GAZETA DO POVO - PR - 19/12
Por causa do folclore político, são muitas as versões de como a Polícia Federal teria chegado à maior roubalheira da história do Brasil, cujos números fazem da Mega da Virada uma esmola para os trouxas que investiram o FGTS em ações da Petrobras. Numa delas, conta-se que o doleiro Alberto Youssef teria combinado com o falecido deputado José Janene uma estratégia para distribuir entre apadrinhados do governo os recursos não contabilizados da Petrobras: “Vamos fazer o câmbio baseado em santinhos: mil reais, mil santinhos! Quando o companheiro precisar, digamos, de R$ 10 mil para pagar os cabos eleitorais, basta telefonar pedindo 10 mil santinhos, com a segurança de não levantar nenhuma suspeita”.
A estratégia deu certo. Ligava o assessor do candidato de São Paulo: “Estou precisando de 30 mil santinhos!” “Pois não! Por favor, só precisamos do seu endereço. A encomenda será remetida hoje mesmo!”
Com todos os beneficiados já cadastrados, a artimanha funcionou. A Polícia Federal, mesmo na escuta telefônica da central de distribuição de propinas da Petrobras, não tinha como saber que o câmbio estava calçado na farta distribuição de santinhos.
A casa caiu – ou caiu a organização criminosa – quando um deputado de Minas Gerais teria ligado para o falecido José Janene, o distribuidor-mor da República: “De quanto o nobre deputado está precisando para sustentar a campanha?” “Tô necessitado de 200 mil santinhos!” “Não é muito coisa, deputado?” “Uai, a minha base eleitoral é assim mesmo, grande demais da conta!” “Sinto muito, mas a gráfica não tem condições de entregar tudo isso agora. Pra amanhã, só podemos entregar até 50 mil santinhos.” “Então manda tudo o que tiver na mão, sô!” “Vamos remeter 50 mil santinhos num pacote. Por favor, o seu endereço aí em Minas?”
Fez-se um breve silêncio, antes da resposta: “Não precisa endereço, uai! Pode depositar tudo na minha conta do banco!”
E o mineirinho começou a cantar os números da conta corrente, em vão: Janene desligou o telefone no ato.
No leva e traz dos santinhos da Petrobras, conta-se que o ministro da base aliada se encontrou com o deputado derrotado no velório de José Janene. Com os dois lado a lado do caixão, o ex-deputado cobrou do ministro: “Lembra que o senhor me prometeu 300 mil santinhos?” Surpreso, o ministro arrastou o deputado para o cafezinho: “Companheiro, a remessa de santinhos foi despachada!” “Não recebemos!” “Desculpe, deputado: 300 mil santinhos é muita coisa. Não fica perdido na transportadora!” “Ministro, por qual empresa os santinhos foram enviados?”
Depois de um olhar para os lados, conferindo se não estava sendo filmado ou fotografado, o ministro apontou o dedo indicador para o defunto. Os dois se benzeram e a conversa acabou aí.
Terminou em termos – deve continuar perante o juiz.
sexta-feira, dezembro 19, 2014
Os militantes e a síndrome de vitimização - RHODRIGO DEDA
GAZETA DO POVO - PR 19/12
Se há movimentos organizados que poderiam contribuir significativamente para combater a corrupção esses grupos são os que compõem as militâncias dos partidos. Corrupção não tem cor partidária. Não é monopólio de legendas de esquerda ou de direita. O que hoje impressiona é a defesa intransigente e emotiva que se faz dos acusados em escândalos de desvio de recursos públicos.
Isso não é nada saudável para uma democracia. Dificulta o entendimento sobre a necessidade de transparência, fiscalização e punição de corruptos. As defesas emocionais de acusados em escândalos podem sugerir alienação, conivência ou, pior, participação em atos ilegais.
O juiz federal Sérgio Moro vem conduzindo de forma magistral os processos decorrentes da Lava Jato. O trabalho da força tarefa do Ministério Público Federal tem sido exemplar. Essa postura irretocável dificulta que militantes dos partidos envolvidos acusem o juiz e procuradores de serem tendenciosos no julgamento. Espera-se, agora, o mesmo zelo diligente da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal – os órgãos competentes para denunciar e julgar os deputados que estão de algum modo envolvidos no escândalo de desvio de recursos da Petrobras.
A Operação Lava Jato promete abalar grandes partidos em 2015, entre eles o PT, o PMDB e o PP. A sociedade deveria poder contar com os militantes desses partidos para: (a) remover de cargos de lideranças os políticos acusados, até que ocorra o julgamento deles; (b) impedir o surgimento da retórica da vitimização, se forem condenados.
Os cidadãos brasileiros já viram o discurso da vitimização no julgamento do mensalão. Funcionou apenas para parte da militância do PT. Persistir na retórica da perseguição política foi muito ruim para o partido. Isso porque, ao isolar dirigentes partidários envolvidos em escândalos de corrupção, as legendas se fortalecem. Remover os maus elementos é especialmente importante para que das militâncias possam ascender novas lideranças. Permite o surgimento de um novo ciclo de lideranças, mais oxigenadas e conectadas com a sociedade.
Serão os militantes que irão fortalecer os partidos. Eles podem, e devem, ser os indutores das boas práticas na política, da defesa intransigente da democracia e do respeito à coisa pública. A conivência da militância de hoje – seja de direita ou esquerda – é fator que contribui para o sistema permanecer viciado. É o que ajuda a produzir partidos sem programas claros e com fracas lideranças.
Se há movimentos organizados que poderiam contribuir significativamente para combater a corrupção esses grupos são os que compõem as militâncias dos partidos. Corrupção não tem cor partidária. Não é monopólio de legendas de esquerda ou de direita. O que hoje impressiona é a defesa intransigente e emotiva que se faz dos acusados em escândalos de desvio de recursos públicos.
Isso não é nada saudável para uma democracia. Dificulta o entendimento sobre a necessidade de transparência, fiscalização e punição de corruptos. As defesas emocionais de acusados em escândalos podem sugerir alienação, conivência ou, pior, participação em atos ilegais.
O juiz federal Sérgio Moro vem conduzindo de forma magistral os processos decorrentes da Lava Jato. O trabalho da força tarefa do Ministério Público Federal tem sido exemplar. Essa postura irretocável dificulta que militantes dos partidos envolvidos acusem o juiz e procuradores de serem tendenciosos no julgamento. Espera-se, agora, o mesmo zelo diligente da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal – os órgãos competentes para denunciar e julgar os deputados que estão de algum modo envolvidos no escândalo de desvio de recursos da Petrobras.
