FOLHA DE SP - 04/01
Vivemos na era do marketing. Hoje, vou apresentar para você um novo conceito, o conceito de "marketing existencial".
Marketing como paradigma se coloca ao lado daqueles que, desde a Grécia, como os sofistas, defendiam, contra Platão, que "ser é parecer ser". Portanto, toda nossa conversa hoje pressupõe que você entendeu que em momento algum estamos discutindo "o ser em si" das coisas, mas o modo como elas "parecem ser" no mundo de pessoas em busca de sentido.
Aqui, mesmo a busca da metafísica é uma busca por um bem que faça bem ao "eu" consumidor.
Em breve as ciências humanas trabalharão a maior parte do tempo para o marketing -afora as igrejinhas nos departamentos de ciências humanas por aí. Isso porque a relação do sujeito com o mundo está, a cada dia, mais "commoditizada". Até Jesus é uma commodity.
A principal commodity no marketing existencial é o "si mesmo pleno de si". Daí "existencial" no nome.
O conceito de "existência" nasce com o pensador dinamarquês Soren Kierkegaard, no século 19, pai da filosofia mais tarde conhecida como existencialismo.
A "assinatura" do existencialismo é "a existência precede a essência", ou seja, antes de termos algum significado que nos defina e oriente, somos um "existente jogado no mundo", como pedras, árvores e animais. A diferença é que nós temos consciência, e aí vamos em busca da essência.
Kierkegaard dizia que isso nos faz descobrir que somos "feitos" de angústia. Angústia pelo infinito de possibilidades de um ser que é "apenas" um existente.
Não é longe dessa ideia que Sartre, já no século 20, dirá que somos "condenados à liberdade": pouco importa o que façamos porque tudo tem zero de significado em si.
Vivemos num mundo de existentes em busca de sua "essência", pautados pela lógica do mercado de bens invisíveis.
Vou usar a palavra "existente" pra ficar no domínio do termo, mas você pode trocar por "pessoa" ou "indivíduo" que tá valendo.
Como exemplo de bens invisíveis podemos dar liberdade, autonomia, saúde/bem estar, autoestima, gozo, sentido, ousadia, experiência. Todos podem ser resumidos no conceito de comportamento.
A consequência é que o marketing (acima da política, essa "arte velha") já percebeu que fazemos qualquer negócio (mesmo os que mentem) pra aliviar o vazio desse "existente abandonado no mundo".
O marketing existencial é uma ferramenta, não um conteúdo. O conteúdo pode ser "profundo" como um retiro espiritual no Tibete ou superficial e brega como Orlando.
Pode ser ágil como uma bike num parque ou lento e "coletivo" como escolher o ônibus como opção "existencial". Pode ser barulhento como uma igreja pentecostal ou silencioso como um mosteiro no Monte Athos na Grécia. No foco, o "si mesmo" em busca de sentido.
Algo de muito interessante nesse universo é que a oposição não é entre "profundo" e "superficial", mas entre bens de sentido de luxo e de massa. No mundo do marketing existencial, um consumidor sofisticado é aquele que tende ao invisível, enquanto o consumidor banal é aquele que busca, babando, a visibilidade.
Por isso, em nosso mundo dos conectados, nada mais banal do que defender a conexão, nada mais elegante do que desprezá-la. Quem despreza as redes sociais passa um atestado de consistência existencial porque não "precisa de ninguém".
Comportamento de luxo só é visível pela ação, e não pela ostentação. Muito mais elegante para um existente é parecer dono do seu tempo e andar sem "roupa chique" no shopping do que sonhar em ser Prada quando a alma é da rua 25 de Março.
Felicidade é, evidentemente, um bem invisível, mas relacioná-la a uma mala cheia vinda de Miami caracteriza um existente pobre de espírito. Existente de luxo não compra nada.
Claro, porque ele tem quase tudo ou porque tem uma experiência de auto-significado tão potente que comprar soa coisa "para os fracos".
O marketing existencial de luxo é a "commoditização" definitiva do romantismo e seu desprezo pela modernidade burguesa e mercantilista. Os filósofos definitivos para esse consumidor de luxo são Spinoza e Nietzsche.
segunda-feira, janeiro 04, 2016
A esquerda e o ajuste econômico - CELSO ROCHA DE BARROS
FOLHA DE SP - 04/01
Dirigentes do PT e da CUT têm feito declarações contrárias ao ajuste econômico. Não acho que isso vá afetar as atitudes do governo, que não tem alternativa a não ser fazer o ajuste. Mas não é um bom sinal para o futuro da esquerda brasileira.
O PT tem sido mais tímido nas críticas, como era de se esperar (afinal, o governo é dele): ateve-se mais a condenações genéricas, ofereceu algumas poucas propostas alternativas. Vai acabar tendo que apoiar seu próprio governo, mesmo que sem autocríticas explícitas. Qual seria a alternativa? Ir para a oposição? Inflar patos?
A CUT é bem mais incisiva, como também seria de se esperar: ainda não há no horizonte um desafiante forte para o PT na esquerda partidária, mas nos movimentos sociais há tendências de esquerda que contestam a CUT, ou que contestam a direção atual dentro da CUT. A situação dos sindicalistas é mais difícil.
Não me cabe ensinar ninguém ali a fazer seu trabalho, mas é preciso notar que a dificuldade de trazer o PT e a CUT para o ajuste é uma demonstração de fraqueza da esquerda brasileira. Um movimento forte avança e recua organizadamente.
Os desafios são grandes. O PT deu a sorte de só ganhar a Presidência quando a situação econômica mundial se tornou favorável ao Brasil. Com dinheiro, o governo Lula foi capaz de adiar uma discussão chave da esquerda democrática brasileira: como conciliar a defesa dos direitos já adquiridos pelos trabalhadores mais organizados (urbanos, sindicalizados, empregados em atividades mais modernas, funcionários públicos com estabilidade) com a tarefa de levar mais direitos aos excluídos.
Um lado da tarefa é como conseguir dinheiro para fazer tudo isso. Outro lado é o que fazer quando não se tem dinheiro.
A solução de sonhos para os sindicatos é acelerar a modernização econômica até que o Brasil se transforme em um grande ABC de 1979, uma sociedade de trabalhadores formalizados e sindicalizados.
Mas nem o ABC é mais o ABC de 1979. Somos um caso do que o economista Dani Rodrik chamou de "desindustrialização prematura": após uma rápida industrialização, a importância da indústria para a economia brasileira decresceu, e isso antes que o país tivesse se tornado uma sociedade inteiramente moderna.
Uma das maneiras de ler a Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff é justamente como uma tentativa de promover uma reindustrialização a todo custo. Ela incluiria mais gente no setor organizado e sustentaria uma nova expansão do gasto social (que aconteceu, mesmo com o fracasso econômico). Assim, seriam evitados dilemas como, por exemplo, reformar a Previdência ou oferecer saneamento básico aos mais pobres.
Como vocês devem ter percebido, deu errado. E custou tão caro que o ajuste agora precisa ser maior do que teria sido em 2012 ou 2013. As escolhas agora precisam ser feitas.
Cada movimento social fará o que lhe parecer de seu interesse. Mas a função do partido e da discussão de ideias no campo progressista deveria ser evitar que isso se torne um movimento centrífugo. No momento, não está funcionando. Sou mais otimista do que a média no que se refere ao país e até mesmo ao governo Dilma; e não acho que haverá impeachment. Mas as perspectivas da esquerda me preocupam muito.
Dirigentes do PT e da CUT têm feito declarações contrárias ao ajuste econômico. Não acho que isso vá afetar as atitudes do governo, que não tem alternativa a não ser fazer o ajuste. Mas não é um bom sinal para o futuro da esquerda brasileira.
O PT tem sido mais tímido nas críticas, como era de se esperar (afinal, o governo é dele): ateve-se mais a condenações genéricas, ofereceu algumas poucas propostas alternativas. Vai acabar tendo que apoiar seu próprio governo, mesmo que sem autocríticas explícitas. Qual seria a alternativa? Ir para a oposição? Inflar patos?
