O GLOBO - 15/05
Qualquer cidadão com alguma experiência de como funciona a nossa máquina estatal sabe que, quando há risco, sempre há o desvio
Por muitos anos, a Petrobras foi, merecidamente, a rainha das nossas empresas estatais, provando, pelo menos aparentemente, que o poder do Estado podia ser tão eficiente e lucrativo quanto a iniciativa particular.
Foi, mas não é mais. Há um mês, a PwC, empresa encarregada de auditoria no comportamento da empresa, informou, numa reunião do conselho de administração da estatal, que ela ainda não se comportava como deveria, mesmo depois da vergonhosa revelação do escândalo curiosamente batizado como Operação Lava-Jato.
Uma boa ideia sobre o clima doméstico na estatal foi fornecida por um dos conselheiros. Contou que procurara fazer uma denúncia contra um ex-diretor da empresa, Paulo Roberto Costa. A funcionária que o atendeu deu-lhe uma resposta tão simples quanto reveladora: “Pelo amor de Deus, vai embora.”
Na mesma reunião, um representante da PwC informou que os auditores analisaram 1.219 mecanismos de controle da Petrobras, e 131 deles relevaram deficiências “que expõem a empresa a riscos de desvios”. Qualquer cidadão com alguma experiência de como funciona a nossa máquina estatal sabe que, quando há risco, sempre há o desvio.
Esses fatos, tão tristes quanto reveladores da necessidade de providências drásticas pelo Palácio do Planalto, ainda não tiveram resposta do governo. O pessoal da arquibancada tem direito a exigir da presidente do país providências tão imediatas quanto enérgicas.
Convém que esperemos sentados.
sexta-feira, maio 15, 2015
Empreiteiro pode reforçar evidências no petrolão - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 15/05
Vai-se confirmando uma espécie de maldição pela qual toda vez que o PT, e em especial a falange lulopetista, relaxa diante de desdobramentos da Operação Lava-Jato, surgem novos fatos para voltar a preocupar dirigentes, militantes, governo e ex-autoridades.
No final de abril, a decisão, por maioria estreita de votos, da Segunda Turma do Supremo, de relaxar a prisão preventiva de nove donos de empreiteiras e funcionários das empresas implicados no escândalo na Petrobras serviu para aliviar o estado de tensão entre lulopetistas e vizinhos.
Porém, mais uma vez o desafogo não durou muito. Uma das principais causas do desafogo com a saída do grupo das celas de Curitiba para prisão domiciliar foi estar entre os beneficiados o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e Constran, tido como o coordenador do “clube das empreiteiras”, cartel que, por meio de contratos superfaturados assinados com a estatal, ajudou a bombear bilhões dos cofres da estatal para políticos do PT, PP e PMDB. Até um do PSDB, Sérgio Guerra (PE), foi beneficiado.
Os números da empresa de Pessoa atestam fulgurante sucesso: diretor da OAS, outra implicada no petrolão, no começo da década de 90, Ricardo aceitou a oferta da empresa para adquirir a subsidiária UTC, onde trabalhavam 890 funcionários; pouco antes da Lava-Jato, em 2014, a UTC empregava 20 mil, tinha um faturamento de US$ 1,5 bilhão e era considerada uma das dez empresas mais rentáveis do país.
Pois, já em prisão domiciliar, Ricardo Pessoa decidiu fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, assinado quarta-feira, em Brasília, com a participação do próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Volta, assim, a tensão a governistas e lulopetistas.
Os testemunhos de Pessoa, a depender dos quais pode ter punições reduzidas, são considerados valiosos, devido à comentada proximidade do empreiteiro em relação ao presidente Lula, outros petistas graduados e ao governo Dilma. Ricardo Pessoa, pela proeminência entre as empreiteiras, pode ajudar o MP na formulação da denúncia de que muito dinheiro de propinas, geradas nos negócios na Petrobras, foi “legalizado” em doações formais a campanhas de petistas e aliados. O próprio Pessoa, de acordo com a “Folha de S.Paulo”, doou R$ 7 milhões à reeleição de Dilma, com medo de represália a seus negócios com a a Petrobras. Nesse, como em outros casos, PT e Edinho, tesoureiro da campanha e hoje ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo, garantem a legalidade das contribuições.
Mas, pelo visto, este assunto das doações, se foram ou não “lavadas” na Justiça eleitoral, tende a crescer ainda mais com a decisão de Pessoa de aceitar colaborar com as investigações em troca de algum alívio penal.
Vai-se confirmando uma espécie de maldição pela qual toda vez que o PT, e em especial a falange lulopetista, relaxa diante de desdobramentos da Operação Lava-Jato, surgem novos fatos para voltar a preocupar dirigentes, militantes, governo e ex-autoridades.
No final de abril, a decisão, por maioria estreita de votos, da Segunda Turma do Supremo, de relaxar a prisão preventiva de nove donos de empreiteiras e funcionários das empresas implicados no escândalo na Petrobras serviu para aliviar o estado de tensão entre lulopetistas e vizinhos.
Porém, mais uma vez o desafogo não durou muito. Uma das principais causas do desafogo com a saída do grupo das celas de Curitiba para prisão domiciliar foi estar entre os beneficiados o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e Constran, tido como o coordenador do “clube das empreiteiras”, cartel que, por meio de contratos superfaturados assinados com a estatal, ajudou a bombear bilhões dos cofres da estatal para políticos do PT, PP e PMDB. Até um do PSDB, Sérgio Guerra (PE), foi beneficiado.
Os números da empresa de Pessoa atestam fulgurante sucesso: diretor da OAS, outra implicada no petrolão, no começo da década de 90, Ricardo aceitou a oferta da empresa para adquirir a subsidiária UTC, onde trabalhavam 890 funcionários; pouco antes da Lava-Jato, em 2014, a UTC empregava 20 mil, tinha um faturamento de US$ 1,5 bilhão e era considerada uma das dez empresas mais rentáveis do país.
Pois, já em prisão domiciliar, Ricardo Pessoa decidiu fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, assinado quarta-feira, em Brasília, com a participação do próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Volta, assim, a tensão a governistas e lulopetistas.
Os testemunhos de Pessoa, a depender dos quais pode ter punições reduzidas, são considerados valiosos, devido à comentada proximidade do empreiteiro em relação ao presidente Lula, outros petistas graduados e ao governo Dilma. Ricardo Pessoa, pela proeminência entre as empreiteiras, pode ajudar o MP na formulação da denúncia de que muito dinheiro de propinas, geradas nos negócios na Petrobras, foi “legalizado” em doações formais a campanhas de petistas e aliados. O próprio Pessoa, de acordo com a “Folha de S.Paulo”, doou R$ 7 milhões à reeleição de Dilma, com medo de represália a seus negócios com a a Petrobras. Nesse, como em outros casos, PT e Edinho, tesoureiro da campanha e hoje ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo, garantem a legalidade das contribuições.
Mas, pelo visto, este assunto das doações, se foram ou não “lavadas” na Justiça eleitoral, tende a crescer ainda mais com a decisão de Pessoa de aceitar colaborar com as investigações em troca de algum alívio penal.
Desejos perigosos - NELSON MOTTA
O GLOBO - 15/05
Alguém deveria avisar ao PT para tomar cuidado com os seus desejos — porque eles podem se realizar
Não é preciso ser um Lacan do Leblon para saber que o ser humano é uma máquina de desejar. E insaciável: quanto mais come, mais fome tem, muitas vezes nem sabe do quê, mas não para de desejar. Qualquer guru de araque sabe que é aí que nascem todos os nossos sofrimentos. Por não ter, ou não ter mais, pelo medo de perder, pela inveja de quem tem, por não saber o que quer. Movido a desejo, o ser humano atropela leis e éticas, amores e amizades, vergonhas e ridículos, mostrando o que é.
Alguém deveria avisar ao PT para tomar cuidado com os seus desejos — porque eles podem se realizar. Como uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Se Eduardo Cunha, só para sacanear, resolver convocá-la, é óbvio que a maior vítima será o PT, que elegerá uma microbancada do tamanho da popularidade de Dilma. O PMDB, a “direita” e os “conservadores” colocarão as facas e os queijos nas mãos dos ratos para fazerem a reforma que lhes for mais lucrativa.
O PT sempre desejou o financiamento público das campanhas, para ficar com as maiores verbas e manter o poder, mas depois de tudo o que está acontecendo, quem teria a ousadia de pedir mais dinheiro ao contribuinte para financiar as campanhas de partidos que são vistos pela população como balcões de negócios e quadrilhas para assaltar o Estado? Mas como o governo e o Congresso triplicaram os fundos partidários para quase um bilhão de reais por ano e eles ainda contam com o horário “gratuito” de rádio e TV para usar e negociar entre eles, o financiamento público já é uma realidade. Mas eles desejam mais... rsrs
Os que sonham com o impeachment de Dilma devem lembrar que, mesmo se baseado em processos legais legítimos e provas irrefutáveis, provocará traumas e convulsões graves e ruins para todos, dando a Dilma, Lula e o PT o papel de vítimas, e entregando nosso destino a Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Como dizia Paulo Salim Maluf, com seu sotaque inconfundível, não adianta trocar de mosca, precisamos é sair da merda.
Meu maior desejo é desejar cada vez menos e aceitar a vida como ela é. E que Deus tenha piedade do Brasil.
Alguém deveria avisar ao PT para tomar cuidado com os seus desejos — porque eles podem se realizar
Não é preciso ser um Lacan do Leblon para saber que o ser humano é uma máquina de desejar. E insaciável: quanto mais come, mais fome tem, muitas vezes nem sabe do quê, mas não para de desejar. Qualquer guru de araque sabe que é aí que nascem todos os nossos sofrimentos. Por não ter, ou não ter mais, pelo medo de perder, pela inveja de quem tem, por não saber o que quer. Movido a desejo, o ser humano atropela leis e éticas, amores e amizades, vergonhas e ridículos, mostrando o que é.
Alguém deveria avisar ao PT para tomar cuidado com os seus desejos — porque eles podem se realizar. Como uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Se Eduardo Cunha, só para sacanear, resolver convocá-la, é óbvio que a maior vítima será o PT, que elegerá uma microbancada do tamanho da popularidade de Dilma. O PMDB, a “direita” e os “conservadores” colocarão as facas e os queijos nas mãos dos ratos para fazerem a reforma que lhes for mais lucrativa.
