FOLHA DE SP - 08/06
O mundo fica a cada dia mais ridículo. Hoje, para provar essa tese, darei três exemplos de ideias equivocadas que assumem ares de coisa séria.
Duas delas vêm da pedagogia, das escolas de crianças, um dos campos em que o absurdo tomou conta das pessoas. As escolas viraram laboratórios de "experiências" em muitas áreas. Em vez de ensinar as capitais dos Estados e dos países, querem ensinar as crianças como elas devem se sentir (o que é "correto" sentir) diante das coisas. Muita dessa gente nem tem "moral" para pregar para os outros. Não confio em ninguém que posa de "correto".
Vamos ao primeiro exemplo. Tenho ouvido falar que em muitas escolas virou costume fazer um dia em que meninos vão vestidos de meninas e meninas vão vestidas de meninos.
Na cabeça desse povo, esse dia deve ser dedicado ao combate à violência de gênero. O que esses professores não sacam é que um pedido desse para crianças é em si uma violência de gênero e uma covardia, levando-se em conta que são crianças e que não têm como se defender dos delírios de teóricos bobos. E o pior é que pais inteligentinhos acham essa bobagem a última palavra em "ética". Risadas?
Outro dia ouvi de um menino de sete anos da classe C que sua professora pensava que ele era uma travesti porque tinha dito na classe que no dia X os meninos deviam ir vestidos de meninas e vice-versa. Mas, como ele não era uma travesti, recusou-se a ir vestido de mulher e me falou: "Eu não fui porque não sou travesti".
Veja, isso nada tem a ver com travestis adultos ou o direito de o ser (que julgo inquestionável, do ponto de vista do contrato democrático em que vivemos). Isso tem a ver com taras teóricas de professoras autoritárias que infernizam a vida das crianças com suas ideias descabidas.
Digamos de uma vez por todas: ninguém entende patavina de sexualidade. Mas ficou na moda dizer que entende.
Imagino que a autoritária de gênero, a professora desse menino (e de outros tantos e tantas), veja preconceito na fala dele. Eu vejo nessa professora a alma totalitária típica desses comissários do bem social. Uma praga que infesta as escolas e o mundo como um todo.
O mundo está cheio desses comissários, uma espécie de gente mandona que atormenta os outros com suas taras teóricas.
A verdade é que o mundo sempre foi um poço de loucuras, taras e incoerências. Por que agora passamos a achar que basta se dizer a favor do bem social e essa pessoa está a salvo de ser um obcecado qualquer exercendo suas taras teóricas sobre crianças que não têm como se defender diante dessas bobagens? E o pior é que muitos psicólogos abraçam essa baboseira.
O segundo exemplo também vem da educação: a decisão de mudar letras de músicas como "atirei o pau no gato" para coisas como "não atirei o pau no gato", a fim de fazer com que as crianças não maltratem os gatinhos. Crianças, na sua maioria esmagadora, sempre amaram gatinhos. Mas crianças não são anjinhos e, quando o são, são doentes. Por que psicólogos, pedagogos e pais se unem numa prática ridícula como essa? Ninguém mais quer ter filhos, e os poucos que têm os torturam com essas ideias bobas.
Duvido que músicas assim nos façam amar mais os gatinhos, assim como acredito que existam veganos infames e carnívoros malvados no meio da humanidade. Penso mais que músicas assim visam apenas satisfazer a tara teórica de algum pedagogo ou psicólogo que, em vez de estudar a sério, fica embarcando em modinhas. É mais um exemplo de comissários do bem social.
Esses caras devem achar que assim não existirão mais guerras no mundo e não precisaremos mais matar seres vivos para viver. Eis os famosos idiotas do bem.
E, por último, a terceira ideia: os mandões que querem nos proibir de comer foie gras em nome do bem dos patinhos. Adoro patinhos. A forma de produzir foie gras é mesmo feia. Mas, pergunto-me: quem ou o que esses santos contra o foie gras torturam por trás das cortinas?
Aposto que a mesma moçada que chora por gatinhos e patinhos não chora por bebês abortados. Interessante esse cruzamento de (in)sensibilidades, não?
segunda-feira, junho 08, 2015
Desemprego na veia - PAULO GUEDES
O GLOBO - 08/06
Queremos todos os brasileiros empregados. Precisamos assegurar empregos para aquela parte da população "que é a mais frágil" explicava a presidente Dilma Rousseff quando, ainda em seu primeiro mandato, examinava a desoneração das folhas de pagamentos das empresas por meio da redução de encargos sociais e trabalhistas que incidem sobre o custo da mão de obra. Esses encargos são armas de destruição em massa das oportunidades de emprego no Brasil. Sua redução protegeria milhões de empregos formais na economia, com custos mais baixos para as empresas e melhores salários para os trabalhadores. A guerra mundial por empregos, a nossa gradual desindustrialização pela perda de competitividade e por excesso de impostos, bem como nossa rápida desaceleração econômica, explicavam a tentativa de proteger a criação de empregos por meio da redução dos encargos.
Agora, a necessidade de implementar o ajuste fiscal leva o governo à tentativa de aprovar na Câmara de Deputados a reoneração das folhas de pagamento. É devastador o impacto dos encargos sociais e trabalhistas sobre a geração de empregos formais na economia brasileira. O excesso de impostos que incidem diretamente sobre o uso da mão de obra tornou-se um mecanismo sistêmico de exclusão social, dando origem a um gigantesco mercado de trabalho informal, com dezenas de milhões de trabalhadores que, por sua vez, não contribuem para a previdência social. O atual sistema funciona como se tivéssemos de condenar ao desemprego por toda a sua vida um trabalhador brasileiro para que outro possa desfrutar um emprego formal e usufruir os benefícios previdenciários.
A cumplicidade dos economistas com a reoneração das folhas, essa injeção de desemprego na veia, é inaceitável, pois o silêncio dos especialistas permite a perpetuação de uma enorme injustiça: são exatamente os mais frágeis, os menos preparados, que se tornam vítimas das demissões. Um cínico explicaria a insensibilidade dos economistas por sua remuneração sob forma de dividendos ou pagamentos a suas pessoas jurídicas. Um político diria que é mais fácil aumentar impostos sobre os mais fracos do que cortar gastos públicos. Um economista de boa estirpe indicaria a mãe de todos estes males: é por ignorância que não ousamos as reformas.
