sábado, abril 09, 2016

E agora, Folha? - DEMÉTRIO MAGNOLI

Folha de SP - 09/04

Domingo passado, Dilma Rousseff saboreou um inesperado triunfo, servido no editorial de primeira página da Folha ("Nem Dilma nem Temer", 3/4/16).

Repetindo o que tantos pediram, sem sucesso, ao longo do último ano, o maior jornal do país envia uma mensagem decepcionante: o destino de uma presidente "que perdeu as condições de governar" deve depender, exclusivamente, da vontade dela mesma. "Eu jamais renunciarei", retrucou a presidente, de bate-pronto. O tempo passou na janela, e só a Folha não viu.

As críticas do editorial à solução do impeachment oscilam pendularmente entre os registros da política e do direito. As "pedaladas fiscais", razão jurídica perfeita para o impedimento, não preenchem o requisito político "numa cultura orçamentária ainda permissiva". Os múltiplos "indícios de má conduta", razão política irrefutável para a deposição constitucional, não preenchem o requisito jurídico pois "falta comprovação cabal". A equação argumentativa da Folha foi formulada por um matemático decidido de antemão a rejeitar a alternativa do impeachment.

A raiz da posição do jornal encontra-se sorrateiramente explicitada em outro lugar: o impeachment deixaria "um rastro de ressentimento", pois "mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva". Tradução: a maioria da sociedade deve ceder à chantagem minoritária do "povo organizado", aceitando um "novo normal" formado por violações jurídicas de baixo impacto político e crimes políticos ainda carentes de veredito jurídico. Mas, como é deselegante dizer isso, o editorial maquia suas manchas com o corretivo cremoso da inócua solicitação de renúncia ao mandato presidencial.

O tempo passou na janela. Antes das delações de Delcídio do Amaral e da Andrade Gutierrez, e antes da nomeação de Lula à Casa Civil, havia bons motivos para questionar o impeachment. Hoje, porém, à luz do dia, o Planalto comete sucessivos crimes de responsabilidade. Nas palavras do próprio editorial, "a administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça". Mas, estranhamente, a Folha descarta no nono parágrafo os crimes políticos que aponta no quinto. Na sequência, opera um salto argumentativo arbitrário, oferecendo a saída da dupla renúncia da presidente e do vice.

Temer não está engajado em operações de obstrução da Justiça. Mas, segundo a lógica sofística do editorial, o vice ocupa lugar idêntico ao da presidente, pois "tampouco dispõe de apoio suficiente na sociedade". Da imputação decorreria o imperativo da renúncia simultânea de ambos, abrindo caminho para novas eleições presidenciais. Mas, apesar das virtuosas intenções declaradas, o apelo do jornal apenas oferece um pretexto farisaico aos deputados que, por motivos pecuniários ou ideológicos, ensaiam perfilar com o Planalto na votação do impeachment. Afinal, por que trocar seis por meia dúzia?

Todo o poder ao povo! A solução imaginada pelo editorial produziria um governo calçado na legitimidade eleitoral, não uma transferência de comando para o sócio menor da coalizão que nos conduziu a uma tripla crise, econômica, política e ética.
Contudo, o caminho até a antecipação de eleições presidenciais não passa pelo atalho utópico da dupla renúncia, pois Dilma "jamais" renunciará. Igualmente, não passa pelo longo contorno do TSE e do STF, pois a cassação da chapa Dilma/Temer depende de julgamentos que só se concluiriam em 2017, gerando eleições indiretas.

Se o jornal quer mesmo que o povo decida, tem o dever de apoiar o impeachment –para, em seguida, solicitar a renúncia de Temer. A única alternativa é o túnel da anomia: Dilma até 2017, sucedida por um presidente escolhido pelo Congresso. E agora, Folha?


Debandada - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 09/04

O PT tenta apresentar-se como perseguido político. A enxurrada de escândalos, denúncias, investigações e condenações envolvendo próceres petistas seria resultado de uma sórdida campanha levada a cabo pelos inconformados com a revolução social promovida por Luiz Inácio Lula da Silva desde sua posse na Presidência da República em 2003. Tal versão, no entanto, não tem qualquer suporte nos fatos. A realidade é bem mais caseira – simplesmente o partido começa a sentir as consequências de seus atos imorais e ilegais, que vão sendo revelados à medida que avançam as investigações da Operação Lava Jato. Num Estado Democrático de Direito, andar fora da lei tem seu preço – jurídico e político.

O discurso de vítima do PT fica completamente desmascarado diante da vergonha dos próprios petistas com a legenda utilizada largamente por seus dirigentes em benefício pessoal. Se fosse verdade a existência de uma campanha de perseguição, a natural reação de seus membros seria de orgulho e defesa da causa petista. Não é isso, porém, o que se vê. Os políticos petistas estão em debandada. Conforme noticiou o Estado, de meados do ano passado até o dia 2 de abril – fim do prazo legal para mudança partidária –, um terço dos prefeitos eleitos pelo PT no Estado de São Paulo deixou o partido. Nas eleições municipais passadas, o PT elegeu 72 prefeitos. Desse total, 24 já abandonaram a legenda.

Essa debandada não se deve a nenhum tipo de perseguição política. Sai quem se envergonha de um partido que renegou a ética na política, no discurso e na prática. Como ficou evidente aos olhos dos brasileiros – especialmente com as investigações da Operação Lava Jato, mostrando que o mensalão era coisa pequena diante do petrolão –, o partido de Lula não apenas se lambuzou com antigas práticas de corrupção, mas promoveu verdadeira revolução na arte de apropriar-se do público em prol do interesse particular – partidário e pessoal. Obviamente, além das complicações judiciais, esse modus operandi tem um alto preço político.

