quarta-feira, abril 29, 2009

BANCO DO BRASIL

Mantega obtém maior controle sobre o BB

SHEILA D"AMORIM
Folha de S. Paulo - 29/04/2009
 

Ministro passa a exercer maior influência nas decisões do banco após mudança em sua direção, mais alinhada ao PT 

Presidente anterior do banco estatal conduzia instituição de forma mais independente das políticas do Ministério da Fazenda 


Com a troca da cúpula do Banco do Brasil, o ministro Guido Mantega (Fazenda) passará a ter, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, em 2006, maior controle sobre a instituição. Apesar de o governo federal ser o acionista majoritário e o BB estar subordinado à Fazenda, o que prevaleceu desde o início do governo Lula foi a disputa dentro do PT, partido do presidente Lula, para lotear o banco.
No entanto, os petistas nunca conseguiram a presidência do banco, que ficou sempre na mão de um técnico. Em parte, isso aconteceu por causa dos sucessivos escândalos que envolveram o BB. Foi o caso do dossiê montado contra tucanos durante a eleição de 2006. Na época, o ex-diretor de risco da instituição Expedito Veloso foi acusado de ajudar na montagem do documento.
Foi nesse contexto que Antônio Francisco de Lima Neto, que deixou a presidência do BB na semana passada, assumiu o comando do banco. Em vez de uma escolha pessoal de Mantega, que meses antes havia substituído Antonio Palocci Filho -envolvido no episódio de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa-, Lima Neto foi a solução doméstica para tentar passar ao mercado a imagem de independência do BB e de gestão profissional.
A estratégia não era vista como um problema até a eclosão da crise financeira, no final do ano passado, quando Lima Neto ficou no centro da polêmica sobre a queda dos juros e dos "spreads" bancários (valor cobrado a mais pelos bancos para repassar aos clientes o dinheiro captado no mercado), fragilizando Mantega no eterno embate dentro do governo com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Até então prevalecia a visão de que o BB, por ter ações em Bolsa -e, portanto, obrigação de prestar contas aos acionistas minoritários-, precisava de uma gestão diferenciada dos outros bancos federais, como a Caixa Econômica Federal.
A ideia, agora, ante a onda mundial de estatização de bancos, é contar com o BB como instrumento de desenvolvimento, fazendo o que o governo decidir. Ao mesmo tempo, Mantega resolveu um problema que foi empurrado para ele por Meirelles. Na tentativa de retirar do BC a pressão para redução dos juros, Meirelles culpou os bancos e disse que, com os altos "spreads", de nada adiantava a queda da taxa Selic.
Ao citar dados de instituições oficiais e privadas, o presidente do BC teve bate-boca com Lima Neto. Desde então, o ex-presidente do BB passou a ser um incômodo para Mantega, cobrado por não enquadrar o BB.
Com a saída dele e a escolha de Aldemir Bendine para a presidência do BB, Mantega inaugura uma nova fase. Mesmo sem ser filiado ao PT, o novo presidente tem afinidade e bom trânsito com os petistas. Os novos vice-presidentes seguem a mesma linha.
Por isso, na equipe econômica, fala-se que acabou a fase em que a Fazenda mal sabia o que ocorria no BB. Ao contrário, segundo a Folha apurou, a avaliação é que o BB estará completamente integrado à política econômica de Mantega.

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