Queremos todos os brasileiros empregados. Precisamos assegurar empregos para aquela parte da população "que é a mais frágil" explicava a presidente Dilma Rousseff quando, ainda em seu primeiro mandato, examinava a desoneração das folhas de pagamentos das empresas por meio da redução de encargos sociais e trabalhistas que incidem sobre o custo da mão de obra. Esses encargos são armas de destruição em massa das oportunidades de emprego no Brasil. Sua redução protegeria milhões de empregos formais na economia, com custos mais baixos para as empresas e melhores salários para os trabalhadores. A guerra mundial por empregos, a nossa gradual desindustrialização pela perda de competitividade e por excesso de impostos, bem como nossa rápida desaceleração econômica, explicavam a tentativa de proteger a criação de empregos por meio da redução dos encargos.
Agora, a necessidade de implementar o ajuste fiscal leva o governo à tentativa de aprovar na Câmara de Deputados a reoneração das folhas de pagamento. É devastador o impacto dos encargos sociais e trabalhistas sobre a geração de empregos formais na economia brasileira. O excesso de impostos que incidem diretamente sobre o uso da mão de obra tornou-se um mecanismo sistêmico de exclusão social, dando origem a um gigantesco mercado de trabalho informal, com dezenas de milhões de trabalhadores que, por sua vez, não contribuem para a previdência social. O atual sistema funciona como se tivéssemos de condenar ao desemprego por toda a sua vida um trabalhador brasileiro para que outro possa desfrutar um emprego formal e usufruir os benefícios previdenciários.
A cumplicidade dos economistas com a reoneração das folhas, essa injeção de desemprego na veia, é inaceitável, pois o silêncio dos especialistas permite a perpetuação de uma enorme injustiça: são exatamente os mais frágeis, os menos preparados, que se tornam vítimas das demissões. Um cínico explicaria a insensibilidade dos economistas por sua remuneração sob forma de dividendos ou pagamentos a suas pessoas jurídicas. Um político diria que é mais fácil aumentar impostos sobre os mais fracos do que cortar gastos públicos. Um economista de boa estirpe indicaria a mãe de todos estes males: é por ignorância que não ousamos as reformas.
Levy, o Solitário - LUÍS EDUARDO ASSIS
O Estado de S.Paulo - 08/06
Ufa, ainda bem que passou. Feito o ajuste fiscal, agora cabe esperar pela volta do crescimento econômico, certo? Errado. É nula a probabilidade de que o Brasil possa iniciar no segundo semestre uma recuperação vigorosa. O ajuste fiscal não foi feito. Há medidas paliativas para nos curar da ressaca de 2014, mas nada foi feito para nos livrar do alcoolismo.
As despesas públicas continuam com a tendência de subir a um ritmo superior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que nos conduz ao aumento contínuo da carga tributária. As poucas medidas aprovadas são parciais, insatisfatórias e de má qualidade. Cortam investimentos e seguram gastos na boca do caixa - o que é insustentável a longo prazo. Mas é o ajuste que temos para hoje. É o máximo que a sociedade brasileira está disposta a conceder. É o máximo que o Congresso pode aprovar. A cruzada solitária do ministro Joaquim Levy é suficiente para nos desviar da rota do descalabro que se esboçava em 2014, mas não resolve o grave problema fiscal que teremos, um dia, de enfrentar. Fica para depois.
A meta anunciada para 2015 não será atingida. O resíduo que falta para fechar as contas foi preenchido com uma estimativa de crescimento da receita claramente superestimada. Sem um superávit primário suficiente para fazer frente ao pagamento de juros, a relação dívida/PIB subirá novamente em 2015 e as agências internacionais de rating estão de olho nesse indicador para eventualmente rebaixarem a nota de crédito do Brasil. A capacidade analítica destas agências é medíocre, mas elas continuam influenciando os mercados.
Nos últimos 12 meses, a relação dívida/PIB saltou quase cinco pontos porcentuais. Parte significativa desse crescimento veio do aumento do custo da própria dívida. Há três razões para isso. A primeira e mais evidente é a própria taxa Selic. Com o fervor dos recém-convertidos, o Banco Central tem praticado taxas de juros crudelíssimas. O subsídio do Tesouro para financiar o BNDES é outro erro do passado que agora cobra seu preço. Por fim, a valorização do dólar tem gerado despesas gigantescas com os swaps cambiais. Apenas em março, mês em que a desvalorização foi mais forte, o custo do swap alcançou R$ 34,5 bilhões, metade do corte do Orçamento retirado a fórceps.
Por outro lado, se a desaceleração dos gastos públicos não é o suficiente para equacionar o problema fiscal, seu impacto sobre as expectativas e o nível de atividade tem sido avassalador. O IBGE prefere destacar o dado dessazonalizado (0,2% de queda), mas sem este filtro o PIB caiu mais de 3% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior. Os investimentos caíram o dobro e registraram o menor nível desde junho de 2010. A indústria de bens de capital não deixou por menos: caiu 14,5% nos 12 meses até abril em relação a igual período anterior. A produção de automóveis nos 12 meses anteriores a abril somou 2,24 milhões de unidades, o menor número desde agosto de 2007. O nível de emprego também foi atingido. Nos últimos 12 meses até abril, 419 mil postos de trabalho foram cancelados, o pior indicador desde 1999. Apenas o setor de construção civil cortou 287 mil vagas, o que indica que o rastilho de pólvora já alcançou a base de eleitores que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff em 2014. A inflação erode os salários e o desemprego avança. Menos pessoas têm emprego e quem tem ganha menos.
Recuperação. Não há por que imaginar uma rápida recuperação. De onde ela viria? O consumo das famílias está exaurido pelo alto endividamento, pela queda real da massa de salários e pela inadimplência. Os gastos do governo, por definição, estarão pressionados pelo corte do Orçamento. Mesmo os Estados e municípios, que não têm compromisso com metas macroeconômicas, sofrem com a queda na arrecadação. Poderíamos crescer pelas exportações, mas não só elas pesam relativamente pouco na economia, como isso exigiria uma nova rodada de desvalorização cambial, o que eleva o custo dos swaps e aumenta o déficit público, como visto.