A Operação Lava Jato promete abalar grandes partidos em 2015, entre eles o PT, o PMDB e o PP. A sociedade deveria poder contar com os militantes desses partidos para: (a) remover de cargos de lideranças os políticos acusados, até que ocorra o julgamento deles; (b) impedir o surgimento da retórica da vitimização, se forem condenados.
Os cidadãos brasileiros já viram o discurso da vitimização no julgamento do mensalão. Funcionou apenas para parte da militância do PT. Persistir na retórica da perseguição política foi muito ruim para o partido. Isso porque, ao isolar dirigentes partidários envolvidos em escândalos de corrupção, as legendas se fortalecem. Remover os maus elementos é especialmente importante para que das militâncias possam ascender novas lideranças. Permite o surgimento de um novo ciclo de lideranças, mais oxigenadas e conectadas com a sociedade.
Serão os militantes que irão fortalecer os partidos. Eles podem, e devem, ser os indutores das boas práticas na política, da defesa intransigente da democracia e do respeito à coisa pública. A conivência da militância de hoje – seja de direita ou esquerda – é fator que contribui para o sistema permanecer viciado. É o que ajuda a produzir partidos sem programas claros e com fracas lideranças.
Afundando por inércia - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 19/12
Desde que Dilma prometeu “muito dinheiro” a quem investisse na Petrobras, o preço das ações caiu pela metade. A paralisia da presidente ajuda a explicar esse derretimento
“Quem investiu na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, prometeu a presidente e então candidata à reeleição Dilma Rousseff em debate na televisão em 19 de outubro. Quem ouviu e acreditou ainda está esperando. As ações da Petrobras têm sido as estrelas da Bovespa nesta semana. Na segunda-feira, caíram 9,20%. As negociações habituais dos papéis da empresa tiveram de ser interrompidas e passaram a ser feitas em forma de leilão, o que só ocorre quando a oscilação nas cotações ultrapassa os 10%, em medida destinada a proteger o mercado contra eventual atuação predatória de especuladores.
Não foi, porém, de responsabilidade de especuladores inescrupulosos a desvalorização dos papéis da Petrobras – na terça-feira, antes de se recuperarem, as ações preferenciais chegaram a ser negociadas a R$ 8,56, o mais baixo patamar desde 2005. Com isso, aquela de quem todos dizíamos ser a maior empresa nacional arrisca perder a posição, o que parecia inimaginável. A responsabilidade pela queda provém de um paradoxo linguístico – provém da irresponsabilidade. Irresponsabilidade com que a estatal vem sendo administrada nos últimos anos, incapaz agora até de apresentar seus balancetes.
Surpreendente seria se as ações estivessem em alta – não falamos de alta num ou noutro dia, mas de alta consistente. Hoje, os papéis da empresa valem a metade do que valiam quando Dilma fez sua promessa na televisão: em 20 de outubro, as ações preferenciais abriram a R$ 18,92; ontem, fecharam a R$ 9,46. Não há como sustentar o valor da Petrobras (ou de qualquer outra empresa de capital aberto que deve respeito aos seus acionistas) se contra ela pesam tantos fatos públicos desabonadores. Já nem há necessidade de fazer referência à sua política de preços, que mantinha remuneração negativa para os derivados entregues aos consumidores. Conceda-se à Petrobras, neste caso, o benefício da compaixão. A empresa teria sido obrigada a isso em razão da política econômica do próprio governo, seu principal acionista, interessado em manter artificialmente a inflação em níveis mais baixos. Entretanto, não é possível manter a mesma visão compassiva diante dos desmandos éticos que contaminaram praticamente todos os negócios e operações da estatal.
Eles foram escancarados pela Operação Lava Jato, que a cada dia nos surpreende com fatos gravíssimos resultantes do conluio sistêmico entre corruptos ativos e passivos, representados pelos que realizavam negócios lucrativos mediante polpuda distribuição de propinas para diretores da Petrobras, políticos e partidos. Até o momento, calcula-se em cerca de R$ 1 bilhão o dinheiro que tomou o caminho de contas no exterior, que financiou campanhas ou que enriqueceu ilicitamente pessoas e grupos organizados.
Tudo em detrimento da boa governança que deveria estar voltada para o cumprimento da atividade-fim da empresa, isto é, de fazê-la ofertar ao país produtos estratégicos para seu desenvolvimento e, consequentemente, garantir rentabilidade que lhe permitisse ampliar investimentos e ganhos minimamente razoáveis e seguros aos seus acionistas. A Operação Lava Jato ainda não mostrou tudo, mas já o suficiente para nos provar, definitivamente, que o modus operandi da Petrobras seguia caminho desonestamente inverso.
Parafraseando Venina Fonseca, a executiva da Petrobras que desde 2009 vinha alertando seus superiores sobre a grossa corrupção que grassava na empresa, o orgulho se transformou em vergonha – a tal ponto que, embora muito séria, soa até como galhofa contra o Brasil a ação movida por investidores norte-americanos que recorreram à Justiça para reclamar as perdas sofridas com a desvalorização de suas aplicações em papéis da nossa petrolífera.
Enquanto isso, presa às suas indecisões ou à teimosia autoritária que lhe é peculiar, a presidente Dilma Rousseff não age para enfrentar a situação vexatória. Mantém-se na defensiva, como que atribuindo aos “golpistas” o desmanche da Petrobras, em vez de, entre outras providências, determinar a imediata substituição da atual diretoria da estatal – sabidamente incapaz ou espertamente desinteressada em fazer a inadiável faxina interna. A atitude que Dilma poderia tomar certamente contribuiria, para dizer o mínimo, para evitar o precipício em que estão caindo as ações da Petrobras.
Desde que Dilma prometeu “muito dinheiro” a quem investisse na Petrobras, o preço das ações caiu pela metade. A paralisia da presidente ajuda a explicar esse derretimento
“Quem investiu na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, prometeu a presidente e então candidata à reeleição Dilma Rousseff em debate na televisão em 19 de outubro. Quem ouviu e acreditou ainda está esperando. As ações da Petrobras têm sido as estrelas da Bovespa nesta semana. Na segunda-feira, caíram 9,20%. As negociações habituais dos papéis da empresa tiveram de ser interrompidas e passaram a ser feitas em forma de leilão, o que só ocorre quando a oscilação nas cotações ultrapassa os 10%, em medida destinada a proteger o mercado contra eventual atuação predatória de especuladores.
