terça-feira, junho 28, 2016

Teoria e prática do lulopetismo - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 28/06

Uma coisa é locupletar-se com recursos públicos, enriquecer metendo a mão no dinheiro do povo. Isso é feio e condenável. Coisa muito diferente é desviar dinheiro do governo, de suas instituições financeiras e de suas empresas para os cofres do partido, para financiar a luta em defesa dos fracos e oprimidos. Isso é bonito, elogiável, demonstra idealismo. Esse absurdo, sempre subjacente na estratégia política do PT, emerge com força no momento em que, em desespero de causa, o lulopetismo tenta afinar um discurso que garanta sua sobrevivência.

A ideia seria o partido fazer uma admissão pública de culpa pelas ilicitudes que seus dirigentes praticaram, deixar clara, mesmo que apenas implicitamente, a reprovação àqueles que agiram movidos apenas, ou oportunisticamente, pela ganância, e pedir desculpas pela prática da corrupção “benigna”, aquela movida pela nobre intenção de arrecadar recursos para a luta na defesa dos interesses e da soberania populares. A ideia dessa nova estratégia, por enquanto debatida intramuros na direção do PT, foi revelada em matéria de Ricardo Galhardo, no Estado de domingo.

Para exemplificar: José Dirceu e André Vargas, condenados pela Justiça por se terem beneficiado pessoalmente de atos de corrupção, não merecem solidariedade pública, pois ofenderam a “ética interna”. Já outro condenado, o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, arquiteto de amplo esquema de propinas carreadas para o financiamento das atividades partidárias e de campanhas eleitorais, é considerado um militante exemplar, um verdadeiro mártir do lulopetismo.

Um posicionamento firme e claro do PT em relação aos escândalos de corrupção em que está envolvido e principalmente no que diz respeito a seus filiados que estão presos está sendo exigido pelos próprios petistas atrás das grades, que se sentem abandonados pela direção partidária. Vaccari Neto, por exemplo, ao mesmo tempo que se tem queixado da falta de solidariedade dos correligionários, argumenta que ações como as da Lava Jato têm clara conotação política, objetivando a desestabilização do PT. Os formuladores dessa aberração moral não são alienados – são apenas desonestos e nada mais.

O próprio presidente nacional da legenda, Rui Falcão, é um aguerrido defensor dessa teoria. Mas essa é uma questão que aparentemente o comando petista não considera oportuno discutir publicamente no momento. Ao que tudo indica, só pretende fazê-lo, no âmbito da estratégia de sobrevivência política da legenda, lá pelo fim do ano, depois da definição do impeachment de Dilma Rousseff.

Para aplacar a crescente revolta dos encarcerados que se consideram abandonados pelo PT, até mesmo Lula tem procurado estimular dirigentes do partido a manifestar solidariedade a inquilinos das prisões de Curitiba. É um sintoma de que há alguma procedência nos rumores que circularam em Brasília, de que prisioneiros como José Dirceu e Vaccari Neto estariam cogitando contar o que sabem.

Quanto à tese da corrupção “benigna”, é inacreditável que a aceitem – ou pelo menos a tolerem – intelectuais, acadêmicos, artistas e toda sorte de celebridades ávidas por se apresentarem como “progressistas” e que por isso preferem não questionar o princípio imoral e indecente de que os fins justificam os meios. Com essa miopia deliberada, esses membros da elite brasileira se recusam a ver que os compatriotas mais pobres são exatamente os que estão sendo mais gravemente prejudicados pela irresponsabilidade de Lula, Dilma e tigrada.

É interessante observar que, no momento mais difícil de sua trajetória, o PT se mantém teimosamente coerente com o ranço populista que lhe é característico nas origens e na práxis. “Em nome do povo”, tudo se justifica. Até assaltar os cofres públicos porque, afinal, alegam, o produto desses assaltos, diligentemente investido em obras e programas sociais por quem pensa nos interesses populares em primeiro lugar, reverterá sempre em benefício dos mais necessitados.

Na prática, a teoria lulopetista é outra, como mostra a Operação Custo Brasil: o ministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo, ora preso, foi responsável pelo esquema de propinas para roubar R$ 100 milhões, para si e para o PT. Aleluia! Os endividados funcionários públicos tomadores de crédito consignado foram roubados para a maior glória do PT.

A cultura da ocupação - CARLOS ANDREAZZA

O GLOBO - 28/06

Tomam-se ruas, escolas, repartições e empresas tal e qual elevado exercício da liberdade de expressão — como se assim, num só golpe, não se sustasse igualmente o debate



O professor está em sala de aula. Tenta dar aula. A seu lado, malemolente, um jovem dança, sensualiza. Tem a expressão do descompromisso a serviço. É o invasor. Há música. Alta. Ainda assim, o professor insiste. É firme. Mantém a calma. Escreve no quadro-negro. Tenta trabalhar. Outros dois sujeitos aparecem. Invasores também. Tendo-se decerto na conta de heróis, apagam o que fora escrito, rabiscam palavras de ordem. O professor, porém, continua. Num canto, apresenta uma equação matemática. Que o jovem dançante, na segunda tentativa, afinal apaga. Aula encerrada.

Descrevi acima o vídeo recente em que o professor Serguei Popov, da Unicamp, vê-se impedido de lecionar pela performance de jovens marionetes. (Ao menos um deles, o dançarino indolente, que cursa licenciatura em Geografia, em breve será professor de seus filhos e netos, leitor; e não é exceção.) É preciso, pois, explicar as coisas à luz do que são: a inconsequência dos manipulados não os exime de responsabilidade sobre a violência que praticam. É preciso também, portanto, pesar-prezar valores: não interessa qual seja a reivindicação dos agressores; esta cultura da ocupação — a interdição dos espaços públicos para impor a agenda de grupos de pressão — é das mais nefastas manifestações da doença terminal brasileira, e tudo invalida. Tudo.

Protestar no Brasil, hoje, é ocupar — um eufemismo para invadir, tomar, interditar. O diálogo e o respeito ao próximo são ignorados no ato, mas se travestem de democratas os atores, de guardiões da liberdade. E não importa se — na sala do professor Popov, por exemplo — ao menos um aluno estivesse disposto a estudar. Não importa. Os democratas estão acima dessa coisa ultrapassada de indivíduo. São corajosos também, incensados como novidade, manifestantes românticos e radicais de uma nobre causa — contra a qual, aliás, não há quem esteja. (Ou alguém se opõe a melhores condições para o exercício da docência e da discência?)

Não é por acaso que a cultura da ocupação encontra sua mais influente aplicação em colégios e universidades. A ideia romântica radicalizada — a do estudante não apenas consciente, mas que lidera (pensa liderar), que bota a cara e interdita a escola (na verdade, somente empresta seu corpo ao projeto do partido, que, por sua vez, não reclamaria de ter um corpo, um jovem morto, para fazer de mártir) — é elemento-chave aqui. Há método, pedagogia, nessa opressão contra os interesses da maioria.

O cerceamento aos que querem produzir resultou na barbaridade de que estudantes, os que desejam estudar, tenham de marcar aulas secretas. A manipulação da juventude modelou até um coletivo surrealista, o dos estudantes grevistas. Eles tomam o colégio para si (ninguém entra, salvo se autorizarem), acampam em suas dependências (espécie de colônia de férias politizada), cozinham para si (ocasião em que mostram avançadas técnicas de cooperação) e tocam violão como expressão de que podem. (Os maiores tocadores de violão do país, aliás, estão fechados com eles.) Muito bem assessorados juridicamente, agem com autoritarismo, afrontam a vontade — da maioria, repita-se — de estudar, de trabalhar, desconhecem os deveres inerentes à liberdade, mas são reverenciados como defensores de direitos ameaçados (só têm direitos), bravos representantes de uma geração que finalmente assumirá as rédeas do próprio futuro.

Esta é a medida da falência política e educacional do país. Perdemos de todo a noção de individualidade — logo, de responsabilidade. Funcionamos sob a lógica do bando. Acomodamo-nos desta forma, tratando por peças respeitáveis no tabuleiro do jogo político aqueles que nos assaltam o direito de ir e vir. Tomam-se ruas, escolas, repartições e empresas tal e qual elevado exercício da liberdade de expressão — como se assim, num só golpe, não se sustasse igualmente o debate público. Lembremo-nos: a ocupação das ideias — o sequestro da palavra, da linguagem — sempre precede. O Brasil, faz tempo, é gerido pelo norte ideológico da guilda, pelos interesses de classe, pelo modelo black bloc de negociação — e esses gestores tomaram e corromperam também o sentido do que seja direito, liberdade, democracia.

Não gostou de algo, senhor taxista? Ora, tranque a cidade. Obstrua as principais vias. Impeça o cidadão de circular. Intimide a população. Terá o endosso do poder público, o exemplo esclarecido de professores-doutrinadores e estudantes profissionais. Terá também a chancela da intelectualidade neste Brasil dos abaixo-assinados de patota, sempre democráticos, mas de que não se pode querer ficar de fora; país em que a discordância individual — a intenção de não subscrever um manifesto (sempre pela liberdade) — transforma em pária e aproxima o degredo.

Num futuro não distante, todo mundo será manifestante — se quiser prosperar. Será abaixo-assinado — se quiser pertencer. Terá de ser militante — se quiser ter existência reconhecida.

Carlos Andreazza é editor de livros

Silêncio no sindicalismo - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 28/06

A quietude sobre maracutaias no crédito aos servidores, na Petrobras e nos fundos de pensão é a trilha sonora das fissuras na base sindical do PT: 46% da CUT são do setor público



Mais de 800 mil servidores públicos federais foram vítimas de fraude no sistema de créditos consignados.