Sobram os investimentos privados. O mantra oficial é de que a recuperação dos investimentos acontecerá quando o equilíbrio das finanças públicas trouxer de volta a confiança. Confiança é muito, mas não é tudo. É impossível imaginar uma empresa privada tomando decisões de investimento que se desdobram por anos apenas porque o ajuste fiscal supostamente foi feito (e não foi) e porque a dívida pública em relação ao PIB se estabilizou (não estabilizou). Enquanto não houver perspectiva de recuperação do emprego e da renda, o investimento ficará acuado. Para romper este círculo vicioso, o governo conta com um novo programa de concessões. Mas é no mínimo improvável que o sucesso desta rodada seja maior que o modesto programa anterior, até porque os principais atores - as empreiteiras - estão preocupados com sua sobrevivência, e a expansão de suas atividades agora ou não é viável ou não é prioritária.
Por mais importante que seja, o ajuste fiscal hoje interessa a poucos. Todos são a seu favor, desde que o ônus recaia sobre algum outro setor. Todos são a favor, desde que seja rápido e indolor. Todos são a favor, desde que seja apenas o rápido prelúdio de um ciclo vigoroso de crescimento.
Um crescimento econômico vigoroso só será possível quando houver liderança política e disposição da sociedade para pactuar um novo acordo que faça o Estado brasileiro caber dentro do Brasil. Na ausência dessa discussão mais profunda, o que nos aguarda é um longo período de baixo crescimento permeado por crises políticas constantes. Neste contexto, a queda de Levy, o Solitário, será apenas uma consequência tão natural quanto lamentável.
Ufa, ainda bem que passou. Feito o ajuste fiscal, agora cabe esperar pela volta do crescimento econômico, certo? Errado. É nula a probabilidade de que o Brasil possa iniciar no segundo semestre uma recuperação vigorosa. O ajuste fiscal não foi feito. Há medidas paliativas para nos curar da ressaca de 2014, mas nada foi feito para nos livrar do alcoolismo.
As despesas públicas continuam com a tendência de subir a um ritmo superior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que nos conduz ao aumento contínuo da carga tributária. As poucas medidas aprovadas são parciais, insatisfatórias e de má qualidade. Cortam investimentos e seguram gastos na boca do caixa - o que é insustentável a longo prazo. Mas é o ajuste que temos para hoje. É o máximo que a sociedade brasileira está disposta a conceder. É o máximo que o Congresso pode aprovar. A cruzada solitária do ministro Joaquim Levy é suficiente para nos desviar da rota do descalabro que se esboçava em 2014, mas não resolve o grave problema fiscal que teremos, um dia, de enfrentar. Fica para depois.
A meta anunciada para 2015 não será atingida. O resíduo que falta para fechar as contas foi preenchido com uma estimativa de crescimento da receita claramente superestimada. Sem um superávit primário suficiente para fazer frente ao pagamento de juros, a relação dívida/PIB subirá novamente em 2015 e as agências internacionais de rating estão de olho nesse indicador para eventualmente rebaixarem a nota de crédito do Brasil. A capacidade analítica destas agências é medíocre, mas elas continuam influenciando os mercados.
Nos últimos 12 meses, a relação dívida/PIB saltou quase cinco pontos porcentuais. Parte significativa desse crescimento veio do aumento do custo da própria dívida. Há três razões para isso. A primeira e mais evidente é a própria taxa Selic. Com o fervor dos recém-convertidos, o Banco Central tem praticado taxas de juros crudelíssimas. O subsídio do Tesouro para financiar o BNDES é outro erro do passado que agora cobra seu preço. Por fim, a valorização do dólar tem gerado despesas gigantescas com os swaps cambiais. Apenas em março, mês em que a desvalorização foi mais forte, o custo do swap alcançou R$ 34,5 bilhões, metade do corte do Orçamento retirado a fórceps.
Por outro lado, se a desaceleração dos gastos públicos não é o suficiente para equacionar o problema fiscal, seu impacto sobre as expectativas e o nível de atividade tem sido avassalador. O IBGE prefere destacar o dado dessazonalizado (0,2% de queda), mas sem este filtro o PIB caiu mais de 3% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior. Os investimentos caíram o dobro e registraram o menor nível desde junho de 2010. A indústria de bens de capital não deixou por menos: caiu 14,5% nos 12 meses até abril em relação a igual período anterior. A produção de automóveis nos 12 meses anteriores a abril somou 2,24 milhões de unidades, o menor número desde agosto de 2007. O nível de emprego também foi atingido. Nos últimos 12 meses até abril, 419 mil postos de trabalho foram cancelados, o pior indicador desde 1999. Apenas o setor de construção civil cortou 287 mil vagas, o que indica que o rastilho de pólvora já alcançou a base de eleitores que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff em 2014. A inflação erode os salários e o desemprego avança. Menos pessoas têm emprego e quem tem ganha menos.
Recuperação. Não há por que imaginar uma rápida recuperação. De onde ela viria? O consumo das famílias está exaurido pelo alto endividamento, pela queda real da massa de salários e pela inadimplência. Os gastos do governo, por definição, estarão pressionados pelo corte do Orçamento. Mesmo os Estados e municípios, que não têm compromisso com metas macroeconômicas, sofrem com a queda na arrecadação. Poderíamos crescer pelas exportações, mas não só elas pesam relativamente pouco na economia, como isso exigiria uma nova rodada de desvalorização cambial, o que eleva o custo dos swaps e aumenta o déficit público, como visto.
Sobram os investimentos privados. O mantra oficial é de que a recuperação dos investimentos acontecerá quando o equilíbrio das finanças públicas trouxer de volta a confiança. Confiança é muito, mas não é tudo. É impossível imaginar uma empresa privada tomando decisões de investimento que se desdobram por anos apenas porque o ajuste fiscal supostamente foi feito (e não foi) e porque a dívida pública em relação ao PIB se estabilizou (não estabilizou). Enquanto não houver perspectiva de recuperação do emprego e da renda, o investimento ficará acuado. Para romper este círculo vicioso, o governo conta com um novo programa de concessões. Mas é no mínimo improvável que o sucesso desta rodada seja maior que o modesto programa anterior, até porque os principais atores - as empreiteiras - estão preocupados com sua sobrevivência, e a expansão de suas atividades agora ou não é viável ou não é prioritária.