Não foi, porém, de responsabilidade de especuladores inescrupulosos a desvalorização dos papéis da Petrobras – na terça-feira, antes de se recuperarem, as ações preferenciais chegaram a ser negociadas a R$ 8,56, o mais baixo patamar desde 2005. Com isso, aquela de quem todos dizíamos ser a maior empresa nacional arrisca perder a posição, o que parecia inimaginável. A responsabilidade pela queda provém de um paradoxo linguístico – provém da irresponsabilidade. Irresponsabilidade com que a estatal vem sendo administrada nos últimos anos, incapaz agora até de apresentar seus balancetes.
Surpreendente seria se as ações estivessem em alta – não falamos de alta num ou noutro dia, mas de alta consistente. Hoje, os papéis da empresa valem a metade do que valiam quando Dilma fez sua promessa na televisão: em 20 de outubro, as ações preferenciais abriram a R$ 18,92; ontem, fecharam a R$ 9,46. Não há como sustentar o valor da Petrobras (ou de qualquer outra empresa de capital aberto que deve respeito aos seus acionistas) se contra ela pesam tantos fatos públicos desabonadores. Já nem há necessidade de fazer referência à sua política de preços, que mantinha remuneração negativa para os derivados entregues aos consumidores. Conceda-se à Petrobras, neste caso, o benefício da compaixão. A empresa teria sido obrigada a isso em razão da política econômica do próprio governo, seu principal acionista, interessado em manter artificialmente a inflação em níveis mais baixos. Entretanto, não é possível manter a mesma visão compassiva diante dos desmandos éticos que contaminaram praticamente todos os negócios e operações da estatal.
Eles foram escancarados pela Operação Lava Jato, que a cada dia nos surpreende com fatos gravíssimos resultantes do conluio sistêmico entre corruptos ativos e passivos, representados pelos que realizavam negócios lucrativos mediante polpuda distribuição de propinas para diretores da Petrobras, políticos e partidos. Até o momento, calcula-se em cerca de R$ 1 bilhão o dinheiro que tomou o caminho de contas no exterior, que financiou campanhas ou que enriqueceu ilicitamente pessoas e grupos organizados.
Tudo em detrimento da boa governança que deveria estar voltada para o cumprimento da atividade-fim da empresa, isto é, de fazê-la ofertar ao país produtos estratégicos para seu desenvolvimento e, consequentemente, garantir rentabilidade que lhe permitisse ampliar investimentos e ganhos minimamente razoáveis e seguros aos seus acionistas. A Operação Lava Jato ainda não mostrou tudo, mas já o suficiente para nos provar, definitivamente, que o modus operandi da Petrobras seguia caminho desonestamente inverso.
Parafraseando Venina Fonseca, a executiva da Petrobras que desde 2009 vinha alertando seus superiores sobre a grossa corrupção que grassava na empresa, o orgulho se transformou em vergonha – a tal ponto que, embora muito séria, soa até como galhofa contra o Brasil a ação movida por investidores norte-americanos que recorreram à Justiça para reclamar as perdas sofridas com a desvalorização de suas aplicações em papéis da nossa petrolífera.
Enquanto isso, presa às suas indecisões ou à teimosia autoritária que lhe é peculiar, a presidente Dilma Rousseff não age para enfrentar a situação vexatória. Mantém-se na defensiva, como que atribuindo aos “golpistas” o desmanche da Petrobras, em vez de, entre outras providências, determinar a imediata substituição da atual diretoria da estatal – sabidamente incapaz ou espertamente desinteressada em fazer a inadiável faxina interna. A atitude que Dilma poderia tomar certamente contribuiria, para dizer o mínimo, para evitar o precipício em que estão caindo as ações da Petrobras.
O que esperamos para 2015 - RENATO ALVES
CORREIO BRAZILIENSE - 19/12
Diante da maior crise financeira do GDF, não nos resta esperar muito do primeiro ano da nova administração a não ser austeridade. E, diante do que testemunhou e sofreu nos últimos 20 anos, em meio a escândalos que deram razão aos preconceitos nacionais, a população brasiliense pede pouco para os próximos quatro anos àqueles que assumem o Palácio do Buriti a partir de 1º de janeiro.
Não queremos obras faraônicas ou monumentos. Apenas conservem e, se possível, tornem menos onerosos aqueles que herdaram. Como a arena de futebol, que era para ter um selo verde e parou em um inacabado entorno e uma administração cada dia mais custosa.
Não queremos um novo modelo de transporte público, que exige mais alguns milhões em viagens de comitivas à Europa e em projetos de viabilidade. Façam apenas funcionar o já existente. Tornem realidade a ficção da integração, anunciada por meio dos painéis fixados nos ônibus há uma década.
Não construam mais corredores exclusivos. Só nos livrem da vergonha de ter inúteis abrigos para passageiros no canteiro central da EPTG por não termos veículos com portas na lateral esquerda. Façam valer a autoridade de vossas senhorias e tomem as rédeas do sistema de transporte coletivo para que o Estado controle a operação do BRT e dos demais modelos.
Não construam mais unidades de saúde. Mantenham as prontas ocupadas por profissionais da saúde, com os importados e milionários equipamentos adquiridos e hoje encaixotados. Também mantenham em dia os estoques de medicamentos, comprando os itens antes que eles acabem.
Não precisamos de mais concursos para policiais militares. Muito menos mais quartéis, mais carros. É necessário apenas um comando de pulso, que tire dos gabinetes milhares de agentes formados e pagos para fazer o policiamento ostensivo. E alguém com uma ideia para dar uma digna destinação aos famigerados postos comunitários ainda poupados pelo abandono e pelos ataques criminosos.
Não queremos mais festas milionárias nas administrações regionais. Mas que as dezenas de parques públicos existentes apenas no papel virem realidade, com pequenas intervenções, pequenos investimentos, como pistas de caminhada e brinquedos para a criançada.
Enfim, apenas façam funcionar como foi planejada a cidade pensada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer e construída por Juscelino Kubitschek.
Diante da maior crise financeira do GDF, não nos resta esperar muito do primeiro ano da nova administração a não ser austeridade. E, diante do que testemunhou e sofreu nos últimos 20 anos, em meio a escândalos que deram razão aos preconceitos nacionais, a população brasiliense pede pouco para os próximos quatro anos àqueles que assumem o Palácio do Buriti a partir de 1º de janeiro.
Não queremos obras faraônicas ou monumentos. Apenas conservem e, se possível, tornem menos onerosos aqueles que herdaram. Como a arena de futebol, que era para ter um selo verde e parou em um inacabado entorno e uma administração cada dia mais custosa.
Não queremos um novo modelo de transporte público, que exige mais alguns milhões em viagens de comitivas à Europa e em projetos de viabilidade. Façam apenas funcionar o já existente. Tornem realidade a ficção da integração, anunciada por meio dos painéis fixados nos ônibus há uma década.
