quinta-feira, outubro 23, 2014

MANIFESTO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE ECONOMIA

EU VOTO #AÉCIO45



MANIFESTO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE ECONOMIA


Este texto é um manifesto de um grupo de 164 professores universitários de Economia, ligados a diversas instituições no Brasil e no exterior. O nosso objetivo é desconstruir um dos inúmeros argumentos falaciosos ventilados na campanha eleitoral.

1) Não há, no momento, uma crise internacional generalizada.
Alguns de nossos pares na América Latina, uma região bastante sensível a turbulências na economia mundial, estão em franca expansão econômica.
Projeta-se, por exemplo, que a Colômbia cresça 4,8% em 2014, com inflação de 2,8%. Já a economia peruana deve crescer 3,6%, com inflação de 3,2%. O México deve crescer 2,4%, com inflação de 3,9%.¹
No Brasil, teremos crescimento próximo de zero com a inflação próxima de 6,5%.¹
Entre as 38 economias com estatísticas de crescimento do PIB disponíveis no sítio da OCDE, apenas Brasil, Argentina, Islândia e Itália encontram-se em recessão.²
Como todos os países fazem parte da mesma economia global, não pode haver crise internacional generalizada apenas para alguns.
É emblemático que, dentre os países da América do Sul, apenas Argentina e Venezuela devem crescer menos que o Brasil em 2014.¹

2) Neste cenário de baixo crescimento e inflação alta, a semente do desemprego está plantada. E os avanços sociais obtidos com muito sacrifício ao longo das últimas décadas estão em risco.

3) O atual governo tenta se eximir de qualquer responsabilidade pelo nosso desempenho econômico pífio e culpa a crise internacional. Entretanto, como a realidade dos fatos mostra que não há crise internacional generalizada, a explicação só pode ser outra.

4) Em grande parte, atribuímos o desempenho medíocre da economia brasileira e a perspectiva de retrocesso nas conquistas sociais às políticas econômicas equivocadas do atual governo.

5) O atual governo ressuscitou os fantasmas da inflação e da instabilidade macroeconômica.

Uma política monetária inadequada gerou a suspeita de intervenções de cunho político no Banco Central, que foi fatal para sua credibilidade.
A utilização recorrente de truques contábeis destruiu a confiança na política fiscal.
Esta combinação de políticas monetária e fiscal opacas e inadequadas gerou um cenário macroeconômico extremamente adverso, com inflação alta e crescimento baixo.

6) O governo Dilma amedrontou os investimentos.

Houve mudanças constantes e inesperadas de regras, como alterações arbitrárias de alíquotas de impostos.
Diante desta instabilidade das regras do jogo, a desconfiança aumentou e o horizonte dos empresários encurtou.
O acesso privilegiado aos órgãos governamentais passou a ser uma atividade mais lucrativa que o planejamento e investimento de longo prazo.

7) A mudança das regras do jogo não afetou apenas a iniciativa privada.
O excesso de intervencionismo nas empresas estatais, como o represamento artificial dos preços de energia e gasolina, minou a capacidade de investimento dessas empresas.
Por conta de empreendimentos questionáveis do ponto de vista econômico, a capacidade de investimento da Petrobrás foi comprometida.

8) O atual governo expandiu a oferta de crédito subsidiado de forma discricionária e irresponsável.
A distribuição arbitrária de crédito subsidiado produz distorções na alocação de recursos do país e contribui para o baixo crescimentoeconômico.
Os subsídios envolvidos geram altos custos fiscais que o atual governo tenta esconder com malabarismos e truques contábeis. Estes expedientes destruíram a confiança nas estatísticas fiscais do país.
Os recursos gastos na forma de subsídios injustificados poderiam ser utilizados para ampliar programas sociais e investimentos públicos em educação, saúde e infra-estrutura.
O Brasil precisa continuar avançando na direção de uma sociedade mais justa e igualitária, com melhor distribuição de renda.
Além de deletéria para o desenvolvimento do país, a política de distribuição arbitrária de crédito subsidiado para grandes grupos econômicos é concentradora de renda.

No ambiente econômico do Brasil de hoje, os frutos de um novo empreendimento podem ser facilmente corroídos por mudanças inesperadas nas regras do jogo, pela alta inflação e pelo baixo crescimento econômico. Portanto, não é surpreendente que o investimento tenha colapsado. Sem investimento, o Brasil jamais retomará o seu caminho para o desenvolvimento. E sem desenvolvimento, os avanços sociais obtidos com muito sacrifício ao longo das últimas décadas sofrerão retrocessos.

O Brasil tem sérios desafios pela frente e para enfrentá-los precisamos de um debate transparente e intelectualmente honesto. Ao usar de sua propaganda eleitoral e exposição na mídia para colocar a culpa pelo fraco desempenho econômico recente na conjuntura internacional, se eximindo da sua responsabilidade por escolhas equivocadas de políticas econômicas, o atual governo recorre a argumentos falaciosos.

14 de outubro de 2014

Fontes:

1 Dados retirados do World Economic Outlook, FMI, Outubro de 2014.

2 Dados retirados do sítio da OCDE (http://stats.oecd.org/). Recessão definida como variação negativa do PIB real dessazonalizado nos últimos 2 trimestres com dados disponíveis.

Assinam (em ordem alfabética) os professores abaixo:

Nome Titulação, Instituição Afiliação atual

(1) Ademar Romeiro PhD, EHESS Unicamp
(2) Adriana Bruscato Bortoluzzo Doutor, IME/USP Insper
(3) Afonso Henriques Borges Ferreira PhD, New School Ibmec MG
(4) Alan André Borges da Costa Mestre, UFMG UFOP
(5) Alan Moreira PhD, Chicago Yale University
(6) Alberto Salvo PhD, LSE National University of Singapore
(7) Alesandra de Araújo Benevides Mestre, CAEN/UFC UFC
(8) Ana Beatriz Galvão PhD, Warwick University of Warwick
(9) Anderson Mutter Teixeira Doutor, UnB FACE/UFG
(10) André Carraro Doutor, PPGE/UFRGS PPGOM/UFPel
(11) André da Cunha Bastos Mestre, USP UFG
(12) André Portela Souza PhD, Cornell EESP/FGV
(13) Antonio F. Galvao PhD, Illinois University of Iowa
(14) Antônio Márcio Buainain Doutor, Unicamp Unicamp
(15) Ari Francisco de Araujo Junior Mestre, UFMG Ibmec MG
(16) Arilda Teixeira Doutor, UFRJ Fucape
(17) Arilton Teixeira PhD, Minnesota Fucape
(18) Armando Gomes PhD, Harvard Washington University in St Louis
(19) Aureo de Paula PhD, Princeton University College London e EESP/FGV
(20) Bernardo de Vasconcellos Guimarães PhD, Yale EESP/FGV
(21) Bernardo Soares Blum PhD, UCLA University of Toronto
(22) Braz Ministério de Camargo PhD, UPenn EESP/FGV
(23) Bruno Cara Giovannetti PhD, Columbia FEA/USP
(24) Bruno Cesar Aurichio Ledo Doutor, EPGE/FGV FEA/USP-RP
(25) Bruno Ferman PhD, MIT EESP/FGV
(26) Bruno Funchal Doutor, EPGE/FGV Fucape
(27) Camila F. S. Campos PhD, Yale Insper
(28) Carolina Caetano PhD, Berkeley University of Rochester
(29) Carlos Eduardo Goncalves Doutor, USP FEA/USP
(30) Carlos Eugênio Ellery Lustosa da Costa PhD, Chicago EPGE/FGV
(31) Carlos Viana de Carvalho PhD, Princeton PUC-Rio
(32) Cecilia Machado PhD, Columbia EPGE/FGV
(33) Cézar Augusto Ramos Santos PhD, UPenn EPGE/FGV
(34) Cristian Huse PhD, LSE Stockholm School of Economics
(35) Christiano Arrigoni Coelho Doutor, PUC-Rio Ibmec RJ
(36) Christiano Modesto Penna Doutor, CAEN/UFC CAEN/UFC
(37) Cristina Terra PhD, Princeton Université de Cergy-Pontoise
(38) Claudio Djissey Shikida Doutor, PPGE/UFRGS Ibmec MG
(39) Claudio Ferraz PhD, Berkeley PUC-Rio
(40) Claudio Ribeiro de Lucinda Doutor, EAESP/FGV FEA/USP-RP
(41) Cleyzer Adrian da Cunha Doutor, UFV FACE/UFG
(42) Daniel Barboza Guimarães Doutor, CAEN/UFC UFC
(43) Daniel Bernardo Soares Ferreira PhD, Chicago London School of Economics
(44) Daniel de Abreu Pereira Uhr Doutor, UnB UFPel
(45) Daniel Gottlieb PhD, MIT University of Pennsylvania
(46) Daniel Monte PhD, Yale EESP/FGV
(47) Daniel Oliveira Cajueiro Doutor, ITA UnB
(48) Daniel Ribeiro Carvalho PhD, Harvard University of Southern California
(49) David Turchick Doutor, EPGE/FGV FEA/USP
(50) Eduardo Augusto de Souza-Rodrigues PhD, Yale University of Toronto
(51) Eduardo Correia de Souza Doutor, UFRJ Insper
(52) Eduardo Faingold PhD, UPenn Yale University
(53) Eduardo Fonseca Mendes PhD, Northwestern University of New South Wales
(54) Eduardo Zilberman PhD, NYU PUC-Rio
(55) Elano Ferreira Arruda Doutor, CAEN/UFC CAEN/UFC
(56) Emanuel Ornelas PhD, Wisconsin-Madison London School of Economics e EESP/FGV
(57) Emerson Marinho Doutor, EPGE/FGV CAEN/UFC
(58) Emilson Caputo Delfino Silva PhD, Illinois University of Alberta
(59) Fábio Massaúd Caetano Doutor, PPGE/UFRGS UFPel
(60) Fabio Miessi PhD, LSE FEA/USP
(61) Fabio Orfali Mestre, USP Insper
(62) Felipe Garcia Ribeiro Doutor, EESP/FGV UFPel
(63) Fernando Botelho PhD, Princeton FEA/USP
(64) Fernando Vendramel Ferreira PhD, Berkeley University of Pennsylvania
(65) Flávia Lúcia Chein Feres Doutor, Cedeplar/UFMG PPGEA/UFJF
(66) Francisco Junqueira Moreira da Costa PhD, LSE EPGE/FGV
(67) Gabriel de Abreu Madeira PhD, Chicago FEA/USP
(68) George Henrique de Moura Cunha Doutor, UnB UCB
(69) Geraldo Biasoto Jr Doutor, IE/Unicamp IE/Unicamp
(70) Gil Riella PhD, NYU UnB
(71) Gisele Ferreira Tiryaki PhD, George Mason UFBA
(72) Gregorio Caetano PhD, Berkeley University of Rochester
(73) Guilherme Hamdan Gontijo Mestre, PPGE/UFRGS Ibmec MG
(74) Guilherme Irffi Doutor, CAEN/UFC CAEN/UFC
(75) Gustavo Manso PhD, Stanford University of California, Berkeley
(76) Gustavo Mauricio Gonzaga PhD, Berkeley PUC-Rio
(77) Gustavo Ramos Sampaio PhD, Illinois UFPE
(78) Heitor Almeida PhD, Chicago University of Illinois at Urbana-Champaign
(79) Helder Ferreira de Mendonça Doutor, UFRJ UFF
(80) Jair Andrade Araujo Doutor, CAEN/UFC MAER/UFC
(81) João Manoel Pinho de Mello PhD, Stanford Insper
(82) João Victor Issler PhD, San Diego EPGE/FGV
(83) José A. Rodrigues-Neto PhD, Wisconsin Australian National University
(84) José Coelho Matos Filho Doutor, UnB UFC
(85) José Guilherme de Lara Resende PhD, Chicago UnB
(86) José Maria Ferreira Jardim da Silveira Doutor, Unicamp Unicamp
(87) Juliana Inhasz Doutor, FEA/USP Insper
(88) Juliana Terreiro Salomao PhD, Stanford University of Minessota
(89) Juliano Junqueira Assunção Doutor, PUC-Rio PUC-Rio
(90) Klenio de Souza Barbosa PhD, Toulouse EESP/FGV
(91) Leandro Rocco PhD, Illinois UFC
(92) Leonardo Rezende PhD, Stanford PUC-Rio
(93) Lucas Maestri PhD, Yale EPGE/FGV
(94) Luciana Yeung Luk Tai Doutor, EESP/FGV Insper
(95) Luciano I. de Castro Doutor, IMPA University of Iowa
(96) Luis Henrique Bertolino Braido PhD, Chicago EPGE/FGV
(97) Marcel Scharth PhD, VU University Amsterdam University of New South Wales
(98) Marcelo Arbex PhD, Illinois University of Windsor
(99) Marcelo Cunha Medeiros Doutor, PUC-Rio PUC-Rio
(100) Marcelo de Albuquerque e Mello PhD, Illinois Ibmec RJ
(101) Marcelo de Castro Callado PhD, University of Cologne UFC
(102) Marcelo de Oliveira Passos Doutor, UFPR UFPel
(103) Marcelo Eduardo Alves da Silva PhD, UNC Chapel Hill UFPE
(104) Marcelo Fernandes PhD, Université Libre de Bruxelles EESP/FGV e Queen Mary University of London
(105) Marcelo Rodrigues dos Santos Doutor, EPGE/FGV Insper
(106) Marcelo Savino Portugal PhD, Warwick UFRGS
(107) Marcio Gomes Pinto Garcia PhD, Stanford PUC-Rio
(108) Márcio Veras Corrêa Doutor, Universidade Técnica de Lisboa CAEN/UFC
(109) Marco Bonomo PhD, Princeton Insper
(110) Marcos Costa Holanda PhD, Illinois CAEN/UFC
(111) Marina Mendes Tavares PhD, Minnesota ITAM, Mexico
(112) Mauricio Benegas Doutor, CAEN/UFC CAEN/UFC
(113) Maurício Soares Bugarin PhD, Illinois UnB
(114) Mauro Rodrigues Doutor, UCLA FEA/USP
(115) Marco Aurélio Bittencourt Doutor, UnB UCB
(116) Naercio Aquino Menezes Filho PhD, University of London Insper e FEA/USP
(117) Natalia Piqueira PhD, Princeton University of Houston
(118) Nathalie Gimenes Sanches PhD, Queen Mary University of London FEA/USP
(119) Nelson Camanho da Costa Neto PhD, LSE Catolica Lisbon School of Business & Economics
(120) Nelson Seixas dos Santos Doutor, USP PPGE/UFRGS
(121) Osvaldo Candido da Silva Filho Doutor, UFRGS UCB
(122) Paulo Natenzon PhD, Princeton Washington University in St Louis
(123) Paulo Rogério Faustino Matos Doutor, EPGE/FGV CAEN/UFC
(124) Pedro A. C. Saffi PhD, London Business School University of Cambridge
(125) Pedro Cavalcanti Ferreira PhD, UPenn EPGE/FGV
(126) Pedro H. Albuquerque PhD, Wisconsin-Madison KEDGE Business School
(127) Pedro Hemsley PhD, Toulouse UERJ
(128) Peri Agostinho da Silva Junior PhD, Illinois Kansas State University
(129) Pery Francisco Assis Shikida Doutor, ESALQ/USP Unioeste
(130) Pricila Maziero PhD, Minnesota University of Pennsylvania
(131) Priscila Casari Doutor, ESALQ/USP UFG
(132) Rafael B. Barbosa Doutor, CAEN/UFC Sobral/UFC
(133) Rafael de Vasconcelos Xavier Ferreira Doutor, EPGE/FGV FEA/USP
(134) Rafael Dix Carneiro PhD, Princeton Duke University
(135) Rafael Lopes de Melo PhD, Yale University of Chicago
(136) Regis Augusto Ely Doutor, UnB UFPel
(137) Renata Narita PhD, UCL FEA/USP
(138) Renato Dias de Brito Gomes PhD, Northwestern Université de Toulouse
(139) Renato Fragelli Cardoso Doutor, EPGE/FGV EPGE/FGV
(140) Ricardo A. de Castro Pereira Doutor, EPGE/FGV CAEN/UFC
(141) Ricardo D. O. Brito Doutor, EPGE/FGV Insper
(142) Ricardo de Abreu Madeira PhD, BU FEA/USP
(143) Rinaldo Barcia Fonseca Doutor, Unicamp Unicamp
(144) Roberto Ellery Jr Doutor, UnB UnB
(145) Rodrigo de Losso da Silveira Bueno PhD, Chicago FEA/USP
(146) Rodrigo Lanna Franco da Silveira Doutor, USP IE/Unicamp
(147) Rodrigo Moita PhD, Illinois Insper
(148) Rodrigo Nobre Fernandez Doutor, UFRGS UFPel
(149) Rodrigo R. Soares PhD, Chicago EESP/FGV
(150) Rogério Mazali PhD, Tulane University UCB
(151) Rogério Moreira de Siqueira Mestre, CAEN/UFC UFC
(152) Romero Cavalcanti Barreto da Rocha Doutor, PUC-Rio UFRJ
(153) Ronald Otto Hillbrecht PhD, Illinois PPGE/UFRGS
(154) Rozane Bezerra de Siqueira PhD, UCL UFPE
(155) Ruy Monteiro Ribeiro PhD, Chicago PUC-Rio
(156) Sabino da Silva Porto Júnior Doutor, PPGE/UFRGS UFRGS
(157) Thiago de Oliveira Souza PhD, University of London Southern Denmark University
(158) Tiago V. de V. Cavalcanti PhD, Illinois University of Cambridge
(159) Tiago Couto Berriel PhD, Princeton PUC-Rio
(160) Vander Mendes Lucas PhD, Université Catholique de Louvain UnB
(161) Vinicius Carrasco PhD, Stanford PUC-Rio
(162) Vitor Borges Monteiro Doutor, CAEN/UFC FEAAC/UFC
(163) Vitor Hugo Miro Couto Silva Mestre, CAEN/UFC UFC
(164) Walter Novaes Filho PhD, MIT PUC-Rio


O prazo para aderir a este manifesto se encerrou às 16h do dia 14 de outubro de 2014. Agradecemos as manifestações de apoio e encorajamos a divulgação deste manifesto.

Contato: manifestoprofecon@gmail.com.

O manifesto do economista - MÁRIO MESQUITA

EU VOTO #AÉCIO45


VALOR ECONÔMICO - 23/10


As eleições de 2014 ficarão para a história, independente do resultado final. A disputa acirrada, ainda que com aspectos pouco elegantes, suscitou um saudável aumento da participação política. Uma das características desse movimento foi a divulgação de manifestos de entidades públicas e grupos de profissionais, inclusive economistas.

Economistas governistas defendem a continuidade por julgarem que as políticas atuais são as únicas que podem assegurar que o país continue experimentando desenvolvimento com inclusão social. Mesmo esses economistas, contudo, reconhecem que dificuldades conjunturais existem e devem ser enfrentadas com firmeza. Seu manifesto não chega a defender os méritos da gestão atual, enfatizando, como na campanha eleitoral, resultados da anterior e listando os riscos de uma opção pela mudança.

Mais importante, porque envolve um conjunto bem mais amplo de profissionais independentes, das mais diversas escolas e formações, que não seguem uma única orientação partidária, e com formação bem mais atual, foi o manifesto dos 164 professores de economia, também divulgado recentemente.

Quanto à diversidade, os signatários incluem professores vinculados a universidades de diversas partes do mundo, como Berkeley, Cambridge, Chicago, Estocolmo, London School of Economics, Toulouse, e Yale, bem como vários centros nacionais, cobrindo todo o espectro da profissão, da PUC-Rio até a Unicamp, passando pela USP, além das federais do Ceará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul. Esse grupo reune, sem dúvida, o que há de melhor na profissão em nosso país e não pode ser acusado, como frequentemente ocorre nos embates políticos, de representar interesses setoriais, sejam da indústria ou do mercado financeiro.

E o que dizem os economistas? Em primeiro lugar, o texto ressalta o desempenho ruim da economia brasileira nos últimos anos, com crescimento menor e inflação maior, bem maior do que a maioria dos países da região, com as exceções de praxe, Argentina e Venezuela - como todas as economias estão inseridas no contexto global, e a nossa é uma das mais fechadas, faz pouco sentido, em sua visão, atribuir o desempenho pior do Brasil à situação internacional.

Questionam, a meu ver corretamente, se será possível manter o desemprego baixo em uma economia que não cresce. E atribuem a responsabilidade pelo desempenho ruim à política econômica do atual governo.

Entre os problemas apontados pelos professores de economia estão o aumento da inflação e da instabilidade macroeconômica, que teria decorrido de erros de política monetária e fiscal, com a consequente erosão da credibilidade. O manifesto destaca também o desempenho ruim do investimento, sob o efeito de mudanças constantes de regras, instabilidade macroeconômica e regulatória e um ambiente que premia a busca por favores governamentais, em vez da inovação.