Por mais importante que seja, o ajuste fiscal hoje interessa a poucos. Todos são a seu favor, desde que o ônus recaia sobre algum outro setor. Todos são a favor, desde que seja rápido e indolor. Todos são a favor, desde que seja apenas o rápido prelúdio de um ciclo vigoroso de crescimento.
Um crescimento econômico vigoroso só será possível quando houver liderança política e disposição da sociedade para pactuar um novo acordo que faça o Estado brasileiro caber dentro do Brasil. Na ausência dessa discussão mais profunda, o que nos aguarda é um longo período de baixo crescimento permeado por crises políticas constantes. Neste contexto, a queda de Levy, o Solitário, será apenas uma consequência tão natural quanto lamentável.
Cuspindo no prato em que comeu - VALDO CRUZ
Folha de S.Paulo - 08/06
Dilma, todos sabem, sempre teve uma relação para lá de conflituosa com o seu atual partido, o PT. Só que os dois, hoje, dependem mais do que nunca um do outro para sobreviver à crise atual.
É o que a cúpula do PT, depois de ensaiar torpedear a presidente, com ajuda até do seu criador, Lula, busca convencer petistas às vésperas de mais um Congresso da sigla, que acontece nesta semana na Bahia.
O PT, hoje, não se enxerga no governo Dilma. Algumas alas do partido resistem ao pedido de trégua articulado nos bastidores. Querem bater pesado no rumo adotado no segundo mandato. Para eles, isto sim é que vai causar a ruína do partido.
Engraçado que, no fundo, o que a turma do PT anda fazendo é algo como cuspir no próprio prato que andou comendo e que, sem ele, estaria hoje fora do Palácio do Planalto.
Não fossem a gastança desenfreada do final do primeiro mandato, as tentativas artificiais de segurar a inflação e a concessão generosa de benefícios trabalhistas numa fase de quase pleno emprego, dificilmente Dilma teria sido reeleita.
Só que, agora, é hora de lavar o prato sujo deixado em cima da pia depois da reeleição. Não dá para ignorá-lo. Sua sujeira entupiu os canos da economia. A conta está aí, inflação alta, juros nas alturas, desemprego elevado, país estagnado.
Enquanto a faxina está em curso, Dilma vai tentar reduzir a chiadeira de sua turma dando uma lustrada na casa para torná-la mais atraente. Vai lançar seu novo programa de concessões nesta terça-feira (9).
Aí, as queixas são do setor privado, desconfiado do que será divulgado. Falta crédito, e o empresariado quer saber se a Dilma intervencionista ficará de fora desta vez.
Enfim, a vida da presidente petista não está nada fácil. A economia deve parar de piorar só no segundo semestre. Até lá, o fogo amigo tende a aumentar. Mas não há outra saída a não ser, primeiro, arrumar a bagunça deixada pelo próprio PT.
Dilma, todos sabem, sempre teve uma relação para lá de conflituosa com o seu atual partido, o PT. Só que os dois, hoje, dependem mais do que nunca um do outro para sobreviver à crise atual.
É o que a cúpula do PT, depois de ensaiar torpedear a presidente, com ajuda até do seu criador, Lula, busca convencer petistas às vésperas de mais um Congresso da sigla, que acontece nesta semana na Bahia.
O PT, hoje, não se enxerga no governo Dilma. Algumas alas do partido resistem ao pedido de trégua articulado nos bastidores. Querem bater pesado no rumo adotado no segundo mandato. Para eles, isto sim é que vai causar a ruína do partido.
Engraçado que, no fundo, o que a turma do PT anda fazendo é algo como cuspir no próprio prato que andou comendo e que, sem ele, estaria hoje fora do Palácio do Planalto.
Não fossem a gastança desenfreada do final do primeiro mandato, as tentativas artificiais de segurar a inflação e a concessão generosa de benefícios trabalhistas numa fase de quase pleno emprego, dificilmente Dilma teria sido reeleita.
Só que, agora, é hora de lavar o prato sujo deixado em cima da pia depois da reeleição. Não dá para ignorá-lo. Sua sujeira entupiu os canos da economia. A conta está aí, inflação alta, juros nas alturas, desemprego elevado, país estagnado.
Enquanto a faxina está em curso, Dilma vai tentar reduzir a chiadeira de sua turma dando uma lustrada na casa para torná-la mais atraente. Vai lançar seu novo programa de concessões nesta terça-feira (9).
Aí, as queixas são do setor privado, desconfiado do que será divulgado. Falta crédito, e o empresariado quer saber se a Dilma intervencionista ficará de fora desta vez.
Enfim, a vida da presidente petista não está nada fácil. A economia deve parar de piorar só no segundo semestre. Até lá, o fogo amigo tende a aumentar. Mas não há outra saída a não ser, primeiro, arrumar a bagunça deixada pelo próprio PT.
Estatais sob controle - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 08/06
Até um passado recente, marcas como Petrobras e Correios eram sinônimo de excelência em suas áreas de atuação, com uma qualidade de serviços prestados ao mercado e à sociedade que dava orgulho aos brasileiros. Este tempo se foi.
Transformadas em instrumentos de ação política e servindo prioritariamente a interesses partidários e pessoais, essas e outras empresas estatais tornaram-se, lamentavelmente, exemplos de gestão inepta. Escândalos revelados na Lava Jato mostraram o quanto o debate sobre governança precisa ser aprofundado.
Mais que nunca, é preciso profissionalizar a gestão das empresas públicas. Dentre as propostas que trouxemos para debate na campanha eleitoral, esse tema ocupava lugar de relevância. Infelizmente, não houve interesse do PT em avançar nesse campo.
Na última semana, apresentei um projeto de lei que estabelece requisitos de experiência e aptidão técnica para a ocupação de diretorias e conselhos de administração em empresas estatais e sociedades de economia mista. O projeto elenca ainda uma série de mecanismos obrigatórios de gestão, controle e prestação de contas e condutas éticas.