O PT sempre desejou o financiamento público das campanhas, para ficar com as maiores verbas e manter o poder, mas depois de tudo o que está acontecendo, quem teria a ousadia de pedir mais dinheiro ao contribuinte para financiar as campanhas de partidos que são vistos pela população como balcões de negócios e quadrilhas para assaltar o Estado? Mas como o governo e o Congresso triplicaram os fundos partidários para quase um bilhão de reais por ano e eles ainda contam com o horário “gratuito” de rádio e TV para usar e negociar entre eles, o financiamento público já é uma realidade. Mas eles desejam mais... rsrs
Os que sonham com o impeachment de Dilma devem lembrar que, mesmo se baseado em processos legais legítimos e provas irrefutáveis, provocará traumas e convulsões graves e ruins para todos, dando a Dilma, Lula e o PT o papel de vítimas, e entregando nosso destino a Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Como dizia Paulo Salim Maluf, com seu sotaque inconfundível, não adianta trocar de mosca, precisamos é sair da merda.
Meu maior desejo é desejar cada vez menos e aceitar a vida como ela é. E que Deus tenha piedade do Brasil.
O cara - ELIANE CANTANHÊDE
O ESTADÃO - 15/05
Para a Polícia Federal, tudo o que sai do padrão tem relevância e é por isso que a ida do doleiro Alberto Youssef ao Maranhão, em pessoa, com uma bolada, é como uma cereja no bolo da Lava Jato. Ele sempre enviava representantes, ou “mulas”, para os demais locais, mas fez questão de ir ele mesmo ao Maranhão e acabou preso justamente em São Luís. Segundo a PF, “aí tem!”.
Mesmo com a delação premiada, mesmo depois de tudo o que o doleiro já contou, mesmo depois de tudo o que se sabe, ainda há muitas dúvidas nas apurações maranhenses e elas podem ganhar um novo sabor, desta vez bem picante, com a novidade desta semana nas investigações: o acordo do empreiteiro Ricardo Pessoa com a Procuradoria-Geral da República.
Ele sabe das coisas envolvendo o Maranhão e, rapidamente, mal chegou, já citou o nome de Edison Lobão. Maranhense, Lobão foi ministro de Minas e Energia – pasta à qual a Petrobrás é vinculada – e só chegou a esse cargo nobre pela íntima ligação com o ex-presidente, ex-governador e ex-senador José Sarney.
Pessoa não é uma pessoa qualquer, um réu entre tantos, um representante a mais de empreiteiras ou só um delator no meio da multidão de delatores. Ele é “o cara”. E, por falar nisso, é próximo amigo do ex-presidente Lula, com quem trocava bem mais do que figurinhas e uns copos de cerveja. Na avaliação dos investigadores, Pessoa conhece as entranhas do poder e é chamado pela força-tarefa da Lava Jato de “chefe do clube”, ou seja, das empreiteiras que tiravam dos cofres da Petrobrás para pôr nas contas de PT, PMDB, PP.
Pessoa está preso desde novembro e agora anda do quarto para a sala e do banheiro para a cozinha de casa com uma tornozeleira. Como PF e Ministério Público imaginavam e os envolvidos temiam, não suportou a tensão psicológica nem a pressão familiar e decidiu bater com a língua nos dentes. A República treme.
Não bastasse, Pessoa entrou em pauta e em evidência num momento péssimo para a presidente Dilma Rousseff. Não só porque ela está com a popularidade no chinelo, mas porque as votações do ajuste fiscal estão na sua etapa mais delicada.
Dilma perdera todas até abril, mas, bem ou mal, vinha vencendo as votações no Congresso em maio: ganhou apertado, mas ganhou na decisão sobre a MP trabalhista; aprovou o nome de Luiz Fachin na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e teve um resultado melhor ainda na votação da MP previdenciária na Câmara. Na trabalhista, 25 votos de diferença; na previdenciária, 99.
Mas alegria de pobre dura pouco e alegria de governo fraco, menos ainda. Na mesma noite de quarta-feira, a Câmara mudou o fator previdenciário. Se Lula nem teve tempo para digerir a delação premiada do amigão Ricardo Pessoa na Lava Jato, Dilma nem pôde curtir a vitória da MP. Ontem, ela foi a Pernambuco remoendo a nova derrota, enquanto Lula e o vice e coordenador político Michel Temer toureavam a base aliada em Brasília. Lula cuidava do Senado, particularmente do rebelde sem causa Renan Calheiros. Temer assistia ao vivo e em cores a guerra interna do PT.
A questão agora é fazer duas contas: a política, somando os infiéis, e a econômica, diminuindo a conta da Previdência Social. O impacto é grande nos dois casos, mas a preocupação imediata é política. Exemplos: no PT, 14 deputados votaram contra o seu próprio governo e, no PDT (que reúne seu diretório hoje), não se vê mais um mísero voto a favor.
A crise, portanto, continua braba e, como tudo o que está ruim, ainda pode piorar. Principalmente se o próprio PT bate de frente com a presidente e o governo pelo desgaste do fator previdenciário. Se a mudança passar, Dilma terá duas opções: chorar sobre o rombo da Previdência ou vetar uma decisão altamente popular do Congresso.
Tudo isso com Ricardo Pessoa ameaçando o sono dos poderosos, inclusive do poderoso-mor: o patrono do governo Dilma.
Para a Polícia Federal, tudo o que sai do padrão tem relevância e é por isso que a ida do doleiro Alberto Youssef ao Maranhão, em pessoa, com uma bolada, é como uma cereja no bolo da Lava Jato. Ele sempre enviava representantes, ou “mulas”, para os demais locais, mas fez questão de ir ele mesmo ao Maranhão e acabou preso justamente em São Luís. Segundo a PF, “aí tem!”.
Mesmo com a delação premiada, mesmo depois de tudo o que o doleiro já contou, mesmo depois de tudo o que se sabe, ainda há muitas dúvidas nas apurações maranhenses e elas podem ganhar um novo sabor, desta vez bem picante, com a novidade desta semana nas investigações: o acordo do empreiteiro Ricardo Pessoa com a Procuradoria-Geral da República.
Ele sabe das coisas envolvendo o Maranhão e, rapidamente, mal chegou, já citou o nome de Edison Lobão. Maranhense, Lobão foi ministro de Minas e Energia – pasta à qual a Petrobrás é vinculada – e só chegou a esse cargo nobre pela íntima ligação com o ex-presidente, ex-governador e ex-senador José Sarney.
Pessoa não é uma pessoa qualquer, um réu entre tantos, um representante a mais de empreiteiras ou só um delator no meio da multidão de delatores. Ele é “o cara”. E, por falar nisso, é próximo amigo do ex-presidente Lula, com quem trocava bem mais do que figurinhas e uns copos de cerveja. Na avaliação dos investigadores, Pessoa conhece as entranhas do poder e é chamado pela força-tarefa da Lava Jato de “chefe do clube”, ou seja, das empreiteiras que tiravam dos cofres da Petrobrás para pôr nas contas de PT, PMDB, PP.
Pessoa está preso desde novembro e agora anda do quarto para a sala e do banheiro para a cozinha de casa com uma tornozeleira. Como PF e Ministério Público imaginavam e os envolvidos temiam, não suportou a tensão psicológica nem a pressão familiar e decidiu bater com a língua nos dentes. A República treme.
Não bastasse, Pessoa entrou em pauta e em evidência num momento péssimo para a presidente Dilma Rousseff. Não só porque ela está com a popularidade no chinelo, mas porque as votações do ajuste fiscal estão na sua etapa mais delicada.
Dilma perdera todas até abril, mas, bem ou mal, vinha vencendo as votações no Congresso em maio: ganhou apertado, mas ganhou na decisão sobre a MP trabalhista; aprovou o nome de Luiz Fachin na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e teve um resultado melhor ainda na votação da MP previdenciária na Câmara. Na trabalhista, 25 votos de diferença; na previdenciária, 99.
Mas alegria de pobre dura pouco e alegria de governo fraco, menos ainda. Na mesma noite de quarta-feira, a Câmara mudou o fator previdenciário. Se Lula nem teve tempo para digerir a delação premiada do amigão Ricardo Pessoa na Lava Jato, Dilma nem pôde curtir a vitória da MP. Ontem, ela foi a Pernambuco remoendo a nova derrota, enquanto Lula e o vice e coordenador político Michel Temer toureavam a base aliada em Brasília. Lula cuidava do Senado, particularmente do rebelde sem causa Renan Calheiros. Temer assistia ao vivo e em cores a guerra interna do PT.
A questão agora é fazer duas contas: a política, somando os infiéis, e a econômica, diminuindo a conta da Previdência Social. O impacto é grande nos dois casos, mas a preocupação imediata é política. Exemplos: no PT, 14 deputados votaram contra o seu próprio governo e, no PDT (que reúne seu diretório hoje), não se vê mais um mísero voto a favor.
A crise, portanto, continua braba e, como tudo o que está ruim, ainda pode piorar. Principalmente se o próprio PT bate de frente com a presidente e o governo pelo desgaste do fator previdenciário. Se a mudança passar, Dilma terá duas opções: chorar sobre o rombo da Previdência ou vetar uma decisão altamente popular do Congresso.
Tudo isso com Ricardo Pessoa ameaçando o sono dos poderosos, inclusive do poderoso-mor: o patrono do governo Dilma.
Calote na educação - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 15/05
O Brasil vive tempos esdrúxulos. Más notícias se sucedem sem intervalos desde que acabou a eleição do ano passado. Não há índice animador. Saúde, educação, segurança, emprego, inflação andam para trás. Como em tsunami incontrolável, as ondas parecem empurrar para irremediável retrocesso as conquistas amealhadas nas últimas décadas.
Entre tantos infortúnios, o mais trágico atinge a educação. O cenário não poderia ser mais sombrio. Além dos problemas crônicos - currículo desatualizado, mão de obra precária, má qualidade do ensino, material didático indigente, aprendizagem insatisfatória, evasão crescente -, novas desditas atingem o setor.
Duas ocuparam o noticiário da semana. Ambas golpeiam projetos que pareciam dar alguma resposta aos gargalos e desafios do ensino superior. Em razão do corte horizontal nos recursos do Orçamento promovido pelo Palácio do Planalto, dois programas sofreram pesado golpe. Bolsistas no Brasil e no exterior viram escorrer pelo ralo investimento de tempo e dinheiro.
