GRAVAÇÃO DE TEMER FOI EDITADA
Áudio de Joesley entregue à Procuradoria tem cortes, diz perícia FOLHA DE SP 19/23.00HS
Uma perícia contratada pela Folha concluiu que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer sofreu mais de 50 edições.
O laudo foi feito por Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Segundo ele, o áudio divulgado pela Procuradoria-Geral da República tem indícios claros de manipulação, mas "não dá para falar com que propósito".
Afirma ainda que a gravação divulgada tem "vícios, processualmente falando", o que a invalidaria como prova jurídica.
"É como um documento impresso que tem uma rasura ou uma parte adulterada. O conjunto pode até fazer sentido, mas ele facilmente seria rejeitado como prova", disse Santos.
Segundo disse à Folha a Procuradoria, a gravação divulgada é "exatamente a entregue pelo colaborador e sua autenticidade poderá ser verificada no processo".
"Foi feita uma avaliação técnica da gravação que concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente", declarou a Procuradoria na noite desta sexta (19).
A gravação não passou pela Polícia Federal, que só entrou no caso no dia 10 de abril. O áudio, feito pelo empresário na noite de 7 de março, foi entregue diretamente à PGR e é anterior à fase das ações controladas.
Em um dos trechos editados, o empresário pergunta ao peemedebista sobre sua relação naquele momento com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato. As duas respostas de Temer sofreram cortes.
O trecho na gravação divulgada permite o seguinte entendimento:
"Tá.. Ele veio [corte] tá esperando [corte] dar ouvido à defesa.. O Moro indeferiu 21 perguntas dele... que não tem nada a ver com a defesa dele"
"Era pra me trucar, eu não fiz nada [corte]... No Supremo Tribunal totalidade só um ou dois [corte]... aí, rapaz mas temos [corte] 11 ministros"
Em depoimento posterior à PGR, Joesley disse que nesse momento o presidente dizia ter influência sobre ministros do STF.
"Ele me fez um comentário curioso que foi o seguinte: 'Eduardo quer que eu ajude ele no Supremo, poxa. Eu posso ajudar com um ou dois, com 11 não dá'. Também fiquei calado, ouvindo. Não sei como o presidente poderia ajudá-lo", afirmou.
Em outro trecho cortado, o empresário, enquanto explica a Temer que "deu conta" de um juiz, um juiz substituto e um procurador da República, declara: "...eu consegui [corte] me ajude dentro da força-tarefa, que tá".
No momento mais polêmico do diálogo, quando, segundo a PGR Temer dá anuência a uma mesada de Joesley a Cunha, a perícia não encontrou edições. O trecho, no entanto, apresenta dois momentos incompreensíveis, prejudicados por ruídos.
Em entrevista à Folha, outro perito, Ricardo Molina, que não fez uma análise formal do áudio, declarou que a gravação é de baixa qualidade técnica.
Para ele, uma perícia completa e precisa obrigaria a verificação também do equipamento com que foi feita a gravação.
"Percebem-se mais de 40 interrupções, mas não dá para saber o que as provoca. Pode ser um defeito do gravador, pode ser edição, não dá para saber."
Para o perito judicial Ricardo Caires dos Santos, não há hipótese de defeito.
Procurada para comentar o assunto, a assessoria da JBS disse que a empresa não vai comentar.
Conforme revelou o Painel nesta sexta-feira (19), o Planalto decidiu enviar a peritos a gravação, desconfiando de edição da conversa.
Comprovada a existência de montagem, o governo vai reforçar a tese de que Temer foi vítima de uma "conspiração".
sexta-feira, maio 19, 2017
A verdade é que pobre brasileiro é a carne mais barata do mercado - REINALDO AZEVEDO
A delação rendeu a Joesley e Wesley, na base da pura especulação, a bagatela de R$ 265.763.200! Dá para pagar a multa e ainda sobram R$ 45,765 milhões
Sim, senhores, ainda vou escrever com mais vagar sobre o afastamento do senador Aécio Neves (PSDM-MG) e a prisão preventiva de Andrea Neves. As razões para a prisão ainda não estão claras. O afastamento de Aécio, dado o que veio à luz, é uma aberração. A menos que haja motivos ainda não divulgados.