Na mesma direção, os presidentes da Câmara e do Senado apresentaram iniciativa para ampliar o controle da sociedade sobre a administração estatal. Há um sentimento geral e suprapartidário (do qual o PT se exclui) de que é preciso construir um novo padrão de empresa pública no país.
As estatais representam uma parte importante dos empregos gerados, atuam em serviços essenciais e têm papel estratégico na competitividade geral do país. Não devem servir a governos e partidos políticos, mas à sociedade.
O grupo político no poder foi pródigo no loteamento de cargos públicos e na politização da administração direta e indireta, além de ocupar os fundos de pensão e diversas instâncias gerenciais. Há dezenas de empresas estatais sob controle da União, e nada sabemos sobre como se deu a indicação de seus dirigentes. Ou melhor, sabemos que a carteirinha do PT é mais valiosa que qualquer currículo qualificado.
Basta. É preciso coibir a avidez do governo de plantão e criar mecanismos que preservem as estatais das tentativas de cooptação por interesses político-partidários.
O que precisa ser feito é claro: recrutamento profissional dos dirigentes, transparência na gestão, definição de metas de desempenho, prestação de contas periódicas. Mais meritocracia, menos ingerência política sobre a distribuição de cargos e verbas públicas.
Trata-se de uma mudança cultural expressiva nos moldes da gestão pública praticada no país. É um novo Brasil que precisa se projetar, mais transparente, mais eficiente, que olha para o futuro.
Até um passado recente, marcas como Petrobras e Correios eram sinônimo de excelência em suas áreas de atuação, com uma qualidade de serviços prestados ao mercado e à sociedade que dava orgulho aos brasileiros. Este tempo se foi.
Transformadas em instrumentos de ação política e servindo prioritariamente a interesses partidários e pessoais, essas e outras empresas estatais tornaram-se, lamentavelmente, exemplos de gestão inepta. Escândalos revelados na Lava Jato mostraram o quanto o debate sobre governança precisa ser aprofundado.
Mais que nunca, é preciso profissionalizar a gestão das empresas públicas. Dentre as propostas que trouxemos para debate na campanha eleitoral, esse tema ocupava lugar de relevância. Infelizmente, não houve interesse do PT em avançar nesse campo.
Na última semana, apresentei um projeto de lei que estabelece requisitos de experiência e aptidão técnica para a ocupação de diretorias e conselhos de administração em empresas estatais e sociedades de economia mista. O projeto elenca ainda uma série de mecanismos obrigatórios de gestão, controle e prestação de contas e condutas éticas.
Na mesma direção, os presidentes da Câmara e do Senado apresentaram iniciativa para ampliar o controle da sociedade sobre a administração estatal. Há um sentimento geral e suprapartidário (do qual o PT se exclui) de que é preciso construir um novo padrão de empresa pública no país.
As estatais representam uma parte importante dos empregos gerados, atuam em serviços essenciais e têm papel estratégico na competitividade geral do país. Não devem servir a governos e partidos políticos, mas à sociedade.
O grupo político no poder foi pródigo no loteamento de cargos públicos e na politização da administração direta e indireta, além de ocupar os fundos de pensão e diversas instâncias gerenciais. Há dezenas de empresas estatais sob controle da União, e nada sabemos sobre como se deu a indicação de seus dirigentes. Ou melhor, sabemos que a carteirinha do PT é mais valiosa que qualquer currículo qualificado.
Basta. É preciso coibir a avidez do governo de plantão e criar mecanismos que preservem as estatais das tentativas de cooptação por interesses político-partidários.
O que precisa ser feito é claro: recrutamento profissional dos dirigentes, transparência na gestão, definição de metas de desempenho, prestação de contas periódicas. Mais meritocracia, menos ingerência política sobre a distribuição de cargos e verbas públicas.
Trata-se de uma mudança cultural expressiva nos moldes da gestão pública praticada no país. É um novo Brasil que precisa se projetar, mais transparente, mais eficiente, que olha para o futuro.
Ação contra a letargia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 08/06
O governo federal prepara para amanhã o lançamento de pacote de medidas para infraestrutura e logística. Falta dinheiro público para tocar novas obras, mas o país não pode continuar letárgico. É preciso atrair grupos privados nacionais e estrangeiros e levá-los a investir no Brasil, e, assim, impulsionar o desenvolvimento nacional.
A equipe do ministro Joaquim Levy está diante da difícil tarefa de demonstrar, com muita clareza, que as medidas voltadas à estabilização das contas públicas e as regras para aplicação em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias alicerçam as condições adequadas de investimento com retorno garantido.
Ao contrário do modelo adotado até recentemente, os leilões de concessões deverão ser regidos por normas coerentes com a economia de mercado, em que o Estado não deve tomar decisões pelas empresas. Os lucros não poderão ser limitados, como pretendeu o governo federal até o ano passado. Nem deverá ser exigido dos investidores sociedade com as estatais dos respectivos setores.
As imposições levaram ao fracasso os certames promovidos para recuperação e exploração, por exemplo, de rodovias em Mato Grosso do Sul. Redundaram em fiasco os destinados às ferrovias. Vários projetos nem sequer saíram do papel. Quem, em sã consciência, colocaria dinheiro em projeto para dividir o lucro com empresas governamentais que não emprestaram nenhum esforço para o resultado positivo?
Hoje, a possibilidade de suspensão do crédito fácil e barato, até então ofertado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), é obstáculo a ser contornado. O governo propõe a emissão de debêntures incentivadas pelas empresas e espera que a iniciativa ajude a suprir a necessidade de dinheiro. Não se sabe, por ora, se a opção será suficiente.
Diante das elevadas taxas de juros, entre investir em grandes obras e aplicar em papéis do governo com a certeza de que a remuneração será alta, o empresariado pensará duas vezes antes de abraçar uma obra pública. A confiança que Joaquim Levy inspira, como homem de mercado, não basta.
