quinta-feira, março 04, 2010

MERVAL PEREIRA

PMDB, fiel da balança

O Globo - 04/03/2010


Há sentimentos contraditórios no PMDB atualmente.

No curto prazo, a mais recente pesquisa do Datafolha acendeu no partido um sinal de alerta, com a desconfiança de que possa perder a capacidade de se impor na coalizão. Por conta de achar que Dilma está forte o suficiente, o governo pode forçar a mão para indicar um vice a seu gosto, ao gosto de Lula, e não ao do PMDB. Um nome assim como o do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiou ao partido por orientação de Lula. Seria um vice de Lula, não do PMDB.

Ao PMDB só interessa entrar na chapa oficial, e portanto assumir o risco de uma derrota da ministra Dilma Rousseff, se isso significar ser mais importante do que é hoje.

A equação é simples: mesmo que o PMDB não suba no palanque governista, estará representado no próximo governo, seja ele de Dilma ou de Serra.

Seja quem for vai ter que compor com o PMDB, que ocupará aqueles ministérios de sempre. Só que o PMDB agora quer mais que isso, não quer um governo do PT com o PMDB como um aliado como qualquer outro.

Quer um governo que seja do PT e do PMDB.

Tanto no que se refere à ocupação de espaço no Ministério e na máquina pública (que disso não abre mão), mas, sobretudo, na definição política e de rumos do governo.

O PMDB avalia que só vale correr o risco se houver uma recompensa que seja uma mudança do patamar de sua influência, que aliás já mudou no segundo governo Lula.

O PMDB avalia que hoje no governo Lula sua posição já é mais central do que jamais foi no governo de Fernando Henrique, onde sempre ocupou alguns ministérios, mas nunca tantos e com a densidade dos que ocupa hoje: Minas e Energia, Comunicações, Saúde, Agricultura, Integração Nacional.

Lula tratou o PMDB de uma maneira diferente, e, exatamente por isso, os caciques peemedebistas querem mais.

Querem ser governo mesmo, um governo onde os espaços sejam definidos antes, onde eles tenham uma garantia de atuação.

O problema grave é que nenhum dos dois lados confia no outro. Os dois lados sabem como é forte a natureza do outro.

Não é, e nunca será, uma relação de confiança. Por isso mesmo tudo, na concepção dos caciques do PMDB, tem que ser pactuado antes da campanha começar para valer, e com clareza.

A definição do vice virou, assim, a primeira queda de braço para ver quem terá realmente poder num eventual governo Dilma.

Se o PT conseguir que o PMDB escolha o vice de interesse do PT e de Lula, estará claro, antes mesmo de a campanha ter início, quem estará dando o rumo de um futuro governo.

Ao contrário, se o PMDB conseguir impor seu nome, que é o deputado Michel Temer, presidente da Câmara, estará deixando claro que terá um protagonismo nesse eventual futuro governo.

O PMDB sempre foi um partido dividido entre o grupo do Senado e o da Câmara, entre o grupo do deputado federal Michel Temer e o do senador Renan Calheiros.

Agora, mesmo com o Planalto jogando a isca de que o vice poderia ser um senador — Hélio Costa ou Edson Lobão, dois ministros do governo — houve uma inusitada aliança em torno do Temer.

Renan Calheiros foi fundamental para que o PMDB antecipasse a convenção e reelegesse Temer para a presidência do partido. Ele sabe que, mais importante que a briga interna dele com Temer, é a briga do PMDB com o PT.

Neste momento, os dois lados do PMDB juntaram forças, coisa que não acontecia há muito tempo, para garantir que o partido estará unido na hora de impor as condições ao novo governo.

Há dissidências, mas são minoritárias. Unido, o PMDB está valorizando seu peso nessa negociação. No entanto, não há no momento muita margem para negociar ameaçando ir para o PSDB, embora o governador José Serra já tenha feito vários acenos.

Há um grupo do PMDB, basicamente do Norte e Nordeste, que quer ir com Lula independentemente de qualquer coisa, e é um grupo muito forte.

O PMDB do Pará, do Jader Barbalho, por exemplo, tem mais força dentro da convenção do que o de São Paulo. O PMDB do Ceará é o terceiro maior diretório.

Entre os cinco maiores está também Goiás, onde a popularidade de Lula é muito grande.

Existe no PMDB hoje uma avaliação de que Dilma ganha a eleição. Por isso estão preocupados, à medida que a candidatura da ministra vai crescendo, o peso político de Lula aumenta e o do PMDB diminui.

Esse é um jogo de paciência, mas o PMDB está acostumado a isso. Embora os pragmáticos considerem que é melhor uma parte menor no governo do que uma maior da oposição, a estratégia de estressar a relação pode dar errado.

Basta que nas negociações estaduais, dois ou três estados importantes não cheguem a um acordo com o PT. O deputado federal e ex-ministro, candidato ao Senado, Eunício Oliveira, comanda o Ceará, e está irritadíssimo com a intenção do PT de lançar também um candidato ao Senado, o ministro José Pimentel.

E partiu para uma composição com o governador Cid Gomes, do PSB, que apoia Tasso Jereissati, do PSDB, para o Senado.

No Rio de Janeiro, embora tenha conseguido tirar do páreo o candidato do PT ao governo, o governador Sérgio Cabral pode se ver na contingência de se afastar do apoio de Dilma se o projeto de divisão dos royalties do pré-sal prejudicar o estado.

O PMDB tem noção clara de que pode vir a ser o fiel da balança, no sentido de conter uma tendência mais à esquerda de um governo Dilma Rousseff, empurrado pela ala mais radical do PT.

Com o PT e sem Lula, o PMDB quer garantias de que terá espaço em um governo Dilma. E, mais que isso, está querendo assumir o papel de fiador do estado de direito.

PAINEL DA FOLHA

Alta ansiedade

Renata Lo Prete

Folha de S.Paulo - 04/03/2010


Na conversa que teve com José Serra na noite de terça, Aécio Neves foi menos peremptório do que em público ontem, quando disse não cogitar a possibilidade de ser vice em chapa encabeçada pelo governador paulista. Em privado, concentrou-se em repetir o argumento de que "ajuda mais" o colega tucano "ficando em Minas", pois: a) Dilma é mineira; b) Lula é forte no Estado; c) "há o fator Alencar". Prometeu ainda se dedicar "de corpo e alma" à eleição de Serra.

No PSDB, há quem recomende encerrar a discussão sobre Aécio na vice, para que a expectativa não se transforme em frustração. Outros, porém, argumentam que ele não poderia mesmo dizer nada diferente agora, e que ainda há tempo para uma composição.

Isso não
Por convicção ou conveniência, aliados de Serra não creditaram a Aécio o editorial do "Estado de Minas" desancando a candidatura do governador de São Paulo e descartando a hipótese de o mineiro aceitar ser vice.

See you
Procurando ontem a saída do Senado, Aécio brincou com o líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM): "Espero que você me ajude a andar por estes corredores no ano que vem".

Estamos fora
José Alencar, Dilma Rousseff, Patrus Ananias, Luiz Dulci e Hélio Costa: nenhum dos mineiros do primeiro escalão do governo Lula compareceu ontem à sessão solene do Congresso Nacional em homenagem aos cem anos de nascimento de Tancredo Neves. Tampouco lideranças parlamentares do PT foram vistas no plenário.

Com a barriga
A cúpula do PT mineiro pedirá ao diretório nacional, que se reúne amanhã, adiamento do encontro estadual do partido, inicialmente marcado para abril. Tudo para tentar adiar uma definição das negociações com o PMDB no Estado.