A doença petista não atingiu apenas prefeitos. O partido também perdeu 28% dos vereadores que tinha no Estado de São Paulo. Entre os 186 vereadores que saíram da legenda, havia nomes de destaque, que as lideranças partidárias esperavam ver como candidatos do PT na disputa por importantes prefeituras. Significativo desfalque deu-se em Carapicuíba, cidade com mais de 270 mil eleitores e governada há oito anos pelo PT. O atual presidente da Câmara de Vereadores, Abraão Junior, trocou o PT pelo PSDB, legenda pela qual pretende disputar as eleições de outubro para prefeito.

Boa parte dos prefeitos que abandonaram o PT governa pequenas ou médias cidades no Estado. Há, porém, exceções. Por exemplo, o prefeito Jorge Lapas, de Osasco – quinto maior colégio eleitoral de São Paulo, com 548 mil eleitores –, trocou a legenda petista pelo PDT. Na carta escrita para explicar sua desfiliação do partido, Lapas menciona o “momento delicado pelo qual o PT está passando no cenário nacional”, além da “desunião e fragilidade resultantes da disputa interna” no partido. É uma maneira até elegante de se referir aos problemas que, com suas práticas, o partido criou para si mesmo.

As razões para a debandada de políticos petistas não são segredo para ninguém. Os escândalos nos quais o PT e algumas de suas principais lideranças estão envolvidos representam um enorme peso político. Conforme noticiou o Estado, pesquisas internas do próprio PT indicam que a associação dos nomes dos pré-candidatos com a legenda tem o efeito de âncora no eleitorado. Até mesmo prefeitos petistas com boa avaliação de suas administrações são puxados para baixo nas intenções de voto quando associados ao PT. O efeito é ainda maior nas grandes e médias cidades. Trata-se de um evidente sinal de maturidade do eleitorado. Não vale mais o “rouba mas faz”. O eleitorado quer outro tipo de política e, portanto, quer outro tipo de partido.

Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), “muitos prefeitos superestimaram a crise e não esperaram sua superação. Fizeram uma leitura precipitada”. Parece ser o oposto. A real avaliação sobre o PT é que veio tarde.


Feira da corrupção - RONALDO CAIADO

Folha de SP -09/04

O ambiente pré-impeachment, que transformou a praça dos Três Poderes em balcão de negócios, evoca frase lapidar do falecido humorista Barão de Itararé (que, a propósito, era comunista): "O homem que se vende vale sempre menos do que recebe".

Mas não se trata apenas do aspecto moral. Mesmo sob o ângulo estritamente utilitário, que impulsiona carreiristas e oportunistas, a oferta é uma cilada. A presidente Dilma oferece cargos aos deputados que se dispuserem a votar contra o impeachment. Mas o que significa aceitá-los diante de um governo em ruínas, reprovado, segundo o Ibope, por 90% da população e submetido aos rigores de uma investigação policial implacável, que já acumula dezenas de gravíssimas denúncias? E não é só: um governo que não sabe o que fazer com a crise que ele mesmo criou e que se agrava dia a dia.

É o mesmo que comprar lotes na lua. E este é um dos aspectos mais bizarros que este momento oferece ao olhar da nação: a vaidade e a ambição contrapondo-se à razão, ao bom senso e à ética. Além de burrice, é jogar contra os interesses do país. O governo é, hoje, um mercador de nuvens: oferece uma mercadoria que não tem, pelo trivial motivo de que ele próprio já não existe. É uma ilusão.

Faliu financeira, moral e politicamente. A nação, por isso mesmo, não o quer. O máximo que pode oferecer aos seus futuros ministros é o usufruto de um carro executivo preto, um chofer e um punhado de assessores tão perdidos quanto ele próprio; gente que afaga o ego com um título vazio que, em vez de status, impõe um estigma, o fim precoce e inapelável de uma carreira equivocada.

Não se governa de costas para a nação. O governo Dilma luta para ficar, mas nada justifica que o faça, já que não tem projeto para o país. O seu projeto é ficar. A Operação Lava Jato revela, a cada dia com mais detalhes, a sequência sórdida de delitos que praticou para reeleger-se e conservar-se no poder.

Conseguiu, mas à custa de prejuízos que, apenas parcialmente contabilizados, levaram o jornal "The New York Times" a considerar o petrolão "o maior escândalo financeiro da história da humanidade". De fato. A título de comparação, o escândalo da Fifa, que abalou o mundo, contabiliza US$ 150 milhões.

O petrolão, até aqui, contabiliza R$ 42 bilhões. A ex-presidente da Petrobras Graça Foster contabilizou R$ 88,8 bilhões. Somente um gerente da Petrobras, Pedro Barusco, devolveu US$ 100 milhões. O escândalo da Fifa, portanto, equivale a um Barusco e meio. E estamos falando de uma única estatal. Há outras caixas-pretas ainda por abrir: Eletrobras, fundos de pensão, BNDES, Dnit, Banco do Brasil, Caixa Econômica.

Sabemos por diversas delações premiadas –e nesta semana foi a da diretoria da Andrade Gutierrez– que essa dinheirama, além de fornir a conta de governistas e empreiteiros, financiou a reeleição de Lula e as duas de Dilma. Para quê? Criar um desgoverno corrupto.