Atribui-se também a decisões de política a responsabilidade pela deterioração da capacidade de investimento da Petrobras. As críticas dos economistas se estendem à concessão de créditos subsidiados, sem justificativa clara e de forma pouco transparente - uma política que, ao privilegiar grandes conglomerados, favorece a concentração de renda. A esse respeito, vale ressaltar o déficit relativo de transparência das instâncias decisórias do BNDES, perante, por exemplo, as do Banco Central.

Ao enfatizar os efeitos negativos da instabilidade e incerteza macroeconômica sobre o investimento, o manifesto sugere que, do lado macroeconômico, a prioridade do novo governo deveria ser restaurar a credibilidade do regime de política econômica, reafirmando o compromisso com a meta de inflação de 4,5%, recuperando a transparência da política fiscal, e com isso ampliando o horizonte de planejamento de empresas e famílias.

Com isso, a propensão a investir aumentaria, o que é condição necessária para elevar o crescimento potencial da economia, sem o que a consolidação do progresso social vivido no país nas últimas décadas ficaria comprometida.

A alternativa implícita seria mais do mesmo. Mais juros subsidiados e crédito direcionado, muita opacidade fiscal e uso importante de medidas administrativas para controlar a inflação, sem muita preocupação com os efeitos colaterais, fiscais e alocativos que isso possa ter. Essa combinação não funcionou nos últimos anos e dificilmente seria bem sucedida no próximo quadriênio, o que não quer dizer que o experimento seria abandonado por completo.

Em resumo, o manifesto dos professores de economia deveria ser leitura interessante para aqueles que percebem que há algo seriamente errado em certas versões oficiais sobre o desempenho recente da economia brasileira. O texto encontra-se no endereço https://sites.google.com/site/manifestoeconomistas/.

O Brasil não quer mais Dilma - CLÁUDIO SLAVIERO

EU VOTO #AÉCIO45


GAZETA DO POVO - PR - 23/10


Em abril do ano passado, escrevi um artigo, publicado por este jornal, no qual eu desejava que a herança maléfica construída por Dilma, com a supervisão de Lula, dos petistas e dos aliados de plantão, caísse no colo da própria Dilma. Para mim, não é uma herança que se possa transferir a ninguém, nem a aliados e muito menos a adversários, que sofreriam muito para recuperar os danos causados. Ninguém merece. Mas hoje percebo com clareza que principalmente o Brasil não merece os autores desse descalabro e sua continuidade no poder.

Neste primeiro turno das eleições, ficou muito mais claro ainda: os brasileiros querem, e já, mudança dos ocupantes do Planalto e uma política competente, que dê novos rumos e esperança de fortalecimento do país, desde a economia até seus aspectos morais.

Do ponto de vista econômico, o Brasil está quebrado, com o Fundo Monetário Internacional projetando para 0,3% o crescimento do PIB brasileiro para este ano, muito distante do que estimavam Dilma e Mantega, que divulgaram um crescimento de 3,5%. Se este resultado pífio realmente vier, o Brasil só terá crescido 1,6% em quatro anos, o pior crescimento durante uma gestão presidencial desde 1995. E não adianta a presidente espernear, culpando fatores externos por essa debilidade econômica, já que o crescimento médio global deste ano será de 3,5%. Só a Argentina e a Venezuela crescerão menos que o Brasil entre os países da América Latina, não por coincidência administrados por uma populista e uma reencarnação de Chávez. Pior: com a desaceleração da economia no período Dilma e especialmente neste ano, o Brasil não cumprirá a meta de superávit primário e não conseguirá ao menos pagar os juros da dívida. O superávit primário em 2014 será de 1,3% do PIB, abaixo do estabelecido pelo governo, de 1,9%.

E mais: Dilma comete estelionato eleitoral ao mentir dizendo que o Brasil quebrou três vezes no período de FHC. O país recorreu, sim, ao FMI na década de 80, mas saiu da situação de moratória a partir do Plano Real, quando estabilizou a economia e acabou com a inflação. O último empréstimo foi justamente para financiar o futuro governo Lula, que ficou com 80% dos recursos do FMI. São muitos erros e desmandos somados em 12 anos de PT. Estamos cansados de tanta mentira e enganação. Chega!

No Brasil, crescem alguns índices: a inflação, o desemprego, a dívida externa, a dívida interna, o custo da máquina pública, os juros, a desindustrialização, a desconfiança de empresários e de consumidores, a inadimplência em todas as faixas da população, a corrupção, o assalto aos cofres públicos, os desmandos no STF e em seus braços auxiliares como a OAB nacional, a criminalidade, a impunidade, a falta de atendimento no sistema de saúde, o número de obras superfaturadas, o número de obras inacabadas, a insatisfação e a desesperança.

Por outro lado, há mostras concretas de que a população brasileira acordou e repudia este quadro caótico. As primeiras pesquisas do segundo turno já demonstraram isso, com Aécio à frente de Dilma apesar de todas as provocações, manifestações falsas, propagandas enganosas, perfis fantasmas em redes sociais, uso e abuso da máquina pública e muitos outros instrumentos nos quais os petistas são especialistas.

Espero, sinceramente, que o PT cumpra seu período de desastres no governo, interrompendo seu projeto de poder. À Dilma “Kirchner” e ao Lula “Castro” restará o consolo de seus amigos Renan Calheiros, Henrique Alves, Collor, Sarney, Zé Dirceu, Maluf, Genoino, João Paulo Cunha, Padilha, Guido Mantega, Marcos Valério, Delúbio Soares, Ruy Falcão, Paulo Roberto Costa, André Vargas, Franklin Martins e Cândido Vacarezza, et caterva.

Brasil em 20 anos - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

EU VOTO #AÉCIO45


O GLOBO - 23/10

Trajetória brasileira é igual à dos principais países emergentes. Com uma diferença: nós em geral chegamos atrasados


O Brasil chegou até aqui da seguinte maneira:

1. Estabilização macroeconômica, a partir da introdução do Real (1994) e de uma série de reformas que se prolongaram por uns dez anos, nos dois governos FH e no primeiro mandato de Lula.

2. Entre as reformas, a mais importante foi a Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelecendo regras para o gasto público e tornando obrigatória a geração de superávits primários para a redução do endividamento do governo. Essenciais as normas proibindo a União de financiar estados e proibindo bancos estaduais de emprestar para estatais.

3. Essencial também a reestruturação das dívidas dos estados, com base em uma legislação que simplesmente obriga os governos estaduais a gerar superávits mensais, em vez de déficits e dívidas, como era até então. Acrescente-se aqui o fechamento (e privatização) de bancos estaduais, até então máquinas de buracos sem fundo.

4. A reestruturação de todo o sistema financeiro, privado e público. Não esquecer: Banco do Brasil e Caixa estavam literalmente quebrados; foram capitalizados (R$ 9,5 bilhões só para o BB), saneados e colocados sob gestão profissional, ainda no governo FH.

5. As privatizações dos setores de telecomunicações, siderurgia, mineração e energia, todos com grande expansão posterior. As concessões de rodovias. A quebra do monopólio da Petrobras e sua transferência para a União, que passou a leiloar a concessão de campos de petróleo. Vieram novos investimentos privados nacionais e estrangeiros, que levaram às descobertas, inclusive do pré-sal. A Petrobras foi saneada e profissionalizada.

6. Reformas da Previdência.

7. Flexibilização de leis trabalhistas, como a introdução do banco de horas e do sistema de suspensão temporária do contrato de trabalho, largamente em uso hoje, e que impedem o aumento do desemprego.

8. O câmbio flutuante e o regime de metas de inflação (1999).

9. Alguma abertura no comércio externo.

10. As bases dessa verdadeira revolução estavam prontas quando Lula assumiu em 2003. Mas seu primeiro mandato foi essencial para consagrar um tipo de consenso macroeconômico, que pode ser assim resumido: não pode ter inflação; o governo tem que gastar menos que arrecada; a dívida pública tem que cair.

11. Reajustes reais do salário mínimo e programas sociais, já em funcionamento, mas ampliados de modo substancial com Lula

12. As reformas microeconômicas no primeiro mandato Lula, facilitando a vida de empresas e, muito especialmente, modernizando e dando segurança ao crédito, que simplesmente explodiu (imobiliário, consignado e automóveis). Isso foi o consumo das famílias.

13. A China caiu do céu. No início deste século, o Brasil mal exportava US$ 1 bilhão/ano para a China. Já em 2008 ultrapassava os 40 bilhões. A China puxou os emergentes e o Brasil foi na onda. Tornou-se superavitário no comércio externo. Sobraram dólares no Brasil, que o Banco Central comprou e formou as reservas.

14. A mineração e, sobretudo, o agronegócio, privados, que aproveitaram a oportunidade e tornaram-se grandes exportadores.

Essa trajetória brasileira é igual à dos principais países emergentes. Com uma diferença: o Brasil em geral chegou atrasado. Quando se acabou a inflação por aqui, ela já não era problema no mundo.

Outra diferença foi no ritmo de crescimento. Houve incrível expansão mundial, coincidindo com o início do governo Lula e durando até 2008. Todo mundo tirou pessoas das pobreza, as novas classes médias se formaram por toda parte. Mas no período 2003/07, por exemplo, o Brasil cresceu 4% ao ano em média, contra 4,8% do mundo e 7,6% dos emergentes. Foi assim em todos os períodos seguintes.

Depois da crise de 2008/9, o governo Lula começou a desmontagem do modelo, acelerada na gestão de Dilma Rousseff. As leis básicas não foram alteradas, mas as práticas, sim. O regime de metas de inflação está aí, mas a meta não é cumprida faz tempo.

A Lei de Responsabilidade fiscal está aí, mas o governo manobra as contas de modo a ampliar gastos — e dívidas. O governo empurra os bancos públicos para operações duvidosas e que logo, logo, apresentarão problemas. Práticas pré-Real.

Resultado: inflação alta, rodando na casa dos 6,5% ao ano (e, mesmo assim, “martelada”), enquanto o mundo todo tem inflação muito baixa; crescimento zero, enquanto os emergentes crescem 4,5%; juros na casa dos 11% ao ano, muito acima do padrão mundial e dos emergentes.

O desemprego é baixo em consequência daquelas mudanças que foram se consolidando. E não é uma proeza brasileira. Neste momento, o Brasil não gera empregos, a população trabalhando é estável faz algum tempo, segundo dados do IBGE. E, se continuar sem crescimento econômico, vai gerar desemprego.