A divulgação, com estardalhaço, da foto de Andrea presa, a exemplo do que se fez com todos os outros que tiveram preventiva decretada, é detestável. Ela ainda não foi condenada. Não sabemos, na verdade, nem mesmo de quais crimes é acusada. Mas a malta comemora, se refestela, acha uma delícia, rola na lama. No fundo, o que conta mesmo é o ressentimento: “Olha lá aonde foi parar a rica…” E os idiotas de direita e de esquerda berram: “Quando é com pobre, ninguém liga”. Bem, pra começo de conversa, eu ligo. Mas o ponto nem é esse. Quando os “ricos” estão sento tratados assim, a gente imagina a situação dos pobres… Mas, reitero, isso fica para outro post.
Quero agora me ater aos Irmãos Batista — Joesley e Wesley. Se me permitem a graça, com a habilidade de açougueiros experientes, fizeram picadinho das leis, das instituições, da moralidade, da dignidade, da verdade, da decência. E agora estão livres, leves e soltos em Nova York. Ninguém obteve tamanho benefício em negociações de delação premiada.
Como? O grupo vai pagar multa de R$ 225 milhões? Horas antes do vazamento da informação, a CVM ficou sabendo que as empresas ligadas à dupla adquiriram uma posição superior a US$ 1 bilhão no mercado local. Querem ver como é doce a vida dos Batistas?
Quando eles compraram mais de US$ 1 bilhão, a moeda estava cotada a R$ 3,134. Assim, os valentes empenharam um montante de R$ 3,134 bilhões. Ora, eles sabiam que, depois da delação, aconteceria o óbvio: o dólar dispararia. Chegou a R$ 3,40, com uma valorização de 8,48% ontem. Sabem o que isso significa? Que a delação rendeu a Joesley e Wesley, na base da pura especulação, a bagatela de R$ 265.763.200! Caso você decida subtrair daí os R$ 225 milhões da multa, ainda sobram, de saldo positivo, R$ 45,765 milhões.
Só isso? Não! Tanto quando eles sabiam que o dólar iria disparar, tinham clareza de que as ações do grupo iriam despencar. O que eles fizeram? Em abril, depois das conversações para a delação premiada, os Batistas venderam R$ 329 milhões em ações da JBS. Ontem, as ditas cujas sofreram um tombo de 14,84%.
É um acinte!
Há muito tempo venho insistindo na tecla de que a Operação Lava Jato, à diferença do que parece, promove o maior espetáculo de impunidade de que se tem notícia. Venham a vida fabulosa dos delatores, que estão soldos por aí, certamente torrando parte da grana que roubaram dos brasileiros.
Querem um país sério?
Querem um país sério? Então peçam para investigar essa delação verdadeiramente pornográfica dos Batistas, que contou com a — terei de escrever isto — anuência acovardada de Edson Fachin, que, adicionalmente, não teve a coragem de recusar um pedido de abertura de inquérito contra o presidente, uma vez que inexiste na gravação evidência de crime.
Um amigo me mandou a seguinte mensagem: “Minha conclusão do episódio das gravações. Açougueiros criminosos, em pareceria com um procurador irresponsável e um ministro do Supremo conivente, aceitaram uma gravação clandestina como prova para justificar a delação premiada e livrar da cadeia dois bandidos que eram os maiores financiadores de campanha do país”.
Pois é…
E você? E nós? E os pobres?
Joesley e Wesley cometeram crimes em penca. Foram os maiores beneficiários do regime petista e das generosas linhas de crédito do BNDES. Fizeram-se verdadeiros parceiros de Lula e de seu partido. Quando a coisa aperta, decidem fazer uma “delação premiada”, negociada a termos generosos jamais vistos. Parece que o propósito estava dado: “entreguem o presidente da República e o presidente do maior partido de oposição e vocês terão uma compensação à altura”.
E nós? E os que não especulamos no mercado de câmbio?
E nós? Os que não somos bucaneiros disfarçados de jornalistas?
E nós? Os que precisamos de uma país viável para que nosso esforço possa ser devidamente recompensado?
E os que são muito diferentes de nós porque mais pobres, com menos direitos, com menos acesso aos bens da civilização, com menos autonomia para cuidar de seu destino?
E os que são muito diferentes de nós porque a diferença entre um país em recessão e um país em crescimento é o feijão na mesa?
E os que são muito diferentes de nós e pagarão ainda mais caro se o país não fizer a reforma da Previdência e a reforma trabalhista?