Não construam mais corredores exclusivos. Só nos livrem da vergonha de ter inúteis abrigos para passageiros no canteiro central da EPTG por não termos veículos com portas na lateral esquerda. Façam valer a autoridade de vossas senhorias e tomem as rédeas do sistema de transporte coletivo para que o Estado controle a operação do BRT e dos demais modelos.
Não construam mais unidades de saúde. Mantenham as prontas ocupadas por profissionais da saúde, com os importados e milionários equipamentos adquiridos e hoje encaixotados. Também mantenham em dia os estoques de medicamentos, comprando os itens antes que eles acabem.
Não precisamos de mais concursos para policiais militares. Muito menos mais quartéis, mais carros. É necessário apenas um comando de pulso, que tire dos gabinetes milhares de agentes formados e pagos para fazer o policiamento ostensivo. E alguém com uma ideia para dar uma digna destinação aos famigerados postos comunitários ainda poupados pelo abandono e pelos ataques criminosos.
Não queremos mais festas milionárias nas administrações regionais. Mas que as dezenas de parques públicos existentes apenas no papel virem realidade, com pequenas intervenções, pequenos investimentos, como pistas de caminhada e brinquedos para a criançada.
Enfim, apenas façam funcionar como foi planejada a cidade pensada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer e construída por Juscelino Kubitschek.
Impropriedades - BERNARDO MELLO FRANCO
FOLHA DE SP - 19/12
BRASÍLIA - Lula voltou ontem ao Ministério da Justiça. O órgão comanda a Polícia Federal, que apura o saque aos cofres da Petrobras. Como a maior parte dos desvios ocorreu durante seu governo, seria natural que o ex-presidente colaborasse com as investigações. Não foi o caso: ele estava lá para ser homenageado e ganhar uma medalhinha do ministro José Eduardo Cardozo.
Nas solenidades oficiais, o último discurso costuma ser feito pela principal autoridade presente. O presidente do supremo tribunal Federal, chefe do Poder Judiciário, estava à mesa. O ministro da Justiça, anfitrião da cerimônia, também. Mas o cerimonial da casa reservou a palavra final a Lula, que não exerce função pública há três anos e 11 meses.
Quando o condecorado foi chamado ao microfone, uma mulher na plateia gritou "2018". Como a presidente Dilma Rousseff seria diplomada horas depois para o segundo mandato, o antecessor deveria reafirmar sua autoridade e repreender a manifestação. Lula ficou em silêncio, o que encorajou a militante a continuar até chamá-lo de "rei do Brasil".
As impropriedades ajudam a entender o espírito do tempo em Brasília, mas perdem importância diante do discurso do ex-presidente. Com dezenas de aliados na mira da Operação Lava Jato, ele preferiu recorrer ao truque de sempre: atacar a imprensa e vitimizar os investigados.
Condenou o "vazamento seletivo" de investigações, reclamou de "linchamento midiático" e acusou jornalistas de fazerem "tábula rasa de sagrados princípios do Estado de Direito" ao noticiar casos de corrupção. Sobre os acusados de dilapidar a Petrobras, inclusive os que já confessaram seus crimes, nenhuma palavra.
"É preciso proibir que os ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que eletivo. Foi um erro que cometi ter voltado", disse ontem o senador José Sarney. Nunca foi tão fácil concordar com ele.
BRASÍLIA - Lula voltou ontem ao Ministério da Justiça. O órgão comanda a Polícia Federal, que apura o saque aos cofres da Petrobras. Como a maior parte dos desvios ocorreu durante seu governo, seria natural que o ex-presidente colaborasse com as investigações. Não foi o caso: ele estava lá para ser homenageado e ganhar uma medalhinha do ministro José Eduardo Cardozo.
Nas solenidades oficiais, o último discurso costuma ser feito pela principal autoridade presente. O presidente do supremo tribunal Federal, chefe do Poder Judiciário, estava à mesa. O ministro da Justiça, anfitrião da cerimônia, também. Mas o cerimonial da casa reservou a palavra final a Lula, que não exerce função pública há três anos e 11 meses.
Quando o condecorado foi chamado ao microfone, uma mulher na plateia gritou "2018". Como a presidente Dilma Rousseff seria diplomada horas depois para o segundo mandato, o antecessor deveria reafirmar sua autoridade e repreender a manifestação. Lula ficou em silêncio, o que encorajou a militante a continuar até chamá-lo de "rei do Brasil".
As impropriedades ajudam a entender o espírito do tempo em Brasília, mas perdem importância diante do discurso do ex-presidente. Com dezenas de aliados na mira da Operação Lava Jato, ele preferiu recorrer ao truque de sempre: atacar a imprensa e vitimizar os investigados.
Condenou o "vazamento seletivo" de investigações, reclamou de "linchamento midiático" e acusou jornalistas de fazerem "tábula rasa de sagrados princípios do Estado de Direito" ao noticiar casos de corrupção. Sobre os acusados de dilapidar a Petrobras, inclusive os que já confessaram seus crimes, nenhuma palavra.
"É preciso proibir que os ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que eletivo. Foi um erro que cometi ter voltado", disse ontem o senador José Sarney. Nunca foi tão fácil concordar com ele.
A vez dos políticos - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/12
O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no supremo tribunal Federal(STF), vai homologar hoje, último dia antes do recesso da Justiça, a delação premiada do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de fraudes na Petrobras. E pode surpreender determinando a imediata abertura do inquérito contra os parlamentares envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras.
Isso significa que ele considerou consistente o depoimento do doleiro, que já lhe foi enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com o relato das fraudes e a lista de políticos, empreiteiros e funcionários públicos, na maioria da Petrobras, envolvidos no esquema. A lista dos políticos tem 30 deputados e 6 senadores, todos com foro privilegiado no momento. Os que não se reelegeram ou não concorreram nas últimas eleições serão enviados para a Ia instância da Justiça Federal em Curitiba, onde atua o juiz Sérgio Moro, que coordena a Operação Lava-Jato.
O Supremo confirmou recentemente que o foro adequado para os envolvidos no processo sobre o esquema de corrupção da Petrobras que não têm prerrogativa de função é a Justiça Federal no Paraná, sob a coordenação do juiz Moro, um especialista em processos sobre lavagem de dinheiro, que advogados de muitos dos executivos das empreiteiras envolvidos no escândalo queriam evitar, transferindo o processo para o Rio ou São Paulo, alegando que a sede das empresas deveria ser o foro escolhido.
