FOLHA DE SP - 18/04
O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos .
Sem apoio ao pensamento liberal, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha
A “batalha do impeachment” é a ponta do iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma.
Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que ensinarão essa história. Essa história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir. A “inteligência” brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai mudar em breve. Quem ousar, nesse mundo da “inteligência”, romper com a esquerda perde networking.
Ao afirmar que “a história não perdoa as violências contra a democracia”, José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de História no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado.
O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma “teoria do Brasil” e uma historiografia. Essa construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários, professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.
Erra quem pensa que o PT desaparecerá. O Lula, provavelmente, sim, mas o PT como “agenda socialista do Brasil” só cresce. O materialismo dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno, Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e cultura no país. Basta ver a adesão da camada “letrada” do país ao combate ao impeachment ao longo dos últimos meses.
Ao lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação política organizada que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste praticamente opção “liberal” (não vou entrar muito no mérito do conceito aqui, nem usar termos malditos como “direita” que deixam a esquerda com água na boca). Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL, que parecem mais próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e vitimista. Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter de achá-lo um “deus”) e menos em agentes públicos. Significa investir mais na autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muito importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de financiar o trabalho das ideias. Pensa como “merceeiro”, como diria Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica.
O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou acadêmica. E, sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo à tarde. A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito.
Sem essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha.
segunda-feira, abril 18, 2016
O amanhã – AÉCIO NEVES
Folha de SP - 18/04
Escrevo este artigo com a televisão ligada e, assim como milhões de brasileiros, aguardo a decisão final da Câmara dos Deputados em relação à admissibilidade do processo de impedimento da presidente da República.
Independente do resultado final que, acredito, será pelo afastamento, a hora é de serenidade e responsabilidade. Não há lugar para vencidos ou vencedores. Há um país que precisa se reencontrar com seu destino, que precisa ser reconstruído.
Todo processo de afastamento de um presidente acirra tensões e provoca desgastes na sociedade. Ainda assim, diante da gravidade da crise que vivemos, tais danos são menos dolorosos do que o prolongamento da agonia que paralisa o país.
A tarefa de reconstrução não será breve, pois estamos diante da maior recessão da nossa história. O setor produtivo precisa voltar a produzir, os trabalhadores querem de volta seus empregos, as famílias sonham com a queda da inflação e juros menores para pagar suas dívidas. As contas públicas têm de ser reequilibradas. É muita coisa a ser feita. Urge que se comece já. Mas sem ilusões.
Não se conserta um país sem um projeto claro e sem coragem para implementá-lo. O que o momento recomenda é uma distensão no ambiente, de tal ordem que permita a retomada de um debate de alto nível, envolvendo toda a população em torno de questões centrais.
A sociedade pautou este caminho. Seja nas ruas, em junho de 2013, ao cobrar melhores serviços públicos, ou durante toda a investigação da Operação Lava Jato e, mais recentemente, ao longo de todo o processo impeachment. E não há volta.
É hora de apresentarmos ao Brasil uma nova e vigorosa agenda. É hora de enfrentarmos o desequilíbrio da Previdência, fazermos a simplificação do nosso sistema tributário e fortalecermos o papel das agências reguladoras (independência e meritocracia), requalificando de forma definitiva a administração pública.
Além disso, uma maior abertura comercial ocasionaria a recuperação da confiança, o aumento da taxa de investimento e a consequente recuperação do emprego. Só assim teremos recursos para garantir e ampliar os programas sociais colocados em risco pela incapacidade desse governo.
Não há clima para desordem ou radicalismos. A transição que se inicia merece nossas melhores expectativas. A oposição, que não é beneficiária do processo de impeachment, não fugirá à sua responsabilidade e dará sua contribuição para enfrentarmos e vencermos essa crise sem precedentes, na qual a irresponsabilidade dos sucessivos governos do PT nos mergulhou.
Neste momento grave da vida nacional, o PSDB estará onde sempre esteve.
Ao lado do Brasil.
Escrevo este artigo com a televisão ligada e, assim como milhões de brasileiros, aguardo a decisão final da Câmara dos Deputados em relação à admissibilidade do processo de impedimento da presidente da República.
Independente do resultado final que, acredito, será pelo afastamento, a hora é de serenidade e responsabilidade. Não há lugar para vencidos ou vencedores. Há um país que precisa se reencontrar com seu destino, que precisa ser reconstruído.
Todo processo de afastamento de um presidente acirra tensões e provoca desgastes na sociedade. Ainda assim, diante da gravidade da crise que vivemos, tais danos são menos dolorosos do que o prolongamento da agonia que paralisa o país.
A tarefa de reconstrução não será breve, pois estamos diante da maior recessão da nossa história. O setor produtivo precisa voltar a produzir, os trabalhadores querem de volta seus empregos, as famílias sonham com a queda da inflação e juros menores para pagar suas dívidas. As contas públicas têm de ser reequilibradas. É muita coisa a ser feita. Urge que se comece já. Mas sem ilusões.
Não se conserta um país sem um projeto claro e sem coragem para implementá-lo. O que o momento recomenda é uma distensão no ambiente, de tal ordem que permita a retomada de um debate de alto nível, envolvendo toda a população em torno de questões centrais.
A sociedade pautou este caminho. Seja nas ruas, em junho de 2013, ao cobrar melhores serviços públicos, ou durante toda a investigação da Operação Lava Jato e, mais recentemente, ao longo de todo o processo impeachment. E não há volta.
É hora de apresentarmos ao Brasil uma nova e vigorosa agenda. É hora de enfrentarmos o desequilíbrio da Previdência, fazermos a simplificação do nosso sistema tributário e fortalecermos o papel das agências reguladoras (independência e meritocracia), requalificando de forma definitiva a administração pública.
Além disso, uma maior abertura comercial ocasionaria a recuperação da confiança, o aumento da taxa de investimento e a consequente recuperação do emprego. Só assim teremos recursos para garantir e ampliar os programas sociais colocados em risco pela incapacidade desse governo.
Não há clima para desordem ou radicalismos. A transição que se inicia merece nossas melhores expectativas. A oposição, que não é beneficiária do processo de impeachment, não fugirá à sua responsabilidade e dará sua contribuição para enfrentarmos e vencermos essa crise sem precedentes, na qual a irresponsabilidade dos sucessivos governos do PT nos mergulhou.
Neste momento grave da vida nacional, o PSDB estará onde sempre esteve.
Ao lado do Brasil.
Faltou respeito - CORA RÓNAI
O GLOBO - 18/04
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido a falta de tolerância do governo
Há uma guerra de decibéis lá fora, na Esplanada dos Ministérios, onde estou nessa tarde de domingo. Dois caminhões de som, um em frente ao outro, mas cada qual do seu lado do muro, berram slogans e provocações, decididos, um e outro, a ganhar no grito. São uma metáfora perfeita para um país dividido, em que, até ontem, o governo, que deveria ser para todos, esmerava- se no “nós e eles”.
Hoje, porém, em pleno fervor do impeachment, o Palácio do Planalto resolveu mudar de tom, e estreou, na internet, uma campanha fofinha, em que clama por tolerância com a hashtag # respeitobasta. A imagem que acompanha o texto mostra uma borracha apagando o muro que, lá fora, divide o gramado, permitindo que as pessoas de um lado e do outro se misturem num carnaval de cores. Mas quem construiu o muro?! O cinismo da campanha é tão absurdo que vai além do reles insulto.
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido, justamente, a falta de tolerância do governo, e o seu total desrespeito pelos eleitores que preferiram outros partidos e candidatos. Ao longo dos últimos 13 anos, esses eleitores foram obrigados a ouvir, das autoridades máximas do país, que eram verdadeiros monstros, gente que não suportava ver pobres viajando de avião ou filhos de empregados frequentando a universidade.
No sábado, esse retrato odioso, que retira dos oposicionistas até a sua humanidade mais elementar, foi repetido, no plenário, por todos os deputados petistas, sem exceção. E, ainda na semana passada, recebendo mulheres no Planalto, a presidente posou ao lado de uma estudante negra segurando um cartaz onde se lia “A casa grande pira quando a senzala vira médica”. É difícil até começar a explicar o grau de desrespeito que uma frase dessas encerra. A presidente de todos os brasileiros jamais poderia concordar com uma ofensa assim dirigida àqueles que apenas não foram seus eleitores.
Por mais que se negue isso, um impeachment é um ato essencialmente político. Apesar das fraudes fiscais que cometeu, e apesar da sua política sempre equivocada, é bem provável que Dilma não chegasse a este ponto melancólico se tivesse governado, indistintamente, para todos os brasileiros, e não apenas para os que votaram nela e no Temer. # respeitobasta
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido a falta de tolerância do governo
Há uma guerra de decibéis lá fora, na Esplanada dos Ministérios, onde estou nessa tarde de domingo. Dois caminhões de som, um em frente ao outro, mas cada qual do seu lado do muro, berram slogans e provocações, decididos, um e outro, a ganhar no grito. São uma metáfora perfeita para um país dividido, em que, até ontem, o governo, que deveria ser para todos, esmerava- se no “nós e eles”.
