sábado, maio 23, 2009

CLÓVIS ROSSI

De heróis, ideias e cansaço

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/05/09

SÃO PAULO - A morna campanha eleitoral chilena está sendo sacudida pelo surgimento de uma, digamos, terceira via entre a direita e a "Concertación" (a coligação da Democracia Cristã com os socialistas, entre outros sócios menores). O nome é novo, mas o sobrenome é histórico na esquerda chilena.
Trata-se de Marco Enríquez-Ominami, filósofo e cineasta. Seus sobrenomes correspondem ao pai, Miguel Enríquez, líder histórico do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, um dos raros grupos cujo nome diz realmente a que veio), morto durante a ditadura Pinochet, e ao padrasto, Carlos Ominami, também MIR, mas posteriormente convertido à ortodoxia.
Se falo dessa candidatura alternativa não é apenas por antiga afeição pelo Chile mas também porque o documentário pelo qual Marco é mais conhecido chama-se "Os Heróis Estão Cansados". Nele, o cineasta-candidato analisa a fadiga tanto da "Concertación", que governa há 10 anos, como da direita, que não renovou a agenda. Acho que há algo disso no Brasil.
Não que os líderes em si pareçam cansados. Lula, por exemplo, é extremamente vital. José Serra e Aécio Neves, seus teóricos contrapontos, e mesmo Fernando Henrique Cardoso, o antecessor de Lula, não andam propriamente fazendo tricô em cadeiras de balanço.
A fadiga, na verdade, parece morar nos partidos que dominam a vida política nacional há pelo menos 15 anos. O PT parou de pensar desde que chegou ao poder. Seus intelectuais fazem mais feio: tudo o que produziram desde então é a grotesca teoria da conspiração que não houve.
O PSDB, como observou ontem Vinicius Torres Freire, vive ao sabor de "marolas midiáticas". Qual é o seu projeto de governo além de preservar o Bolsa Família?
Não creio que o país precise de heróis. Mas de ideias, lá isso precisa. Onde estão?

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