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) deixou no caminho 180 mil estudantes. Eles não conseguiram concluir o cadastro no site do MEC, apesar de insistentes tentativas. Liminar concedida pela Justiça de Mato Grosso mandou ampliar o prazo, mas o Tribunal Regional Federal derrubou a obrigatoriedade de prorrogação.
Criado como remédio para vencer o provincianismo da universidade brasileira, o Ciência sem Fronteiras (CsF) impõe aos estudantes situação constrangedora. O atraso nos repasses, além de comprometer a aprendizagem, lhes dificulta a satisfação de necessidades básicas. Muitos não têm dinheiro sequer para se alimentar e locomover.
A situação constrangedora ultrapassou os limites particulares. O Institute of International Education (IIE), que intermedeia o repasse de verbas do programa nos Estados Unidos, encaminhou carta aos jovens em apuros. Sugeriu-lhes que lançassem mão do "jeitinho brasileiro" para responder ao problema. Diante da reação, pediu que desconsiderassem o conselho.
Na Pátria Educadora, slogan lançado no discurso de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff, as palavras não conversam com os atos. A polícia solta cachorros contra manifestação de professores. Docentes estão paralisados em cinco estados. Alunos depredam escolas. Universidades públicas suspendem as aulas por falta de condições de trabalho. Sem conciliar palavras e ação, em vez de educadora, a pátria é madrasta.
O Brasil vive tempos esdrúxulos. Más notícias se sucedem sem intervalos desde que acabou a eleição do ano passado. Não há índice animador. Saúde, educação, segurança, emprego, inflação andam para trás. Como em tsunami incontrolável, as ondas parecem empurrar para irremediável retrocesso as conquistas amealhadas nas últimas décadas.
Entre tantos infortúnios, o mais trágico atinge a educação. O cenário não poderia ser mais sombrio. Além dos problemas crônicos - currículo desatualizado, mão de obra precária, má qualidade do ensino, material didático indigente, aprendizagem insatisfatória, evasão crescente -, novas desditas atingem o setor.
Duas ocuparam o noticiário da semana. Ambas golpeiam projetos que pareciam dar alguma resposta aos gargalos e desafios do ensino superior. Em razão do corte horizontal nos recursos do Orçamento promovido pelo Palácio do Planalto, dois programas sofreram pesado golpe. Bolsistas no Brasil e no exterior viram escorrer pelo ralo investimento de tempo e dinheiro.
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) deixou no caminho 180 mil estudantes. Eles não conseguiram concluir o cadastro no site do MEC, apesar de insistentes tentativas. Liminar concedida pela Justiça de Mato Grosso mandou ampliar o prazo, mas o Tribunal Regional Federal derrubou a obrigatoriedade de prorrogação.
Criado como remédio para vencer o provincianismo da universidade brasileira, o Ciência sem Fronteiras (CsF) impõe aos estudantes situação constrangedora. O atraso nos repasses, além de comprometer a aprendizagem, lhes dificulta a satisfação de necessidades básicas. Muitos não têm dinheiro sequer para se alimentar e locomover.
A situação constrangedora ultrapassou os limites particulares. O Institute of International Education (IIE), que intermedeia o repasse de verbas do programa nos Estados Unidos, encaminhou carta aos jovens em apuros. Sugeriu-lhes que lançassem mão do "jeitinho brasileiro" para responder ao problema. Diante da reação, pediu que desconsiderassem o conselho.
Na Pátria Educadora, slogan lançado no discurso de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff, as palavras não conversam com os atos. A polícia solta cachorros contra manifestação de professores. Docentes estão paralisados em cinco estados. Alunos depredam escolas. Universidades públicas suspendem as aulas por falta de condições de trabalho. Sem conciliar palavras e ação, em vez de educadora, a pátria é madrasta.
Como navegar nos dias de hoje - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 15/05
Para analisar a economia sem se perder, é preciso procurar identificar as tendências de longo prazo
Volto a um tema que tem sido recorrente nas minhas colunas na Folha: como olhar para o futuro em dias de grande turbulência e incertezas como os de hoje?
Uma das alternativas é centrar a atenção nos chamados dados de alta frequência. São informações que aparecem na mídia, quase que diariamente, sobre inflação, resultados fiscais e uma série de outros indicadores econômicos.
Quem escolhe essa forma de acompanhar a economia equipa- ra-se a alguém perdido em uma floresta de eucaliptos, tentando encontrar o caminho de volta, olhando apenas para as árvores. Corre o risco de andar em círculo e, depois de muito esforço, voltar ao início de sua procura.
Outra alternativa é fugir do dia a dia dos canais de informação e procurar identificar as tendências de mais longo prazo que se escondem nos dados de alta frequência. Para tal, o analista precisa desenvolver talentos de outra ordem, que incorporam o conhecimen- to cientifico e a experiência de momentos passados. Essa é a for- ma que tenho procurado exercitar neste confuso período do início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Desde o começo do trabalho do ministro Joaquim Levy, sabíamos que a brusca freada dos gastos do governo --e do crédito dos bancos públicos-- nos levaria a uma recessão econômica. Também estava claro, para os que compreenderam seus objetivos, que haveria uma inflação corretiva no segmento dos preços do setor público e que a desvalorização do real impactaria os preços de uma grande cesta de preços do setor privado.
Respondendo a esse choque inflacionário, o Banco Central tornaria sua política de juros mais altos ainda mais agressiva. Afinal a redução da inflação é uma busca evidente no planejamento do governo para recuperar seus índices de apoio popular.
Como resposta a esse conjunto de medidas, o mercado de trabalho passaria a funcionar com taxas de desemprego bem mais elevadas e com os salários sofrendo perdas reais importantes. Taxas de desemprego muito baixas estavam no centro da aceleração inflacionária dos últimos anos, aliás como ensina a teoria econômica.
Ou seja, um cenário difícil, com as empresas e as instituições financeiras pisando nos breques e reforçando a queda da atividade econômica e dos investimentos. Dois fatores adicionais tornaram o quadro ainda mais perverso: a falta de confiança na perenidade da nova política econômica e o escândalo da Operação Lava Jato.
Vivemos hoje um período em que a credibilidade no novo caminho trilhado pelo governo cresceu bastante. Esse fator faz com que a eficiência das medidas adotadas aumente e a possibilidade do sucesso do ajuste mude de patamar. O observador mais atento já pode sentir essas mudanças ao acompanhar as cotações das ações na Bovespa e a interrupção na histeria em relação à taxa de câmbio.
Mantida a disciplina do governo na implementação do receituário prescrito pelo ministro Levy, acredito que essa melhora nas expectativas deva se manter nos próximos meses e que as previsões para o ano novo, que serão feitas no fim de 2015, serão bem mais positivas ao nível macro.
Para analisar a economia sem se perder, é preciso procurar identificar as tendências de longo prazo
Volto a um tema que tem sido recorrente nas minhas colunas na Folha: como olhar para o futuro em dias de grande turbulência e incertezas como os de hoje?
Uma das alternativas é centrar a atenção nos chamados dados de alta frequência. São informações que aparecem na mídia, quase que diariamente, sobre inflação, resultados fiscais e uma série de outros indicadores econômicos.
Quem escolhe essa forma de acompanhar a economia equipa- ra-se a alguém perdido em uma floresta de eucaliptos, tentando encontrar o caminho de volta, olhando apenas para as árvores. Corre o risco de andar em círculo e, depois de muito esforço, voltar ao início de sua procura.
Outra alternativa é fugir do dia a dia dos canais de informação e procurar identificar as tendências de mais longo prazo que se escondem nos dados de alta frequência. Para tal, o analista precisa desenvolver talentos de outra ordem, que incorporam o conhecimen- to cientifico e a experiência de momentos passados. Essa é a for- ma que tenho procurado exercitar neste confuso período do início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Desde o começo do trabalho do ministro Joaquim Levy, sabíamos que a brusca freada dos gastos do governo --e do crédito dos bancos públicos-- nos levaria a uma recessão econômica. Também estava claro, para os que compreenderam seus objetivos, que haveria uma inflação corretiva no segmento dos preços do setor público e que a desvalorização do real impactaria os preços de uma grande cesta de preços do setor privado.
Respondendo a esse choque inflacionário, o Banco Central tornaria sua política de juros mais altos ainda mais agressiva. Afinal a redução da inflação é uma busca evidente no planejamento do governo para recuperar seus índices de apoio popular.
Como resposta a esse conjunto de medidas, o mercado de trabalho passaria a funcionar com taxas de desemprego bem mais elevadas e com os salários sofrendo perdas reais importantes. Taxas de desemprego muito baixas estavam no centro da aceleração inflacionária dos últimos anos, aliás como ensina a teoria econômica.
Ou seja, um cenário difícil, com as empresas e as instituições financeiras pisando nos breques e reforçando a queda da atividade econômica e dos investimentos. Dois fatores adicionais tornaram o quadro ainda mais perverso: a falta de confiança na perenidade da nova política econômica e o escândalo da Operação Lava Jato.
Vivemos hoje um período em que a credibilidade no novo caminho trilhado pelo governo cresceu bastante. Esse fator faz com que a eficiência das medidas adotadas aumente e a possibilidade do sucesso do ajuste mude de patamar. O observador mais atento já pode sentir essas mudanças ao acompanhar as cotações das ações na Bovespa e a interrupção na histeria em relação à taxa de câmbio.
Mantida a disciplina do governo na implementação do receituário prescrito pelo ministro Levy, acredito que essa melhora nas expectativas deva se manter nos próximos meses e que as previsões para o ano novo, que serão feitas no fim de 2015, serão bem mais positivas ao nível macro.
Lula e FHC. Ou: De Senectude - REINALDO AZEVEDO
Folha de São Paulo - 15/05
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu na terça, dia 12 de maio, em Nova York, o prêmio "Pessoa do Ano", conferido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Fez um discurso duro, mas sereno. A reparação histórica começou, quero crer, mais cedo do que ele imaginava.
A máquina de moer reputações do petismo foi desmoralizada pelos ladrões da Petrobras. A era dita inaugural dos companheiros foi desmascarada pelos juros estratosféricos, pela inflação renitente e pela recessão. É um retrato. O desastre foi meticulosamente engendrado, com uma incompetência fanática.
