FOLHA DE SP -30/01
BRASÍLIA - Coube a um lulista, Jaques Wagner, cunhar uma colorida e condescendente definição para a corrupção na era PT: não acostumada às benesses do poder, a "companheirada" havia se lambuzado.
O exemplo pode ter vindo do chefe. Após ter radares das mais graúdas investigações do país sobre si, Lula acaba a semana colecionando indícios de que se lambuzou no varejo.
A cereja foi revelada na sexta (29): a Odebrecht, empreiteira cujos milhões pagos a Lula após a Presidência são apurados, reformou segundo testemunhas ouvidas pela Folha um sítio usado por ele ainda no cargo.
Isso se soma ao imbróglio do já notório tríplex do Guarujá, investigado por ser suposto objeto de propina e lavagem de dinheiro, sobre o qual o casal Lula terá de depor.
Soa até venial perto da gravidade de outras suspeitas que batem no nome de Lula e no de sua família nas operações Lava Jato e Zelotes. Mas não é. Honestidade é um valor absoluto, apesar de o petista acreditar em gradações. Se comprovadas, as lambuzadas serão indeléveis, além de serem de fácil compreensão popular.
Com isso, o mito se esvai. Adaptando Sófocles, só o tempo revela o homem justo, mas bastam algumas reportagens para desnudar o pérfido. Lula tem obviamente o benefício da dúvida, mas, se não for inocente, corre o risco de ver seu séquito reduzido a variantes do agente Mulder, da rediviva série de TV "Arquivo X" e cujo lema é: "Eu quero acreditar".
Seria a pá de cal no que resta de futuro para o PT, destroçado por escândalos e pela má gestão –estão aí petrolão, mosquito e recessão para provar, assim como os paliativos respectivos ofertados por Dilma.
Pode, no limite, refluir a sigla de nicho, só trocando os universitários/sindicalistas/"intelectuais" de outrora por "hipsters" e suas agendas autoindulgentes. Na prática, além de tosca institucionalmente, a ação tucana pedindo a extinção do PT é inócua por sugerir algo já em curso.
FOLHA DE SP - 30/01
Num dia, a OAS. Em outro, a Odebrecht. Mais uma vez, surgem sinais comprometedores de que as relações entre grandes empreiteiras nacionais e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) extravasaram dos limites impostos pela ética republicana.
Primeiro, o apartamento no Guarujá. Agora, o sítio em Atibaia. Nos dois casos, um padrão se repete. Uma grande construtora, responsável por incontáveis obras contratadas pelo governo federal, realiza melhorias num imóvel que beneficiaria o ex-presidente.
No caso do tríplex na praia das Astúrias, um engenheiro calculou em R$ 777 mil o montante gasto pela OAS, no ano de 2014, em obras no apartamento, do qual a família de Lula tinha uma opção de compra –a qual só foi abandonada em 2015, diante da reação pública negativa ao negócio.
Reportagem publicada nesta sexta-feira (29) pela Folha traz relatos segundos os quais, ao final do segundo mandato do petista, a Odebrecht responsabilizou-se por despesas num sítio utilizado por ele e seus familiares.
A propriedade, dividida em duas partes, está registrada em nome de dois sócios de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente. A circunstância não atenua o incômodo em torno do caso; antes o agrava, quando se toma conhecimento dos cuidados que, conta-se, cercavam os contatos entre a Odebrecht e fornecedores locais.
Conforme declarações da proprietária de um depósito de materiais de construção à época das obras de benfeitoria, as notas fiscais do que era adquirido foram diluídas, a pedidos, em nome de outras empresas.
Os pagamentos, ela afirma, eram feitos em dinheiro vivo, transportado em proverbiais maletas e envelopes de papel pardo.
Engenheiro da Odebrecht, Frederico Barbosa admite ter dado "algum apoio" à reforma, enquanto estava em férias. Estranhamente, um dos principais nomes da empreiteira na construção da Arena Corinthians declara ter prestado esse "bico" a uma empresa cujo nome desconhece.
"Era uma empresa, cujo dono se chamava Carlos, eu não lembro do nome dele. Era uma empresa pequena, eu não me recordo qual era a razão social dela", diz.
Dadas as dimensões milionárias dos escândalos em curso nas operações Lava Jato e Zelotes, é até possível que, na cultura que predomina no relacionamento entre empreiteiras e os mais altos nomes do Executivo, benesses como essas sejam vistas mesmo como meros mimos, agrados, iniciativas de relações públicas.
Talvez essa seja a defesa mais plausível ao alcance de Lula.
ESTADÃO - 30/01
A política pode ter várias definições. Uma delas é a que a descreve como o exercício do poder para a resolução de conflitos no interesse de uma coletividade. Sem um fim, a política como conceito não se justifica. Como processo, serve para tudo, até para derrubar o poder constituído. Não é o caso abordado neste texto.