O pacote deverá ter mecanismos que mitiguem os efeitos dos juros e da inflação altos, a insegurança, o encarecimento do crédito, a impopularidade da presidente. O antídoto são regras claras que restabeleçam a credibilidade no potencial do Brasil como país com perspectivas de crescimento e de retorno aos que nele acreditam.O Congresso Nacional tem papel importante no processo. O conflito permanente com o Executivo reverbera a insegurança e refreia o ânimo dos empresários. O momento exige que a recuperação da economia se sobreponha aos interesses político-partidiários. Em jogo estão o bem-estar da sociedade e a performance da nação frente ao panorama mundial.
O governo federal prepara para amanhã o lançamento de pacote de medidas para infraestrutura e logística. Falta dinheiro público para tocar novas obras, mas o país não pode continuar letárgico. É preciso atrair grupos privados nacionais e estrangeiros e levá-los a investir no Brasil, e, assim, impulsionar o desenvolvimento nacional.
A equipe do ministro Joaquim Levy está diante da difícil tarefa de demonstrar, com muita clareza, que as medidas voltadas à estabilização das contas públicas e as regras para aplicação em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias alicerçam as condições adequadas de investimento com retorno garantido.
Ao contrário do modelo adotado até recentemente, os leilões de concessões deverão ser regidos por normas coerentes com a economia de mercado, em que o Estado não deve tomar decisões pelas empresas. Os lucros não poderão ser limitados, como pretendeu o governo federal até o ano passado. Nem deverá ser exigido dos investidores sociedade com as estatais dos respectivos setores.
As imposições levaram ao fracasso os certames promovidos para recuperação e exploração, por exemplo, de rodovias em Mato Grosso do Sul. Redundaram em fiasco os destinados às ferrovias. Vários projetos nem sequer saíram do papel. Quem, em sã consciência, colocaria dinheiro em projeto para dividir o lucro com empresas governamentais que não emprestaram nenhum esforço para o resultado positivo?
Hoje, a possibilidade de suspensão do crédito fácil e barato, até então ofertado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), é obstáculo a ser contornado. O governo propõe a emissão de debêntures incentivadas pelas empresas e espera que a iniciativa ajude a suprir a necessidade de dinheiro. Não se sabe, por ora, se a opção será suficiente.
Diante das elevadas taxas de juros, entre investir em grandes obras e aplicar em papéis do governo com a certeza de que a remuneração será alta, o empresariado pensará duas vezes antes de abraçar uma obra pública. A confiança que Joaquim Levy inspira, como homem de mercado, não basta.
O pacote deverá ter mecanismos que mitiguem os efeitos dos juros e da inflação altos, a insegurança, o encarecimento do crédito, a impopularidade da presidente. O antídoto são regras claras que restabeleçam a credibilidade no potencial do Brasil como país com perspectivas de crescimento e de retorno aos que nele acreditam.O Congresso Nacional tem papel importante no processo. O conflito permanente com o Executivo reverbera a insegurança e refreia o ânimo dos empresários. O momento exige que a recuperação da economia se sobreponha aos interesses político-partidiários. Em jogo estão o bem-estar da sociedade e a performance da nação frente ao panorama mundial.
Il Padrino (II) - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 08/06
Por que Lula, no segundo semestre de 2006, ouviu sem estranhar o senador Delcídio Amaral (PT-MS) dizer que o publicitário mineiro Marcos Valério queria dinheiro para não contar o que sabia sobre o mensalão - esquema de pagamento de propinas a deputados federais para que votassem como mandava o governo? E, além de não estranhar, por que ainda perguntou assim a Delcídio: "Você falou com Okamotto?"
LULA ESTAVA no seu gabinete de presidente da República no terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio respondeu que não falara com Okamotto. Lula mais não disse e nem Delcídio lhe perguntou. Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Hoje, é o presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.
QUER SABER se Okamotto socorreu Valério, um dos operadores do mensalão junto com Delúbio Soares, na época tesoureiro do PT? Okamotto admite que Valério procurou-o mais de uma vez ao longo da crise do mensalão, mas nega que o ajudou. Quanto a Lula... Nos últimos dez anos se acumularam perguntas que nunca lhe fizeram, e outras às quais ele deu um jeito de não responder.
HOJE, LULA repete que o mensalão jamais existiu. Tudo não passou de uma invenção da direita para destruir seu governo. No máximo, reconhece que o PT cometeu crime de caixa dois - o uso de dinheiro ilegal para pagar despesas de campanha. Com a maioria dos seus ministros nomeada por Lula, o Supremo Tribunal Federal confirmou que o mensalão existiu, sim. Não foi caixa dois.
LULA SEMPRE posou de inocente. E para convencer disso os brasileiros, convocou uma cadeia nacional de rádio e de televisão e pediu desculpas pelo que outros fizeram. Que outros? Não os identificou. Limitou-se a chamá-los de "traidores" Ora, se mais tarde passou a tratar o mensalão como uma "farsa" por que Lula se desculparia por ele? Não faz o menor sentido.
POR DIVERSAS VEZES, advertiram Lula sobre a compra de votos de deputados. A primeira advertência foi do jornalista Carlos Chagas em sua coluna de 28 de fevereiro de 2004 publicada na "Tribuna da Imprensa" Ex-diretor de "O Estado de S. Paulo" em Brasília, Chagas antecipou quase tudo o que Roberto Jefferson (PTB) só denunciaria dali a 16 meses.
ENTREGOU A DUPLA Delúbio-Valério, a agência de Valério amparada por contratos com órgãos públicos no valor aproximado de R$ 150 milhões, e contou que Belo Horizonte funcionava como "uma espécie de caixa central do PT" no caso "até servindo a outros partidos como PP, PL e PTB, cujos emissários não raro deixam o aeroporto da Pampulha com malas recheadas, em espécie"
LULA NÃO LEU a coluna de Chagas? Ninguém com acesso a Lula leu? Ninguém achou que Lula deveria saber o que Chagas sabia com detalhes? Os órgãos de informação do governo não assinavam a "Tribuna da Imprensa"? Nem o "Jornal do Brasil"? Porque em 24 de setembro de 2004, o JB foi o primeiro jornal a falar em "mensalão" Em janeiro de 2005, Jefferson esteve com Lula e também falou.