Ao longo de 12 anos, o PT elegeu como adversário preferencial o que havia de mais moderno nos tucanos: o seu viés –não mais do que viés– liberal. Cavalgando o jumento do nacional-estatismo, a companheirada satanizou à vontade os adversários, desmoralizou-os, acusou-os de inimigos dos pobres.
No discurso que fez nos EUA a uma plateia de 1.200 pessoas, FHC apontou os retrocessos em curso no Brasil, mas recomendou, em seminário no dia seguinte, perseverança e otimismo. No tempo em que sua herança foi enxovalhada pelos governos petistas, nunca perdeu nem serenidade nem bom humor.
Como Cícero recomendava em "De Senectude", FHC, 84 anos no mês que vem, descobriu os prazeres da maturidade. O espírito de alguns livros, de alguns vinhos e, acrescentaria eu, de alguns uísques requer um repertório que é dado pela experiência, não pelo ímpeto. Nota à margem: o próprio Cícero, coitado!, se foi bem antes, aos 63, com cabeça e mãos literalmente cortadas.
E Lula? Ah, Lula... À beira dos 70 anos, poderia ele também estar pacificado. Embora repudie a sua obra, reconheço-lhe a trajetória invulgar. Por que não faz do prateado do rosto e da cabeça o retrato da temperança? Se não o socorre outro saber que não a disputa pelo poder –e assim é por escolha, não por determinação; é ele que foge dos livros, não o contrário–, que as virtudes do conselheiro se sobreponham às do guerreiro. Mas não!
Agora ele anuncia uma cruzada para mobilizar as esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT. A agitação sindical que promove, e não alguma suposta conspiração de Eduardo Cunha, derrotou o governo na votação sobre o fator previdenciário. O chefão petista vaga por aí como alma penada, sem se dar conta de que a sua militância já é coisa do passado. Só sobrevive o que consegue se adaptar às novas circunstâncias; só se conserva o que é capaz de mudar. Não é lei dos homens, mas da natureza.
Fora do poder há 13 anos, mesmo tendo a sua biografia política cotidianamente esmagada pela máquina de propaganda petista, FHC fala a um país nascente. E o faz com discrição e sem pretensões de exercer alguma forma de liderança. Lula, ao contrário, tornou-se apenas um velho reacionário, que busca, desesperadamente, um modo de calar as ruas. Fala à terra dos mortos.
Registro rápido: a investigação de um esquema que é a síntese da forma como o PT capturou o Estado brasileiro tem dois peemedebistas como alvos principais: Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Não há algo de estranho nessa narrativa? E os "spin doctors" do petismo espalham a versão de que é o PMDB quem pretende secar a Lava Jato. Vai ver os companheiros querem investigar tudo, né? A má-fé é uma forma de burrice ou a burrice uma forma de má-fé?
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu na terça, dia 12 de maio, em Nova York, o prêmio "Pessoa do Ano", conferido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Fez um discurso duro, mas sereno. A reparação histórica começou, quero crer, mais cedo do que ele imaginava.
A máquina de moer reputações do petismo foi desmoralizada pelos ladrões da Petrobras. A era dita inaugural dos companheiros foi desmascarada pelos juros estratosféricos, pela inflação renitente e pela recessão. É um retrato. O desastre foi meticulosamente engendrado, com uma incompetência fanática.
Ao longo de 12 anos, o PT elegeu como adversário preferencial o que havia de mais moderno nos tucanos: o seu viés –não mais do que viés– liberal. Cavalgando o jumento do nacional-estatismo, a companheirada satanizou à vontade os adversários, desmoralizou-os, acusou-os de inimigos dos pobres.
No discurso que fez nos EUA a uma plateia de 1.200 pessoas, FHC apontou os retrocessos em curso no Brasil, mas recomendou, em seminário no dia seguinte, perseverança e otimismo. No tempo em que sua herança foi enxovalhada pelos governos petistas, nunca perdeu nem serenidade nem bom humor.
Como Cícero recomendava em "De Senectude", FHC, 84 anos no mês que vem, descobriu os prazeres da maturidade. O espírito de alguns livros, de alguns vinhos e, acrescentaria eu, de alguns uísques requer um repertório que é dado pela experiência, não pelo ímpeto. Nota à margem: o próprio Cícero, coitado!, se foi bem antes, aos 63, com cabeça e mãos literalmente cortadas.
E Lula? Ah, Lula... À beira dos 70 anos, poderia ele também estar pacificado. Embora repudie a sua obra, reconheço-lhe a trajetória invulgar. Por que não faz do prateado do rosto e da cabeça o retrato da temperança? Se não o socorre outro saber que não a disputa pelo poder –e assim é por escolha, não por determinação; é ele que foge dos livros, não o contrário–, que as virtudes do conselheiro se sobreponham às do guerreiro. Mas não!
Agora ele anuncia uma cruzada para mobilizar as esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT. A agitação sindical que promove, e não alguma suposta conspiração de Eduardo Cunha, derrotou o governo na votação sobre o fator previdenciário. O chefão petista vaga por aí como alma penada, sem se dar conta de que a sua militância já é coisa do passado. Só sobrevive o que consegue se adaptar às novas circunstâncias; só se conserva o que é capaz de mudar. Não é lei dos homens, mas da natureza.
Fora do poder há 13 anos, mesmo tendo a sua biografia política cotidianamente esmagada pela máquina de propaganda petista, FHC fala a um país nascente. E o faz com discrição e sem pretensões de exercer alguma forma de liderança. Lula, ao contrário, tornou-se apenas um velho reacionário, que busca, desesperadamente, um modo de calar as ruas. Fala à terra dos mortos.
Registro rápido: a investigação de um esquema que é a síntese da forma como o PT capturou o Estado brasileiro tem dois peemedebistas como alvos principais: Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Não há algo de estranho nessa narrativa? E os "spin doctors" do petismo espalham a versão de que é o PMDB quem pretende secar a Lava Jato. Vai ver os companheiros querem investigar tudo, né? A má-fé é uma forma de burrice ou a burrice uma forma de má-fé?
A visita de Li Keqiang ao Brasil - SERGIO AMARAL
O ESTADÃO - 15/05
Em julho de 2014, o presidente da China, Xi Jinping, visitou o Brasil, acompanhado por uma delegação de vários ministros e mais de 200 empresários. Menos de um ano depois, será a vez do seu primeiro-ministro, Li Keqiang, desembarcar em Brasília, em 18 de maio próximo, à frente de uma missão empresarial integrada por altos dirigentes de algumas das mais destacadas empresas chinesas. Essas duas visitas, por si só, atestam a relevância que a China atribui ao Brasil.
Há sólidas razões para tanto. Primeiro, a economia.
Em pouco mais de uma década, o comércio entre os dois países cresceu quase 20 vezes. Os investimentos diversificaram-se e alcançaram cerca de US$ 28 bilhões.
Agora, a crise econômica e a Operação Lava Jato criaram uma oportunidade para empresas chinesas. Algumas das grandes construtoras brasileiras limitarão suas operações num mercado, o das grandes obras públicas, que até há pouco dominavam. A retração dos financiamentos, por sua vez, poderá induzir a flexibilização das regras de conteúdo nacional para a aquisição de equipamentos. Amplia-se, assim, o espaço para a participação de investidores estrangeiros nas novas concessões para projetos de infraestrutura. Nesse contexto, o investidor chinês encontra-se em posição privilegiada, pois é competitivo na tecnologia, nos equipamentos e no financiamento.
Mas o vigor da relação Brasil-China não se restringe à economia. Está também na política, sobretudo no momento em que a China dá passos firmes para consolidar sua presença e sua influência em escala mundial. Primeiro, pela busca de maior participação nas instâncias de decisão da governança internacional, especialmente nos organismos financeiros. A revisão na ponderação de votos nas instituições de Bretton Woods, no entanto, depois de anos de negociação, não foi ainda ratificada pelo Congresso norte-americano, o que levou o governo de Beijing a estimular a criação de instituições espelho, como o Banco de Desenvolvimento dos Brics e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura. Sem falar na conclusão de dezenas de acordos para a troca de moedas, para facilitar o comércio em moedas locais e preparar o caminho para a internacionalização do yuan.
A ofensiva chinesa no campo dos investimentos externos, estimados em US$ 1,25 trilhão para a próxima década, em várias regiões do mundo, vai aos poucos configurando uma verdadeira geopolítica da infraestrutura. Não se trata apenas da rede tentacular de rodovias, ferrovias e portos, em si, mas da capacidade de atração de novos investimentos e da abertura de mercado para exportações chinesas. Em decorrência da influência política.
Na Ásia o mapa de investimentos impressiona. A Nova Rota da Seda cruzará a Ásia Central e prosseguirá em direção à Europa, criando um cinturão econômico em seu entorno. Ao sul, a Rota Marítima da Seda ligará o Oceano da China do Sul ao Oceano Índico. No sentido norte-sul, uma rodovia e um trem de alta velocidade conectarão a região de Yunnan com a Tailândia, enquanto o Corredor Econômico ligará por rodovia Bangladesh, China, Índia e Mianmar.
Com vista a conter a expansão econômica e a crescente influência política da China no espaço asiático, o governo de Barack Obama (EUA) anunciou em 2012 o chamado pivô para a Ásia, com o objetivo, entre outros, de reforçar as alianças militares e políticas com países na região. Pouco depois, lançou a Parceria Comercial Transpacífica (TTP, em inglês) – da qual a China foi excluída – para consolidar uma zona econômica sob influência americana. Mas esses passos não parecem suficientes, ao ver de analistas e congressistas norte-americanos. Em estudo recente, o Council on Foreign Relations, um dos mais conceituados think tanks norte-americanos, condenou a política de acomodação do governo Obama perante a China e preconizou uma nova estratégia política, militar e econômica para defender “os interesses vitais dos Estados Unidos nessa vasta região”.
De certa maneira e em menor grau, Xi Jinping parece replicar na América do Sul a política norte-americana na Ásia. A presença da China na região já é marcante no comércio e nos investimentos. Em breve passará a ser também na infraestrutura, em decorrência dos acordos que concluiu com a Argentina e do convênio a ser assinado com o Brasil, por ocasião da visita de Li Keqiang, para a construção da via Transoceânica que ligará o Atlântico ao Pacífico, cruzando o Centro-Oeste e o Peru. A provável participação de investimentos chineses na rede de ferrovias – interligadas à Transoceânica – para o escoamento dos grãos produzidos no Centro-Oeste porá as empresas chinesas numa posição privilegiada em todo o complexo soja, pois atuarão na originação do grão, no armazenamento, na logística de transporte, incluídos terminal e porto, exportação e comercialização no mercado chinês.