Ora, esse país não está no horizonte do Ministério Público. Deltan Dallagnol, cada vez mais um político e menos um procurador, escreveu o seguinte ontem no Facebook:
“Ninguém mais aguenta toda essa podridão. Se este Congresso não fizer as reformas necessárias contra a corrupção, será uma confissão de incompetência e merecerá a vergonha dos crimes que o cobrem, com as honrosas exceções daqueles que estão lutando por essas mudanças”.
Notem que as reformas de Dallagnol não são a trabalhista e a da Previdência. O Ministério Público é contra as duas. E, ainda assim, grupos que se dizem liberais e de direita tocam flauta para a turma. A hostilidade ao Congresso é evidente, e as “honrosas exceções” ficam por conta dos que concordam com as teses de Dallagnol.
E encerra a sua mensagem falando como o bom fanático que é: “Não roubarão nosso país de nós. Lutaremos por ele até o fim.”
Não duvidem! Dallagnol é do tipo que luta até o fim. Se preciso, ele mata o paciente na sua “luta até o fim” contra a doença!
E, como se vê, o país de Dallagnol comporta os Batistas, que, a esta hora, flanam em Nova York, e os desdentados e ferrados na vida, condenados a viver na mesquinharia, na pobreza e no atraso.
Se todos tiverem a alma limpa como a de Dallagnol, ainda que não possam ter o seu salário, tudo bem! A miséria dignifica um homem de espírito reto.
Ah, sim! Ainda vou tratar da questão: teria o presidente prevaricado?
"REPUBLICANDO OLHARES DIVERSOS" - Exposição Fotográfica Coletiva
MAIO19
"REPUBLICANDO OLHARES DIVERSOS" - Exposição Fotográfica Coletiva
Queridos amigos e amantes da fotografia, estão todos convidados para a exposição coletiva:
"REPUBLICANDO OLHARES DIVERSOS"
dos fotógrafos, Flávio Dourado, Heloisa Rizzo, MARCELLE CALDAS, Maria Cláudia Grillo, Maristela Amorim, Suzana Feijó e com a curadoria de Monique Cabral
Uma obra que expressa a composição dessas seis visões.
➡️ 19 de maio 2017
De 18h às 22h
➡️ KARIOK HOSTEL - Rua Benjamin Constant, 80 - Glória
(visitação até 17 junho)
O espaço público é o recipiente indutor onde os elementos sociais se manifestam. Como nós o vemos nesse momento tão crítico em que debatemos a promiscuidade entre o público e o privado em todas as esferas da nossa sociedade ?
Que esse belo trabalho fotográfico possa nos enriquecer com o olhar cuidador sobre esses ambientes que patrimônios de todos e que desejamos que assim permaneçam por várias gerações.
ESPERO VOCÊS LÁ!!!!
Essa exposição da Trilharte conta com a parceria com o Kariok Hostel e com apoio cultural do Rey Câmeras
"REPUBLICANDO OLHARES DIVERSOS"
dos fotógrafos, Flávio Dourado, Heloisa Rizzo, MARCELLE CALDAS, Maria Cláudia Grillo, Maristela Amorim, Suzana Feijó e com a curadoria de Monique Cabral
Uma obra que expressa a composição dessas seis visões.
➡️ 19 de maio 2017
De 18h às 22h
➡️ KARIOK HOSTEL - Rua Benjamin Constant, 80 - Glória
(visitação até 17 junho)
O espaço público é o recipiente indutor onde os elementos sociais se manifestam. Como nós o vemos nesse momento tão crítico em que debatemos a promiscuidade entre o público e o privado em todas as esferas da nossa sociedade ?
Que esse belo trabalho fotográfico possa nos enriquecer com o olhar cuidador sobre esses ambientes que patrimônios de todos e que desejamos que assim permaneçam por várias gerações.
ESPERO VOCÊS LÁ!!!!
Essa exposição da Trilharte conta com a parceria com o Kariok Hostel e com apoio cultural do Rey Câmeras
A hora da responsabilidade - EDITORIAL O ESTADÃO
ESTADÃO - 19/05
Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País
Este grave momento da vida nacional deverá passar à história como aquele em que a irresponsabilidade e o oportunismo prevaleceram sobre o bom senso e sobre o interesse público. Tudo o que se disser agora sobre os desdobramentos do terremoto gerado pela delação do empresário Joesley Batista, em especial no que diz respeito ao presidente Michel Temer, será mera especulação. Mas pode-se afirmar, sem dúvida, que a crise é resultado de um encadeamento de atitudes imprudentes, tomadas em grande parte por gente que julga ter a missão messiânica de purificar a política nacional. A consequência é a instabilidade permanente, que trava a urgente recuperação do País e joga as instituições no torvelinho das incertezas – ambiente propício para aventureiros e salvadores da pátria.