E a taxa de desemprego nos outros países? Na casa dos 6%, pouco mais (Índia, 8,8%; Colômbia, 8,9%), pouco menos (México, 4,9%; Indonésia, 5,7%).

Resumão: o Brasil tem inflação maior, juros maiores, crescimento menor e desemprego igual, mas com tendência de alta.

A receita é óbvia.

A vida vai melhorar. Quando? - CELSO MING

EU VOTO #AÉCIO45


O ESTADÃO - 23/10

O brasileiro parece não dar importância à macroeconomia


Foi o presidente Médici que identificou em 1970 o desencontro entre a qualidade da economia do País e a qualidade de vida do brasileiro: “A economia vai bem, mas o povo vai mal”, resumiu ele, frase que vai sendo repetida, como agora, nesta Coluna.

A Pesquisa Datafolha realizada terça-feira entre 4,3 mil eleitores de todas a regiões do País, com a metodologia do gênero, identifica situação inversa. O povão parece mais satisfeito com a vida e mais otimista com a economia, embora os indicadores técnicos apontem para o contrário – e muita reclamação continue acontecendo.

O crescimento econômico do Brasil é uma sucessão de mediocridades e promete ainda muitos meses de paradeira. A inflação, que vai perfurando o teto da meta e o bolso do consumidor, não dá sinais de trégua. Ao contrário, a simples correção dos preços atrasados, como o dos combustíveis, da energia elétrica e dos transportes urbanos, acena com ainda mais inflação, e não com menos. O investimento vai sumindo, a indústria está sendo sucateada e perde competitividade todos os dias. São realidades objetivas, medidas, avaliadas, interpretadas.

E, no entanto, o brasileiro parece não dar importância à macroeconomia. A campanha da presidente Dilma, que começou discutindo temas áridos até para especialistas, como autonomia do Banco Central e o tripé da política econômica, enveredou agora para o viés da tua-vida-melhorada. Tanta gente simples – dizem essas mensagens – acaba de pôr os pés em casa própria ou, se ainda não, acha que logo terá condições para isso. Tanta gente simples comprou geladeira e trocou a velha TV por um modelo de última geração. Tanta gente, algumas vezes por ano, passou a esticar um fim de semana na praia e passou a viajar de avião pra Belém do Pará. E quem hoje não pilota um celular, aparelhinho que facilita a vida, permite o uso de aplicativos espertos e já não deixa ninguém mais ilhado no mundo?

Completam a paisagem otimista os números do mercado de trabalho que apontam para uma situação de pleno-emprego. Cada vez mais gente sacudida prefere não buscar emprego, porque alguém de casa ganha Bolsa Família. É só completar o orçamento com uma viração, um servicinho no jeito – coisa que há alguns anos não acontecia.

A conclusão dessa pesquisa acena para alguma coisa errada porque esse quadro não é tudo nem a maior parte. Outros fatos ficaram repentinamente esquecidos. Há todo o sufoco conhecido, a baixa qualidade do ensino; o mau atendimento à saúde pública; a falta de segurança; as horas diárias perdidas na condução ruim e cara; e, mais que tudo, na cada vez maior falta de oportunidades para subir na vida.

Enfim, não dá para desconsiderar toda a energia das manifestações de junho/julho do ano passado e a carga de reclamações contra a qualidade de vida nas grandes cidades. Na própria área próxima do governo e do PT há os movimentos sociais, o dos Sem-Terra, o dos Sem-Teto e o dos sem outras coisas, que todos os dias passam o recado de que, ao contrário do que diz o governo, a vida é dura de levar, mesmo sem colocar nessa conta a falta d’água e a incerteza que vem com ela. A vida vai melhorar – canta Martinho da Vila. Mas ainda falta muito.

CONFIRA:



Aí está a evolução do faturamento do setor de serviços. Indica enfraquecimento, uma vez que, dependendo da maneira como é medida, não compensa nem a inflação do período.

Queda
O rebaixamento da qualidade dos títulos da Petrobrás pela agência Moody’s é consequência da forte deterioração do caixa da empresa. É o que coloca em risco o pagamento da dívida de R$ 241 bilhões. Vários fatores concorreram para isso. Mas o maior predador das finanças da Petrobrás é o represamento dos preços dos combustíveis.

Fora PT! - MARCO ANTONIO VILLA

EU VOTO #AÉCIO45


FOLHA DE SP - 23/10

A socialização dos meios de produção se transformou no maior saque do Estado brasileiro em proveito do partido e de seus asseclas


Estamos vivendo o processo eleitoral mais importante da história da República. Nesta eleição está em jogo um mandato de 12 anos. Caso o PT vença, estarão dadas as condições para a materialização do projeto criminoso de poder --expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello no julgamento do mensalão.

Em contrapartida, poderemos pela primeira vez ter uma ruptura democrática --pelo voto-- com a vitória da oposição. Isso não é pouco, especialmente em um país com a tradição autoritária que tem.

O PT não gosta da democracia. Nunca gostou. E os 12 anos no poder reforçaram seu autoritarismo. Hoje, o partido não sobrevive longe das benesses do Estado. Tem de sustentar milhares de militantes profissionais.

O socialismo marxista foi substituído pelo oportunismo, pela despolitização, pelo rebaixamento da política às práticas tradicionais do coronelismo. A socialização dos meios de produção se transformou no maior saque do Estado brasileiro em proveito do partido e de seus asseclas de maior ou menor graus.

Lula representa o que há de mais atrasado na política brasileira. Tem uma personalidade que oscila entre Mussum e Stálin. Ataca as elites --sem defini-las-- e apoia José Sarney, Jader Barbalho e Renan Calheiros. Fala em poder popular e transfere bilhões de reais dos bancos públicos para empresários aventureiros. Fez de tudo para que esta eleição fosse a mais suja da história.

E conseguiu. Por meio do seu departamento de propaganda --especializado em destruir reputações--, triturou Marina Silva com a mais vil campanha de calúnias e mentiras de uma eleição presidencial.

Dilma nada representa. É mera criatura sem vida própria. O que está em jogo é derrotar seu criador, Lula. Ele transformou o Estado em sua imagem e semelhança. Desmoralizou o Itamaraty ao apoiar terroristas e ditadores. Os bancos e as estatais foram transformadas em seções do partido. Nenhuma política pública foi adotada sem que fosse tirado proveito partidário. A estrutura estatal foi ampliada para tê-la sob controle, estando no poder ou não.

A derrota petista é a derrota de Lula. Será muito positiva para o PT, pois o partido poderá renovar sua direção e suas práticas longe daquele que sempre sufocou as discussões políticas, personalizou as divergências e expulsou lideranças emergentes. Mas, principalmente, quem vai ganhar será o Brasil porque o lulismo é um inimigo das liberdades e sonha com a ditadura.

Daí a importância de votar em Aécio Neves. Hoje sua candidatura é muito maior do que aquela que deu início ao processo eleitoral.

Aécio representa aqueles que querem dar um basta às mazelas do PT. Representa o desejo de que a máquina governamental esteja a serviço do interesse público. Representa a disposição do país para voltar a crescer --de forma sustentável-- e, então, enfrentar os graves problemas sociais. Representa a ética e a moralidade públicas que foram pisoteadas pelo petismo durante longos 12 anos.

Cabe aos democratas construir as condições para a vitória de Aécio. Não é tarefa fácil. Afinal, os marginais do poder --outra expressão utilizada no julgamento do mensalão-- tudo farão para se manter no governo. Mas o país clama: fora PT!

Menor do que entrou - MERVAL PEREIRA

EU VOTO #AÉCIO45


O GLOBO - 23/10

Lula tem tido atuação ambígua nesta eleição. O ex-presidente Lula tem tido uma atuação ambígua nesta eleição. De vez em quando desaparece, dando margem a boatos de que estaria doente ou teria brigado com a presidente Dilma. De repente, eis que Lula surge cheio de gás num palanque no interior do Pará ou no Rio, fazendo discursos, mais que exaltados, delirantes, em defesa do PT e da reeleição de Dilma. Do jeito que ataca seus adversários, atirando para tudo quanto é lado, não parece estar muito certo da vitória.

Oato falho de pedir "só mais esta vitória" para o PT, como fez ontem, indica que o apelo é quase desespero pela possibilidade de derrota, que nunca foi tão grande. Além da baixaria de induzir a plateia a chamar o adversário de bêbado e drogado, ou de investir contra jornalistas que considera adversários, Lula apela para mistificações diversas. Chegou a perguntar onde estava Aécio Neves quando Dilma lutava contra a ditadura com armas na mão. Ora, Aécio tinha 7 anos de idade quando Dilma tinha 20.

Fazendo-se de ofendido, Lula disse que Aécio não sabia como tratar uma mulher, por ter enfrentado Dilma com palavras duras. E citou "leviana" como sendo uma ofensa à presidente. Aproveita-se Lula do fato de que em algumas regiões do país, sobretudo no Nordeste, "leviana" tem a conotação de prostituta. E ajuda a disseminar a ideia de que o adversário agride mulheres, inclusive fisicamente, como a rede suja da internet espalha incessante e anonimamente.

Mas os vídeos mostram que o próprio Lula chamou Alckmin de leviano várias vezes nos debates de 2006. E atacou adversários hoje aliados, como Sarney e Collor, chamando-os diretamente de "ladrão" e palavras do gênero, o que diz nunca ter feito. Mesmo que vença, como as pesquisas do Datafolha indicam hoje, o PT sai da eleição menor do que entrou. E Lula também. Sobretudo por se valerem dos métodos mais baixos para vencer.

O partido continua com a maior bancada da Câmara, mas perdeu nada menos que 18 deputados federais. Elegeu apenas três governadores no primeiro turno - sendo que a joia da coroa é sem dúvida Minas, arrebatada do grupo político de Aécio -, e, nos três estados em que ainda disputa o segundo turno, pode vencer no CE e no MS, mas deve ser derrotado no RS, estado emblemático para o partido e para Dilma.

No Senado, continuará sendo a 2ª maior bancada, mas com menos um senador. Para culminar a má atuação, o PT perdeu nas eleições deste ano o privilégio de ser o partido com maior número de votos na legenda para a Câmara, que ostentava desde 90. Para mal de seus pecados, ainda ficou atrás do PSDB nesse tipo de voto, o que mostra a vitalidade do partido de oposição.

Os tucanos receberam 1,92 milhão de votos, correspondentes a quase 24% dos votos válidos; o PT recebeu 1,75 milhão de votos de legenda, ou 21,6% do total de votos válidos. Em 90, quando iniciou a hegemonia agora derrubada, o PT teve 1,79 milhão de votos, 24,1% dos válidos; e o PSDB, apenas 340 mil votos, ou 4,6%.