O juiz Sérgio Moro já atuou no processo do mensalão como assessor da ministra do STF Rosa Weber, e ganhou experiência nesse tipo de caso. Ao contrário do que aconteceu no julgamento do mensalão, nesse processo os casos serão separados, com os acusados que não têm foro privilegiado sendo tratados pela Justiça de Ia instância no Paraná.
A partir da decisão de Zavascki, de pedir a abertura do inquérito, os nomes dos parlamentares envolvidos poderão ser divulgados. O fato de Zavascki homologar a delação premiada poucos dias depois de tê-la recebido do procurador-geral da República, e talvez até mesmo já abrir o inquérito, indica que todos os passos do processo estão sendo dados com a maior cautela e, ao mesmo tempo, os que dele cuidam estão empenhados em dar velocidade às apurações. Zavascki poderia ter deixado para fevereiro, na volta do recesso, para homologar a delação de Youssef, mas aceitando-a no último dia de trabalho da Justiça antes do recesso está dando uma sinalização de que pretende que o caso seja tocado com a rapidez possível em nosso sistema judicial.
Além disso, homologar a delação premiada significa que a Justiça considerou comprovadas as denúncias apresentadas, e o delator poderá com isso ser liberado do regime fechado e passar ao de prisão domiciliar, como já acontece com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A Justiça tem também condições de cruzar as informações dos diversos envolvidos que aderiram à delação premiada paia constatar a veracidade das acusações.
A função de relator que o ministro Zavascki exerce no processo é, na definição de um de seus colegas, como se ele fosse delegado e juiz ao mesmo tempo. Ele pode, a partir da abertura do inquérito, determinar quebra de sigilos bancários e telefônicos, a interceptação de mensagens telefônicas.
Aceitando a denúncia do procurador-geral, o ministro Zavascki vai oficiar a Polícia Federal para que inicie a investigação. Provavelmente, essa decisão e seus fundamentos serão públicos. No curso das investigações, a PF vai instaurar inquérito contra aqueles em relação aos quais há indícios de que crimes foram cometidos.
Se fizer isso hoje, o inquérito poderá começar no recesso da justiças.
• Instaurado o inquérito, o delegado da PF terá 60 dias para realizar as diligências (ouvir testemunhas, requerer interceptação telefônica, etc) e entregar seu relatório - esse prazo poderá ser prorrogado, a pedido do delegado ou do procurador-geral da República, pelo relator;
• Os requerimentos de prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático, interceptação telefônica e de outras medidas invasivas serão processados e apreciados em autos apartados e sob sigilo (é o que prevê o art. 230-C, parágrafo 2°, Regimento Interno do STF);
• Provavelmente, o restante do inquérito será público;
• Apresentado o relatório pelo delegado, o relator encaminhará os autos para o procurador-geral da República, que poderá: (i) pedir diligências complementares, pedir o arquivamento, oferecer denúncia contra os que no seu entender cometeram crimes - ele tem um prazo de 60 dias. Em relação àqueles que estiverem presos, esse prazo é de 5 dias;
• O relator poderá rejeitar monocraticamente a denúncia em relação a cada um dos denunciados, quando a mesma for manifestamente equivocada (o regimento lista as hipóteses técnicas em que isso pode acontecer no art. 231, parágrafo quarto);
• Caso não rejeite a denúncia, o relator intimará cada denunciado para oferecer defesa no prazo de 15 dias;
• Apresentada ou não a defesa, o relator pedirá dia para a Turma julgadora do STF deliberar sobre a aceitação ou rejeição da denúncia;
• Na sessão, será permitida a sustentação oral, por 15 minutos para cada denunciado.
O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no supremo tribunal Federal(STF), vai homologar hoje, último dia antes do recesso da Justiça, a delação premiada do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de fraudes na Petrobras. E pode surpreender determinando a imediata abertura do inquérito contra os parlamentares envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras.
Isso significa que ele considerou consistente o depoimento do doleiro, que já lhe foi enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com o relato das fraudes e a lista de políticos, empreiteiros e funcionários públicos, na maioria da Petrobras, envolvidos no esquema. A lista dos políticos tem 30 deputados e 6 senadores, todos com foro privilegiado no momento. Os que não se reelegeram ou não concorreram nas últimas eleições serão enviados para a Ia instância da Justiça Federal em Curitiba, onde atua o juiz Sérgio Moro, que coordena a Operação Lava-Jato.
O Supremo confirmou recentemente que o foro adequado para os envolvidos no processo sobre o esquema de corrupção da Petrobras que não têm prerrogativa de função é a Justiça Federal no Paraná, sob a coordenação do juiz Moro, um especialista em processos sobre lavagem de dinheiro, que advogados de muitos dos executivos das empreiteiras envolvidos no escândalo queriam evitar, transferindo o processo para o Rio ou São Paulo, alegando que a sede das empresas deveria ser o foro escolhido.
O juiz Sérgio Moro já atuou no processo do mensalão como assessor da ministra do STF Rosa Weber, e ganhou experiência nesse tipo de caso. Ao contrário do que aconteceu no julgamento do mensalão, nesse processo os casos serão separados, com os acusados que não têm foro privilegiado sendo tratados pela Justiça de Ia instância no Paraná.
A partir da decisão de Zavascki, de pedir a abertura do inquérito, os nomes dos parlamentares envolvidos poderão ser divulgados. O fato de Zavascki homologar a delação premiada poucos dias depois de tê-la recebido do procurador-geral da República, e talvez até mesmo já abrir o inquérito, indica que todos os passos do processo estão sendo dados com a maior cautela e, ao mesmo tempo, os que dele cuidam estão empenhados em dar velocidade às apurações. Zavascki poderia ter deixado para fevereiro, na volta do recesso, para homologar a delação de Youssef, mas aceitando-a no último dia de trabalho da Justiça antes do recesso está dando uma sinalização de que pretende que o caso seja tocado com a rapidez possível em nosso sistema judicial.
Além disso, homologar a delação premiada significa que a Justiça considerou comprovadas as denúncias apresentadas, e o delator poderá com isso ser liberado do regime fechado e passar ao de prisão domiciliar, como já acontece com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A Justiça tem também condições de cruzar as informações dos diversos envolvidos que aderiram à delação premiada paia constatar a veracidade das acusações.
A função de relator que o ministro Zavascki exerce no processo é, na definição de um de seus colegas, como se ele fosse delegado e juiz ao mesmo tempo. Ele pode, a partir da abertura do inquérito, determinar quebra de sigilos bancários e telefônicos, a interceptação de mensagens telefônicas.
Aceitando a denúncia do procurador-geral, o ministro Zavascki vai oficiar a Polícia Federal para que inicie a investigação. Provavelmente, essa decisão e seus fundamentos serão públicos. No curso das investigações, a PF vai instaurar inquérito contra aqueles em relação aos quais há indícios de que crimes foram cometidos.