O vazamento de parte da delação do empresário Joesley Batista para a imprensa não foi um acidente. Seguramente há, nos órgãos que têm acesso a esse tipo de documento, quem esteja interessado, sabe-se lá por quais razões, em gerar turbulência no governo exatamente no momento em que o presidente Michel Temer parecia ter arregimentado os votos suficientes para a difícil aprovação da reforma da Previdência. Implicar Temer em uma trama para subornar o deputado cassado Eduardo Cunha a fim de mantê-lo calado, como fez o delator, segundo o pouco que chegou ao conhecimento do público, seria suficiente para justificar seu afastamento e a abertura de um processo contra o presidente – o Supremo Tribunal Federal já autorizou a instauração de inquérito.
É preciso destacar, no entanto, o modus operandi do vazamento. A parte da delação que foi divulgada não continha senão fragmentos de frases transcritas de uma gravação clandestina feita por Joesley Batista em uma conversa com Temer. Não se conhecia o contexto em que o diálogo se deu, porque a gravação não foi tornada imediatamente pública. Durante as horas que se seguiram à divulgação da existência do explosivo material, mesmo que não se soubesse o exato teor do que disse Temer, criou-se um fato político gravíssimo. A demora em tornar pública a gravação se prestou, deliberadamente ou não, a prejudicar o acusado, encurralando-o. A versão que certamente interessava ao vazador, portanto, se impôs.
Até mesmo uma conversa informal, na qual Temer teria confidenciado a Joesley Batista que a taxa de juros estava para cair – o que qualquer pessoa medianamente inteirada da conjuntura já imaginava –, está sendo interpretada como tráfico de informação privilegiada. O Banco Central informou o óbvio – que não há possibilidade de que Temer tenha tido conhecimento antecipado de uma decisão sobre juros –, mas, num momento em que o debate político se resume ao disse que disse frívolo das redes sociais, prevalece não a verdade, mas o rumorejo.
Não é de hoje que há vazamentos desse tipo – e isso só pode ser feito por quem tem acesso privilegiado a documentos sigilosos. Ao longo de toda a Operação Lava Jato, tornou-se corriqueira a divulgação de trechos de depoimentos de delatores, usados como armas políticas por procuradores. O vazamento a conta-gotas das delações dos executivos da Odebrecht que envolvem quase todo o Congresso Nacional, mantendo o mundo político em pânico em meio a especulações sobre o completo teor dos depoimentos, foi um claro exemplo desse execrável método.
Enquanto isso, fica em segundo plano o fato de que Joesley Batista e outros delatores sairão praticamente livres, pagando multas irrisórias, embora tenham cometido – e confessado! – cabeludos crimes. Para honrar tão generoso acordo com o Ministério Público, o empresário saiu por Brasília a armar flagrantes, com gravador escondido no bolso, a serviço dos que pretendem reformar a política na marra.
Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País.
Resta demandar que a Constituição não seja rasgada ao sabor das conveniências daqueles que lucram com o caos.
Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País
Este grave momento da vida nacional deverá passar à história como aquele em que a irresponsabilidade e o oportunismo prevaleceram sobre o bom senso e sobre o interesse público. Tudo o que se disser agora sobre os desdobramentos do terremoto gerado pela delação do empresário Joesley Batista, em especial no que diz respeito ao presidente Michel Temer, será mera especulação. Mas pode-se afirmar, sem dúvida, que a crise é resultado de um encadeamento de atitudes imprudentes, tomadas em grande parte por gente que julga ter a missão messiânica de purificar a política nacional. A consequência é a instabilidade permanente, que trava a urgente recuperação do País e joga as instituições no torvelinho das incertezas – ambiente propício para aventureiros e salvadores da pátria.
O vazamento de parte da delação do empresário Joesley Batista para a imprensa não foi um acidente. Seguramente há, nos órgãos que têm acesso a esse tipo de documento, quem esteja interessado, sabe-se lá por quais razões, em gerar turbulência no governo exatamente no momento em que o presidente Michel Temer parecia ter arregimentado os votos suficientes para a difícil aprovação da reforma da Previdência. Implicar Temer em uma trama para subornar o deputado cassado Eduardo Cunha a fim de mantê-lo calado, como fez o delator, segundo o pouco que chegou ao conhecimento do público, seria suficiente para justificar seu afastamento e a abertura de um processo contra o presidente – o Supremo Tribunal Federal já autorizou a instauração de inquérito.
