O GLOBO - 20/06
Para se ter uma ideia do que representa a prisão de Marcelo Odebrecht, basta saber que ele mandava ir para sua casa todo diretor da empreiteira que fosse alvo de boatos de prisão. Queria, com isso, dar garantias ao funcionário de que ninguém o molestaria. Ver policiais em sua casa ontem pela manhã em São Paulo deve ter irritado muito o dirigente da maior empresa brasileira.
Momentos como esse marcam a reviravolta de um país. "Quando vão pegar a Odebrecht?" era a pergunta que não calava, como se dependesse da resposta a credibilidade de toda a Operação Lava-Jato.
O fato de ter demorado tanto demonstra bem os perigos que corriam os procuradores do Ministério Público, a Polícia Federal e o próprio juiz Sérgio Moro para dar esse passo decisivo. Não foi à toa que investigaram por quase um ano as duas maiores empreiteiras do país, Odebrecht e Andrade Gutierrez, antes de prender seus principais dirigentes.
A prisão dos dois prova que o país está mudando. É sintomático de um novo momento que o Brasil vive, tentando controlar a corrupção, completamente disseminada. A prisão icônica de Marcelo Odebrecht, com base numa investigação extensa, é um indício de provas da atuação dele nos desvios da Petrobras e em outras estatais também.
Se tivesse havido a delação premiada na ação penal do mensalão, o resultado teria sido bem mais aprofundado. O publicitário Marcos Valério só está preso, condenado a mais de 40 anos, porque até o último momento acreditava que seus cúmplices no PT, especialmente Lula, tivessem força política para evitar o julgamento.
Bem que o ex-presidente tentou, mas já ali não tinha mais a capacidade de interferir, embora tenha sido poupado da denúncia pelo receio do procurador-geral da República à época de que, incluindo-o entre os denunciados, o processo não andasse. Sobrou para o seu ex-ministro da Casa Civil e notório homem forte José Dirceu a carga de ser o comandante da trama.
Assim como o juiz Sérgio Moro diz hoje que "é inviável" que os presidentes das empreiteiras não soubessem do que acontecia, devido ao tamanho da operação criminosa, já não é um bicho de sete cabeças dizer que as relações de Lula com as empreiteiras eram tão próximas que é "inviável" que o ex-presidente nada soubesse do que andavam tramando os políticos e empreiteiros na Petrobras e em outras estatais pelo país afora.
Além do mais, o PT é um dos partidos mais beneficiados pelos desvios das estatais. É uma questão de tempo as investigações chegarem ao Instituto Lula e a sua empresa de palestras, juntando dois mais dois. A relação do ex-presidente com as empreiteiras, notadamente a Odebrecht, é do conhecimento público, e o que há de menos grave nelas é o conflito de interesses.
Lula não é um ex-presidente qualquer que passou a fazer parte do circuito internacional de palestras, o que é muito natural. Ele continua sendo a eminência parda dos governos petistas, influindo decisivamente nos rumos do país, para o bem e para o mal.
Por isso, não poderia ter esse relacionamento comercial com empresas que prestam serviços ao governo que comanda dos bastidores. Se nos áureos tempos do mensalão Dirceu já disse que "um telefonema meu é um telefonema", imaginem um telefonema de Lula.
Se o ex-presidente Lula tiver algum tipo de participação nos desvios, certamente a informação vai aparecer. É preciso investigar a ligação entre as palestras e as viagens internacionais do ex-presidente, financiadas pela Odebrecht, e a interferência dele para beneficiar a empresa.
Para chegar até aqui, tivemos que passar pelo mensalão. O que está sendo desvendado nesses dez anos é simplesmente uma maneira de fazer negócios (e política) que predomina no país não é de agora, mas que o PT exacerbou ao máximo, provavelmente escudado na popularidade de Lula.
