terça-feira, outubro 06, 2009

FERNANDO VAZ

Importância do PSA

O Globo - 06/10/2009


Poucos exames na história da medicina tiveram tanta repercussão na sociedade como a descoberta do antígeno específico da próstata — em inglês, PSA, Prostatic Specific Antigen — e modificaram tanto a prática de uma especialidade como a sua utilização em larga escala na prática clínica.

Na verdade, o PSA é certamente o melhor marcador já empregado na oncologia humana e uma das ferramentas mais poderosas de que dispõe a urologia moderna. Mas... como toda ferramenta poderosa, se utilizado indevidamente, pode produzir mais danos do que benefícios e fazer mais mal do que bem. É preciso manter em mente que, como qualquer exame, ele é apenas um indicador e a sua utilidade será tanto maior quanto maior for o conhecimento, a experiência clínica e, por que não dizer, o bom senso do médico que o está utilizando.

Vejo muitos pacientes, às vezes casais de idade, com lágrimas nos olhos, atormentados por um exame de sangue que revelou um nível elevado de PSA, mas que não terá o menor significado na vida daquele indivíduo, e que a rigor não precisaria ser valorizado.

O médico precisa ter sempre em mente a real utilidade do exame solicitado ou trazido pelo paciente. A meu ver as principais utilidades da dosagem do PSA são as seguintes: Primeiro de tudo, avaliar e acompanhar a eficiência de um tratamento para câncer de próstata ao qual um paciente foi ou está sendo submetido. A variação dos níveis de PSA permitirá ao clínico modificar ou introduzir novos tratamentos, de acordo com a necessidade clínica, ou mesmo suspender por algum tempo ou para o resto da vida do paciente terapias com efeitos colaterais. Isso sem contar o fato de que em alguns casos a simples combinação de dosagem do PSA com o exame clínico poderá retardar por anos o início de um tratamento que terá um efeito adverso na qualidade de vida de um homem maduro ou idoso.

Outra utilidade, não tão precisa mas já comprovada, é o acompanhamento de pacientes acometidos de lesões benignas da próstata e a previsão de sua evolução.

Acompanhando as variações do antígeno, às vezes é possível prever quais os pacientes que evoluirão para a retenção da urina e instituir algum tipo de tratamento antes que isto ocorra.

Finalmente, a dosagem do PSA sérico pode ser utilizada em uma população para determinar quem está em risco de desenvolver (ou já tem ) um tumor da próstata que ameaça a sua vida. E é justamente nesta situação que tal dosagem deve ser utilizada com o maior critério possível, e todos — médicos generalistas, pacientes e urologistas — devem agir com extremo bom senso. É, por assim dizer, inexorável que, vivendo o bastante, todos os homens desenvolverão o câncer na próstata, cataratas, surdez, problemas na coluna e outros males. Mas só uma minoria irá necessitar de tratamento curativo dessa doença. Esses tratamentos, mesmo quando bem feitos, podem influir negativamente na qualidade de vida das pessoas.

Por outro lado, uma vez submetidos a uma biópsia prostática e com o diagnóstico de câncer nas mãos, muito poucos homens são capazes de não se desesperar e tentar retirar ou eliminar o mais brevemente possível as “células malignas”da sua próstata, seja por cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou outros métodos disponíveis, que às vezes são friamente apresentados pelos seus médicos.

Na minha opinião, primeiro não é preciso biopsiar todos os homens que apresentam níveis elevados de PSA, e depois, mesmo quando confirmado o diagnóstico, muitos não necessitam de tratamento algum ou só precisam de um tratamento pouco agressivo que lhes permita terminar a vida em paz, como fariam se soubessem que têm cataratas, hipertensão, diabetes ou outras doenças próprias da idade.

Não há, na minha mente, e na dos que se dedicam a tratar pacientes com câncer na próstata, dúvidas de que a dosagem do PSA como método de avaliação de indivíduos do sexo masculino na idade em que surge esse câncer salva vidas e é um excelente exame. Essa doença, contudo, aparece sob várias formas, com diferentes graus de agressividade e evolução e estes fatos têm obrigatoriamente que ser levados em conta por quem os trata.

O meu conselho final aos homens é: escolham um médico competente, em quem confiem, e deixem que ele decida se é necessário dosar o seu PSA, fazer uma biópsia da sua próstata e principalmente se é preciso tratar e como tratar um resultado positivo. Vocês viverão melhor e sofrerão menos. E como em todos os campos da medicina, nada substitui a experiência

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