A imposição de taxa extra sobre cada pagamento realizado nos últimos cinco anos por funcionários endividados proporcionou ganho lotérico (mais de R$ 100 milhões) a pessoas vinculadas ao PT, na maioria emergentes do ativismo sindical. A polícia prendeu um ex-ministro de Lula e Dilma, Paulo Bernardo.

Roubados, também, foram mais de 500 mil sócios dos fundos de pensão de Petrobras, Caixa e Correios. Devem atravessar as próximas duas décadas com cortes na renda de aposentadorias e pensões. Os negócios suspeitos da última década corroeram o patrimônio de Petros, Funcef e Postalis, que somaram déficit de R$ 33,6 bilhões apenas no ano passado. Metade da conta será paga pela sociedade, via aportes extras das empresas estatais.

As estranhas transações foram realizadas por gestores vinculados ao PT de Lula e Dilma e ao PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. A maioria teve origem no ativismo sindical e ascendeu no loteamento político.

Sindicalismo não é sinônimo de rapinagem. Porém, merece reflexão o fato de que nos últimos 12 anos os principais gestores dos fundos de Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios tenham saído das fileiras do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Vieram dali, também, expoentes da burocracia do PT como Ricardo Berzoini, ex-presidente, e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido, arquitetos de outra iniciativa que redundou em fraude, a Bancoop.

A opção pela alavancagem de ativistas sindicais ao papel de gestores, no loteamento político das estatais e fundos de pensão, foi uma característica dos governos Lula e Dilma. Foi assim que Petrobras ganhou dois Josés (Dutra e Gabrielli).

As razões tiveram mais a ver com perspectivas de poder e negócios do que com ideologias. Havia um projeto de mando, desenhado desde os primórdios do PT e da CUT, por Luiz Gushiken, então presidente dos bancários de São Paulo.

Casta emergente no PT, os sindicalistas atuaram como força-tarefa, privilegiando algumas empresas no acesso às gôndolas de dinheiro público, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fonte dos recursos subsidiados do BNDES.

Exemplar é o caso de Marcelo Sereno, antigo dirigente do PT e chefe de gabinete da Casa Civil sob José Dirceu. Sereno é personagem recorrente nos escândalos da Loterj, mensalão, da Petrobras e dos fundos de pensão. Sua biografia une a direção da CUT-Rio, Dirceu, os ex-governadores Anthony Garotinho e Benedita da Silva, o presidente do PT-Rio Washington Quaquá, o deputado suspenso Eduardo Cunha e figuras como Ricardo Magro, dono de 21% do grupo Galileo.

Preso ontem, Magro está no centro de uma fraude a 350 mil associados da Petros e Postalis — negócio de R$ 80 milhões com debêntures de universidades, que prejudicou também 15 mil estudantes no Rio, na maioria pobres e dependentes do crédito governamental.

É notável o silêncio sobre as maracutaias no crédito consignado ao funcionalismo, na Petrobras e nos fundos estatais, entre outras. É a trilha sonora das fissuras na maior base sindical do PT: 46% dos vinculados à CUT pertencem ao setor público.

Não vão se corromper, hein! - KIM KATAGUIRI

FOLHA DE SP - 28/06

Recentemente, dois colegas de movimento, Fernando Holiday e Rubens Nunes, anunciaram suas respectivas pré-candidaturas às eleições municipais de 2016. Holiday se prepara para disputar uma cadeira de vereador em São Paulo; Nunes, a Prefeitura de Vinhedo, cidade do interior de São Paulo.

Já era esperado que as viúvas do PT espumassem, em discursos retrógrados e odiosos, sua revolta contra a mudança e contra a ascensão política de uma nova geração. O problema é que, sem perceber, muitas pessoas que compartilham das ideias do movimento adotam perspectiva similar.

Antes de anunciarmos que inúmeros coordenadores do MBL vão se candidatar país afora, muitos apoiadores do movimento perguntavam se pretendíamos "entrar para a política". Ora, o MBL, desde que surgiu, só atuou dentro da política. Manifestações de rua, protestos nas galerias do Congresso Nacional, pressão corpo a corpo nos gabinetes e nas bases eleitorais de deputados e senadores, campanhas e denúncias nas redes sociais... Tudo isso é política.

Você que se manifesta pelo impeachment de Dilma Rousseff também "entrou para a política", ainda que não tenha se dado conta disso. Disputar eleições é apenas mais uma frente de batalha dos eternos embates políticos.

Lembro-me que, na manifestação do dia 13 de março, um homem se aproximou de mim e do Fernando e disse que confiava em nós, que esperava que não nos corrompêssemos. "Obrigado, espero que o senhor também não se corrompa!", respondi. Ele estranhou: "Ué, por que eu iria me corromper?" Repeti a pergunta. Ele sorriu. Entendeu que, para qualquer pessoa honesta, aquela advertência não fazia o menor sentido.

Não acredito no velho ditado que diz que "a ocasião faz o ladrão". Não acredito que as pessoas sejam cem por cento moldadas pelo meio em que vivem e que não possam fazer nada sobre isso. Acredito em valores, em virtudes. Se partirmos da premissa de que a política institucional é uma espécie de mão de Midas às avessas, que corrompe tudo o que toca, é mais inteligente não votar, não se manifestar, ficar em casa. Afinal, de que adiantaria sustentar um troca-troca permanente de ladrões?

É compreensível que, em meio ao mar de lama no qual a política brasileira foi jogada, haja certo preconceito contra todos aqueles que demonstrem disposição de disputar cargos eletivos. Mas assumir que a política e o lamaçal são a mesma coisa é um erro grave, que só é do interesse de quem está afundado no pântano e quer nivelar por baixo todos aqueles que representam uma ameaça ao seu criminoso modo de fazer política.

A política não é uma ferramenta perfeita que, magicamente, resolverá todos os nossos problemas. Mas é o que temos. Não existe panaceia. A história nos mostrou que sempre que salvadores da pátria se apresentaram para criar um mundo melhor, ignorando a política, houve ditadura. E ditaduras, sejam elas de esquerda, de direita ou diagonais, não me interessam.

Adotar um discurso conformista e derrotista não adianta nada. Nivelando toda a classe política por baixo, sem exceções, tornamo-nos eternos reféns de canalhas que vivem de saquear a coisa pública. Se não mudarmos as pessoas, não mudamos as instituições.


No cravo e na ferradura - ELIANE CANTANHÊDE

O Estado de S. Paulo - 28/06

Querem saber o efeito da perícia sobre as “pedaladas fiscais”, os créditos suplementares e a culpa ou não da presidente afastada Dilma Rousseff? Apesar da inegável competência dos autores, o calhamaço não muda absolutamente nada, porque dá uma no cravo, outra na ferradura: dá mais argumento para os dois lados e reforça o que está colocado, debatido e gritado desde o primeiro dia pelos senadores que são a favor e contra o impeachment.

Pelo relatório, tanto os decretos de créditos suplementares quanto as manobras contábeis, conhecidas como “pedaladas fiscais”, foram erros (ou crimes...), mas Dilma só pode ser responsabilizada (ou culpada) pelos créditos, não pelas pedaladas. Ok. Significa que os dilmistas dizem que “está comprovado” que não houve crime de responsabilidade nas pedaladas e os pró-impeachment rebatem dizendo que “está comprovado” que houve, sim, nos decretos.


Para os senadores dilmistas, desde o início do processo de impeachment, e para as testemunhas de defesa, que se revezam semana após semana, o argumento mais batido é o de que a presidente, enquanto presidente, não tinha obrigação nenhuma de saber das “pedaladas”, nem que eram “pedaladas”, nem que eram ilegais. Já para os senadores anti-dilmistas e os autores da ação de impeachment, ela, enquanto presidente, era obrigada a saber e é responsável pelos atos de governo.

Dando nomes e caras aos argumentos: o ex-ministro e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, atual defensor de Dilma, admite que houve pedaladas, mas Dilma não tinha responsabilidade sobre elas. Já o senador Aloysio Nunes Ferreira, ex-líder do PSDB, ironiza: “Ele (Cardozo) inventou um crime sem réu, mas a Dilma era presidente da República do Brasil, não presidente da República de Marte. Logo, responsável pelo que acontecia”.

Como esse embate vem desde a petição, ainda na Câmara, e já passou pelo acatamento no Senado, a perícia divulgada ontem, com suas centenas de páginas, é apenas mais um maço de documentos para uns usarem de um jeito e outros do jeito oposto, ambos visando um único alvo: a opinião pública. Mas, de prático, de concreto, não altera a tendência pró-impeachment nem deve mudar um único voto na comissão e no plenário.

Mais do que um relatório ou perícia, dois fatores pesam para o voto final de cada senador, sobretudo dos que ainda se colocam publicamente como “indecisos”, mas todo mundo sabe, dentro e fora do Congresso, que não são tão indecisos assim. Um fator é o “conjunto da obra” de Dilma, principalmente o desastre na economia, amplificado pela quebra de encanto ético do PT, que acaba de piorar com o anúncio de uma roubalheira insana no crédito consignado de servidores públicos. O outro fator é a opinião pública.

Em recente visita ao Comando da Aeronáutica, seguida de almoço, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), listado como “indeciso”, não fez a menor questão de tergiversar ou de dourar a pílula, ao deixar claro que não tem muita saída. Ele será candidato em 2018, provavelmente a governador em Rondônia, Estado com forte predominância do agronegócio e com altíssimo índice de rejeição a Dilma. Não foi à toa que todos os oito deputados federais votaram a favor do impeachment na Câmara. “Como vou votar contra?”, antecipou Gurgacz aos militares.