A CUT é bem mais incisiva, como também seria de se esperar: ainda não há no horizonte um desafiante forte para o PT na esquerda partidária, mas nos movimentos sociais há tendências de esquerda que contestam a CUT, ou que contestam a direção atual dentro da CUT. A situação dos sindicalistas é mais difícil.
Não me cabe ensinar ninguém ali a fazer seu trabalho, mas é preciso notar que a dificuldade de trazer o PT e a CUT para o ajuste é uma demonstração de fraqueza da esquerda brasileira. Um movimento forte avança e recua organizadamente.
Os desafios são grandes. O PT deu a sorte de só ganhar a Presidência quando a situação econômica mundial se tornou favorável ao Brasil. Com dinheiro, o governo Lula foi capaz de adiar uma discussão chave da esquerda democrática brasileira: como conciliar a defesa dos direitos já adquiridos pelos trabalhadores mais organizados (urbanos, sindicalizados, empregados em atividades mais modernas, funcionários públicos com estabilidade) com a tarefa de levar mais direitos aos excluídos.
Um lado da tarefa é como conseguir dinheiro para fazer tudo isso. Outro lado é o que fazer quando não se tem dinheiro.
A solução de sonhos para os sindicatos é acelerar a modernização econômica até que o Brasil se transforme em um grande ABC de 1979, uma sociedade de trabalhadores formalizados e sindicalizados.
Mas nem o ABC é mais o ABC de 1979. Somos um caso do que o economista Dani Rodrik chamou de "desindustrialização prematura": após uma rápida industrialização, a importância da indústria para a economia brasileira decresceu, e isso antes que o país tivesse se tornado uma sociedade inteiramente moderna.
Uma das maneiras de ler a Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff é justamente como uma tentativa de promover uma reindustrialização a todo custo. Ela incluiria mais gente no setor organizado e sustentaria uma nova expansão do gasto social (que aconteceu, mesmo com o fracasso econômico). Assim, seriam evitados dilemas como, por exemplo, reformar a Previdência ou oferecer saneamento básico aos mais pobres.
Como vocês devem ter percebido, deu errado. E custou tão caro que o ajuste agora precisa ser maior do que teria sido em 2012 ou 2013. As escolhas agora precisam ser feitas.
Cada movimento social fará o que lhe parecer de seu interesse. Mas a função do partido e da discussão de ideias no campo progressista deveria ser evitar que isso se torne um movimento centrífugo. No momento, não está funcionando. Sou mais otimista do que a média no que se refere ao país e até mesmo ao governo Dilma; e não acho que haverá impeachment. Mas as perspectivas da esquerda me preocupam muito.
Melado azedo - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 04/01
BRASÍLIA - Jaques Wagner é visto como um dos petistas mais abertos ao diálogo e confiáveis dentro do PT até pela oposição, que chega a dizer que, se ele tivesse virado chefe da Casa Civil desde o início do governo, a presidente Dilma Rousseff estaria hoje em melhor situação.
Suas avaliações, por vezes, causam desconforto entre seus pares por serem realistas e não fugirem do assunto. Foi assim ao dizer que o PT errou ao adotar métodos antigos da política ao analisar os efeitos da Operação Lava Jato sobre a sigla.
Chegou a afirmar que sua legenda acabou como naquela velha história: "Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza".
Tal frase, em especial, não deve ter agradado nem um pouco os petistas, mas deveria servir de reflexão se eles querem reerguer a sigla que chegou ao poder como a mais identificada com a luta contra a corrupção. Hoje, está bem enrolada no escândalo do petrolão.
O fato é que a cúpula petista teima em negar o que se tornou público. Seria bem melhor fazer um mea culpa e consertar os estragos causados pelo desvio de caminho.
Justo reconhecer que a postura avestruz do PT em nada difere da de outras legendas, mais bem treinadas no quesito negociatas como bem disse Wagner. Mas aí estaria o diferencial que o partido mostraria ao país, fazendo jus à sua origem.
O ministro diz que o erro original do PT foi não ter batalhado pela reforma política tão logo conquistou o poder. Tinha, ali, capital político para mudar a estrutura política brasileira. Hoje, não tem mais.
O que dificulta uma reforma política e reforça, como lembra Jaques Wagner, a profecia de Ulysses Guimarães. Se você reclama do atual Congresso, espere o próximo, ele será pior. Nada mais verdadeiro.
Hoje, os presidentes das duas Casas estão sob investigação. Deputados trocam tapas e tentam destruir cabines de votação no plenário. Se o próximo for pior, socorro!!!
BRASÍLIA - Jaques Wagner é visto como um dos petistas mais abertos ao diálogo e confiáveis dentro do PT até pela oposição, que chega a dizer que, se ele tivesse virado chefe da Casa Civil desde o início do governo, a presidente Dilma Rousseff estaria hoje em melhor situação.
Suas avaliações, por vezes, causam desconforto entre seus pares por serem realistas e não fugirem do assunto. Foi assim ao dizer que o PT errou ao adotar métodos antigos da política ao analisar os efeitos da Operação Lava Jato sobre a sigla.
Chegou a afirmar que sua legenda acabou como naquela velha história: "Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza".
Tal frase, em especial, não deve ter agradado nem um pouco os petistas, mas deveria servir de reflexão se eles querem reerguer a sigla que chegou ao poder como a mais identificada com a luta contra a corrupção. Hoje, está bem enrolada no escândalo do petrolão.
O fato é que a cúpula petista teima em negar o que se tornou público. Seria bem melhor fazer um mea culpa e consertar os estragos causados pelo desvio de caminho.
Justo reconhecer que a postura avestruz do PT em nada difere da de outras legendas, mais bem treinadas no quesito negociatas como bem disse Wagner. Mas aí estaria o diferencial que o partido mostraria ao país, fazendo jus à sua origem.
O ministro diz que o erro original do PT foi não ter batalhado pela reforma política tão logo conquistou o poder. Tinha, ali, capital político para mudar a estrutura política brasileira. Hoje, não tem mais.
O que dificulta uma reforma política e reforça, como lembra Jaques Wagner, a profecia de Ulysses Guimarães. Se você reclama do atual Congresso, espere o próximo, ele será pior. Nada mais verdadeiro.
Hoje, os presidentes das duas Casas estão sob investigação. Deputados trocam tapas e tentam destruir cabines de votação no plenário. Se o próximo for pior, socorro!!!
Uma mãe para os ricos - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 04/01
SÃO PAULO - O Tesouro Nacional está tomando dinheiro na praça com a promessa firme de pagar juros fabulosos, e por períodos longos, aos emprestadores.
Que tal quase duas décadas com remuneração de 6% ao ano acima da inflação, já abatidos impostos e taxas? O patrimônio real vai triplicar. Quem emprestar R$ 1 milhão ao governo terá de volta, ao final do período, seu dinheiro corrigido pelo IPCA e mais R$ 100 mil por ano, em média.
O Tesouro de Mamãe Rousseff fecha esse negócio da China, ou do Brasil, todos os dias. Não o faz por boniteza, mas por necessidade, derivada da voraz expansão estatal nos últimos seis anos.
Mamãe, entretanto, é apenas intermediária passageira nessa relação perpétua entre devedores e credores. Os empréstimos constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores.
Se em menos de 20 anos o patrimônio de felizardos credores da dívida pública poderá triplicar, a produção nacional vai levar quase 40 anos para multiplicar-se por três, sob a hipótese bastante otimista de que o PIB cresça 3% na média anual.
Não é difícil antever os efeitos sociais, econômicos e políticos desse descompasso: concentração da renda, freio na produtividade, exacerbação do conflito tributário e orçamentário, além da deterioração dos serviços prestados pelo governo.
A política da gastança produziu uma sociedade tendencialmente desigual e belicosa. A gestão Rousseff, mais isolada após a queda de Joaquim Levy, dificilmente mudará o curso do transatlântico. A opção remanescente é reduzir a marcha e retardar ao máximo o momento do impacto.