Garfo e faca
Quatro dias depois da divulgação do Datafolha que registra melhora no desempenho de Dilma, o PR almoçou ontem com a candidata do PT. Combinaram que no dia 5 de abril o partido anunciará apoio à ministra.

Nós na fita
O PMDB prepara um congresso do partido, que deve acontecer até o início de abril. Pretende-se convidar prefeitos, parlamentares e governadores para discutir a minuta do programa de governo a ser apresentado pelo partido à campanha de Dilma Rousseff. A movimentação é vista como tentativa de demonstrar força, num momento de crescimento da ministra nas pesquisas.

Viral 1
O núcleo petista do ABC lançou "promoção" para arrecadar... e-mails. Quem enviar cópia de sua lista de endereços eletrônicos, incluindo Twitter e redes de relacionamento, concorrerá a 2.000 brindes como camisetas, bonés, agasalhos e bandeiras. A ideia é usar esse megacadastro na campanha eleitoral.

Viral 2
O PT recomenda que seus filiados "busquem parceiros e depois dividam os prêmios". "Você participa e quem ganha é o PT", diz o informe. E ressalva: "E-mails vendidos por camelôs em CD não serão computados".

Não confunda
Plínio de Arruda Sampaio, um dos três pré-candidatos do PSOL à Presidência, circulava ontem pelo Congresso avisando a todos: "Existe um Arruda do DEM e um Arruda do bem!".

Mico 1
Previsto para durar 45 minutos, o encontro entre Hillary Clinton e Cristina Kirchner, na segunda-feira, estendeu-se por três horas. Da metade em diante, a presidente da Argentina se pôs a ensinar à secretária de Estado dos EUA como resolver o conflito no Oriente Médio.

Mico 2
Hillary ainda teve de ouvir de Cristina um pedido de encontro entre seu marido, o ex-presidente Nestor Kirchner, e Barack Obama.

Visita à Folha
Izalco Sardenberg, ombudsman da BM&F Bovespa, visitou ontem a Folha.

Tiroteio
"É incrível a capacidade de inovação do PSDB: escolheu coordenadores de campanha antes de ter um candidato."

Contraponto

Projeto estratosfera
Durante o lançamento do novo Portal Brasil, ontem, Lula iniciou diálogo por videoconferência com um menino do Piauí que disse gostar de estudar ciências, aproveitando para repassar seus conhecimentos à mãe.

-É mais difícil aprender na escola ou ensinar sua mãe?

-As duas coisas são fáceis- respondeu a criança.

-Quando eu deixar a Presidência vou a Teresina para você me ensinar. O que você quer ser quando crescer?

-Astronauta da Nasa.

Lula fez cara de intrigado e rebateu:

-Não pode ser no Brasil? Até você se formar vamos precisar muito. Aí coloco você e a Dilma num foguete...

PUTARIA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Ninho novo

O Estado de S.Paulo - 04/03/2010


Fica na Avenida Indianópolis o imóvel onde o PSDB instalará seu escritório nacional para a futura campanha de Serra à Presidência.
Em princípio, o local vai funcionar em dobradinha com a sede paulista do PSDB.


Ninho 2

Coordenador administrativo da campanha presidencial tucana, José Henrique Reis Lobo não deixa o governo antes do dia 18.

"É que dia 17 tem entrega de Medalha do Ipiranga. E eu quero estar lá ainda como secretário", avisa.



Água e vinho

Incomodada com a propaganda do PSB em que Ciro praticamente lançou Paulo Skaf ao Bandeirantes, Luiza Erundina avisa: não subirá nesse palanque. "A candidatura é inconveniente para o partido".

E dá exemplo: "O PSB defende a jornada de 40 horas, Skaf é contra. Como fica?"


Vinho 2

Cresce, dentro do PSB paulista, o movimento para que Pedro Dallari dispute a indicação com Skaf. O moço já avisou que topa.

Das cadeiras

Abilio Diniz deve anunciar logo a promoção de Enéas Penteado para o cargo de superintendente do Grupo Pão de Açúcar.


Que será, que será

Escolhido. Chico Buarque é o homenageado do Festival de Cinema Brasileiro em Paris. Será que vai?


Meio ao meio

Carlos Minc quer criar o Fundo Caatinga para defender o bioma, metade já desmatado. Como? Transferindo parte do R$ 1 bilhão destinado ao Fundo de Mudanças Climáticas.

Vai entender

João Gilberto deixou a filha Bebel esperando até o último minuto, para decidir se iria ao seu casamento em Trancoso, sábado. Não foi.


Alô, mochileiros
Preparem-se. Suzana Salles avisa que a Semana da Canção Brasileira, que acontece todo ano em São Luiz do Paraitinga, será em setembro.


Bola...

Vereadores conseguiram, enfim, unir Palmeiras e Corinthians: os dois clubes são contra a proibição de jogos depois das 23h15.

"Existe um contrato. Isso não pode ser feito de cima para baixo, por lei", diz Luiz Belluzzo. Andrés Sanchez emenda: "Tem gente demais se metendo no futebol".


...dividida

Se for para mexer em dias e horas, Belluzzo acha que se deve discutir também o adiamento de jogos em caso de temporal. "Recentemente o Palmeiras jogou numa piscina", observou.

Sem tempestades, o tema será pauta do próximo encontro de clubes, TV e Federação sobre o Paulistão 2011.


Meus 33 anos

Do Estádio do Morumbi, Chris Martin partiu direto, anteontem, para o Baretto, onde comemorou seu niver e o fim da turnê brasileira do Coldplay.

Entre os cerca de 40 convidados vips, Ronaldo Fenômeno e Bia Anthony foram os que conseguiram maior atenção do simpático e nada arrogante cantor.

Chris soprou o bolo especial, decorado com boneco à sua imagem e semelhança. E, pelo visto, gostou. Só foi embora depois das 4 da manhã e sem beber uma só gota de bebida alcoólica.


Café legal

Ufa! Antônio Carlos Sartini conseguiu abrir licitação para instalar um café no Museu da Língua Portuguesa. É que estavam exigindo dele... a escritura da Estação da Luz - inaugurada há mais de 100 anos.

Acabou achando documento equivalente em... Santos.

Na frente

Com a intensificação do movimento estatizante do governo Lula, a coluna tropeçou e colocou o BNDES como patrocinador da mostra Brasiliana Itaú.

E, no arder da floresta, o Ministério do Meio Ambiente misturou Carrefour e Walmart. Quem inaugura unidade em Piracicaba é o primeiro.

Trégua na pista. Solange Paiva, da Anac, se reúne, dia 15 com presidentes da TAM, Gol, Webjet, Azul, OceanAir e Trip para discutir a competitividade da aviação brasileira.

Ivan Zurita pilota seu leilão tradicional de Gado Nelore, sábado, em Avaré.

Ivana Arruda Leite lança o livro Alameda Santos, terça, na Livraria da Vila da Fradique.

Helena Lunardelli, está montando guia de compras de ornamentos naturais no Ceasa.

Depois de se apresentar na Virada Cultural, em maio, Diogo Nogueira parte para a Europa.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Fotografias de Havana

O ESTADO DE SÃO PAULO - 04/03/10


David Nicholl, um neurologista britânico, coordenou em 2006 a campanha internacional da comunidade médica contra a alimentação forçada de prisioneiros na base americana de Guantánamo. Ele explicou que, nos EUA e na Grã-Bretanha, as regras de ética médica proíbem tal prática. Em Cuba, a ética médica, como tudo mais, oscila ao sabor da vontade do Partido-Estado e ninguém inseriu tubos alimentares em Orlando Zapata, o preso político que morreu após 85 dias de greve de fome. Um artigo do Granma, o jornal oficial castrista, responsabilizou os EUA e os dissidentes cubanos pelo desfecho. Lula, em visita a Cuba, lamentou que "uma pessoa se deixe morrer por uma greve de fome", algo equivalente a culpar a própria vítima. Marco Aurélio Garcia preferiu banalizar o mal, explicando com sua peculiar cupidez que "há problemas de direitos humanos no mundo inteiro". Essa gente não tem vergonha na cara?