Em sendo assim, a comissão do impeachment vai se alongando e se tornando mais e mais enfadonha, com os senadores dilmistas se esgoelando, as testemunhas de defesa repetindo os mesmos argumentos, o relatório da perícia engordando a pilha de documentos e... tudo continua sendo apenas uma questão de tempo. Se não houver uma hecatombe, o destino de Dilma está selado. Cá para nós, até o PT está se cansando dessa lengalenga sem fim, em que ninguém lucra. Muito menos um país que convive com dois presidentes. Surreal.


E o Braxit, hein? - CARLOS ALEXANDRE

CORREIO BRAZILIENSE - 28/06

A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, evento comparado à queda do Muro de Berlim em importância histórica, surpreendeu o mundo, o continente e os próprios britânicos. Um dia após o referendo de quinta-feira passada, centenas de milhares de súditos da rainha reivindicam a realização de uma segunda votação; mas tanto o demissionário David Cameron quanto a cúpula europeia descartam qualquer possibilidade de revisão. Em um paradoxo da era da hiperinformação, uma multidão de internautas procurou no oráculo Google o que significa a União Europeia. Tentava entender - muito tarde - o projeto que ajudou a reconstruir um continente devastado pela Segunda Guerra Mundial e evitou conflitos bélicos por 50 anos. Nenhum desses argumentos favoráveis foi capaz de demover o eleitor britânico dos temores que fundamentam o Brexit: a imigração e o desemprego, efeitos da globalização.

Por aqui nestes trópicos, o divórcio entre Londres e Bruxelas suscitou um debate livre - batizado de Braxit - sobre uma eventual defecção brasileira do Mercosul. Em entrevista ao Correio e a outros jornais, o presidente Michel Temer sinalizou que o bloco econômico está em avaliação. Não é segredo que o Mercosul apresenta profundas lacunas, pela simples razão de que afeta pouco ou quase nada os cidadãos. Exceto a dispensa de passaporte na imigração dos países e algumas outras facilidades, são muitos sutis os efeitos do bloco econômico no cotidiano dos países integrantes. Mais grave é a ineficiência comercial do bloco, formado por economias heterogêneas e com dificuldade em estabelecer acordos benéficos a todos os integrantes.

Desde que foi criado, o Mercosul acumula perdas competitivas em relação a outras iniciativas comerciais, como o tratado de comércio Transpacífico. Com a mudança de ares na política externa brasileira, há um indicativo de que o governo pretende investir em negociações bilaterais, sem necessariamente anular o Mercosul. Trata-se de equação complexa - e exatamente por esse motivo precisa ser resolvida o quanto antes.

O fenômeno Brexit e as críticas ao Mercosul revelam uma variável importante do nosso tempo: o contraste entre o interesse nacional e a globalização. Os britânicos mostraram que estão mais preocupados com o que acontece em seu território, sem levar em conta os benefícios que o Reino Unido obtinha no continente europeu. Como os governos do Mercosul estão longe de alcançar os feitos obtidos na Europa, tem-se a sensação de que o bloco virtualmente não existe. Essa percepção popular não está de todo equivocada.


O ato que de fato existe - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 28/06

É impossível não haver ato do chefe do governo numa política sistemática de uso dos bancos públicos. Quem acompanhou os fatos sabe o que houve em relação às pedaladas e não pode deixar de responsabilizar a presidente Dilma pelo uso abusivo dos bancos públicos em afronta à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Peritos, por dever de ofício, tiveram que analisar apenas o que foi pedido, mas a verdade é mais ampla.

A perícia pedida pela defesa concluiu que não houve ato da presidente na pedalada de 2015. Os peritos analisaram apenas os atrasos em relação ao subsídio aos proprietários de terra concedido através do Banco do Brasil, no chamado Plano Safra. A conclusão é que foi pago R$ 1,05 bilhão de juros por atrasos em 2014 e R$ 1,13 bilhão em 2015 porque as parcelas que o Tesouro deveria pagar de janeiro a novembro foram atrasadas. O relatório conclui, depois de analisar prazos de pagamentos e regulamentações, que “os atrasos nos pagamentos devidos ao Banco do Brasil constituem operação de crédito, tendo a União como devedora, o que afronta ao disposto no artigo 36 da LRF”. Mas, segundo os peritos, não foi identificado “ato comissivo” da presidente “que tenha contribuído direta ou indiretamente para que ocorressem os atrasos”.

O papel dos peritos é apenas ver se houve crime e constatar se há digitais. Ou seja, alguma assinatura da presidente, alguma ordem para que assim o Tesouro se comportasse. Eles analisam a fotografia. É preciso ver o filme. A verdade cristalina é que os atrasos em relação aos bancos públicos aconteceram a partir de 2013, e escalaram num nível escandaloso em 2014. Isso foi feito para maquiar as contas públicas. A partir da Secretaria do Tesouro e do Ministério da Fazenda foram adotados inúmeros truques contábeis, sobre os quais o leitor desta coluna foi alertado várias vezes. Os jornalistas que acompanham as contas do governo fizeram matérias em todos os jornais falando sobre isso. Chamávamos de manobras, truques, alquimias, contabilidade criativa, manipulação. Houve um momento em que o apelido que pegou foi o de “pedalada”: o governo mandava o banco pagar e jogava para frente o seu desembolso. A ideia mais clara, mais compreensível, desse jogar para frente, foi resumida na palavra “pedalar”.

Em 2015, por orientação do ministro Joaquim Levy, isso começou a ser corrigido. O ano sobre o qual a Comissão de Impeachment se debruça é o que menos registrou irregularidade. A equipe da Fazenda estava decidida a resolver os assuntos e várias distorções foram eliminadas. O problema é que a herança recebida do Dilma I pelo Dilma II foi pesada demais e o governo ficou atolado no problema. Tentou-se resolver e só foi possível no final do ano, abrindo-se um rombo inédito, até então, no resultado primário.

Realmente não há uma ordem assinada por ela mandando jogar a conta sobre o Banco do Brasil. O que houve foi uma omissão deliberada da presidente, que mesmo sendo informada, pelos jornais que seja, de tudo que estava ocorrendo no Tesouro em 2014, fez de conta que não viu. Era conveniente porque assim ela teria mais espaço para políticas populistas — destinadas aos pobres e, principalmente, aos ricos — em ano eleitoral. No ano seguinte, a conta que chegou foi tão alta que não foi possível corrigir imediatamente. É óbvio, contudo, que a presidente sempre soube do que faziam na Secretaria do Tesouro. Se de nada soubesse era o caso de inabilitá-la para atividades executivas por absoluta incapacidade. Os atos da presidente Dilma desataram a confusão fiscal na qual estamos mergulhados, para a infelicidade geral da nação.


O senhor governabilidade - RAYMUNDO COSTA

Valor Econômico - 28/06

Num momento em que parece haver certo consenso de que o sistema político se esgotou e que a reputação do Congresso chegou ao fundo do poço, o presidente interino Michel Temer levou para o Palácio do Planalto uma ótica bem mais compreensível, alguns diriam leniente, das relações com Executivo com o Legislativo. Não por acaso. Temer passou 23 anos de sua vida pública na Câmara dos Deputados, que presidiu três vezes, foi constituinte, vice-líder e lider do PMDB, partido que comanda há mais de dez anos, que há muito se considera o grande fiador da governabilidade.

Temer preside o PMDB desde o fim dos anos Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e dos quatro mandatos do PT na Presidência da República, primeiro às turras com Lula, depois como aliado e por fim vice da presidente Dilma Rousseff, cujo lugar agora ocupa. Talvez só José Sarney (1985-1990), entre os presidentes do pós 64, tivesse tanta experiência parlamentar quanto Temer, ao ocupar o Palácio do Planalto. Com o afastamento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff, o curto governo Temer será o grande teste da "governabilidade" pelas mãos do mais expressivo representante do "pemedebismo" - um achado do professor Marcos Nobre.

A relação de Temer com o Congresso é regida por uma gramática própria. O presidente interino, por exemplo, é incapaz de formular uma crítica a Waldir Maranhão (PSC-MA), o caricato vice-presidente da Câmara dos Deputados que assumiu no lugar do presidente afastado Eduardo Cunha. A jornalista Tânia Monteiro, de "O Estado de S. Paulo", bem que tentou: "Vamos combinar que um Waldir Maranhão na presidência da Câmara é o fundo do poço", ela provocou. "Cada um tem seus atributos, eu não...", ensaiou Temer. "Qual atributo?", insistiu a repórter. E Temer, sem mover um único músculo do rosto: "Ele é parlamentar, não é? Portanto, com todos os direitos do mandato parlamentar".

Se Temer acha que o atual Congresso é pior ou melhor do aquele que encontrou em 1987, na Assembleia Nacional Constituinte, não diz. Conhece todas as críticas feitas ao Legislativo, mas vê nelas também preconceito. Ele próprio, então professor de direito constitucional, quando chegou ao Congresso olhou com certo desdém de preconceito para os colegas. Perguntava-se como eles iriam produzir um novo Estado. Achava então que só um sábio poderia "produzir um Estado".

Até entender exatamente o que era "representação popular", foi um longo aprendizado. Um dia um colega o convidou para uma "churrascada" - o termo é dele - num bairro de São Paulo. Ficou um domingo inteiro. A conversão se deu quando Temer compreendeu que não conseguia vocalizar os anseios das pessoas que estavam na "churrascada". Vocalizava, sim, os anseios das áreas jurídica e universitária, na condição de professor de direito constitucional, e da segurança pública, uma vez que foi secretário de Segurança Pública de São Paulo. Eram os colegas que subestimara, ao chegar à Constituinte, que falavam pelo pessoal de seu domingo na periferia. "Então eu entendi o que é exatamente a representação popular".