Resta torcer pelo bônus pedagógico. Talvez o trauma fique gravado na memória das instituições e dos cidadãos. Gastar com prudência o dinheiro da sociedade é um princípio progressista de governo.
SÃO PAULO - O Tesouro Nacional está tomando dinheiro na praça com a promessa firme de pagar juros fabulosos, e por períodos longos, aos emprestadores.
Que tal quase duas décadas com remuneração de 6% ao ano acima da inflação, já abatidos impostos e taxas? O patrimônio real vai triplicar. Quem emprestar R$ 1 milhão ao governo terá de volta, ao final do período, seu dinheiro corrigido pelo IPCA e mais R$ 100 mil por ano, em média.
O Tesouro de Mamãe Rousseff fecha esse negócio da China, ou do Brasil, todos os dias. Não o faz por boniteza, mas por necessidade, derivada da voraz expansão estatal nos últimos seis anos.
Mamãe, entretanto, é apenas intermediária passageira nessa relação perpétua entre devedores e credores. Os empréstimos constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores.
Se em menos de 20 anos o patrimônio de felizardos credores da dívida pública poderá triplicar, a produção nacional vai levar quase 40 anos para multiplicar-se por três, sob a hipótese bastante otimista de que o PIB cresça 3% na média anual.
Não é difícil antever os efeitos sociais, econômicos e políticos desse descompasso: concentração da renda, freio na produtividade, exacerbação do conflito tributário e orçamentário, além da deterioração dos serviços prestados pelo governo.
A política da gastança produziu uma sociedade tendencialmente desigual e belicosa. A gestão Rousseff, mais isolada após a queda de Joaquim Levy, dificilmente mudará o curso do transatlântico. A opção remanescente é reduzir a marcha e retardar ao máximo o momento do impacto.
Resta torcer pelo bônus pedagógico. Talvez o trauma fique gravado na memória das instituições e dos cidadãos. Gastar com prudência o dinheiro da sociedade é um princípio progressista de governo.
Ano Novo - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 04/01
Em tempos difíceis, o cultivo da esperança implica renovar o nosso estoque de confiança na humanidade. É preciso acreditar que podemos fazer melhor do que já fizemos. Essa é uma boa forma de começar o ano novo.
O ano que passou foi dramático, no mundo e no Brasil. A imagem do menino sírio inerte nas areias da praia turca escancarou a tragédia dos refugiados do Mediterrâneo –e estamos longe de equacionar este drama. Já são mais de 60 milhões os refugiados e deslocados no planeta em função de conflitos étnicos, tribais e políticos.
Não há como não se comover com o retrato de nossa impotência em conter os desmandos e a intolerância que tornam insuportável a vida para boa parte da população mundial. Mas a comoção não basta. Da mesma forma, quando extremistas fanáticos perpetram atos abomináveis de violência, seja na Síria, na Nigéria ou na França, somos conclamados a agir.
Agir significa cuidar do que está ao nosso redor. Dizer não ao radicalismo e à barbárie implica compromisso com a vida, a dignidade, a justiça. Ao longo de 2015, vivemos episódios lamentáveis no Brasil, como a tragédia ambiental de Mariana, a maior de nossa história, e o massacre rotineiro de nossos jovens, como o assassinato de cinco inocentes fuzilados numa triste noite brasileira.
Encerramos o ano imersos no fracasso econômico, fruto de uma gestão política temerária e equivocada. Demos vexame em crescimento, empregos, inflação e equilíbrio fiscal, a ponto de sermos rebaixados e perder o título de bons pagadores.
Sofremos, agora, com uma epidemia de microcefalia que promete ser uma das maiores crises da história da saúde pública no país.
No entanto, as ruas mobilizadas de paixão e vontade, de um lado, e a solidez de nossas instituições, de outro, são indicadores de que nem tudo está perdido.
Mesmo o mundo nos deu boas novas, como o reatamento das relações entre EUA e Cuba e as eleições na Argentina e Venezuela, que sinalizam um distanciamento das ideologias populistas que acabam prejudicando justamente aqueles em cujo nome dizem agir. Há pouco tempo, a Conferência Mundial do Clima terminou com um acordo histórico. São sinais que devem nos animar.
A decisão recente do papa Francisco de canonizar Madre Teresa de Calcutá, Nobel da Paz em 1979 e símbolo maior da caridade e da dedicação desmedida aos esquecidos do mundo, nos enche de esperança nestes dias propícios à reflexão.
Sim, podemos fazer mais. Escassas, as boas notícias devem ser construídas com obstinação, coragem, generosidade. Façamos o bem e o certo. Com gestos e atitudes. Com escolhas. Sempre em direção a uma sociedade mais justa e solidária. A um futuro melhor.
Teremos o 2016 que soubermos construir.
Em tempos difíceis, o cultivo da esperança implica renovar o nosso estoque de confiança na humanidade. É preciso acreditar que podemos fazer melhor do que já fizemos. Essa é uma boa forma de começar o ano novo.
O ano que passou foi dramático, no mundo e no Brasil. A imagem do menino sírio inerte nas areias da praia turca escancarou a tragédia dos refugiados do Mediterrâneo –e estamos longe de equacionar este drama. Já são mais de 60 milhões os refugiados e deslocados no planeta em função de conflitos étnicos, tribais e políticos.
Não há como não se comover com o retrato de nossa impotência em conter os desmandos e a intolerância que tornam insuportável a vida para boa parte da população mundial. Mas a comoção não basta. Da mesma forma, quando extremistas fanáticos perpetram atos abomináveis de violência, seja na Síria, na Nigéria ou na França, somos conclamados a agir.
Agir significa cuidar do que está ao nosso redor. Dizer não ao radicalismo e à barbárie implica compromisso com a vida, a dignidade, a justiça. Ao longo de 2015, vivemos episódios lamentáveis no Brasil, como a tragédia ambiental de Mariana, a maior de nossa história, e o massacre rotineiro de nossos jovens, como o assassinato de cinco inocentes fuzilados numa triste noite brasileira.
Encerramos o ano imersos no fracasso econômico, fruto de uma gestão política temerária e equivocada. Demos vexame em crescimento, empregos, inflação e equilíbrio fiscal, a ponto de sermos rebaixados e perder o título de bons pagadores.
Sofremos, agora, com uma epidemia de microcefalia que promete ser uma das maiores crises da história da saúde pública no país.
No entanto, as ruas mobilizadas de paixão e vontade, de um lado, e a solidez de nossas instituições, de outro, são indicadores de que nem tudo está perdido.
Mesmo o mundo nos deu boas novas, como o reatamento das relações entre EUA e Cuba e as eleições na Argentina e Venezuela, que sinalizam um distanciamento das ideologias populistas que acabam prejudicando justamente aqueles em cujo nome dizem agir. Há pouco tempo, a Conferência Mundial do Clima terminou com um acordo histórico. São sinais que devem nos animar.
A decisão recente do papa Francisco de canonizar Madre Teresa de Calcutá, Nobel da Paz em 1979 e símbolo maior da caridade e da dedicação desmedida aos esquecidos do mundo, nos enche de esperança nestes dias propícios à reflexão.
Sim, podemos fazer mais. Escassas, as boas notícias devem ser construídas com obstinação, coragem, generosidade. Façamos o bem e o certo. Com gestos e atitudes. Com escolhas. Sempre em direção a uma sociedade mais justa e solidária. A um futuro melhor.
Teremos o 2016 que soubermos construir.
O Banco Central vai errar - LUÍS EDUARDO ASSIS
ESTADÃO - 04/01
Mais juros agora significam mais recessão, queda da arrecadação, aumento do déficit e da dívida
Já faz tempo que o Banco Central (Bacen) acredita que o mercado financeiro é bicho arisco, não pode ser assustado. Melhor evitar surpresas. É por essa razão que a autoridade monetária tem enviado sinais de fumaça com a mensagem de que elevará mais uma vez a taxa Selic, no dia 20 de janeiro. Será a 17.ª elevação desde que o ciclo de alta começou, em abril de 2013. Nesse período, a taxa básica terá mais do que dobrado, saindo de 7,25% para prováveis 14,75% agora em janeiro.