Brasília joga, assim, ao lado de Beijing em vários dos tabuleiros em que se vai desenhando a emergência da China, econômica primeiro, política em seguida. Defendemos, legitimamente, maior participação dos países emergentes na governança internacional. Somos parceiros na criação de instituições financeiras alternativas. Assinamos acordo de troca de moedas. Estamos associados em projetos estratégicos em nosso subcontinente.
O Brasil tem na China não só um parceiro estratégico, mas um parceiro que tem estratégia. Resta saber se nós também temos uma visão clara de nossos interesses e objetivos, especialmente no momento em que Estados Unidos e China iniciam um capítulo novo de competição mais acirrada por mercados e áreas de influência.
Em julho de 2014, o presidente da China, Xi Jinping, visitou o Brasil, acompanhado por uma delegação de vários ministros e mais de 200 empresários. Menos de um ano depois, será a vez do seu primeiro-ministro, Li Keqiang, desembarcar em Brasília, em 18 de maio próximo, à frente de uma missão empresarial integrada por altos dirigentes de algumas das mais destacadas empresas chinesas. Essas duas visitas, por si só, atestam a relevância que a China atribui ao Brasil.
Há sólidas razões para tanto. Primeiro, a economia.
Em pouco mais de uma década, o comércio entre os dois países cresceu quase 20 vezes. Os investimentos diversificaram-se e alcançaram cerca de US$ 28 bilhões.
Agora, a crise econômica e a Operação Lava Jato criaram uma oportunidade para empresas chinesas. Algumas das grandes construtoras brasileiras limitarão suas operações num mercado, o das grandes obras públicas, que até há pouco dominavam. A retração dos financiamentos, por sua vez, poderá induzir a flexibilização das regras de conteúdo nacional para a aquisição de equipamentos. Amplia-se, assim, o espaço para a participação de investidores estrangeiros nas novas concessões para projetos de infraestrutura. Nesse contexto, o investidor chinês encontra-se em posição privilegiada, pois é competitivo na tecnologia, nos equipamentos e no financiamento.
Mas o vigor da relação Brasil-China não se restringe à economia. Está também na política, sobretudo no momento em que a China dá passos firmes para consolidar sua presença e sua influência em escala mundial. Primeiro, pela busca de maior participação nas instâncias de decisão da governança internacional, especialmente nos organismos financeiros. A revisão na ponderação de votos nas instituições de Bretton Woods, no entanto, depois de anos de negociação, não foi ainda ratificada pelo Congresso norte-americano, o que levou o governo de Beijing a estimular a criação de instituições espelho, como o Banco de Desenvolvimento dos Brics e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura. Sem falar na conclusão de dezenas de acordos para a troca de moedas, para facilitar o comércio em moedas locais e preparar o caminho para a internacionalização do yuan.
A ofensiva chinesa no campo dos investimentos externos, estimados em US$ 1,25 trilhão para a próxima década, em várias regiões do mundo, vai aos poucos configurando uma verdadeira geopolítica da infraestrutura. Não se trata apenas da rede tentacular de rodovias, ferrovias e portos, em si, mas da capacidade de atração de novos investimentos e da abertura de mercado para exportações chinesas. Em decorrência da influência política.
Na Ásia o mapa de investimentos impressiona. A Nova Rota da Seda cruzará a Ásia Central e prosseguirá em direção à Europa, criando um cinturão econômico em seu entorno. Ao sul, a Rota Marítima da Seda ligará o Oceano da China do Sul ao Oceano Índico. No sentido norte-sul, uma rodovia e um trem de alta velocidade conectarão a região de Yunnan com a Tailândia, enquanto o Corredor Econômico ligará por rodovia Bangladesh, China, Índia e Mianmar.
Com vista a conter a expansão econômica e a crescente influência política da China no espaço asiático, o governo de Barack Obama (EUA) anunciou em 2012 o chamado pivô para a Ásia, com o objetivo, entre outros, de reforçar as alianças militares e políticas com países na região. Pouco depois, lançou a Parceria Comercial Transpacífica (TTP, em inglês) – da qual a China foi excluída – para consolidar uma zona econômica sob influência americana. Mas esses passos não parecem suficientes, ao ver de analistas e congressistas norte-americanos. Em estudo recente, o Council on Foreign Relations, um dos mais conceituados think tanks norte-americanos, condenou a política de acomodação do governo Obama perante a China e preconizou uma nova estratégia política, militar e econômica para defender “os interesses vitais dos Estados Unidos nessa vasta região”.
De certa maneira e em menor grau, Xi Jinping parece replicar na América do Sul a política norte-americana na Ásia. A presença da China na região já é marcante no comércio e nos investimentos. Em breve passará a ser também na infraestrutura, em decorrência dos acordos que concluiu com a Argentina e do convênio a ser assinado com o Brasil, por ocasião da visita de Li Keqiang, para a construção da via Transoceânica que ligará o Atlântico ao Pacífico, cruzando o Centro-Oeste e o Peru. A provável participação de investimentos chineses na rede de ferrovias – interligadas à Transoceânica – para o escoamento dos grãos produzidos no Centro-Oeste porá as empresas chinesas numa posição privilegiada em todo o complexo soja, pois atuarão na originação do grão, no armazenamento, na logística de transporte, incluídos terminal e porto, exportação e comercialização no mercado chinês.
Brasília joga, assim, ao lado de Beijing em vários dos tabuleiros em que se vai desenhando a emergência da China, econômica primeiro, política em seguida. Defendemos, legitimamente, maior participação dos países emergentes na governança internacional. Somos parceiros na criação de instituições financeiras alternativas. Assinamos acordo de troca de moedas. Estamos associados em projetos estratégicos em nosso subcontinente.
O Brasil tem na China não só um parceiro estratégico, mas um parceiro que tem estratégia. Resta saber se nós também temos uma visão clara de nossos interesses e objetivos, especialmente no momento em que Estados Unidos e China iniciam um capítulo novo de competição mais acirrada por mercados e áreas de influência.
A importância da credibilidade - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estadão - 15/05
Pode-se governar sem popularidade, mas não se pode governar sem credibilidade. Essa sábia advertência, feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deveria ser anotada com muita atenção pela presidente Dilma Rousseff, caso queira superar a imensa crise em que ela mesma mergulhou seu governo e que ameaça levar consigo todo o País.
Para angariar a simpatia popular, base do projeto de poder lulopetista, a administração de Dilma passou o primeiro mandato recorrendo sistematicamente à malandragem fiscal, para esconder a gastança irracional, e ao populismo barato, para pescar votos de eleitores incautos. No entanto, o resultado desse esforço, todos podem ver, tem sido o exato oposto. Temos um governo fraco, impopular e, o pior de tudo, com escassa credibilidade, que só se mantém graças a um ou dois ministros que Dilma teve de engolir e que a duras penas estão tentando corrigir os inúmeros erros econômicos de sua lavra.
Em sua declaração, feita na última terça-feira ao receber um prêmio da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York, FHC não citou nomes ou partidos, mas lançou uma dura crítica à irresponsabilidade fiscal do atual governo, fazendo uma clara defesa do bom uso do dinheiro público como condição incontornável da recuperação da confiança no Brasil.
No mesmo dia, por coincidência, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um estudo sobre o Brasil em que comenta a “erosão da credibilidade das diretrizes econômicas, em razão da persistente deterioração dos resultados fiscais e da inflação acima da meta”. O desafio da atual equipe econômica, diz o FMI, é justamente, em primeiro lugar, “restaurar a credibilidade e reforçar a confiança nas decisões econômicas”.
Os agentes econômicos dos quais depende a recuperação brasileira, portanto, ainda esperam sinais mais claros de que podem confiar nos compromissos de um governo que se notabilizou por prometer o paraíso e entregar, na melhor das hipóteses, o purgatório. O resultado imediato disso é a crescente dificuldade de Dilma para mobilizar o Congresso e a opinião pública em torno do necessário ajuste nas contas públicas, especialmente porque o discurso de responsabilidade fiscal não fica bem quando pronunciado por uma governante que passou anos a demonizar aqueles que defendem a prudência na gestão econômica. Como salientou FHC, querer o rigor dos orçamentos “passou a ser visto como coisa reacionária” graças ao lulopetismo.
FHC tratou de lembrar que o controle firme das contas públicas é a base sobre a qual se assentou o controle da inflação e, portanto, a estabilidade da economia brasileira. As privatizações, as reformas e o enxugamento da máquina do Estado, promovidos no início dos anos 90, eram a precondição para tirar o Brasil do isolamento e permitir que o País se associasse ao mercado global. “A luta contra a inflação era mais do que um objetivo isolado. Era uma tentativa de colocar o Brasil em compasso com o mundo contemporâneo”, disse FHC, acrescentando que o desprezo pelo setor privado é um “arcaísmo” que se deve não a alguma ideologia progressista, mas sim a “atraso cultural”.
Esse arcaísmo define a natureza do lulopetismo. Na primeira oportunidade que teve, como lembrou FHC, o governo do PT deu “marcha à ré” nos avanços a duras penas conquistados, ao transformar em política permanente o que era para ser apenas um conjunto de medidas temporárias para enfrentar a grande crise mundial de 2008 e 2009. “Paulatinamente fomos voltando à expansão sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas públicas, aos projetos megalômanos que já haviam caracterizado alguns governos do passado”, disse o ex-presidente.
No intervalo de alguns poucos anos, porém, “o castelo de cartas desfez-se ao sopro da realidade”. E, para FHC, todo o esforço das gerações passadas para construir a credibilidade do País, base do progresso econômico, parece agora “desfazer-se no ar”. Restaurar a disciplina nos gastos públicos não é, portanto, uma questão de escolha, e sim um imperativo, para preservar conquistas que não são deste ou daquele partido ou governante, mas do País.