O problema, para Michel Temer, não é saber se o Congresso melhorou ou piorou ao longo do tempo, mas saber se todos os setores sociais estão devidamente representados. O que ocorre é o "voto contrariado", mas isto o próprio sistema permitiria corrigir, ao dar ao eleitor a possibilidade de consertar o seu equívoco na eleição seguinte.

Todos os presidentes que antecederam Temer no Palácio do Planalto, em algum momento, falaram de reforma política. Nenhum foi em frente pra valer. Temer seria então "o cara" para finalmente tirar a proposta do papel? Ele mesmo vê de uma forma diferente: a reforma deve ser uma atividade do Poder Legislativo. Mas ele se candidata a ser um grande "incentivador". Acha que é indispensável fazer a reforma e que "a cultura interna do Legislativo" está preparada para isso. Mas como bom entendedor do Congresso avisa: é melhor ir devagar, por partes.

Paulo Bernardo e o PT

Merece atenção a nota que o PT divulgou condenando a ação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal na sede do partido, na sexta-feira. Não há uma palavra sobre ação semelhante no apartamento da senadora Gleisi Hoffmann, duramente criticada pela bancada de senadores petistas, e muito menos sobre a prisão de Paulo Bernardo, petista de linhagem e ex-ministro dos governos Lula (Planejamento) e Dilma Rousseff (Comunicações).

As notas da direção do PT costumam trazer recados nas entrelinhas. Mais tarde, a direção do PT se solidarizou com a bancada dos senadores em relação à busca e apreensão no apartamento funcional de Gleisi, mas os militantes ouviram com nitidez o silêncio que a direção fez sobre Paulo Bernardo e dois outros companheiros presos na mesma operação da PF, o ex-tesoureiro Paulo Ferreira e o secretário de gestão da Prefeitura de São Paulo, Valter Correia.

"A respeito das acusações assacadas contra filiados do partido, é preciso que lhes sejam assegurados o amplo direito de defesa e o princípio da presunção de inocência", diz a nota, muitos decibéis abaixo de outras emitidas pela cúpula petista em relação a militantes apanhados no curso da Lava-Jato ou do mensalão, tratados como guerreiros do povo brasileiro. Só na segunda prisão de Dirceu o PT baixou o volume. Quando o ex-senador Delcídio do Amaral (MS) foi preso tramando contra a Lava-Jato, recusou solidariedade ao companheiro.

Embora integrante do grupo majoritário que controla o PT, Bernardo sempre teve dificuldades de relacionamento político com a direção partidária. Partido e ministro estiveram em lados opostos, por exemplo, no que diz respeito ao controle social dos meios de comunicação, defendido por amplos setores do PT. Mas não é por isso que silencia o PT. A razão talvez possa ser encontrada na natureza das diversas denúncias contra o PT.


A era da incerteza - RUBENS BARBOSA

O Estado de S. Paulo - 28/06

O Reino Unido (RU) nunca se engajou plenamente na União Europeia (UE), pois sempre se orgulhou de ser uma ilha isolada do continente. Desde o início do processo de integração regional, a sociedade e os partidos políticos se dividiram. Apesar das muitas vantagens de participar do bloco, pesava o apreço pela independência, pelas próprias peculiaridades e a consciência de sua influência mundo. Ao longo do tempo, em vista de sua hesitante participação e de seu euroceticismo, conseguiu um status especial na comunidade ao optar por ficar fora da zona monetária do euro e manter o controle de suas fronteiras ao não aderir ao tratado de livre movimentação de pessoas, evitando assim uma integração política mais profunda.

Tantas eram as discordâncias em relação ao tema dentro de seu próprio partido que o primeiro-ministro David Cameron convocou um referendo para que os britânicos decidissem se o país deveria ou não permanecer como membro da UE. O referendo do dia 23 ocorreu num momento delicado para a UE: baixo crescimento econômico, desemprego, grande afluxo de refugiados, sobretudo do Oriente Médio, discussão sobre a entrada da Turquia, crescente tensão com o islamismo e ameaças de terrorismo.

A decisão de sair da UE prevaleceu em todas as regiões do país, à exceção de Londres, da Escócia e da Irlanda do Norte. Venceu o sentimento de ceticismo quanto aos ganhos trazidos pela integração regional e a crítica – dos que pregavam a autonomia – de que o país havia perdido sua soberania e estava sendo governado pela burocracia supranacional da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Até a negociação da saída da UE, segundo ritual definido pelo artigo 50 do Tratado de Lisboa, o RU continuará a participar das decisões e das negociações regionais. O resultado do referendo, porém, já começou a produzir efeitos internos políticos e financeiros, como se viu nos últimos dias, e terá profundas consequências, tanto para o RU como para a UE, em médio e longo prazos.

Para o Reino Unido, a incerteza política e institucional começou com a renúncia do primeiro-ministro e com a disputa pela liderança do Partido Conservador e se ampliou com a possível convocação de consulta popular para decidir sobre a separação da Escócia, pondo fim ao Reino Unido.

Na macroeconomia, a dar-se crédito aos argumentos do governo para permanecer na UE, poderá haver uma queda no crescimento do PIB entre 3% e 6%, recessão, desvalorização, desemprego, aumento da inflação, redução do investimento direto com impacto negativo sobre as empresas. Londres, como principal centro financeiro da Europa, poderá ser afetada pela saída de instituições financeiras para Frankfurt ou Paris.

No comércio global e na defesa (não deverá haver mudança no tocante à participação na Otan) e segurança internacionais (combate ao terrorismo), terão de ser redefinidos os termos em que se fará a cooperação bilateral. A divulgação de números crescentes de imigrantes no Reino Unidos em 2015 – uma das principais causas do resultado negativo do referendo – deverá levar a restrições na legislação, com o risco de aumentarem os atritos na sociedade britânica.

Duas são as opções que se abrem para o RU na negociação com a UE: a primeira é tornar-se membro da Área Econômica Europeia, como a Noruega, ser obrigado a contribuir para o orçamento da UE e permitir a livre movimentação de pessoas (duas das objeções do RU); a segunda é retirar-se inteiramente, comerciando com a UE de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio, como qualquer outro país (o que parece mais factível, apesar das dificuldades decorrentes das grandes transformações porque passam as negociações comerciais).

Para a União Europeia, a incerteza quanto ao futuro poderá aumentar caso outros países, também descontentes com os rumos do processo de integração, iniciem movimento semelhante de separação. Haverá um impacto importante no processo legislativo europeu, já que o RU, mais liberal, moderno e eficiente, funciona como um contrapeso na comissão à tendência mais estatizante e regulatória de países como a França. Partidos independentistas na Dinamarca, Holanda, França e Itália pedem a realização de referendos. Em 2017 haverá eleições presidenciais na França e na Alemanha e esse será um tema importante na campanha eleitoral. A reação inicial dos países-membros foi a de acelerar as negociações para a saída do Reino Unido a fim de fixar critérios rígidos para evitar o questionamento de outros países. França e Alemanha já sinalizaram a necessidade de mudanças nas políticas da União Europeia e consideram a saída do RU como um turning point no processo de integração europeu. Termina o mito da irreversibilidade do processo de integração regional, abalado pela emergência de sentimentos nacionalistas, xenófobos e populistas, como é o caso da francesa Marine Le Pen, contra o establishment nacional e comunitário.

O Brasil, no curto prazo, fica afetado indiretamente pela turbulência momentânea nos mercados e nos fluxos financeiros. No médio e no longo prazos, a velocidade da negociação do acordo Mercosul-UE poderá ser afetada pelo possível atraso nos entendimentos em razão dos desdobramentos internos no bloco europeu e pelo fortalecimento da visão protecionista, liderada pela França, em detrimento da percepção liberal do RU. Por outro lado, a mudança da legislação interna britânica sobre imigração poderá afetar uma parcela (não todos) dos brasileiros que vivem no RU.

A exemplo de Donald Trump, que quer “tornar os EUA grandes novamente”, o líder do Partido da Independência do Reino Unido quer “recuperar a soberania” de seu país.

Em termos mais gerais, poderemos estar assistindo ao início de uma reconfiguração da Europa e de um desafio para a ordem mundial estabelecida pelos EUA em 1945, no pós-guerra.

*Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp


O triunfo da estupidez - ARNALDO JABOR

O GLOBO - 28/06


“Como podem 60 milhões de pessoas serem tão estupidas?” Essa foi a manchete de capa do jornal inglês “The Guardian”, quando Bush foi reeleito. E hoje? 52 milhões de imbecis jogaram fora a Grã Bretanha por ignorância e velhice (a maioria era de velhos burros). Como sentenciou o “The Economist”, “foi um gesto de automutilação”, “impensado, preconceituoso”.

Vocês viram aquele sósia do Trump, o Boris Johnson, ex-prefeito de Londres? Pois é, na ultima hora ele traiu o babaca do Cameron, que convocou aquele plebiscito desnecessário e imprudente, e liderou o “leave”. Esse Boris é um rato igual ao Trump: o mesmo cabelinho louro, mesmas fuças boçais, mesmas frases agressivas e populistas para o povo entender, ou melhor, “não entender” a complexa situação econômica e política de hoje. O Reino Unido tem uma eterna saudade do império que se estendeu ao mundo todo. Ainda se sentem donos de um passado glorioso. Usando essa estupidez, Boris arrasou o Reino Unido.