O mesmo Bacen que foi leniente com a inflação em 2012 e 2013, permitindo juros reais líquidos negativos, agora reage com sádica fúria.
Podem-se levantar três motivos para subir juros em meio a uma recessão de proporções épicas.
O Bacen poderia argumentar, por exemplo, que foi surpreendido pelo aumento da inflação e ficou para trás. Com efeito, se compararmos a taxa Selic de 2015 com a variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo(IPCA), teremos juros reais de aproximadamente 2,7%.
Como pagamos Imposto de Renda sobre ganhos nominais (ou seja, sobre a própria inflação), os ganhos líquidos reais em 2015 foram praticamente nulos, o que foi registrado apenas na experiência heterodoxa de 2012-2013, quando a autoridade monetária embarcou na tese furada de que os juros poderiam ser baixados na marra. Na média dos últimos 20 anos, a diferença entre a taxa anual Selic e a inflação foi de estonteantes 9,9 pontos porcentuais. Mas, apesar de tudo, o ano de 2015 acabou não sendo tão bom para os rentistas.
O segundo argumento para uma nova subida de juros é apontar o dedo para a mediocridade da política fiscal. Dado que pouco foi feito e o resultado fiscal de 2015 é pífio, diria o Bacen, sobrou para nós e a única coisa que podemos fazer é elevar os juros. Se o País não conseguiu por bem um acordo que levasse a um ajuste das contas públicas, agora terá de se haver com a autoridade monetária e aprenderá por mal. Bem feito.
Por fim, é ainda possível alegar que a recessão de 2015, a pior dos últimos 25 anos, não foi suficiente para vergar a inflação dos preços livres, que continua rodando a taxas superiores a 8% ao ano. São necessários mais juros para contrair a demanda e jogar a inflação para baixo. Vocês vão ver só.
Nada disso faz sentido.
O argumento dos juros reais baixos busca justificar o manejo da política monetária olhando no espelho retrovisor. Se olharmos para a frente, o quadro é outro. Ao comparar a inflação esperada para os próximos 12 meses com as taxas de juros prefixadas para esse mesmo período, o que vemos é que os juros reais podem superar 8% ao ano. Claro que há risco de a inflação superar as expectativas, mas este porcentual é o maior desde novembro de 2008. A diferença entre juros reais ex post (IPCA acumulado contra Selic) e juros reais ex ante (inflação esperada contra juros prefixados) está hoje em torno de 5,7 pontos porcentuais, uma das maiores desde 2003. Em outras palavras, o mercado já fez o que o Banco Central quer fazer. Os juros já subiram e a expectativa de inflação já caiu.
O argumento da insuficiência da política fiscal, por sua vez, também merece ser qualificado. É tentador acreditar que política monetária e a fiscal são intercambiáveis em toda a sua extensão. Na falta de uma, é preciso mais da outra. Mas não é assim tão simples. Em texto de 2004 - Fiscal Dominance and Inflation Targeting: Lessons From Brazil (NBER) -, o economista Olivier Blanchard defende a atitude do Banco Central brasileiro quando este deixou de elevar as taxas em 2002, a despeito do aumento da inflação. O argumento é que uma alta de juros naquela altura poderia elevar a percepção de risco de insolvência, causando depreciação ainda maior da moeda e, consequentemente, mais inflação. Não é tão diferente a situação atual.
As agências de risco mantêm um carinho especial pela trajetória da relação dívida/PIB. Ao elevar a despesa financeira (e, portanto, a dívida), um aumento dos juros deteriora essa relação e aumenta a percepção de risco, o que pressiona o câmbio e - bingo! - eleva a inflação. Juntando as pontas: o efeito pode ser contrário ao que se deseja. O economista-chefe da Standard & Poor’s, em artigo recente - Desequilíbrios da economia pedem medidas inovadoras (jornal Valor Econômico, 28/12) -, sublinha a importância do custo financeiro para a dinâmica da dívida e adverte que com um déficit nominal tão alto (9% do PIB) “o superávit primário necessário para que a dívida não cresça é de 4% do PIB, que é um nível tão alto que não é crível que o governo (...) consiga atingi-lo”.
Finalmente, o argumento de que é preciso mais contração da demanda para refrear os preços livres é tão equivocado quanto cruel. Tivemos em 2015 um ajuste de preços relativos de proporção inédita. Tanto o dólar como a energia elétrica, ambos cruciais na formação de preços, fecharam o ano com uma alta em torno de 50%. A inflação só não aumentou mais porque a recessão foi avassaladora. Com nova contração do PIB já contratada para 2016 e sem outros ajustes dessa magnitude, é mais do que provável que os preços livres subam menos daqui para a frente. Não precisamos aprofundar a recessão.
Ganharíamos todos se o Banco Central chamasse a si a responsabilidade de liderar o debate sobre a ineficácia da política monetária e propusesse medidas estruturais que tornassem desnecessária a manutenção de juros altos por tanto tempo. Ao restringir a sua atuação a apertar o botão dos juros altos, a autoridade monetária se equivoca, lava as mãos e deixa de colaborar como poderia com sua competência técnica.
Mais juros agora significam mais recessão, queda da arrecadação, aumento do déficit e da dívida.
ECONOMISTA, LUÍS EDUARDO ASSIS FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL E PROFESSOR DA PUC-SP E DA FGV-SP
Mais juros agora significam mais recessão, queda da arrecadação, aumento do déficit e da dívida
Já faz tempo que o Banco Central (Bacen) acredita que o mercado financeiro é bicho arisco, não pode ser assustado. Melhor evitar surpresas. É por essa razão que a autoridade monetária tem enviado sinais de fumaça com a mensagem de que elevará mais uma vez a taxa Selic, no dia 20 de janeiro. Será a 17.ª elevação desde que o ciclo de alta começou, em abril de 2013. Nesse período, a taxa básica terá mais do que dobrado, saindo de 7,25% para prováveis 14,75% agora em janeiro.
O mesmo Bacen que foi leniente com a inflação em 2012 e 2013, permitindo juros reais líquidos negativos, agora reage com sádica fúria.
Podem-se levantar três motivos para subir juros em meio a uma recessão de proporções épicas.
O Bacen poderia argumentar, por exemplo, que foi surpreendido pelo aumento da inflação e ficou para trás. Com efeito, se compararmos a taxa Selic de 2015 com a variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo(IPCA), teremos juros reais de aproximadamente 2,7%.
Como pagamos Imposto de Renda sobre ganhos nominais (ou seja, sobre a própria inflação), os ganhos líquidos reais em 2015 foram praticamente nulos, o que foi registrado apenas na experiência heterodoxa de 2012-2013, quando a autoridade monetária embarcou na tese furada de que os juros poderiam ser baixados na marra. Na média dos últimos 20 anos, a diferença entre a taxa anual Selic e a inflação foi de estonteantes 9,9 pontos porcentuais. Mas, apesar de tudo, o ano de 2015 acabou não sendo tão bom para os rentistas.
O segundo argumento para uma nova subida de juros é apontar o dedo para a mediocridade da política fiscal. Dado que pouco foi feito e o resultado fiscal de 2015 é pífio, diria o Bacen, sobrou para nós e a única coisa que podemos fazer é elevar os juros. Se o País não conseguiu por bem um acordo que levasse a um ajuste das contas públicas, agora terá de se haver com a autoridade monetária e aprenderá por mal. Bem feito.
Por fim, é ainda possível alegar que a recessão de 2015, a pior dos últimos 25 anos, não foi suficiente para vergar a inflação dos preços livres, que continua rodando a taxas superiores a 8% ao ano. São necessários mais juros para contrair a demanda e jogar a inflação para baixo. Vocês vão ver só.
Nada disso faz sentido.
