A crise na articulação política do governo com o Congresso colocou o ministro da Economia, Paulo Guedes, no papel duplo de equilibrista e bombeiro. Como bombeiro tem trabalhado nos bastidores para baixar a temperatura da guerra travada entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e na busca da conciliação política para manter o foco em torno da aprovação da reforma da Previdência.
No papel de equilibrista entre os dois lados da disputa, tem procurado uma convergência com o argumento de que não se pode “demonizar” a negociação política no Congresso por conta das práticas erradas do passado.
A interlocutores, Guedes tem dito com frequência que tem muita confiança na aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso, apesar dos percalços na articulação política, mas sempre com o alerta de que a sua função no governo Jair Bolsonaro não faz sentido se a proposta não for aprovada.
Fiador da reforma dentro e fora do governo, Guedes tem sido um ferrenho defensor da necessidade de manter a economia de R$ 1 trilhão em 10 anos prevista com a reforma.
Publicamente, o ministro também não tem escondido a sua posição. Durante a cerimônia de posse do novo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, há duas semanas, Guedes chamou a atenção ao afirmar que “se botarem” menos de R$ 1 trilhão “sairia rápido” do cargo. No evento, repleto de empresários, banqueiros e investidores, o tom do ministro foi interpretado como de “brincadeira”. Ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, disse que não tem apego ao cargo, mas que não sairá na primeira derrota.
Os desabafos constantes são interpretados por auxiliares próximos muito mais como uma tentativa de reforçar a economia, considerada central para barrar uma desidratação da proposta, do que uma ameaça real de que pode deixar o governo.
Um dos assessores diz que Guedes é duro na queda e não tem “queixo de vidro”, apelido dado aos lutadores que sucumbem rápido aos golpes. O próprio ministro, mesmo diante do agravamento da crise na articulação política, tem insistido na avaliação de que o “script já está escrito” e que a situação atual decorre de uma nova realidade provocada por uma “sociedade aberta”, com pressões de todos os lados compartilhadas pelas redes sociais.
Guedes tem condenado, no entanto, os ataques a pessoas e instituições. Os sobressaltos políticos têm sido vistos como uma “chacoalhada” que não alterou a convergência em torno da direção da agenda positiva de aprovação da reforma. Tanto que Maia reforçou esse ponto ao dizer que continuará trabalhando pela sua aprovação.
Por enquanto, as declarações do ministro sobre uma eventual saída não têm provocado incertezas. Mas alguns experientes integrantes do Ministério da Economia veem com preocupação o uso desse tipo de mensagem pelo ministro, mesmo que em tom de brincadeira. Não querem que ele repita Joaquim Levy, que quando era ministro da Fazenda ameaçou diversas vezes deixar o governo Dilma Rousseff para evitar derrotas no governo petista. E acabou pedindo demissão.