O Tribunal de Contas da União acaba de revelar outro escândalo, desta feita relativo à reforma agrária. Identificou mais de 578 mil beneficiários irregulares. O rombo, segundo o TCU, é de R$ 2,5 bilhões, decorrente de créditos e benefícios atrelados à previsão de 120 mil assentados entre 2016 e 2019. Mais um.

Enquanto isso, milícias governistas, sob o olhar cúmplice da presidente, ocupam o Palácio do Planalto e ameaçam invadir fazendas, gabinetes e residências de parlamentares adversários. Não são sem-terra; são sem-lei, criminosos.

É esse ambiente devastado a moeda oferecida em troca de votos contra o impeachment. Não funcionará. A pressão popular há de triunfar.


Governo oprimido, Constituição golpista - GUILHERME FIUZA

O Globo - 09/03

Os comícios no Palácio estão animados. O mais interessante teve uma claque de mulheres reunidas para gritar ‘fora Bolsonaro’


Confirmado: há um golpe de Estado em marcha no Brasil, para destituir o governo popular que pensa nos pobres e devolver o poder à direita que pensa nos ricos. Quase ninguém notou, mas Sérgio Moro é um codinome em homenagem ao general Mourão, que iniciou com suas tropas o golpe de 64. Moro é Mourão, Dilma é mulher, Lula é pobre. Combinado assim?

O Brasil tem o primeiro governo oprimido da história da Humanidade. O Palácio do Planalto virou uma trincheira, onde a presidenta mulher faz comícios quase diários em defesa dessa gente sofrida e milionária que o reacionário Moro Mourão quer pisotear. Sabem o que Dilma Rousseff berra nesses comícios palacianos? Que há uma ameaça de golpe de Estado no país. Se esse não fosse um governo coitado e café-com-leite, isso seria crime.

Se a presidente não fundamentar sua grave acusação, ela está agindo em flagrante coação de outro poder da República — o Legislativo, que examina um pedido de impeachment contra ela. Claro que Dilma não fundamenta nada (seria pedir demais). A Constituição Federal diz que isso é crime. Ou seja: temos um governo oprimido e uma Constituição golpista.

Como o Brasil tem uma opinião pública flácida e uma oposição frouxa, tudo passa. A presidenta mulher carrega na bolsa uma coleção de indícios de crimes de responsabilidade. Mas essa bolsa está muito bem guarnecida pelo Supremo Tribunal Federal, onde o ministro relator Teori Zavascki não vê, nunca viu e nunca verá motivos para se determinar a investigação da dona da bolsa. Deve ser uma questão de privacidade. Se ali dentro tem uma refinaria superfaturada, tentativas de obstrução da Justiça ou complacência com auxiliares criminosos, são questões de foro íntimo.

Aí a presidenta mulher sai gritando que, sem crime de responsabilidade, tudo é golpe. E o país abobado engole a fraude (mais essa). Não há — nem pode haver — crime de responsabilidade provado, porque nem processo há (graças aos supremos companheiros federais). Mas a floresta de evidências desses crimes está escancarada pela Operação Lava-Jato, tendo inclusive ensejado o pedido de impeachment da imaculada presidenta (anexando o crime de responsabilidade fiscal). E o impeachment é um processo político legal, que não depende de sentença judicial. Collor caiu sem ser condenado.

Os comícios no Palácio estão animados. O antropologicamente mais interessante foi uma claque de mulheres reunidas pela presidenta mulher para gritar “fora Bolsonaro”. Não é genial? O que seria desse governo oprimido sem a direita, a ditadura militar e o Bolsonaro?

Enquanto isso, o companheiro Dirceu — herói da esquerda contra a ditadura e chefe de Dilma Rousseff e do mensalão, não necessariamente nessa ordem — caminha para nova condenação, pelo petrolão. Está dando para acompanhar? A representante legal (sic) do bando que depenou o país está no Palácio gritando fora Bolsonaro.

Ficou com vergonha do lugar onde você vive? Pois saiba que a MPB, a esquerda festiva e boa parte da intelectualidade (pai do céu) brasileira não têm vergonha nenhuma. São os zeladores do conto de fadas revolucionário, os guardiães implacáveis dos pobres milionários. Eles querem a cabeça de Moro Mourão, porque mostrar como a elite vermelha arrancou as calças da Petrobras é fascismo. Você achou que a desonestidade intelectual tinha limite? Sabe de nada, inocente.

Calma que tem mais. Sabe qual é o novo bordão dos denunciantes do golpe contra a clepto-democracia petista? Gritar que os vazamentos da Lava-Jato são seletivos.

Pensando bem, a Lava-Jato é toda seletiva: os golpistas de Moro Mourão escolheram seletivamente investigar o maior assalto aos cofres públicos de todos os tempos, decidiram cirurgicamente investigar os governos do PT que perpetraram esse assalto, resolveram arbitrariamente revelar que a cúpula do crime e o estado-maior de Lula são exatamente a mesma corja e, por fim, cismaram obsessivamente de mostrar que a corja regida por Dilma está usando as instituições públicas para sabotar as investigações e não ter que largar o osso. É muita seletividade mesmo.

Mas não pense o comandante Moro Mourão, esse fascista, que vai acabar assim facilmente com as trampolinagens do grande circo místico. Os ases da mistificação estão em posição de combate no STF. Dali já saíram petardos fulminantes contra o Congresso Nacional, mostrando que os brasileiros não precisam invejar os venezuelanos e sua democracia tarja preta. E vem mais, podem esperar. Não duvidem se surgir um Barroso descobrindo que, com base no rito do caso Collor, para o impeachment de Dilma está faltando um PC Farias.

