sexta-feira, fevereiro 06, 2009

NELSON MOTA

Perder ou perder


O Globo - 06/02/2009
 

Quem diria, a ditadura virou coisa de museu. O ministro Tarso Genro anunciou que o Rio de Janeiro (por que não Brasília?) ganhará o Museu Nacional da Ditadura. Será o nosso holocausto, a nossa casa de Anne Frank. 

Vai ser divertido ver Sarney, Edison Lobão e Paulo Maluf, para citar alguns grandes aliados do governo Lula, e tantos outros colegas de ditadura aboletados na base parlamentar e na administração, convidados de Tarso na inauguração. Ou terão réplicas de cera em tamanho natural? Ou retratos pintados a óleo? Estátuas equestres? Ou farão discursos contra o arbítrio e o autoritarismo, fechando com "ditadura, nunca mais!", seguido de vivas à liberdade? Afinal, estamos no Brasil. 

A grande vítima da ditadura foi a liberdade individual do cidadão brasileiro, que apanhou dos dois lados: dos militares, que a suprimiram em nome da luta contra a corrupção e a subversão, e dos que lutavam armados contra a ditadura, não para devolver o poder aos civis e convocar eleições, mas para estabelecer uma sociedade livre como Cuba e a União Soviética, uma ditadura do proletariado. E perderam. 

Mas para os que pagaram a conta, era perder ou perder. Pagavam impostos para a ditadura espionar, perseguir, prender, torturar e matar. E depois para pagar bolsas-ditadura aos perseguidos. Só no Brasil. Na Argentina, com seus 30 mil mortos e desaparecidos, e milhões que tiveram as vidas e carreiras prejudicadas pela ditadura, as indenizações levariam o Estado à bancarrota. 

Vinte e cinco anos depois, no poder, graças à democracia, muitos ex-combatentes da liberdade se tornaram representantes vivos do Museu das Ideologias, e ameaçam, em nome de velhas causas leninistas, maoístas e castristas, a liberdade dos cidadãos que lhes pagam os salários. Tudo pelo social, dizia Sarney, tudo, eles repetem agora, como visionários do passado. 

Quem sabe o ministro da Justiça se anima a criar um Museu Nacional da Liberdade, em homenagem aos que resistiram a ditaduras de direita e de esquerda, militares e civis, e defenderam a liberdade e a democracia dos que querem usá-las para acabar com elas. 

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