Hoje, porém, em pleno fervor do impeachment, o Palácio do Planalto resolveu mudar de tom, e estreou, na internet, uma campanha fofinha, em que clama por tolerância com a hashtag # respeitobasta. A imagem que acompanha o texto mostra uma borracha apagando o muro que, lá fora, divide o gramado, permitindo que as pessoas de um lado e do outro se misturem num carnaval de cores. Mas quem construiu o muro?! O cinismo da campanha é tão absurdo que vai além do reles insulto.
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido, justamente, a falta de tolerância do governo, e o seu total desrespeito pelos eleitores que preferiram outros partidos e candidatos. Ao longo dos últimos 13 anos, esses eleitores foram obrigados a ouvir, das autoridades máximas do país, que eram verdadeiros monstros, gente que não suportava ver pobres viajando de avião ou filhos de empregados frequentando a universidade.
No sábado, esse retrato odioso, que retira dos oposicionistas até a sua humanidade mais elementar, foi repetido, no plenário, por todos os deputados petistas, sem exceção. E, ainda na semana passada, recebendo mulheres no Planalto, a presidente posou ao lado de uma estudante negra segurando um cartaz onde se lia “A casa grande pira quando a senzala vira médica”. É difícil até começar a explicar o grau de desrespeito que uma frase dessas encerra. A presidente de todos os brasileiros jamais poderia concordar com uma ofensa assim dirigida àqueles que apenas não foram seus eleitores.
Por mais que se negue isso, um impeachment é um ato essencialmente político. Apesar das fraudes fiscais que cometeu, e apesar da sua política sempre equivocada, é bem provável que Dilma não chegasse a este ponto melancólico se tivesse governado, indistintamente, para todos os brasileiros, e não apenas para os que votaram nela e no Temer. # respeitobasta
A ameaça petista - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 18/04
O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu no início dos anos 80 pretendendo ser o abrigo do pensamento dito progressista, o santuário da ética na política, o modelo de participação democrática de todos os setores da sociedade na política e na administração pública. Era essa a sua promessa, traduzida pela liderança carismática do ex-metalúrgico e líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Três décadas depois, o partido portador da grande nova revela por inteiro sua verdadeira natureza – autoritária e venal –, tornando-se um dos maiores obstáculos para o pleno funcionamento da democracia, justamente no momento em que as instituições nacionais passam por um grande teste de resistência em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ameaça petista de incendiar o País – e de transformar o Palácio da Alvorada em uma cidadela para defender Dilma de um “golpe”, que nada mais é do que a decisão soberana de um Congresso legitimamente eleito – é expressão clara do espírito golpista de seus líderes.
Nenhum observador mais atento da vida nacional pode se dizer surpreso. O PT sempre demonstrou muita dificuldade em aceitar as regras do jogo democrático quando esteve na oposição. Recusou-se a dialogar com todos os governos, sabotou todos os esforços para estabilizar a economia e dificultou ao máximo a aprovação das necessárias reformas constitucionais para modernizar o Estado, tudo com o objetivo de criar uma atmosfera de confronto – sob a qual, calculou, teria mais chances eleitorais. É na confusão moral que costuma vicejar o tipo de política praticado pelo PT.
Uma vez no governo, o partido da ética, herói da democracia, não se constrangeu em incentivar a promiscuidade e a corrupção para facilitar seu trabalho de controlar o Congresso. Afinal, o PT nunca demonstrou legítima disposição para dividir o poder e fazer concessões em relação a propostas de governo, algo que está na base de qualquer democracia saudável, pela simples razão de que jamais pretendeu fazer concessões. Certo de ser o portador da verdade histórica, que, por definição, inviabiliza qualquer negociação, o PT tratou a democracia como um obstáculo, a ser superado na base do simples toma lá dá cá, encabrestando as instituições. O partido de Lula, José Dirceu et caterva jamais teve aliados; sempre teve cúmplices.
Praticamente devolvido agora à condição de opositor, o PT demonstra mais uma vez que não aprendeu nada – ao contrário, trata de reafirmar de forma clara a sua natureza autoritária. Justamente no momento em que o País clama por serenidade, para que a transição que se completará nas próximas semanas se dê da maneira mais civilizada possível, eis que os petistas ameaçam o País com a violência que resume sua índole.
Infelizmente, podemos esperar muita intranquilidade nos próximos tempos, estimulada pela tigrada. Há ameaças de greves e manifestações diárias, cujo potencial disruptivo não é desprezível. Vários dos irresponsáveis chefes de grupelhos disfarçados de “movimentos sociais”, que ganharam poder sob o lulopetismo, já expressaram sua disposição de fazer “guerra” – essa é a palavra que usaram, e não se deve ter esperança de que se trate de mera força de expressão, pois essa turma já provou muitas vezes do que é capaz.
Além disso, a expectativa é de que haja muitos problemas no Congresso, que já conhece bem o modo petista de fazer oposição. Votações cruciais para arrancar o País da grave crise em que os desastrosos governos petistas o meteram deverão ser a oportunidade que o PT espera para tentar desforrar a derrota no impeachment. Para o lulopetismo, quanto pior, melhor.
Assim, ficará claro de uma vez por todas que o PT jamais quis ajudar a construir um país moderno, decente e forte. Sua única preocupação sempre foi a de polir a biografia de Lula, construindo para seu líder messiânico a imagem de inatacável protetor dos pobres e preparando o terreno para sua perpetuação no poder, à moda dos caudilhos que marcaram tristemente a história latino-americana.
Já virtualmente fora do poder e diante da perspectiva real de ver seu grande timoneiro atrás das grades, os petistas escolheram ser oposição destrutiva – o que só vai confirmar que o PT é e será o que sempre foi: um parasita incrustado no País para exaurir suas forças com práticas facinorosas.
O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu no início dos anos 80 pretendendo ser o abrigo do pensamento dito progressista, o santuário da ética na política, o modelo de participação democrática de todos os setores da sociedade na política e na administração pública. Era essa a sua promessa, traduzida pela liderança carismática do ex-metalúrgico e líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Três décadas depois, o partido portador da grande nova revela por inteiro sua verdadeira natureza – autoritária e venal –, tornando-se um dos maiores obstáculos para o pleno funcionamento da democracia, justamente no momento em que as instituições nacionais passam por um grande teste de resistência em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ameaça petista de incendiar o País – e de transformar o Palácio da Alvorada em uma cidadela para defender Dilma de um “golpe”, que nada mais é do que a decisão soberana de um Congresso legitimamente eleito – é expressão clara do espírito golpista de seus líderes.
Nenhum observador mais atento da vida nacional pode se dizer surpreso. O PT sempre demonstrou muita dificuldade em aceitar as regras do jogo democrático quando esteve na oposição. Recusou-se a dialogar com todos os governos, sabotou todos os esforços para estabilizar a economia e dificultou ao máximo a aprovação das necessárias reformas constitucionais para modernizar o Estado, tudo com o objetivo de criar uma atmosfera de confronto – sob a qual, calculou, teria mais chances eleitorais. É na confusão moral que costuma vicejar o tipo de política praticado pelo PT.
Uma vez no governo, o partido da ética, herói da democracia, não se constrangeu em incentivar a promiscuidade e a corrupção para facilitar seu trabalho de controlar o Congresso. Afinal, o PT nunca demonstrou legítima disposição para dividir o poder e fazer concessões em relação a propostas de governo, algo que está na base de qualquer democracia saudável, pela simples razão de que jamais pretendeu fazer concessões. Certo de ser o portador da verdade histórica, que, por definição, inviabiliza qualquer negociação, o PT tratou a democracia como um obstáculo, a ser superado na base do simples toma lá dá cá, encabrestando as instituições. O partido de Lula, José Dirceu et caterva jamais teve aliados; sempre teve cúmplices.
Praticamente devolvido agora à condição de opositor, o PT demonstra mais uma vez que não aprendeu nada – ao contrário, trata de reafirmar de forma clara a sua natureza autoritária. Justamente no momento em que o País clama por serenidade, para que a transição que se completará nas próximas semanas se dê da maneira mais civilizada possível, eis que os petistas ameaçam o País com a violência que resume sua índole.
Infelizmente, podemos esperar muita intranquilidade nos próximos tempos, estimulada pela tigrada. Há ameaças de greves e manifestações diárias, cujo potencial disruptivo não é desprezível. Vários dos irresponsáveis chefes de grupelhos disfarçados de “movimentos sociais”, que ganharam poder sob o lulopetismo, já expressaram sua disposição de fazer “guerra” – essa é a palavra que usaram, e não se deve ter esperança de que se trate de mera força de expressão, pois essa turma já provou muitas vezes do que é capaz.
Além disso, a expectativa é de que haja muitos problemas no Congresso, que já conhece bem o modo petista de fazer oposição. Votações cruciais para arrancar o País da grave crise em que os desastrosos governos petistas o meteram deverão ser a oportunidade que o PT espera para tentar desforrar a derrota no impeachment. Para o lulopetismo, quanto pior, melhor.
