FOLHA DE SP - 21/05
Sinto, editores e leitores "modernos", mas não as elogiarei por serem mulheres. Nesse tempo e país, símbolos valem mais que substância – mas, anacrônico, prefiro a segunda. Maria Helena de Castro na secretaria-executiva do MEC e Maria Inês Fini na presidência do Inep são uma ousadia do ministro Mendonça Filho: a decisão de proteger os direitos dos estudantes contra a aliança entre a politicagem triunfante e o corporativismo sindical, grudados por uma gosma ideológica. Infelizmente, as duas Marias serão expostas a uma guerra suja, como sabem por experiência própria.
Maria & Maria têm uma plataforma para a Educação. 1) Base curricular unificada, com foco no "aprender a aprender"; 2) Avaliação sistemática das escolas, baseada em metas definidas; 3) Qualificação permanente dos professores; 4) Bonificação por mérito para escolas e professores.
Elas sofrerão, por isso, intensa sabotagem de camarilhas políticas, interessadas na colonização do sistema de ensino por cabos eleitorais, da burocracia aparelhada do MEC, consagrada a diversos tipos de doutrinação ideológica, e de associações sindicais de professores, avessas a distinções meritocráticas de remuneração. Todos esses grupos tecerão pactos de conveniência contra as duas Marias, boicotando suas iniciativas. São eles os "conservadores": querem conservar um ensino público que conspira contra o direito à educação dos filhos dos pobres.
Maria Helena assumiu a Secretaria da Educação de São Paulo em julho de 2007, mas durou apenas até março de 2009. O Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) registrou avanços em 70% das escolas. Contudo, de olho na sua campanha presidencial, o então governador José Serra entregou a cabeça da secretária numa bandeja de prata, cedendo à campanha da Apeoesp contra a unificação curricular, a avaliação das escolas e a bonificação por mérito. Numa entrevista, Maria Inês disse o que se sabe ("A maioria dos professores são heróis: dão 60 horas de aula por semana. É por isso que as melhores cabeças estão indo para qualquer outra área, menos para a sala de aula") e também o que não é óbvio.
Os professores "são preparados para transmitir informação, não para promover a cultura do conhecimento". Nas escolas, "dificilmente se ouve o estudante", mas "nenhum professor pode ter medo do que o aluno pensa" pois "é fundamental ter acesso às estruturas de pensamento da turma". No governo FHC, idealizou o Enem como ferramenta de avaliação da "cultura do conhecimento" e de investigação das "estruturas de pensamento". Depois, os bárbaros desvirtuaram o exame, convertendo-o em vestibulão nacional e, às vezes, em megafone de delinquências extremistas (ano passado, uma questão celebrava o antiamericanismo de Slavoj Zizek, para quem Pol Pot "não foi radical o suficiente").
Na guerra contra as duas Marias, as universidades federais ocuparão lugar de vanguarda. A ordem de tiro partirá de cima: em setembro de 2014, 54 reitores das federais prostraram-se diante de Dilma Rousseff, oferecendo-lhe seus préstimos na campanha eleitoral. De acordo com o texto que assinaram, eles tomavam posição "enquanto dirigentes universitários eleitos", forma despudorada de expor uma concepção sobre as relações entre universidade, política e partido. Suspeito que, além das tradicionais reivindicações corporativas, a próxima greve das federais será movida por objetivos político-partidários.
Ao aceitar as nomeações, Maria & Maria revelam a coragem de enfrentar poderosas máquinas políticas e sindicais sem contar com "ninguém" por trás: os escolares, crianças ou adolescentes, são o "povo desorganizado" na sua máxima fragilidade. A esperança de mudança no ensino passa a depender das convicções de Mendonça e do improvável compromisso de Michel Temer com os interesses de quem não têm voz.
sábado, maio 21, 2016
PT assaltou o Brasil - RONALDO CAIADO
FOLHA DE SP - 21/05
Como era previsível, o PT, na sua primeira semana de retorno à oposição, fez cobranças ao novo governo com a autoridade de quem se presume vítima –e não réu– dos delitos expostos.
O país está arruinado. Os números da economia são bem piores do que se imaginava. As contas ainda não estão inteiramente levantadas, já que o governo deposto –e o termo é esse, pois ninguém de bom senso cogita vê-lo de volta– se recusou a providenciar o processo de transição.
Tal recusa a um procedimento meramente técnico equivale a uma confissão de crime, que os números confirmam. Não há outra expressão: o PT assaltou os brasileiros, dilapidou o Estado, deixou atrás de si um rastro de destruição.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a um deficit estratosférico: R$ 120 bilhões. Logo na sequência, porém, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, constatou que o rombo é maior: R$ 160 bilhões.
Nenhum desses levantamentos incluiu a novidade que se anunciou na quarta-feira: as perdas da Eletrobras, suspensa pela Bolsa de Nova York por não apresentar o balanço auditado de 2014. A perda imediata é de R$ 40 bilhões, mas pode aumentar, já que o escritório Hogan Lovells, que investiga a estatal brasileira, ainda não chegou ao fim da linha. Segundo a agência Reuters, "a cada apuração feita, encontram-se novos indícios de irregularidades que estimulam novas investigações".
A Eletrobras é uma das muitas caixas-pretas a serem abertas –como BNDES, Dnit, Caixa Econômica, Banco do Brasil, fundos de pensão. Como se diz na roça, "a cada enxadada, uma minhoca".
Na Petrobras, os prejuízos são de R$ 42 bilhões –mas os danos são bem maiores. Além de ter perdido a oportunidade de leiloar mais de 40 áreas do pré-sal, quando o barril valia US$ 120, vende agora todos os ativos a preço de banana. É, hoje, a empresa mais endividada do mundo.
Outra descoberta assombrosa relaciona-se à publicidade. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República, sob Dilma Rousseff, já gastou toda a verba prevista para 2016: R$ 152 milhões.
Essa verba alimenta, entre outras coisas, os blogs sujos da internet, pagos não só para defender a quadrilha do PT mas, sobretudo, difamar seus adversários. Esses blogueiros estão organizando um congresso na Bahia, para junho, em que esperam a presença de Dilma e Lula, para tratar do "combate ao golpe".
A insistência criminosa no termo "golpe", para definir o processo constitucional de impeachment, mereceu reação por parte da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, que pediu esclarecimentos à presidente afastada, dando-lhe o prazo de dez dias para se manifestar. Não o fará, por falta de argumentos.
A letal conjunção de corrupção sistêmica e gestão desastrosa, que os números atestam, produz efeitos em todos os setores da vida nacional, atingindo sobretudo a parcela mais desprotegida da população.
Na saúde, por exemplo, segundo levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina, perderam-se nada menos que 24 mil leitos de internação do SUS, ao longo dos últimos cinco anos –tempo que corresponde à presença de Dilma na Presidência.
A tragédia do desemprego –11 milhões de vítimas–, da qual a militância do PT estava poupada, é outro subproduto dessa herança maldita.
E uma das medidas preliminares de higiene moral –e de cunho pedagógico– é fazer uma assepsia da máquina pública federal demitindo os milhares que foram nomeados para partidarizar o Estado. E esperar que a Justiça seja célere em julgar e condenar os que assaltaram o Brasil.
Como era previsível, o PT, na sua primeira semana de retorno à oposição, fez cobranças ao novo governo com a autoridade de quem se presume vítima –e não réu– dos delitos expostos.
O país está arruinado. Os números da economia são bem piores do que se imaginava. As contas ainda não estão inteiramente levantadas, já que o governo deposto –e o termo é esse, pois ninguém de bom senso cogita vê-lo de volta– se recusou a providenciar o processo de transição.
Tal recusa a um procedimento meramente técnico equivale a uma confissão de crime, que os números confirmam. Não há outra expressão: o PT assaltou os brasileiros, dilapidou o Estado, deixou atrás de si um rastro de destruição.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a um deficit estratosférico: R$ 120 bilhões. Logo na sequência, porém, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, constatou que o rombo é maior: R$ 160 bilhões.
Nenhum desses levantamentos incluiu a novidade que se anunciou na quarta-feira: as perdas da Eletrobras, suspensa pela Bolsa de Nova York por não apresentar o balanço auditado de 2014. A perda imediata é de R$ 40 bilhões, mas pode aumentar, já que o escritório Hogan Lovells, que investiga a estatal brasileira, ainda não chegou ao fim da linha. Segundo a agência Reuters, "a cada apuração feita, encontram-se novos indícios de irregularidades que estimulam novas investigações".
A Eletrobras é uma das muitas caixas-pretas a serem abertas –como BNDES, Dnit, Caixa Econômica, Banco do Brasil, fundos de pensão. Como se diz na roça, "a cada enxadada, uma minhoca".