Pode-se governar sem popularidade, mas não se pode governar sem credibilidade. Essa sábia advertência, feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deveria ser anotada com muita atenção pela presidente Dilma Rousseff, caso queira superar a imensa crise em que ela mesma mergulhou seu governo e que ameaça levar consigo todo o País.
Para angariar a simpatia popular, base do projeto de poder lulopetista, a administração de Dilma passou o primeiro mandato recorrendo sistematicamente à malandragem fiscal, para esconder a gastança irracional, e ao populismo barato, para pescar votos de eleitores incautos. No entanto, o resultado desse esforço, todos podem ver, tem sido o exato oposto. Temos um governo fraco, impopular e, o pior de tudo, com escassa credibilidade, que só se mantém graças a um ou dois ministros que Dilma teve de engolir e que a duras penas estão tentando corrigir os inúmeros erros econômicos de sua lavra.
Em sua declaração, feita na última terça-feira ao receber um prêmio da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York, FHC não citou nomes ou partidos, mas lançou uma dura crítica à irresponsabilidade fiscal do atual governo, fazendo uma clara defesa do bom uso do dinheiro público como condição incontornável da recuperação da confiança no Brasil.
No mesmo dia, por coincidência, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um estudo sobre o Brasil em que comenta a “erosão da credibilidade das diretrizes econômicas, em razão da persistente deterioração dos resultados fiscais e da inflação acima da meta”. O desafio da atual equipe econômica, diz o FMI, é justamente, em primeiro lugar, “restaurar a credibilidade e reforçar a confiança nas decisões econômicas”.
Os agentes econômicos dos quais depende a recuperação brasileira, portanto, ainda esperam sinais mais claros de que podem confiar nos compromissos de um governo que se notabilizou por prometer o paraíso e entregar, na melhor das hipóteses, o purgatório. O resultado imediato disso é a crescente dificuldade de Dilma para mobilizar o Congresso e a opinião pública em torno do necessário ajuste nas contas públicas, especialmente porque o discurso de responsabilidade fiscal não fica bem quando pronunciado por uma governante que passou anos a demonizar aqueles que defendem a prudência na gestão econômica. Como salientou FHC, querer o rigor dos orçamentos “passou a ser visto como coisa reacionária” graças ao lulopetismo.
FHC tratou de lembrar que o controle firme das contas públicas é a base sobre a qual se assentou o controle da inflação e, portanto, a estabilidade da economia brasileira. As privatizações, as reformas e o enxugamento da máquina do Estado, promovidos no início dos anos 90, eram a precondição para tirar o Brasil do isolamento e permitir que o País se associasse ao mercado global. “A luta contra a inflação era mais do que um objetivo isolado. Era uma tentativa de colocar o Brasil em compasso com o mundo contemporâneo”, disse FHC, acrescentando que o desprezo pelo setor privado é um “arcaísmo” que se deve não a alguma ideologia progressista, mas sim a “atraso cultural”.
Esse arcaísmo define a natureza do lulopetismo. Na primeira oportunidade que teve, como lembrou FHC, o governo do PT deu “marcha à ré” nos avanços a duras penas conquistados, ao transformar em política permanente o que era para ser apenas um conjunto de medidas temporárias para enfrentar a grande crise mundial de 2008 e 2009. “Paulatinamente fomos voltando à expansão sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas públicas, aos projetos megalômanos que já haviam caracterizado alguns governos do passado”, disse o ex-presidente.
No intervalo de alguns poucos anos, porém, “o castelo de cartas desfez-se ao sopro da realidade”. E, para FHC, todo o esforço das gerações passadas para construir a credibilidade do País, base do progresso econômico, parece agora “desfazer-se no ar”. Restaurar a disciplina nos gastos públicos não é, portanto, uma questão de escolha, e sim um imperativo, para preservar conquistas que não são deste ou daquele partido ou governante, mas do País.
Hora da reforma - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 15/05
A presidente Dilma ganhou uma grande oportunidade de tornar realidade o que a propaganda governista está espalhando pela internet, sintetizado pela retórica tosca do líder do PT, José Guimarães, que disse da tribuna: "A oposição late, e o governo vota".
Diz-se entre os governistas que a presidente Dilma afinal saiu das cordas e está aprovando o reajuste fiscal. E até com relação ao fator previdenciário, que foi flexibilizado por uma votação em que a base do governo mais uma vez desmanchou-se no ar, já há quem queira, como o vice Michel Temer, dizer que o governo não tem nada contra as mudanças.
O fato é que só há uma solução para evitar o aumento do rombo na Previdência que a aprovação da medida provocará: o governo apresentar um novo projeto de reforma da Previdência, tirando as razões de existir do fator previdenciário, aprovado no governo Fernando Henrique como um remendo ao ser impedido, com os votos petistas, de implantar a idade mínima para a aposentadoria.
Se o governo não aprofundar o debate do tema, vai ficar à mercê dessa maioria eventual que surge de vez em quando no plenário da Câmara, sem liderança nem objetivo, reunindo os frustrados em diversos planos, desde os petistas que querem enfraquecer Dilma até os tucanos que têm o mesmo objetivo, por razões diversas.
O que menos conta hoje nas votações da Câmara é o interesse do país. Foi muito estranha a votação de quarta-feira na Câmara. O PSDB votou contra o fator previdenciário, criado no governo FH, embora tenha a explicação de que apenas em alguns casos - que o partido considera extremos, para corrigir distorções - ele deixará de funcionar.
Até mesmo na campanha eleitoral o candidato tucano Aécio Neves prometeu rever o fator previdenciário, que é uma medida que deveria ter sido temporária, mas dentro de uma ampla reforma da Previdência que agora está nas mãos do governo. No final das contas, vai aumentar o gasto público, mas os tucanos alegam que algumas distorções precisavam ser revistas.
Muito mais preocupante foi a traição do PT ao governo Dilma. Não tem explicação. Se o PT não tivesse dissidências, nada seria aprovado. Foi muito mais uma traição do PT ao governo do que do PSDB a seus princípios, dentro da ideia de que foram feitas apenas correções no fator previdenciário.
O perigo de tudo isso é que o governo não tem controle de nada. A Câmara vota o que quer, na hora que quer, e não tem nenhuma coerência. Não há um objetivo claro nas votações, não há quem controle. É muito estranho o que está acontecendo, consequência de um governo sem controles mínimos.
A proposta passou por pequena diferença de 22 votos. Faltaram, portanto, 12 deputados que votassem "não". Na votação da primeira parte do pacote, esses votos a mais vieram da oposição - DEM e PSB -, mas, desta vez, o governo não foi socorrido. Não houve nos partidos da base aliada - PT, PMDB, PCdoB, PP, PSD e PDT - 12 almas caridosas para ajudar o governo.
No PT, nove votaram, e cinco se ausentaram do plenário, como já está virando hábito entre aqueles petistas que, não querendo agravar o governo, não querem também serem vistos como inimigos dos trabalhadores. A dissidência governista foi gigantesca: 12 deputados do PCdoB, 20 do PMDB, 18 do PDT, 17 do PP, e 12 do PSD.
Se quiser sair mesmo das cordas para governar enfim, a presidente Dilma deveria basear seu veto à flexibilização do fator previdenciário numa proposta mais ampla, debatida com os sindicatos e demais organismos interessados na questão.
O Ministro da Previdência, Carlos Gabas, tentou levar a discussão para esse ponto junto à base governista, acenando com uma reforma previdenciária mais adiante, mas não foi ouvido. Está na hora de a presidente Dilma superar o risco de ver um veto seu ser derrubado pelo Congresso, propondo uma ampla discussão sobre o tema.
Mas terá condições políticas para governar?
A presidente Dilma ganhou uma grande oportunidade de tornar realidade o que a propaganda governista está espalhando pela internet, sintetizado pela retórica tosca do líder do PT, José Guimarães, que disse da tribuna: "A oposição late, e o governo vota".
Diz-se entre os governistas que a presidente Dilma afinal saiu das cordas e está aprovando o reajuste fiscal. E até com relação ao fator previdenciário, que foi flexibilizado por uma votação em que a base do governo mais uma vez desmanchou-se no ar, já há quem queira, como o vice Michel Temer, dizer que o governo não tem nada contra as mudanças.
O fato é que só há uma solução para evitar o aumento do rombo na Previdência que a aprovação da medida provocará: o governo apresentar um novo projeto de reforma da Previdência, tirando as razões de existir do fator previdenciário, aprovado no governo Fernando Henrique como um remendo ao ser impedido, com os votos petistas, de implantar a idade mínima para a aposentadoria.
Se o governo não aprofundar o debate do tema, vai ficar à mercê dessa maioria eventual que surge de vez em quando no plenário da Câmara, sem liderança nem objetivo, reunindo os frustrados em diversos planos, desde os petistas que querem enfraquecer Dilma até os tucanos que têm o mesmo objetivo, por razões diversas.
O que menos conta hoje nas votações da Câmara é o interesse do país. Foi muito estranha a votação de quarta-feira na Câmara. O PSDB votou contra o fator previdenciário, criado no governo FH, embora tenha a explicação de que apenas em alguns casos - que o partido considera extremos, para corrigir distorções - ele deixará de funcionar.
Até mesmo na campanha eleitoral o candidato tucano Aécio Neves prometeu rever o fator previdenciário, que é uma medida que deveria ter sido temporária, mas dentro de uma ampla reforma da Previdência que agora está nas mãos do governo. No final das contas, vai aumentar o gasto público, mas os tucanos alegam que algumas distorções precisavam ser revistas.
Muito mais preocupante foi a traição do PT ao governo Dilma. Não tem explicação. Se o PT não tivesse dissidências, nada seria aprovado. Foi muito mais uma traição do PT ao governo do que do PSDB a seus princípios, dentro da ideia de que foram feitas apenas correções no fator previdenciário.
O perigo de tudo isso é que o governo não tem controle de nada. A Câmara vota o que quer, na hora que quer, e não tem nenhuma coerência. Não há um objetivo claro nas votações, não há quem controle. É muito estranho o que está acontecendo, consequência de um governo sem controles mínimos.
A proposta passou por pequena diferença de 22 votos. Faltaram, portanto, 12 deputados que votassem "não". Na votação da primeira parte do pacote, esses votos a mais vieram da oposição - DEM e PSB -, mas, desta vez, o governo não foi socorrido. Não houve nos partidos da base aliada - PT, PMDB, PCdoB, PP, PSD e PDT - 12 almas caridosas para ajudar o governo.