Assim, ficará claro de uma vez por todas que o PT jamais quis ajudar a construir um país moderno, decente e forte. Sua única preocupação sempre foi a de polir a biografia de Lula, construindo para seu líder messiânico a imagem de inatacável protetor dos pobres e preparando o terreno para sua perpetuação no poder, à moda dos caudilhos que marcaram tristemente a história latino-americana.
Já virtualmente fora do poder e diante da perspectiva real de ver seu grande timoneiro atrás das grades, os petistas escolheram ser oposição destrutiva – o que só vai confirmar que o PT é e será o que sempre foi: um parasita incrustado no País para exaurir suas forças com práticas facinorosas.
Dias difíceis virão - DORA KRAMER
ESTADÃO - 18/04
Impossível fugir à obviedade adjetiva para definir o tamanho da derrota do governo no plenário da Câmara: esmagadora e incontestável. Durante a votação, a proporção entre os votos a favor e contra esteve à razão de três para um em prol do impedimento. Resultado significativo o suficiente para sinalizar a decisão do Senado.
A vantagem, porém, não muda a realidade: a presidente Dilma Rousseff amanhece nesta segunda-feira totalmente desprovida de sustentação política, mas continua na legal e legítima posse do cargo. Além de seguir moradora do Palácio da Alvorada, até a manifestação do Senado ela continua dona da caneta presidencial e da cadeira no Palácio do Planalto.
Significa dizer que a vitória de ontem não dá aos vencedores ocasionais a prerrogativa de tripudiar nem de se comportarem como detentores do poder. Parece um detalhe, mas como é nos detalhes que reside o diabo, convém alertar para a necessidade urgente e imprescindível que a oposição em geral, vice-presidente Michel Temer em particular, a todo o estoque de cautela e habilidade política de que forem capazes. O mesmo utilizado por eles para chegar aonde chegaram, se contrapondo com profissionalismo ao amadorismo do PT.
O Brasil, agora como em outras ocasiões cruciais (transição democrática, mais que o caso Collor) vai precisar que a racionalidade, o espírito público e a visão estratégica sejam capazes de contornar os obstáculos que o poder formalmente constituído tentará criar à conclusão do processo.
Para isso, recorrerão a qualquer expediente estando ainda na posse do poder.
Vai que cola. Entre sábado e domingo, deputados próximos ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, consultaram partidos oposicionistas sobre a possibilidade de 200 deputados entregarem o resultado da votação de ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros.
A proposta foi rejeitada de imediato. Por dois motivos: para não rechear com azeitonas a empada de Cunha e para não dar aos senadores a impressão de pressão indevida.
Receita de família. O ex-ministro Nelson Jobim deu a Michel Temer um programa mínimo para, se for o caso, assumir o governo com chance de sucesso. Primeira providência, montar um Ministério irretocável. Em segundo lugar, não cair na tentação de promover perseguições aos adversários nem de proteger aliados. Ou seja, completo distanciamento das investigações em curso.
Seria necessário também que Temer assentasse a disposição de não concorrer a eleições futuras e que não procurasse influir nas decisões dos partidos aliados vista aos pleitos municipais deste ano ou ao presidencial de 2018. Em especial, que não tentasse se envolver nas rusgas do PSDB de São Paulo.
Por último, mas não menos importante que, se vier a assumir o Planalto, Temer não favoreça o PMDB na composição da equipe.
Muro abaixo. Nem se pode dizer que o PSDB esteja preso em seu labirinto. Em relação ao que fazer se houver troca de governo, o partido é o próprio labirinto. Precisa tomar uma decisão. No entanto, cresce o sentimento de que essa não pode atender aos interesses de José Serra, Aécio Neves ou Geraldo Alckmin, francos pretendentes à candidatura presidencial.
O ex-senador Tasso Jereissati, ativo articulador dessas conversas, defende que os tucanos divulguem ainda nesta semana documento explicitando os critérios que nortearão a definição do partido. Deputados lembram que o PSDB acertou quando não participou do governo Fernando Collor, acertou de novo ao integrar a equipe de Itamar Franco e agora não pode errar.
Impossível fugir à obviedade adjetiva para definir o tamanho da derrota do governo no plenário da Câmara: esmagadora e incontestável. Durante a votação, a proporção entre os votos a favor e contra esteve à razão de três para um em prol do impedimento. Resultado significativo o suficiente para sinalizar a decisão do Senado.
A vantagem, porém, não muda a realidade: a presidente Dilma Rousseff amanhece nesta segunda-feira totalmente desprovida de sustentação política, mas continua na legal e legítima posse do cargo. Além de seguir moradora do Palácio da Alvorada, até a manifestação do Senado ela continua dona da caneta presidencial e da cadeira no Palácio do Planalto.
Significa dizer que a vitória de ontem não dá aos vencedores ocasionais a prerrogativa de tripudiar nem de se comportarem como detentores do poder. Parece um detalhe, mas como é nos detalhes que reside o diabo, convém alertar para a necessidade urgente e imprescindível que a oposição em geral, vice-presidente Michel Temer em particular, a todo o estoque de cautela e habilidade política de que forem capazes. O mesmo utilizado por eles para chegar aonde chegaram, se contrapondo com profissionalismo ao amadorismo do PT.
O Brasil, agora como em outras ocasiões cruciais (transição democrática, mais que o caso Collor) vai precisar que a racionalidade, o espírito público e a visão estratégica sejam capazes de contornar os obstáculos que o poder formalmente constituído tentará criar à conclusão do processo.
Para isso, recorrerão a qualquer expediente estando ainda na posse do poder.
Vai que cola. Entre sábado e domingo, deputados próximos ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, consultaram partidos oposicionistas sobre a possibilidade de 200 deputados entregarem o resultado da votação de ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros.
A proposta foi rejeitada de imediato. Por dois motivos: para não rechear com azeitonas a empada de Cunha e para não dar aos senadores a impressão de pressão indevida.
Receita de família. O ex-ministro Nelson Jobim deu a Michel Temer um programa mínimo para, se for o caso, assumir o governo com chance de sucesso. Primeira providência, montar um Ministério irretocável. Em segundo lugar, não cair na tentação de promover perseguições aos adversários nem de proteger aliados. Ou seja, completo distanciamento das investigações em curso.
Seria necessário também que Temer assentasse a disposição de não concorrer a eleições futuras e que não procurasse influir nas decisões dos partidos aliados vista aos pleitos municipais deste ano ou ao presidencial de 2018. Em especial, que não tentasse se envolver nas rusgas do PSDB de São Paulo.
Por último, mas não menos importante que, se vier a assumir o Planalto, Temer não favoreça o PMDB na composição da equipe.
Muro abaixo. Nem se pode dizer que o PSDB esteja preso em seu labirinto. Em relação ao que fazer se houver troca de governo, o partido é o próprio labirinto. Precisa tomar uma decisão. No entanto, cresce o sentimento de que essa não pode atender aos interesses de José Serra, Aécio Neves ou Geraldo Alckmin, francos pretendentes à candidatura presidencial.
O ex-senador Tasso Jereissati, ativo articulador dessas conversas, defende que os tucanos divulguem ainda nesta semana documento explicitando os critérios que nortearão a definição do partido. Deputados lembram que o PSDB acertou quando não participou do governo Fernando Collor, acertou de novo ao integrar a equipe de Itamar Franco e agora não pode errar.
Presidência com temperança - ELIANE CANTANHÊDE
ESTADÃO - 18/04
Caçula de oito filhos numa família libanesa, Michel Temer jamais esqueceu o dia em que, aos 7 anos e meio, foi levado pela mão do irmão mais velho, Adib, à Igreja Matriz Tietê, em São Paulo. Enquanto Adib rezava, o pequeno se distraía com os vitrais coloridos, cada um dedicado a uma virtude. Adorou a palavra “temperança”. De volta à casa, correu ao dicionário com o irmão e descobriu que temperança significa equilíbrio, moderação.
“Sempre tive a sensação de que aquilo pautou a minha vida. Não gosto de briga, sou avesso a ideias radicais, tento sempre resolver as coisas conversando, negociando”, diz ele, diante da perspectiva de assumir a Presidência por dois anos e nove meses após o afastamento de Dilma Rousseff.
Em sua longa carreira política, que inclui a presidência do PMDB, três vezes a presidência da Câmara e a Vice-Presidência da República, o professor de Direito constitucional Michel Temer realmente construiu a imagem de um homem comedido, que fala pouco, mede palavras, jamais grita ou usa palavrões.
Como registrado neste espaço em 22 de julho de 2015, já considerando a hipótese de impeachment de Dilma: “nele (Temer), nada falta, nada transborda; nem omisso nem verborrágico; nem covarde nem valentão; nem gênio nem ignorante; nem tão anti-PT nem tão anti-PSDB; um pouco Lula, um pouco Fernando Henrique”.