Esqueça o Bessias, a propina da Andrade Gutierrez para o PT reeleger a presidenta mulher, o laranjal do Lula. Não seja seletivo. Concentre-se em combater as tropas fascistas de Moro Mourão. E diga não à guerra do Vietnã.

PS: Jabor querido, tudo bem, te empresto o espelho meu. Mas cuidado, podem achar que isso é uma conspiração da elite branca de neve.

Diálogo impossível - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 09/04

A presidente Dilma, cada vez mais acuada pelos fatos, é uma guerrilheira da retórica quando está em comícios fechados com sua claque, e uma estadista quando em cerimônias públicas. No palanque, especialmente no Planalto, que transformou em seu escritório eleitoral, onde apenas petistas e assemelhados são permitidos, Dilma, além da confusão verbal que lhe é característica, chama de golpistas os adversários políticos e abusa da luta política para tentar marcar a narrativa que sustenta hoje o PT.


A de que o partido está sendo perseguido por ser o defensor do povo, e que o pedido de impeachment é um golpe parlamentar. Como se a elite perversa quisesse reverter as conquistas alcançadas pelos governos petistas nos últimos 14 anos.

Vive ainda no passado recente, quando o mundo crescia a tal ponto que todos os países emergentes melhoraram a distribuição de renda e retiraram da pobreza milhões de pessoas. Finge que não sabe que esse passado já não existe mais, e que, se insistir em permanecer à frente do governo, o país acabará revertendo ao que era há uma década, o que já acontece em muitos setores, especialmente na renda média do brasileiro.

Nas raras aparições públicas em que são mínimas as possibilidades de ser vaiada, a presidente lança apelos ao entendimento, como fez ao discursar na inauguração do Estádio Aquático Olímpico, no Rio, ontem. Disse a presidente: "Acho que um clima de quanto pior, melhor não interessa ao país, não interessa à necessária estabilidade econômica e política do país. Se nós somos capazes de fazer uma Olimpíada, se somos capazes de fazer uma paraolimpíada, somos capazes de fazer também o nosso país voltar a crescer. Para isso, um elemento é fundamental - o elemento da convergência, o elemento do diálogo e o elemento da parceria".

A mesma presidente prepotente que, no auge de uma popularidade artificial, desdenhava dos adversários e não raras vezes tratava-os como se fossem seres que viviam em outro planeta, agora vem estender a mão para um diálogo impossível.

O mesmo acontece com o ex-presidente Lula, a quem se atribui a ideia de fazer uma nova Carta ao Povo Brasileiro caso a presidente consiga superar o impeachment, e ele se transforme em chefe da Casa Civil.

Em 2002, na campanha que o levou ao Planalto, Lula aceitou escrever um compromisso formal de que manteria a política econômica que seu antecessor, Fernando Henrique, implantara com o Plano Real.

Precisava acalmar o mercado financeiro, garantindo que não daria um cavalo de pau na economia, como, aliás, não fez até meados do seu segundo mandato. Agora, diante das dificuldades de Dilma, Lula pretende que sua sucessora repita o gesto, para tentar ganhar apoios para reverter a crise econômica.

Mas há obstáculos intransponíveis à repetição como farsa dessa estratégia. Começando pela confissão do próprio Lula, em 2014, de que se arrependeu de ter feito a Carta ao Povo Brasileiro. Isso porque, a partir da crise de 2008/2009, ele encontrou uma desculpa para adotar o projeto econômico petista, que acabou nessa crise histórica em que estamos envoltos, com o maior período de recessão da República.

A nova matriz econômica, depois de um crescimento de 7,5% em 2010 que permitiu a Lula eleger Dilma como sua sucessora - e, sabe-se hoje, já financiado pela corrupção da Petrobras -, levou o país à breca quando a fome de Dilma por políticas heterodoxas encontrou-se com a vontade de comer do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Como acreditar que a presidente Dilma quer o diálogo se, além da incapacidade de ouvir o outro, ela não abre mão de suas convicções econômicas que nos levaram aonde estamos? Como acreditar que Lula, arrependido da primeira carta, será o fiador da segunda? Além do mais, já se foi o tempo em que as visões de PT e PSDB tinham alguma semelhança que permitiriam aproximação política efetiva. Hoje, esses pontos em comum, mesmo existentes - como, por exemplo, na rede de apoio social iniciada no governo Fernando Henrique -, já não servem de apoio a trabalho conjunto, pois a luta política se exacerbou tanto que mesmo falando a mesma língua os dois já não se entendem.

Some-se a isso a circunstância de que o PT está envolvido em uma prática política corrupta que vem sendo desvendada pela Lava-Jato, não há espaço para uma aproximação antes de saber quem vai sobrar para fazer o suposto acordo político.


Delação fatal - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

O que Otávio Azevedo falou é motivo para a saída de um presidente em qualquer democracia


Algum petista precisa convencer a presidente Dilma Rousseff a apoiar os trabalhos da Câmara nos fins de semana, sábados, domingos e feriados, para acelerar a votação do processo de impeachment. Dilma, apresse tudo por seu próprio bem.

Porque, a cada semana, a cada depoimento que ganha a luz do dia, sua permanência no Palácio do Planalto fica mais insustentável. Não tem encanador no mundo que dê jeito nos vazamentos desse esgoto de propinas. No seriado “Executivos contra o Executivo”, o conteúdo das denúncias é assombroso.