O triunfo da barbárie, da estupidez está no mundo todo. A Síria agoniza nas mãos daquele assassino Assad, que destrói o próprio país, envia milhões de desgraçados para a Europa e não pode ser destruído porque o outro assassino, Putin, não deixa. Esse outro canalha tem bomba atômica e se vale disso. Pode?

O Oriente Médio se estraçalhou, a “primavera” virou inferno, e todo o horror dessa zona geral migra para o Ocidente, aumentando a bagunça institucional da crise agora acirrada por aquele “Trump inglês”.

E, por outro lado, já imaginaram aquele Trump americano, um doente mental sem escrúpulos, com os dedos nos botões de guerra nuclear? Espero que não seja eleito, mas sua presença já mostra que a democracia pode ser um perigo quando cai nas mãos da ditadura da chamada “maioria silenciosa” (Tocqueville). A única coisa boa dessa repulsiva figura é mostrar a verdadeira cara do partido Republicano, aquele antro de fundamentalistas, o El da América.

Esse plebiscito inglês foi o primeiro sinal. Com o mundo tão incompreensível, a tendência das pessoas mais burras é se isolar, ter a nostalgia de um passado que pensam que era bom, com ódio e rancor contra a “lenta” democracia. A imediata atitude é o nacionalismo como o envoltório de um narcisismo boçal, a recusa à convivência com contrários. Os estúpidos amam o autoritarismo. Por isso, hoje pululam ditadores, desde o ratinho atômico da Coreia do Norte até os Maduros e aquela fascista Le Pen.

Como é o “design” da estupidez? A estupidez, antes de tudo, é uma couraça. A estupidez é um mecanismo de defesa. É o bloqueio de qualquer dúvida de fora para dentro, é o ódio a qualquer luz que possa clarear as deliciosas trevas onde vivem. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez ele disse em Yale: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA”. E aí, invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente.

Mesmo inconscientemente, aqui e lá fora, sociedades estão famintas por tiranias rápidas. A democracia decepciona as massas porque é muito complexa para ser entendida. O homem comum de hoje não entende mais nada. Assim, adotam apelos populistas, invenção de “inimigos” do povo, divisão entre “bons” e “maus”.

E aqui , como se comporta a estupidez?

Bem, estamos saindo, se Deus quiser, da maior onda de estupidez justificada teoricamente, desde Cabral. A pretensa “esquerda” que se apossou do país há 12 anos fez tudo ao contrário do que deveria. Por quê? Porque são incompetentes? Sim, claro que são; mas a razão é mais estúpida ainda. Fizeram tudo ao contrário, pois acham que o certo está no oposto. Já disse e repito (gostei da frase) que para o comuna típico, o óbvio é “de direita”.

Os estúpidos são militantes, têm fé em si mesmos e têm a ousadia que os inteligentes não têm. Mas o sujeito também pode ser culto e burro. Quantos filósofos sabem tudo de Hegel ou Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem três ou quatro verdades que eles chupam como picolés. Nosso futuro era determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos.

Esses gênios, em seus latifúndios teóricos, trouxeram-nos a suprema estupidez regressista, um desejo de voltar para a taba, para o casebre com farinha, paçoca e violinha. Assim, teríamos um país solidário, simplesinho – um doce rebanho político que deteria a marcha das coisas do mundo, do mercado voraz, das pestes e, claro, dos “canalhas” neoliberais.

Aqui, também assistimos à vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância com fome de sentido, é a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.

Em nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos pobres, uma “sabedoria” que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contra-reformista, de que a pobreza é a moradia da verdade.

Aqui e no planeta, o que está rolando hoje é um irracionalismo auto- mutilador, uma estupidez desorientada, a ilógica como lógica. Crescem em toda parte ideologias nacionalistas, sempre pautadas pela exclusão do outro, sejam imigrantes famintos, sejam muçulmanos pacíficos, sejam os inimigos do PT.

A burrice tem a “vantagem” de “explicar” o mundo. Não querem frescuras complexas, sutis, situações políticas democráticas. Preferem a estupidez como solução. O diabo é que a estupidez no poder chama-se “fascismo”.


Educação de qualidade para todos? - CLAUDIA COSTIN

O Estado de S. Paulo - 28/06

Num livro publicado há poucos meses, Helping Children Succeed, Paul Tough observa, com tristeza, que o déficit de aprendizagem entre alunos de 8.º ano, provenientes de diferentes estratos de renda, vem crescendo nos Estados Unidos, ao invés de diminuir, a despeito dos esforços para mudar a situação. O país tem apresentado não apenas desempenho incompatível com seu grau de desenvolvimento, como tampouco conseguiu evitar que os mais pobres tenham um ensino ainda mais precário.

O mesmo pode ser dito em relação ao Brasil. Celebramos importantes avanços no Pisa de 2012, mas ainda estamos em posição inaceitável entre as 65 economias que participam desse teste internacional de qualidade da educação. Mais ainda, a despeito de sermos o país que mais avançou em Matemática, de 2003 para 2012, ainda temos 67,1% dos alunos com baixo desempenho na área. O tema de maior dificuldade para os alunos brasileiros, em que tivemos o menor desempenho, foi o de “formular situações matematicamente”, competência relevante para diversas profissões e áreas de pesquisa. Só 1,1% dos alunos apresentam desempenho elevado. Mas o que se mostra particularmente cruel para os que acreditam que educação é o caminho para gerar oportunidades para todos é a profunda desigualdade educacional do nosso país, tanto no acesso e na conclusão de cada etapa de escolaridade quanto no desempenho escolar ou na aprendizagem.

Estive recentemente em Xangai, cidade chinesa, com mais de 23 milhões de habitantes, que obteve o primeiro lugar entre as economias que participaram do Pisa. Fui lançar um estudo do Banco Mundial sobre as razões do excepcional desempenho da cidade. Em solução de problemas, por exemplo, Xangai ficou em 6.º lugar no Pisa 2012 entre 44 países ou sistemas regionais – o Brasil ficou na 38.ª posição. Embora conte com número importante de alunos em situação de pobreza, estudantes que se encontram entre os 10% mais pobres de Xangai são tão bons em Matemática quanto os 20% de adolescentes mais ricos do Reino Unido e dos Estados Unidos. Ou seja: Xangai não tem apenas o melhor desempenho em Matemática e um dos melhores em leitura e Ciências; é também um dos mais igualitários, apesar de contar com uma proporção elevada de migrantes internos.

O que fazem de excepcional para chegar lá? Os professores são preparados para uma profissão e o currículo na universidade enfatiza o conhecimento do conteúdo a ser ensinado e a prática em sala de aula, incluindo a didática específica daquela área. Além disso, a universidade reúne-se com os professores da escola para analisar, com eles, problemas de aprendizagem que lá tenham emergido e, juntos, constroem soluções possíveis com os recursos disponíveis. Outro ponto importante é que os professores têm seu tempo de atividades extraclasse dentro da escola (e não fora dela, como em muitas escolas brasileiras), corrigindo tarefas escolares e preparando planos de aula minuciosos, com base no currículo e em colaboração com os colegas. Observam, também, as aulas dos colegas e juntos discutem o que pode ser aperfeiçoado.

Não escrevo isso para que pensemos em copiar o modelo dessa megacidade chinesa, mas para que possamos perceber que é possível ter qualidade para todos. A escolaridade dos pais e a situação socioeconômica da família têm forte papel no desempenho escolar dos alunos. Afinal, interpretação de textos, por exemplo, depende muito do repertório cultural adquirido pelo aluno, e é sabido que importante parte dele vem da família. Mas a escola pode, deve e tem conseguido, em muitos casos, garantir o direito de aprender de crianças mesmo vindas de famílias de reduzida escolaridade ou situação socioeconômica adversa. Xangai ilustra isso, várias escolas no Brasil também o fazem, como mostra o interessante estudo da Fundação Lemann Excelência com Equidade – 250 escolas públicas com alunos de nível socioeconômico situado entre os 25% mais baixos da região onde estavam localizadas, e com pelo menos 70% dos alunos com nível adequado em Matemática e Língua Portuguesa na Prova Brasil e, no máximo, 5% de alunos no nível insuficiente, evidenciaram que é possível aliar qualidade e equidade. Duas delas estão localizadas no Rio de Janeiro, e tive a oportunidade de visitá-las. O que têm em comum? Metas claras e uma equipe de professores comprometidos com um ensino que assegure que todos aprendam.

Mas como garantir que o exemplo dessas escolas seja estendido às demais no Brasil que concentram crianças em situação de pobreza? As condições de sucesso escolar para alunos em situação de vulnerabilidade podem ser melhoradas, e muito, se houver uma política pública que assegure a atração e retenção de bons professores e lhes dê material de apoio adequado, conte com uma educação de qualidade e cuidados na primeira infância. Se investirmos mais em remunerar melhor o professor, alocá-los numa única escola, com tempo para ali, colaborativamente, preparar suas aulas e aprender com os colegas, ajudaria. Se tornarmos a formação inicial do professor mais adequada aos desafios da sala de aula, e não enfatizarmos apenas os fundamentos da educação, também ajudaria. Mas se pudermos, além disso, reduzir o impacto das condicionantes socioeconômicas no desempenho escolar do aluno, por meio de um investimento forte e focado em educação infantil de qualidade e cuidados na primeira infância, poderemos, aí, sim, combinar qualidade com equidade, como preconiza o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável, recém-aprovado pela ONU, para a educação (ODS-4), a ser atingido até 2030: “Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.

Não é muito difícil garantir educação de qualidade para poucos, mas o princípio da equidade demanda que isso seja estendido a todos – daí o nosso grande desafio!