É preciso destacar, no entanto, o modus operandi do vazamento. A parte da delação que foi divulgada não continha senão fragmentos de frases transcritas de uma gravação clandestina feita por Joesley Batista em uma conversa com Temer. Não se conhecia o contexto em que o diálogo se deu, porque a gravação não foi tornada imediatamente pública. Durante as horas que se seguiram à divulgação da existência do explosivo material, mesmo que não se soubesse o exato teor do que disse Temer, criou-se um fato político gravíssimo. A demora em tornar pública a gravação se prestou, deliberadamente ou não, a prejudicar o acusado, encurralando-o. A versão que certamente interessava ao vazador, portanto, se impôs.
Até mesmo uma conversa informal, na qual Temer teria confidenciado a Joesley Batista que a taxa de juros estava para cair – o que qualquer pessoa medianamente inteirada da conjuntura já imaginava –, está sendo interpretada como tráfico de informação privilegiada. O Banco Central informou o óbvio – que não há possibilidade de que Temer tenha tido conhecimento antecipado de uma decisão sobre juros –, mas, num momento em que o debate político se resume ao disse que disse frívolo das redes sociais, prevalece não a verdade, mas o rumorejo.
Não é de hoje que há vazamentos desse tipo – e isso só pode ser feito por quem tem acesso privilegiado a documentos sigilosos. Ao longo de toda a Operação Lava Jato, tornou-se corriqueira a divulgação de trechos de depoimentos de delatores, usados como armas políticas por procuradores. O vazamento a conta-gotas das delações dos executivos da Odebrecht que envolvem quase todo o Congresso Nacional, mantendo o mundo político em pânico em meio a especulações sobre o completo teor dos depoimentos, foi um claro exemplo desse execrável método.
Enquanto isso, fica em segundo plano o fato de que Joesley Batista e outros delatores sairão praticamente livres, pagando multas irrisórias, embora tenham cometido – e confessado! – cabeludos crimes. Para honrar tão generoso acordo com o Ministério Público, o empresário saiu por Brasília a armar flagrantes, com gravador escondido no bolso, a serviço dos que pretendem reformar a política na marra.
Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País.
Resta demandar que a Constituição não seja rasgada ao sabor das conveniências daqueles que lucram com o caos.
Um dia normal de pânico e sujeira - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 19/05
O PANIQUITO na feira do mercado de dinheiro foi horrível, mas normal, para não dizer estereotipado. Nem mesmo ainda é possível dizer se a reação da praça financeira foi exagerada ou se tende a ser pior. Esse não é nem de longe o maior problema econômico-financeiro agora.
Os preços e o tamanho do tumulto na economia real dependerão, óbvio, de política e, por tabela, da reação de bancos, empresas e consumidores. Vão depender da dimensão do choque de confiança causado por esse novo despejo de lixo político sobre as nossas cabeças.
Isto posto, é improvável que a crise política não dê um talho neste crescimento que tendia a ser quase estagnação neste 2017: para zero.
Sim, no mercado financeiro houve variações de preços inéditas por vezes em uma década ou mais, desde os meses de pânico com a eleição de Lula, em 2002. Sim, tais saltos podem até quebrar alguém e, no limite, causar problemas em cadeia, em especial se duram mais de um dia e se não houver medidas profiláticas do Banco Central e do Tesouro.
No governo, enquanto dure, o plano é tocar a vida. Em primeiro lugar, "dar liquidez" ao mercado, fazer negócios no lugar de quem correu de medo ou desespero, comprando e vendendo títulos ou dólares de modo que as taxas de juros e o câmbio não disparem por falta de oferta ou procura, remédio normal.
No mais, a ideia é administrar a economia e negociar "reformas" como se um meteorito não estivesse para cair nesta terra já devastada.
No entanto, o problema essencial é o que sobrevirá, pois não se sabe se o governo será moribundo, zumbi ou desconhecido (em caso de nova eleição).
A incerteza da retomada do crescimento por si só já levava bancos, empresas e consumidores ao comedimento ou à retranca. O crédito estava travado, os taxas de juros nos bancos mal caíam; consumidores receosos ou endividados não queriam ou conseguiam tomar empréstimos bastantes. Esperava-se o segundo semestre.