"Que país é este?", perguntou, genuinamente surpreso, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, indicado pelo PT, ao ser preso em sua casa. É o que veremos ao fim da Operação Lava-Jato.
sábado, junho 20, 2015
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
Com Dilma, Odebrecht tem tratamento de ministro
Preso ontem na 14ª fase da Operação Lava Jato, o empreiteiro Marcelo Odebrecht foi recebido mais vezes pela presidente Dilma do que a maioria dos ministros. No início do seu governo, Dilma não escondia a repulsa ao empresário, que, no entanto, amigo do ex-presidente Lula, conseguiu neutralizar resistência e foi recebido quatro vezes por Dilma, além de duas reuniões na residência do Palácio Alvorada, em 2014.
Aumento de prestígio
Em 2012, após as reuniões no Planalto, o gasto direto do governo com a Odebrecht cresceu 10.000% ante 2011 e chegou a R$ 1,1 bilhão.
Contando vantagem
A Odebrecht obteve receitas de US$ 9,5 bilhões no exterior em 2012, segundo o próprio Marcelo Odebrecht trombeteava publicamente.
Negócios bilionários
Os contratos da Odebrecht no exterior saltaram para US$ 22 bilhões (equivalentes a R$ 67 bilhões), boa parte financiada pelo BNDES.
Caminhos do poder
Presidente da empreiteira favorita da era petista, Marcelo Odebrecht se reuniu com Michel Temer, inclusive quando o vice virou presidente.
Hostilidade a senadores foi uma operação militar
Funcionários da Polícia Nacional Bolivariana admitiram abertamente em Caracas, a jornalistas, que bloquearam de propósito a van transportando a comitiva de senadores que havia desembarcado no aeroporto de Maiquetía. A van foi direcionada para uma via onde duas dezenas de militares à paisana simularam “manifestação” contrária à visita, esmurrando e apedrejando o veículo para intimidar os brasileiros.
Gangue chavista
Desde o semi-ditador Hugo Chávez, o governo da Venezuela mantém milícias armadas, em trajes civis, para intimidar opositores ao regime.
Tudo combinado
A embaixada brasileira parecia saber da operação militar intimidação: diplomatas tinham ordem para não acompanhar os senadores na van.
Saindo de perto
O embaixador brasileiro Ruy Pereira virou motivo de deboche: entrou no avião da FAB, cumprimentou os senadores e “vazou” em disparada.
Porrada neles
O senador Blairo Maggi (PR-MT) pediu a expulsão da Venezuela do Mercosul após as hostilidades aos senadores. Ele adverte que ditadura tem que ser retirada do bloco “na base da porrada”.
Campanha do ‘fico’
Bombeiros foram acionados para tentar segurar o senador Ricardo Ferraço (ES) no PMDB. O protagonismo contra os malucos chavistas tornam Ferraço indispensável ao projeto de poder do partido.
Na gaveta
Michel Temer tem dito aos aliados que já repassou as nomeações do segundo e terceiro escalão e que ele não tem mais o que fazer. A bola está com Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que engavetou tudo.
Matemática
Na somatória dos assessores da presidente Dilma, o governo contabiliza quase metade dos 33 votos necessários para barrar a proposta da redução da maioridade penal no Senado.
Será o Pizzolato?
O Banco do Brasil informou um leitor, pelo celular, da compra (que não fez) na internet, no valor R$ 2.016,06, no cartão Ourocard/Mastercard, que ele nunca usa e o mantém trancado numa gaveta. Agora suspeita que os dados, incluindo código de segurança, vazaram do próprio BB.
Procura-se
O governo contava com o PMDB para barrar a flexibilização do fator previdenciário, mas o partido agiu justamente no sentido contrário. O Planalto avalia que foi tudo para Dilma vetar a medida e se desgastar com aliados à esquerda. Agora, procura o responsável pelo plano.
Trama sórdida
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos sitiados em Caracas, prometeu denunciar Dilma. Acusou-a de ser partícipe dessa “trama sórdida”, além de colocar em risco a vida dos senadores.
Casa cheia
Foi intensa a movimentação de empresários na Câmara nesta semana. O lobby era para a inclusão de setores na lista que deve poupar algumas áreas da economia do ajuste na desoneração da folha.
Pergunta na fila do INSS
Joaquim Levy (Fazenda), Carlos Gabas (Previdência) e Nelson Barbosa (Planejamento), do “Trio Malvadeza”, têm pais idosos e avós?