Se fizer isso hoje, o inquérito poderá começar no recesso da justiças.
• Instaurado o inquérito, o delegado da PF terá 60 dias para realizar as diligências (ouvir testemunhas, requerer interceptação telefônica, etc) e entregar seu relatório - esse prazo poderá ser prorrogado, a pedido do delegado ou do procurador-geral da República, pelo relator;
• Os requerimentos de prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático, interceptação telefônica e de outras medidas invasivas serão processados e apreciados em autos apartados e sob sigilo (é o que prevê o art. 230-C, parágrafo 2°, Regimento Interno do STF);
• Provavelmente, o restante do inquérito será público;
• Apresentado o relatório pelo delegado, o relator encaminhará os autos para o procurador-geral da República, que poderá: (i) pedir diligências complementares, pedir o arquivamento, oferecer denúncia contra os que no seu entender cometeram crimes - ele tem um prazo de 60 dias. Em relação àqueles que estiverem presos, esse prazo é de 5 dias;
• O relator poderá rejeitar monocraticamente a denúncia em relação a cada um dos denunciados, quando a mesma for manifestamente equivocada (o regimento lista as hipóteses técnicas em que isso pode acontecer no art. 231, parágrafo quarto);
• Caso não rejeite a denúncia, o relator intimará cada denunciado para oferecer defesa no prazo de 15 dias;
• Apresentada ou não a defesa, o relator pedirá dia para a Turma julgadora do STF deliberar sobre a aceitação ou rejeição da denúncia;
• Na sessão, será permitida a sustentação oral, por 15 minutos para cada denunciado.
Desfecho melancólico - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 19/12
Com a descoberta do pré-sal, o envolvimento de Dilma Rousseff com a Petrobras tornou-se ainda mais intenso
Seis meses atrás, a presidente Dilma ainda não se dera conta das proporções do desastre que se abatera sobre a Petrobras. Continuava a se autocongratular por seu longo envolvimento com a empresa: “Quem olhar o que aconteceu com a Petrobras nos últimos dez anos e projetar para o futuro, conclui que fizemos um grande ciclo. Eu estive presente em todos os momentos.” (“Folha de S.Paulo”, 2/7/2014)
Seu envolvimento teve início em 2003, quando assumiu a presidência do Conselho de Administração da empresa, cargo do qual só se afastou em 2010, para disputar a eleição presidencial. A partir de 2005, na posição privilegiada de quem também passara a ser ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma tornou-se a figura-chave na interface da cúpula do governo com a Petrobras.
Era por meio dela que as preferências, diretivas, prioridades e urgências do Planalto se faziam sentir na gestão da empresa. E, naturalmente, toda e qualquer nomeação de diretor, fosse a escolha técnica ou política, tinha de passar por seu crivo.
Com a descoberta do pré-sal, o envolvimento de Dilma com a Petrobras tornou-se ainda mais intenso. Especialmente a partir de 2008, quando o presidente Lula, preocupado com a falta de experiência eleitoral da sua futura sucessora, decidiu transformar o pré-sal em espalhafatosa plataforma de lançamento antecipado da sua candidatura à Presidência da República.
Para definir o arcabouço legal que pautaria a exploração do pré-sal, o governo poderia ter optado por um encaminhamento suprapartidário do problema, como questão de Estado. Mas preferiu partidarizar a discussão e brandir uma restauração nacionalista do controle estatal sobre a exploração e produção de petróleo, para exacerbar diferenças que pudessem favorecer a candidata oficial no embate político.
No novo arcabouço, concebido por uma comissão formada por Dilma Rousseff, Edison Lobão, Guido Mantega, José Sergio Gabrielli, Luciano Coutinho e três outros membros, a Petrobras acabou sobrecarregada pela tríplice exigência de: manter o monopólio da operação dos campos do pré-sal, assegurar pelo menos 30% de cada consórcio que explorar tais campos e arcar com a “nobre missão” de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no pais.
Montou-se um gigantesco cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos. Uma espécie de coronelismo industrial, em que a Petrobras passou a deter o “cofre das graças e o poder da desgraça”. Sob a proteção de requisitos absurdos de conteúdo local, quem nunca construíra nem mesmo um bote foi transformado em grande produtor de equipamentos de alta tecnologia.
Esse oba-oba, regado a dinheiro barato do BNDES, repassado pelo Tesouro, criou caldo de cultura propício para a proliferação das irregularidades que, agora, vêm ganhando destaque na mídia.
Não bastasse a sobrecarga de investimento e a obrigação de arcar com preços escorchantes de bens de capital, a Petrobras ainda foi fragilizada por longo represamento populista de preços de combustíveis.
Na esteira da descoberta de um amplo esquema de desvio de recursos nos seus programas de investimento, a situação da empresa agravou-se rapidamente. Processada por minoritários e investigada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelas comissões de valores mobiliários do Brasil e dos Estados Unidos, a Petrobras já nem mesmo consegue publicar balanços auditados. Marcha para a perda do grau de investimento, enquanto suas ações despencam em queda livre.
É o desfecho melancólico de 12 anos de estreito envolvimento de Dilma Rousseff com a Petrobras. Foi, de fato, um longo ciclo, durante o qual a presidente esteve “presente em todos os momentos”. Tendo atrelado sua trajetória política à empresa, Dilma afinal se dá conta de que está fadada a ser assombrada, no seu segundo mandato, pelos desdobramentos de fatos ocorridos no longo período em que foi a principal responsável pelos destinos da Petrobras.
Com a descoberta do pré-sal, o envolvimento de Dilma Rousseff com a Petrobras tornou-se ainda mais intenso
Seis meses atrás, a presidente Dilma ainda não se dera conta das proporções do desastre que se abatera sobre a Petrobras. Continuava a se autocongratular por seu longo envolvimento com a empresa: “Quem olhar o que aconteceu com a Petrobras nos últimos dez anos e projetar para o futuro, conclui que fizemos um grande ciclo. Eu estive presente em todos os momentos.” (“Folha de S.Paulo”, 2/7/2014)
Seu envolvimento teve início em 2003, quando assumiu a presidência do Conselho de Administração da empresa, cargo do qual só se afastou em 2010, para disputar a eleição presidencial. A partir de 2005, na posição privilegiada de quem também passara a ser ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma tornou-se a figura-chave na interface da cúpula do governo com a Petrobras.
Era por meio dela que as preferências, diretivas, prioridades e urgências do Planalto se faziam sentir na gestão da empresa. E, naturalmente, toda e qualquer nomeação de diretor, fosse a escolha técnica ou política, tinha de passar por seu crivo.