Na Petrobras, os prejuízos são de R$ 42 bilhões –mas os danos são bem maiores. Além de ter perdido a oportunidade de leiloar mais de 40 áreas do pré-sal, quando o barril valia US$ 120, vende agora todos os ativos a preço de banana. É, hoje, a empresa mais endividada do mundo.
Outra descoberta assombrosa relaciona-se à publicidade. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República, sob Dilma Rousseff, já gastou toda a verba prevista para 2016: R$ 152 milhões.
Essa verba alimenta, entre outras coisas, os blogs sujos da internet, pagos não só para defender a quadrilha do PT mas, sobretudo, difamar seus adversários. Esses blogueiros estão organizando um congresso na Bahia, para junho, em que esperam a presença de Dilma e Lula, para tratar do "combate ao golpe".
A insistência criminosa no termo "golpe", para definir o processo constitucional de impeachment, mereceu reação por parte da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, que pediu esclarecimentos à presidente afastada, dando-lhe o prazo de dez dias para se manifestar. Não o fará, por falta de argumentos.
A letal conjunção de corrupção sistêmica e gestão desastrosa, que os números atestam, produz efeitos em todos os setores da vida nacional, atingindo sobretudo a parcela mais desprotegida da população.
Na saúde, por exemplo, segundo levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina, perderam-se nada menos que 24 mil leitos de internação do SUS, ao longo dos últimos cinco anos –tempo que corresponde à presença de Dilma na Presidência.
A tragédia do desemprego –11 milhões de vítimas–, da qual a militância do PT estava poupada, é outro subproduto dessa herança maldita.
E uma das medidas preliminares de higiene moral –e de cunho pedagógico– é fazer uma assepsia da máquina pública federal demitindo os milhares que foram nomeados para partidarizar o Estado. E esperar que a Justiça seja célere em julgar e condenar os que assaltaram o Brasil.
Déficit como ele é - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 21/05
A diferença entre o rombo anunciado pelo governo Dilma e o que foi anunciado agora pelo governo Temer é a eliminação de certos artifícios. Agora não há descontos e os números querem dizer o que os números dizem. Não entra na conta o que não está certo, o que é apenas intenção enviada ao Congresso. O número ficou mais feio sem a maquiagem, mas é melhor que seja real.
Odéficit como ele é—R$ 170,5 bi — assusta. Afinal, o país está assumindo que terá um primário negativo em 2,75% do PIB. Para se ter uma ideia, o economista-chefe da Mauá Investimentos, Alexandre de Ázara, calcula que seja necessário um superávit primário em torno de 3% do PIB para equilibrarmos a dívida/PIB. Estamos, portanto, a quase seis pontos percentuais do PIB de onde deveríamos estar para começar a desfazer o estrago provocado pelo arrastão Dilma Rousseff. O que foi este governo que passou por nós nos últimos cinco anos? Convenhamos, a presidente afastada abusou do direito de errar.
Um erro explicado ontem pelo ministro Henrique Meirelles era o de projetar um aumento da receita em plena recessão. Se conseguisse seria fato espantoso. A projeção feita pelo governo anterior no Orçamento era de um aumento de arrecadação de 17% nominal e 9% real. Achava que conseguiria isso com novos impostos como a CPMF, indiferente ao fato de que houve uma imediata demonstração de rejeição a esse imposto. A nova meta prevê uma queda de 4% de arrecadação, o que já será difícil porque até abril a receita caiu 7,9%, mas é pelo menos factível.
Houve outra mudança importante que foi a decisão de não ficar dando desconto para uma coisa e para outra. Se havia uma mania do governo Dilma que perturbava era dizer que a meta era um número, porém o resultado seria maior, porque haveria descontos para alguns gastos que não entrariam na conta. O tormentoso secretário do Tesouro do primeiro mandato Arno Augustin inventou essa fórmula que foi adotada pelo ex-ministro Nelson Barbosa. Ele descontou gastos emergenciais para a Saúde, dinheiro para completar as obras da transposição do Rio São Francisco. O novo governo fez diferente: incluiu essas despesas na lista de despesas, como deve ser.
A meta anunciada ontem reduziu o contingenciamento, ou seja, libera gastos que foram congelados pelo governo Dilma. Os ministros Henrique Meirelles e Romero Jucá explicaram que não se pode contar com um corte inexequível, como o que depende de que não se pague coisas como o auxílio moradia dos embaixadores.
Meirelles e Jucá repetiram várias vezes que em seguida apresentarão medidas de aumento de receitas e de cortes de gastos que precisarão ser enviadas para o Congresso, mas não quiseram fazer esses anúncios junto com os avisos sobre a nova meta fiscal. Como precisarão de apoio legislativo, eles não contarão com o efeito dessas medidas como se a aprovação do Congresso fosse favas contadas.
Por outro lado, acham que conseguirão aprovar o ajuste da meta na Comissão mista do Orçamento na segunda-feira e aprovarão na terça. Detalhe, a próxima semana tem um feriado na quinta-feira. Para acreditarem nisso, devem ter negociado antes.
Jornalistas tocaram em vários pontos sensíveis. Quiseram saber por que eles acham que o mercado considerará essa meta austera se antes, quando a previsão era de R$ 96 bi, no governo Dilma, foi vista como ampliação de gasto. Meirelles disse que esta meta é realista e transparente. Quiseram saber se essa meta será mudada novamente depois, como era comum no governo Dilma, e o ministro Romero Jucá disse que meta não é novela. Perguntaram por que houve frustração de receitas, e Meirelles respondeu que o governo anterior superestimou a receita.
O governo Temer tinha mesmo que chegar e pôr os números na mesa com toda a frieza e objetividade. É terrível um desequilíbrio desses, só não é pior do que tentar escondê-lo com artifícios contábeis e pedaladas. No esforço de aumentar a transparência, o governo determinou que a Eletrobrás calcule as perdas com a corrupção, para que o balanço possa ser auditado. Hoje a estatal está fora da Bolsa de NY por não saber dizer de que tamanho é a corrupção. A meta está muito longe da necessidade, mas pelo menos pode estar perto da realidade. É um primeiro passo.
A diferença entre o rombo anunciado pelo governo Dilma e o que foi anunciado agora pelo governo Temer é a eliminação de certos artifícios. Agora não há descontos e os números querem dizer o que os números dizem. Não entra na conta o que não está certo, o que é apenas intenção enviada ao Congresso. O número ficou mais feio sem a maquiagem, mas é melhor que seja real.
Odéficit como ele é—R$ 170,5 bi — assusta. Afinal, o país está assumindo que terá um primário negativo em 2,75% do PIB. Para se ter uma ideia, o economista-chefe da Mauá Investimentos, Alexandre de Ázara, calcula que seja necessário um superávit primário em torno de 3% do PIB para equilibrarmos a dívida/PIB. Estamos, portanto, a quase seis pontos percentuais do PIB de onde deveríamos estar para começar a desfazer o estrago provocado pelo arrastão Dilma Rousseff. O que foi este governo que passou por nós nos últimos cinco anos? Convenhamos, a presidente afastada abusou do direito de errar.
Um erro explicado ontem pelo ministro Henrique Meirelles era o de projetar um aumento da receita em plena recessão. Se conseguisse seria fato espantoso. A projeção feita pelo governo anterior no Orçamento era de um aumento de arrecadação de 17% nominal e 9% real. Achava que conseguiria isso com novos impostos como a CPMF, indiferente ao fato de que houve uma imediata demonstração de rejeição a esse imposto. A nova meta prevê uma queda de 4% de arrecadação, o que já será difícil porque até abril a receita caiu 7,9%, mas é pelo menos factível.
Houve outra mudança importante que foi a decisão de não ficar dando desconto para uma coisa e para outra. Se havia uma mania do governo Dilma que perturbava era dizer que a meta era um número, porém o resultado seria maior, porque haveria descontos para alguns gastos que não entrariam na conta. O tormentoso secretário do Tesouro do primeiro mandato Arno Augustin inventou essa fórmula que foi adotada pelo ex-ministro Nelson Barbosa. Ele descontou gastos emergenciais para a Saúde, dinheiro para completar as obras da transposição do Rio São Francisco. O novo governo fez diferente: incluiu essas despesas na lista de despesas, como deve ser.
A meta anunciada ontem reduziu o contingenciamento, ou seja, libera gastos que foram congelados pelo governo Dilma. Os ministros Henrique Meirelles e Romero Jucá explicaram que não se pode contar com um corte inexequível, como o que depende de que não se pague coisas como o auxílio moradia dos embaixadores.