O argumento dos juros reais baixos busca justificar o manejo da política monetária olhando no espelho retrovisor. Se olharmos para a frente, o quadro é outro. Ao comparar a inflação esperada para os próximos 12 meses com as taxas de juros prefixadas para esse mesmo período, o que vemos é que os juros reais podem superar 8% ao ano. Claro que há risco de a inflação superar as expectativas, mas este porcentual é o maior desde novembro de 2008. A diferença entre juros reais ex post (IPCA acumulado contra Selic) e juros reais ex ante (inflação esperada contra juros prefixados) está hoje em torno de 5,7 pontos porcentuais, uma das maiores desde 2003. Em outras palavras, o mercado já fez o que o Banco Central quer fazer. Os juros já subiram e a expectativa de inflação já caiu.
O argumento da insuficiência da política fiscal, por sua vez, também merece ser qualificado. É tentador acreditar que política monetária e a fiscal são intercambiáveis em toda a sua extensão. Na falta de uma, é preciso mais da outra. Mas não é assim tão simples. Em texto de 2004 - Fiscal Dominance and Inflation Targeting: Lessons From Brazil (NBER) -, o economista Olivier Blanchard defende a atitude do Banco Central brasileiro quando este deixou de elevar as taxas em 2002, a despeito do aumento da inflação. O argumento é que uma alta de juros naquela altura poderia elevar a percepção de risco de insolvência, causando depreciação ainda maior da moeda e, consequentemente, mais inflação. Não é tão diferente a situação atual.
As agências de risco mantêm um carinho especial pela trajetória da relação dívida/PIB. Ao elevar a despesa financeira (e, portanto, a dívida), um aumento dos juros deteriora essa relação e aumenta a percepção de risco, o que pressiona o câmbio e - bingo! - eleva a inflação. Juntando as pontas: o efeito pode ser contrário ao que se deseja. O economista-chefe da Standard & Poor’s, em artigo recente - Desequilíbrios da economia pedem medidas inovadoras (jornal Valor Econômico, 28/12) -, sublinha a importância do custo financeiro para a dinâmica da dívida e adverte que com um déficit nominal tão alto (9% do PIB) “o superávit primário necessário para que a dívida não cresça é de 4% do PIB, que é um nível tão alto que não é crível que o governo (...) consiga atingi-lo”.
Finalmente, o argumento de que é preciso mais contração da demanda para refrear os preços livres é tão equivocado quanto cruel. Tivemos em 2015 um ajuste de preços relativos de proporção inédita. Tanto o dólar como a energia elétrica, ambos cruciais na formação de preços, fecharam o ano com uma alta em torno de 50%. A inflação só não aumentou mais porque a recessão foi avassaladora. Com nova contração do PIB já contratada para 2016 e sem outros ajustes dessa magnitude, é mais do que provável que os preços livres subam menos daqui para a frente. Não precisamos aprofundar a recessão.
Ganharíamos todos se o Banco Central chamasse a si a responsabilidade de liderar o debate sobre a ineficácia da política monetária e propusesse medidas estruturais que tornassem desnecessária a manutenção de juros altos por tanto tempo. Ao restringir a sua atuação a apertar o botão dos juros altos, a autoridade monetária se equivoca, lava as mãos e deixa de colaborar como poderia com sua competência técnica.
Mais juros agora significam mais recessão, queda da arrecadação, aumento do déficit e da dívida.
ECONOMISTA, LUÍS EDUARDO ASSIS FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL E PROFESSOR DA PUC-SP E DA FGV-SP
Sujeito oculto - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO 04/01
Na gramática do governo petista, o responsável pela imensa crise atual é oculto por elipse. A presidente Dilma Rousseff cometeu erros primários, mas nem ela nem seus auxiliares são capazes de vir a público e assumir, em primeira pessoa, a autoria do desastre que se revela a cada novo balanço da economia. Tome-se, por exemplo, uma recente entrevista do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, na qual ele admitiu os “erros que foram cometidos em 2013 e 2014”. Não é preciso ser catedrático em análise sintática para perceber que a voz passiva serve para esconder o sujeito que senta na cadeira presidencial e que, por sua única e exclusiva responsabilidade, colocou o País na trilha do caos.
Na entrevista, dada à Rádio Metrópole, de Salvador, Jaques Wagner fez um diagnóstico preciso dos problemas criados pela gestão temerária da economia no governo Dilma. O ministro listou, entre os “erros que foram cometidos”, a “desoneração exagerada” e os “programas de financiamento que foram feitos num volume muito maior do que a gente aguentava”. Embora tratados pelo petista como se fossem obras do acaso ou tivessem caído dos céus, essas medidas são parte da chamada “nova matriz econômica”, monstrengo que assegurará a Dilma um lugar de honra na galeria dos piores presidentes da história do Brasil.
A tal matriz é obra do, por assim dizer, pensamento de Dilma, desde sempre convencida de que o Estado tem recursos infinitos e que, por essa razão, deve ser o grande responsável pelo desenvolvimento do País. Não há cofre público que baste para tamanha falta de juízo, como sabe qualquer estudante novato de economia, mas afinal não é possível discutir de forma racional com quem governa acreditando que basta “vontade” para que se realize a “justiça social”.
Como a “nova matriz econômica” é fruto de ideologia, e não de planejamento sensato, seus graves reveses são tratados não como se fossem um problema do modelo em si, e sim como resultado de uma combinação de fatores externos, sabotagem da oposição e, claro, má sorte. Mesmo quando reconhecem os erros, Dilma e seus ministros tratam logo de dizer que o problema é sempre dos outros. “Eu sei que isso não consola, mas no mundo inteiro nós estamos vivendo uma fase de economia complicada”, disse o chefe da Casa Civil na entrevista.
Quando resolveu dar um nome ao sujeito da crise, o ministro, previsivelmente, elegeu Joaquim Levy, visto pelos petistas como o verdugo dos pobres. Ministro da Fazenda, Levy foi o responsável por aplicar o “remédio que virou veneno”, que “mata o paciente”, disse Wagner. “O Levy tinha uma visão muito específica do livro-caixa, do cofre, então ele estava obcecado por aquilo ali”, opinou o ministro. “Aquilo ali”, enfatize-se, é o equilíbrio das contas públicas, sem o qual não é possível manter os programas sociais tão caros ao PT de Wagner.
Mas a farsa do ajuste fiscal – que não foi feito na dimensão necessária porque Dilma nunca o bancou para valer – serve bem aos propósitos populistas dos petistas. “Já cortamos neste ano mais de R$ 130 bilhões, entre programas e despesas. Mas chega um ponto em que, se você cortar mais, vai matar o paciente”, disse Wagner. E ele foi didático: “Tem seca no Nordeste, tem enchente no Sul, tem zika vírus com microcefalia, tem que gastar dinheiro para combater o mosquito. Isso tudo é dinheiro, o que vou fazer? Vou dizer para o cara: ‘Amigo, você está com microcefalia, mas meu ajuste fiscal diz que não posso lhe dar dinheiro, morra’. Não pode ser assim”.
Para os petistas, portanto, ajuste fiscal significa deixar morrer os doentes nos hospitais negando-lhes atendimento por economia de recursos, como se o dinheiro já não faltasse em razão justamente da irresponsabilidade dos governantes, a começar pela própria presidente Dilma Rousseff. Que ninguém se engane: a “autocrítica” malandra que Jaques Wagner ensaiou, calculada para dar a impressão de que vem aí uma nova fase no governo, nada mais foi do que um pretexto para reafirmar as mesmas crenças que empurraram o País para o abismo.
Na gramática do governo petista, o responsável pela imensa crise atual é oculto por elipse. A presidente Dilma Rousseff cometeu erros primários, mas nem ela nem seus auxiliares são capazes de vir a público e assumir, em primeira pessoa, a autoria do desastre que se revela a cada novo balanço da economia. Tome-se, por exemplo, uma recente entrevista do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, na qual ele admitiu os “erros que foram cometidos em 2013 e 2014”. Não é preciso ser catedrático em análise sintática para perceber que a voz passiva serve para esconder o sujeito que senta na cadeira presidencial e que, por sua única e exclusiva responsabilidade, colocou o País na trilha do caos.