No PT, nove votaram, e cinco se ausentaram do plenário, como já está virando hábito entre aqueles petistas que, não querendo agravar o governo, não querem também serem vistos como inimigos dos trabalhadores. A dissidência governista foi gigantesca: 12 deputados do PCdoB, 20 do PMDB, 18 do PDT, 17 do PP, e 12 do PSD.
Se quiser sair mesmo das cordas para governar enfim, a presidente Dilma deveria basear seu veto à flexibilização do fator previdenciário numa proposta mais ampla, debatida com os sindicatos e demais organismos interessados na questão.
O Ministro da Previdência, Carlos Gabas, tentou levar a discussão para esse ponto junto à base governista, acenando com uma reforma previdenciária mais adiante, mas não foi ouvido. Está na hora de a presidente Dilma superar o risco de ver um veto seu ser derrubado pelo Congresso, propondo uma ampla discussão sobre o tema.
Mas terá condições políticas para governar?
Então o povo emana do poder? - EUGÊNIO BUCCI
REVISTA ÉPOCA
O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido. Por exemplo: não tem presidente da República
Na terça-feira passada, às 8 e meia da noite, quando o Partido dos Trabalhadores ocupou as redes de TV com seu programa de propaganda política, uma pergunta ficou no ar: que país é esse que aparece no vídeo do PT?
Claro, é um país que avança no avanço, uma país avançadíssimo. Na tela eletrônica, a moça bonita de sotaque carioca anuncia: "Finalmente vivemos num país onde as mais justas reivindicações da população passaram a ser as mesmas das democracias mais sólidas do mundo". Ou seja, no proselitismo petista, o Brasil já é de "Primeiro Mundo" no quesito "reivindicações da população". O Brasil pode ficar feliz e satisfeito: se suas soluções ainda não são de "Primeiro Mundo", os seus problemas já são.
Quer dizer que o Brasil ficou igual à França? Quer dizer que no Canadá a polícia cai de pau (e de bala de borracha) em cima de professores que protestam na rua? E os salários dos professores no Brasil são equiparáveis aos dos professores belgas? Então agora, na Noruega, os cidadãos estão preocupados com uma Polícia Militar que mata milhares de jovens negros desarmados todos os anos? Os londrinos enfrentam problemas de filas em hospitais? Os alemães acham que a redução da maioridade penal vai resolver o descalabro da segurança pública?
O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido . Em certos ângulos, é fácil reconhecê-lo. Parece o país de verdade. Em outros enquadramentos, é a própria Terra do Nunca. Por exemplo: o Brasil do PT não tem presidente da República. O filme do PT consegue a proeza inaudita de ser um filme governista e, ao mesmo tempo, falar de um país que não é governado por ninguém (embora, claro, esteja sempre "avançando na direção "correta"). Em seus dez minutos de duração, o programa se dedica a esconder ninguém menos que a chefe de Estado. Chega ao cúmulo de defender mais espaço para a mulher na política sem tocar no nome de Dilma Rousseff.
No lugar de Dilma, quem aparece em close é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O curioso é que Lula não fala como defensor do governo, mas como um líder sindicalista de oposição. Em tom ameaçador, afirma que a mudança da lei que abre espaço para a terceirização de mão de obra colocará o Brasil no mesmo nível em que estava no início do século XX, quando não havia 13-salário. Quer dizer: o Brasil, que não tem presidente da República, só tem um líder, mas de oposição, e o nome desse líder é Lula.
A propaganda petista segue em guerra contra os moinhos do passado. É contra o passado que Lula se insurge. A partir daí, os contrastes entre o hoje um "hoje" publicitário) e o ontem (um "ontem" acusatório, o ontem que é culpa "deles") atingem o clímax. A dona de casa orgulhosa de sua nova sala sorri para as câmeras. O jovem que foi à universidade graças ao PROUNI diz que agora pode sonhar. As meias verdades se põem a serviço das meias mentiras (ou mesmo das mentiras inteiras). Por exemplo: é verdade que, nos governos de Lula, o Brasil melhorou sua distribuição de renda, e isso o filme mostra, mas é verdade, também, que a gestão da política econômica não foi nada bem no governo Dilma, e isso o filme esconde {a ponto de ter de esconder a própria Dilma).
Outra coisa é que, ao que tudo indica, parece que andaram roubando um pouquinho nos governos do PT, mas, quanto a isso, o filme tem outra interpretação, insiste que o PT é o campeão no combate à corrupção. O jovem apresentador faz cara de seríssimo e dispara: "Outra virada histórica do Brasil, tem sido o combate contra a corrupção. E, por mais que alguns setores da imprensa omitam, se você buscar a verdade, vai descobrir que o PT também liderou algumas iniciativas contra a impunidade" Em seguida, uma voz em off garante que antes dos governos do PT o Ministério Público e a Polícia Federal não tinham autonomia para trabalhar, mas agora é diferente.
Conclusão: se hoje há ladrões de dinheiro público batendo ponto na cadeia, agradeça ao PT. Alguns são filiados ao PT? Não ligue. Se forem condenados, serão expulsos, garante a propaganda. Aí você pergunta: mas se vão expulsar os que vierem a ser condenados por crime de corrupção, por que não expulsaram os que já foram condenados? O PT não responde, pois não escuta, assim como não escutou os panelaços durante a exibição de seu programa. Empenhado em inventar seu país publicitário, o partido parece acreditar que será capaz de fabricar, com sua propaganda, um povo crédulo, medroso e obediente. Na TV do PT, não é o poder que emana do povo, mas o povo é quem há de emanar do poder.
O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido. Por exemplo: não tem presidente da República
Na terça-feira passada, às 8 e meia da noite, quando o Partido dos Trabalhadores ocupou as redes de TV com seu programa de propaganda política, uma pergunta ficou no ar: que país é esse que aparece no vídeo do PT?
Claro, é um país que avança no avanço, uma país avançadíssimo. Na tela eletrônica, a moça bonita de sotaque carioca anuncia: "Finalmente vivemos num país onde as mais justas reivindicações da população passaram a ser as mesmas das democracias mais sólidas do mundo". Ou seja, no proselitismo petista, o Brasil já é de "Primeiro Mundo" no quesito "reivindicações da população". O Brasil pode ficar feliz e satisfeito: se suas soluções ainda não são de "Primeiro Mundo", os seus problemas já são.
Quer dizer que o Brasil ficou igual à França? Quer dizer que no Canadá a polícia cai de pau (e de bala de borracha) em cima de professores que protestam na rua? E os salários dos professores no Brasil são equiparáveis aos dos professores belgas? Então agora, na Noruega, os cidadãos estão preocupados com uma Polícia Militar que mata milhares de jovens negros desarmados todos os anos? Os londrinos enfrentam problemas de filas em hospitais? Os alemães acham que a redução da maioridade penal vai resolver o descalabro da segurança pública?
O país da publicidade petista é esquisito, híbrido, torcido e distorcido . Em certos ângulos, é fácil reconhecê-lo. Parece o país de verdade. Em outros enquadramentos, é a própria Terra do Nunca. Por exemplo: o Brasil do PT não tem presidente da República. O filme do PT consegue a proeza inaudita de ser um filme governista e, ao mesmo tempo, falar de um país que não é governado por ninguém (embora, claro, esteja sempre "avançando na direção "correta"). Em seus dez minutos de duração, o programa se dedica a esconder ninguém menos que a chefe de Estado. Chega ao cúmulo de defender mais espaço para a mulher na política sem tocar no nome de Dilma Rousseff.
No lugar de Dilma, quem aparece em close é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O curioso é que Lula não fala como defensor do governo, mas como um líder sindicalista de oposição. Em tom ameaçador, afirma que a mudança da lei que abre espaço para a terceirização de mão de obra colocará o Brasil no mesmo nível em que estava no início do século XX, quando não havia 13-salário. Quer dizer: o Brasil, que não tem presidente da República, só tem um líder, mas de oposição, e o nome desse líder é Lula.
A propaganda petista segue em guerra contra os moinhos do passado. É contra o passado que Lula se insurge. A partir daí, os contrastes entre o hoje um "hoje" publicitário) e o ontem (um "ontem" acusatório, o ontem que é culpa "deles") atingem o clímax. A dona de casa orgulhosa de sua nova sala sorri para as câmeras. O jovem que foi à universidade graças ao PROUNI diz que agora pode sonhar. As meias verdades se põem a serviço das meias mentiras (ou mesmo das mentiras inteiras). Por exemplo: é verdade que, nos governos de Lula, o Brasil melhorou sua distribuição de renda, e isso o filme mostra, mas é verdade, também, que a gestão da política econômica não foi nada bem no governo Dilma, e isso o filme esconde {a ponto de ter de esconder a própria Dilma).
Outra coisa é que, ao que tudo indica, parece que andaram roubando um pouquinho nos governos do PT, mas, quanto a isso, o filme tem outra interpretação, insiste que o PT é o campeão no combate à corrupção. O jovem apresentador faz cara de seríssimo e dispara: "Outra virada histórica do Brasil, tem sido o combate contra a corrupção. E, por mais que alguns setores da imprensa omitam, se você buscar a verdade, vai descobrir que o PT também liderou algumas iniciativas contra a impunidade" Em seguida, uma voz em off garante que antes dos governos do PT o Ministério Público e a Polícia Federal não tinham autonomia para trabalhar, mas agora é diferente.
Conclusão: se hoje há ladrões de dinheiro público batendo ponto na cadeia, agradeça ao PT. Alguns são filiados ao PT? Não ligue. Se forem condenados, serão expulsos, garante a propaganda. Aí você pergunta: mas se vão expulsar os que vierem a ser condenados por crime de corrupção, por que não expulsaram os que já foram condenados? O PT não responde, pois não escuta, assim como não escutou os panelaços durante a exibição de seu programa. Empenhado em inventar seu país publicitário, o partido parece acreditar que será capaz de fabricar, com sua propaganda, um povo crédulo, medroso e obediente. Na TV do PT, não é o poder que emana do povo, mas o povo é quem há de emanar do poder.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Essa é a parte cinza da operação”
Delator Júlio Camargo sobre o destino da propina do lobista Fernando Baiano (PMDB)
PARA LULA E RENAN, DILMA DEVE DEMITIR MERCADANTE
Durante almoço com Lula, em Brasília, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), responsabilizando-o diretamente pelos desacertos que levaram o governo Dilma a derrotas seguidas, em votações no Congresso. Lula concordou com as críticas e a avaliação de Renan e confirmou seu empenho, até hoje inútil, para convencer Dilma a demitir o trapalhão.
