terça-feira, outubro 06, 2009

BENJAMIN STEINBRUCH

Cidade Maravilhosa

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/10/09


PARABÉNS , Rio de Janeiro! Parabéns, Brasil! Devemos comemorar muito a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Até os mais ferrenhos antinacionalistas devem admitir que foi um orgulho para os brasileiros a vitória do Rio na disputa contra cidades do porte de Chicago, Tóquio e Madri.
A escolha do Comitê Olímpico Internacional abre um grande desafio ao espírito empreendedor brasileiro. Nos próximos sete anos, será preciso trabalhar muito, não só na realização de obras mas também na rigorosa fiscalização do uso de recursos bilionários, para comprovar aquilo que o presidente Lula disse no momento de euforia: "O Brasil deixou de ser um país de segunda classe".
Deixo de lado o tema olímpico, porém, para voltar a um assunto que também tem a ver com essa história de país de segunda classe. Há muitos anos vem sendo praticada no Brasil uma política de juros diferenciada daquela dos países de primeira classe.
Comportamentos ortodoxos e medrosos, sob pretexto de impedir a volta da inflação, levaram o país a quebrar recordes olímpicos em matéria de taxas de juros nominais e reais. Com isso, o Brasil deixou de aproveitar os melhores momentos de expansão da economia mundial nas últimas décadas, mantendo índices modestos de crescimento quando comparados com os de outros emergentes, como China, Índia e Rússia.
Quando explodiu a crise global, em setembro de ano passado, o país demorou muito para iniciar a redução dos juros. Em dezembro, o Fed já havia cortado a taxa nos EUA em 50%, de 2% para 1% ao ano. Até o ortodoxo BC europeu havia feito corte de 4,25% para 2,5%, mas a economia brasileira ainda tinha de suportar incríveis 13,75%. Só em janeiro o Banco Central começou a baixar a Selic, até chegar aos atuais 8,75%, ainda uma marca olímpica em tempos de juros negativos.
Pela primeira vez o país passou a conviver com juros básicos de um dígito. Mas nem bem a economia começou tirar o nariz da água e já está de volta o alarido sobre o risco de superaquecimento da atividade, numa atitude que o secretário da Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, chamou corretamente de "terrorismo fiscal para forçar uma expectativa de subida dos juros".
O superaquecimento temido é uma expansão do PIB entre 4% e 5% em 2010. Segundo o mercado "terrorista", esse nível exigiria uma elevação progressiva da taxa básica de juros a partir do primeiro semestre de 2010 para até 12%. Isso evitaria uma explosão inflacionária.
O governo brasileiro aumentou seus gastos e abriu mão de receitas de impostos para estimular a economia. Foi uma atitude correta e responsável, como fizeram todos os governos do mundo, diante da ameaça recessiva advinda da crise global. Uma parte desse estímulo fiscal deverá ser aos poucos retirada à medida que a economia reage -o IPI sobre veículos, por exemplo, já foi parcialmente reinstituído. O pretexto do risco inflacionário, porém, não justifica a imposição de travas que impedirão um crescimento continuado da economia e do emprego.
O próprio mercado prevê que a inflação ficará comportada dentro de meta de 4,5% em 2010. Além disso, pode-se aceitar até mesmo uma taxa maior do que essa, tendo em vista a tolerância já prevista na política de metas de inflação, de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
O que não se pode admitir é que, no período pós-crise, outra vez predominem políticas conservadoras que têm mantido o Brasil entre os países de segunda classe em matéria de crescimento econômico.

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