Temer, portanto, tem perfil para o momento, mas isso não é tudo. Depois de um doloroso processo de impeachment, em meio a uma conjunção cruel de crises, o que mais preocupa é o entorno dele, explorado duramente ontem pelos líderes anti-impeachment. Com especial contundência do petista Afonso Florence, eles questionaram a legitimidade e as chances de êxito de um governo que terá na linha de frente o deputado Eduardo Cunha e uma profusão de suspeitos da Lava Jato (que, aliás, estavam com Dilma).
Logo, o grande trunfo de Temer é também o seu principal problema: praticamente todos os partidos aliados a Dilma descambaram na tese do impeachment, levando junto gregos, troianos e velhas práticas nada republicanas. Ele terá uma base aliada imensa - tão imensa quanto gulosa. Se usar os ministérios como Saúde, Fazenda e Justiça para saciar os aliados, não terá vida longa.
Seus articuladores juram que Temer sabe disso e acrescentam: aos 75 anos, passando por onde passou e chegando aonde chegou, ele tem que concentrar sua energia e suas armas para conclamar um pacto nacional, extrapolar o PMDB e resistir o quanto possível a concessões à sua base e a pressões populistas - e sem agredir os inegáveis ganhos sociais do início da era PT. Seu horizonte não pode ser 2018, tem de ser a história.
Formalmente, a ascensão de Temer ainda depende do acatamento do pedido de impeachment e depois do julgamento do mérito no Senado. Na prática, ninguém em Brasília acredita que, após a derrota de ontem, haja mínimas condições de Dilma voltar ao poder. Mas, se ela é “carta fora do baralho”, Temer ainda enfrenta a ameaça do TSE para se manter no jogo.
Por tudo isso, Michel Temer tem pressa. Pressa para articular um pacto nacional que reúna as forças políticas, patrões, empregados e um voto de confiança de uma sociedade que está muito desconfiada. Nada disso é fácil, mas ele terá de usar toda a “temperança” aprendida nos vitrais da Igreja do Tietê, porque não tem alternativa: é acertar ou acertar. E rápido!
A nova oposição. Se os aliados de Collor fugiram covardemente na hora “h”, a tropa anti-impeachment de Dilma foi guerreira, corajosa. A “base aliada” artificial escorreu pelo ralo, mas a base real foi fiel até o fim. Dilma sai, mas essa base fica, no PT ou não, e mantém o discurso e o papel de contraponto, pressão e cobrança, fundamental para o equilíbrio do jogo. E sem apostar todas as fichas em Lula.
Caçula de oito filhos numa família libanesa, Michel Temer jamais esqueceu o dia em que, aos 7 anos e meio, foi levado pela mão do irmão mais velho, Adib, à Igreja Matriz Tietê, em São Paulo. Enquanto Adib rezava, o pequeno se distraía com os vitrais coloridos, cada um dedicado a uma virtude. Adorou a palavra “temperança”. De volta à casa, correu ao dicionário com o irmão e descobriu que temperança significa equilíbrio, moderação.
“Sempre tive a sensação de que aquilo pautou a minha vida. Não gosto de briga, sou avesso a ideias radicais, tento sempre resolver as coisas conversando, negociando”, diz ele, diante da perspectiva de assumir a Presidência por dois anos e nove meses após o afastamento de Dilma Rousseff.
Em sua longa carreira política, que inclui a presidência do PMDB, três vezes a presidência da Câmara e a Vice-Presidência da República, o professor de Direito constitucional Michel Temer realmente construiu a imagem de um homem comedido, que fala pouco, mede palavras, jamais grita ou usa palavrões.
Como registrado neste espaço em 22 de julho de 2015, já considerando a hipótese de impeachment de Dilma: “nele (Temer), nada falta, nada transborda; nem omisso nem verborrágico; nem covarde nem valentão; nem gênio nem ignorante; nem tão anti-PT nem tão anti-PSDB; um pouco Lula, um pouco Fernando Henrique”.
Temer, portanto, tem perfil para o momento, mas isso não é tudo. Depois de um doloroso processo de impeachment, em meio a uma conjunção cruel de crises, o que mais preocupa é o entorno dele, explorado duramente ontem pelos líderes anti-impeachment. Com especial contundência do petista Afonso Florence, eles questionaram a legitimidade e as chances de êxito de um governo que terá na linha de frente o deputado Eduardo Cunha e uma profusão de suspeitos da Lava Jato (que, aliás, estavam com Dilma).
Logo, o grande trunfo de Temer é também o seu principal problema: praticamente todos os partidos aliados a Dilma descambaram na tese do impeachment, levando junto gregos, troianos e velhas práticas nada republicanas. Ele terá uma base aliada imensa - tão imensa quanto gulosa. Se usar os ministérios como Saúde, Fazenda e Justiça para saciar os aliados, não terá vida longa.
Seus articuladores juram que Temer sabe disso e acrescentam: aos 75 anos, passando por onde passou e chegando aonde chegou, ele tem que concentrar sua energia e suas armas para conclamar um pacto nacional, extrapolar o PMDB e resistir o quanto possível a concessões à sua base e a pressões populistas - e sem agredir os inegáveis ganhos sociais do início da era PT. Seu horizonte não pode ser 2018, tem de ser a história.
Formalmente, a ascensão de Temer ainda depende do acatamento do pedido de impeachment e depois do julgamento do mérito no Senado. Na prática, ninguém em Brasília acredita que, após a derrota de ontem, haja mínimas condições de Dilma voltar ao poder. Mas, se ela é “carta fora do baralho”, Temer ainda enfrenta a ameaça do TSE para se manter no jogo.
Por tudo isso, Michel Temer tem pressa. Pressa para articular um pacto nacional que reúna as forças políticas, patrões, empregados e um voto de confiança de uma sociedade que está muito desconfiada. Nada disso é fácil, mas ele terá de usar toda a “temperança” aprendida nos vitrais da Igreja do Tietê, porque não tem alternativa: é acertar ou acertar. E rápido!
A nova oposição. Se os aliados de Collor fugiram covardemente na hora “h”, a tropa anti-impeachment de Dilma foi guerreira, corajosa. A “base aliada” artificial escorreu pelo ralo, mas a base real foi fiel até o fim. Dilma sai, mas essa base fica, no PT ou não, e mantém o discurso e o papel de contraponto, pressão e cobrança, fundamental para o equilíbrio do jogo. E sem apostar todas as fichas em Lula.
Quando o PT perdeu o caminho de casa? - ELIO GASPARI
O GLOBO - 18/04
Talvez em 1997, quando Lula chamou de “asneiras” as denúncias de que havia roubalheiras em contratos de firmas de consultoria com prefeituras petistas. Desde então, Lula e o comissariado fizeram uma opção preferencial pelo acobertamento e pela cumplicidade em todos os episódios em que a moralidade foi ofendida. Foi assim com as propinas que provocaram a morte do prefeito Celso Daniel. Assim foi no “mensalão” e assim o PT comportase diante da Lava- Jato.
Há um mantra em circulação: a honorabilidade pessoal de Dilma Rousseff está acima de qualquer suspeita. É verdade, mas pode- se aplicar o mesmo raciocínio ao general Emílio Médici ( 19691974). Ele foi um homem pessoalmente honrado. A ruína de sua biografia veio do campo da moral política. Médici nunca encostou a mão em ninguém, mas durante seu governo milhares de brasileiros foram torturados, e mais de uma centena foram assassinados.
Para felicidade do Brasil, os crimes dos governantes mudaram de eixo e, durante o consulado petista, o demônio foi para o meio do redemoinho da corrupção e das suas alianças com larápios que hoje votaram pela deposição da presidente. Dilma era ministra de Minas e Energia quando um empresário narroulhe malfeitorias praticadas pela Petrobras. Ela respondeu: “Não posso me preocupar com pequenas ilegalidades”. Com o tempo, deixou de se preocupar com as grandes. Ela, Lula e o PT ficaram neutros contra a Operação Lava- Jato. Esse foi um dos principais fatores de erosão da credibilidade dos companheiros. ( O apoio de Temer à faxina do juiz Moro é coisa a ser conferida. Por enquanto, ele continua a ser um velho aliado de Eduardo Cunha).
O resultado de ontem é uma derrota de Dilma, do PT e daquilo que se chama de esquerda. Como sair dessa? Nos anos 1970 do século passado, como Dilma, o uruguio José ( Pepe) Mujica estava na cadeia. Em 2010 Pepe elegeuse presidente. Continuou vivendo na modesta chácara das cercanias de Montevidéo, dirigindo seu velho fusca e brincando com Manuela, sua cachorra de três patas. Basta olhar para seu exemplo.
Talvez em 1997, quando Lula chamou de “asneiras” as denúncias de que havia roubalheiras em contratos de firmas de consultoria com prefeituras petistas. Desde então, Lula e o comissariado fizeram uma opção preferencial pelo acobertamento e pela cumplicidade em todos os episódios em que a moralidade foi ofendida. Foi assim com as propinas que provocaram a morte do prefeito Celso Daniel. Assim foi no “mensalão” e assim o PT comportase diante da Lava- Jato.