A linguagem da ditadura militar no Brasil era idêntica à do regime cubano e de seus bonecos de ventríloquo brasileiros. Vladimir Herzog morreu em virtude de seus atos subversivos e, no fundo, por responsabilidade do "comunismo internacional". Herzog era qualificado como um "terrorista", mesmo se nunca cometeu um ato de violência, tanto quanto Zapata era qualificado como um "mercenário". Lula et caterva estão ecoando as vozes dos tiranos "de direita", quando reverberam as sentenças dos seus amigos tiranos "de esquerda". As coisas que disseram em Havana constituem uma desgraça nacional. Eles falam sobre nós: nossa história e nosso passado recente.

O inefável Marco Aurélio Garcia mencionou Guantánamo, como Dilma Rousseff mencionara Abu Ghraib para "normalizar" a selvagem repressão em curso no Irã. Anos atrás, nos tempos de George Bush, o governo Lula esquivava-se de tocar nesses temas melindrosos. O silêncio, agora se sabe, não derivava da covardia, mas de uma forma obscena de esperteza: eles guardavam Guantánamo e Abu Ghraib num cofre, como uma apólice de seguro para o futuro. Os parasitas da tortura de Bush usam hoje aquela apólice para desculpar as violações de direitos humanos de seus aliados ideológicos ou circunstanciais. Essa gente não tem nenhum princípio?

Meses atrás, o ex-senador Abdias do Nascimento, dirigente histórico do movimento negro no Brasil, enviou uma carta de protesto contra o encarceramento do médico cubano e ativista de direitos humanos Darsi Ferrer, que iniciara greve de fome pelo reconhecimento de sua condição de preso político. A carta tinha como destinatários Raúl Castro, Lula e o próprio Ferrer, a quem Abdias suplicava que desistisse da greve de fome. Cuba continuou a recusar o estatuto de preso político ao ativista e não se conhece nenhuma manifestação de Lula a respeito. Ferrer, contudo, atendeu à súplica de Abdias. Agora, no caso de Zapata, Lula criticou a opção do prisioneiro pela greve de fome, mas esqueceu-se de mencionar a reivindicação que o movia, igual à de Ferrer. Nosso presidente não atina para o que acontece em Cuba?

Fidel Castro alcançou notoriedade no dia 26 de julho de 1953, quando comandou um ataque frustrado ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, numa tentativa insurrecional contra a ditadura de Fulgêncio Batista. O jovem Castro foi sentenciado a 15 anos de prisão e enviado ao cárcere da Isla de Pinos, reservada a presos políticos, onde permaneceu menos de dois anos, até ser beneficiado por uma anistia geral. Na Cuba dos Castro, Ferrer, Zapata e duas centenas de outros presos políticos que jamais participaram de levantes armados são declarados criminosos comuns. Zapata morreu para não ser obrigado a usar um uniforme de criminoso. Ele foi assassinado por uma ditadura pior que a de Batista, avessa aos princípios elementares de respeito à dignidade humana. Lula não é capaz nem ao menos de pedir que os irmãos Castro, seus amigos do peito, concedam aos dissidentes encarcerados o direito ao rótulo de presos políticos?

Laura Pollán entregou a Fidel Castro, dois anos atrás, o livro Enterrados Vivos, escrito por seu marido Héctor Maseda, um dos 75 dissidentes sentenciados na Primavera Negra de 2003. O gesto lhe custou o emprego, mas assinalou a criação da organização Damas de Branco, formada por parentes de presos políticos. Enquanto Lula divertia os irmãos Castro, fotografando-os e rindo como uma hiena, Laura carregava uma alça do caixão de Zapata e abraçava em silêncio a mãe do dissidente morto. Dias antes, ela ajudara a encaminhar uma mensagem de presos políticos cubanos solicitando uma palavra do presidente brasileiro em favor da vida do prisioneiro que jogava sua cartada final. O pedido ficou sem resposta, mas não faltou uma ofensa equilibrada sobre os pilares simétricos da covardia e do cinismo: "As pessoas precisam parar com o hábito de fazer carta, guardar para si e depois dizer que mandaram."

A ditadura castrista não matou Zapata quando decidiu não alimentá-lo à força, mas bem antes, ao recusar-lhe o estatuto de preso político, um santuário simbólico da dignidade dos que sacrificam a liberdade pessoal em nome de poderosas convicções. Os assassinos estão cercados de cúmplices, que são os líderes políticos e os intelectuais "amigos de Cuba". No passado ainda recente da guerra fria, nenhuma voz poderia demover o regime de Havana da decisão de fuzilar ou enterrar vivos aqueles que ousavam denunciar o totalitarismo. Hoje, a clique anacrônica aferrada ao poder absoluto num sistema social em decomposição só pode matar na redoma fabricada pela cumplicidade dos "companheiros de viagem".

Zapata morreu porque Lula não disse nada. Ele morreu porque os intelectuais disponíveis para firmarem um abaixo-assinado contra o editorial equivocado de um jornal brasileiro não estão disponíveis para contrariar a "linha justa" do Partido. Com que direito todos eles ainda usam o nome dos direitos humanos?

Demétrio Magnoli, sociólogo, é doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: Demetrio.Magnoli@terra.Com.Br

JAPA GOSTOSA

DORA KRAMER

A bossa da conquista

O Estado de S.Paulo - 04/03/2010


Nem Lula nem Fernando Henrique. Os responsáveis pelos avanços institucionais, econômicos e sociais do Brasil nestes 25 anos de retomada da democracia foram os fundadores da Nova República, cujo legado os governantes devem manter e superar em prol do desenvolvimento.

Esta será a tônica do discurso do governador de São Paulo, José Serra, quando assumir a condição de candidato a Presidência da República. Não por acaso, foi essa a linha adotada no pronunciamento de ontem no Congresso na solenidade em homenagem ao centenário de nascimento de Tancredo Neves.

Hoje Serra estará em Minas Gerais ao lado do governador Aécio Neves. O cerimonial só prevê discursos do governador e do vice-presidente José Alencar.

Se o protocolo for alterado e puder se pronunciar, José Serra optará por uma fala direta à população mineira para ressaltar a importância do papel do Estado na política nacional.

Independentemente de Aécio vir ou não a ser o vice, os tucanos vão se empenhar para alterar a ideia muito disseminada em Minas de que a vaga na chapa presidencial oferecida a Aécio Neves significa subalternidade de Minas a São Paulo.

Ao contrário, a disposição de Serra é dizer que os paulistas não pretendem ser antagonistas dos mineiros, inclusive porque têm muito a aprender com eles na política.

A comemoração do centenário de Tancredo em Belo Horizonte seria, na visão dos tucanos, uma oportunidade de Serra começar a se aproximar mais do eleitorado de Minas e tentar aplacar os ânimos que vêm sendo bastante acirrados por iniciativa dos correligionários do governador mineiro.

O editorial do jornal Estado de Minas de ontem, sob o título Minas a reboque, não!, vocaliza essas queixas. Acusa os dirigentes do PSDB de querer impor um papel subalterno ao Estado, "só para injetar ânimo e simpatia à chapa que insistem ser liderada pelo governador de São Paulo, José Serra".