Meirelles e Jucá repetiram várias vezes que em seguida apresentarão medidas de aumento de receitas e de cortes de gastos que precisarão ser enviadas para o Congresso, mas não quiseram fazer esses anúncios junto com os avisos sobre a nova meta fiscal. Como precisarão de apoio legislativo, eles não contarão com o efeito dessas medidas como se a aprovação do Congresso fosse favas contadas.
Por outro lado, acham que conseguirão aprovar o ajuste da meta na Comissão mista do Orçamento na segunda-feira e aprovarão na terça. Detalhe, a próxima semana tem um feriado na quinta-feira. Para acreditarem nisso, devem ter negociado antes.
Jornalistas tocaram em vários pontos sensíveis. Quiseram saber por que eles acham que o mercado considerará essa meta austera se antes, quando a previsão era de R$ 96 bi, no governo Dilma, foi vista como ampliação de gasto. Meirelles disse que esta meta é realista e transparente. Quiseram saber se essa meta será mudada novamente depois, como era comum no governo Dilma, e o ministro Romero Jucá disse que meta não é novela. Perguntaram por que houve frustração de receitas, e Meirelles respondeu que o governo anterior superestimou a receita.
O governo Temer tinha mesmo que chegar e pôr os números na mesa com toda a frieza e objetividade. É terrível um desequilíbrio desses, só não é pior do que tentar escondê-lo com artifícios contábeis e pedaladas. No esforço de aumentar a transparência, o governo determinou que a Eletrobrás calcule as perdas com a corrupção, para que o balanço possa ser auditado. Hoje a estatal está fora da Bolsa de NY por não saber dizer de que tamanho é a corrupção. A meta está muito longe da necessidade, mas pelo menos pode estar perto da realidade. É um primeiro passo.
Vai doer nas excelências? - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 21/05
Dez em cada 10 economistas sérios afirmam ser necessária e urgente uma reforma na Previdência. Até aí, tudo bem. O problema são os termos dessa mudança. "Todos terão de dar sua cota de sacrifício", disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, ao falar das decisões impopulares que terá de tomar contra a crise. Ninguém esperava que fosse diferente. Até porque, além de afundar o país na mais grave recessão em 80 anos, Dilma deixou um rombo astronômico nas contas públicas.
De volta à Previdência. Se há a ambição, expressada pelo próprio Meirelles, de que os dispositivos da reforma valham para homens e mulheres do serviço público e da iniciativa privada, eles deveriam se estender a todos. Mesmo. Incluem-se aí os integrantes, sem exceção, do Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público no país. Ora, por que magistrados, deputados, senadores devem ter privilégios se o princípio básico da democracia e da Constituição é a de que somos todos iguais perante a lei?
No Brasil, as regalias, mordomias e outras vantagens inconfessáveis transformaram os cargos eletivos - desde os municipais aos federais - em prêmios mais valiosos que muitas megassenas acumuladas. Se é para fazer um ajuste sério, de verdade, é preciso acabar com o escracho de políticos com o dinheiro público, como as astronômicas verbas de gabinete e cotas parlamentares. Afinal, o Brasil está entre os 30 países que mais arrecadam com tributos. Destaca-se, porém, como o que presta os piores serviços públicos.
Na Suécia, país europeu onde parlamentares se orgulham de não terem luxo nem privilégios, os serviços públicos são de primeira qualidade. Lá, eles ganham apenas 50% a mais do que o piso de um professor primário, dormem em apartamentos funcionais de no máximo 40m², lavam e passam a própria roupa, andam de ônibus e ninguém tem secretária nem assessor. Carro oficial e motorista? Nem pensar. Já no caso do Brasil, é de morrer de vergonha.
No DF, por exemplo, deputados distritais, além de receberem um dos maiores salários do funcionalismo na capital, têm secretárias, dezenas de assessores, carro oficial com direito a motorista e dispõem de verbas para todas as regalias possíveis e imagináveis. Só com combustível, já chegaram a gastar em um ano o suficiente para dar 32 voltas na Terra. E tudo à custa de cidadãos que trabalham cinco meses por ano só para pagar impostos. Não à toa que, aqui, hospitais e escolas públicas estejam na situação que você, leitor, tão bem conhece.
Dez em cada 10 economistas sérios afirmam ser necessária e urgente uma reforma na Previdência. Até aí, tudo bem. O problema são os termos dessa mudança. "Todos terão de dar sua cota de sacrifício", disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, ao falar das decisões impopulares que terá de tomar contra a crise. Ninguém esperava que fosse diferente. Até porque, além de afundar o país na mais grave recessão em 80 anos, Dilma deixou um rombo astronômico nas contas públicas.
De volta à Previdência. Se há a ambição, expressada pelo próprio Meirelles, de que os dispositivos da reforma valham para homens e mulheres do serviço público e da iniciativa privada, eles deveriam se estender a todos. Mesmo. Incluem-se aí os integrantes, sem exceção, do Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público no país. Ora, por que magistrados, deputados, senadores devem ter privilégios se o princípio básico da democracia e da Constituição é a de que somos todos iguais perante a lei?
No Brasil, as regalias, mordomias e outras vantagens inconfessáveis transformaram os cargos eletivos - desde os municipais aos federais - em prêmios mais valiosos que muitas megassenas acumuladas. Se é para fazer um ajuste sério, de verdade, é preciso acabar com o escracho de políticos com o dinheiro público, como as astronômicas verbas de gabinete e cotas parlamentares. Afinal, o Brasil está entre os 30 países que mais arrecadam com tributos. Destaca-se, porém, como o que presta os piores serviços públicos.
Na Suécia, país europeu onde parlamentares se orgulham de não terem luxo nem privilégios, os serviços públicos são de primeira qualidade. Lá, eles ganham apenas 50% a mais do que o piso de um professor primário, dormem em apartamentos funcionais de no máximo 40m², lavam e passam a própria roupa, andam de ônibus e ninguém tem secretária nem assessor. Carro oficial e motorista? Nem pensar. Já no caso do Brasil, é de morrer de vergonha.
No DF, por exemplo, deputados distritais, além de receberem um dos maiores salários do funcionalismo na capital, têm secretárias, dezenas de assessores, carro oficial com direito a motorista e dispõem de verbas para todas as regalias possíveis e imagináveis. Só com combustível, já chegaram a gastar em um ano o suficiente para dar 32 voltas na Terra. E tudo à custa de cidadãos que trabalham cinco meses por ano só para pagar impostos. Não à toa que, aqui, hospitais e escolas públicas estejam na situação que você, leitor, tão bem conhece.
Meu palavrão predileto - BOLIVAR LAMOUNIER
O Estado de S. Paulo - 21/05
Como grande parte dos cientistas sociais brasileiros e latino-americanos, às vezes sinto uma vontade irresistível de empregar o adjetivo “liberal” como xingamento. Nesta parte do mundo, como bem sabemos, liberal é um feio palavrão.
Meus eventuais leitores por certo já repararam nisso. Por mais que procurem, os intelectuais, o clero, os dirigentes partidários e os chamados formadores de opinião não conseguem atinar com um termo mais adequado quando querem se referir depreciativamente a um economista, empresário, partido político ou ao próprio governo.
As entonações usadas são especialmente notáveis quando o personagem inquinado de fato propõe ou professa algo suscetível de ser considerado liberal. Pobre do partido político que fale em privatizar estatais deficitárias, ineficientes ou que simplesmente não tenham uma justificativa clara para serem mantidas no setor público. Maldito o governo que insista em manter as contas públicas e a inflação sob controle. “É um liberal”, alguém logo dirá. Ou, muito pior: “Não passa de um neoliberal”.
Resumindo, creio não exagerar quando digo que, entre nós, menoscabar o liberalismo se tornou uma atitude generalizada, direi mesmo um indicativo de qualidade intelectual: uma norma “culta”. Como isso aconteceu é uma história um pouco longa, mas farei o possível para contá-la no restante deste artigo.
A primeira causa – aliás, por definição – é o liberalismo político ser a teoria da democracia representativa – tanto assim que às vezes a designamos como democracia liberal; o oposto, portanto, do fascismo e do comunismo. Segue-se que o adjetivo “liberal” diz respeito a uma forma política dotada de instituições voltadas para a preservação da liberdade dos indivíduos e a autonomia de associações dos mais variados tipos. Como ideologias, o fascismo e o comunismo comportam exegeses imensamente complexas, mas os sistemas políticos que se propuseram a aplicá-las na realidade histórica foram totalitários, sempre e sem nenhuma exceção. Uma conclusão preliminar é, pois, que algo há de estranho em nossa alma latino-americana, ou pelo menos na alma das categorias profissionais a que me referi. Parece que odiamos viver em liberdade e esperamos um dia viver em Estados baseados no partido único, na polícia secreta e na censura generalizada dos meios de comunicação.