Há um mantra em circulação: a honorabilidade pessoal de Dilma Rousseff está acima de qualquer suspeita. É verdade, mas pode- se aplicar o mesmo raciocínio ao general Emílio Médici ( 19691974). Ele foi um homem pessoalmente honrado. A ruína de sua biografia veio do campo da moral política. Médici nunca encostou a mão em ninguém, mas durante seu governo milhares de brasileiros foram torturados, e mais de uma centena foram assassinados.
Para felicidade do Brasil, os crimes dos governantes mudaram de eixo e, durante o consulado petista, o demônio foi para o meio do redemoinho da corrupção e das suas alianças com larápios que hoje votaram pela deposição da presidente. Dilma era ministra de Minas e Energia quando um empresário narroulhe malfeitorias praticadas pela Petrobras. Ela respondeu: “Não posso me preocupar com pequenas ilegalidades”. Com o tempo, deixou de se preocupar com as grandes. Ela, Lula e o PT ficaram neutros contra a Operação Lava- Jato. Esse foi um dos principais fatores de erosão da credibilidade dos companheiros. ( O apoio de Temer à faxina do juiz Moro é coisa a ser conferida. Por enquanto, ele continua a ser um velho aliado de Eduardo Cunha).
O resultado de ontem é uma derrota de Dilma, do PT e daquilo que se chama de esquerda. Como sair dessa? Nos anos 1970 do século passado, como Dilma, o uruguio José ( Pepe) Mujica estava na cadeia. Em 2010 Pepe elegeuse presidente. Continuou vivendo na modesta chácara das cercanias de Montevidéo, dirigindo seu velho fusca e brincando com Manuela, sua cachorra de três patas. Basta olhar para seu exemplo.
Governo temer começou na prática - IGOR GIELOW
Folha de SP - 18/04
O governo de Michel Temer (PMDB) começou, para todos os efeitos, com o voto que definiu a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) pela Câmara dos Deputados.
O inusitado será a presença do cadáver político da petista no Palácio do Planalto até o prosseguimento do processo no Senado.
No mundo político, quase ninguém acredita que haja a possibilidade de virar os votos suficientes já declarados de senadores para permitir a abertura do julgamento. E, isso acontecendo, parafraseando a própria Dilma, a presidente é "carta fora do baralho".
Nos últimos dias petistas vendem a noção de que Dilma resistiria ao julgamento no Senado, que tem prazo máximo de 180 dias, e não emularia Fernando Collor, que renunciou para tentar sem sucesso evitar sua condenação.
Pode ser, afinal de contas falamos de política no Brasil e a resiliência de Dilma é notória. Restará a ela assumir um tom de campanha contra o que chama de golpe, mas a perspectiva de poder mudou de endereço.
Deslocou-se neste domingo do Palácio da Alvorada para a mais modesta residência oficial do Jaburu, a 1,3 km de distância.
Teremos então uma presidente cuja gestão foi emasculada constitucionalmente e um vice à espera de colocar a faixa, que atrairá todas as atenções. Há expectativa enorme de agentes econômicos para ver como o peemedebista vai tentar sair da encalacrada crise econômica em que o país está.
Além disso, as hordas que vieram para seu lado no Congresso vão querer saber como serão recompensadas por sua fidelidade de última hora. Faturas serão cobradas.
Para quem precisará obrigatoriamente transmitir ao país uma imagem de retidão administrativa depois do caos deixado pelo PT, será uma missão complexa: como, por exemplo, reduzir ministérios e agradar a todos os neoaliados?
Quem conhece o vice sabe que não é de seu temperamento grandes arroubos ou anúncios bombásticos, mas algumas pessoas de seu entorno argumentam que é necessário criar um fato político que galvanize apoios na sociedade para a transição do pós-Dilma.
Outros dizem que o fato foi dado pela derrota do PT na Câmara, e que o resto virá por gravidade. Pode ser, mas a conta não fecha com os elementos colocados à mesa.
E Temer terá de lidar não só com o espectro de Dilma e a previsível movimentação de rua que as tropas organizadas da esquerda farão. Terá um adversário muito mais formidável para enfrentar, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em que pese sua desidratação, visível com o fracasso na operação de tornar-se superministro de Dilma e garantir a vitória contra o impeachment na Câmara, Lula tentará iniciar sua campanha à Presidência nesta segunda (18).
A derrota de Dilma foi boa notícia para ele, relativamente: ganhou um discurso, o de que o PT foi vítima do que chamam de golpe, e poderá se afastar paulatinamente da impopular sucessora.
Mas não será o passeio que seus admiradores propagandeiam. Lula está desgastado politicamente, como se viu na negociação que antecedeu a votação do domingo, e tem as operações Lava Jato e Zelotes em seu pé.
Se tudo o que os investigadores especulam ser possível desvendar sobre a atuação do petista for real, ele passará muito tempo tendo de se explicar nos próximos meses.
Esse é o cenário mais desolador para o PT. Virtualmente escorraçado do poder federal, com a perspectiva de ser dizimado no pleito municipal de outubro, o partido poderá perder a capacidade operacional de seu comandante máximo.
O governo de Michel Temer (PMDB) começou, para todos os efeitos, com o voto que definiu a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) pela Câmara dos Deputados.
O inusitado será a presença do cadáver político da petista no Palácio do Planalto até o prosseguimento do processo no Senado.
No mundo político, quase ninguém acredita que haja a possibilidade de virar os votos suficientes já declarados de senadores para permitir a abertura do julgamento. E, isso acontecendo, parafraseando a própria Dilma, a presidente é "carta fora do baralho".
Nos últimos dias petistas vendem a noção de que Dilma resistiria ao julgamento no Senado, que tem prazo máximo de 180 dias, e não emularia Fernando Collor, que renunciou para tentar sem sucesso evitar sua condenação.
Pode ser, afinal de contas falamos de política no Brasil e a resiliência de Dilma é notória. Restará a ela assumir um tom de campanha contra o que chama de golpe, mas a perspectiva de poder mudou de endereço.
Deslocou-se neste domingo do Palácio da Alvorada para a mais modesta residência oficial do Jaburu, a 1,3 km de distância.
Teremos então uma presidente cuja gestão foi emasculada constitucionalmente e um vice à espera de colocar a faixa, que atrairá todas as atenções. Há expectativa enorme de agentes econômicos para ver como o peemedebista vai tentar sair da encalacrada crise econômica em que o país está.
Além disso, as hordas que vieram para seu lado no Congresso vão querer saber como serão recompensadas por sua fidelidade de última hora. Faturas serão cobradas.
Para quem precisará obrigatoriamente transmitir ao país uma imagem de retidão administrativa depois do caos deixado pelo PT, será uma missão complexa: como, por exemplo, reduzir ministérios e agradar a todos os neoaliados?
Quem conhece o vice sabe que não é de seu temperamento grandes arroubos ou anúncios bombásticos, mas algumas pessoas de seu entorno argumentam que é necessário criar um fato político que galvanize apoios na sociedade para a transição do pós-Dilma.
Outros dizem que o fato foi dado pela derrota do PT na Câmara, e que o resto virá por gravidade. Pode ser, mas a conta não fecha com os elementos colocados à mesa.
E Temer terá de lidar não só com o espectro de Dilma e a previsível movimentação de rua que as tropas organizadas da esquerda farão. Terá um adversário muito mais formidável para enfrentar, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em que pese sua desidratação, visível com o fracasso na operação de tornar-se superministro de Dilma e garantir a vitória contra o impeachment na Câmara, Lula tentará iniciar sua campanha à Presidência nesta segunda (18).
A derrota de Dilma foi boa notícia para ele, relativamente: ganhou um discurso, o de que o PT foi vítima do que chamam de golpe, e poderá se afastar paulatinamente da impopular sucessora.
Mas não será o passeio que seus admiradores propagandeiam. Lula está desgastado politicamente, como se viu na negociação que antecedeu a votação do domingo, e tem as operações Lava Jato e Zelotes em seu pé.
Se tudo o que os investigadores especulam ser possível desvendar sobre a atuação do petista for real, ele passará muito tempo tendo de se explicar nos próximos meses.
Esse é o cenário mais desolador para o PT. Virtualmente escorraçado do poder federal, com a perspectiva de ser dizimado no pleito municipal de outubro, o partido poderá perder a capacidade operacional de seu comandante máximo.
Resta agora tentar começar de novo - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 18/04
Chegamos a este ponto porque o PT decidiu sistematizar e institucionalizar esquemas de corrupção
O triste espetáculo do muro separando, na Esplanada dos Ministérios em Brasília, cidadãos contra e a favor do impeachment da presidente Dilma é reflexo da radicalização política que domina nosso dia a dia e não é de hoje. O país, que saiu dividido das urnas em 2014, está polarizado. O governo é francamente minoritário, na sociedade e no Congresso e, como mostrou a votação de ontem, não tem mais condições de governar.