GOVERNO SEQUESTRADO
Lula já chegou a afirmar, em reuniões com aliados, que Mercadante “sequestrou o governo”. Para ele, pior foi Dilma aceitar influência dele.
SOLUÇÃO UNÂNIME
Lula se disse ciente de que a saída de Mercadante abriria caminho para um melhor relacionamento com a Câmara de Eduardo Cunha.
‘SABOTAGEM’
Acusado de afastar Dilma de quem ela dê ouvidos, Mercadante estaria empenhado em “sabotar” o trabalho do vice Michel Temer.
APOSTA NO FRACASSO
Mercadante se sentiu “humilhado” ao ser substituído por Michel Temer na articulação política. Por isso torce pelo fracasso da missão do vice.
BAIXA ADESÃO LEVA GREVE NO ITAMARATY AO FRACASSO
A greve no Ministério das Relações Exteriores teve adesão tão baixa que nem sequer suspendeu os serviços em qualquer dos postos diplomáticos mundo afora. Segundo levantamento do Itamaraty, cerca de 150 funcionários em todo o mundo aderiram ao movimento, dos quais apenas quinze são diplomatas. A greve foi mais percebida em Brasília e Nova York, mas sem grandes prejuízos aos serviços.
DESNECESSÁRIA
A greve é considerada “desnecessária” pela cúpula do Itamaraty, que se orgulha de estar empenhada em solucionar os problemas da Casa.
REIVINDICAÇÕES
O Sinditamaraty convocou a greve para exigir auxílio moradia no exterior definida por lei e reenquadramento salarial.
GREVE FRACA
Segundo o sindicato, o MRE aceitou as reivindicações dos diplomatas e oficiais de chancelaria já na terça (12), o que enfraqueceu a greve.
COMOVENTE FIDELIDADE
Ex-presidente da CUT, o deputado Vicentinho (PT-SP) reapareceu na Câmara, esta semana. Ele havia sumido há uns dez dias, para não ter de votar em medida provisória suprimindo benefícios trabalhistas.
DETONANDO A VIÚVA
O governo não fechou a conta da distribuição de cargos. Em troca de apoio ao pacote fiscal, Dilma prometeu entregar uma boquinha a cada deputado por Estado, e duas para cada senador. A firma é rica.
AUSÊNCIA
O PDT já está fora do governo. Na quarta (13), nem se deu ao trabalho de ir à reunião com Michel Temer, no Palácio Jaburu, com os aliados do governo PP, PR e PCdoB. Mandou avisar que votaria contra.
COMO EM DIA DE MUDANÇA
Mais perdido do que no dia em que acusou Renan Calheiros de ser o padrinho do seu amigo Nestor Ceveró, Delcídio Amaral (PT-MS) pegou nova carona com o presidente do Senado para ter acesso a Lula, e pedir orientação para exercer o cargo de líder do governo. Não a teve.
DE SAÍDA DO PT?
O senador Paulo Paim (RS) em rota de colisão com o PT, diz que vai votar contra as MPs 664 e 665, do pacote de maldades do governo. Espera-se que não desapareça do plenário na hora agá, como já o fez.
DEMOROU, MAS CAIU
A Polícia Federal afastou o superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul. Ligado ao PMDB, Francisco Signor é suspeito de interferir na fiscalização de leite adulterado. Ele também é empresário do setor, o que é incompatível com o cargo que ocupava há 12 anos.
TRIBUNA PARA SIMON
Admirador do ex-senador Pedro Simon, o deputado JHC (SD-AL) apresentou requerimento na CPI da Petrobras, da qual é membro, para que o político gaúcho seja convidado a relatar, em audiência pública, sua longa luta por uma CPI das Empreiteiras (ou dos Corruptores).
NOVO PRESIDENTE
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), participa nesta sexta-feira (15) da posse do novo presidente do Banco do Nordeste, Marcos Costa Holanda, que foi por ele indicado.
PODER SEM PUDOR
HISTÓRIA SECRETA DA ECO 92
O Brasil fez esforços de bastidores para garantir o êxito da conferência mundial Eco-92, no Rio. Como no caso do americano George Bush, que não confirmava presença e por isso vários outros dignitários hesitavam. O oceanógrafo francês Jacques Cousteau, que se fizera amigo do então presidente Fernando Collor, advertiu:
- Fernando, olha, se o Bush não vier, isto aqui vai ser um desastre...
- Mas ele tem de vir, comandante...
- Vamos lá, você e eu? - propôs Cousteau.
Collor avisou o Itamaraty que viajaria a Washington e iria direto do aeroporto à Casa Branca. Ficariam plantados em pé, ele e Cousteau, até serem recebidos pelo presidente dos Estados Unidos.
- O senhor me dá 24 horas? - pediu o então chanceler Celso Lafer.
No dia seguinte, o presidente americano confirmaria sua presença.
Delator Júlio Camargo sobre o destino da propina do lobista Fernando Baiano (PMDB)
PARA LULA E RENAN, DILMA DEVE DEMITIR MERCADANTE
Durante almoço com Lula, em Brasília, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), responsabilizando-o diretamente pelos desacertos que levaram o governo Dilma a derrotas seguidas, em votações no Congresso. Lula concordou com as críticas e a avaliação de Renan e confirmou seu empenho, até hoje inútil, para convencer Dilma a demitir o trapalhão.
GOVERNO SEQUESTRADO
Lula já chegou a afirmar, em reuniões com aliados, que Mercadante “sequestrou o governo”. Para ele, pior foi Dilma aceitar influência dele.
SOLUÇÃO UNÂNIME
Lula se disse ciente de que a saída de Mercadante abriria caminho para um melhor relacionamento com a Câmara de Eduardo Cunha.
‘SABOTAGEM’
Acusado de afastar Dilma de quem ela dê ouvidos, Mercadante estaria empenhado em “sabotar” o trabalho do vice Michel Temer.
APOSTA NO FRACASSO
Mercadante se sentiu “humilhado” ao ser substituído por Michel Temer na articulação política. Por isso torce pelo fracasso da missão do vice.
BAIXA ADESÃO LEVA GREVE NO ITAMARATY AO FRACASSO
A greve no Ministério das Relações Exteriores teve adesão tão baixa que nem sequer suspendeu os serviços em qualquer dos postos diplomáticos mundo afora. Segundo levantamento do Itamaraty, cerca de 150 funcionários em todo o mundo aderiram ao movimento, dos quais apenas quinze são diplomatas. A greve foi mais percebida em Brasília e Nova York, mas sem grandes prejuízos aos serviços.
DESNECESSÁRIA
A greve é considerada “desnecessária” pela cúpula do Itamaraty, que se orgulha de estar empenhada em solucionar os problemas da Casa.
REIVINDICAÇÕES
O Sinditamaraty convocou a greve para exigir auxílio moradia no exterior definida por lei e reenquadramento salarial.
GREVE FRACA
Segundo o sindicato, o MRE aceitou as reivindicações dos diplomatas e oficiais de chancelaria já na terça (12), o que enfraqueceu a greve.
COMOVENTE FIDELIDADE
Ex-presidente da CUT, o deputado Vicentinho (PT-SP) reapareceu na Câmara, esta semana. Ele havia sumido há uns dez dias, para não ter de votar em medida provisória suprimindo benefícios trabalhistas.
DETONANDO A VIÚVA
O governo não fechou a conta da distribuição de cargos. Em troca de apoio ao pacote fiscal, Dilma prometeu entregar uma boquinha a cada deputado por Estado, e duas para cada senador. A firma é rica.
AUSÊNCIA
O PDT já está fora do governo. Na quarta (13), nem se deu ao trabalho de ir à reunião com Michel Temer, no Palácio Jaburu, com os aliados do governo PP, PR e PCdoB. Mandou avisar que votaria contra.
COMO EM DIA DE MUDANÇA
Mais perdido do que no dia em que acusou Renan Calheiros de ser o padrinho do seu amigo Nestor Ceveró, Delcídio Amaral (PT-MS) pegou nova carona com o presidente do Senado para ter acesso a Lula, e pedir orientação para exercer o cargo de líder do governo. Não a teve.
DE SAÍDA DO PT?
O senador Paulo Paim (RS) em rota de colisão com o PT, diz que vai votar contra as MPs 664 e 665, do pacote de maldades do governo. Espera-se que não desapareça do plenário na hora agá, como já o fez.
DEMOROU, MAS CAIU
A Polícia Federal afastou o superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul. Ligado ao PMDB, Francisco Signor é suspeito de interferir na fiscalização de leite adulterado. Ele também é empresário do setor, o que é incompatível com o cargo que ocupava há 12 anos.
TRIBUNA PARA SIMON
Admirador do ex-senador Pedro Simon, o deputado JHC (SD-AL) apresentou requerimento na CPI da Petrobras, da qual é membro, para que o político gaúcho seja convidado a relatar, em audiência pública, sua longa luta por uma CPI das Empreiteiras (ou dos Corruptores).
NOVO PRESIDENTE
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), participa nesta sexta-feira (15) da posse do novo presidente do Banco do Nordeste, Marcos Costa Holanda, que foi por ele indicado.
PODER SEM PUDOR
HISTÓRIA SECRETA DA ECO 92
O Brasil fez esforços de bastidores para garantir o êxito da conferência mundial Eco-92, no Rio. Como no caso do americano George Bush, que não confirmava presença e por isso vários outros dignitários hesitavam. O oceanógrafo francês Jacques Cousteau, que se fizera amigo do então presidente Fernando Collor, advertiu:
- Fernando, olha, se o Bush não vier, isto aqui vai ser um desastre...
- Mas ele tem de vir, comandante...
- Vamos lá, você e eu? - propôs Cousteau.
Collor avisou o Itamaraty que viajaria a Washington e iria direto do aeroporto à Casa Branca. Ficariam plantados em pé, ele e Cousteau, até serem recebidos pelo presidente dos Estados Unidos.
- O senhor me dá 24 horas? - pediu o então chanceler Celso Lafer.
No dia seguinte, o presidente americano confirmaria sua presença.