Vamos esquecer que este é um mau governo – uma constatação de eleitores de todas as classes sociais e todos os matizes ideológicos. Dilma jogou o Brasil numa crise sem tamanho. Um Brasil que ficou tão menor sob sua incompetência e irresponsabilidade fiscal. Um Brasil que só aumenta os gastos públicos, mete a mão na arrecadação de impostos e condena a população à inadimplência.

Vamos esquecer sua falta de liderança, atestada por políticos de todos os partidos, entre eles o PT. Vamos esquecer a alta da inflação e do desemprego. Vamos esquecer que, ainda hoje, com o país no abismo, Dilma negocia, em troca de votos de qualquer picareta, as Pastas de Educação e Saúde, como se fossem legumes na xepa ou moedas de cara ou coroa – só para se manter no poder. E que se dane o povo nas filas de escolas e hospitais, refém de epidemias graves e indicadores educacionais vergonhosos.

Vamos esquecer as pedaladas fiscais, manobras que sempre existiram, mas que dispararam com Dilma e chegaram a R$ 72 bilhões – pedaladas para financiar projetos do governo, pintar de rosa a realidade e ganhar a reeleição com base em grossas mentiras. Esses bilhões foram ressarcidos aos bancos públicos no último dia útil de 2015, com o governo já acossado por denúncias de ilegalidade.

Vamos esquecer as delações anteriores, de seu ex-líder na Câmara Delcídio do Amaral ou de operadores e presidentes de empresas, todos admitindo participar de uma rede de obras superfaturadas e do movimento de fortunas para beneficiar seu governo. Vamos esquecer até as críticas de Lula a seu estilo autoritário, Dilma, com socos na mesa e palavrões. Um estilo agora substituído por um sorrisinho debochado com chiclete e por comícios seletivos no Palácio do Planalto, com claque garantida.

Vamos esquecer o caos e nos ater à última delação, de Otávio Azevedo, ex-presidente da segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez. O executivo diz ter pago, com outras construtoras, R$ 150 milhões em propinas disfarçadas de doações eleitorais para o PT e o PMDB, repartidos igualmente, para ganhar o contrato da usina de Belo Monte.

Quem ganhou a “concorrência” acabou sendo o amigo de Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai, com um consórcio de empresas formado às pressas. A amiga de Dilma, Erenice Guerra, calou as queixas de Otávio Azevedo, prometendo a ele que Bumlai contrataria a Andrade Gutierrez para executar a obra. E assim foi. Se não me engano, isso se chama “quadrilha”.

O executivo Otávio Azevedo também declarou ter sido intimado pelo tesoureiro da campanha de Dilma em 2014 e atual ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, a doar dinheiro para a reeleição da presidente. Otávio argumentou que já tinha pago a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, hoje preso na Lava Jato. E que não poderia fazer a mesma doação novamente. As partes teriam então chegado a um acordo de doação de R$ 20 milhões. Doação registrada legalmente, mas que, segundo Otávio Azevedo, seria originária de propina de obras superfaturadas da Petrobras e obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.

A delação de Otávio Azevedo não livra a cara do PMDB nem do PSDB, cujo candidato à Presidência, Aécio Neves, também recebeu doações da empreiteira. Segundo o depoimento, em 2009, R$ 600 mil em dinheiro vivo foram entregues ao ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, do PMDB. A delação também envolve o economista Delfim Netto, que teria recebido, segundo executivos da empreiteira, R$ 15 milhões de propina em 2010.

Caso essa delação seja verdadeira, o que Otávio Azevedo falou é, por si só, motivo para a saída de um presidente ou de um primeiro-ministro em qualquer democracia civilizada. Causa espanto que Dilma se indigne não contra o conteúdo da delação, mas contra “os vazamentos seletivos” que favorecem “o golpe”. Causa espanto que o Partido dos Trabalhadores refute a última delação não em tom de revolta contra invenções absurdas, mas contra o que o PT chamou de “ilações”. Fraco.

Todos os acusados negam malfeitos. Mas não acreditamos mais. Precisamos passar o Brasil a limpo. E isso significa punir todos os bandidos, a torto e a direito, sem apegos a siglas, mas aos fatos.

E o culpado é... o zelador?! - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 09/08

Os romances policiais transformaram a figura do mordomo em eterno suspeito. Tornou-se clichê: a culpa era sempre do personagem. Mas o escândalo que envolve o ex-presidente Lula como suposto proprietário oculto de um triplex à beira-mar no litoral paulista acaba de arrumar um vilão diferente para a trama: o zelador. Depois de depor e confirmar que testemunhou visita do presidente Lula, de dona Marisa e do dono de uma empreiteira ao imóvel, José Afonso Pinheiro foi demitido. Perdeu o emprego no edifício Solaris, no Guarujá, em São Paulo.

"Foi pura política por causa daquele depoimento", indignou-se José Affonso, em entrevista ao Estadão. E explicou: "Depois de eu ter dado o depoimento, a engenheira da OAS disse que eu tinha falado demais. O síndico mesmo disse que eu tinha falado demais. O pessoal deixa esfriar um pouquinho e acaba sobrando para a gente que é menos favorecido".

E ainda há quem caia na balela do tal "pai dos pobres". A cada dia, os fatos tratam de desmentir o marketing petista. E o marqueteiro que angabelou milhões de brasileiros está preso em Curitiba. Daí por que a face lulista que vem à tona agora se assemelha mais à de um famoso personagem de Chico Anysio, o Justo Veríssimo, com o bordão que, até hoje, é a mais perfeita tradução do político sem escrúpulos: "Eu quero que pobre se exploda".