Chegamos aqui justamente pela exacerbação das características fisiológicas desse modelo de coalizão partidária, que deveria ser baseado em programas de governo e acabou se tornando mero instrumento para cooptação de partidos periféricos, que proliferam graças a uma legislação frouxa, feita sob medida para contemplar a baixa política.
Os instrumentos legais disponíveis nas democracias representativas, como as cláusulas de desempenho, foram barrados por uma decisão equivocada do Supremo Tribunal Federal, que, à guisa de proteger as minorias, acabou favorecendo a fragmentação partidária e o oportunismo de grupelhos que vivem da verba oficial e de, literalmente, vender seus espaços políticos, seja no Congresso, seja no tempo de propaganda oficial no rádio e na televisão.
Chegamos a esse ponto graças à maneira de fazer política do PT, que precisa sempre ter um inimigo a destruir. Foi Lula quem incentivou a tática do “nós contra eles”, que dividiu o país e impediu que houvesse um governo de coalizão verdadeira.
As manobras petistas sempre beneficiaram a participação acrítica de partidos ditos aliados, que se contentavam com posições marginais nas decisões governistas, desde que compensados com as benesses do poder traduzidas nas transações corruptas que estão sendo desveladas nas diversas investigações em curso.
Chegamos a este ponto porque o PT decidiu sistematizar e institucionalizar esquemas de corrupção que, se certamente já existiam anteriormente, não faziam parte de um programa de governo, como se está constatando nas mesmas investigações.
Os governos petistas centralizaram os esquemas de corrupção já existentes e inventaram novas formas, sendo a mais criativa e perigosa a lavagem de dinheiro da corrupção através do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), mascarando doações corruptas em legais.
A distribuição da propina, através do mensalão, deu errado quando a divisão dos lucros provocou a cizânia entre os bandos envolvidos, como geralmente acontece nas brigas de quadrilhas. Na época anterior às delações premiadas, uma denúncia na grande imprensa feita pelo então deputado federal Roberto Jefferson desencadeou o desmantelamento desse esquema, mas outro, muito maior, desenvolvia- se nos subterrâneos da Petrobras e de outras estatais.
A tentativa de manter o poder permanente a qualquer custo levou- nos a esta situação atual, que, na transgressão habitual das leis em vigor, provocou uma tragédia econômica e um retrocesso nos valores intrínsecos à democracia. Resta tentar começar de novo.
Chegamos a este ponto porque o PT decidiu sistematizar e institucionalizar esquemas de corrupção
O triste espetáculo do muro separando, na Esplanada dos Ministérios em Brasília, cidadãos contra e a favor do impeachment da presidente Dilma é reflexo da radicalização política que domina nosso dia a dia e não é de hoje. O país, que saiu dividido das urnas em 2014, está polarizado. O governo é francamente minoritário, na sociedade e no Congresso e, como mostrou a votação de ontem, não tem mais condições de governar.
Chegamos aqui justamente pela exacerbação das características fisiológicas desse modelo de coalizão partidária, que deveria ser baseado em programas de governo e acabou se tornando mero instrumento para cooptação de partidos periféricos, que proliferam graças a uma legislação frouxa, feita sob medida para contemplar a baixa política.
Os instrumentos legais disponíveis nas democracias representativas, como as cláusulas de desempenho, foram barrados por uma decisão equivocada do Supremo Tribunal Federal, que, à guisa de proteger as minorias, acabou favorecendo a fragmentação partidária e o oportunismo de grupelhos que vivem da verba oficial e de, literalmente, vender seus espaços políticos, seja no Congresso, seja no tempo de propaganda oficial no rádio e na televisão.
Chegamos a esse ponto graças à maneira de fazer política do PT, que precisa sempre ter um inimigo a destruir. Foi Lula quem incentivou a tática do “nós contra eles”, que dividiu o país e impediu que houvesse um governo de coalizão verdadeira.
As manobras petistas sempre beneficiaram a participação acrítica de partidos ditos aliados, que se contentavam com posições marginais nas decisões governistas, desde que compensados com as benesses do poder traduzidas nas transações corruptas que estão sendo desveladas nas diversas investigações em curso.
Chegamos a este ponto porque o PT decidiu sistematizar e institucionalizar esquemas de corrupção que, se certamente já existiam anteriormente, não faziam parte de um programa de governo, como se está constatando nas mesmas investigações.
Os governos petistas centralizaram os esquemas de corrupção já existentes e inventaram novas formas, sendo a mais criativa e perigosa a lavagem de dinheiro da corrupção através do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), mascarando doações corruptas em legais.
A distribuição da propina, através do mensalão, deu errado quando a divisão dos lucros provocou a cizânia entre os bandos envolvidos, como geralmente acontece nas brigas de quadrilhas. Na época anterior às delações premiadas, uma denúncia na grande imprensa feita pelo então deputado federal Roberto Jefferson desencadeou o desmantelamento desse esquema, mas outro, muito maior, desenvolvia- se nos subterrâneos da Petrobras e de outras estatais.
A tentativa de manter o poder permanente a qualquer custo levou- nos a esta situação atual, que, na transgressão habitual das leis em vigor, provocou uma tragédia econômica e um retrocesso nos valores intrínsecos à democracia. Resta tentar começar de novo.
Sem o direito de errar - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 18/04
“Um governo que não tem 171 votos na Câmara não merece governar” Ricardo Berzoini, ministro- chefe da Secretaria de governo
Dilma tem poucos amigos. Temer, muitos. Dilma não confia em ninguém. Temer confia. Dilma vive sozinha com a mãe. Temer é casado, tem filhos e detesta a solidão. Dilma concentra poderes. Temer delega. Dilma impõe sua vontade sem discuti- la. Temer constrói a sua ouvindo os outros. Dilma detesta a política e os políticos. Depois da família, Temer ama a política e os políticos acima de tudo.
O QUE O RESULTADO
da votação do impeachment na Câmara teve a ver com as diferenças de temperamento, estilo e modo de vida de Dilma e Temer? Nada e tudo. Quem derrubou Dilma foram as mentiras que disse para se reeleger e os muitos erros que cometeu desde então. Mas, se ela não fosse como é, e Temer, o seu oposto, talvez pudesse sobreviver a um processo que ainda está longe do fim.
PIOR DO QUE
atravessar, insone, a noite de ontem, certamente será para Dilma viver o seu primeiro dia como presidente da República de direito, de fato, não. Na vida real, o poder transferiu- se do Palácio da Alvorada, onde ela mora, para o Palácio do Jaburu, onde mora Temer. Poucos quilômetros separam os dois palácios. Um, porém, abriga o passado em eclipse. O futuro começa a ser desenhado no outro.
É REMOTA A CHANCE
de o Senado recusar- se a julgar Dilma. A admissão, ali, do pedido de impeachment está prevista para acontecer até o próximo dia 11. O Senado só levou quatro dias para admitir julgar o ex- presidente Fernando Collor. É possível que em dez dias aceite julgar Dilma. Nesse caso, ela será obrigada a afastar- se do cargo e terá o seu destino resolvido em um prazo de 180 dias.
O GOVERNO TEMER
começará de imediato. E dado às nuvens pesadas que privam o país de luz, e às desconfianças que cercam Temer, o vice- presidente no exercício do cargo disporá de pouco tempo para mostrar a que veio. Um novo presidente costuma desfrutar de um mínimo de cem dias de lua de mel com os seus governados. É da tradição. Temer não terá esse direito. Como Itamar Franco, o vice de Collor, não teve.
TAMPOUCO A TEMER
será concedido o direito de errar. Ou acerta logo ou será cobrado por eventuais erros à partida, e, de quebra, por ter agido às claras para subtrair a Presidência à Dilma. Ela caminhava teimosamente para cair sozinha. Seu governo deixara de existir de há muito. Mas Temer não se limitou a esperar a queda. Ajudou a provocá- la. Nunca antes na história deste país... Pois é.
ATÉ O GOLPE MILITAR DE
1964, vice e presidente não eram obrigados a ser eleitos na mesma chapa. João Goulart foi o vice que assumiu com a renúncia de Jânio Quadros, mas os dois haviam sido eleitos em chapas distintas. Deixou de ser assim. E porque deixou, o vice perdeu importância. Passou a ser visto como um aliado do presidente eleito, alguém, de fato, comprometido com ele e leal a ele.
UMA COISA É O VICE
divergir do presidente. Natural. Outra bem diferente é passar a opor- se a ele. Outra mais grave é conspirar contra ele. Dilma sempre tratou Temer com desprezo. Daí a Temer sentir- se à vontade para ajudar a depô- la vai uma distância abissal. Distância que separa o político sempre correto do político cuja correção depende das circunstâncias e do tamanho de sua ambição.
TEMER CONTRIBUIU
para aumentar os desafios que o aguardam. Além de arcar com uma herança maldita, terá pela frente a hostilidade dos inconformados com o atalho que escolheu para alcançar o poder. Boa sorte.