Outra causa perceptível é que o antiliberalismo geralmente aparece em estreita associação com o antiamericanismo. Odiamos a liberdade porque os Estados Unidos a cultivam e simbolizam. Porque tiveram a ousadia de se desenvolver economicamente de uma forma espetacular; por terem saltado de uma condição cultural de terceira classe para a dianteira em todos os setores do conhecimento, fato atestado por todos os rankings das universidades de todos os continentes. E, sobretudo, por sua visão atomística do individuo, uma filosofia abominável, eticamente inferior ao “comunitarismo” que nos guia e inspira, assim como inspirou ditaduras fascistas e comunistas pelo mundo afora.
Deve ser por esses e outros horrores do liberalismo em vários campos de atividade que nosotros tendemos a rejeitá-lo. Nossos corações e mentes pendem para o antiliberalismo, tão bem representado no século 20 por um Mussolini, um Stalin e até um Perón; e no passado recente, por um Hugo Chávez, o grande inspirador da revolução bolivariana e do progresso de seu país, a Venezuela.
Marxistas por formação ou simbiose, os antiliberais, como disse, tomam-se de sacrossanto horror quando pressentem a proximidade de um “neoliberal”. Esse, ao ver deles, é um indivíduo que não se contenta com manter a moeda estável e as contas públicas em ordem, com melhorar a eficiência no gasto público; não, eles querem mais que isso. Querem retirar do Estado suas atividades mais nobres, desde logo as que exerce por meio de empresas públicas, direcionando suas energias para tarefas comezinhas como a educação das crianças e dos jovens, para tentar minorar o sofrimento dos que acorrem aos nossos serviços públicos de saúde (cuja qualidade Lula certificou como sendo de Primeiro Mundo), ou ainda, a segurança pública e a defesa nacional.
Como pode alguém querer um Estado que faça “só isso”? – perguntam os petistas, os intelectuais de esquerda, alguns clérigos e, naturalmente, aquela parte do empresariado que gosta do capitalismo, mas odeia a concorrência.
Mas qual é, afinal, o ponto mais importante da disjuntiva liberalismo x antiliberalismo? O problema de fundo, o verdadeiro divisor de águas, parece-me ser o papel do Estado. O papel e, portanto, a dimensão e os tipos de atividades que devem permanecer na esfera pública, para bem assegurar os objetivos e a soberania nacionais. Antigamente, o que os antiliberais em geral e os fascistas em particular não toleravam era o que chamavam de Estado gendarme, guardião e protetor dos interesses burgueses; hoje, mais ou menos na mesma linha, o que causa urticária nos marxistas por formação ou simbiose é a (suposta) ideia do Estado “mínimo”. O que não deixa de ser curioso, tendo eles sempre acreditado que, depois da revolução socialista, o Estado pouco a pouco fenecerá, ou seja, perderá seu “caráter político”; por falta de função, ele se tornará cada vez menos necessário.
Escusado dizer que jamais algo parecido aconteceu em algum país socialista. Mas o ponto que importa é este: os segmentos intelectuais a que me referi, que tão exacerbadamente combatem o “neo”-liberalismo, na verdade, o fazem em nome de um “paleo”-liberalismo.
*Bolívar Lamounier é cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultoria, membro da Academia Paulista de Letras, e autor do livro 'Tribunos, Profetas e Sacerdotes: Intelectuais e Ideologias no Século 20' (Companhia das Letras, 2014)
Como grande parte dos cientistas sociais brasileiros e latino-americanos, às vezes sinto uma vontade irresistível de empregar o adjetivo “liberal” como xingamento. Nesta parte do mundo, como bem sabemos, liberal é um feio palavrão.
Meus eventuais leitores por certo já repararam nisso. Por mais que procurem, os intelectuais, o clero, os dirigentes partidários e os chamados formadores de opinião não conseguem atinar com um termo mais adequado quando querem se referir depreciativamente a um economista, empresário, partido político ou ao próprio governo.
As entonações usadas são especialmente notáveis quando o personagem inquinado de fato propõe ou professa algo suscetível de ser considerado liberal. Pobre do partido político que fale em privatizar estatais deficitárias, ineficientes ou que simplesmente não tenham uma justificativa clara para serem mantidas no setor público. Maldito o governo que insista em manter as contas públicas e a inflação sob controle. “É um liberal”, alguém logo dirá. Ou, muito pior: “Não passa de um neoliberal”.
Resumindo, creio não exagerar quando digo que, entre nós, menoscabar o liberalismo se tornou uma atitude generalizada, direi mesmo um indicativo de qualidade intelectual: uma norma “culta”. Como isso aconteceu é uma história um pouco longa, mas farei o possível para contá-la no restante deste artigo.
A primeira causa – aliás, por definição – é o liberalismo político ser a teoria da democracia representativa – tanto assim que às vezes a designamos como democracia liberal; o oposto, portanto, do fascismo e do comunismo. Segue-se que o adjetivo “liberal” diz respeito a uma forma política dotada de instituições voltadas para a preservação da liberdade dos indivíduos e a autonomia de associações dos mais variados tipos. Como ideologias, o fascismo e o comunismo comportam exegeses imensamente complexas, mas os sistemas políticos que se propuseram a aplicá-las na realidade histórica foram totalitários, sempre e sem nenhuma exceção. Uma conclusão preliminar é, pois, que algo há de estranho em nossa alma latino-americana, ou pelo menos na alma das categorias profissionais a que me referi. Parece que odiamos viver em liberdade e esperamos um dia viver em Estados baseados no partido único, na polícia secreta e na censura generalizada dos meios de comunicação.
Outra causa perceptível é que o antiliberalismo geralmente aparece em estreita associação com o antiamericanismo. Odiamos a liberdade porque os Estados Unidos a cultivam e simbolizam. Porque tiveram a ousadia de se desenvolver economicamente de uma forma espetacular; por terem saltado de uma condição cultural de terceira classe para a dianteira em todos os setores do conhecimento, fato atestado por todos os rankings das universidades de todos os continentes. E, sobretudo, por sua visão atomística do individuo, uma filosofia abominável, eticamente inferior ao “comunitarismo” que nos guia e inspira, assim como inspirou ditaduras fascistas e comunistas pelo mundo afora.
Deve ser por esses e outros horrores do liberalismo em vários campos de atividade que nosotros tendemos a rejeitá-lo. Nossos corações e mentes pendem para o antiliberalismo, tão bem representado no século 20 por um Mussolini, um Stalin e até um Perón; e no passado recente, por um Hugo Chávez, o grande inspirador da revolução bolivariana e do progresso de seu país, a Venezuela.
Marxistas por formação ou simbiose, os antiliberais, como disse, tomam-se de sacrossanto horror quando pressentem a proximidade de um “neoliberal”. Esse, ao ver deles, é um indivíduo que não se contenta com manter a moeda estável e as contas públicas em ordem, com melhorar a eficiência no gasto público; não, eles querem mais que isso. Querem retirar do Estado suas atividades mais nobres, desde logo as que exerce por meio de empresas públicas, direcionando suas energias para tarefas comezinhas como a educação das crianças e dos jovens, para tentar minorar o sofrimento dos que acorrem aos nossos serviços públicos de saúde (cuja qualidade Lula certificou como sendo de Primeiro Mundo), ou ainda, a segurança pública e a defesa nacional.
Como pode alguém querer um Estado que faça “só isso”? – perguntam os petistas, os intelectuais de esquerda, alguns clérigos e, naturalmente, aquela parte do empresariado que gosta do capitalismo, mas odeia a concorrência.
Mas qual é, afinal, o ponto mais importante da disjuntiva liberalismo x antiliberalismo? O problema de fundo, o verdadeiro divisor de águas, parece-me ser o papel do Estado. O papel e, portanto, a dimensão e os tipos de atividades que devem permanecer na esfera pública, para bem assegurar os objetivos e a soberania nacionais. Antigamente, o que os antiliberais em geral e os fascistas em particular não toleravam era o que chamavam de Estado gendarme, guardião e protetor dos interesses burgueses; hoje, mais ou menos na mesma linha, o que causa urticária nos marxistas por formação ou simbiose é a (suposta) ideia do Estado “mínimo”. O que não deixa de ser curioso, tendo eles sempre acreditado que, depois da revolução socialista, o Estado pouco a pouco fenecerá, ou seja, perderá seu “caráter político”; por falta de função, ele se tornará cada vez menos necessário.
