domingo, novembro 01, 2009

TOSTÃO

O tempo, a vida e o futebol

JORNAL DO BRASIL - 01/11/09


Como diz uma das belas músicas do filme Fado, dirigido por Carlos Sau ra, não é o tempo que passa. Nós é que passamos.

Um dos motivos da angústia existencial e de vários distúrbios emocionais de homens e mulheres é a consciência de nossa finitude, de nossa passagem pela vida.

Como somos narcisistas e achamos que temos mais importância do que temos, tentamos negar e/ou fugir da realidade. Criamos ainda a ilusão de que temos uma grande missão na vida. Cada um constrói a sua, por mais banal que seja. Queremos ser eternos e heróis.

Alguns veteranos, que brilham no Brasileirão, ainda não terminaram suas passagens pelo futebol. Estão muito vivos. Eles se destacam porque estão em forma, às vezes, ainda melhores, ou é por causa da pouca qualidade técnica das equipes? Devem ser as duas coisas.

Petkovic, em uma fração de segundos, mapeia tudo que está em sua volta e coloca a bola entre os zagueiros, em pequenos espaços. Isso é cada dia mais raro.

Se tivesse entrado no time mais cedo, Ricardinho poderia ter sido mais importante para o Atlético-MG. Ricardinho nunca foi um meia-ofensivo, que chega com frequência ao ataque. Ele sempre foi um meia-armador, organizador. Esse tipo de meia desapareceu do futebol. Nos últimos tempos, ele tem sido substituído, ainda bem, por um volante mais habilidoso e que tem um bom passe.

O meia Paulo Baier é o grande destaque do Atlético-PR. No Pal meiras, quando não foi bem, ele jogava de ala ou de lateral. Outro veterano, Marcelinho Paraíba, é o principal jogador do Coritiba.

Gilberto deu o toque de criatividade que faltava ao Cruzeiro. Como só podem ficar sete jogadores no banco de reservas na Copa do Mundo, Gilberto, por atuar bem na lateral e no meio de campo, tem ainda uma pe quena chance de ir ao Mundial. Talvez seja por isso que Dunga tenha convocado o meia Alex. No segundo tempo, contra a Venezuela, ele jogou de lateral esquerdo. Gilberto atua melhor nessa posição que Alex e possui mais experiência.

Zé Roberto, outro veterano, que continua brilhando na Alemanha, seria ainda melhor opção que Gilberto e Alex, para ser reserva na lateral e no meio de campo. No meu time, seria titular. Falta à seleção um armador canhoto. Se Gilberto Silva é hoje titular, por que Zé Roberto, que foi eleito para a seleção do mundo da Copa de 2006 e que está em sua melhor forma, não está na equipe brasileira?

Qual é o segredo desses veteranos para continuar brilhando? Será que fizeram um tratamento físico revolucionário e/ou treinaram muito durante um longo tempo? Não parece. Dizem que Petkovic, antes de acertar com o Flamengo, passou meses curtindo a vida e cuidando de seus negócios.

Tenho uma opinião estranha sobre isso, já dita por outros poucos colegas, de que o grande segredo desses veteranos é que eles sabem jogar futebol. Devem me achar um romântico, um saudosista, e alguém que fala de um futebol que não existe mais, a não ser em poucos momentos e em poucos lugares. Seria outro esporte. Será que já passei pelo tempo, que estou perdido no tempo e no espaço?

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