quinta-feira, outubro 29, 2009

JANIO DE FREITAS

O ser ou não ser

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09



A divergência de Serra e Aécio é uma competição tática em que as duas partes jogam muito das suas perspectivas



A DIVERGÊNCIA DE José Serra e Aécio Neves, ante a perplexidade preguiçosa da cúpula peessedebista, toma a forma de discordância quanto ao prazo para escolha do candidato partidário à Presidência, mas é uma competição tática em que as duas partes jogam muito das suas perspectivas.
A insistência de Serra em que a escolha do candidato peessedebista só se dê em março decorre de dois calendários conflitantes: o da legislação eleitoral e o de Aécio Neves. Deixar o governo paulista em cima do prazo legal de desincompatibilização permitirá a Serra explorar por três meses, para sua promoção eleitoral, todas as possibilidades da condição de governador. Ao passo que Aécio Neves, em fim de mandato, despede-se a 31 de dezembro do governo mineiro para cair na rua das incertezas paralisantes.
Não menos importante para Serra, e talvez até mais útil para suas presumíveis inseguranças, é o prazo maior que março lhe oferece para ponderar suas possibilidades e conveniências.
Se as pesquisas e as composições partidárias, com atenção também para as estaduais, indicarem estreitamento em seu potencial na disputa sucessória, Serra dispõe do governo paulista no presente e já tem na prateleira, para qualquer eventualidade, o mandato seguinte. Esperar mais clareza é atitude lúcida, diante da evidência de que Lula parte com métodos e voracidade irrestritos, para dominar a "disputa plebiscitária".
Tanta lucidez quanto a de Aécio Neves. É indiscutível a conveniência de sair do governo para a candidatura confirmada à Presidência e, portanto, em condições de entregar-se ao trabalho político e público sem a fragilidade de ser ainda uma interrogação. Mas, de importância também indiscutível, Aécio percebe o quanto os meses de espera, agora mesmo já longos, tendem a ser irrecuperáveis, qualquer que seja o candidato. Entrar no jogo só a seis meses da eleição é encontrar as peças potentes já comprometidas com seus lugares no tabuleiro. Tudo passa a depender muito de tufões no campo adversário e de outros fatores incontroláveis.
Os mandarins do PSDB asseguraram que a escolha do candidato e outras decisões seriam tomadas em ampla reunião do partido, ainda que não em convenção. Para não falar em democracia, seria menos retrógrado e incivilizado do que a escolha por um grupelho à volta de garrafas de vinho em um restaurante, como foi na escolha entre Serra e Alckmim. O pequeno avanço não se deu, porém. Não é da índole. E, de quebra, ao menos por enquanto, deixar correr serve paulistamente a José Serra.
Já existe algo divertido para acompanhar na disputa sucessória.

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