Voltando um passo atrás, o que se espera da política é que ela seja não somente a expressão de um ordenamento constitucional posto em vigor pela vontade da maioria do povo, mas também o instrumento para a resolução de crises, dos impasses que afligem uma dada sociedade. No caso, a nossa, a brasileira.
O Brasil, por sua pouca relevância geopolítica, foi poupado dos grandes conflitos mundiais. Em contrapartida, não deixamos de criar problemas para nós mesmos. A crise que nos assola não tem raízes externas, é um produto majoritariamente nacional. O conteúdo local de nossa crise ultrapassa os 90% do total. Nossas decisões nos levaram à presente situação, e isso está claro para todos. Mas poucos em Brasília querem aceitar tal realidade.
O tamanho da crise não deve ser medido pela intensidade das manchetes, e sim pela frieza dos números. Apresentamos hoje o maior desemprego em anos e também a maior população desocupada. Fechamos postos de trabalho em número igual ao que precisaríamos gerar. Ou seja: 1,5 milhão de trabalhadores perderam emprego e outro tanto não conseguiu se encaixar no mercado. Mais ou menos, isso quer dizer que começamos o ano com 3 milhões de desempregados a mais do que em 2014.
A inflação de 2015, medida pelo governo, ficou em 10,67%, a maior desde 2002. O prognóstico para 2016 é igualmente tenebroso, ainda que possa ficar abaixo dos índices de 2015. Em meados de janeiro o dólar batia inacreditáveis R$ 4,17, num país que tem mais de US$ 370 bilhões em reservas. O que significa que nossas reservas são insuficientes para dar tranquilidade ao mercado, aos investidores e à economia em geral.
Temos, obviamente, um grave déficit de credibilidade, o que é muito mais importante do que o déficit fiscal das contas públicas. Afinal, países como EUA, Japão e Itália, por exemplo, têm um déficit fiscal muito pior que o nosso. Mas contam com a confiança dos mercados e dos investidores. É aí que reside o nosso problema: credibilidade. O que fazer?
A solução está na política. A política salva e destrói os países. Impulsiona os destinos de uma nação para a glória ou para o buraco. Apenas, e tão somente, pela política conseguiremos desenhar saídas para a nossa crise. E em sendo assim, que fazer? O diagnóstico é simples, difícil é implementá-lo. É como o obeso que trava uma luta contra a balança: não lhe falta convicção, e sim energia para adotar medidas que contrariem o que sempre lhe foi caro na vida. É o nosso caso.
Examinando os blocos de poder no País, temos graves problemas. A sociedade civil está apática. Desaprova a situação política, mas não se envolve. Os políticos comprometidos na investigação da Operação Lava Jato jogam para salvar a própria pele. Nada mais. O governo opta por buscar resguardar seus interesses imediatos. O empresariado tampouco apresenta agendas nem se mobiliza. São respostas insuficientes para o momento. Na situação em que estamos, nem o governo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff começou nem a crise foi seriamente atacada. Na prática, a crise paralisa todos. Os rumos são dados pela crise, porém não num sentido que vise à saída.
E qual a saída? A política. A política deve presidir o momento. Não a política rasteira dos interesses pequenos, mas a política dos interesses nacionais, sempre esquecidos. A política, e somente ela, é capaz de reduzir o déficit de credibilidade que nos maltrata. Apenas com a sua recomposição sairemos desta crise. Depende de nós. Apenas de nós.
Como restabelecer a credibilidade perdida? Estabelecendo o diagnóstico do problema e das medidas a serem implementadas. Uma agenda mínima de salvação nacional deve ser posta acima dos interesses partidários e particulares. A presidente da República deve pedir apoio à oposição e construir a maioria para a nova plataforma. Deve, também, sacrificar os interesses de seu grupo político para salvar o País. É o que lhe resta.
Independentemente do debate sobre o impeachment, que vai e vem, governo e oposição devem acordar em torno de uma pauta que aponte em direção ao futuro. E o futuro exige maior credibilidade fiscal, controle da inflação, melhor ambiente para negócios, mais emprego e melhores serviços públicos. Qualquer governo que não se comprometa com essa agenda não serve para o País.
Uma saída eminentemente política pressupõe diálogo. Nunca este governo buscou o diálogo. Nem sequer dentro da própria base política. Agora, com Jaques Wagner à frente da Casa Civil, melhora o perfil e tenta-se um caminho. Mas o governo deve ousar mais. Reconhecer os fracassos e ter a humildade de ir atrás da reconstrução por meio de amplo diálogo. Soluções autônomas não funcionaram. O Brasil de hoje vive a ampla pluralidade no exercício do poder. O Executivo já não manda sozinho. O caminho é a boa política, que, em épocas de crise, deve ser, obviamente, plural.