Preocupados com a boataria de que Serra poderia desistir da candidatura à Presidência em decorrência do significativo crescimento da candidatura Dilma Rousseff nas pesquisas, os tucanos chegaram à conclusão de que nesta semana o governador precisaria fazer gestos que indicassem a confirmação, ou a desistência da candidatura, e pusessem fim às especulações.

O primeiro sinal foi dado na terça-feira, com o anúncio do afastamento de integrantes do governo que passariam a compor a equipe de campanha.

O segundo foi o discurso do Congresso, tido pelos correligionários como indicativo do tom a ser adotado na disputa com o PT, e o terceiro poderia ser dado hoje em Minas.

Havia esperança no PSDB de que Serra pudesse iniciar a abertura de um caminho que levasse Aécio ? hoje resistente ? a aceitar o lugar de vice na chapa tucana sem que pareça capitulação a um papel coadjuvante.


Contexto

O processo eleitoral está no seguinte pé: uma campanha liderada por um presidente forte com candidata fraca, contra um candidato forte de oposição sem campanha.

A questão a ser esclarecida no transcorrer da disputa é se vai prevalecer a competência da campanha ou a consistência dos candidatos como fator de convencimento do eleitorado.

Até agora tem prevalecido o quesito em que Lula é bamba, a agitação de palanque. A oposição argumenta que ele joga sozinho.

Mas joga porque, além das circunstâncias desigualmente favoráveis fornecidas pela combinação dos instrumentos de governo e total ausência de pudor no seu uso, seus adversários deixaram que jogasse.

Ativeram-se unicamente à própria estratégia de fazer tudo a seu tempo. É de se concordar que talvez não tivessem outro jeito, dada a falta de traquejo no ofício de se opor.

Isso, no entanto, não tira o mérito de Lula. Ele conseguiu antecipar o calendário. Deixou a agenda tão adequada à sua conveniência que, ao contrário de eleições passadas, quando antes de abril não se oficializava nada, exige-se o lançamento de candidatos três meses antes das convenções partidárias para a escolha de candidaturas.

Nesse aspecto, o presidente deu um baile no adversário, por ter conseguido atravessar o período em que a oposição foi franca favorita nas pesquisas, com pose de campeão.


Caso encerrado

Ou o DEM reivindica a vice na chapa do PSDB como forma de pressão sobre Aécio Neves aceitar ou resolveu esquecer o acordo firmado lá atrás com o tucanato. Uma terceira hipótese é que ande em busca de um assunto para se desviar de suas agruras.

Quando Gilberto Kassab foi escolhido vice de José Serra na Prefeitura de São Paulo, em 2004, o partido abriu mão da vaga na chapa presidencial em 2010 e assim ficaram combinadas ambas as partes.

Isso antes dos escândalos do DEM.

MÔNICA BERGAMO

"Espero que não levantem o meu peito"

Folha de S.Paulo - 04/03/2010


A ex-vereadora Soninha Francine (PPS), 42, é uma das estrelas da "Playboy" que chega às bancas no dia 9. Depois de afirmar, há um mês, que "nem a pau" aceitaria um convite para posar nua na revista, a subprefeita da Lapa cedeu, em parte. Ela fez um retrato sem blusa e só de calcinha "minúscula" para a seção "Mulheres que Amamos" da publicação.

FOLHA - Como surgiu o convite?
SONINHA FRANCINE - Eles leram que eu disse que jamais seria convidada pela "Playboy". Me ligaram, falaram que eu estava enganada e me convidaram. Eu falei não, porque não me sinto à vontade, não sou modelo, não gosto das minhas fotos. Perguntaram se eu faria um retrato sensual. E eu falei: "Beleza"!

FOLHA - E você vai aparecer totalmente sem roupa?
SONINHA - Eu usei adesivo nos seios e uma calcinha minúscula. Mas vai aparecer como se eu estivesse sem nada.

FOLHA - Eles vão usar Photoshop (programa para retocar imagens)?
SONINHA - Vão, para apagar o elástico do biquíni. Mas, no resto, sei lá. Teve maquiagem no rosto e fizeram o meu cabelo, uma megaprodução. No corpo, passaram só um pó para uniformizar. Espero que não levantem o meu peito.

FOLHA - Por quê?
SONINHA - Porque é mentira. Corrigir é aceitável, às vezes, se você sai na foto com uma dobra no pescoço, no queixo, quando o retrato te distorce além do que você é. Mas, se quiserem me dar um corpo perfeito, vai ficar muito esquisito.

FOLHA - Recebeu cachê?
SONINHA - Não. Minha assessora inclusive achou absurdo eu não ter perguntado quanto seria o cachê: "Só você que sai na "Playboy" e nem ganha dinheiro. Vai aguentar a encheção e de graça".

FOLHA - O prefeito Gilberto Kassab soube dessa foto?
SONINHA - Ah, não, não. Nem me ocorreu [conversar com ele sobre isso]. O prefeito é meu chefe na subprefeitura, não no que mais eu faça por aí.

FOLHA - E o governador José Serra, que é seu grande conselheiro? Você o consultou? Ele viu as fotos?
SONINHA - Ah, também não. Eu consulto os amigos várias vezes quando eu tenho dúvida. Tipo: "O que você acha que eu faço?". [Desta vez] Eu não tinha dúvidas, não consultei ninguém.

FOLHA - Trata-se de uma questão de querer aparecer?
SONINHA - Olha, eu não preciso fazer isso para aparecer. Eu já apareço bastante, querendo ou não querendo. As coisas que eu faço aparecem. Essa foto não tinha nenhuma outra razão a não ser a de fazer um retrato bonito. Não tem nenhum engajamento político. A militância no máximo é "poxa vida, qual é o problema?". Eu queria fazer uma foto bonita com o meu corpo cheio de defeitos.

FOLHA - Não teme comentários?
SONINHA - A vida inteira eu opinei sobre a vida dos outros: se casou, separou, saiu pelado. Temos que conviver com isso.

FOLHA - Faria um ensaio completo para a "Playboy", nua de verdade?
SONINHA - Não, não acho que vale fazer um ensaio estilo"Playboy". O ensaio de nu da "Trip" [revista], por exemplo, é diferente. É sensual, não muito sexual.

FOLHA - E você faria um ensaio maior se ele fosse, assim, artístico?
SONINHA - É possível. Seria diferente.

A volta do canhão

O presidente Lula determinou que seja devolvido ao Paraguai o canhão "Cristão", que o Brasil apreendeu naquele país em 1868, quando as duas nações estavam em guerra. A peça, considerada um troféu de guerra, está em exibição no Museu Histórico Nacional, do Rio, e já causou desconfortos diplomáticos -nesta semana, o vice-presidente daquele país afirmou que as feridas do conflito só cicatrizariam depois que o armamento voltasse ao Paraguai.

CANHÃO 2
Lula acertou a devolução ontem com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, que cuidará das questões práticas da viagem de retorno do canhão.

INCLUA-ME FORA
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) avisa que não subirá no palanque do presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PSB-SP), se ele for o candidato da legenda ao governo de São Paulo. "Terei que resolver isso na minha relação com o partido, mas nem saberia fazer discurso, em comício ou na TV, em defesa dele". Skaf será candidato caso o deputado Ciro Gomes (PSB-SP) mantenha a disposição de não se candidatar ao governo no Estado.

A FORÇA DO VICE
"Vice, quando não tira voto, já faz muito", diz o ex-deputado Fernando Lyra (PSB-PE) ao comentar a possibilidade de Aécio Neves (PSDB-MG), com os votos que tem em Minas Gerais, turbinar a candidatura de José Serra (PSDB-SP) à Presidência caso aceite formar chapa com ele. Lyra fala com conhecimento de causa: em 1988, ele teve 90 mil votos para deputado federal em Caruaru (PE). Em 1989, foi vice de Brizola -e a dupla teve míseros 16 mil votos na cidade, contra votação avassaladora de Collor.