Escusado dizer que jamais algo parecido aconteceu em algum país socialista. Mas o ponto que importa é este: os segmentos intelectuais a que me referi, que tão exacerbadamente combatem o “neo”-liberalismo, na verdade, o fazem em nome de um “paleo”-liberalismo.
*Bolívar Lamounier é cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultoria, membro da Academia Paulista de Letras, e autor do livro 'Tribunos, Profetas e Sacerdotes: Intelectuais e Ideologias no Século 20' (Companhia das Letras, 2014)
Expectativas positivas - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 21/05
O sucesso ou fracasso do governo Temer dependerá rigorosamente dos ajustes econômicos que permitam ao país retomar minimamente o crescimento em 2018. Esta é a ideia central para a qual convergem as opiniões dos entrevistados de uma pesquisa feita pela consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, sobre expectativas do desempenho do governo provisório.
Na sondagem realizada entre os dias 13 e 19 de maio junto a uma amostra de 82 empresários, executivos, economistas, cientistas políticos, gestores públicos e jornalistas de todas as regiões do país, foi solicitada a avaliação de quatro cenários plausíveis, alicerçadas na evolução das votações da admissibilidade do impeachment nas duas casas do Congresso e nos primeiros movimentos do novo governo. São eles:
FRACASSO TOTAL: O governo transitório de Temer não dá certo e Dilma retorna à Presidência. (7% )
FRACASSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente, mas o governo Temer “patina”, só consegue realizar os ajustes econômicos parciais e não conquista a confiança do mercado. O quadro econômico mantém-se adverso, e seu governo mergulha num processo de “sarneyzação”. (29%)
SUCESSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos emergenciais. Emplaca agenda mínima de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda, e o Brasil volta a crescer moderadamente em 2018. (49%)
SUCESSO AMPLO: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos e políticos essenciais e inicia um vigoroso ciclo de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda, e o Brasil volta a crescer fortemente em 2018. (15%)
O resultado da pesquisa revelou que há razões de sobra para o otimismo. “Apesar de ainda restar um elevado nível de incerteza quanto ao desdobramento desta crise, há uma expectativa positiva dominante”, analisa o presidente da Macroplan, Claudio Porto.
De acordo com a sondagem, 64% dos entrevistados apostam em um cenário de sucesso (parcial ou amplo), contra 36% com prognóstico negativo, uma proporção de quase 2 por 1 (1,78 por 1 para ser preciso).
A expectativa mais frequente (48% dos entrevistados) indica um otimismo moderado e “sucesso parcial” do governo Temer.
Neste cenário, o Brasil sai da “UTI econômica”, realiza algumas reformas e retoma algum crescimento a partir de 2018. É um cenário que sugere a superação da fase mais aguda da crise, mas não o encaminhamento da solução de todos ou dos maiores obstáculos estruturais a um novo ciclo de crescimento sustentado, provavelmente em face das resistências políticas a medidas mais drásticas e/ou ao significativo passivo de problemas econômicos herdados da gestão anterior.
Já a chance de sucesso total do governo Temer alcança 16% da média das probabilidades. Neste cenário o Brasil não apenas sai da “UTI econômica”, mas também viabiliza os ajustes econômicos e políticos essenciais, e dá partida a um vigoroso ciclo de reformas, que melhora muito o clima econômico.
Esta mudança, em combinação virtuosa com a reversão do ciclo econômico, levaria o Brasil a retomar um crescimento forte a partir de 2018. Na sondagem da Macroplan, contudo, fica evidente que as expectativas negativas não podem ser desprezadas: 36% acreditam que o governo Temer fracassará total ou parcialmente.
Entre os pessimistas, 30% sinalizam que o governo Temer somente logrará ajustes econômicos pontuais e, consequentemente, perderá a confiança dos mercados, e experimentará um progressivo processo de “sarneyzação”, ou uma espécie de “reedição do Levy” e do “pós-Levy”, com o governo acumulando derrotas no Legislativo e enfrentando uma progressiva deterioração de expectativas dos agentes econômicos.
Finalmente, o cenário menos provável é o de retorno de Dilma Rousseff à Presidência da República, movida por um fracasso amplo do governo interino de Temer: a probabilidade atribuída a este cenário é de apenas 6%. “Hoje, para a quase totalidade dos analistas, este é um cenário implausível. Mas a boa prática de análise prospectiva recomenda que não façamos o seu descarte imediato”, recomenda Claudio Porto, ressaltando que o principal fator de incerteza a considerar é a evolução da “Lava Jato”, que adiciona um elevado nível de imprevisibilidade à conjuntura políticoinstitucional e mesmo criminal nesta “arena”.
O sucesso ou fracasso do governo Temer dependerá rigorosamente dos ajustes econômicos que permitam ao país retomar minimamente o crescimento em 2018. Esta é a ideia central para a qual convergem as opiniões dos entrevistados de uma pesquisa feita pela consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, sobre expectativas do desempenho do governo provisório.
Na sondagem realizada entre os dias 13 e 19 de maio junto a uma amostra de 82 empresários, executivos, economistas, cientistas políticos, gestores públicos e jornalistas de todas as regiões do país, foi solicitada a avaliação de quatro cenários plausíveis, alicerçadas na evolução das votações da admissibilidade do impeachment nas duas casas do Congresso e nos primeiros movimentos do novo governo. São eles:
FRACASSO TOTAL: O governo transitório de Temer não dá certo e Dilma retorna à Presidência. (7% )
FRACASSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente, mas o governo Temer “patina”, só consegue realizar os ajustes econômicos parciais e não conquista a confiança do mercado. O quadro econômico mantém-se adverso, e seu governo mergulha num processo de “sarneyzação”. (29%)
SUCESSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos emergenciais. Emplaca agenda mínima de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda, e o Brasil volta a crescer moderadamente em 2018. (49%)
SUCESSO AMPLO: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos e políticos essenciais e inicia um vigoroso ciclo de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda, e o Brasil volta a crescer fortemente em 2018. (15%)
O resultado da pesquisa revelou que há razões de sobra para o otimismo. “Apesar de ainda restar um elevado nível de incerteza quanto ao desdobramento desta crise, há uma expectativa positiva dominante”, analisa o presidente da Macroplan, Claudio Porto.
De acordo com a sondagem, 64% dos entrevistados apostam em um cenário de sucesso (parcial ou amplo), contra 36% com prognóstico negativo, uma proporção de quase 2 por 1 (1,78 por 1 para ser preciso).
A expectativa mais frequente (48% dos entrevistados) indica um otimismo moderado e “sucesso parcial” do governo Temer.
Neste cenário, o Brasil sai da “UTI econômica”, realiza algumas reformas e retoma algum crescimento a partir de 2018. É um cenário que sugere a superação da fase mais aguda da crise, mas não o encaminhamento da solução de todos ou dos maiores obstáculos estruturais a um novo ciclo de crescimento sustentado, provavelmente em face das resistências políticas a medidas mais drásticas e/ou ao significativo passivo de problemas econômicos herdados da gestão anterior.
Já a chance de sucesso total do governo Temer alcança 16% da média das probabilidades. Neste cenário o Brasil não apenas sai da “UTI econômica”, mas também viabiliza os ajustes econômicos e políticos essenciais, e dá partida a um vigoroso ciclo de reformas, que melhora muito o clima econômico.
Esta mudança, em combinação virtuosa com a reversão do ciclo econômico, levaria o Brasil a retomar um crescimento forte a partir de 2018. Na sondagem da Macroplan, contudo, fica evidente que as expectativas negativas não podem ser desprezadas: 36% acreditam que o governo Temer fracassará total ou parcialmente.
Entre os pessimistas, 30% sinalizam que o governo Temer somente logrará ajustes econômicos pontuais e, consequentemente, perderá a confiança dos mercados, e experimentará um progressivo processo de “sarneyzação”, ou uma espécie de “reedição do Levy” e do “pós-Levy”, com o governo acumulando derrotas no Legislativo e enfrentando uma progressiva deterioração de expectativas dos agentes econômicos.
Finalmente, o cenário menos provável é o de retorno de Dilma Rousseff à Presidência da República, movida por um fracasso amplo do governo interino de Temer: a probabilidade atribuída a este cenário é de apenas 6%. “Hoje, para a quase totalidade dos analistas, este é um cenário implausível. Mas a boa prática de análise prospectiva recomenda que não façamos o seu descarte imediato”, recomenda Claudio Porto, ressaltando que o principal fator de incerteza a considerar é a evolução da “Lava Jato”, que adiciona um elevado nível de imprevisibilidade à conjuntura políticoinstitucional e mesmo criminal nesta “arena”.
