 13, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

Nação rubro-negra


JORNAL DO BRASIL - 13/12/09


No dia 13 de dezembro de 1981 o Flamengo ganhou o Mundial de clubes no Japão e eu escrevi um folhetim “Mengo, Uma Odisséia no Oriente”, para homenagear sua conquista. Quem leu não deve estar lembrado da cena em que os quatro geraldinos a caminho de Tóquio chegam à Nicarágua, governada pelos sandinistas, e dão de cara com dezenas de bandeiras vermelha e preta espalhadas por Manágua. Os quatro exultaram, tal como Orellana diante do Eldorado: “Enfim descobrimos a nação rubro-negra!” De lá para cá a população flamenguista quase que dobrou – um dos maiores índices de crescimento do mundo – e já faz por merecer um território independente e uma cadeira no ONU. São 35 milhões, a quarta população da América do Sul somente abaixo do Brasil e da Colômbia e quase empatada com a Argentina. Não dá para deixar essa gente vagando pelo mundo como os palestinos (que são 4,4 milhões).

Sabe quantos habitantes tinha Israel quando da criação de seu Estado em 1948? Pouco mais que a torcida do América! Fosse independente a nação rubronegra teria um PIB maior do que o da Bolívia e do Paraguai juntos. Pelo que se viu domingo no Maracanã, nas comemorações à noite e no espaço que lhe concedeu a mídia dia seguinte, o Flamengo é um fenômeno que transborda as fronteiras do país. Teve flamenguista festejando nas ilhas Papua Nova Guiné! Significa dizer que ao se tornar uma nação independente o Flamengo não terá dificuldades para montar suas embaixadas. Projeções modestas informam que em 2060 a nação rubro-negra terá 100 milhões de habitantes (se o mundo não acabar até lá). Enquanto escrevo penso como seria importante a presença da torcida do Flamengo na Conferencia do Clima em Copenhague. Já imaginou aquela galera gritando por menos CO2 na atmosfera? A grande duvida é quanto à posição do Brasil diante das futuras reivindicações rubro-negras. O Governo brasileiro sabe que a independência do Flamengo vai desequilibrar toda a economia nacional.

Será que o Governo estará disposto a repetir o que fez a Grã-Bretanha com suas colônias? Mais: será que o Brasil cederá um pedaço de terra onde os rubro-negros possam viver em paz e criar seus filhos longe da influencia de vascaínos, tricolores e alvinegros? “Viver em paz” – entenda – é pura força de expressão porque, pelo que se vê, as torcidas flamenguistas brigam tanto entre si quanto as facções palestinas. Meu medo é que os fundamentalistas rubro-negros resolvam criar um movimento separatista , conquistem o Rio e expatriem os outros clubes cariocas para Niterói.

Há rumores de que o Governo estaria procurando um local onde a nação rubro-negra possa instalar a Republica Democrática do Urubu.

Flamenguistas já advertiram que não aceitarão terras no Oriente Médio nem naquelas ilhotas que estão afundando no Pacifico. Sua preferência recaí – é obvio – sobre o bairro do Flamengo onde surgiu há mais de um século a civilização rubro-negra. É dali que o Flamengo pretende expandir seus domínios, inspirado nas conquistas do antigo Império Romano. O clube já tem hino, bandeira e para virar um país basta criar uma moeda nacional.

Sob muitos aspectos a nação rubronegra está mais adiantada do que a nação brasileira. Pelo menos já garantiu uma mulher na presidência!

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