Com a descoberta do pré-sal, o envolvimento de Dilma com a Petrobras tornou-se ainda mais intenso. Especialmente a partir de 2008, quando o presidente Lula, preocupado com a falta de experiência eleitoral da sua futura sucessora, decidiu transformar o pré-sal em espalhafatosa plataforma de lançamento antecipado da sua candidatura à Presidência da República.
Para definir o arcabouço legal que pautaria a exploração do pré-sal, o governo poderia ter optado por um encaminhamento suprapartidário do problema, como questão de Estado. Mas preferiu partidarizar a discussão e brandir uma restauração nacionalista do controle estatal sobre a exploração e produção de petróleo, para exacerbar diferenças que pudessem favorecer a candidata oficial no embate político.
No novo arcabouço, concebido por uma comissão formada por Dilma Rousseff, Edison Lobão, Guido Mantega, José Sergio Gabrielli, Luciano Coutinho e três outros membros, a Petrobras acabou sobrecarregada pela tríplice exigência de: manter o monopólio da operação dos campos do pré-sal, assegurar pelo menos 30% de cada consórcio que explorar tais campos e arcar com a “nobre missão” de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no pais.
Montou-se um gigantesco cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos. Uma espécie de coronelismo industrial, em que a Petrobras passou a deter o “cofre das graças e o poder da desgraça”. Sob a proteção de requisitos absurdos de conteúdo local, quem nunca construíra nem mesmo um bote foi transformado em grande produtor de equipamentos de alta tecnologia.
Esse oba-oba, regado a dinheiro barato do BNDES, repassado pelo Tesouro, criou caldo de cultura propício para a proliferação das irregularidades que, agora, vêm ganhando destaque na mídia.
Não bastasse a sobrecarga de investimento e a obrigação de arcar com preços escorchantes de bens de capital, a Petrobras ainda foi fragilizada por longo represamento populista de preços de combustíveis.
Na esteira da descoberta de um amplo esquema de desvio de recursos nos seus programas de investimento, a situação da empresa agravou-se rapidamente. Processada por minoritários e investigada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelas comissões de valores mobiliários do Brasil e dos Estados Unidos, a Petrobras já nem mesmo consegue publicar balanços auditados. Marcha para a perda do grau de investimento, enquanto suas ações despencam em queda livre.
É o desfecho melancólico de 12 anos de estreito envolvimento de Dilma Rousseff com a Petrobras. Foi, de fato, um longo ciclo, durante o qual a presidente esteve “presente em todos os momentos”. Tendo atrelado sua trajetória política à empresa, Dilma afinal se dá conta de que está fadada a ser assombrada, no seu segundo mandato, pelos desdobramentos de fatos ocorridos no longo período em que foi a principal responsável pelos destinos da Petrobras.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“É um problema da presidente Dilma, não meu”
Lula, o Macunaíma, tirando o corpo fora do Petrolão e da demissão da Graça Foster
NOVA MP ‘ENXERTADA’ BENEFICIA A CAOA HYUNDAI
O fabricante de automóveis Caoa Hyundai é novamente um dos mais beneficiados por medida provisória (nº 656) enxertada, na Câmara e no Senado, e aprovada na calada da madrugada desta quarta-feira (17). São 169 artigos tratando de 55 temas diferentes, inclusive a renúncia fiscal que dispensará a Caoa Hyundai e a Mitsubishi de pagar R$ 10 bilhões em impostos até 2019, segundo estimam técnicos do governo.
TAMBÉM QUERO
A MP 656 estendeu a Caoa Hyundai e a Mitsubishi benefícios fiscais concedidos à Ford, para se instalar na Bahia, e à Fiat, em Pernambuco.
VELHOS CLIENTES
A Caoa Hyunday e a Mitsubishi são velhos clientes no ramo: só este ano, duas MPs (627 e 651) estabeleceram isenções para ambas.
ENCOMENDA ENTREGUE
Na ânsia de atender as duas montadoras “freguesas”, a Câmara e o Senado enxertaram dois artigos (13º e 156º) sobre o mesmo assunto.
TRAFICÂNCIAS
MP virou sonho de consumo de lobistas e traficantes de influência, e custa caro: afinal, se Dilma não vetar, entra em vigor imediatamente.
PROJETO DO GOVERNO DILMA APEQUENA O ITAMARATY
A Casa Civil do Planalto já aprontou o projeto extinguindo no Itamaraty os tradicionais Departamento de Promoção Comercial e a Agência Brasileira de Cooperação, que deram sustentação à política externa brasileira nos últimos 40 anos. O monstrengo estaria a cargo do sub Beto Vasconcelos. A investida contra o Itamaraty começou com o fortalecimento da Apex, uma agência de promoção da exportação.
‘COLA’ DESCARADA
Desde o início do governo Lula, Apex bancou viagens de funcionários monoglotas que recorriam a diplomatas para fazerem o trabalho deles.
APROPRIAÇÃO
Um ex-embaixador na Arábia Saudita revelou à coluna que a turma da Apex se apropriava de estudos de mercado elaborados por diplomatas.
HERANÇA MALDITA
A redução de atribuições do Itamaraty decorre da antipatia de Dilma por diplomatas, após sua convivência com o ex-chanceler Antônio Patriota.
EXPLICADO
Há anos agarrado à CGU, Jorge Hage teria decidido largar o osso após tomar uma bronca monumental da chefe, segundo fonte do Palácio do Planalto. Ela não gostou de uma declaração de Hage anunciando providências contra o Petrolão. Com 9 meses de atraso, ressalte-se.
NÃO FALTARÁ TRABALHO
Dilma quer o futuro secretário-geral da Presidência, Miguel Rosseto, no grupo criado pelo chefão Lula, para “gerenciar crises”. Ele propôs isso ainda sem saber como explicar a roubalheira do Petrolão.
MINISTRO BEM AVALIADO
Pesquisa realizada pela FSB na Câmara dos Deputados indicou que Aldo Rebelo (Esporte) é o ministro mais bem avaliado pelos parlamentares. Foram ouvidos 228 deputados de vinte partidos.
BALCÃO DE NEGÓCIOS
Nem começou a nova legislatura, e os deputados federais já se movimentam para furar a fila, a fim de conseguir imóveis funcionais reformados. Em troca, oferecem nomeação em cargos nos gabinetes.
SÓ ASSIM
Na tentativa de animar os colegas a sair da preguiça e ir ao plenário votar, o deputado Onofre Santo Agustini (PSD-SC) alertou aos gritos, no cafezinho da Câmara: “Quem não votar não receberá 15º salário”.