Na entrevista, dada à Rádio Metrópole, de Salvador, Jaques Wagner fez um diagnóstico preciso dos problemas criados pela gestão temerária da economia no governo Dilma. O ministro listou, entre os “erros que foram cometidos”, a “desoneração exagerada” e os “programas de financiamento que foram feitos num volume muito maior do que a gente aguentava”. Embora tratados pelo petista como se fossem obras do acaso ou tivessem caído dos céus, essas medidas são parte da chamada “nova matriz econômica”, monstrengo que assegurará a Dilma um lugar de honra na galeria dos piores presidentes da história do Brasil.
A tal matriz é obra do, por assim dizer, pensamento de Dilma, desde sempre convencida de que o Estado tem recursos infinitos e que, por essa razão, deve ser o grande responsável pelo desenvolvimento do País. Não há cofre público que baste para tamanha falta de juízo, como sabe qualquer estudante novato de economia, mas afinal não é possível discutir de forma racional com quem governa acreditando que basta “vontade” para que se realize a “justiça social”.
Como a “nova matriz econômica” é fruto de ideologia, e não de planejamento sensato, seus graves reveses são tratados não como se fossem um problema do modelo em si, e sim como resultado de uma combinação de fatores externos, sabotagem da oposição e, claro, má sorte. Mesmo quando reconhecem os erros, Dilma e seus ministros tratam logo de dizer que o problema é sempre dos outros. “Eu sei que isso não consola, mas no mundo inteiro nós estamos vivendo uma fase de economia complicada”, disse o chefe da Casa Civil na entrevista.
Quando resolveu dar um nome ao sujeito da crise, o ministro, previsivelmente, elegeu Joaquim Levy, visto pelos petistas como o verdugo dos pobres. Ministro da Fazenda, Levy foi o responsável por aplicar o “remédio que virou veneno”, que “mata o paciente”, disse Wagner. “O Levy tinha uma visão muito específica do livro-caixa, do cofre, então ele estava obcecado por aquilo ali”, opinou o ministro. “Aquilo ali”, enfatize-se, é o equilíbrio das contas públicas, sem o qual não é possível manter os programas sociais tão caros ao PT de Wagner.
Mas a farsa do ajuste fiscal – que não foi feito na dimensão necessária porque Dilma nunca o bancou para valer – serve bem aos propósitos populistas dos petistas. “Já cortamos neste ano mais de R$ 130 bilhões, entre programas e despesas. Mas chega um ponto em que, se você cortar mais, vai matar o paciente”, disse Wagner. E ele foi didático: “Tem seca no Nordeste, tem enchente no Sul, tem zika vírus com microcefalia, tem que gastar dinheiro para combater o mosquito. Isso tudo é dinheiro, o que vou fazer? Vou dizer para o cara: ‘Amigo, você está com microcefalia, mas meu ajuste fiscal diz que não posso lhe dar dinheiro, morra’. Não pode ser assim”.
Para os petistas, portanto, ajuste fiscal significa deixar morrer os doentes nos hospitais negando-lhes atendimento por economia de recursos, como se o dinheiro já não faltasse em razão justamente da irresponsabilidade dos governantes, a começar pela própria presidente Dilma Rousseff. Que ninguém se engane: a “autocrítica” malandra que Jaques Wagner ensaiou, calculada para dar a impressão de que vem aí uma nova fase no governo, nada mais foi do que um pretexto para reafirmar as mesmas crenças que empurraram o País para o abismo.
Porta aberta à corrupção - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 04/01
São recorrentes as críticas à burocracia, em especial a que atravanca a contratação de obras. E os entraves existentes na máquina pública costumam ser justificados pela necessidade de controles, para defender os interesses de quem paga as contas do Estado, os contribuintes.
O objetivo da prevenção contra desvios é correto, mas nada justifica uma burocracia impenetrável. Mesmo porque dificuldades excessivas induzem a criação de balcões de venda de facilidades.
Há tempos, debate-se a Lei 8.666, de 93, a chamada Lei de Licitações. Inclusive no Congresso. Sempre com o objetivo de torná-la um instrumento de maior agilidade na contratação de obras pelo poder público, e por um preço justo.
Mas existe o risco da excessiva simplificação desse processo para economizar tempo. Como cumprir cronograma não é um ponto forte do Estado, na preparação da Copa chegou-se a um ponto que se instituiu o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), para substituir de forma excepcional aLei de Licitações. Obras puderam ser contratadas por uma via rápida.
Seria um excesso de maledicência insinuar que interessados em criar um facilitário para empreiteiras aproveitaram os atrasos para a Copa e tiraram do bolso o projeto do RDC. Seja como for, a lentidão também na execução do projeto das Olimpíadas de 2016, no Rio, foi aproveitada para se estender aos Jogos a mesma via rápida.
Desta vez, pôs-se em prática o plano ardiloso de contrabandear para a MP do Regime Diferenciado de Contratações visando aos Jogos uma emenda sem qualquer relação direta com as Olimpíadas, um “jabuti”, portanto, estendendo o RDC para a grande maioria de obras públicas. Na prática, revogou-se a Lei de Licitações por MP.
Está embutido no RDC o conceito de “contratação integrada”, pelo qual o poder público contrata a empreiteira com vendas nos olhos: sem conhecer especificações da obra que deseja, porque não faz, nem encomenda a terceiros, os projetos básico e executivo do empreendimento. A contratada também fica responsável por eles.
Isso significa que o poder público não tem qualquer base técnica para discutir preços apresentados pela empreiteira. É fácil concluir que o risco de se multiplicarem superfaturamentos nas obras públicas país afora é absoluto.
Ao perder o monopólio do Petróleo, no governo FH, a Petrobras, a fim de competir em igualdade de condições com o setor privado, recebeu autorização, pelo decreto 2.745/98, para contratar obras e adquirir equipamentos pelo mesmo método. Tinha lógica. Porém, a facilidade criada para a estatal ser ágil foi usada pelo lulopetismo no assalto à empresa via o esquema do petrolão, investigado na Operação Lava-Jato. Apenas em um balanço, a estatal deu baixa em R$ 6,2 bilhões correspondentes às falcatruas. E agora o DRC pôs o facilitário ao alcance da maioria dos projetos públicos, da União, estados e municípios. Grande farra no bolso do contribuinte.
São recorrentes as críticas à burocracia, em especial a que atravanca a contratação de obras. E os entraves existentes na máquina pública costumam ser justificados pela necessidade de controles, para defender os interesses de quem paga as contas do Estado, os contribuintes.
O objetivo da prevenção contra desvios é correto, mas nada justifica uma burocracia impenetrável. Mesmo porque dificuldades excessivas induzem a criação de balcões de venda de facilidades.
Há tempos, debate-se a Lei 8.666, de 93, a chamada Lei de Licitações. Inclusive no Congresso. Sempre com o objetivo de torná-la um instrumento de maior agilidade na contratação de obras pelo poder público, e por um preço justo.
Mas existe o risco da excessiva simplificação desse processo para economizar tempo. Como cumprir cronograma não é um ponto forte do Estado, na preparação da Copa chegou-se a um ponto que se instituiu o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), para substituir de forma excepcional aLei de Licitações. Obras puderam ser contratadas por uma via rápida.
Seria um excesso de maledicência insinuar que interessados em criar um facilitário para empreiteiras aproveitaram os atrasos para a Copa e tiraram do bolso o projeto do RDC. Seja como for, a lentidão também na execução do projeto das Olimpíadas de 2016, no Rio, foi aproveitada para se estender aos Jogos a mesma via rápida.
Desta vez, pôs-se em prática o plano ardiloso de contrabandear para a MP do Regime Diferenciado de Contratações visando aos Jogos uma emenda sem qualquer relação direta com as Olimpíadas, um “jabuti”, portanto, estendendo o RDC para a grande maioria de obras públicas. Na prática, revogou-se a Lei de Licitações por MP.
Está embutido no RDC o conceito de “contratação integrada”, pelo qual o poder público contrata a empreiteira com vendas nos olhos: sem conhecer especificações da obra que deseja, porque não faz, nem encomenda a terceiros, os projetos básico e executivo do empreendimento. A contratada também fica responsável por eles.