Winston Churchill, quando chamado a liderar o Reino Unido contra os nazistas, em 1940, impôs a existência de uma coalizão multipartidária de apoio. Foi assim que o maior estadista do século passado liderou o mundo livre na 2.ª Guerra Mundial, juntamente com o americano Franklin Roosevelt. Considerando o tamanho de nossos problemas econômicos e sociais, o déficit de credibilidade fiscal e econômica e, ainda um quadro social agravado por epidemias de dengue e zika, enfrentamos um dos momentos mais graves em nossa História. Somente com grandeza e desprendimento poderemos superá-la.
O GLOBO - 30/01
Marcelo Odebrecht, então presidente da empreiteira, comentou com conhecidos, pouco antes de ser preso pela Operação Lava-Jato, a atuação de Leo Pinheiro, presidente da OAS, no sítio de Atibaia: “O que que tem o Léo ajudar o Lula naquele sítio dele? São amigos, não custa nada ajudar”.
Sabe-se agora, pela reportagem da Folha, que o comentário era, na verdade, uma defesa prévia, pois também a Odebrecht ajudou a reformar o sítio cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente.
E o cerne da questão é justamente esse, a complacência com que o público e o privado foram sendo misturados nesses anos petistas, em trocas de favores entre o estado brasileiro e empresas privadas, tipo “uma mão lava a outra”.
É verdade que esse sistema não foi inaugurado com o PT, mas foi esse partido que o institucionalizou, demonstrando uma capacidade insuspeitada de organização. Diz-se que o ex-presidente Fernando Henrique acreditava que Lula e o PT não teriam condições de governar o país em 2002, quando foi eleito pela primeira vez, e procurariam um acordo com o PSDB.
Ledo e ivo engano, como gosta de dizer o Cony. A capacidade de aparelhamento do estado revelada pelo PT nesses 13 anos de poder é impressionante, não deixando pedra sobre pedra da construção institucional que vinha sendo organizada depois do controle da hiperinflação.
É nesse contexto que se inserem as investigações sobre os possíveis bens ocultos do ex-presidente Lula, e suas palestras pelo mundo patrocinadas por diversas empreiteiras, todas envolvidas na Operação Lava-Jato. Seria uma resposta definitiva se Lula enviasse ao Ministério Público as gravações de todas as palestras que deu pelo mundo, provando que não há nada de ilícito na sua atividade.
O maior indício do temor de Lula é a prioridade de sua equipe de advogados de defesa: retirar do juiz Sérgio Moro a responsabilidade do processo, alegando que o tríplex do Guarujá nada tem a ver com a Operação da Lava-Jato. Só que tem.
A propriedade do hoje famoso tríplex de Guarujá é controvertida justamente pelas declarações do próprio Instituto Lula, que desde que uma reportagem do Globo de dezembro de 2014 denunciou que Lula recebera o tríplex com adendos incorporados ao projeto original pela OAS, inclusive um elevador privativo interno, já confirmou a propriedade de Lula e voltou atrás diversas vezes.
Seria simples convocar uma entrevista coletiva com os blogueiros oficiais e mostrar a eles documentos que provassem que o presidente, ou Dona Marisa, devolveram as cotas que dizem ter tido no Bancoop e receberam de volta da OAS o dinheiro aplicado.
Eles não fariam perguntas embaraçosas e a defesa estaria disponível na internet. Claro que é difícil explicar por que a OAS gastou mais de R$ 700 mil num apartamento avaliado em R$ 1,5 milhão e ainda devolveu dinheiro para o antigo proprietário. Ou por que um engenheiro importante da Odebrecht aproveitou suas férias para fazer de graça um trabalho no sítio de Atibaia sem saber direito para quem estava trabalhando e por que.
Mas nada de concreto é feito, só negativas vazias e ataques ao que seria uma “caçada” a Lula, que mereceria, por seu histórico, um tratamento “mais respeitoso”, de acordo com o ministro Jaques Wagner.
O contrário é que seria necessário, que Lula tivesse mais respeito com a população e desse explicações razoáveis sobre o tríplex do Guarujá e também sobre o sítio de Atibaia, que está em nome de sócios de um filho seu.
É inegável que a propriedade é usada por Lula e sua família como se fosse deles, pois até mesmo parte da sua mudança foi mandada para lá quando ele deixou o governo, em 2010. Há depoimentos diversos, nos dois imóveis, de gente que viu Lula e parentes usufruindo do local, orientando obras, e comprovação da participação de executivos e engenheiros das duas empreiteiras.
Ontem Lula admitiu que frequenta o sítio, que seria propriedade de amigos da família. E por que esse proprietário, Fernando Bittar, que é sócio de um filho de Lula e filho de um líder petista, não vem a público revelar que tem muito prazer em que Lula use seu sítio como se fosse seu? E que gostou muito que a Odebrecht tivesse feito reformas de graça na sua propriedade para dar mais conforto a Lula. Ou que prove que pagou pelas reformas. O outro sócio, Jonas Suassuna, já tirou o corpo fora dizendo sua parte no sítio não tem nada a ver com a que Lula frequenta.