Agora, a reanimação da economia catatônica foi adiada para um depois perdido na névoa, no melhor dos casos. Pode ser bem pior se, por exemplo, o Banco Central também entrar na retranca, se o câmbio explodir ou, mais plausível, não passar reforma alguma.
Até quarta (17), o "mercado" esperava para o fim deste mês queda de mais 1,25 ponto percentual na taxa de juros "do BC", na Selic, o que se pode perceber pelos preços (juros) dos negócios no atacadão de dinheiro. No pior momento do surto desta quinta-feira (18), chegou-se a fazer negócio com a expectativa de queda de apenas 0,25 ponto percentual –o dia fechou em meio ponto.
Taxas de juros de um ano aumentaram um ponto percentual, comendo quase um terço da campanha de queda de juros desde o fim do ano passado. Parece pouco, mas é uma variação capaz de causar perdas imensas na praça, no curtíssimo prazo; de travar negócios, se chegar de fato à ponta dos empréstimos.
Não se sabe, porém, se valores de juros, câmbio e ações estavam histéricos devido a um mercado disfuncional ou se já embutem alta de risco mais duradoura.
Pelo menos até o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer, em 6 de junho, se Temer não cair antes, não será possível dizer grande coisa do futuro imediato da economia brasileira, para o bem ou para o mal.
O PANIQUITO na feira do mercado de dinheiro foi horrível, mas normal, para não dizer estereotipado. Nem mesmo ainda é possível dizer se a reação da praça financeira foi exagerada ou se tende a ser pior. Esse não é nem de longe o maior problema econômico-financeiro agora.
Os preços e o tamanho do tumulto na economia real dependerão, óbvio, de política e, por tabela, da reação de bancos, empresas e consumidores. Vão depender da dimensão do choque de confiança causado por esse novo despejo de lixo político sobre as nossas cabeças.
Isto posto, é improvável que a crise política não dê um talho neste crescimento que tendia a ser quase estagnação neste 2017: para zero.
Sim, no mercado financeiro houve variações de preços inéditas por vezes em uma década ou mais, desde os meses de pânico com a eleição de Lula, em 2002. Sim, tais saltos podem até quebrar alguém e, no limite, causar problemas em cadeia, em especial se duram mais de um dia e se não houver medidas profiláticas do Banco Central e do Tesouro.
No governo, enquanto dure, o plano é tocar a vida. Em primeiro lugar, "dar liquidez" ao mercado, fazer negócios no lugar de quem correu de medo ou desespero, comprando e vendendo títulos ou dólares de modo que as taxas de juros e o câmbio não disparem por falta de oferta ou procura, remédio normal.
No mais, a ideia é administrar a economia e negociar "reformas" como se um meteorito não estivesse para cair nesta terra já devastada.
No entanto, o problema essencial é o que sobrevirá, pois não se sabe se o governo será moribundo, zumbi ou desconhecido (em caso de nova eleição).
A incerteza da retomada do crescimento por si só já levava bancos, empresas e consumidores ao comedimento ou à retranca. O crédito estava travado, os taxas de juros nos bancos mal caíam; consumidores receosos ou endividados não queriam ou conseguiam tomar empréstimos bastantes. Esperava-se o segundo semestre.
Agora, a reanimação da economia catatônica foi adiada para um depois perdido na névoa, no melhor dos casos. Pode ser bem pior se, por exemplo, o Banco Central também entrar na retranca, se o câmbio explodir ou, mais plausível, não passar reforma alguma.
Até quarta (17), o "mercado" esperava para o fim deste mês queda de mais 1,25 ponto percentual na taxa de juros "do BC", na Selic, o que se pode perceber pelos preços (juros) dos negócios no atacadão de dinheiro. No pior momento do surto desta quinta-feira (18), chegou-se a fazer negócio com a expectativa de queda de apenas 0,25 ponto percentual –o dia fechou em meio ponto.
Taxas de juros de um ano aumentaram um ponto percentual, comendo quase um terço da campanha de queda de juros desde o fim do ano passado. Parece pouco, mas é uma variação capaz de causar perdas imensas na praça, no curtíssimo prazo; de travar negócios, se chegar de fato à ponta dos empréstimos.
Não se sabe, porém, se valores de juros, câmbio e ações estavam histéricos devido a um mercado disfuncional ou se já embutem alta de risco mais duradoura.