Por fim, com o eleitorado literalmente dividido, o vencedor receberá um país traumatizado pela violência da campanha desde o 1º turno, quando o PT usou de técnicas de propaganda negativa para desmoralizar Marina Silva, e a própria Dilma, sem nenhum pudor, insinuou que ela era sustentada por banqueiros, em referência à sua principal assessora, Neca Setubal. É muito mais exagerado do que dizer que Lula é sustentado por empreiteiras, o que ninguém disse.

O PT vem, desde 2010, recebendo menos votos para presidente do que nas eleições anteriores, e a oposição cresce. Após perder duas vezes seguidas no primeiro turno para o ex-presidente Fernando Henrique, Lula só conseguiu vencer no 2º turno, quando tinha uma votação em torno de 60%. Dilma foi eleita em 2010 com 56% e hoje aparece nas pesquisas do Datafolha com 52%, empatada tecnicamente e com o risco de perder a eleição.

A oposição já agrega a metade dos votos válidos e, dependendo da famosa margem de erro, pode vencê-la. Além do mais, o país ganhou uma oposição aguerrida, que, se não vencer, terá atuação muito mais eficaz no eventual 2º mandato de Dilma, com todos os problemas que são esperados nos próximos anos, crises econômicas combinadas com institucionais decorrentes da delação premiada sobre a corrupção na Petrobras.

Vencedora, a oposição terá pela frente um PT jogado novamente na oposição, com uma multidão de burocratas partidários desempregados, cheios de rancor para dar.

De oito a 80 - DORA KRAMER

EU VOTO #AÉCIO45


O ESTADÃO - 23/10


O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Antonio Dias Toffoli, propõe uma revisão do uso do horário eleitoral para as próximas campanhas. Traz o tema à discussão no bojo da repentina - e por que não dizer tardia, radical e atabalhoada - mudança de orientação do colegiado em relação ao grau de interferência da Justiça na cobrança do cumprimento da lei por parte das forças políticas em disputa.

Toffoli considerou de muito baixo nível o que PT e PSDB apresentaram em seus programas na campanha do segundo turno. De onde concluiu que se há tempo para ofensas é porque há tempo em excesso; questionou se as campanhas não deveriam ser mais curtas e defendeu o direito do tribunal "pôr um freio de arrumação" no ambiente proibindo toda e qualquer crítica considerada inadequada, a fim de preservar os ouvidos sensíveis do eleitorado.

Tudo isso ao juízo do mesmo colegiado cuja maioria até então defendera uma atitude "minimalista" (no dizer do ministro Luiz Fux) da Justiça, no intuito de não interditar o debate político. Ou seja, o TSE, representado por seu presidente, saiu de uma posição de deliberado alheamento para uma atitude de interferência discricionária, avocando para si a decisão sobre o tempo e o conteúdo do que pode ou não ser dito.

No primeiro turno, ao contrário do que argumenta o ministro Dias Toffoli, houve sim ataques que buscavam exclusivamente desqualificar um dos oponentes e não qualificar o atacante. O que não houve foi resposta no mesmo tom por parte do atacado. No caso, atacada, a então candidata do PSB, Marina Silva. A diferença agora é que o adversário foi ao contra-ataque e a campanha virou uma guerra. Aliás, dentro do esperado. A Justiça Eleitoral, assim como o País todo não ignorava o que estava por vir.

A discussão sobre mudanças futuras proposta pelo presidente do TSE é legítima embora talvez seja algo extemporânea. Indispensável a retomada do tema após as eleições com a inclusão de diversos outros itens, entre os quais até mesmo a revisão da legislação eleitoral e as regras da reeleição.

Quando a maioria dos ministros tomou a decisão de "flexibilizar" as normas, foi deixada de lado a especificidade do momento. Já devidamente exposta na antecipação da campanha eleitoral iniciada por iniciativa do ex-presidente Lula em fevereiro de 2013. É de se reconhecer que a norma está caduca, mas não se pode ignorar que há uma lei vigente.

Enquanto não for revogada, há de ser respeitada. E o TSE resolveu fechar os olhos a ela quando não atendeu às reiteradas ações contra o uso da máquina pública, argumentando que só poderia agir quando as candidaturas estivessem oficializadas.

Até então, o Palácio do Planalto fez o que quis. Usou suas dependências para reuniões partidárias, abusou de órgãos públicos à vontade e depois disso também transformou agências dos Correios em comitês eleitorais. Agora a TV Globo inova ao incluir perguntas de eleitores indecisos, retirando o debate do controle exclusivo dos candidatos e abrindo algum espaço para algo que fuja do robótico ensaio dos marqueteiros.

Melhor do Brasil. Há um tipo de resistência que não tem consistência. Sustenta-se na insolvência e, ainda que momentaneamente vitoriosa, um dia acaba. Falta-lhe o essencial: a substância de longa distância.


Otimismo ao quadrado - ELIANE CANTANHÊDE

EU VOTO #AÉCIO45


FOLHA DE SP - 23/10


BRASÍLIA - É improvável que os otimistas com a economia no governo Dilma tenham saltado 12 pontos (de 32% para 44%) em um mês. Primeiro, porque não há nada de novo para reforçar essa percepção. Segundo, porque, ao contrário, continuam jorrando dados negativos.

O crescimento deve ser inferior a 1%, o que não deixa o Brasil exatamente bem na foto nem na América Latina nem entre os emergentes. E, na própria terça (21), chegaram duas novas más notícias: a inflação acima não só da meta, mas do próprio teto da meta, além do rebaixamento da nota de crédito da Petrobras.

Na avaliação do analista de pesquisas Antonio Lavareda, esse pulo nos índices não reflete um súbito rasgo de otimismo com Dilma e com os dois derradeiros meses desse governo. É muito tarde para dizer que "daqui pra frente, tudo será diferente". Reflete, sim, uma expectativa favorável tanto dos eleitores de Dilma quanto dos de Aécio. Os dois grupos acham que o seu candidato vai vencer e, portanto, a economia vai melhorar "nos próximos meses".

Pelo Datafolha, 50% dos eleitores de Dilma e 43% dos de Aécio acreditam na melhora da economia --provavelmente, a partir da posse do novo governo, em janeiro. Haveria, assim, uma "soma de otimismos", segundo Lavareda. Ou, numa outra forma, "todos estão [por ora] felizes".

O mais curioso é que a percepção da melhora na economia em 2015 não encontra respaldo na mais elementar análise da realidade. Dê Dilma ou dê Aécio, será um ano muito difícil, de ajustes, para retomar o crescimento, a meta de inflação, o controle fiscal, o equilíbrio das contas externas. E só a partir de 2016... A coisa não está boa. Ou Dilma não teria demitido o ministro da Fazenda no meio da campanha...

O otimismo dos eleitores, pois, nem é exatamente com a economia, mas sim com a possibilidade de vitória do seu (sua) candidato(a) domingo. Aí... as pesquisas dão indícios importantes, mas não adivinham.

Dilma 2, a crise - DEMÉTRIO MAGNOLI

EU VOTO #AÉCIO45


O GLOBO - 23/10

Em caso de vitória domingo, a presidente teria o cetro e o trono, mas careceria da legitimidade tipicamente democrática, que decorre da persuasão


Se, neste domingo, Dilma Rousseff obtiver a reeleição, estará instalado um governo de crise. A candidata terá sido eleita por metade do país, contra a vontade do eleitorado urbano do Centro-Sul e derrotando as aspirações de mudança que detonaram as manifestações de junho de 2013. Num cenário de acelerada deterioração econômica, o governo será compelido a restringir o crédito e o consumo, desonrando a nota promissória assinada pela candidata durante a campanha eleitoral. Refém da máquina do lulopetismo, a presidente que fracassou em seu primeiro mandato precisará inclinar-se a uma série de exigências políticas do PT. Então, lembraremos com saudade dos anos medíocres de Dilma 1.

Em eleições democráticas, o vencedor fica com as batatas. Na hipótese de triunfo de Dilma, mesmo que por um mísero voto de diferença, ela terá a legitimidade jurídica para governar — e Aécio deverá cumprimentá-la como presidente de todos os brasileiros. A legitimidade política, contudo, é algo diferente. Uma vitória do lulopetismo no domingo não significaria a reprodução dos triunfos anteriores de Lula e da própria Dilma, mas a reiteração anômala de um governo cujo tempo passou. Uma prova elucidativa disso está na campanha da presidente, que repete lendas sobre um passado já distante (o governo de FH) sem nunca articular um rumo de futuro.

A caravela do lulopetismo chegou ao porto do poder insuflada pelos ventos fortes de uma utopia possível: mais igualdade e justiça social. Aquela promessa de mudança rendeu alguns frutos, mas estiolou-se aos poucos, degradando-se num projeto político-partidário vazio. Dilma nada tem, hoje, a dizer aos cidadãos. A narrativa central de sua campanha é que todos os adversários (Eduardo Campos, Marina Silva, Aécio Neves) encarnam o mal absoluto. Só o PT e seus patrióticos aliados, entre os quais despontam as mais nefastas figuras da República, têm o direito de conduzir o país — eis a mensagem absurda veiculada pela campanha oficial. Dilma 2 seria o resultado do triunfo do medo, isto é, de uma inércia sustentada pela força esmagadora do aparelho de Estado. A presidente teria o cetro e o trono, mas careceria da legitimidade tipicamente democrática, que decorre da persuasão.

O lulopetismo beneficiou-se de um ciclo econômico internacional especialmente favorável, tanto sob o ponto de vista dos fluxos de capitais quanto sob o dos termos de intercâmbio. Nunca antes, sob a vigência da democracia, um mesmo bloco político experimentara doze anos ininterruptos de poder. Fenômenos similares de estabilização política, largamente influenciados pelo ciclo econômico global, verificaram-se na Rússia, na Turquia, na Venezuela e na Argentina. Contudo, desde 2010, ruíram os fundamentos externos do crescimento econômico moldado pela expansão do crédito e do consumo. A reversão do ciclo colhe o Brasil despreparado para enfrentar os desafios da conjuntura mundial. Num hipotético segundo mandato, Dilma seria obrigada a velejar contra o vento sem conhecer os segredos da triangulação.