O lobo e o cordeiro - IGOR GIELOW
Folha de S.Paulo - 21/05
Cenário 1- Michel Temer chega a uma semana de governo com o peso de anos. Entregou à sociedade que busca estabilidade conjugada com mudança uma Esplanada que mais parece saída de um cenário infernal pintado por Bruegel.
Fez escolhas estranhas e viu a ministrada deitar falação só para recuar após a repercussão. Errou na simbologia, ignorando gênero e raça.
Comprou briga que poderia ser posterior na cultura, ainda mais com aquela categoria específica de cineastas pernambucanos subsidiados, a quem nunca repugna a faca dos cineastas pernambucanos subsidiados.
Pior, a boa equipe econômica está à mercê do monstrengo criado para garantir a tramitação de suas medidas, tendo de engolir coisas como o líder na Câmara. É uma hidra inconfiável, com várias cabeças saindo de um corpo que une Cunha a Renan.
Cenário 2 - Michel Temer chega a uma semana de governo fazendo o possível com o que tem à mão, sem o crédito que uma eleição consagradora garantiria -Dilma-2 que o diga.
A área econômica promete uma racionalidade não vista há anos, e tem candidatos a estrelas em vários postos. Terá dificuldades quando o teste da realidade no Congresso chegar, mas para isso Temer montou um ministério de viés parlamentar, com os problemas óbvios da miserável qualidade de nossa representação e do sistema político em si.
Começou a quebrar o aparelhamento petista. Simbolicamente, mudou para melhor o tom da política externa, embora na prática a coisa esteja sendo sentida mesmo nas edições do "Diário Oficial" e na revisão de gastos com bizarrices como blogs governistas (se não surgirão os "blogs temeristas" é algo a ver).
Todas as afirmações acima são reais. O grau de sucesso ou de fracasso de Temer reside na habilidade de fazer conviver o lobo e o cordeiro que coabitam no governo. Não será fácil.
Cenário 1- Michel Temer chega a uma semana de governo com o peso de anos. Entregou à sociedade que busca estabilidade conjugada com mudança uma Esplanada que mais parece saída de um cenário infernal pintado por Bruegel.
Fez escolhas estranhas e viu a ministrada deitar falação só para recuar após a repercussão. Errou na simbologia, ignorando gênero e raça.
Comprou briga que poderia ser posterior na cultura, ainda mais com aquela categoria específica de cineastas pernambucanos subsidiados, a quem nunca repugna a faca dos cineastas pernambucanos subsidiados.
Pior, a boa equipe econômica está à mercê do monstrengo criado para garantir a tramitação de suas medidas, tendo de engolir coisas como o líder na Câmara. É uma hidra inconfiável, com várias cabeças saindo de um corpo que une Cunha a Renan.
Cenário 2 - Michel Temer chega a uma semana de governo fazendo o possível com o que tem à mão, sem o crédito que uma eleição consagradora garantiria -Dilma-2 que o diga.
A área econômica promete uma racionalidade não vista há anos, e tem candidatos a estrelas em vários postos. Terá dificuldades quando o teste da realidade no Congresso chegar, mas para isso Temer montou um ministério de viés parlamentar, com os problemas óbvios da miserável qualidade de nossa representação e do sistema político em si.
Começou a quebrar o aparelhamento petista. Simbolicamente, mudou para melhor o tom da política externa, embora na prática a coisa esteja sendo sentida mesmo nas edições do "Diário Oficial" e na revisão de gastos com bizarrices como blogs governistas (se não surgirão os "blogs temeristas" é algo a ver).
Todas as afirmações acima são reais. O grau de sucesso ou de fracasso de Temer reside na habilidade de fazer conviver o lobo e o cordeiro que coabitam no governo. Não será fácil.
PT confirma aparelhar em nome do ‘projeto’ - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 21/05
Documento do diretório nacional do partido lamenta não ter intervido nas cúpulas da PM, do Ministério Público e mudado os currículos das academias militares
O documento “Resolução sobre conjuntura", aprovado pelo diretório do PT no início da semana, é prova cabal da validade do provérbio “o papel aceita tudo”. Escrito numa linguagem de militância revolucionária das décadas de 60 e 70, o texto trata de um país imaginário chamado Brasil, em que houve um “golpe”, desfechado pelo imperialismo internacional com apoio da burguesia doméstica, “as classes dominantes", e pelos “monopólios da informação”, diante do qual é preciso resistir.
Assim como a literatura de cordel tem uma linguagem própria — guardadas as diferenças, a favor do cordel —, com este tipo de texto de panfleto de doutrina acontece o mesmo. Mas chama a atenção que, no documento, o PT assuma de forma escancarada o aparelhamento do Estado, para colocá-lo a serviço de um projeto de poder nada democrático e republicano.
Ao fazer autocrítica, o PT se penitencia por haver priorizado o “pacto pluriclassista” na eleição de Lula — ele deseja um governo uniclassista, só dos trabalhadores; impossível, se for pelo voto. E lamenta, por outras palavras, ter sido ineficiente na infiltração nos organismos de Estado.
Considera-se descuidado com as estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, assim como por não ter modificado “os currículos das academias militares”, nem promovido “oficiais com compromisso democrático e nacionalista”. Tampouco fortalecido “a ala mais avançada do Itamaraty”, e por não ter redimensionado ‘‘sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da comunicação”. (Desconhecem que é ínfima a parcela desta publicidade na receita que financia o jornalismo profissional).
Não que tenha caído a máscara do partido; afinal a verdadeira face do projeto lulopetista nunca esteve completamente oculta. Mas chega a ser um registro histórico um documento em que o diretório nacional do partido assume sua faceta — esta sim — golpista. Várias iniciativas, desde o primeiro governo Lula, expuseram o real sentido do projeto lulopetista. Um exemplo é a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), esculpida no MinC de Gilberto Gil e Juca Ferreira com a intenção de controlar o conteúdo do setor.
Diante da previsível grita, houve recuo. O mesmo aconteceu no projeto do Conselho Federal dos Jornalistas, também com intenções intervencionistas: patrulhar profissionais nas redações e puni-los com base em algum “código de ética”.
Houve mais casos. Importa é entender, de uma vez por todas, que este é um projeto que pretende instalar no Brasil um regime bolivariano. Não conseguiu, nem conseguirá, diante da demonstração de solidez das instituições republicanas.
O PT deveria aproveitar que escancarou o projeto em documento, para passar a defendê-lo abertamente e colocá-lo sob o teste das urnas. Só assim terá alguma chance de se defender da acusação de ser o verdadeiro golpista.
Documento do diretório nacional do partido lamenta não ter intervido nas cúpulas da PM, do Ministério Público e mudado os currículos das academias militares
O documento “Resolução sobre conjuntura", aprovado pelo diretório do PT no início da semana, é prova cabal da validade do provérbio “o papel aceita tudo”. Escrito numa linguagem de militância revolucionária das décadas de 60 e 70, o texto trata de um país imaginário chamado Brasil, em que houve um “golpe”, desfechado pelo imperialismo internacional com apoio da burguesia doméstica, “as classes dominantes", e pelos “monopólios da informação”, diante do qual é preciso resistir.
Assim como a literatura de cordel tem uma linguagem própria — guardadas as diferenças, a favor do cordel —, com este tipo de texto de panfleto de doutrina acontece o mesmo. Mas chama a atenção que, no documento, o PT assuma de forma escancarada o aparelhamento do Estado, para colocá-lo a serviço de um projeto de poder nada democrático e republicano.
Ao fazer autocrítica, o PT se penitencia por haver priorizado o “pacto pluriclassista” na eleição de Lula — ele deseja um governo uniclassista, só dos trabalhadores; impossível, se for pelo voto. E lamenta, por outras palavras, ter sido ineficiente na infiltração nos organismos de Estado.
Considera-se descuidado com as estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, assim como por não ter modificado “os currículos das academias militares”, nem promovido “oficiais com compromisso democrático e nacionalista”. Tampouco fortalecido “a ala mais avançada do Itamaraty”, e por não ter redimensionado ‘‘sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da comunicação”. (Desconhecem que é ínfima a parcela desta publicidade na receita que financia o jornalismo profissional).
Não que tenha caído a máscara do partido; afinal a verdadeira face do projeto lulopetista nunca esteve completamente oculta. Mas chega a ser um registro histórico um documento em que o diretório nacional do partido assume sua faceta — esta sim — golpista. Várias iniciativas, desde o primeiro governo Lula, expuseram o real sentido do projeto lulopetista. Um exemplo é a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), esculpida no MinC de Gilberto Gil e Juca Ferreira com a intenção de controlar o conteúdo do setor.