EM MARÇO, esteve de novo e voltou a falar. O então governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), avisou Lula que o PT oferecia dinheiro para parlamentares trocarem de partido. Lula ouviu em silêncio. Afinal, em junho, Jefferson detonou o escândalo. Lula foi leniente com os mensaleiros? Ou foi cúmplice? Quem mais do que ele se beneficiou com a compra de apoios ao governo?
Por que Lula, no segundo semestre de 2006, ouviu sem estranhar o senador Delcídio Amaral (PT-MS) dizer que o publicitário mineiro Marcos Valério queria dinheiro para não contar o que sabia sobre o mensalão - esquema de pagamento de propinas a deputados federais para que votassem como mandava o governo? E, além de não estranhar, por que ainda perguntou assim a Delcídio: "Você falou com Okamotto?"
LULA ESTAVA no seu gabinete de presidente da República no terceiro andar do Palácio do Planalto. Delcídio respondeu que não falara com Okamotto. Lula mais não disse e nem Delcídio lhe perguntou. Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Hoje, é o presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo.
QUER SABER se Okamotto socorreu Valério, um dos operadores do mensalão junto com Delúbio Soares, na época tesoureiro do PT? Okamotto admite que Valério procurou-o mais de uma vez ao longo da crise do mensalão, mas nega que o ajudou. Quanto a Lula... Nos últimos dez anos se acumularam perguntas que nunca lhe fizeram, e outras às quais ele deu um jeito de não responder.
HOJE, LULA repete que o mensalão jamais existiu. Tudo não passou de uma invenção da direita para destruir seu governo. No máximo, reconhece que o PT cometeu crime de caixa dois - o uso de dinheiro ilegal para pagar despesas de campanha. Com a maioria dos seus ministros nomeada por Lula, o Supremo Tribunal Federal confirmou que o mensalão existiu, sim. Não foi caixa dois.
LULA SEMPRE posou de inocente. E para convencer disso os brasileiros, convocou uma cadeia nacional de rádio e de televisão e pediu desculpas pelo que outros fizeram. Que outros? Não os identificou. Limitou-se a chamá-los de "traidores" Ora, se mais tarde passou a tratar o mensalão como uma "farsa" por que Lula se desculparia por ele? Não faz o menor sentido.
POR DIVERSAS VEZES, advertiram Lula sobre a compra de votos de deputados. A primeira advertência foi do jornalista Carlos Chagas em sua coluna de 28 de fevereiro de 2004 publicada na "Tribuna da Imprensa" Ex-diretor de "O Estado de S. Paulo" em Brasília, Chagas antecipou quase tudo o que Roberto Jefferson (PTB) só denunciaria dali a 16 meses.
ENTREGOU A DUPLA Delúbio-Valério, a agência de Valério amparada por contratos com órgãos públicos no valor aproximado de R$ 150 milhões, e contou que Belo Horizonte funcionava como "uma espécie de caixa central do PT" no caso "até servindo a outros partidos como PP, PL e PTB, cujos emissários não raro deixam o aeroporto da Pampulha com malas recheadas, em espécie"
LULA NÃO LEU a coluna de Chagas? Ninguém com acesso a Lula leu? Ninguém achou que Lula deveria saber o que Chagas sabia com detalhes? Os órgãos de informação do governo não assinavam a "Tribuna da Imprensa"? Nem o "Jornal do Brasil"? Porque em 24 de setembro de 2004, o JB foi o primeiro jornal a falar em "mensalão" Em janeiro de 2005, Jefferson esteve com Lula e também falou.
EM MARÇO, esteve de novo e voltou a falar. O então governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), avisou Lula que o PT oferecia dinheiro para parlamentares trocarem de partido. Lula ouviu em silêncio. Afinal, em junho, Jefferson detonou o escândalo. Lula foi leniente com os mensaleiros? Ou foi cúmplice? Quem mais do que ele se beneficiou com a compra de apoios ao governo?
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
MPF segue o dinheiro e abre caixa preta do BNDES
Para abrir a “caixa preta” do BNDES e investigar minuciosamente mais de 50 contratos, metade deles no exterior, encontrando motivos para os mais de 60 pedidos de prisão de diretores e executivos do banco e de empresários beneficiados por financiamentos, procuradores do MPF (Ministério Público Federal) adotaram a antiga estratégia preconizada por investigadores de crimes financeiros: seguiram o dinheiro.
Dinheiro de graça
Com longo prazo de carência, juros irrisórios e contratos secretos, os financiamentos do BNDES no exterior são considerados irrecusáveis.
Venda casada
O MPF apura se obras com financiamento de pai para filho no exterior foram condicionadas à contratação de empreiteiras como a Odebrecht.
O crime perfeito
Obras bancadas pelo BNDES no exterior não são auditadas no Brasil, nem órgãos de controle como TCU ou MPF podem fiscalizá-las lá fora.
Alma lavada
A devassa do MPF no BNDES lava a alma dos ministros do Tribunal de Contas da União. A caixa preta do banco parecia ter algo a esconder.
Custo das bancadas é alto em qualquer partido
Deputados federais têm até R$ 45 mil por mês de verba indenizatória, valor cedido a cada parlamentar para “compensar” gastos aleatórios. Até maio deste ano, a “cota parlamentar” custou ao contribuinte R$ 46 milhões. As bancadas petista e tucana gastaram R$ 6,4 milhões e R$ 4,3 milhões, respectivamente. Sibá Machado, líder do PT, já pediu R$ 158,1 mil em ressarcimentos e o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), R$ 110,2 mil. O DEM já utilizou R$ 1,9 milhão e PCdoB, R$ 1,3 milhão.
Nos dois lados
O deputado Mendonça Filho (DEM-PE), líder dos democratas, usou R$ 82.329,18; e a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), R$ 97.596,53.
Gastos nanicos
O PEN, formado por apenas dois deputados, gastou R$ 222,6 mil, mais da metade na conta do líder, Júnior Marreca (MA): R$ 139,2 mil.
Na nossa conta
Se o ritmo de gastança da cota continuar, a Câmara vai torrar cerca de R$ 140 milhões até o fim do ano só em gastos aleatórios de deputados.
Pulando do barco
Declarações do governador Geraldo Alckmin (SP) contra o fim da reeleição expõem o desgaste entre deputados e senadores tucanos. Parlamentares começam a abandonar o barco de Aécio Neves.