*Claudia Costin é diretora global de educação do Banco Mundial

Partido dos Arrependidos - BERNARDO MELLO FRANCO

Folha de S.Paulo - 28/06

O Reino Unido ainda não deixou a União Europeia, mas milhares de britânicos que votaram a favor do rompimento já estão arrependidos. A queda abrupta da libra e a ameaça de caos econômico criaram um clima de ressaca no país. Os jornais estão cheios de depoimentos de eleitores envergonhados. Muitos torcem por um novo plebiscito, na esperança de corrigir o próprio voto.

A maioria dos arrependidos diz que queria protestar contra o sistema político, mas não refletiu sobre o dia seguinte. "Foi estupidez da minha parte. Pedi desculpas à minha mulher e aos meus dois filhos", contou o pesquisador Adrian Cook ao jornal "The Guardian", que apoiava a permanência na União Europeia.

O tabloide "The Sun", que fez campanha pelo rompimento, trocou a euforia pelo ar de contrição. O colunista Kelvin MacKenzie se comparou a um cliente que compra um produto e se arrepende ao sair da loja. "É um sentimento de 'cuidado com o que você deseja'. Para ser sincero, estou com medo do que vem pela frente", escreveu.

O noticiário pós-plebiscito não está nada bom para os vencedores. Em apenas quatro dias, eles assistiram ao desmanche do governo, ao rebaixamento do país pelas agências de risco e, mais grave, à multiplicação dos ataques a imigrantes. Parece que os grupos racistas estavam apenas esperando um sinal verde, o voto contra a Europa, para sair das trevas.

O clima de remorso político não é exclusividade britânica. No Brasil, a rejeição a Dilma Rousseff foi turbinada por milhões de eleitores que acreditaram em lendas eleitoreiras como a redução das contas de luz.

Agora o Partido dos Arrependidos ganha a adesão de defensores do impeachment que sonharam com o fim da corrupção e acordaram num país governado pelo PMDB. No domingo (26) à noite, enquanto muitos dormiam ou assistiam à final da Copa América, Michel Temer recebia o réu Eduardo Cunha no Palácio do Jaburu. Não devem ter conversado sobre futebol.

Brexit abala ordem mundial do Ocidente pós-1945 - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 28/06

Decisão dos britânicos de sair da UE revela força de populismos extremistas, à esquerda e à direita, contra valores da democracia e da cultura moderna

A decisão dos britânicos de deixarem a União Europeia é um abalo sísmico de proporções históricas, cujos choques ainda não foram avaliados em toda sua magnitude. Mas, estima-se que o Brexit terá impacto corrosivo na ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra, que garantiu décadas de estabilidade política e prosperidade econômica ao continente.

A decisão ameaça desintegrar a UE — e o próprio Reino Unido —, com consequências para todo o mundo. Ela também evidencia a força de uma justificação moral populista que, à direita e à esquerda, vem contagiando parcelas cada vez mais expressivas de uma população inconformada, a ponto de, como no Brexit, optar por posições tão fantasiosas quanto perigosas.

Sinais de desencanto ante valores culturais do Ocidente aparecem por toda a parte, sobretudo na emergência de partidos populistas extremistas, porta-vozes de valores que ressoam velhas retóricas nacionalistas, de fechamento de fronteiras, contra os processos de integração global. Os exemplos estão por toda parte, da Grécia, onde a coalizão de esquerda radical Syriza chegou ao poder com um discurso de ruptura, aos países do leste da Europa cuja voz contra imigrantes e refugiados evocam o nazifascismo.

E o fenômeno não se restringe à Europa. Nos EUA, a alta popularidade de candidatos como Donald Trump e Bernie Sanders, na corrida à Casa Branca, revelam o grau de desconfiança com o chamado “mainstream” político. Tampouco está restrito a países ricos. A América Latina precisou passar por duras evidências do desatino político do populismo, antes de começar a duvidar de experimentos como o bolivarismo.

O baixo crescimento dos últimos anos minou a confiança da opinião pública na economia liberal, devido a seus efeitos sociais, como desemprego, empobrecimento e instabilidade, sobretudo entre a juventude. A percepção de um modelo sólido e saudável também foi afetada pela atuação perversa de uma elite financeira, beneficiada por práticas especulativas predatórias ao sistema, que levaram à crise global de 2008.

Por causa da crise, mas também devido a conflitos geopolíticos, étnicos e religiosos, o mundo sofre hoje o maior surto migratório desde o pós-1945. O êxodo alimenta retóricas de ódio e xenofobia nos países que acolhem esses refugiados. Não à toa, a campanha a favor do Brexit usou como argumento a “invasão” de imigrantes do leste europeu, que “roubam” empregos dos britânicos, embora as estatísticas desmintam tal discurso.

A dissolução da Europa, como bloco, reforça nações como Rússia e China, cujos sistemas políticos não são exatamente confiáveis. O mapa do mundo está sendo redesenhado por processos incontroláveis, que põem em questão o status de uma cultura baseada na democracia representativa e no capitalismo liberal. É urgente, portanto, a atuação dos líderes políticos para estabilizar a ordem mundial.

Pilhagem e conteúdo nacional - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 28/06

Em maio de 2010 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado de sua ministra Dilma Rousseff, candidata à sucessão presidencial, chefiou a cerimônia de lançamento do navio João Cândido, fabricado para a Petrobrás. As imagens da cerimônia – de fato um comício eleitoral – foram transmitidas muitas vezes. Mas o navio ficou no estaleiro, porque poderia ir para o fundo se tentassem fazê-lo navegar. Já havia custado muito mais do que poderia custar um petroleiro importado, mas, além disso, foi efetivamente lançado apenas dois anos depois.

Esse é um bom exemplo da desastrosa política de conteúdo nacional imposta pelo governo petista, a partir de 2003, à maior estatal brasileira. A novidade, agora, é o aparecimento de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os efeitos dessa aberração. A pilhagem da Petrobrás, a maior estatal, foi facilitada pela política de conteúdo nacional, como confirma o documento, noticiado em reportagem do jornal Valor.

O trabalho do TCU enfatiza o erro de concepção econômica e administrativa, mas a história completa deve incluir muito mais que isso. Ao converter a Petrobrás em instrumento de estímulo à indústria, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de forçá-la a suportar custos mais altos, criou condições para a bandalheira amplamente exposta na Operação Lava Jato. Os efeitos do erro administrativo e do banditismo já foram pelo menos em parte reconhecidos na contabilidade oficial da companhia.

Mesmo sem os efeitos da corrupção, a exploração de petróleo e gás seria muito prejudicada. Basta levar em conta, em primeiro lugar, a enorme diferença entre os preços de equipamentos e componentes nacionais e importados. Alertado pela Agência Nacional do Petróleo, em 2009, o governo preferiu desconhecer os problemas. Essa atitude foi mantida pela presidente Dilma Rousseff, segundo o TCU.

Os autores do relatório usaram números da indústria naval para exemplificar as diferenças de custos. A comparação mostra os diferentes prazos necessários para a construção de um navio-plataforma. Aparecem no quadro dois estaleiros coreanos, com tempos de construção de 8 e de 12 meses. A companhia japonesa incluída na exemplificação também demora 12 meses para entregar o navio. O estaleiro Rio Grande, citado como exemplo brasileiro, gasta 44 meses.

A demora muito maior dos fornecedores brasileiros tem como efeito um segundo problema. Ao custo maior do produto nacional é preciso acrescentar o atraso na execução dos programas da empresa. A combinação dos dois problemas – preço dos equipamentos e componentes e demora na entrega – também reduz a capacidade de investimento, porque inevitavelmente afeta as finanças da companhia.

Do ponto de vista da gerência, a política de conteúdo nacional ainda envolve um erro tão grave quanto elementar. Quando se deixam em segundo plano os objetivos centrais da empresa, para atender a finalidades acessórias, as perdas estratégicas podem ser enormes. Uma das perdas mais visíveis, nesse caso, é o atraso na exploração do pré-sal, um empreendimento complexo e custoso e, no entanto, tratado como assunto secundário.

Além de ser um anacronismo e de envolver um grave erro estratégico, a política de conteúdo nacional foi usada como instrumento de banditismo. A preferência forçada ao fornecedor local favoreceu a realização de contratos criminosos, com propina, sobrepreço e nenhum cuidado com prazos e qualidade.

Tudo isso foi mostrado pelas investigações da Operação Lava Jato, mas novos pormenores ou mesmo capítulos inteiros ainda poderão enriquecer essa história.

Essa política também estimulou aventuras irresponsáveis, como a criação da Sete Brasil, uma empresa fracassada, até agora, como fornecedora de sondas, mas muito eficiente como fonte de perdas para fundos de pensão de estatais e bancos controlados pela União. É o desenvolvimento à moda do PT.


Complexo de expropriação - CELSO MING

O ESTADÃO - 28/06

Por toda parte, ganha força a queixa de que o emprego nos países avançados está sumindo, sendo tomado por chineses, coreanos, indianos, tailandeses e, até mesmo, brasileiros, que aceitam receber menos 



O jornal inglês The Guardian explicou nesse domingo a decisão da Inglaterra de abandonar a União Europeia como “rejeição da globalização”.

Aceitos tais termos, esse não é fenômeno exclusivamente inglês. Se é mesmo reação impulsiva contra a globalização, é o que ainda está para se ver. O fato é que se espraia pelo mundo, entre as classes médias, a percepção de que estão sendo expropriadas “pelo sistema” ou pelos estrangeiros. Ou, simplesmente, acham que estão tirando delas muito mais do que estão entregando.

