sábado, outubro 24, 2009

EDITORIAL - O GLOBO

Cabeça fria

O GLOBO - 24/10/09

Se houver chance de a CPI do MST trabalhar com alguma seriedade, terá de ser discutida a pesquisa realizada pelo Ibope, sob encomenda da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), junto a mil famílias assentadas em nove estados.

Algumas conclusões, embora não surpreendam, são prova concreta daquilo que especialistas dizem há tempos: a modernização da agricultura, pela via capitalista, do mercado, tragou o “latifúndio improdutivo”, e até acabou assumindo função-chave como fonte de alimentos no mundo.

Aos dados: 73% das famílias não geram renda na propriedade; destes, 37% nada produzem, nem para o próprio sustento; 52% adquiriram a terra de outras pessoas, operação ilegal; apenas 8% das famílias haviam recebido o lote em primeira mão. Boa parte, então, vive do assistencialismo (cestas básicas, Bolsa Família). É risível tentar desqualificar a pesquisa por ter sido a CNA quem a pagou; o Ibope é um instituto com nome a zelar, vive da credibilidade, como a imprensa profissional.

Se há dúvidas sobre a qualidade do levantamento, que a CPI convoque o Ibope a dar explicações.

Há estudos anteriores que comprovam a superação do problema agrário, como ele era entendido a partir da primeira metade do século passado. Sequer há população no campo (hoje são apenas 18% do total dos brasileiros que não se encontram nas cidades) para justificar uma redistribuição radical de terras. Tanto que o MST, nas invasões, precisa mobilizar o lumpesinato das periferias de pequenas cidades.

Constatada a falência da reforma como ela continua a ser defendida — o que não quer dizer sonegar aos assentamentos apoio técnico e financeiro, para que se viabilizem —, deve ser repensada a transferência de recursos públicos para o MST, hoje mais uma organização política revolucionária do que qualquer outra coisa. Estes repasses devem ser uma linha de trabalho da CPI, e certamente por isso é que o Planalto tentará controlar a comissão. Há muitos indícios e provas de desvios de dinheiro do contribuinte para financiar ações violentas, ilegais do MST.

Para a preservação da agricultura como um dos mais dinâmicos setores da economia brasileira — principal responsável pelo histórico resgate da dívida externa —, cada vez mais a questão do MST e da terra precisa ser encarada com frieza, sem contaminações ideológicas.

Para não se falar na democracia e no estado de direito, a serem preservados a qualquer custo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário