domingo, outubro 04, 2009

OPINIÃO - O GLOBO

Encruzilhada

O GLOBO - 04/10/09

Entre as obsessões da política externa brasileira destacamse o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e o aumento da influência na direção do Fundo Monetário Internacional. Se o primeiro objetivo se apresenta mais distante, o segundo, ajudado pelo comportamento das economias mundial e brasileira nos últimos dez anos, sem desconsiderar a crise, tornouse factível.

Com as reformas da gestão FH e o fato de o governo Lula, principalmente no primeiro mandato, ter seguido à risca a prudência receitada para qualquer política econômica responsável, o país pôde aproveitar, pelo menos em parte, um dos mais longos e sincronizados ciclos de expansão global. Num mundo puxado, em razoável medida, pela vertiginosa reciclagem da economia chinesa — convertida em consumidora pantagruélica de matériasprimas e alimentos disponíveis no Brasil —, o país conseguiu o feito histórico de liquidar a dívida externa e, de devedor contumaz, virar credor do próprio FMI. Passou a dar as cartas, guardadas as dimensões do seu poder efetivo.

A reunião de cúpula em Pittsburgh, EUA, há uma semana, pode ser considerada o resultado de um demorado cabo de guerra, em que países emergentes de um lado e, de outro, um bloco do Primeiro Mundo em que há países cujo PIB não rivaliza com o brasileiro disputaram — e continuarão a disputar — a capacidade de influir em decisõeschave. A crise precipitou o reconhecimento do G-20, gestado nas longas reuniões comerciais da Rodada de Doha, como sucessor do G8 na função de fórum privilegiado para deliberar sobre questões econômicas e financeiras.

Pittsburgh entra para a História por esta e outra decisão: transferir para os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e outros emergentes de alguma musculatura cinco pontos percentuais de votos no FMI. Brasil e aliados emergentes queriam sete.

Contentam-se, por enquanto, com cinco. Assim, o bloco passará a ter 45% dos votos, e os desenvolvidos, 55%. Já a questão dos assentos no board da instituição deverá continuar em aberto, por causa da resistência da Europa, em que há países com influência superestimada no Fundo. Esta agenda será tema de muita conversa, por estes dias, em Istambul, Turquia, durante a reunião anual do FMI. À medida que o G-20 se robustece politicamente, cresce a premência de o Brasil resolver uma das ambiguidades que afloraram na gestão Lula: o país quer ter peso político equivalente ao da 10ª economia mundial ou se contenta com liderar países pobres, ditaduras sanguinárias e longevas da África e do Oriente Médio, ser aliado de bolivarianos golpistas em repúblicas “bananeiras”?

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