RIO DE JANEIRO - Na quarta-feira última (21), falei de como uma enciclopédia da corrupção brasileira preencheria uma lacuna no nosso mercado editorial. Sua produção exigiria uma equipe de redatores versados em leis criminais, técnicas contábeis e relações internacionais, mas, até aí, tudo bem. O problema é que, entre o término da preparação dos verbetes e a ida do original para a gráfica, tantos novos tipos de corrupção seriam descobertos que a enciclopédia, por mais ampla, nunca se poderia dizer completa.
Um leitor acaba de sugerir coisa melhor: um álbum de figurinhas – como esses sobre futebol que os garotos colecionam na Copa do Mundo. E nas mesmas condições: o álbum é grátis e as figurinhas, em pacotinhos de cinco, são compradas no jornaleiro. Sua vantagem é que, embora a corrupção sempre se renove, os corruptos tendem a ser os mesmos, entra ano, sai ano, e todos sabemos quais são.
O álbum teria cerca de 400 figurinhas, comportando os políticos, de qualquer partido, que respondam hoje a processo em alguma instância. Se tomarmos por base que o Congresso tem cerca de 300 picaretas — cálculo do então candidato Lula, antes de se aliar a eles na Presidência —, ainda teremos 100 figurinhas para contemplar ex-tesoureiros de partidos, ex-marqueteiros de campanha, ex-diretores de estatais, ex-funcionários de empreiteiras e outros ex, muitos atualmente cumprindo sentença, sem prejuízo dos ainda à solta.
Algumas figurinhas viriam carimbadas, mas só por uma questão de respeito — imagine quais. Outras, aleatoriamente, seriam mais "difíceis" — um Bumlai, por exemplo, valeria pelo menos cinco Dirceus num troca-troca. E virar um Renan num bafo-bafo seria a glória.
Comercialmente falando, o álbum de figurinhas dos corruptos teria tudo para estourar. Até os adultos iriam querer colecionar.