Afinal, sem educação nem saúde decentes, não há como sair da miséria. Era essa a intenção: cultivar quem recebe bolsa-família num curral eleitoral de 40 milhões de votos? Segundo o jurista Hélio Bicudo, José Dirceu lhe disse que a ideia era essa. Começava aí a decepção de Bicudo com o partido. Depois veio o mensalão, o petrolão - e a indignação do jurista se transformou no atual pedido de impeachment que hoje tramita no Congresso.

Outro arroubo democrático de Lula é a conversa, de conhecimento público graças a um grampo autorizado pela Justiça, em que ele diz pro irmão Genival que haverá "um monte de peão" pra bater em quem ousar se manifestar contra ele na frente do prédio onde mora em São Bernardo do Campo (SP): "Se os coxinhas aparecer (sic), eles vão tomar tanta porrada que eles nem sabe o que vai acontecer".

"Coxinha" é como pseudopetistas tratam as pessoas que não ganham "acarajés", camisa, bandeira, lanche ou transporte para ir às ruas defender o impeachment. Digo pseudopetista porque parte dessa turma nunca foi petista. A ideologia que os move é dinheiro. Muito dinheiro. Até mesmo roubado da Petrobras. É com o bolso cheio de grana que os bons companheiros alegremente passam o dia a engabelar trouxas postando sandices nas redes sociais. Muita gente - inocente útil ou desinformada - vai na onda e "curte".

Kolyas - IGOR GIELOW

Folha de SP - 09/04

No gentil e oscarizado drama tcheco "Kolya" (1996), uma das cenas finais mostra o protetor local do garoto russo que empresta seu nome ao filme flagrando agentes repressivos que o atormentaram a comemorar nas ruas a queda do regime comunista ao qual serviam.

Brasília não é Praga, infelizmente para quem mora na capital brasileira, mas este é um dos epílogos possíveis para o roteiro com ares farsescos que se desenrola no cerrado.

Por aqui, policiais do presente torturam a soldo, mas agitarão felizes bandeirinhas do reinado a seguir, se for o caso. Lula sabe disso, Temer também. Dilma, bom, ela parece não saber de muita coisa mais.

O enredo então salta 18 anos para desembarcar na tragédia cinematográfica de outro Kolya, o também russo protagonista do igualmente premiado"Leviatã", retrato seco da corrupção dos rincões na era Putin.

Como no filme mais recente, há uma sensação de impotência no ar brasiliense. Os personagens parecem todos comprometidos com algum tipo de trama inaudita.
O pêndulo do fim efetivo do ex-governo Dilma havia entrado a semana esboçando reação ao impedimento; nesta sexta (8), a enxurrada de notícias ruins para o PT e o Planalto o empurrou de volta a um meio-termo com viés de baixa para os petistas.

Os dados que emergem da delação da Andrade confirmam a vocação apocalíptica da fase atual da Lava Jato, e dificilmente o futuro reserva bálsamo ao resto do mundo político.

Mais rapidamente e por continuidade delitiva, parece impossível ao modo petista de governar, e houve um tempo em que isso era slogan eleitoral, sobreviver. Quem hoje brinda à "refundação" do governo pode, mesmo que a pantomima se imponha, correr para agitar as bandeirinhas do "novo" em breve.

Para a desgraça do Brasil, o final do filme está mais para a desgraceira russa de 2014 do que à esperança contida da película tcheca.

Nova maioria para uma nova agenda - MURILLO DE ARAGÃO

O Estado de S. Paulo - 09/04

Provavelmente em 90 dias, no máximo, saberemos se o processo de impeachment resultará no afastamento ou não de Dilma Rousseff da Presidência da República. Independentemente de quem seja o presidente após o processo, o Brasil precisa de uma nova agenda e de uma nova maioria. Afinal, estamos na pior situação econômica possível em décadas: déficit fiscal, inflação, recessão e instabilidade política. Claramente, a atual configuração política do governo não tem a menor condição de enfrentar nossos desafios. É um governo tomado por um discurso bolivariano, que mais fragiliza do que o fortalece na luta contra o impeachment.

Quais os cenários políticos possíveis? Vamos a eles. Seja quem for o presidente, deverá haver recomposição do Ministério, visando a dar consistência a um presidencialismo de coalizão que nunca se realizou. Obrigatoriamente, o novo presidente terá de abrir espaço no governo para compor nova maioria, que terá de apoiar uma agenda dura de ajustes. E terá de se relacionar com políticos, pessoalmente, de forma regular e consistente. No caso de Dilma, ser a líder que nunca foi. Os desafios serão fazer a maioria ser operacional e mantê-la unida ante o debate de temas muito duros.

Outro fator determinante do day after do impeachment na Câmara seria o tamanho do apoio que Dilma Rousseff receberia para barrá-lo. Imaginem que cerca de 300 deputados aprovem o pedido. Não é suficiente para autorizar o julgamento no Senado, mas é uma robusta oposição que pode vir a paralisar o governo na Câmara. Negociar com os adversários será salvação e obrigação. Assim, a conciliação de Dilma com o mundo político torna-se inevitável. E o vice-presidente Michel Temer, como “líder da maioria”, mesmo “derrotado”, terá papel relevante na construção de uma nova base. É uma grande ironia. Coisas do Brasil. Coisas da política.