Confrontado com a reversão do ciclo, o chavismo engajou-se na aventura de desafiar os manuais da economia de mercado, conduzindo a Venezuela aos abismos da inflação, do desabastecimento e de uma severa recessão. O lulopetismo, porém, não é uma variedade amenizada de chavismo. Ignorando o clamor dos chamados “desenvolvimentistas” do PT, Lula rejeita os desvios aventureiros extremos, preferindo oscilar em torno do eixo da ortodoxia. Os rumores sobre um possível retorno de Antonio Palocci ao leme da economia podem até se revelar falsos, mas indicam que Dilma 2 não nos atiraria no redemoinho da “venezuelanização”. Entretanto, também não avançaria na rota das reformas indispensáveis para inaugurar um novo ciclo de crescimento, que foram demonizadas impiedosamente durante a campanha eleitoral.

O vetor resultante é um governo de crise crônica. Num cenário de estagnação da economia e perda do dinamismo do mercado de trabalho, combatendo surtos inflacionários, ameaçado por desequilíbrios nas contas públicas e externas, o segundo mandato seria assombrado pelos amplos desdobramentos políticos do escândalo de corrupção na Petrobras. Então, uma presidente que perdeu o respeito da opinião pública se converteria em refém das múltiplas, contraditórias exigências de uma coalizão de poder cada vez mais esgarçada.

Dilma nunca teve peso específico no PT. Se reeleita, não terá nem mesmo a perspectiva de um novo mandato, que funciona como reserva estratégica de poder. A presidente fraca teria que se inclinar às correntes do lulopetismo descontentes com o jogo de contrapesos típico das democracias. O Congresso indócil, pronto a exercitar a arte da chantagem, o STF fortalecido pelo desenlace do julgamento do “mensalão” e a imprensa independente, que insiste em divulgar notícias desagradáveis, se converteriam em alvos do fogo do Executivo. Se chegar a existir, Dilma 2 será o governo dos “conselhos participativos” constituídos por movimentos sociais palacianos, de seletivas escolhas de juízes destinadas a desfigurar a corte suprema, da mobilização de ferramentas financeiras e políticas de atemorização da imprensa. No compasso da crise, conheceremos de fato a alma autoritária do PT.

A linguagem de uma disputa eleitoral não é mero fogo fátuo, que se dissipa na hora da proclamação do vencedor, mas um poderoso indicador do estado do sistema político. A campanha de Dilma pintou seus adversários como “inimigos do povo”, não como lideranças oposicionistas legítimas, e empregou largamente os recursos da difamação e da injúria pessoais. Num hipotético segundo mandato, seu governo não promoverá a ruptura econômica sonhada pelos insensatos, mas operará na esfera política segundo os critérios definidos nesses três meses de fúria. É só isso que, 12 anos depois, tem a oferecer o lulopetismo.

O nazismo na boca de Lula - EDITORIAL O ESTADÃO

EU VOTO #AÉCIO45


O ESTADO DE S.PAULO - 23/10

A frequência com que as palavras "nazismo" e "nazista" são usadas para insultar tende a ser tanto maior quanto menor o conhecimento dos que as empregam do que foi efetivamente o mais hediondo regime que o Ocidente experimentou ao longo de sua história e do que fizeram os seus seguidores. Se mesmo na Europa as novas gerações parecem saber cada vez menos da barbárie que a devastou há 70 anos, não surpreende que em outras paragens os termos que a revestem tenham se tornado ao mesmo tempo corriqueiros e caricaturais - e, nessa medida, uma ofensa permanente à memória de suas vítimas. Um exemplo de livro de texto dessa banalização do mal acaba de ser dado pelo ex-presidente Lula, no lugar onde mais ele fica à vontade para usufruir da sua inesgotável propensão à baixeza: um palanque eleitoral.

Ao lado da afilhada Dilma Rousseff, em um comício que reuniu cerca de 40 mil pessoas no Recife, anteontem, ele equiparou as supostas agressões ao Nordeste da campanha do tucano Aécio Neves e de seus aliados às práticas nazistas na 2.ª Guerra Mundial. Lula falava para um público que, em geral, tem disso informação precária ou nenhuma. Mas aprendeu, como quase toda a gente, que o tal do nazismo é a coisa mais medonha que se pode conceber. Portanto, se ouve de Lula que a esse extremo chegam os presumíveis preconceitos e injustiças da oposição "contra nós", os nordestinos, deve ser a pura verdade. Lula não imaginaria que o sentimento de revolta que se esmerava em inculcar à sua plateia a dotaria do poder mágico de votar duas vezes em Dilma na decisão de domingo para se vingar dos "preconceituosos". Nem seria preciso: no primeiro turno, vencido em Pernambuco por Marina Silva, Dilma obteve 44% dos sufrágios ante menos de 6% de Aécio.

Logo se vê que a fúria de Lula não tem nada que ver com um hipotético imperativo de conseguir que a sua apadrinhada prevaleça numa capital, em um Estado e numa região onde ela e o seu adversário - a exemplo do que se passa em âmbito nacional, segundo as pesquisas - estariam engajados numa guerra sem quartel pelo voto de cada eleitor. O comício do Recife foi apenas (e tudo isso) uma oportunidade para ele dar vazão ao ódio que sente pelas "elites" - e que soube guardar no congelador quando, presidente, se amancebou com o que elas têm de pior. Muito mais do que o combate político, é esse sentimento que o leva a perder o que ainda possa ter em matéria de senso de proporção, ao comparar os adversários não só aos nazistas, mas a Herodes, "que matou Jesus Cristo por medo de ele se tornar o homem que virou".

Já investir contra Aécio, como também fez em Pernambuco, acusando-o de "grosseiro" com Dilma, é frio cálculo eleitoral. O neofeminista da temporada havia feito a sua aparição na antevéspera, em outro comício, então em Itaquera, na zona leste paulistana. "Esse rapaz não teve educação de berço para respeitar as mulheres", atacou. "E, sobretudo, uma presidente, mãe e avó."

Logo ele, que fez com brio a sua parte na profusão de baixarias para desqualificar a candidata Marina Silva na disputa do primeiro turno. A campanha de Dilma decerto tentará até o último instante mostrar um Aécio desdenhoso com as mulheres. Acredita que a ligeira ultrapassagem do senador pela presidente, no empate técnico registrado na pesquisa de segunda-feira do Datafolha, se deve em parte à irritação de uma parcela do eleitorado feminino com o fato de Aécio ter chamado Dilma de "leviana" em um debate.

Mas vêm de muito antes os primeiros registros da extensa folha corrida de Lula, no quesito relações de gênero. Todos quantos o conhecem de longa data - e também os seus interlocutores mais recentes, porque nisso ele não mudou - sabem o que ele diz das mulheres em conversas privadas, a sua queda por chulas piadas machistas, a sua prontidão para atribuir à condição feminina defeitos percebidos, por exemplo, em companheiras de partido e servidoras federais. Sem falar no palavreado que usou publicamente - numa feira de produtos comestíveis em Pelotas, em junho de 2003 - ao falar de seu primeiro filho com a esposa Marisa Letícia: "A galega engravidou logo no primeiro dia, porque pernambucano não deixa por menos".

A falácia de um argumento eleitoreiro - EDITORIAL O GLOBO

EU VOTO #AÉCIO45


 GLOBO - 23/10

Não se sustenta a ideia da candidata Dilma de que meta baixa de inflação pode levar a taxa alta de desemprego. Basta observar o que acontece no próprio continente


Em uma campanha eleitoral pobre em debates sobre projetos e infelizmente rica em ataques típicos da baixa política, têm havido poucos momentos nos embates em que se pode configurar não apenas divergências de fundo entre candidatos, mas também definir a essência do que pensam.

Uma dessas raras oportunidades ocorreu quando a candidata-presidente Dilma Rousseff, ao responder a uma questão econômica levantada pelo tucano Aécio Neves, estabeleceu uma relação mecânica, simplista, entre combate a uma inflação alta, como a brasileira, e desemprego.

No entender da candidata, se um governo estabelecer 3% como meta da inflação — número citado em entrevista por Arminio Fraga, ministro da Fazenda caso o vencedor domingo seja Aécio —, menos que os 4,5% em vigor, o desemprego irá a 15%, aproximadamente três vezes mais que o atual, na faixa dos 5%, o mais baixo desde o início do cálculo da taxa.

O objetivo da aspirante à reeleição, sob a legenda do PT, é justificar a leniência que deixou a inflação subir ao patamar de 6% e chegar aos 6,7%, acima do limite de tolerância dos 6,5%, e alertar que nada pode ser feito contra, sob o risco de gerar desemprego.

Eleições costumam patrocinar falácias. Esta é uma. Ora, nada na teoria econômica sustenta que mais inflação permite maior crescimento e, por decorrência, mais empregos, gerados de forma sustentada — um dos dogmas professados pelos “desenvolvimentistas”, “escola” da qual a economista Dilma faz parte.

Nem mesmo o Brasil serve de exemplo. O baixo desemprego no país tem curta sobrevida, diante da virtual estagnação da economia. Há muitos metalúrgicos em “lay-off” na indústria automobilística — ficam encostados um período, com parte dos salários paga pelo Estado —, devido ao desaquecimento interno e à crise argentina, enquanto a geração de empregos formais, em setembro, foi a menor desde 2001. O emprego desce a ladeira. E pior: a inflação se mantém elevada, com o país rumo à estagflação, o pior dos mundos. Quer dizer, manter a inflação nas nuvens em nada ajuda ao crescimento. Ao contrário, pois corrói o poder de compra do consumidor, portanto afeta a produção, adia investimentos, forma uma bola de neve.

No próprio continente, as autoridades de Brasília podem encontrar casos de economias com taxas de crescimento elevadas, em comparação com o atual padrão brasileiro, e inflação bem mais baixa.

Chile, Colômbia, Peru e México, não por acaso países mais abertos ao exterior, reunidos na Aliança do Pacífico, estão neste caso: o Chile, com inflação de 5%, em setembro, deve crescer 4% este ano; México, com pouco mais de 4%, expansão algo abaixo de 3%; Colômbia, inflação de 2,8%, crescimento de 4,7%; Peru, 2,7%, expansão de 4%.

Comparados à virtual estagnação brasileira e à inflação de 6,7%, são ilhas de prosperidade, e o desmentido real de argumentos eleitoreiros.

Passivo elétrico - EDITORIAL FOLHA DE SP

EU VOTO #AÉCIO45


FOLHA DE SP - 23/10


Não é só a obra colossal da hidrelétrica de Belo Monte (PA) que se acha em atraso e, assim, ajuda a adensar a nuvem de incertezas sobre a geração de energia nos próximos anos. Ao menos outras quatro usinas menores seguem pelo mesmo caminho acidentado, a praxe no país do planejamento capenga.