ABRINDO VAGAS
O governador Geraldo Alckmin (SP) pretende convidar quatro deputados para compor o secretariado. Os suplentes Mendes Thame (PSDB) e Roberto Freire (PPS) podem assumir vaga na Câmara.
SE DEPENDER DO DF
O caos no governo do DF, após atraso nos pagamentos e rombo nas contas, foi mais um dos motivos para a mobilização de claques de outros estados para a reposse de Dilma. O PT espera muitas vaias.
RITMO DE FESTA
Já diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral, o governador reeleito da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), fez uma festiva comemoração no restaurante Gero, em Brasília.
PENSANDO BEM...
...com o fim do embargo dos Estados Unidos, o próximo presidente de Cuba poderá ser o Ronald McDonald ou Mickey Mouse.
PODER SEM PUDOR
DOIS EM UM
Além de Petrônio Portela, articulador da abertura política, o Piauí tinha o senador biônico Lucídio Portela. Ao contrário do irmão, Lucídio tinha fama de autoritário e pouco letrado. Reza a lenda que certa vez ele elogiava a ditadura quando citou o escritor Fiodor Dostoievsky. Um senador de oposição aparteou:
- Interessante sua citação de Dostoievsky. A propósito, o nobre colega já leu "Crime e Castigo"?
- Li os dois! - fulminou o velho Lucídio, multiplicando por dois o clássico romance da literatura russa.
Lula, o Macunaíma, tirando o corpo fora do Petrolão e da demissão da Graça Foster
NOVA MP ‘ENXERTADA’ BENEFICIA A CAOA HYUNDAI
O fabricante de automóveis Caoa Hyundai é novamente um dos mais beneficiados por medida provisória (nº 656) enxertada, na Câmara e no Senado, e aprovada na calada da madrugada desta quarta-feira (17). São 169 artigos tratando de 55 temas diferentes, inclusive a renúncia fiscal que dispensará a Caoa Hyundai e a Mitsubishi de pagar R$ 10 bilhões em impostos até 2019, segundo estimam técnicos do governo.
TAMBÉM QUERO
A MP 656 estendeu a Caoa Hyundai e a Mitsubishi benefícios fiscais concedidos à Ford, para se instalar na Bahia, e à Fiat, em Pernambuco.
VELHOS CLIENTES
A Caoa Hyunday e a Mitsubishi são velhos clientes no ramo: só este ano, duas MPs (627 e 651) estabeleceram isenções para ambas.
ENCOMENDA ENTREGUE
Na ânsia de atender as duas montadoras “freguesas”, a Câmara e o Senado enxertaram dois artigos (13º e 156º) sobre o mesmo assunto.
TRAFICÂNCIAS
MP virou sonho de consumo de lobistas e traficantes de influência, e custa caro: afinal, se Dilma não vetar, entra em vigor imediatamente.
PROJETO DO GOVERNO DILMA APEQUENA O ITAMARATY
A Casa Civil do Planalto já aprontou o projeto extinguindo no Itamaraty os tradicionais Departamento de Promoção Comercial e a Agência Brasileira de Cooperação, que deram sustentação à política externa brasileira nos últimos 40 anos. O monstrengo estaria a cargo do sub Beto Vasconcelos. A investida contra o Itamaraty começou com o fortalecimento da Apex, uma agência de promoção da exportação.
‘COLA’ DESCARADA
Desde o início do governo Lula, Apex bancou viagens de funcionários monoglotas que recorriam a diplomatas para fazerem o trabalho deles.
APROPRIAÇÃO
Um ex-embaixador na Arábia Saudita revelou à coluna que a turma da Apex se apropriava de estudos de mercado elaborados por diplomatas.
HERANÇA MALDITA
A redução de atribuições do Itamaraty decorre da antipatia de Dilma por diplomatas, após sua convivência com o ex-chanceler Antônio Patriota.
EXPLICADO
Há anos agarrado à CGU, Jorge Hage teria decidido largar o osso após tomar uma bronca monumental da chefe, segundo fonte do Palácio do Planalto. Ela não gostou de uma declaração de Hage anunciando providências contra o Petrolão. Com 9 meses de atraso, ressalte-se.
NÃO FALTARÁ TRABALHO
Dilma quer o futuro secretário-geral da Presidência, Miguel Rosseto, no grupo criado pelo chefão Lula, para “gerenciar crises”. Ele propôs isso ainda sem saber como explicar a roubalheira do Petrolão.
MINISTRO BEM AVALIADO
Pesquisa realizada pela FSB na Câmara dos Deputados indicou que Aldo Rebelo (Esporte) é o ministro mais bem avaliado pelos parlamentares. Foram ouvidos 228 deputados de vinte partidos.
BALCÃO DE NEGÓCIOS
Nem começou a nova legislatura, e os deputados federais já se movimentam para furar a fila, a fim de conseguir imóveis funcionais reformados. Em troca, oferecem nomeação em cargos nos gabinetes.
SÓ ASSIM
Na tentativa de animar os colegas a sair da preguiça e ir ao plenário votar, o deputado Onofre Santo Agustini (PSD-SC) alertou aos gritos, no cafezinho da Câmara: “Quem não votar não receberá 15º salário”.
ABRINDO VAGAS
O governador Geraldo Alckmin (SP) pretende convidar quatro deputados para compor o secretariado. Os suplentes Mendes Thame (PSDB) e Roberto Freire (PPS) podem assumir vaga na Câmara.
SE DEPENDER DO DF
O caos no governo do DF, após atraso nos pagamentos e rombo nas contas, foi mais um dos motivos para a mobilização de claques de outros estados para a reposse de Dilma. O PT espera muitas vaias.
RITMO DE FESTA
Já diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral, o governador reeleito da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), fez uma festiva comemoração no restaurante Gero, em Brasília.
PENSANDO BEM...
...com o fim do embargo dos Estados Unidos, o próximo presidente de Cuba poderá ser o Ronald McDonald ou Mickey Mouse.
PODER SEM PUDOR
DOIS EM UM
Além de Petrônio Portela, articulador da abertura política, o Piauí tinha o senador biônico Lucídio Portela. Ao contrário do irmão, Lucídio tinha fama de autoritário e pouco letrado. Reza a lenda que certa vez ele elogiava a ditadura quando citou o escritor Fiodor Dostoievsky. Um senador de oposição aparteou:
- Interessante sua citação de Dostoievsky. A propósito, o nobre colega já leu "Crime e Castigo"?
- Li os dois! - fulminou o velho Lucídio, multiplicando por dois o clássico romance da literatura russa.