Em qualquer cenário, tanto Dilma quanto Temer terão de realmente alocar aliados em postos importantes. Mesmo sendo um governo de reconstrução nacional, não poderá ser um teatro de coalizão. Terá de ser feita uma completa redivisão do poder e uma obrigatória adesão da base política à agenda do novo governo. Para ter um mínimo de sucesso a nova agenda deve ser construída em conjunto com os partidos da nova base. Viveremos, de verdade, um ciclo semipresidencialista em que sa nova maioria no Congresso governará. Não sendo assim, não iremos a lugar nenhum.

No campo fiscal e econômico, a nova maioria terá de se comprometer com um duro ajuste fiscal e a aprovação de medidas duras nos campos previdenciário, trabalhista, tributário e empresarial. O governo terá de ser mais flexível nas regras de concessão e contratação de obras públicas, a fim de direcionar o Brasil para uma economia mais aberta e competitiva. Enfim, nada disso é parecido com o que foi feito nos últimos anos. Dilma teria de jogar suas convicções econômicas no lixo e virar a página. Não parece que vá ocorrer caso ela permaneça. Porém a receita para sair da crise é clara.

Michel Temer, caso assuma a Presidência, terá de tomar medidas drásticas e urgentes. Algumas já estão delineadas no programa Ponte para o Futuro. Provavelmente, mesmo não estando de acordo, Temer terá de buscar a aprovação da CPMF, tendo em vista um equilíbrio fiscal mínimo para, na sequência, implementar reformas mais profundas. Terá de acelerar o debate sobre a unificação do ICMS e promover uma radical simplificação do modelo tributário, além de acabar com as vinculações orçamentárias e estabelecer limites para o crescimento da despesa pública, congelar aumentos de salários do funcionalismo público e cortar ministérios e cargos de confiança. Não é uma agenda trivial.

Considerando o quadro e seus desafios, o cenário em caso de vitória de Dilma na disputa do impeachment não é animador. Dois outros desafios para o presidente pós-impeachment devem ser considerados. Para Elias Canetti, do alto de sua sapiência, a inflação é um fenômeno de massa no sentido mais verdadeiro e estrito da palavra. Diz ele que a inflação causa um efeito perturbador tão grave quanto as guerras e as revoluções. Por isso as medidas de controle da inflação devem ser duras e imediatas, a fim de evitar o caos e o descontrole.

O outro desafio está na dinâmica própria das investigações e dos julgamentos ligados às Operações Lava Jato e Zelotes. Como disseram o juiz Sergio Moro e o ministro Teori Zavascki, ainda tem muita coisa para acontecer. Os danos ao mundo político e empresarial ainda não estão delimitados. As delações relacionadas às megaempreiteiras estão estraçalhando o mundo político e sepultando o capitalismo tupiniquim. Um novo modelo terá que ser construído.

Administrar o Brasil pós-impeachment será, para quem estiver no comando, uma tarefa muito difícil. O País terá de se olhar no espelho e ver que o modelo em vigor é insustentável. Terá de enfrentar a tarefa de matar vacas sagradas e dizer, claramente, quais privilégios e quais benesses devem acabar. Terá de recompor o presidencialismo de coalizão numa base partidária superfragmentada. Terá, ainda, de profissionalizar a administração das estatais antes de embarcar num amplo programa de privatizações. Tudo emoldurado pelo agravamento da recessão, do desemprego, da inflação e dos efeitos colaterais das investigações em curso. E, ainda, submetido às surpresas da Lava Jato e à resistência das corporações à perda de benefícios.

Mas os problemas de hoje são oportunidades e, sobretudo, os conselheiros mais perversos e realistas que os governantes de plantão podem ter. Encará-los poderá apresentar-nos as soluções de que tanto necessitamos para evitar o naufrágio da nossa democracia.

O lado ruim da boa notócia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 09/04

A reação de quem for ao supermercado neste fim de semana tende ser de incredulidade. Não vai perceber correspondência entre o que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem e a conta que terá de pagar no caixa. A inflação oficial de março, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é, até agora, a melhor notícia do ano. O avanço em relação a fevereiro foi de apenas 0,43%, ou seja, menos da metade da taxa registrada no mês passado, de 0,9%. 


Com esse resultado, o acumulado nos últimos 12 meses (principal cálculo observado pelos economistas) sai do incômodo patamar de dois dígitos, baixando de 10,36% para 9,38% em apenas um mês. Mais cedo do que o esperado, fica confirmada a tendência de desaceleração da inflação prevista pelos analistas de mercado. Mas, assim como é explicável a frustração do consumidor com os preços que ele ainda vê nas gôndolas, a desaceleração do IPCA também não deve levar ninguém de juízo a abrir champanhe. Ambos precisam ser melhor analisados antes de qualquer atitude rebelde ou decisão de gastar. 

Os índices oficiais de inflação são resultado de uma média das variações de diversos preços de produtos e serviços, cada um com peso específico em relação à cesta média de gastos das famílias. No caso do IPCA, são as famílias que têm renda de até 40 salários mínimos mensais. Na maior parte dessas famílias, o custo da alimentação diária costuma ter grande peso no orçamento doméstico, e no caso das de renda mais baixa, esse é o item mais importante. Além disso, por reunir grande número de produtos de origem agropecuária e, portanto, sujeitos às condições do tempo, - o item alimentação nas contas da pesquisa para cálculo da inflação é o que apresenta as oscilações mais frequentes e mais expressivas. E é isso o que ocorre nesta época do ano. Na contramão da maioria dos produtos da cesta de gastos, os preços do item alimentação subiram 1,24% em março, ou seja, três vezes maior que a média do mês. Como oscilam muito, nada impede que também esse item desacelere em abril. 