Pelo menos até o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer, em 6 de junho, se Temer não cair antes, não será possível dizer grande coisa do futuro imediato da economia brasileira, para o bem ou para o mal.
Temer é vítima de uma conspiração - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 19/05
Pesquisem a etimologia da palavra "conspiração". Lá está o verbo "spiiro", que significa "soprar", "respirar", mas também "emitir um odor". A conspiração, então, é uma teia de sopros, respiros e odores subalternos. Metaforicamente, é o cochicho das sombras. Cecília Meireles soube trabalhar tal origem no seu magnífico "Romanceiro da Inconfidência". Pesquisem a respeito.
É claro que o presidente Michel Temer está sendo vítima de uma conspiração meticulosa e muito bem-sucedida. Todos sabem que os irmãos Joesley e Wesley Batista eram íntimos e grandes beneficiários do regime petista. Aliás, dava-se de barato: querem pegar o PT? Então peguem a JBS. A coisa ganhou até tradução popular. Que jornalista não foi indagado no táxi sobre uma suposta fazenda de Lulinha, em sociedade com a JBS? Que se saiba, tudo conversa mole. Nunca houve.
Mas a dupla caiu na rede da Lava Jato. Os irmãos foram assediados pela força-tarefa. Sabe-se lá com quantas ameaças. Como não devem ter memória muito limpa do que fizeram nos verões passados, resolveram "colaborar". Mas não com uma delação premiada no molde Marcelo Odebrecht. Não!
Empregou-se a tática aplicada no caso Sérgio Machado, aquele que se dispôs a gravar peixões da República. Com a mesma generosidade. Em troca, os filhos de Machado nem processados foram. O criminoso pegou dois anos e três meses de cadeia em sua mansão, em Fortaleza.
Aos irmãos Batista se ofereceu ainda mais: "Entreguem o presidente da República, apelando a uma conversa induzida, gravada de forma clandestina. Façam o mesmo com o principal líder da oposição, e vocês nem precisarão ficar no Brasil, sentindo o odor dessa pobrada, que vai pagar o pato. Nós os condenaremos a morar em apartamento de bilionário em Nova York. Impunidade nunca mais!"
Querem saber?
Sim, sou grato ao Ministério Público Federal e à tal força-tarefa. Oh, sim, também pelos relevantes serviços prestados no combate à corrupção. Lembrando o cineasta Bertolucci, sob o pretexto de caçar tarados, vocês ainda chegam ao fascismo, valentes! Avante, "giovinezza, giovinezza,/ Primavera di bellezza/ (...)/ Per Janot, Dallagnol, la mostra Patria bella".
Sim, sou grato a todos os Torquemadas e Savonarolas da política porque admitem, na prática, agora sem nesga para contestação, que eu estava certo. Os procuradores têm um projeto de poder e estão destinados a refundar a República. E, por óbvio, seu viés é de natureza revolucionária, não reformista. Em recente prefácio que escreveu, o juiz Sergio Moro alcançou voos condoreiros: haverá dor.
Sim, sou grato a esses patriotas porque, quando afirmei, há meses, que a direita xucra estava se juntando a alguns porras-loucas, com poder de polícia, para devolver o poder às esquerdas, alguns tentaram me tachar de maluco. Perdi amigos –não por iniciativa minha. E, no entanto, tudo está aí, claro como a luz do dia.
Então vamos ver. O presidente Michel Temer disse que não renuncia. Sim, ele é um político, é hábil, é consciencioso e certamente saberá avaliar, de forma criteriosa, as circunstâncias. Estas são sempre boas conselheiras dos prudentes. Como ele próprio lembrou, trechos de gravações vêm a público naquele que é o melhor momento do governo.
No breve pronunciamento que fez nesta quinta, Temer subiu um pouco o tom —ou o som— que lhe é habitual. Havia uma irritação extrema, mas contida (como é de seu feitio). A tensão era óbvia.
O Brasil está pronto para ser o território livre do surrealismo jurídico.
Ali falava um presidente da República, ninguém menos, a negar a renúncia, mas sem saber do que era acusado. Tinha consciência, sim, de que o relator do petrolão no STF, Edson Fachin, já havia aceitado o pedido de investigação. Mas ele próprio não tinha ouvido nada. O conteúdo já foi liberado.