COISA RARA
Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi, que também faz pesquisas para Aécio em Minas Gerais, considera até otimista a possibilidade de o governador, que tem 57% de votos para presidente no Estado, transferir tudo para Serra, que tem 39%, de acordo com pesquisa Datafolha de dezembro. E, ainda que ocorresse, essa transferência significaria menos de 2% na pesquisa nacional.

ESCOLTA
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) desceu a rampa do Congresso com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e foi até a porta do carro dela falando sobre seu projeto de renda mínima, anteontem. Entregou para ela os textos de duas palestras suas sobre o tema e o relato da visita que fez ao Iraque no início de 2008. Hillary, segundo o senador, "disse que gostaria de dialogar mais sobre isso".

TAXÍMETRO
A suspensão da campanha original da Devassa foi festejada internamente pelos donos da cerveja. A polêmica está gerando alguns milhões de mídia espontânea para a marca -algo bem superior aos gastos, por exemplo, com o cachê de Paris Hilton, estrela dos anúncios. A socialite americana recebeu cerca de US$ 600 mil por 16 horas de trabalho. Oito delas foram gastas nas filmagens do comercial da bebida, nos EUA. As demais foram distribuídas entre o tempo de entrevistas com jornalistas, a aparição no Sambódromo do Rio e numa festa no sábado de Carnaval.

CURTO-CIRCUITO

GLÓRIA KALIL comemora os dez anos de seu site Chic hoje, às 21h, com uma sessão para convidados do filme "Direito de Amar", de Tom Ford, no shopping Iguatemi. 14 anos.

A BANDA PLACEBO faz quatro shows no país, em abril. Em São Paulo, se apresenta no dia 17, no Credicard Hall. 14 anos.

A CIA. TRUKS , de teatro de bonecos, faz retrospectiva de seus espetáculos de amanhã ao dia 25 de abril, no Complexo Cultural da Funarte. Classificação etária: livre.

A MARCA de sapatos e acessórios Arezzo promove hoje em suas 250 lojas o lançamento da coleção de outono-inverno.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Dilma inaugura buraco de tatu!

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/03/10


E quem vai ser o vice do Serra? Só se fala nisso. Tá todo mundo sugerindo o Rubinho. E que tal o Zé do Caixão?


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Depois da passagem do Dunga pela África, vão incluir mula sem cabeça em safári! Com direito a atirar!
E sabe por que não pode ter "Big Brother Brasília"? Porque ninguém quer atender o big fone. Com medo de grampo! E saiu uma nova versão do "Rebolation" pro Corinthians: PLAYSTATION. Libertadores só na Playstation, xon, xon!
E eu não aguento mais a Dilma e o Serra em inauguração! Festival de inaugurações! Analgurações. Como disse o outro: "Eles estão ANALGURANDO tudo!". Rarará! O Serra inaugura um muro, a Dilma inaugura um formigueiro. Muro, formigueiro, buraco com carro dentro, pedra. A Dilma RouCHEFE tá inaugurando até buraco de tatu!
E o site Eramos6 lançou mais dois apelidos pra Dilma: Dilma Rosbife e Chuchu Beleza! Rarará! E aí perguntaram pra um cara: "Sabe quem é a Dilma?". "Sei, a MUIÉ DO LULA!" E por que eles não inauguram uma escada rolante pra eu subir a Augusta?! E o "BBB"? A única coisa inteligente que os BBBs conseguem falar é "OI, BIAL"! A próxima geração no Brasil já vai nascer falando "Oi, Bial"!
E aquele engenheiro agrônomo deve ter comido agrotóxico; só consegue falar "nimim, nimim." Não é NIMIM, é NOCÊ! Rarará!
E quem vai ser o vice do Serra? Só se fala nisso. Tá todo mundo sugerindo o Rubinho. Mas tenho sugestões: Morticia Adams, Boitatá, Nosferatu, Zé do Caixão e "Múmia 2". Já sei o vice do Serra: a mãozinha da família Adams! Pior, sabe o nome do coordenador da campanha? LOBO. Vampiro com Lobo! "Crepúsculo 2"!
E o concorrente pro melhor filme estrangeiro no Oscar: "Teta Assustada", do Peru. Piada Pronta! A teta ficou assustada quando viu o peru? Ou toda teta no Peru é assustada?
E sabe como se chama topless em Portugal? Tetas ao léu! E sabe como se chama celular em Portugal? Caixinhas tagarelas! Agora imagine dois portugueses conversando na internet: "Está lá?". "Não, estou aqui. Quem teclas?" "VOCÊ!" Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Em Presidente Prudente tem uma autoescola chamada Explosão. Deve ser pra dirigir carro-bomba no Iraque. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Hoje não tem. Motivo: gripe, preguiça e aperreio. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ANCELMO GÓIS

Terremoto verbal

O Globo - 04/03/2010


Sabe o que Luciana Gimenez disse terça em seu programa “Superpop”, na Rede TV!, sobre o terremoto do Chile? — Diante da magnitude do tremor, as pessoas não sabem se podem continuar esquiando ou se voltam ao trabalho.

Brasileiro voa
Em 2009, o brasileiro andou mais de avião, em relação a 2008. O número de passageiros no ano cresceu 12,7% no país.
No Rio, este crescimento foi ainda maior: 17%. No Santos Dumont, por causa dos novos voos, o aumento chegou a 39%.
Mas o Galeão também registrou alta de passageiros: 9,7%.

Só que...
O Galeão-Tom Jobim entrou mal em 2010.
Na comparação entre janeiro de 2009 e janeiro agora, houve queda de 4,79% no número de passageiros e de 12,54% no de voos. Isto levou o aeroporto a cair de segundo para quarto maior do país, atrás de Guarulhos, Brasília e Congonhas.

O peso de Ronaldo
O problema de Ronaldo com a balança teria a ver também com hipotireoidismo.
Nada grave.

País do mensalão
Placa da construtora Stanley na fachada de uma obra no número 200 da Rua Gustavo Corção, no Recreio, no Rio: “A Stanley não paga propina.
Se quiser (pagar), não ligue!” Em seguida, fornece seu número de telefone.

No mais
Hoje faz 100 anos do nascimento de Tancredo Neves, o grande arquiteto da transição da ditadura para a democracia.
Tancredo mostrou que também se pode avançar sem luta encarniçada. Afinal, como ele mesmo costumava dizer, “não são os homens, mas as ideias que brigam”.

Grato pela lembrança
FH, cujo nome era cotado para disputar uma vaga na ABL, ligou ontem para Marcos Vilaça, presidente da Academia.
Agradeceu, mas, este ano, prefere se concentrar em outra eleição: a sucessão de Lula.

Meditação do guru
Quem acessava ontem, por volta de 16h, o Portal Brasil (brasil.gov.br), do governo federal, recebia na tela do computador o seguinte aviso de erro: “Guru meditation”.

Ilha de Fidel
O embaixador José Eduardo Martins Felício vai chefiar nossa representação em Havana.

Sem burocracia
O tema do VII Prêmio Innovare será Justiça sem burocracia.
O pessoal da área pode inscrever iniciativas inovadoras que simplificaram o Judiciário no site premioinnovare.com.br.

Barnabé boazuda
Renata Santos (foto), a linda rainha de bateria da Mangueira, é funcionária da TV Alerj. Ganha R$ 697 mensais para ser auxiliar administrativa, categoria CCDAAL 9.
Mas a, digamos, “barnaboa” aparece pouco por lá.