Mas não é com isso que contam as previsões de desaceleração do processo inflacionário neste e no próximo ano. Há pelo menos dois fatores que o consumidor deve levar em conta.

O primeiro é a redução do impacto dos reajustes dos chamados preços administrados. É o caso da energia elétrica, que foi o principal fator de queda do índice de inflação em março, graças à redução da tarifa extra (bandeira vermelha), que vinha sendo cobrada em razão do acionamento de usinas térmicas para compensar a falta de chuvas. 

O segundo é a perda de renda das famílias, provocada pela própria inflação, que diminui o poder de compra dos salários, e pelo desemprego, que passa dos 10% e tende a aumentar. De novo, é preciso ir além da simples variação das taxas para entender o tamanho do problema que a economia e cada brasileiro enfrentam. No caso da média da inflação, não houve queda geral de preços. Eles continuaram subindo, só que com intensidade menor. E a retirada da bandeira vermelha na conta de luz não devolve quase nada em relação aos mais de 45% de aumento das tarifas ao longo do ano passado. Ou seja, a atual desaceleração da inflação se dá pelo pior dos motivos: a incapacidade financeira dos brasileiros de consumir.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

NOVAS PROVAS FIZERAM JANOT VOLTAR-SE CONTRA LULA
Novos fatos e provas recolhidos pela Lava Jato fizeram o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, firmar a convicção de que Lula e Dilma protagonizaram uma trama para obstruir a Justiça e tumultuar as investigações, a fim de impedir o juiz Sérgio Moro de adotar medidas coercitivas contra o ex-presidente. As novas provas foram enviadas ao Supremo Tribunal Federal por ordem do ministro Teori Zavascki.

FICA PEIXE...
A situação de Lula, o investigado, piorou tanto que ele pediu à PGR para manter seu depoimento de quinta (7) sob sigilo. Foi atendido.

RAZÃO DO SIGILO
De tão graves, as novas provas contra Lula, que incluiriam até vídeo, podem impactar na votação do impeachment de Dilma.

DILMA NA RODA
Em seu parecer, Janot sugere possível abertura de investigação contra a própria presidente Dilma, por crime de obstrução à Justiça.

SALVO-CONDUTO FAJUTO
Janot se convenceu de vez que o “termo de posse” enviado por Dilma a Lula era “salvo-conduto” contra eventual mandado do juiz Sérgio Moro.

INSEGURA NO CARGO, DILMA CANCELA VISITA À GRÉCIA

Sem saber se ainda será presidente, Dilma cancelou sua ida a Olímpia, na Grécia, para a cerimônia de “acendimento da tocha olímpica”, no dia 21. O Planalto nega o cancelamento, alegando que a viagem não foi confirmada, mas esta coluna apurou que viajou para Atenas o “escalão precursor”, assessores e seguranças que planejam a visita nos mínimos detalhes. Sem visita confirmada, não há escalão precursor.

BAIXOU O NÍVEL
O ministro dos Esportes, Ricardo Leyser, será o Brasil na cerimônia de Olímpia. Em diplomacia, chamam isso de “downgrade de missão”.

SEM GARANTIAS
Dilma também não sabe se vai receber a tocha, que chega a Brasília no início de maio, para “tour” de 100 dias antes do início dos Jogos.

SEMÂNTICA
O cerimonial prevê que Dilma desça a rampa do Planalto e receba a tocha, mas ela resiste. No fundo, porque não sabe se estará no cargo.

NA MOITA
Apesar de apoiar o impeachment de Dilma, o relator do processo na comissão e líder do PTB, Jovair Arantes (GO), recomendou que o presidente da Conab, indicado pelo seu partido, “fique caladinho”. A ideia do PTB é: “vai ver Dilma esquece e ele fica no cargo...”

STÉDILE SOB INVESTIGAÇÃO
A 5ª Câmara do Ministério Público analisará pagamentos do governo federal ao líder porralouca do MST, João Pedro Stédile. Esta coluna revelou que ele recebeu dinheiro público ao menos 24 vezes.

TIRO DE MISERICÓRDIA
“O Janot acabou de matar o governo”, afirma o deputado Danilo Fortes (PSB-CE), sobre a mudança de opinião do procurador Rodrigo Janot sobre a nomeação de Lula para a Casa Civil.

NÃO É BEM ASSIM
Líder do PMDB na Câmara, o deputado Leonardo Picciani nega que tenha oferecido apoio de 20 deputados contra o impeachment em troca de ministério. Mas não é o que afirmam pessoas próximas a ele.

NA REDE
Deputados favoráveis ao impeachment ganham apoio nas redes sociais. O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) ganhou 1000 novos seguidores por apoiar o impedimento de Dilma.

MOSTRANDO A CARA
O PT está incomodado com a ideia de divulgação de quem é contra o impeachment. Na Câmara, o líder do PT, Afonso Florence (PT), disse que divulgará os defensores do processo. Virou motivo de deboche.

OPERAÇÃO TULIPÃO
“Vamos derrotar a operação Tulipão”, afirma Carlos Marun (PMDB-MS), em referência ao bunker montado no hotel Royal Tulip pelo ex-presidente Lula para comprar apoio de deputados.

LOROTA DO GOVERNO
O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) ficou sem reação quando ruralistas mostraram dados sobre o plantio no país: só 8% das terras são usados para plantio. E Dilma não prioriza a reforma agrária.

PENSANDO BEM...
... feliz é Joaquim Levy, que escapou do navio afundando, está no bem-bom de Washington, e seu algoz e sucessor é quem vai pagar o pato.