Ali falava um presidente da República, ninguém menos, que lutava para não ser refém do Terror Jurídico em curso no país. Sob o pretexto de "cassar tarados".
O Brasil afunda, e a esquerda deita e rola.
Pesquisem a etimologia da palavra "conspiração". Lá está o verbo "spiiro", que significa "soprar", "respirar", mas também "emitir um odor". A conspiração, então, é uma teia de sopros, respiros e odores subalternos. Metaforicamente, é o cochicho das sombras. Cecília Meireles soube trabalhar tal origem no seu magnífico "Romanceiro da Inconfidência". Pesquisem a respeito.
É claro que o presidente Michel Temer está sendo vítima de uma conspiração meticulosa e muito bem-sucedida. Todos sabem que os irmãos Joesley e Wesley Batista eram íntimos e grandes beneficiários do regime petista. Aliás, dava-se de barato: querem pegar o PT? Então peguem a JBS. A coisa ganhou até tradução popular. Que jornalista não foi indagado no táxi sobre uma suposta fazenda de Lulinha, em sociedade com a JBS? Que se saiba, tudo conversa mole. Nunca houve.
Mas a dupla caiu na rede da Lava Jato. Os irmãos foram assediados pela força-tarefa. Sabe-se lá com quantas ameaças. Como não devem ter memória muito limpa do que fizeram nos verões passados, resolveram "colaborar". Mas não com uma delação premiada no molde Marcelo Odebrecht. Não!
Empregou-se a tática aplicada no caso Sérgio Machado, aquele que se dispôs a gravar peixões da República. Com a mesma generosidade. Em troca, os filhos de Machado nem processados foram. O criminoso pegou dois anos e três meses de cadeia em sua mansão, em Fortaleza.
Aos irmãos Batista se ofereceu ainda mais: "Entreguem o presidente da República, apelando a uma conversa induzida, gravada de forma clandestina. Façam o mesmo com o principal líder da oposição, e vocês nem precisarão ficar no Brasil, sentindo o odor dessa pobrada, que vai pagar o pato. Nós os condenaremos a morar em apartamento de bilionário em Nova York. Impunidade nunca mais!"
Querem saber?
Sim, sou grato ao Ministério Público Federal e à tal força-tarefa. Oh, sim, também pelos relevantes serviços prestados no combate à corrupção. Lembrando o cineasta Bertolucci, sob o pretexto de caçar tarados, vocês ainda chegam ao fascismo, valentes! Avante, "giovinezza, giovinezza,/ Primavera di bellezza/ (...)/ Per Janot, Dallagnol, la mostra Patria bella".
Sim, sou grato a todos os Torquemadas e Savonarolas da política porque admitem, na prática, agora sem nesga para contestação, que eu estava certo. Os procuradores têm um projeto de poder e estão destinados a refundar a República. E, por óbvio, seu viés é de natureza revolucionária, não reformista. Em recente prefácio que escreveu, o juiz Sergio Moro alcançou voos condoreiros: haverá dor.
Sim, sou grato a esses patriotas porque, quando afirmei, há meses, que a direita xucra estava se juntando a alguns porras-loucas, com poder de polícia, para devolver o poder às esquerdas, alguns tentaram me tachar de maluco. Perdi amigos –não por iniciativa minha. E, no entanto, tudo está aí, claro como a luz do dia.
Então vamos ver. O presidente Michel Temer disse que não renuncia. Sim, ele é um político, é hábil, é consciencioso e certamente saberá avaliar, de forma criteriosa, as circunstâncias. Estas são sempre boas conselheiras dos prudentes. Como ele próprio lembrou, trechos de gravações vêm a público naquele que é o melhor momento do governo.
No breve pronunciamento que fez nesta quinta, Temer subiu um pouco o tom —ou o som— que lhe é habitual. Havia uma irritação extrema, mas contida (como é de seu feitio). A tensão era óbvia.
O Brasil está pronto para ser o território livre do surrealismo jurídico.
Ali falava um presidente da República, ninguém menos, a negar a renúncia, mas sem saber do que era acusado. Tinha consciência, sim, de que o relator do petrolão no STF, Edson Fachin, já havia aceitado o pedido de investigação. Mas ele próprio não tinha ouvido nada. O conteúdo já foi liberado.
Ali falava um presidente da República, ninguém menos, que lutava para não ser refém do Terror Jurídico em curso no país. Sob o pretexto de "cassar tarados".
O Brasil afunda, e a esquerda deita e rola.