Belo Monte acrescentará 11.233 megawatts (MW) nominais ao parque hidrelétrico nacional. Mesmo que se considere apenas seu fornecimento garantido (4.571 MW), a controversa usina agregará sozinha quase toda a eletricidade adicional de que o país precisa, a cada ano, para sustentar sua economia.

O prazo previsto para acionar a última turbina era 2019. A primeira delas deveria rodar já no começo de 2015, mas isso só deve acontecer um ano depois.

A concessionária Norte Energia alegou atrasos no licenciamento ambiental e interrupções imprevistas. Reivindica que se reconheçam tais intercorrências como excludentes de responsabilidade, o que desobrigaria o empreendedor de pagar pelo que deixa de entregar.

Reportagem desta quarta-feira (22) no diário "Valor Econômico", contudo, indica que os "suspeitos de sempre" --greves e questionamentos na Justiça a impactos sociais e ambientais-- afetam também o andamento de projetos menores e distantes da Amazônia. Nos quatro casos indicados, está em causa um total de 830 MW.

O exemplo mais gritante é o da hidrelétrica Baixo Iguaçu, no rio de mesmo nome no Paraná. As obras da usina de 350 MW foram sustadas há mais de quatro meses, por força de uma liminar da Justiça federal que cassou a licença ambiental de instalação do projeto.

Quase todos os trabalhadores do canteiro foram dispensados. Não se sabe quando a construção será reiniciada. Até a Unesco se envolveu, por considerar que está sob ameaça a condição de patrimônio da humanidade conferida ao Parque Nacional do Iguaçu.

Os outros três casos são os das usinas Colíder (MT), Salto Apiacás (MT) e São Roque (SC). Na Amazônia, também está atrasado o cronograma das hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, respectivamente 63 e 239 dias.

O padrão, portanto, se repete em toda parte. Os prazos de construção e operação das usinas desconsideram, ao que parece, o histórico de atrasos inerentes ao arcabouço regulatório do país.

Não fosse o crescimento medíocre da economia, esse planejamento deficitário acabaria por levar o país ao limiar de novos apagões.

Brasil perde espaços na integração produtiva global - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO

EU VOTO #AÉCIO45


VALOR ECONÔMICO -23/10

Seja para melhorar a produtividade geral diante de um futuro próximo, em que a mão de obra se tornará o fator escasso, seja para reanimar sua debilitada indústria, o Brasil precisará recobrar o vigor de suas exportações de manufaturados.

Sujeitas a uma competição virtualmente ilimitada, faz parte do modo de operação - ou de sobrevivência - das empresas exportadoras dominar e disseminar tecnologias e processos de produção que, em geral, tendem a ser mais avançados que os de boa parte das empresas voltadas apenas para o mercado interno, ainda mais em um país fechado como o Brasil.

Os déficits crescentes na balança dos manufaturados são apenas uma das faces da perda de competitividade brasileira, assim como o fim dos grandes superávits comerciais e sua transformação potencial em déficits; a erosão da produção doméstica diante de bens importados e a volta da predominância dos bens primários na pauta de exportações. A integração com as redes mundiais de produção é um dos elementos cruciais para se avaliar a vitalidade da produção brasileira. Relatório recém-divulgado da Organização Mundial do Comércio mostra que não houve grandes avanços nessa relação do Brasil com o mundo.

Dirigidas pelas empresas multinacionais, as cadeias são a cara produtiva da globalização - buscam o menor custo e melhor e mais eficiente fornecedor de todos os bens e serviços que envolvem a maior parte das etapas de fabricação de um produto, integrando-os a um processo de fato internacional.

A participação do Brasil nessas redes de produção só é maior do que a do Canadá e África do Sul entre 30 países relevantes na produção global, segundo a OMC. Enquanto que em 1995, 30% das exportações do país continham insumos importados, em 2008 essa fatia evoluiu para 40%. Curiosamente, esse era o mesmo quadro há mais de duas décadas, com a diferença que China, Índia e Turquia tinham menor integração à produção global que o Brasil, e agora o ultrapassaram.

Mas o Brasil está apenas um pouco atrás nessa participação que EUA, China e Índia, o que é relevante, mas não alentador. O tamanho dessas economias "permite a esses países produzir domesticamente um leque mais amplo de bens intermediários, diminuindo sua importação", avalia a OMC.

Além disso, sua produção doméstica pode ser dirigida a bens finais, com menor integração subsequente. O problema é que o Brasil não está emitindo sinais de dinamismo exportador, mas de anemia industrial e perda de fôlego competitivo.

A perda de espaço tem várias razões. Estudo realizado por Flávio Carneiro, do Ipea, mostrou que o país marca passo no comércio internacional porque se manteve bem protegido por meio de tarifas, quando seus competidores foram na direção oposta (Valor, 18 de outubro). Enquanto o Brasil manteve suas tarifas de importação praticamente inalteradas desde 1995, China, México e até a Argentina derrubaram as suas. Com outros critérios, dados da OMC levam à mesma conclusão. A tarifa média ponderada pelo comércio do Brasil caiu de 12,7% para 7,9% entre 2000 a 2011.

Ainda assim, só foi menor, entre os países do G-20, que as da Índia (8,2%) e da Coreia (8,7%).

Como a razão de ser das cadeias globais de valor é, segundo a OMC, "reduzir os custos logísticos e de transação", assim como as barreiras ao comércio, fica claro que o Brasil tem se colocado na contramão da tendência.

Deficiências estruturais sérias e não resolvidas foram penduradas no câmbio e quando ele não é favorável a indústria sofre.

Eliminada a defasagem cambial, ainda assim o país exibiria déficit de competitividade.

Abertura intempestiva ou busca aleatória de integração não dariam bons resultados. É preciso ter uma direção nesse processo, pois a integração nas cadeias não é via de mão única e pode trazer desvantagens. A OMC lista algumas: maior vulnerabilidade aos ciclos econômicos globais e a interrupções nas cadeias de suprimento; rápida realocação de investimentos e "aprendizado estreito", com especialização que não permite a setores industriais avanços tecnológicos e de conhecimento. Por experiência e erro, boa parte das empresas, especialmente as multinacionais, sabe o que quer nessa história. 


Falta a orientação de governo, que ora não é clara, ora é equivocada, como no caso dos acordos comerciais. Se o Brasil não define seu lugar no mundo produtivo, o mundo define o lugar do Brasil, que perde relevância.

Cotações caem e pressionam petrocracias - EDITORIAL O GLOBO

EU VOTO #AÉCIO45


O GLOBO - 23/10

Rússia e Irã acendem sinal de alerta diante da queda de cerca de 30% do preço do petróleo. Em situação mais frágil, para a Venezuela a luz é vermelha


A redução do crescimento da China, o fraco desempenho da economia global e a revolução energética nos EUA fizeram com que o preço do petróleo despencasse 30% desde junho — dos US$ 110 o barril, por quase quatro anos, para os US$ 80/90. E põe em situação difícil países da petrocracia, como Rússia, Venezuela e Irã, em que o poder é altamente dependente da receita dos hidrocarbonetos.

Os últimos indicadores mostram que a economia russa estagnou ou mesmo se contraiu em setembro, enquanto o rublo teve desvalorização recorde frente ao dólar e ao euro, contribuindo para uma elevação da inflação via encarecimento de produtos importados. Dados oficiais mostram que a inflação ao consumidor atingiu taxa anualizada de 8,3% no terceiro trimestre, a mais elevada do ano. Isto obrigaria o banco central a considerar a quarta elevação dos juros este ano. Apesar de dispor de amplo colchão de reservas cambiais acumuladas durante o período de bonança, a queda na receita e o efeito das sanções ocidentais, em função da questão ucraniana, criam uma situação delicada para o presidente Putin. A exportação de óleo e gás responde por cerca de metade da receita do governo russo. A alternativa seria cortar gastos ou aumentar impostos — o que desgastaria o Kremlin. O risco é a Rússia se tornar mais imprevisível em todos os sentidos.

A situação da Venezuela é muito pior. O país já sofre com desabastecimento, escassez de divisas, inflação anual acima de 60% e desinvestimento público e privado. O país acumula pagamentos atrasados de US$ 2 bilhões somente a empresas brasileiras. A queda do petróleo deverá levar ao limite a capacidade do governo chavista e da própria população de resistir ao impacto. Caracas precisaria do barril a US$ 120 para financiar programas sociais, base de sustentação do chavismo. O agravamento da crise pode levar a situações imprevisíveis.

O presidente Nicolás Maduro, como antes Hugo Chávez, se apoia nas Forças Armadas, cujos oficiais detêm altos cargos. Não se pode afastar o risco de uma intervenção militar direta, diante de um quadro de insegurança e agitação social.

Thomas L. Friedman, colunista do “New York Times”, vê um viés geopolítico na baixa do petróleo, provocada, em parte, pelo espetacular aumento da produção de gás não convencional nos EUA, que reduz, e pode acabar, a dependência americana do petróleo importado. Isto pune rivais — Rússia, Irã e Venezuela. E, em certa medida, interessa ao aliado americano entre os grandes produtores, a Arábia Saudita, inimiga do Irã. Mas, diante do avanço de um inimigo maior, o Estado Islâmico, EUA e Irã se aproximam, Irã e sauditas conversam. Sofre mais quem está sob sanções: Rússia e Irã. Mesmo sem elas, a Venezuela afunda. O petróleo mexe com a geopolítica mundial.

A verdade, doa em quem doer - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

EU VOTO #AÉCIO45


CORREIO BRAZILIENSE - 23/10


Lá se vão mais de 20 anos, desde que frase dita por um ministro da Fazenda nos bastidores de entrevista à tevê vazou via satélite e terminou por levá-lo a pedir demissão do cargo. "O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde", disse à época o embaixador Rubens Ricupero. A máxima, inadvertidamente confessada, entrou para a história política brasileira. E agora crescem as evidências de que a prática esteja em alta.

É que, em pleno processo de sucessão presidencial, mais um ocupante de chefia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) pôs o cargo à disposição, reforçando a suspeita de ingerência política na divulgação de dados oficiais. Primeiro foi Herton Ellery Araújo, que deixou a Diretoria de Estudos e Políticas Sociais. Desta vez, Marcelo Medeiros pede para sair da Vice-Coordenadoria de Estudos de População, Desenvolvimento e Previdência.

Herton havia sido impedido de apresentar trabalho anual da entidade mostrando que, de 2012 para 2013, a pobreza extrema parou de cair no país. Medeiros não expressou na carta o motivo do seu pedido de exoneração, mas testemunhas ouviram reclamações dele contra o represamento de dados. Sem convencer, o instituto alega respeito à legislação eleitoral para segurar a divulgação de resultados de estudos fundamentais ao norteamento das políticas públicas.