Isso significa que o poder público não tem qualquer base técnica para discutir preços apresentados pela empreiteira. É fácil concluir que o risco de se multiplicarem superfaturamentos nas obras públicas país afora é absoluto.
Ao perder o monopólio do Petróleo, no governo FH, a Petrobras, a fim de competir em igualdade de condições com o setor privado, recebeu autorização, pelo decreto 2.745/98, para contratar obras e adquirir equipamentos pelo mesmo método. Tinha lógica. Porém, a facilidade criada para a estatal ser ágil foi usada pelo lulopetismo no assalto à empresa via o esquema do petrolão, investigado na Operação Lava-Jato. Apenas em um balanço, a estatal deu baixa em R$ 6,2 bilhões correspondentes às falcatruas. E agora o DRC pôs o facilitário ao alcance da maioria dos projetos públicos, da União, estados e municípios. Grande farra no bolso do contribuinte.
O verão antes da queda - PAULO DELGADO
O GLOBO - 04/01
A presidente Dilma Rousseff tem ainda tempo para interromper o percurso oblíquo e retrógrado que a escolheu e reelegeu
O modelo político e econômico brasileiro não assimila o capitalismo de fato. De tempos em tempos, um gênio tenta forçar o capitalismo a assimilar suas ideias. E molemente, como sopa, um frágil capitalismo de mínimo esforço se diverte com um queixoso socialismo de esforço nenhum. E toda instituição fica submetida às forças irracionais que plasmam nossa sociedade.
Se a presidente da República continuar achando que o Brasil lhe deve algum favor pela coerência de suas ideias, precisará se convencer que governar é vergar 204 milhões de pessoas aos seus caprichos.
Já conta com um Supremo opressor, que esteriliza a vida política nacional com bizarrices interpretativas sobre regimento do Legislativo, como proibir chapa avulsa em parlamento com 35 partidos fictícios e impor voto aberto para político fraco julgar presidente cabeça dura.
Todos sabem que o impeachment atual não está baseado no Código Penal. Visa, de forma previsível, a organizar o governo que entra e interromper a desorganização do que sai. Como a crispação política e a falsa agudeza da presidente impedem a compreensão real das coisas, 2016 tem tudo para ser acrescentado na história dos fracassos brasileiros.
A presidente Dilma tem ainda tempo para interromper o percurso oblíquo e retrógrado que a escolheu e reelegeu. Poderia conduzir a mudança rompendo com o mercado precificado da eleição tradicional mudando o paradigma do imediatismo que a fez bode expiatório nas mãos de Lula. Deteria a exaustão do PT e poderia sair consagrada como luz de novos tempos. Mudar preservando, como é o movimento das marés progressistas.
Embora o PT esteja exaurido, o humanismo petista ainda não se esgotou de todo entre os filiados. Engasgados até hoje por perderam a chance de fazer Patrus, Olívio, Deda, Tarso Genro ou Jacques Wagner presidentes da República, quando a direção permitiu que Lula levasse Dilma a fazer o que não gosta. É um dilema insolúvel da esquerda o autoritarismo de líderes e aparelhos. Mas a pior surpresa foi a simbiose esquerda-direita, com seu fisiologismo, paternalismo e clientelismo, presente na aliança que Lula impôs aos governos do PT.
A sensação é que não se ultrapassa a direita na corrida ao poder porque ela está dentro da esquerda.
Por ora, ajudaria bem um ministro da Fazenda que seja político respeitado, de perfil suprapartidário, capaz de entender que o capitalismo brasileiro não quebra o Brasil com sua improvisação e delitos, mas o capitalismo internacional retira recursos da imprevisível e voluntarista política econômica.
Como as “possibilidades” e as “circunstâncias” da crise são coisas diferentes, o Brasil tem se equilibrado entre esses dois polos. O senso de urgência chegou para todos com o agravamento das condições econômicas — as circunstâncias —, mas a inércia das disputas internas dos partidos — as possibilidades — estão prevalecendo e impedindo surgir o rosto da transição.
Gigantes obscuros, falando mais de consciência do que de lei, sempre controlaram as ondas da mudança no Brasil. A democracia, quando funciona, poupa a consciência de ficar contra a lei.
Paulo Delgado é sociólogo
A presidente Dilma Rousseff tem ainda tempo para interromper o percurso oblíquo e retrógrado que a escolheu e reelegeu
O modelo político e econômico brasileiro não assimila o capitalismo de fato. De tempos em tempos, um gênio tenta forçar o capitalismo a assimilar suas ideias. E molemente, como sopa, um frágil capitalismo de mínimo esforço se diverte com um queixoso socialismo de esforço nenhum. E toda instituição fica submetida às forças irracionais que plasmam nossa sociedade.
Se a presidente da República continuar achando que o Brasil lhe deve algum favor pela coerência de suas ideias, precisará se convencer que governar é vergar 204 milhões de pessoas aos seus caprichos.
Já conta com um Supremo opressor, que esteriliza a vida política nacional com bizarrices interpretativas sobre regimento do Legislativo, como proibir chapa avulsa em parlamento com 35 partidos fictícios e impor voto aberto para político fraco julgar presidente cabeça dura.
Todos sabem que o impeachment atual não está baseado no Código Penal. Visa, de forma previsível, a organizar o governo que entra e interromper a desorganização do que sai. Como a crispação política e a falsa agudeza da presidente impedem a compreensão real das coisas, 2016 tem tudo para ser acrescentado na história dos fracassos brasileiros.
A presidente Dilma tem ainda tempo para interromper o percurso oblíquo e retrógrado que a escolheu e reelegeu. Poderia conduzir a mudança rompendo com o mercado precificado da eleição tradicional mudando o paradigma do imediatismo que a fez bode expiatório nas mãos de Lula. Deteria a exaustão do PT e poderia sair consagrada como luz de novos tempos. Mudar preservando, como é o movimento das marés progressistas.
Embora o PT esteja exaurido, o humanismo petista ainda não se esgotou de todo entre os filiados. Engasgados até hoje por perderam a chance de fazer Patrus, Olívio, Deda, Tarso Genro ou Jacques Wagner presidentes da República, quando a direção permitiu que Lula levasse Dilma a fazer o que não gosta. É um dilema insolúvel da esquerda o autoritarismo de líderes e aparelhos. Mas a pior surpresa foi a simbiose esquerda-direita, com seu fisiologismo, paternalismo e clientelismo, presente na aliança que Lula impôs aos governos do PT.
A sensação é que não se ultrapassa a direita na corrida ao poder porque ela está dentro da esquerda.
Por ora, ajudaria bem um ministro da Fazenda que seja político respeitado, de perfil suprapartidário, capaz de entender que o capitalismo brasileiro não quebra o Brasil com sua improvisação e delitos, mas o capitalismo internacional retira recursos da imprevisível e voluntarista política econômica.
Como as “possibilidades” e as “circunstâncias” da crise são coisas diferentes, o Brasil tem se equilibrado entre esses dois polos. O senso de urgência chegou para todos com o agravamento das condições econômicas — as circunstâncias —, mas a inércia das disputas internas dos partidos — as possibilidades — estão prevalecendo e impedindo surgir o rosto da transição.
Gigantes obscuros, falando mais de consciência do que de lei, sempre controlaram as ondas da mudança no Brasil. A democracia, quando funciona, poupa a consciência de ficar contra a lei.
Paulo Delgado é sociólogo
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
RECEITA DO GOVERNO FOI RECORDE: R$ 2,7 TRILHÕES
O governo da presidente Dilma Rousseff insiste na lorota de que falta dinheiro para investir em segurança, saúde, educação e infraestrutura, mas a verdade é que as receitas em 2015 foram as maiores da história do País: R$ 2,7 trilhões. Nem a desculpa de descontar inflação explica a incompetência do governo, pois o valor subiu 22,7%, mais do dobro da inflação, em relação a 2014, que tinha o recorde de R$ 2,2 trilhões.