O argumento central dos catalães, que fundamenta o movimento pela sua independência da Espanha, tamborila o mesmo pandeiro: o de que o governo central devolve apenas fração do que contribuem. E o mesmo pode-se dizer do pleito separatista dos escoceses em relação à Grã-Bretanha.

Por toda parte, ganha força a queixa de que o emprego nos países avançados está sumindo, de que está sendo tomado por chineses, coreanos, indianos, tailandeses e, até mesmo, brasileiros, que aceitam receber menos.

É a percepção que se avoluma, não só porque cada vez mais produtos de consumo provêm do exterior: camisetas, calçados, aparelhos eletrônicos, remédios e até veículos de luxo. Mas também porque o próprio mercado interno de trabalho está sendo tomado por imigrantes do Oriente Médio, da América Latina e, principalmente, do Leste Europeu. Daí também a rejeição à entrada de refugiados e o crescimento dos movimentos da direita nacionalista xenófoba.

No rastro do envelhecimento da população global, os segmentos mais idosos, coincidentemente os que, na Inglaterra, também mais apoiaram o Brexit, cresce outro foco de insegurança: o de que as aposentadorias correm grave risco. Não são apenas os sistemas oficiais de aposentadoria e pensão que estão se debilitando com a redução do emprego e da contribuição das novas gerações. Também os sistemas complementares destinados a reforçar a renda dos mais velhos estão sendo esvaziados. Na maioria dos países avançados, os juros hoje são negativos. Para aplicar dinheiro no banco - coisa nunca antes vista - é preciso entregar mais dinheiro do que se recebe. O rendimento real dos fundos de investimento está em queda. Esta é uma situação que também reflete o esgotamento das políticas monetárias dos grandes bancos centrais, nos seus esforços para tirar suas economias da recessão.

É parte do mesmo fenômeno a exaustão dos esquemas de financiamento dos benefícios proporcionados pelo estado do bem-estar social (welfare state). Os tesouros nacionais já não dão mais conta do pagamento do seguro-desemprego, dos planos universais de saúde pública e de educação. Os partidos de direita alegam que isso acontece em consequência da invasão de estrangeiros.

A decisão tomada pelos ingleses foi impulsiva. Aparentemente, não se deram conta de que a saída lhes custará muito mais do que a permanência na União Europeia. Falta saber se o acontecido servirá de lição, não apenas para os ingleses, mas também para tanta gente pelo mundo que se sente espoliada, seja pelo sistema, seja pelos outros.


Terrorismo retórico
Ainda será preciso ver em que nível se acomoda a desvalorização da moeda inglesa em razão do Brexit. Além do aumento do custo de vida (pelo encarecimento dos importados), será inevitável a perda de renda e a desvalorização do patrimônio dos ingleses, especialmente o imobiliário. Nenhum desses efeitos deixou de ser denunciado pelos defensores da permanência. Mas, aparentemente, foram tomados como manifestações de terrorismo retórico.

Como melhorar a solução de conflitos - JOSÉ PASTORE, CÁSSIO MESQUITA BARROS E CASSIUS ZOMIGNANI

O ESTADÃO - 28/06

Instada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Federação do Comércio de São Paulo foi clara ao se posicionar francamente favorável à adoção de métodos alternativos para resolver os conflitos trabalhistas – conciliação, mediação e arbitragem privadas (“Resolução de conflitos trabalhistas”, Fecomercio-SP, 2016). Com isso, a entidade se alinhou à maioria dos países avançados, onde a utilização desses métodos é obrigatória antes de se acionar o Poder Judiciário.

Com base em leis vigentes, o CNJ recomendou o uso daqueles métodos para desafogar os Tribunais de Justiça do Brasil. A recomendação ganhou força em 2016 em vista dos cortes orçamentários dos órgãos públicos, que levaram muitas unidades do Poder Judiciário a trabalhar com restrições, o que aumentará ainda mais o gigantesco estoque de processos.

Apesar da referida recomendação, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) se mantém contra o uso de métodos alternativos privados de solução de conflitos trabalhistas. Isso não é de hoje. Há vários anos, a Justiça do Trabalho tem desvalorizado a conciliação e a arbitragem. A própria mediação, recém-regulada por lei, foi admitida só quando realizada no âmbito dos já abarrotados tribunais.

É lamentável ver no TST reações contrárias às iniciativas que buscam reduzir os conflitos. Aquela Corte faz restrições às Comissões de Conciliação Prévia, é contra a mediação privada, contra a arbitragem, contra a terceirização e até contra uma reforma trabalhista que nem existe, como bem destacou o editorial Manifesto irrealista, publicado neste jornal em 19/6/2016.

Os autores daquele manifesto remam contra a maré, quando pretendem manter a intervenção do Estado em assuntos que, no resto do mundo desenvolvido, são conduzidos e resolvidos diretamente por empregados e empregadores, apoiados por suas representações sindicais. Remam também contra a vontade da sociedade brasileira, pois, em repetidas vezes, os parlamentares aprovaram medidas que buscam agilizar a resolução dos conflitos trabalhistas, como é o caso das citadas Comissões de Conciliação Prévia (Lei 9.958/2000), da mediação (Lei 13.140/2015) e da própria arbitragem trabalhista para altos executivos, aprovada em projeto de lei, sancionado na Lei 13.129/2015. Depois dessa aprovação, surgiu uma forte reação contrária dos magistrados da Justiça do Trabalho, que levou o presidente da República a vetar a medida. Lamentável.

Será que os referidos magistrados querem provar que o Brasil é o único certo neste planeta? Sejamos claros. Tramitam na Justiça do Trabalho cerca de 6,3 milhões de processos eletrônicos – um recorde mundial (Revista LTR, n.º 4, abril de 2016). A solução não está em aumentar o número de juízes. Ainda que duplicados, seria humanamente impossível para eles darem conta de tamanha avalanche de ações. Sem dizer que a resolução de conflitos pela via judicial gera despesas de grande vulto – bem superiores às da conciliação, mediação e arbitragem privadas. Pesquisa realizada em 2012 mostrou que as 36 maiores empresas de capital aberto do Brasil gastaram R$ 25 bilhões com ações trabalhistas naquele ano. Hoje deve ser muito mais. A essas despesas junta-se a enorme insegurança jurídica que decorre de sentenças e jurisprudência muitas vezes divergentes. Tudo isso constitui um sério desestímulo para os investidores ampliarem seus negócios e gerarem mais empregos. Investidor foge da insegurança.

Numa hora em que o Brasil se prepara para realizar tantas reformas (tributária, previdenciária, política, trabalhista) chegou a vez de fazer, também, uma ampla reforma da Justiça do Trabalho, com vistas a deixar para as partes a resolução de vários conflitos, reservando-se aos magistrados os casos complexos.

*São integrantes do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP. José Pastore é professor da Universidade de São Paulo. Cássio Mesquita Barros e Cassius Zomignani são advogados


O preço da corrupção - JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO

CORREIO BRAZILIENSE - 28/06


Ficamos estarrecidos, embora não surpresos, ao concluir, no Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp (Decomtec), aprofundado estudo sobre os custos econômicos da corrupção no Brasil. O trabalho também apresenta propostas para o combate a essa erva daninha. Para uma análise ampla da questão, traçaram-se dois cenários. O primeiro leva em conta dados mais realistas e palpáveis, calculando prejuízo anual de R$ 80,3 bilhões (1,36% do PIB); o segundo, considerando números estimativos, indica que R$ 132,84 bilhões (2,25% do PIB) escorrem anualmente pelos ralos da improbidade.

Mais triste e espantoso ainda é constatar o que seria possível fazer em prol da população e do País, a cada ano, com os R$ 80,3 bilhões desviados do erário pela improbidade: arcar com o custo anual de 27,8 milhões de alunos das séries iniciais do ensino fundamental; equipar e prover o material para 146 mil escolas, com capacidade para 600 estudantes cada; construir 72,6 mil escolas; comprar 164,8 milhões de cestas básicas; construir 1,158 milhão de moradias do programa Minha Casa Minha Vida; prover instalações de esgoto para 20 milhões de famílias/lares; construir 45,8 mil quilômetros de rodovias pista simples ou 24,8 mil quilômetros de ferrovias; ou edificar 91 aeroportos, com capacidade para 5 milhões de passageiros/ano. Como se vê, perdemos muito pela falta de ética e lisura na gestão pública.

Em quatro anos de governo, seria possível atender a praticamente todas essas prioridades com o dinheiro que se desvia para propinas, comissões escusas em licitações fraudulentas, superfaturamento de obras e outras mazelas recorrentes no Estado. O estudo, em outro recorte interessante, mostra como a corrupção afeta vertical e horizontalmente a sociedade, correspondendo a 7,49% do total de investimentos, 2,15% do consumo das famílias e 6,73% do setor público, 22% dos gastos com educação, 110% do aporte de recursos em pesquisa e desenvolvimento e 113% das verbas destinadas à segurança pública. Além disso, afasta investimentos, desestimula negócios e contamina o ambiente econômico, reduzindo a competitividade dos setores produtivos.

Não é sem razão, portanto, que o Brasil ocupe o 76º lugar, dentre 168 nações, no Índice de Corrupção Percebida da ONG Transparência Internacional, situando-se no grupo das que têm sérios problemas de improbidade. O ranking é citado no relatório do Decomtec, que também sugere medidas bastante viáveis para mitigar essa prática corrosiva em nosso país.

