domingo, abril 12, 2009

CLÓVIS ROSSI

Olhar estrangeiro

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/09

SÃO PAULO - Fiquei impressionando, no bate-papo online com leitores, na quinta-feira, com a ânsia que uma boa parte deles revelou em saber como os estrangeiros nos viam. Parecia um estudo de caso sobre o tal complexo de vira-lata que Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro tem.
Não estou usando vira-lata pejorativamente. Eu também, até sem o admitir, sentia necessidade de algum reconhecimento internacional. Só depois de obtê-lo é que percebi que não é importante. Importante não é o que os outros acham da gente, mas o que nós achamos de nós mesmos. Ou, posto de outra forma: você está satisfeito com o país que tem? Se está, ótimo, desencane. Cedo ou tarde, essa imagem de país chegará aos gringos e o reconhecimento deles será apenas a confirmação do que você sentia antes que eles.
Se não está, o problema é corrigir o que está errado, digam o que disserem os estrangeiros. A não ser que o complexo de vira-lata seja uma coisa realmente patológica, não adianta o estrangeiro elogiar o que não lhe agrada, pois você continuará insatisfeito. E, se o estrangeiro criticar, você não vai abanar o rabo, mas dizer: só agora você descobriu o que eu já sei faz tempo?.
Outra coisa que deveria atenuar ou eliminar a ansiedade é o fato de que não há uma imagem unidimensional do Brasil no exterior. É multifacetada, como o próprio país, como quase todos os países. O Brasil é visto, simultaneamente, como violento, mas acolhedor -e é, efetivamente, ambas as coisas. A visão que se tem de um país passa pela alma de quem o olha.
O americano, visceralmente anticomunista, olha Hugo Chávez com desconfiança. A Europa, menos visceral, é menos preconceituosa. Resumo da ópera: seremos melhores quando formos melhores, não quando os gringos disserem que somos melhores.

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