Segue...
Na semana do carnaval, Renata, que enfeita a capa da “Playboy”, esteve na Assembleia para assinar o ponto.
Foi um Deus nos acuda.

Maus-tratos
Uma rebelião ontem no Abrigo Raul Seixas, onde ficam crianças e adolescentes carentes retirados das ruas, na Tijuca, no Rio, movimentou a equipe do Juizado da Infância e da Adolescência.
O Ministério Público foi acionado para investigar abusos e maus-tratos

Cena carioca
Segunda, uma van seguia da Zona Sul para a Barra, quando, na Rocinha, entraram dois homens armados.
Apavorados, os passageiros assistiam a tudo com cara de espanto. Até que um dos bandidos virou-se para uma moça e disse: “Olha só, gatinha, você não vai ser assaltada, não, fica tranquila. Esse meu amigo vacilão aqui te achou uma deusa.
Então, você será poupada.”

LETICIA SPILLER, a Betina de “Viver a vida”, a novela da TV Globo, ilumina o Projac com sua beleza, num intervalo das gravações

MESTRES DO cinema, Cacá Diegues e Walter Salles trocam um abraço no lançamento de “Olhar crítico — 50 anos de cinema brasileiro”, do coleguinha Ely Azeredo, na Travessa do Leblon

PONTO FINAL
Não adianta tapar o sol com a peneira.
Todo dia é um problema novo. Há algo de errado com o metrô do Rio.
Alô, Sérgio Cabral!

LUIS FERNANDO VERISSIMO

Saudade de um cérebro

O GLOBO - 04/03/10


São onze de cada lado, mas esta é a única semelhança do “football” americano com o futebol de verdade. A bola deles é oval (mais ou menos) e só é chutada com o pé em ocasiões especiais. Por sinal, antes que reclamem: “chutada com o pé” não é redundância, no basquete se chuta a bola com as mãos. Mas no “football” existe uma figura que desperta uma certa inveja nostálgica, principalmente em quem conheceu o futebol que se jogava aqui antigamente. É o “quarterback”, aquele cara que tira a bola – metaforicamente – da bunda do cara agachado à sua frente e a entrega para um corredor carregá-la ou a passa para alguém mais à frente, conforme o combinado. O “quarterback” é o aristocrata do “footbal”. É ele que decide, orientado pelo técnico ou por sua própria iniciativa, a estratégia a ser tentada. Todo o resto do time existe para protegê-lo enquanto ele arquiteta a jogada, abrir caminho para os corredores que ele municia ou lhe dar tempo para escolher quem receberá seu passe. Às vezes, na falta de outra opção, ele mesmo tem que carregar a bola, e então, como acontece com qualquer nobre no meio da plebe, ele não fica em pé por muito tempo. É o líder intelectual do time. Uma das evidências apontadas do avanço social dos negros nos Estados Unidos é a nova presença negra em esportes como o golf e o tênis, e na posição de “quarterbacks” no “football”, antes exclusiva de brancos. Até há pouco tempo era mais fácil imaginar um negro na presidência da república americana do que um negro como “quarterback” num grande time.
Chegou a existir algo equivalente ao “quarterback” do “football” no futebol. Com um pouco de boa vontade, ou com um pouco da imaginação mágica que vem com a idade, pode-se dizer que certos jogadores de antigamente comandavam seus times com a mesma imposição de um “quarterback”. Quase sempre ocupavam a posição cujo nome já lhes situava no centro administrativo do campo, a de “centro-médio”, mas onde quer que estivessem estava o cérebro do time. O último “centro-médio” clássico do futebol brasileiro talvez tenha sido o Falcão, mas a linhagem é antiga, passa por Didi e outras legendas. E está extinta. Não existem mais “centromédios”, nem com outro nome. E quando foi a última vez que você viu um jogador ser descrito como “o cérebro do time”?
Talvez seja melhor assim. Nada de aristocratas, todo o mundo criando e pegando juntos. Dois, três, vários gilbertos silva. Mas olhando esta seleção, confesso que sinto falta de um estrategista obsoleto, de um gênio com data vencida, de um cérebro de ferro velho, de qualquer coisa, por antiquada que seja, que lembre um pensador.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não adianta empurrar, empurrado eu não vou”
AÉCIO NEVES, PARAFRASEANDO O AVÔ TANCREDO, SOBRE A VAGA DE VICE NA CHAPA DE SERRA

JUSTIÇA AVALIA PRISÃO DOMICILIAR PARA ARRUDA
O Supremo Tribunal Federal deverá negar por unanimidade, nesta quinta, o julgamento do habeas-corpus do governador afastado do DF, José Roberto Arruda, que se encontra preso desde 11 de fevereiro na superintendência regional da Policia Federal. A avaliação é da defesa de Arruda, que a rigor alimenta apenas a esperança de que o STF ou o STJ, que a decretou, determine prisão domiciliar, sob a guarda da PF.
ISOLAMENTO
A prisão domiciliar, admitida ontem menos por um ministro do STF, incluiria cuidados como proibir que Arruda tenha acesso a telefonemas.
ROTINA
Repercutiram muito no STF informações sobre a rotina de Arruda no cárcere. Por isso ganhou força a ideia de prisão domiciliar.
MEMORIAL
O memorial entregue ao STF pelo advogado Nélio Machado, elogiado pelos ministros, foi considerado insuficiente para reverter a prisão.
ATÉ O FIM DO MÊS
Mantida a preventiva, Arruda ficará preso pelo menos até o fim do mês, quando acaba a fase de instrução penal, que ele é acusado de obstruir.
MINAS: HÉLIO COSTA PODE TER VIRGÍLIO COMO VICE
Articula-se em Minas Gerais uma chapa forte: o ministro Hélio Costa (Comunicações), do PMDB, como candidato ao governo de Minas e o deputado Virgílio Guimarães (PT) o seu vice. Ao disputar a presidência da Câmara com apoio do baixo clero, Guimarães foi derrotado pelo PT paulista: o então ministro José Dirceu lançou Luis Eduardo Greenhalgh e, dividido, o PT entregou a rapadura para Severino Cavalcanti.
JOGANDO A TOALHA
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse a um colega que já não acredita que José Serra vai ser candidato a presidente.
ULTIMATO
FHC vai sugerir hoje à cúpula tucana, que se encontra em Minas, para dar um ultimato a José Serra: ele teria até segunda (8) para se decidir.
IT’S NOT VERDADE
Não, é mentira que o técnico Joel Santana foi convidado para intérprete oficial do encontro Hillary-Lula ontem, em Brasília. Ele está “off” dessa.
EURIDES TOPA ACAREAÇÃO
A deputada distrital Eurides Brito (PMDB), que se recusou a renunciar como forma de não correr o risco de cassação, aceita uma acareação com Joaquim Roriz. Ela revelou que foi o ex-governador quem mandou Durval Barbosa entregar o dinheiro que ela aparece metendo na bolsa.
CAMPANHA DE OURO
O senador tucano Marconi Perillo revelou a amigos, em um restaurante de Brasília, que Educação será o lema de sua campanha para voltar ao governo de Goiás. Acha que vai gastar de R$ 45 a R$ 50 milhões. Uau.
DIÁLOGO DOS JOSÉS
José Sarney despreza José Serra, a quem atribui a implosão da candidatura da filha Roseana a presidente, em 2002, mas ontem foi gentil, durante a homenagem a Tancredo Neves: “Li seu artigo...”. Serra se interessou: “Gostou?”. Sarney mentiu descaradamente: “Muuuuito...”.
FOGUEIRA PRONTA
No governo Lula, quase todos os órgãos têm contrato com uma destas empresas: Engemil, FJ Produções e Queiroz Garcia. Quem atua em nome delas é Matheus Menezes, de costas quentes no alto escalão.
ESCAPOU DA CPI E...
Com a saída de Paulo de Tarso, da Matisse, uma das agências da Secretaria de Comunicação da Presidência, vai mandar na publicidade federal Mauro Motoryn, que escapou por pouco da CPI dos Correios.
...GANHOU PODER FEDERAL
Mauro Motoryn era íntimo de Henrique Pizzolato e Mauro Guimarães, figurões que o fizeram faturar alto no Banco do Brasil com a agência Ogilvy, com Marcos Valério. Ele dirige a agência 141, da Ogilvy.
PERDEU, CONTRIBUINTE!
Um leitor gaúcho, que movimenta conta poupança na Caixa com Mastercard, foi surpreendido com taxa de R$ 0,65 por jogo na loteria.
Como jamais cobraram, acha que foi “sorteado” Otário do Mês.
DOUTORA GARI
A prefeitura de Manaus ganhou uma gari doutora: Valdisa Gomes, 35, formou-se em Administração de Empresas e agora sonha atuar na área administrativa da Secretaria de Serviços Públicos. Merece a chefia.
PENSANDO BEM...
... Apoiando notórias ditaduras, Lula está querendo é ganhar uma cadeira elétrica na ONU.