GOVERNO OPACO
Ao contrário do que acontece desde a criação da Lei de Transparência, o governo Dilma não atualizou as previsões nos dados orçamentários.
O RESTO É LUCRO
Só o que foi embolsado pela Fazenda com Receita e títulos do Tesouro já iguala tudo o que foi arrecadado pelo governo federal em 2014.
VICE
Mesmo com o crescimento do desemprego, o Ministério da Previdência meteu a mão em mais de R$ 352 bilhões do dinheiro dos trabalhadores
NA RABEIRA
Mesmo ficando em último lugar, o Ministério Público da União levou um trocado e fechou o ano de 2015 no azul. Arrecadou R$ 10,1 milhões.
STF: IMPEACHMENT É ‘POLÍTICO’ E NÃO ‘JURÍDICO’
O Supremo Tribunal Federal já havia definido, há mais de 20 anos, a ferramenta do impeachment como um instituto de conteúdo político-administrativo, apesar de ter “inegável vinculação jurídica”. O próprio ministro Celso de Mello quando julgou o Mandado de Segurança impetrado pelo ex-presidente Fernando Collor, durante seu processo de cassação, definiu o impeachment como “político-administrativo”.
NÃO EXIGE PROVAS
De acordo com a legislação, na impossibilidade de provas, o pedido de impeachment pode listar testemunhas do crime cometido por Dilma.
SENADO JULGA
Não há necessidade de condenação na justiça para o afastamento de Dilma, pois o julgamento do impeachment é feito pelo Senado.
COLLOR ABSOLVIDO
As absolvições no STF do ex-presidente Collor, afastado e inelegível por oito anos, provam o caráter político e não judicial do impeachment.
UNIDOS PELO IMPEACHMENT
No giro que fará pelo Brasil em janeiro, o vice-presidente da República, Michel Temer, vai pedir o apoio de aliados para evitarem “fogo amigo”. Segundo ele, que não descarta o impeachment da presidente Dilma, é preciso unificar não só o País, mas o próprio PMDB.
HORIZONTE NEGRO
Última façanha do ex-presidente Lula, a eleição de Fernando Haddad como prefeito de São Paulo deve ficar limitada a isso, sem reeleição. A rejeição ao petista beira os 70% e fica difícil até uma vaga de vereador.
JÁ VAI TARDE
Quem também tem a vida complicada é o prefeito de Goiânia, Paulo de Siqueira Garcia (PT). Bem diferente de quando foi reeleito em 1º turno, a aprovação de Garcia é de pouco mais de 23% dos eleitores goianos.
ESFARELOU
Os rebelados do PMDB procuram outro nome para destituir Leonardo Picciani (RJ) da liderança da bancada na Câmara. A avaliação é que Leonardo Quintão (MG) não decola e dificilmente leva o posto.
DO BOM...
Com aprovação de 64,4%, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), nada de braçadas para a reeleição e até possíveis adversários, como o deputado Ronaldo Lessa (PDT), estão no caminho para virarem aliados
… E DO MELHOR
Situação praticamente imbatível na eleição deste ano é a de ACM Neto (DEM) em Salvador. O prefeito teve aprovação de 84,7% dos eleitores, a maior entre todas as capitais pesquisadas pelo Instituto Paraná.
COMILÃO
O deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC) foi o campeão em gastos com a alimentação na Câmara em 2015. Sozinho, ele pediu o ressarcimento de R$ 27,32 mil com despesas em restaurantes.
14 BIS
O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) voou tanto quanto o pai da aviação, Santos Dummont. Em 2015, foi o que mais gastou, entre os 513 deputados federais, com emissão de passagem área: R$ 450 mil.
PENSANDO BEM...
... o presidente do PT, Rui Falcão, deve avaliar melhor quando cobra mudanças, pois a mais próxima pode ser a saída do PT do poder.
O governo da presidente Dilma Rousseff insiste na lorota de que falta dinheiro para investir em segurança, saúde, educação e infraestrutura, mas a verdade é que as receitas em 2015 foram as maiores da história do País: R$ 2,7 trilhões. Nem a desculpa de descontar inflação explica a incompetência do governo, pois o valor subiu 22,7%, mais do dobro da inflação, em relação a 2014, que tinha o recorde de R$ 2,2 trilhões.
GOVERNO OPACO
Ao contrário do que acontece desde a criação da Lei de Transparência, o governo Dilma não atualizou as previsões nos dados orçamentários.
O RESTO É LUCRO
Só o que foi embolsado pela Fazenda com Receita e títulos do Tesouro já iguala tudo o que foi arrecadado pelo governo federal em 2014.
VICE
Mesmo com o crescimento do desemprego, o Ministério da Previdência meteu a mão em mais de R$ 352 bilhões do dinheiro dos trabalhadores
NA RABEIRA
Mesmo ficando em último lugar, o Ministério Público da União levou um trocado e fechou o ano de 2015 no azul. Arrecadou R$ 10,1 milhões.
STF: IMPEACHMENT É ‘POLÍTICO’ E NÃO ‘JURÍDICO’
O Supremo Tribunal Federal já havia definido, há mais de 20 anos, a ferramenta do impeachment como um instituto de conteúdo político-administrativo, apesar de ter “inegável vinculação jurídica”. O próprio ministro Celso de Mello quando julgou o Mandado de Segurança impetrado pelo ex-presidente Fernando Collor, durante seu processo de cassação, definiu o impeachment como “político-administrativo”.
NÃO EXIGE PROVAS
De acordo com a legislação, na impossibilidade de provas, o pedido de impeachment pode listar testemunhas do crime cometido por Dilma.
SENADO JULGA
Não há necessidade de condenação na justiça para o afastamento de Dilma, pois o julgamento do impeachment é feito pelo Senado.
COLLOR ABSOLVIDO
As absolvições no STF do ex-presidente Collor, afastado e inelegível por oito anos, provam o caráter político e não judicial do impeachment.
UNIDOS PELO IMPEACHMENT
No giro que fará pelo Brasil em janeiro, o vice-presidente da República, Michel Temer, vai pedir o apoio de aliados para evitarem “fogo amigo”. Segundo ele, que não descarta o impeachment da presidente Dilma, é preciso unificar não só o País, mas o próprio PMDB.
HORIZONTE NEGRO
Última façanha do ex-presidente Lula, a eleição de Fernando Haddad como prefeito de São Paulo deve ficar limitada a isso, sem reeleição. A rejeição ao petista beira os 70% e fica difícil até uma vaga de vereador.
JÁ VAI TARDE
Quem também tem a vida complicada é o prefeito de Goiânia, Paulo de Siqueira Garcia (PT). Bem diferente de quando foi reeleito em 1º turno, a aprovação de Garcia é de pouco mais de 23% dos eleitores goianos.
ESFARELOU
Os rebelados do PMDB procuram outro nome para destituir Leonardo Picciani (RJ) da liderança da bancada na Câmara. A avaliação é que Leonardo Quintão (MG) não decola e dificilmente leva o posto.
DO BOM...
Com aprovação de 64,4%, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), nada de braçadas para a reeleição e até possíveis adversários, como o deputado Ronaldo Lessa (PDT), estão no caminho para virarem aliados
… E DO MELHOR
Situação praticamente imbatível na eleição deste ano é a de ACM Neto (DEM) em Salvador. O prefeito teve aprovação de 84,7% dos eleitores, a maior entre todas as capitais pesquisadas pelo Instituto Paraná.
COMILÃO
O deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC) foi o campeão em gastos com a alimentação na Câmara em 2015. Sozinho, ele pediu o ressarcimento de R$ 27,32 mil com despesas em restaurantes.
14 BIS
O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) voou tanto quanto o pai da aviação, Santos Dummont. Em 2015, foi o que mais gastou, entre os 513 deputados federais, com emissão de passagem área: R$ 450 mil.
PENSANDO BEM...
... o presidente do PT, Rui Falcão, deve avaliar melhor quando cobra mudanças, pois a mais próxima pode ser a saída do PT do poder.