“Um governo que não tem 171 votos na Câmara não merece governar” Ricardo Berzoini, ministro- chefe da Secretaria de governo
Dilma tem poucos amigos. Temer, muitos. Dilma não confia em ninguém. Temer confia. Dilma vive sozinha com a mãe. Temer é casado, tem filhos e detesta a solidão. Dilma concentra poderes. Temer delega. Dilma impõe sua vontade sem discuti- la. Temer constrói a sua ouvindo os outros. Dilma detesta a política e os políticos. Depois da família, Temer ama a política e os políticos acima de tudo.
O QUE O RESULTADO
da votação do impeachment na Câmara teve a ver com as diferenças de temperamento, estilo e modo de vida de Dilma e Temer? Nada e tudo. Quem derrubou Dilma foram as mentiras que disse para se reeleger e os muitos erros que cometeu desde então. Mas, se ela não fosse como é, e Temer, o seu oposto, talvez pudesse sobreviver a um processo que ainda está longe do fim.
PIOR DO QUE
atravessar, insone, a noite de ontem, certamente será para Dilma viver o seu primeiro dia como presidente da República de direito, de fato, não. Na vida real, o poder transferiu- se do Palácio da Alvorada, onde ela mora, para o Palácio do Jaburu, onde mora Temer. Poucos quilômetros separam os dois palácios. Um, porém, abriga o passado em eclipse. O futuro começa a ser desenhado no outro.
É REMOTA A CHANCE
de o Senado recusar- se a julgar Dilma. A admissão, ali, do pedido de impeachment está prevista para acontecer até o próximo dia 11. O Senado só levou quatro dias para admitir julgar o ex- presidente Fernando Collor. É possível que em dez dias aceite julgar Dilma. Nesse caso, ela será obrigada a afastar- se do cargo e terá o seu destino resolvido em um prazo de 180 dias.
O GOVERNO TEMER
começará de imediato. E dado às nuvens pesadas que privam o país de luz, e às desconfianças que cercam Temer, o vice- presidente no exercício do cargo disporá de pouco tempo para mostrar a que veio. Um novo presidente costuma desfrutar de um mínimo de cem dias de lua de mel com os seus governados. É da tradição. Temer não terá esse direito. Como Itamar Franco, o vice de Collor, não teve.
TAMPOUCO A TEMER
será concedido o direito de errar. Ou acerta logo ou será cobrado por eventuais erros à partida, e, de quebra, por ter agido às claras para subtrair a Presidência à Dilma. Ela caminhava teimosamente para cair sozinha. Seu governo deixara de existir de há muito. Mas Temer não se limitou a esperar a queda. Ajudou a provocá- la. Nunca antes na história deste país... Pois é.
ATÉ O GOLPE MILITAR DE
1964, vice e presidente não eram obrigados a ser eleitos na mesma chapa. João Goulart foi o vice que assumiu com a renúncia de Jânio Quadros, mas os dois haviam sido eleitos em chapas distintas. Deixou de ser assim. E porque deixou, o vice perdeu importância. Passou a ser visto como um aliado do presidente eleito, alguém, de fato, comprometido com ele e leal a ele.
UMA COISA É O VICE
divergir do presidente. Natural. Outra bem diferente é passar a opor- se a ele. Outra mais grave é conspirar contra ele. Dilma sempre tratou Temer com desprezo. Daí a Temer sentir- se à vontade para ajudar a depô- la vai uma distância abissal. Distância que separa o político sempre correto do político cuja correção depende das circunstâncias e do tamanho de sua ambição.
TEMER CONTRIBUIU
para aumentar os desafios que o aguardam. Além de arcar com uma herança maldita, terá pela frente a hostilidade dos inconformados com o atalho que escolheu para alcançar o poder. Boa sorte.
Um passo para o impeachment - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 18/04
Trata-se da aprovação da admissibilidade do pedido de impedimento, ainda a ser julgado pelo Senado. Mas tudo precisa ser rápido, devido à situação do país
A aprovação, pela Câmara dos Deputados, da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma abre uma possibilidade concreta de que a crise econômica e o nó político possam ser equacionados antes de 2018, a partir da saída do PT do Planalto, onde se encontra há 13 anos, o mais longo período na República de um grupo político no poder, por meio de eleição direta. Mas patrocinador de uma catástrofe ética e uma hecatombe econômica.
É previsão infalível garantir que hoje Bolsa sobe e dólar cai, sinais característicos do bom humor dos mercados. Como tem sido nos últimos meses na repercussão de toda notícia negativa para o governo Dilma e, mais recentemente, sobre o ex-presidente Lula, convertido em chefe das forças de defesa da cidadela do Planalto sob o controle do PT.
São características dos mercados oscilações nervosas, que buscam se antecipar a fatos. Eles operam no vácuo das expectativas. Como é neste caso do processo de impeachment.
Mas a derrota de ontem da presidente, revés grave para o projeto de poder do partido, não é definitiva. Para o vice-presidente Michel Temer assumir, à frente do seu PMDB, com uma diversificada aliança entre partidos de histórica oposição ao PT (PSDB, DEM, PPS) e legendas recém-desembarcadas de um navio que faz água (PSD, PR, PP etc.), ainda há pela frente o julgamento propriamente dito, conduzido no Senado pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal.
Mas o Brasil tem pressa, esta é a questão. Dois dados: o desemprego aumenta à razão de 100 mil pessoas por mês e já se aproxima o saldo tenebroso de 10 milhões de brasileiros sem trabalho. O lado de vida real da crise é dramático: debacle social, pobreza, queda de padrão de vida, aumento da violência, e assim por diante, sempre ladeira abaixo. Portanto, picuinhas entre caciques peemedebistas, Renan Calheiros e Temer, e jogo de cena para buscar favores do Planalto precisam ser deixados de lado a fim de que se ponha para andar, com rapidez, o julgamento da presidente no Senado.
Aceito o processo pelo Senado, Dilma será afastada por até 180 dias, durante os quais governará Temer. Mas, se esgotado o prazo e o julgamento não tiver sido concluído, Dilma volta. É indiscutível que este cenário será letal para todos: para Dilma, PT e Lula, porque serão mais fortemente responsabilizados pela catástrofe, e para a aliança que terá assumido o governo, ao lado de Temer, por não ter estabilizado o país. Perdem os políticos e sofre mais ainda a população.
Logo, inexiste qualquer justificativa razoável para o Senado não dar início à fase de julgamento da presidente com urgência máxima, obedecidos todos os trâmites legais, com respaldo do STF. Chega a ser uma questão de segurança nacional.
Mesmo que ainda falte o essencial, o julgamento, o vice Michel Temer tem de agir, diante da situação em que está a economia. Ela é tão crítica que as únicas duas boas notícias — a inflação perde fôlego e o superávit comercial pode ser recorde histórico — derivam de um sério problema: a profunda recessão interna. Com o nível baixo de atividade na produção, importa-se menos; com a perda de poder de compra da população, devido ao desemprego e a uma persistente inflação elevada, indústria e comércio são obrigados a reduzir preços. Mas há limites. O remédio que produz os bons resultados matará o doente. Ele é veneno. É ilusório achar que o pior passou, que se bateu no “fundo do poço”. As coisas não funcionam assim numa severa crise fiscal e em que o governo ainda no poder mantém os mecanismos que alimentam esta crise — deseja continuar a elevar os gastos quando as receitas caem, puxadas pela recessão. E, como sempre em nome da defesa do pobre, também rejeita desindexar o Orçamento, cujas despesas crescem rumo ao infinito porque a inflação não para de subir, embora numa velocidade mais baixa. É receita infalível do agravamento ainda maior da crise fiscal, que tornará o pobre miserável. Já se sabe o que esta fórmula econômica tóxica produz. Michel Temer, então, não pode esperar inerte a abertura da fase de julgamento pelo Senado. Imóvel ele não está, a considerar o noticiário sobre sondagens a Arminio Fraga, economista, presidente do Banco Central no momento delicado de liberação do câmbio, com FH, formulador do projeto econômico do candidato tucano Aécio Neves, derrotado por Dilma em 2014.
Se o olfato do político aponta para onde migra o poder — motivo pelo qual houve debandada na Câmara da base do governo para o Palácio Jaburu —, mercados têm também sentidos apurados. O exemplo pode não ser o ideal, mas ajuda a entender do que se trata: logo ao assumir, depois de derrotar nas urnas o kirchnerismo na Argentina, Mauricio Macri fez fortes sinalizações para superar a profunda crise em que Néstor e Cristina Kirchner mergulharam o país em 12 anos de poder — semelhante ao que o lulopetismo fez no Brasil —, e em poucas semanas conseguiu reverter o humor interno e mundial com relação à economia argentina. Macri já detinha a caneta para tomar decisões concretas. Mas mostrou ao parceiro do Mercosul que postura é capaz de começar a romper a mais espessa argamassa de pessimismo em pouco tempo. Temer precisa ensaiar, agora, um choque de credibilidade.