Diante da previsível grita, houve recuo. O mesmo aconteceu no projeto do Conselho Federal dos Jornalistas, também com intenções intervencionistas: patrulhar profissionais nas redações e puni-los com base em algum “código de ética”.
Houve mais casos. Importa é entender, de uma vez por todas, que este é um projeto que pretende instalar no Brasil um regime bolivariano. Não conseguiu, nem conseguirá, diante da demonstração de solidez das instituições republicanas.
O PT deveria aproveitar que escancarou o projeto em documento, para passar a defendê-lo abertamente e colocá-lo sob o teste das urnas. Só assim terá alguma chance de se defender da acusação de ser o verdadeiro golpista.
A contaminação do PT - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 21/05
É uma história bem triste: lá estavam eles, os épicos petistas, empenhados em salvar o povo brasileiro da opressão quando, não mais que de repente, “eles” chegaram e “contaminaram” o PT com o “financiamento empresarial de campanhas” por meio do qual “as classes dominantes se articulam com o Estado”. Embora tenham, supõe-se, resistido bravamente, os petistas acabaram “envolvidos em práticas de partidos tradicionais”.
Parece piada, mas é exatamente esse o estapafúrdio argumento central da “autocrítica” feita pelos dirigentes nacionais do PT, na qual admitiram erros na condução da economia, todos eles atribuídos a Dilma Rousseff.
O presidente do partido, Rui Falcão, fez questão de explicar que o PT não está “pedindo desculpas nem fulanizando avaliações”, mas admite: “Pontuamos como autocrítica, por exemplo, o fato de tardarmos a reconhecer que havia um esgotamento da política de desenvolvimento que imprimimos”. Mas a direção nacional petista, fingindo acreditar que Dilma Rousseff voltará a exercer a Presidência da República, deixou claro, no documento que serviu de base para discussão no encontro, que a responsabilidade pelo “erro” é toda dela: “O Partido dos Trabalhadores propõe que a presidenta Dilma Rousseff apresente rapidamente um compromisso público sobre o rumo de seu governo, depois de derrotado o golpismo, defendendo uma ampla reforma política e medidas capazes de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”.
Quanto à “ampla reforma política”, Falcão não se deu ao trabalho de explicar por que o PT não moveu uma palha para promovê-la nos 13 anos em que ocupou o poder, embora a explicação pareça implícita na admissão do fato de que o partido foi “contaminado” e preferiu dedicar-se a usufruir os benefícios da corrupção que instituiu como método de cooptação política e de fundamento da “governabilidade”.
Quanto à economia, o documento petista persevera no voluntarismo – ou caradurismo – que é a principal característica de seu populismo irresponsável. Propõe para o triunfante regresso de Dilma a demagógica obviedade de “medidas capazes de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”, como se essas medidas pudessem se concretizar pela simples vontade dos governantes. Ora, o desenvolvimento econômico é desejado por todo mundo, não apenas pelos petistas. Mas foi a incompetência e teimosia do governo do PT que resultaram não no desejado desenvolvimento, mas em retração econômica, com suas graves consequências sociais. Essa tragédia é produto da absoluta inépcia administrativa do lulopetismo, aliada à espoliação sistemática do Tesouro e dos recursos da Nação.
A distribuição de renda de que falam os lulopetistas é outra empulhação paternalista, porque, por razões eleitorais, querem fazer o povo acreditar que se trata da ação unilateral de um governo generosamente disposto a “distribuir” dinheiro do próprio bolso – como se esse dinheiro não fosse de todos –, escamoteando o fato de que a verdadeira distribuição de renda é o justo compartilhamento, por toda a sociedade, da riqueza que ela própria cria. Bolsa Família, por exemplo, não é distribuição de renda. É medida governamental de emergência destinada a atender carências básicas.
Finalmente, “geração de emprego”, condição indispensável ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social, é uma expressão que hoje o PT deveria ter vergonha de mencionar, já que os cerca de 14 milhões de brasileiros evidenciam o retumbante fracasso de sua “nova matriz econômica”.
Afastado do poder como consequência dos crimes de responsabilidade de que Dilma Rousseff é acusada, e também porque se demonstrou incapaz de abrir para os brasileiros as portas do prometido Paraíso, o PT preocupa-se agora exclusivamente com sua sobrevivência política. Dividido, não consegue definir a melhor estratégia para recuperar o prestígio perdido. Muitos petistas, como Lula, pensam em “voltar às raízes” e reencetar a luta por um “governo popular”. Não será tarefa fácil, porque perdeu a identidade, a credibilidade e o poder de garantir o apoio de movimentos “de esquerda” mantidos com verbas públicas. Foi no que deu ter-se deixado “contaminar”, não pelas “classes dominantes”, mas pelo embuste e pela corrupção.
É uma história bem triste: lá estavam eles, os épicos petistas, empenhados em salvar o povo brasileiro da opressão quando, não mais que de repente, “eles” chegaram e “contaminaram” o PT com o “financiamento empresarial de campanhas” por meio do qual “as classes dominantes se articulam com o Estado”. Embora tenham, supõe-se, resistido bravamente, os petistas acabaram “envolvidos em práticas de partidos tradicionais”.
Parece piada, mas é exatamente esse o estapafúrdio argumento central da “autocrítica” feita pelos dirigentes nacionais do PT, na qual admitiram erros na condução da economia, todos eles atribuídos a Dilma Rousseff.
O presidente do partido, Rui Falcão, fez questão de explicar que o PT não está “pedindo desculpas nem fulanizando avaliações”, mas admite: “Pontuamos como autocrítica, por exemplo, o fato de tardarmos a reconhecer que havia um esgotamento da política de desenvolvimento que imprimimos”. Mas a direção nacional petista, fingindo acreditar que Dilma Rousseff voltará a exercer a Presidência da República, deixou claro, no documento que serviu de base para discussão no encontro, que a responsabilidade pelo “erro” é toda dela: “O Partido dos Trabalhadores propõe que a presidenta Dilma Rousseff apresente rapidamente um compromisso público sobre o rumo de seu governo, depois de derrotado o golpismo, defendendo uma ampla reforma política e medidas capazes de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”.
Quanto à “ampla reforma política”, Falcão não se deu ao trabalho de explicar por que o PT não moveu uma palha para promovê-la nos 13 anos em que ocupou o poder, embora a explicação pareça implícita na admissão do fato de que o partido foi “contaminado” e preferiu dedicar-se a usufruir os benefícios da corrupção que instituiu como método de cooptação política e de fundamento da “governabilidade”.
Quanto à economia, o documento petista persevera no voluntarismo – ou caradurismo – que é a principal característica de seu populismo irresponsável. Propõe para o triunfante regresso de Dilma a demagógica obviedade de “medidas capazes de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”, como se essas medidas pudessem se concretizar pela simples vontade dos governantes. Ora, o desenvolvimento econômico é desejado por todo mundo, não apenas pelos petistas. Mas foi a incompetência e teimosia do governo do PT que resultaram não no desejado desenvolvimento, mas em retração econômica, com suas graves consequências sociais. Essa tragédia é produto da absoluta inépcia administrativa do lulopetismo, aliada à espoliação sistemática do Tesouro e dos recursos da Nação.
A distribuição de renda de que falam os lulopetistas é outra empulhação paternalista, porque, por razões eleitorais, querem fazer o povo acreditar que se trata da ação unilateral de um governo generosamente disposto a “distribuir” dinheiro do próprio bolso – como se esse dinheiro não fosse de todos –, escamoteando o fato de que a verdadeira distribuição de renda é o justo compartilhamento, por toda a sociedade, da riqueza que ela própria cria. Bolsa Família, por exemplo, não é distribuição de renda. É medida governamental de emergência destinada a atender carências básicas.
Finalmente, “geração de emprego”, condição indispensável ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social, é uma expressão que hoje o PT deveria ter vergonha de mencionar, já que os cerca de 14 milhões de brasileiros evidenciam o retumbante fracasso de sua “nova matriz econômica”.
Afastado do poder como consequência dos crimes de responsabilidade de que Dilma Rousseff é acusada, e também porque se demonstrou incapaz de abrir para os brasileiros as portas do prometido Paraíso, o PT preocupa-se agora exclusivamente com sua sobrevivência política. Dividido, não consegue definir a melhor estratégia para recuperar o prestígio perdido. Muitos petistas, como Lula, pensam em “voltar às raízes” e reencetar a luta por um “governo popular”. Não será tarefa fácil, porque perdeu a identidade, a credibilidade e o poder de garantir o apoio de movimentos “de esquerda” mantidos com verbas públicas. Foi no que deu ter-se deixado “contaminar”, não pelas “classes dominantes”, mas pelo embuste e pela corrupção.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
‘JANUS’, MAS PODE CHAMAR DE ‘OPERAÇÃO LULA’
O noticiário sobre a Operação Janus, nesta sexta (20), da Polícia Federal, fez parecer que, apesar do envolvimento do sobrinho, o ex-presidente Lula não era investigado. Porém, é mais que isso: trata-se do principal investigado. Nota do Ministério Público Federal do DF deixou claro que o objetivo da “Janus” é apurar se Lula “praticou tráfico internacional de influência em favor da construtora Odebrecht”.