Preso ontem na 14ª fase da Operação Lava Jato, o empreiteiro Marcelo Odebrecht foi recebido mais vezes pela presidente Dilma do que a maioria dos ministros. No início do seu governo, Dilma não escondia a repulsa ao empresário, que, no entanto, amigo do ex-presidente Lula, conseguiu neutralizar resistência e foi recebido quatro vezes por Dilma, além de duas reuniões na residência do Palácio Alvorada, em 2014.
Aumento de prestígio
Em 2012, após as reuniões no Planalto, o gasto direto do governo com a Odebrecht cresceu 10.000% ante 2011 e chegou a R$ 1,1 bilhão.
Contando vantagem
A Odebrecht obteve receitas de US$ 9,5 bilhões no exterior em 2012, segundo o próprio Marcelo Odebrecht trombeteava publicamente.
Negócios bilionários
Os contratos da Odebrecht no exterior saltaram para US$ 22 bilhões (equivalentes a R$ 67 bilhões), boa parte financiada pelo BNDES.
Caminhos do poder
Presidente da empreiteira favorita da era petista, Marcelo Odebrecht se reuniu com Michel Temer, inclusive quando o vice virou presidente.
Hostilidade a senadores foi uma operação militar
Funcionários da Polícia Nacional Bolivariana admitiram abertamente em Caracas, a jornalistas, que bloquearam de propósito a van transportando a comitiva de senadores que havia desembarcado no aeroporto de Maiquetía. A van foi direcionada para uma via onde duas dezenas de militares à paisana simularam “manifestação” contrária à visita, esmurrando e apedrejando o veículo para intimidar os brasileiros.
Gangue chavista
Desde o semi-ditador Hugo Chávez, o governo da Venezuela mantém milícias armadas, em trajes civis, para intimidar opositores ao regime.
Tudo combinado
A embaixada brasileira parecia saber da operação militar intimidação: diplomatas tinham ordem para não acompanhar os senadores na van.
Saindo de perto
O embaixador brasileiro Ruy Pereira virou motivo de deboche: entrou no avião da FAB, cumprimentou os senadores e “vazou” em disparada.
Porrada neles
O senador Blairo Maggi (PR-MT) pediu a expulsão da Venezuela do Mercosul após as hostilidades aos senadores. Ele adverte que ditadura tem que ser retirada do bloco “na base da porrada”.
Campanha do ‘fico’
Bombeiros foram acionados para tentar segurar o senador Ricardo Ferraço (ES) no PMDB. O protagonismo contra os malucos chavistas tornam Ferraço indispensável ao projeto de poder do partido.
Na gaveta
Michel Temer tem dito aos aliados que já repassou as nomeações do segundo e terceiro escalão e que ele não tem mais o que fazer. A bola está com Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que engavetou tudo.
Matemática
Na somatória dos assessores da presidente Dilma, o governo contabiliza quase metade dos 33 votos necessários para barrar a proposta da redução da maioridade penal no Senado.
Será o Pizzolato?
O Banco do Brasil informou um leitor, pelo celular, da compra (que não fez) na internet, no valor R$ 2.016,06, no cartão Ourocard/Mastercard, que ele nunca usa e o mantém trancado numa gaveta. Agora suspeita que os dados, incluindo código de segurança, vazaram do próprio BB.
Procura-se
O governo contava com o PMDB para barrar a flexibilização do fator previdenciário, mas o partido agiu justamente no sentido contrário. O Planalto avalia que foi tudo para Dilma vetar a medida e se desgastar com aliados à esquerda. Agora, procura o responsável pelo plano.
Trama sórdida
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos sitiados em Caracas, prometeu denunciar Dilma. Acusou-a de ser partícipe dessa “trama sórdida”, além de colocar em risco a vida dos senadores.
Casa cheia
Foi intensa a movimentação de empresários na Câmara nesta semana. O lobby era para a inclusão de setores na lista que deve poupar algumas áreas da economia do ajuste na desoneração da folha.
Pergunta na fila do INSS
Joaquim Levy (Fazenda), Carlos Gabas (Previdência) e Nelson Barbosa (Planejamento), do “Trio Malvadeza”, têm pais idosos e avós?