domingo, agosto 23, 2009

FERNANDO CALAZANS

Consciência da crise

O GLOBO - 23/08/09

Pelé está pedindo ajuda aos clubes do Rio. Lamenta que Flamengo, Botafogo e Fluminense estejam em situação tão ruim na Primeira Divisão e que o Vasco esteja até em boa situação — só que na Segundona.
Enquanto isso o presidente do Flamengo, Delair Dumbrosck, que eu não sei mais se é interino ou efetivo, diz que o time ainda chegará ao G-4, podendo até brigar pelo título brasileiro.
Penso que Pelé está sendo mais realista do que o presidente do Flamengo. Os clubes do Rio — inclusive o Flamengo — estão mais próximos da necessidade de ajuda do que do grupo de quatro da Copa Libertadores e do que do título de campeão.

A julgar pela quantidade de mensagens recebidas de botafoguenses, tricolores e rubro-negros desencantados ou mesmo indignados com seus clubes e com o futebol do Rio em geral, as grandes torcidas cariocas estão muito mais afinadas com o pensamento do craque eterno do que com o do presidente passageiro.
O futebol do Rio está em queda há muitos anos, desde os tempos do doutor Caixa d?Água na Federação.
Finalmente agora, depois de muitos anos sem ver um time do Rio ser campeão brasileiro, a crise chega à torcida da cidade e do estado — quero dizer, a consciência da crise.

Chega, é claro, aos torcedores mais lúcidos, àqueles que sabem que o primeiro passo para corrigir os erros é reconhecer que os erros existem.
Um desses torcedores mais lúcidos indaga — e eu indago junto com ele — se não está na hora de os homens do futebol do Rio se sentarem a uma mesa, os presidentes dos quatro, cinco, seis ou vinte clubes, junto com o presidente da Federação, e todos irmanados — com um objetivo comum — estudarem o que podem fazer para que o futebol de todo o estado volte a ser um dos melhores ou mesmo o melhor do país, como já foi um dia.
Hoje, o futebol do Rio de Janeiro, cidade e estado, é motivo de chacota, de piada.

Há quem sugira também que, depois dessa e de outras reuniões, os clubes do Rio enviem uma comissão de representantes a outros estados — Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas, Paraná, Goiás, Santa Catarina — para aprenderem alguma coisa sobre futebol, sobre administração de clubes, sobre organização e profissionalismo.
Na volta, fariam uma pequena cartilha para distribuir a Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, América, Bangu e outros tantos clubes que já protagonizaram um dos mais encantadores, belos e lucrativos campeonatos estaduais deste país.

Cartilhas com pequenas dicas — com o bê-á-bá, digamos assim — para voltarem a ter um mínimo de eficiência e competência. Cartilhas para serem distribuídas a cartolas que passaram por esses clubes nos últimos 10, 20 anos, e que os conduziram à situação deprimente de penúria que vivem hoje. Cartolas de todos os clubes, nomes pra lá de conhecidos, nomes que se perpetuam, nomes que não se renovam, e que deixaram seus clubes nessa situação.

O maior problema da reunião seria convencer tais cartolas a fazer esse esforço comum. Porque cada um quer saber em primeiríssimo lugar de si mesmo, pouco quer saber de seu clube e muito menos dos outros clubes, ou seja, do nosso futebol estadual em geral.

Se tivéssemos um presidente de Federação empenhado em reerguer esse futebol, seria mais provável que conseguisse mobilizar os cartolas dos diversos clubes a elaborar um programa coletivo. Mas o presidente da Federação é outro igual a todos os outros.

E assim assistimos todos ao declínio sem fim do nosso futebol do Rio. Sobre o mesmo tema — “A falência do futebol carioca” — Roberto Porto está publicando um ótimo artigo no ESPN.com.br.

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