PODER SEM PUDOR
O HOMEM DA ALCA ATRÁS
O bloco Pacotão, de Brasília, que atormentou a ditadura com suas sátiras políticas, lançou o CD com a música-tema do Carnaval 2004. O homem da Alca atrás ironizou impiedosamente o presidente Lula:
– “Churrasco, pelada, cerveja gelada/ Caipirinha e aguardente/ Eu sou o homem da Alca atrás/ Luta de classe nunca mais/ Meu negócio é ser presidente, churrasco (bis)/ Eu gostava era de greve/ De passear, festejar e agitar/ Por isso eu me aposentei/ Comprei um Boeing só para viajar, churrasco.../ Eu nunca fui esquerdista, socialista,
comunista ou radical/ Isso é coisa do capeta/ Sou do FMI e a favor do capital, churrasco...”

O ABILOLADO E A MENTIROSA

QUINTA NOS JORNAIS

- Globo: Lula deve se licenciar para ajudar Dilma; Sarney assume


- Folha: Serra avisa ao PSDB que é candidato


- Estadão: Hillary avalia que Irã engana o Brasil


- JB: Para EUA, Irã usa Brasil


- Correio: Distritais só vão julgar Arruda depois do STF


- Valor: Gestores fogem de riscos e contêm aplicações na bolsa


- Estado de Minas: Aécio cita Tancredo e descarta vice: 'Não adianta empurrar'


- Jornal do Commercio: Chile volta a tremer

quarta-feira, março 03, 2010

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O que diria Dirceu se o caso da Eletronet fosse parar na polícia

3 de março de 2010

Cientificado das suspeitas e desconfianças geradas pelo noticiário sobre os vínculos negociais que o associam ao empresário Nelson dos Santos, o senhor José Dirceu de Oliveira compareceu a esta repartição policial para declarar que desde dezembro de 2005, quando teve o mandato de deputado cassado por seus pares poucos meses depois de despejado do gabinete de chefe da Casa Civil, vem garantindo a própria subsistência e a de seus dependentes com os proventos auferidos como consultor de empresas; que no mês e ano supracitados constituiu a Consultoria JD; que a referida empresa hoje administra uma carteira de clientes que mantém em sigilo porque assim determina a cláusula de confidencialidade que consta do contrato-padrão, podendo apenas informar que a carteira é de bom tamanho, os clientes pagam em dia e alguns o tratam por Jay Dee; que tem conseguido prosperar como consultor de empresas, e não como facilitador de negócios, como insinua maldosamente a mídia golpista, sem renunciar à militância política e à vida pública, pois desde a infância resolveu colocar-se a serviço da nação; que não vê nada de errado em, num único dia, almoçar com o presidente Lula, reunir-se à tarde com Dilma Rousseff e jantar com um cliente interessado em fechar negócios com o governo porque sempre soube separar as coisas, o que o consegue evitando tanto conversar sobre política com um empresário quanto conversar sobre negócios com um político; que jamais se valeu das informações amealhadas durante a passagem pela chefia da Casa Civil, muito menos dos laços de amizade com companheiros situados nas mais altas instâncias administrativas, para favorecer negócios que interessem aos clientes; que se manteve fiel a esse código de boa conduta ao estabelecer relações profissionais com o empresário Nelson dos Santos, que procurou o depoente em março de 2007 para declarar-se interessado na contratação dos serviços da Consultoria JD, ficando acertado que pagaria R$ 20 mil por mês, pelo prazo de dois anos, pelo fornecimento de análises periódicas sobre o quadro político-econômico nacional e internacional; que não sabe explicar por que o senhor Nelson se dispôs a pagar uma quantia considerável por análises que podem ser lidas de graça no blog do depoente, limitando-se a supor que o contratante quis garantir-se para, eventualmente, encomendar análises sobre temas que raramente são examinados no blog, como, por exemplo, estudos sobre as eleições parlamentares em Botswana; que, por mera coincidência, o depoente, sem saber que o senhor Nelson dos Santos, dois anos antes, pagara R$ 1 para tornar-se o maior acionista privado da Eletronet, escreveu em seu blog, no mesmo mês em que foi contratado, que ”do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet”; que, como jamais tratou do assunto com o contratante, o contratado achou desnecessário informar que , no momento da publicação do artigo, já prestava serviços ao sócio da Eletronet; que ficou sabendo só mais tarde que o que o senhor Nelson mais deseja na vida é vender ao governo por R$ 200 milhões a parte da Eletronet que lhe pertence, o que permitirá incorporar ao Plano Nacional de Banda Larga a rede de 16 mil quilômetros de fios de fibras ópticas de propriedade da empresa; que, como nunca conversou sobre a Eletronet também com o presidente Lula, o depoente ficou surpreso ao saber que, oito meses depois da assinatura do contrato com o senhor Nelson, o governo resolveu comprar a Eletronet; que voltou a surpreender-se em 22 de janeiro deste ano, quando soube que o Plano Nacional de Banda Larga incluiu a incorporação da empresa do senhor Nelson dos Santos; que só nesse dia soube que a retomada da Eletronet pelo governo, recomendada pelo depoente em vários artigos, sempre desinteressadamente, também fora defendida nos meses anteriores por Dilma Rousseff, que confessou ter enfrentado uma briga tremenda com adversários não-identificados para que o governo recuperasse ”um patrimônio tão importante quanto o pré-sal”; que atribui as frequentes aparições no noticiário político-policial a tramas forjadas pela mídia golpista para prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff, da qual o depoente é um dos coordenadores; que, embora nunca tenha sido condenado em última instância, é tratado pela mesma imprensa reacionária como “chefe de uma organização criminosa sofisticada”, expressão que o ex-procurador geral da República Antônio Fernando de Souzando não teria utilizado se não fosse influenciado por reportagens tendenciosas; que, apesar de tudo, continua a guiar-se pelo respeito à ética, à moral e aos bons costumes; que continua confiante no Poder Judiciário em geral, no Supremo Tribunal Federal em particular e no delegado incumbido da condução do presente inquérito.

Confrontado com o que disse e com o que deixou de dizer o depoente, o delegado decerto acharia muito mal contada essa história que juntou o empresário espertalhão e o facilitador de negócios. Dirceu seria convocado para um segundo interrogatório sobre o caso de polícia. E não escaparia da voz de prisão.