É SÓ O COMEÇO
A primeira fase da Janus, nesta sexta, teve a ver apenas com o financiamento do BNDES para uma obra da Odebrecht em Angola.
VEM MAIS POR AÍ
Lula e quem o ajudou a batalhar negócios para a Odebrecht no exterior podem esperar novas fases da Janus. Experimentarão fortes emoções.
PILANTRAGEM FOR EXPORT
Também são investigados os contratos do BNDES relativos a obras em Cuba, Venezuela, República Dominicana e Angola, entre muitos outros.
OS INVESTIGADORES
Três desassombrados procuradores pilotam a Operação Janus: Francisco Guilherme Bastos, Ivan Cláudio Marx e Luciana Loureiro.
NA OPERAÇÃO JANUS, PF INVESTIGA ‘CRIME PERFEITO’
A Operação Janus investiga o que o submundo da corrupção em Brasília chamava de “crime perfeito”. A suspeita é que Lula fechava acordos com ditadores, a maioria africanos, para o BNDES financiar grandes obras naqueles países, mediante juros ínfimos, longo prazo de carência e contratos secretos, sob a condição de serem entregues a empreiteira brasileira. No Brasil, mandava o BNDES financiar a obra.
OPERAÇÃO TRIANGULAR
Após o entendimento de Lula, o Brasil assinava acordos de cooperação com a ditadura atraída para o esquema, que contratava a Odebrecht.
DIRETO, SEM ESCALA
O BNDES financiava a obra lá fora, mas pagava a Odebrecht no Brasil. Dinheiro público saído do Tesouro para a empreiteira, sem licitação.
POR QUE ERA ‘CRIME PERFEITO’
Ditaduras não se deixam fiscalizar, nem os órgãos de controle do Brasil podiam auditar os contratos no BNDES, classificados de “secretos”.
NA NOSSA CONTA
O Tribunal de Contas da União investiga os pedidos de “quarentena” à Comissão de Ética Pública da Presidência. Já passam de 80 os espertalhões ligados a Dilma Rousseff que querem receber salário integral sem trabalhar, como esta coluna revelou em abril passado.
TRAIR E COÇAR...
...é só começar: o PDT do ex-ministro dilmista Carlos Lupi avalia não seguir o PT e o PCdoB na oposição ao Michel Temer. Pretende adotar “linha independente”, de olho nas eleições municipais de outubro.
IMPOSTO À VISTA
Senadores não descartam a criação de impostos para tentar “salvar a economia”. No entanto, avisaram ao presidente Michel Temer que a medida só pode ser adotada após “esgotadas todas as opções”.
MARCA DO DEPUTADO
“Os deputados têm que colocar as digitais, mostrando se são favoráveis ou contrários”, afirma o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), sobre o processo no Conselho de Ética contra Eduardo Cunha.
NO MEIO DO CAMINHO
Petistas menos ortodoxos dizem que Michel Temer tem “ótimas intenções”, mas a permanência de Eduardo Cunha na Câmara mancha o governo. Aliados do presidente concordam: Cunha precisa sair.
E AGORA?
O deputado Paulinho da Força (SD-SP), expoente do impeachment de Dilma, tem um nó para desatar. O partido, com base sindical, é contra recriar a CPMF. Mas o imposto ainda não foi descartado pelo governo.
VACINAÇÃO LIBERADA
Após liberar vacina H1N1 apenas para parlamentares, o Senado conseguiu mil doses para seus servidores. A direção do Senado garante que não haverá custo para os cofres públicos. Humm...
FUNDAMENTAL
O presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) é comparado ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcante, que também era nordestino e do PP. “A diferença é que Severino tinha Inocêncio Oliveira, que sabia tudo de regimento”, diz um experiente deputado.
PERGUNTA NO ALVORADA
Se o governo fosse do PT, o Brasil ficaria sabendo do rombo de R$ 170 bilhões nas contas públicas? Ou iria “pedalar” a má notícia para 2017?
O noticiário sobre a Operação Janus, nesta sexta (20), da Polícia Federal, fez parecer que, apesar do envolvimento do sobrinho, o ex-presidente Lula não era investigado. Porém, é mais que isso: trata-se do principal investigado. Nota do Ministério Público Federal do DF deixou claro que o objetivo da “Janus” é apurar se Lula “praticou tráfico internacional de influência em favor da construtora Odebrecht”.
É SÓ O COMEÇO
A primeira fase da Janus, nesta sexta, teve a ver apenas com o financiamento do BNDES para uma obra da Odebrecht em Angola.
VEM MAIS POR AÍ
Lula e quem o ajudou a batalhar negócios para a Odebrecht no exterior podem esperar novas fases da Janus. Experimentarão fortes emoções.
PILANTRAGEM FOR EXPORT
Também são investigados os contratos do BNDES relativos a obras em Cuba, Venezuela, República Dominicana e Angola, entre muitos outros.
OS INVESTIGADORES
Três desassombrados procuradores pilotam a Operação Janus: Francisco Guilherme Bastos, Ivan Cláudio Marx e Luciana Loureiro.
NA OPERAÇÃO JANUS, PF INVESTIGA ‘CRIME PERFEITO’
A Operação Janus investiga o que o submundo da corrupção em Brasília chamava de “crime perfeito”. A suspeita é que Lula fechava acordos com ditadores, a maioria africanos, para o BNDES financiar grandes obras naqueles países, mediante juros ínfimos, longo prazo de carência e contratos secretos, sob a condição de serem entregues a empreiteira brasileira. No Brasil, mandava o BNDES financiar a obra.
OPERAÇÃO TRIANGULAR
Após o entendimento de Lula, o Brasil assinava acordos de cooperação com a ditadura atraída para o esquema, que contratava a Odebrecht.
DIRETO, SEM ESCALA
O BNDES financiava a obra lá fora, mas pagava a Odebrecht no Brasil. Dinheiro público saído do Tesouro para a empreiteira, sem licitação.
POR QUE ERA ‘CRIME PERFEITO’
Ditaduras não se deixam fiscalizar, nem os órgãos de controle do Brasil podiam auditar os contratos no BNDES, classificados de “secretos”.
NA NOSSA CONTA
O Tribunal de Contas da União investiga os pedidos de “quarentena” à Comissão de Ética Pública da Presidência. Já passam de 80 os espertalhões ligados a Dilma Rousseff que querem receber salário integral sem trabalhar, como esta coluna revelou em abril passado.
TRAIR E COÇAR...
...é só começar: o PDT do ex-ministro dilmista Carlos Lupi avalia não seguir o PT e o PCdoB na oposição ao Michel Temer. Pretende adotar “linha independente”, de olho nas eleições municipais de outubro.
IMPOSTO À VISTA
Senadores não descartam a criação de impostos para tentar “salvar a economia”. No entanto, avisaram ao presidente Michel Temer que a medida só pode ser adotada após “esgotadas todas as opções”.
MARCA DO DEPUTADO
“Os deputados têm que colocar as digitais, mostrando se são favoráveis ou contrários”, afirma o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), sobre o processo no Conselho de Ética contra Eduardo Cunha.
NO MEIO DO CAMINHO
Petistas menos ortodoxos dizem que Michel Temer tem “ótimas intenções”, mas a permanência de Eduardo Cunha na Câmara mancha o governo. Aliados do presidente concordam: Cunha precisa sair.
E AGORA?
O deputado Paulinho da Força (SD-SP), expoente do impeachment de Dilma, tem um nó para desatar. O partido, com base sindical, é contra recriar a CPMF. Mas o imposto ainda não foi descartado pelo governo.
VACINAÇÃO LIBERADA
Após liberar vacina H1N1 apenas para parlamentares, o Senado conseguiu mil doses para seus servidores. A direção do Senado garante que não haverá custo para os cofres públicos. Humm...
FUNDAMENTAL
O presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) é comparado ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcante, que também era nordestino e do PP. “A diferença é que Severino tinha Inocêncio Oliveira, que sabia tudo de regimento”, diz um experiente deputado.
PERGUNTA NO ALVORADA
Se o governo fosse do PT, o Brasil ficaria sabendo do rombo de R$ 170 bilhões nas contas públicas? Ou iria “pedalar” a má notícia para 2017?