Nossas propostas dividem-se em dois segmentos. O primeiro, no campo das reformas institucionais, prevê reavaliar a representatividade política no Congresso Nacional e estabelecer regras claras e transparentes para o financiamento de campanhas eleitorais; reforma do sistema judiciário para reduzir a percepção de impunidade e aumentar a rapidez das sanções aplicadas contra os corruptos; e reforma administrava, reduzindo o poder do Executivo de nomear pessoas para cargos, desestimulando a barganha no jogo político, o fisiologismo e a captação de propinas. O segundo grupo de sugestões é relativo às reformas econômicas, incluindo a fiscal, a tributária e a microeconômica, abrangendo o fortalecimento das agências reguladoras e o estímulo à participação da sociedade no controle da administração pública.

Combater a improbidade é tarefa inadiável no Brasil. Não podemos continuar perdendo competitividade, credibilidade e oportunidades de solucionar problemas graves pelo fato de o dinheiro dos impostos ser desviado para fins escusos. Abdicar da responsabilidade de combater a corrupção significa continuar queimando o dinheiro dos cidadãos na chama da desonestidade, condenar o país a graves crises político-econômicas periódicas e adiar indefinidamente a conquista do desenvolvimento.

JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente da Fiesp e diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia

Retomada das obras públicas e novo modelo para o seguro-garantia - MARCIO SERÔA DE ARAÚJO CORIOLANO

CORREIO BRAZILIENSE - 28/06

A criação do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) pelo presidente interino, Michel Temer, sinaliza a firme intenção do governo federal de ampliar a interação entre o Estado e a iniciativa privada com o intuito de acelerar a execução dos projetos de infraestrutura tão necessários para a retomada do crescimento do país.

Em torno das macromedidas gravitam as preocupações dos governantes e dos cidadãos brasileiros não somente com o cumprimento do cronograma das obras, mas com a qualidade dos serviços prestados, a fim de se evitarem graves acidentes, como o que ocorreu com a ciclovia do Rio de Janeiro. Nesse contexto, considerando que o Poder Público não pode utilizar os recursos da indenização diretamente na obra, sem prévio ajuste de orçamento - e que o fim precípuo de toda contratação pública é a conclusão da obra ou serviço -, o seguro-garantia emerge como a única modalidade capaz de atender ao interesse público e à função social da licitação dentro dos prazos e do orçamento originalmente planejados.

Nos últimos anos, o setor de seguros vem participando, ativamente, de uma série de discussões, no âmbito do governo federal, com o intuito de se criar um modelo para o seguro-garantia no Brasil. Diante da relevância e premência do tema foi constituída uma comissão setorial com o propósito de desenvolver uma proposta, já devidamente endereçada às autoridades competentes, que visa o aprimoramento do produto por meio de ajustes na legislação atual.

Nesse momento de fundamental debate sobre a necessidade de ajustes no marco regulatório do seguro-garantia no Brasil, chamo atenção para o fato de que o New deal -nome dado à série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, durante o governo do então presidente norte-americano Franklin Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia o país - possibilitou que o produto comprovasse, de fato, sua aplicabilidade.

Hoje, no Brasil, a Lei 8.666/1993 estipula que os participantes do certame ofereçam garantias nos seguintes percentuais: a)1% do valor estimado do objeto da contratação para a garantia de participação e manutenção da proposta até 5% do valor do contrato para a garantia de execução de sua execução; b)excepcionalmente, até 10% do valor do contrato quando se tratar da execução de obras, serviços e fornecimentos de grande vulto envolvendo alta complexidade técnica e riscos financeiros consideráveis. Ainda de acordo com a legislação vigente, essas garantias podem ser ofertadas na forma de caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, seguro-garantia ou fiança bancária.

Importante frisar que é praticamente impossível ao garantidor retomar uma obra interrompida, de modo a assumir todos os sobrecustos decorrentes, com apenas 5% do valor do contrato original. Tal impossibilidade agrava-se em decorrência do fato de que a maior parte da garantia já seria esgotada com o pagamento das penalidades impostas ao contratado inadimplente.

Diante desse cenário, a proposta do setor de seguros para a criação do novo seguro-garantia - tendo como parâmetros também as melhores práticas do mercado internacional - contempla, entre outros, dois primordiais ajustes que apresento a seguir. O primeiro diz respeito ao aumento de 1% para 5% do percentual da garantia destinada a assegurar a assinatura o contrato ao fim do processo licitatório. Tal medida desencorajaria a participação no processo licitatório de interessados que não disponham de capacidade efetiva para a realização do objeto.

O segundo ajuste aborda a execução do contrato. As seguradoras propõem um aumento substancial da importância segurada da garantia de performance de 5% para 30% do valor do contrato. Estudos internacionais indicam que esse percentual, quando somado ao saldo residual da contratação original, seria adequado para que a empresa fizesse frente ao sobrecusto de uma nova contratação e procedesse à finalização do empreendimento. Ademais, o percentual de 30% já representará um incremento arrojado de capacidade do mercado ressegurador para com o mercado segurador brasileiro na evolução contínua que busca consolidar o seguro-garantia como forma apta de permitir a execução das contratações públicas.

Atualmente, tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal vários projetos de lei que abordam a temática de um novo modelo para o seguro-garantia no Brasil. Tal interesse pelo assunto só demonstra, sem sombra de dúvida, que diante do atual quadro conjuntural brasileiro, o produto trará grandes contribuições para assegurar o desenvolvimento das essenciais obras de infraestrutura. E é exatamente por isso que qualquer mudança deve, sim, ser exaustivamente debatida entre os agentes envolvidos. Este é o momento de união, de parcerias e de trabalho conjunto e profícuo em prol do resgate da confiança e da segurança em relação ao futuro do país.


MARCIO SERÔA DE ARAÚJO CORIOLANO - Presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg)

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PF INVESTIGA ESQUEMAS NA PETROBRAS ARGENTINA

Além de investigar suposta propina paga a Renan Calheiros na venda de ativos da Petrobras na Argentina, a Polícia Federal também apura a venda de refinaria da estatal ao grupo de Cristóbal López, amigo da ex-presidente Cristina Kirchner. López chegou a oferecer US$ 50 milhões, mas acabou levando a refinaria por apenas US$ 36 milhões, em 2006, ano da compra desastrada da refinaria de Pasadena pela Petrobras.

INVESTIGAÇÃO SUFOCADA
A negociata na Argentina seria investigada pela CPI da Petrobras, no Senado, em 2014. Mas o PMDB criou CPI mista, que acabou em pizza.

PACOTÃO
A Petrobras fez negociação exclusiva com a Pampa Energia, de López, para vender um “pacote” de ativos da Petrobras na Argentina.

TUDO POR US$ 1,2 BI
A Petrobras negociou 30 blocos exploratórios, refinaria, 300 postos de gasolina e participações em térmica, hidrelétrica e petroquímicas.

MAU NEGÓCIO
A Petrobras só faz maus negócios na Argentina: além da refinaria, López levou 360 postos. Tudo por uma pechincha: US$ 110 milhões.

INSULTOS RENDEM A CIRO 90 AÇÕES POR DANO MORAL
Conhecido pelo estilo agressivo de fazer política, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, hoje filiado ao PDT, responde a pelo menos 90 processos movidos por adversários e até por cidadãos comuns. No Ceará, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), move contra ele 24 ações por dano moral, e o vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena, cinco. Exigem reparação pelos insultos do destemperado Ciro. Procurado por meio da assessoria, o político não comentou o assunto.

CONDENAÇÕES
Ciro também coleciona condenações até expressivas, como os R$ 266 mil concedidos à família do ex-senador Henrique Santillo (GO).

INDENIZADOS
Senadores José Serra e Fernando Collor terão de Ciro 100 salários mínimos e R$100 mil, respectivamente, nas ações que moveram.

ARRAIA MIÚDA
Oficial de justiça não escapou de ser xingado por Ciro, que o mandou “à merda” ao ser notificado de uma ação. Foi denunciado por desacato.

PODE PIORAR
“Rogério Rosso é muito ruim para a Câmara. Basta o líder do governo indicação de Eduardo Cunha”, alfineta Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) sobre candidatura do deputado do PSD-DF a presidente da Casa.

CLIMA NEGATIVO
Carlos Cadoca (PDT-PE), que está na Câmara há cinco legislaturas, garante que a atual, presidida por Eduardo Cunha e depois por Waldir Maranhão, é, de longe, a pior. Clima político muito ruim, diz ele.

NONO INQUÉRITO
O novo inquérito contra Renan Calheiros, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o 9º, sobre alegadas malfeitorias na Argentina, é o segundo caso da Lava Jato envolvendo os “hermanos” na Lava Jato.

OS INTERNACIONAIS
A “internacionalização” da Lava Jato, pretendida pelo Ministério Público Federal, gera uma situação curiosa: políticos brasileiros serão réus e poderão se condenados, por suas malfeitorias, em mais de um país.

PATOLOGIA
“O Maranhão é um caso patológico e não político”, afirma o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), sobre a decisão do presidente em exercício de suspender as atividades da Câmara.

MÃO AMIGA
A ideia de Waldir Maranhão de suspender as sessões da Câmara tem objetivo de adiar a votação do processo contra Eduardo Cunha. Maranhão tenta dar prazo para Cunha tentar salvar seu mandato.

PROMOÇÕES
A grita continua: além de manter petistas em cargos de confiança, o governo Michel Temer tem promovido vários outros. Nessa curiosa lógica, quem apoiou Temer é que enfrenta dificuldades no governo.

CARÊNCIA
O governo de Alagoas promoveu ontem um evento, com suas maiores autoridades, para a assinatura de ordem de serviço para demolir... uma oficina. Onde, no futuro, será construído o anexo de uma maternidade.

PENSANDO BEM...
...ao prometer “governo de transição”, caso volte, a descompensada Dilma mostra não haver percebido que a transição já está em curso.