EDITORIAL - O GLOBO

Cerco à liberdade


O Globo - 03/03/2010

Não há encontro sobre liberdade de imprensa e respeito a direitos civis, de modo amplo, na América Latina, em que não sejam prestados depoimentos preocupantes.

Foi assim em novembro, no Congresso anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Buenos Aires, e, segunda-feira, em São Paulo, no 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium.

Como se podia esperar, representantes de Venezuela e Equador — polo irradiador do bolivarianismo e um dos mais fiéis discípulos do populismo autoritário venezuelano — fizeram os relatos mais sombrios. Marcel Gravier, dono da RCTV, cujo sinal aberto foi cortado pelo caudilho Hugo Chávez e tenta sobreviver como emissora a cabo, reclamou do silêncio e cumplicidade das democracias ibero-americanas diante do sufocamento do que resta de liberdades no seu país.

Às explicações sobre simpatias ideológicas, Gravier acrescentou outra: “Os países obtiveram muita ajuda da Venezuela e encontraram em Chávez uma fonte de negócios muito lucrativa. Por isso, fazem vistas grossas.” Para reforçar a análise de Marcel Gravier, lembre-se que a Argentina dos Kirchner, pária no mercado financeiro mundial, devido ao calote na dívida externa, só sai de situações de sufoco porque Chávez aceita comprar títulos emitidos pelo país. O jornalista Carlos Vera, do Equador, por sua vez, confirmou que Rafael Correa, no que se refere ao relacionamento com a imprensa e à liberdade de expressão, é uma réplica de Chávez.

O Brasil, neste contexto, se destaca no continente com uma situação relativa melhor, embora persista há 215 dias uma censura prévia esdrúxula decretada na Justiça contra o jornal “O Estado de S. Paulo”, proibido de divulgar informações sobre uma operação da PF na qual um dos alvos é o clã Sarney.

Presente ao Fórum, o ministro Hélio Costa, das Comunicações, deixou clara sua discordância com dispositivos do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, do seu governo, propostos para subjugar a imprensa.

Também no encontro, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), exministro de Lula, cotado para assumir cargo de primeira linha na campanha de Dilma Rousseff, concordou com Hélio Costa e defendeu a necessidade de os governos contarem com a ajuda de uma “atuação forte e democrática da imprensa”.

Numa região onde se defende a coerção contra a imprensa em nome de um obscuro “controle social” — também rejeitado por Hélio Costa —, tem importância e merece aplausos a posição do ministro e do deputado do PT. Mas como o governo é multifacetado, a guarda não pode ser abaixada na defesa das liberdades.

GOSTOSA

ROBERTO DaMATTA

Uma fábula do reino de Jambon


O Globo - 03/03/2010


Com devida vênia a Lima Barreto e François Rabelais.
Um alquimista descobriu como transformar merda em metais preciosos. Com isso, os habitantes de Jambon começaram a obrar ouro por fezes. Cada qual recolhia suas porcarias e comprava escravos, gado, automóveis de luxo, plantava cana e comia pernis regados a vinhos de boa cepa.

A enorme obradeira virou imponente riqueza e globalizou-se. Pesquisas realizadas pelo Center for Shit Research da Universidade de Harvard e pelo Bureau de la Recherche de la Merde da Sorbonne constataram que enquanto um bem alimentado miliardário americano ou um inteligentíssimo filósofo francês produziam um pobre cocô, qualquer cidadão (mas sobretudo os nobres e os políticos) de Jambon produzia um excremento de incomparável teor de riqueza. Para desconsolo de uma elite que sempre achou o nacional inferior, descobriu-se que não havia no mundo nenhuma excremento superior ao de Janbom.

A perspectiva de uma riqueza para todos — afinal, defecar é universal — promoveu, porém, controvérsia.

Foi interpretada como uma “paradoxal contradição que liquidava a desigualdade”. Deste modo, os entendidos em merda realizam um plebiscito que estatizou a bosta. Ela foi centralizada numa grande estatal que controlava as ambições dos empresários e cuidava da porcaria dos pobres, impedindo-os de desperdiçar suas cagadas que, reunidas num fundo, eram distribuídas para todos como parte de um grande tesouro nacional. Com isso, o governo reiterava seu compromisso com a salvação pátria e com a promoção do altruísmo. A borra, diziam, era coisa muito séria para ser explorada pela iniciativa privada.

Um acirrado debate desembocou na campanha, “a merda é nossa!” e o excremento, finalmente politizado, valorizado e devidamente indexado e quantificado, passou a ser o grande tema nacional.

Criou-se o programa “Merda-nostra” e um superdisputado Ministério da Merda, governado por um irmão do próprio rei de Janbom, pois um cargo de tal responsabilidade só poderia ser ocupado por “alguém de confiança!” Institucionaliza-se o lema pátrio: “Cagar é a melhor política.” Nacionaliza-se a bosta e, em seguida, o Comitê dos Sábios Nacionais separa por decreto o cagar do defecar. O primeiro era obra dos destituídos, o segundo seria uma exclusividade da classes superiores, dos que têm biografia e dos membros do partido, cujas fezes eram trocadas por títulos do Tesouro e, depois, cambiadas por ouro na Bolsa da Merda que, a essas alturas, apostava num extraordinário mercado futuro que iria redimir o país de todas as suas mazelas.

Um amplo esquema de corrupção fecal, entretanto, insinuou-se nos intestinos do governo. Ele sustentava um clube de corruptos merdosos que enriquecia cada vez mais os administradores do excremento que, junto dos seus compadres, amigos e parentes, lucravam com a centralização da bosta nacional. Esse nepotismo de bosta jamais cessou mesmo quando um novo governo implementava novos marcos exploratórios e critérios para a divisão das quotas do cocô entre os diversos ducados. Mas, apesar de medidas distributivas, a merda continuava concentrada, como demonstrou empiricamente, por meio do “índice da kaca”, um professor catedrático especializado em bosta da Universidade de Stanford, Veio então a “Crise da Bosta”, quando outras nações conseguiram produzir industrialmente a imundície.

Dilacerado por coalizões intestinas, Jambon assiste à falência do seu Estado que, àquelas alturas, já havia transformado todos os seus habitantes em clientes do bosta-governo.

Usando dos seus tradicionais laços fisiológicos, os políticos aumentavam privada e legalmente o valor das cagadas. Uma hiperinflação excremental atinge o país, fazendo aquela economia de merda entrar na fossa. Muda-se o regime, congelam-se os preços das cagadas e os estoques de titica nacional.

Jambon chega ao fundo da latrina.

Gradual e lentamente, os cidadãos comuns, cognominados de “cagões”, começaram a controlar a fedentina, retomando o usual, mas legalmente proibido hábito de puxar a descarga. Chegou-se à conclusão de que era preciso limitar e punir a produção de merda e obrar mais responsavelmente.

PS: Estou informado que esta continua sendo a grande discussão do Reino de Jambon. Enquanto isso, as pessoas vão levando suas vidas, comendo e descomendo o pão amargo de cada dia. Vez por outra tomam o choque de saber que crianças não têm escola porque o governo continua preocupado com o tamanho das latrinas, os empresários querem vender mais caro o papel higiênico e o povo, bem, o povo continua com uma insuportável dor de barriga.

Nota Final: Essa história me foi contada pelo Sebastião Azambuja (o Sabá) debaixo do testemunho do Emmanuel Plumbio Dias e eles não tem nada a ver com essa versão que — obviamente — não guarda nenhuma semelhança com países, fatos e pessoas vivas ou mortas, sendo inteiramente ficcional e fantasiosa.