Também lá
O banqueiro André Esteves enfrenta uma bronca judicial na China. Seu banco BTG Pactual é objeto de carta rogatória recebida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Alto Juizado de Hong Kong.
Ousadia petista
Petistas são ousados, como mostram seus escândalos. Integra agora o Conselho de Recursos da Previdência Complemenar, o “Carf” dos fundos de pensão, Gema de Jesus Ribeiro Martins, mulher de Sérgio Rosa, que presidiu a Previ, o enroladíssimo fundo do Banco do Brasil.
Tá feia coisa
Alô, Banco Central: o banco Santander deve estar com a corda no pescoço. Contratou biroscas de cobrança não para cobrar clientes em atraso, mas para atormentá-los no exato dia do vencimento de boletos.
Conta outra, BB
O Banco do Brasil desocupou um edifício de 20 andares em Brasília e alugou torre inteira em um shopping novo em São Paulo, mas nega planos de esvaziar a sede da Capital. Ninguém acredita em duendes.
Chacrete
Depois do PR lançar o fenômeno puxador de votos Tiririca e o PRB conseguir emplacar Sérgio Reis na Câmara, o PTB já tem uma celebridade para chamar de sua, Rita Cadillac se filiou ao partido.
Lista tríplice
O ex-juiz do TRE-DF Evandro Pertence, filho do ministro Sepúlveda Pertence, a advogada Daniane Maangia Furtado e o próprio ministro Admar Gonzaga, que hoje ocupa a vaga, estarão na lista tríplice para a vaga de ministro-substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Crime hediondo
Está na pauta do plenário, no Senado, o projeto que torna crime hediondo o assassinato de policiais e seus familiares. As penas por lesão corporal grave também serão aumentadas de um a dois terços.
Ele é o cara O escândalo do mensalão completa dez anos, e começou quase simultaneamente ao petrolão. Ambos no primeiro governo Lula
Para abrir a “caixa preta” do BNDES e investigar minuciosamente mais de 50 contratos, metade deles no exterior, encontrando motivos para os mais de 60 pedidos de prisão de diretores e executivos do banco e de empresários beneficiados por financiamentos, procuradores do MPF (Ministério Público Federal) adotaram a antiga estratégia preconizada por investigadores de crimes financeiros: seguiram o dinheiro.
Dinheiro de graça
Com longo prazo de carência, juros irrisórios e contratos secretos, os financiamentos do BNDES no exterior são considerados irrecusáveis.
Venda casada
O MPF apura se obras com financiamento de pai para filho no exterior foram condicionadas à contratação de empreiteiras como a Odebrecht.
O crime perfeito
Obras bancadas pelo BNDES no exterior não são auditadas no Brasil, nem órgãos de controle como TCU ou MPF podem fiscalizá-las lá fora.
Alma lavada
A devassa do MPF no BNDES lava a alma dos ministros do Tribunal de Contas da União. A caixa preta do banco parecia ter algo a esconder.
Custo das bancadas é alto em qualquer partido
Deputados federais têm até R$ 45 mil por mês de verba indenizatória, valor cedido a cada parlamentar para “compensar” gastos aleatórios. Até maio deste ano, a “cota parlamentar” custou ao contribuinte R$ 46 milhões. As bancadas petista e tucana gastaram R$ 6,4 milhões e R$ 4,3 milhões, respectivamente. Sibá Machado, líder do PT, já pediu R$ 158,1 mil em ressarcimentos e o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), R$ 110,2 mil. O DEM já utilizou R$ 1,9 milhão e PCdoB, R$ 1,3 milhão.
Nos dois lados
O deputado Mendonça Filho (DEM-PE), líder dos democratas, usou R$ 82.329,18; e a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), R$ 97.596,53.
Gastos nanicos
O PEN, formado por apenas dois deputados, gastou R$ 222,6 mil, mais da metade na conta do líder, Júnior Marreca (MA): R$ 139,2 mil.
Na nossa conta
Se o ritmo de gastança da cota continuar, a Câmara vai torrar cerca de R$ 140 milhões até o fim do ano só em gastos aleatórios de deputados.
Pulando do barco
Declarações do governador Geraldo Alckmin (SP) contra o fim da reeleição expõem o desgaste entre deputados e senadores tucanos. Parlamentares começam a abandonar o barco de Aécio Neves.
Também lá
O banqueiro André Esteves enfrenta uma bronca judicial na China. Seu banco BTG Pactual é objeto de carta rogatória recebida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Alto Juizado de Hong Kong.
Ousadia petista
Petistas são ousados, como mostram seus escândalos. Integra agora o Conselho de Recursos da Previdência Complemenar, o “Carf” dos fundos de pensão, Gema de Jesus Ribeiro Martins, mulher de Sérgio Rosa, que presidiu a Previ, o enroladíssimo fundo do Banco do Brasil.
Tá feia coisa
Alô, Banco Central: o banco Santander deve estar com a corda no pescoço. Contratou biroscas de cobrança não para cobrar clientes em atraso, mas para atormentá-los no exato dia do vencimento de boletos.
Conta outra, BB
O Banco do Brasil desocupou um edifício de 20 andares em Brasília e alugou torre inteira em um shopping novo em São Paulo, mas nega planos de esvaziar a sede da Capital. Ninguém acredita em duendes.
Chacrete
Depois do PR lançar o fenômeno puxador de votos Tiririca e o PRB conseguir emplacar Sérgio Reis na Câmara, o PTB já tem uma celebridade para chamar de sua, Rita Cadillac se filiou ao partido.
Lista tríplice
O ex-juiz do TRE-DF Evandro Pertence, filho do ministro Sepúlveda Pertence, a advogada Daniane Maangia Furtado e o próprio ministro Admar Gonzaga, que hoje ocupa a vaga, estarão na lista tríplice para a vaga de ministro-substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Crime hediondo
Está na pauta do plenário, no Senado, o projeto que torna crime hediondo o assassinato de policiais e seus familiares. As penas por lesão corporal grave também serão aumentadas de um a dois terços.
Ele é o cara O escândalo do mensalão completa dez anos, e começou quase simultaneamente ao petrolão. Ambos no primeiro governo Lula