Até porque, como ficou exposto no vídeo que a presidente Dilma difundiu sexta-feira pela internet, ela retomou o discurso de campanha para tentar semear o pânico na população, como em 2014 com seu marqueteiro, João Santana, hoje preso, exibindo filmes em que a comida desaparecia do prato das famílias humildes se adversários ganhassem a eleição. Dilma garante que Temer e aliados acabarão com o Bolsa Família — criada por tucanos —, e o vice-presidente nega. Mas Temer precisa ir além. Não basta negar, mas, por exemplo, apresentar nomes de peso, respeitados, para pastas-chave.
Raposas da política — e Temer é uma delas — devem estar aconselhando o vice-presidente a evitar temas sobre a corrupção. Mas ele não deveria ouvi-los. Lembremo-nos da reação espontânea do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, ao ver a foto em que Eduardo Cunha e Romero Jucá, de mãos dadas e braços erguidos, comemoravam a formalização da saída do PMDB da base do governo. “Meu Deus do céu! Esta é nossa alternativa de poder...” Cunha e Jucá, este, braço-direito de Temer, os dois denunciados pela Lava-Jato, sendo o primeiro dono de extenso prontuário, são vistos como símbolos dos riscos que um governo Temer corre neste campo.
Ora, no lado do governo também há extensas folhas corridas de delitos, inclusive com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ainda preso em Curitiba. O próprio Lula é investigado. Não se trata, portanto, de estabelecer uma disputa sobre quem tem fichas mais limpas. Ou mais sujas. Mas de deixar claro de forma veemente que um possível governo do vice, com característica de salvação nacional, nada fará para criar obstáculos à Lava-Jato ou a qualquer outra ação anticorrupção, mesmo que tenha, como se diz, de cortar a própria carne.
No sábado, Temer fez, por escrito, uma defesa da Lava-Jato. Agiu bem e precisa continuar assim. Não transigir em questões éticas também é uma forma de se diferenciar da era lulopetista. Não é apenas na economia.
Trata-se da aprovação da admissibilidade do pedido de impedimento, ainda a ser julgado pelo Senado. Mas tudo precisa ser rápido, devido à situação do país
A aprovação, pela Câmara dos Deputados, da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma abre uma possibilidade concreta de que a crise econômica e o nó político possam ser equacionados antes de 2018, a partir da saída do PT do Planalto, onde se encontra há 13 anos, o mais longo período na República de um grupo político no poder, por meio de eleição direta. Mas patrocinador de uma catástrofe ética e uma hecatombe econômica.
É previsão infalível garantir que hoje Bolsa sobe e dólar cai, sinais característicos do bom humor dos mercados. Como tem sido nos últimos meses na repercussão de toda notícia negativa para o governo Dilma e, mais recentemente, sobre o ex-presidente Lula, convertido em chefe das forças de defesa da cidadela do Planalto sob o controle do PT.
São características dos mercados oscilações nervosas, que buscam se antecipar a fatos. Eles operam no vácuo das expectativas. Como é neste caso do processo de impeachment.
Mas a derrota de ontem da presidente, revés grave para o projeto de poder do partido, não é definitiva. Para o vice-presidente Michel Temer assumir, à frente do seu PMDB, com uma diversificada aliança entre partidos de histórica oposição ao PT (PSDB, DEM, PPS) e legendas recém-desembarcadas de um navio que faz água (PSD, PR, PP etc.), ainda há pela frente o julgamento propriamente dito, conduzido no Senado pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal.
Mas o Brasil tem pressa, esta é a questão. Dois dados: o desemprego aumenta à razão de 100 mil pessoas por mês e já se aproxima o saldo tenebroso de 10 milhões de brasileiros sem trabalho. O lado de vida real da crise é dramático: debacle social, pobreza, queda de padrão de vida, aumento da violência, e assim por diante, sempre ladeira abaixo. Portanto, picuinhas entre caciques peemedebistas, Renan Calheiros e Temer, e jogo de cena para buscar favores do Planalto precisam ser deixados de lado a fim de que se ponha para andar, com rapidez, o julgamento da presidente no Senado.
Aceito o processo pelo Senado, Dilma será afastada por até 180 dias, durante os quais governará Temer. Mas, se esgotado o prazo e o julgamento não tiver sido concluído, Dilma volta. É indiscutível que este cenário será letal para todos: para Dilma, PT e Lula, porque serão mais fortemente responsabilizados pela catástrofe, e para a aliança que terá assumido o governo, ao lado de Temer, por não ter estabilizado o país. Perdem os políticos e sofre mais ainda a população.
Logo, inexiste qualquer justificativa razoável para o Senado não dar início à fase de julgamento da presidente com urgência máxima, obedecidos todos os trâmites legais, com respaldo do STF. Chega a ser uma questão de segurança nacional.
Mesmo que ainda falte o essencial, o julgamento, o vice Michel Temer tem de agir, diante da situação em que está a economia. Ela é tão crítica que as únicas duas boas notícias — a inflação perde fôlego e o superávit comercial pode ser recorde histórico — derivam de um sério problema: a profunda recessão interna. Com o nível baixo de atividade na produção, importa-se menos; com a perda de poder de compra da população, devido ao desemprego e a uma persistente inflação elevada, indústria e comércio são obrigados a reduzir preços. Mas há limites. O remédio que produz os bons resultados matará o doente. Ele é veneno. É ilusório achar que o pior passou, que se bateu no “fundo do poço”. As coisas não funcionam assim numa severa crise fiscal e em que o governo ainda no poder mantém os mecanismos que alimentam esta crise — deseja continuar a elevar os gastos quando as receitas caem, puxadas pela recessão. E, como sempre em nome da defesa do pobre, também rejeita desindexar o Orçamento, cujas despesas crescem rumo ao infinito porque a inflação não para de subir, embora numa velocidade mais baixa. É receita infalível do agravamento ainda maior da crise fiscal, que tornará o pobre miserável. Já se sabe o que esta fórmula econômica tóxica produz. Michel Temer, então, não pode esperar inerte a abertura da fase de julgamento pelo Senado. Imóvel ele não está, a considerar o noticiário sobre sondagens a Arminio Fraga, economista, presidente do Banco Central no momento delicado de liberação do câmbio, com FH, formulador do projeto econômico do candidato tucano Aécio Neves, derrotado por Dilma em 2014.
Se o olfato do político aponta para onde migra o poder — motivo pelo qual houve debandada na Câmara da base do governo para o Palácio Jaburu —, mercados têm também sentidos apurados. O exemplo pode não ser o ideal, mas ajuda a entender do que se trata: logo ao assumir, depois de derrotar nas urnas o kirchnerismo na Argentina, Mauricio Macri fez fortes sinalizações para superar a profunda crise em que Néstor e Cristina Kirchner mergulharam o país em 12 anos de poder — semelhante ao que o lulopetismo fez no Brasil —, e em poucas semanas conseguiu reverter o humor interno e mundial com relação à economia argentina. Macri já detinha a caneta para tomar decisões concretas. Mas mostrou ao parceiro do Mercosul que postura é capaz de começar a romper a mais espessa argamassa de pessimismo em pouco tempo. Temer precisa ensaiar, agora, um choque de credibilidade.
Até porque, como ficou exposto no vídeo que a presidente Dilma difundiu sexta-feira pela internet, ela retomou o discurso de campanha para tentar semear o pânico na população, como em 2014 com seu marqueteiro, João Santana, hoje preso, exibindo filmes em que a comida desaparecia do prato das famílias humildes se adversários ganhassem a eleição. Dilma garante que Temer e aliados acabarão com o Bolsa Família — criada por tucanos —, e o vice-presidente nega. Mas Temer precisa ir além. Não basta negar, mas, por exemplo, apresentar nomes de peso, respeitados, para pastas-chave.
Raposas da política — e Temer é uma delas — devem estar aconselhando o vice-presidente a evitar temas sobre a corrupção. Mas ele não deveria ouvi-los. Lembremo-nos da reação espontânea do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, ao ver a foto em que Eduardo Cunha e Romero Jucá, de mãos dadas e braços erguidos, comemoravam a formalização da saída do PMDB da base do governo. “Meu Deus do céu! Esta é nossa alternativa de poder...” Cunha e Jucá, este, braço-direito de Temer, os dois denunciados pela Lava-Jato, sendo o primeiro dono de extenso prontuário, são vistos como símbolos dos riscos que um governo Temer corre neste campo.
Ora, no lado do governo também há extensas folhas corridas de delitos, inclusive com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ainda preso em Curitiba. O próprio Lula é investigado. Não se trata, portanto, de estabelecer uma disputa sobre quem tem fichas mais limpas. Ou mais sujas. Mas de deixar claro de forma veemente que um possível governo do vice, com característica de salvação nacional, nada fará para criar obstáculos à Lava-Jato ou a qualquer outra ação anticorrupção, mesmo que tenha, como se diz, de cortar a própria carne.
No sábado, Temer fez, por escrito, uma defesa da Lava-Jato. Agiu bem e precisa continuar assim. Não transigir em questões éticas também é uma forma de se diferenciar da era lulopetista. Não é apenas na economia.