terça-feira, abril 21, 2009

COISAS DA POLÍTICA

Eduardo Cunha, o PMDB pragmático

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 21/04/09

Tenho a grande honra de poder dizer que trabalhei com Márcio Moreira Alves e, até, que privei de sua amizade. Não tanto quanto desejava, mas já me valeu alguma coisa. Inclusive aprendizado. Testemunhei, por exemplo, a capacidade que o colunista político tinha de aplicar adjetivos absolutamente esclarecedores sobre a atuação de algumas figuras no Congresso.

Um desses adjetivos/apelidos cunhados por Marcito recaiu sobre o então deputado Geddel Vieira Lima, que acabara de sair do baixo clero e, à custa dos mais variados tipos de, digamos, acordos, vinha se tornando uma figura fortíssima no PMDB. Geddel, um quase tucano e grande aliado de FHC, hoje é ministro da Integração Nacional de Lula. Em 2010, será um possível aliado do(a) candidato(a) a presidente pelo PT, ou do(a) candidato(a) pelo PSDB. Sabe-se lá. Daí que Márcio Moreira Alves passou a chamar o peemedebista de "Geddel, o pragmático".

Geddel foi para o Executivo, mas deixou um sucessor à altura na Câmara. Trata-se do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Altamente, digamos, pragmático. À semelhança de Geddel, Eduardo Cunha há pouco era taxado como um fisiológico qualquer do baixo clero, mas já está trafegando pelas altas esferas do PMDB nacional e do seu estado, o Rio de Janeiro. Participa de todas as articulações de seu partido e tem um faro fenomenal para saber o lado de onde sopra o vento. Então, resolvi saber de Eduardo Cunha para onde caminha o PMDB. Fará aliança em 2010 com o PT, ou não? Respondeu:

– Bem... Eu defendo a aliança nacional com o PT.

– Na sua opinião, quem será o vice?

– O nome mais forte é o do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Afasta o partido do governador tucano de São Paulo, José Serra, e o unifica nacionalmente. Mas o cálculo final sempre será em torno de quem agrega politicamente e eleitoralmente. Por exemplo: se o governador Aécio Neves (PSDB) for candidato a vice na chapa do Serra, o mineiro Hélio Costa passará a ser uma opção forte dentro do PMDB. Se tivermos que procurar alguém do Nordeste, aí acho que o maranhense Edson Lobão será quem mais agrega dentro do partido.

– E o Geddel?

– Ele não foi bem nas pesquisas lá na Bahia. Acho que o Lobão agrega mais no Nordeste.

– E o governador do Rio, Sérgio Cabral?

– O Cabral teria dificuldades de ser aprovado numa Convenção Nacional do PMDB. O partido tem muita gente que prefere a candidatura própria. Então, o candidato da aliança tem que ser alguém que vença a Convenção, como o Michel Temer. Além disso, acho que o Sérgio Cabral vai tentar a reeleição. E já terá problemas para conseguir isso.

– Como assim?

– O PMDB do Rio tem fissuras internas muito fortes. Tem o grupo do Sérgio, o grupo do ex-governador Anthony Garotinho, o grupo do presidente da Assembleia, Jorge Picciani, e tem o grupo dos independentes, que não está com ninguém. Este é o meu caso. Eu teria sérias dificuldades de apoiar o Sérgio, porque o meu eleitorado, evangélico, não está com ele. Outro problema é que o Garotinho vai deixar o partido para disputar, ele próprio, o governo do estado. Garotinho vem forte pelo interior e pela Baixada. E, na capital, o forte deverá ser o Fernando Gabeira, pelo PV e pelo PSDB.

– Mas o Sérgio Cabral deve ter o apoio do Lula, não? Como ficará o PMDB com o PT no Rio?

– Acho até que, se o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, não se viabilizar como candidato a governador, o PT apoiará o Sérgio. Mas não sei se isso será o suficiente. Quanto ao apoio do Lula, tenho dúvidas sobre essa história de transferência de votos.

– Mas o presidente Lula pode cobrar adesões ao Sérgio Cabral. O apoio do senhor, por exemplo.

– Olha, eu estou propenso a apoiar a Dilma, mas terei dificuldades em levar o Cabral para meu eleitorado. Não faço campanha contra, mas não posso apoiar. Você acha que a Dilma ou Lula abrirão mão do meu apoio? O presidente vai estar em campanha pela sua candidata. Ele estará mais numa situação de quem pede apoio de todo mundo do que na condição de quem cobra qualquer coisa.

Pois é. Assim pensa Eduardo Cunha, o pragmático.

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