Nem que o caso do Ipea fosse um fato isolado, a explicação deixaria de ser questionável. Só que a credibilidade das estatísticas nacionais, até há pouco de excelência reconhecida inclusive por organismos internacionais, vem sendo posta em dúvida quase de modo generalizado nesta campanha eleitoral e mesmo antes dela. Grave exemplo foi a correção de última hora produzida pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do ano passado (Pnad 2013). Num passe de mágica, virou queda o que seria aumento da desigualdade no país.

Na esteira da "falha banal, de fácil detecção", como a presidente Dilma Rousseff classificou o erro do IBGE, soube-se que o quadro de servidores do instituto encolheu 14% no atual governo - de 7.076 para 6.083 pessoas de janeiro de 2011 para cá. Não bastasse, o Projeto de Lei do Orçamento da União prevê menos verba para pesquisas em 2015: de R$ 462 milhões este ano, para R$ 286,2 milhões no próximo. Resultado: foram suspensos o Censo Agropecuário 2015 e a Contagem da População 2016.

Esse caldo de cultura de "o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde" já foi tratado pelo Tribunal de Contas da União como "contabilidade criativa". Na macroeconomia, costuma receber outro nome jocoso: "pedaladas fiscais". O jeito meio brincalhão de encarar os desvios não significa, contudo, que eles tenham menor gravidade. Pelo contrário. Perde o planejamento governamental. E não só a máquina pública é contaminada.

O artificialismo enevoa a realidade. A credibilidade internacional do país é posta em jogo. A maquiagem também confunde a iniciativa privada, atrapalhando investimentos. É estarrecedor que o superavit primário, o cumprimento das metas de inflação, o preço dos combustíveis e da energia tornem-se incógnitas. Urge, pois, restabelecer a verdade, doa em quem doer, a favor da transparência, da democracia, da vida republicana, enfim.

Desrespeito à população - EDITORIAL O ESTADÃO

EU VOTO #AÉCIO45


O ESTADO DE S.PAULO - 23/10

Completo descaso com a aflitiva situação de milhões de pessoas e irresponsabilidade no exercício de função pública - que, por sua natureza, deveria ser exercida de acordo com padrões rigorosamente técnicos - sintetizam o comportamento do presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), o antigo sindicalista e militante petista Vicente Andreu Guillo, ao tentar tirar proveito eleitoral da crise de abastecimento de água em São Paulo, provocada por uma das secas mais severas de que se tem registro.

Ao participar, a cinco dias da eleição presidencial, de um evento de nítido interesse eleitoral organizado pela bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo para atacar o governo de Geraldo Alckmin - e, por tabela, o modelo de gestão do PSDB do candidato Aécio Neves, adversário da petista Dilma Rousseff -, Andreu classificou a situação do fornecimento de água no Estado de pré-tragédia, desqualificou as medidas de emergência tomadas pelo governo paulista e previu que, se a intensidade das chuvas não voltar à média histórica, "não haverá alternativa a não ser ir ao lodo".

Para tentar atribuir à administração tucana uma responsabilidade que, definitivamente, não é dela - nunca se registrara uma seca tão severa -, o presidente da ANA não hesitou em alimentar o pânico, para tentar beneficiar a candidatura pela qual trabalha, como militante petista que é.

Trata-se de uma atitude que desrespeita o cidadão, fere as normas de civilidade que devem reger as relações entre as diferentes instâncias de governo e, sobretudo, amesquinha a ANA. Não está entre suas funções embalar candidaturas, como obviamente fez seu diretor.

A agência reguladora, como ela diz, tem como missão coordenar o uso sustentável da água "em benefício das atuais e futuras gerações". Ela pretende ser reconhecida como referência no desempenho de suas funções e, para bem desempenhá-las, diz ter como valores "compromisso, transparência, excelência técnica, proatividade e espírito público". Nenhum deles, infelizmente, pode ser identificado no comportamento do presidente da agência durante o encontro político-eleitoral dos petistas.

Embora possa causar repulsa entre os que lutam pela lisura e decência no exercício de funções públicas, a atitude de Vicente Andreu talvez não tenha surpreendido quem acompanhou sua carreira até a indicação, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para a presidência da ANA, que assumiu pela primeira vez em janeiro de 2010. Ex-dirigente sindical da categoria dos eletricitários de Campinas e ex-secretário de Planejamento da prefeitura de Campinas de 2007 a 2008 na gestão do prefeito Hélio de Oliveira Santos - posteriormente cassado por suspeita de corrupção -, Andreu já ocupou outros cargos no governo petista graças à sua condição de fiel militante partidário.

Com sua participação no evento eleitoral do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, deixou claro que essa condição precede qualquer outra, inclusive a de presidente de um organismo que, por sua função reguladora e de defesa dos interesses da sociedade - contra excessos do governo ou práticas prejudiciais de empresas privadas concessionárias de serviços públicos -, deveria ser conduzido por critérios impessoais, apartidários e técnicos.

Decerto o presidente da ANA foi inspirado pelo comportamento da candidata Dilma Rousseff. Tendo tido votação pouco expressiva em São Paulo no primeiro turno, Dilma vislumbrou na crise da água no Estado um veio de onde imagina poder extrair alguns votos a mais. Por isso, vem atacando com dureza a administração de Geraldo Alckmin.

Trata-se, como observou o chefe da Casa Civil do governo paulista, Saulo de Castro, referindo-se à participação do presidente da ANA em um evento partidário, de uma atitude "lamentável". Em nota, a ANA disse ser "fundamental manter a cooperação e confiança entre os atores institucionais que atuam na gestão e regulação dos recursos hídricos". O que seu presidente fez, porém, foi exatamente o contrário disso.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO


“Não vou me calar diante das mentiras que Dilma vem assumindo”
Sandra Starling (MG), ex-deputada e fundadora do PT, declarando voto em Aécio Neves



PT QUER SE VINGAR DO JUIZ QUE DETONOU O PETROLÃO

A começar pelo presidente do PT, Rui Falcão, que espuma de raiva quando se refere ao juiz federal Sérgio Moro, aquele que desmantelou o esquema de corrupção instalado na Petrobras em 2006, no governo Lula, até metade do governo Dilma, o PT decidiu representar contra o magistrado no Conselho Nacional de Justiça. As críticas a Moro já foram rechaçadas por entidades de magistrados e de procuradores.

DEPOIMENTOS PÚBLICOS

O PT acusa Moro de “vazar depoimentos”, na verdade públicos, do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do megadoleiro Alberto Youssef.

IGNORÂNCIA

As gravações dos depoimentos de Paulo Roberto e Youssef não estavam protegidas por sigilo, como a própria Justiça já esclareceu.

ARGUMENTAÇÃO

Os advogados do PT tentam construir a alegação de que o juiz “beneficiou” a oposição, ao autorizar a divulgação dos depoimentos.

NADA A DECLARAR

O advogado Antônio Figueiredo Basto pedirá ao juiz Moro para cancelar a ida de Youssef à CPMI do Petrolão: “Seria perda de tempo”.

ANTES DE REELEITA, DILMA JÁ ESCOLHE MINISTÉRIO

A presidente Dilma sinalizou a assessores próximos a intenção, caso vença domingo, de demitir o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e nomear o deputado paulista Ricardo Berzoini (PT), atual ministro de Relações Institucionais. Ele entende tanto de Comunicações quanto de Previdência (pasta que ocupou no governo Lula), ou seja, quase nada, mas conquistou a estima e a confiança de Dilma nos últimos meses.

CAIXINHA, OBRIGADO

Paulo Bernardo e a mulher, Gleisi Hoffmann (PT-PR), foram acusados de receber R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobras.

O DELATOR FALOU

A denúncia contra Paulo Bernardo e Gleisi foi do operador do esquema de dinheiro roubado da Petrobras, o ex-diretor Paulo Roberto Costa.

CRUELDADE

A gestão de Berzoini na Previdência foi marcada pela crueldade de obrigar velhinhos a se recadastrar pessoalmente em postos do INSS.

APOIO DECISIVO

O candidato tucano Aécio Neves sonha com um apoio que pode ser decisivo, na reta final da campanha: Joaquim Barbosa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal que o PT trata como inimigo nº 1.

REVOLTA DE PEZÃO

O governador fluminense Luiz Pezão (PMDB) ficou revoltado quando soube que Paulo Roberto Costa o citou entre beneficiados de doações. Ele disse que manteve relacionamento rigorosamente institucional com o ex-diretor da Petrobras, e deverá processá-lo na Justiça.

TRABALHO ESCRAVO NO TSE

Relatório preliminar da empresa Sedek Tecnologia & Informação aponta que em 2014 foram protocolados 21.632 processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dois terços deles após o início das eleições.

JOGO DOS 7 ERROS

O PSDB minimiza, nos bastidores, pesquisa Datafolha que colocou Aécio Neves quatro pontos abaixo de Dilma. Lembra que o instituto errou com José Serra em 2010, e com Aécio no 1º turno este ano.

SEM LICITAÇÃO

A Secom do Planalto enviou nota à coluna negando ter contratado o Ibope para aferir audiência “traço” da TV Brasil. Mas o Portal da Transparência expõe os extratos de contratos com “inexigibilidade”, ou seja, sem licitação, para medir audiência em pelo menos seis estados.

PIZZARIA EM AÇÃO

Ciente de que não daria em nada a reunião da CPMI do Petrolão, ontem, a tropa de choque do governo nem apareceu. O único petista presente, além do relator Marco Maia (RS), foi Afonso Florence (BA).

CORRUPTICE CRÔNICA

Na CPMI, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), afirmou que a Petrobras deveria dar atestado de “corruptice crônica”, enquanto Afonso Florence (PT) foi ridicularizado ao apelar para o “coração valente” de Dilma.

ESCOLTA DA PF

A pedido do vice-presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP), a Secretaria-Geral da Câmara pediu ao Ministério da Justiça o restabelecimento da escolta da Polícia Federal ao deputado Luiz Couto (PT-PB).

O NOME DO VOTO

O governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), fora do segundo turno, decidiu recomendar voto nulo aos eleitores petistas. É o voto Agnulo.


PODER SEM PUDOR

O PADRE E A PIADA

Pegou mal a piadinha que o presidente da CNBB, dom Jaime Chemello, contou durante palestra no auditório do STJ sobre os meios de combater a corrupção no País. Chemello contou aquela conhecida historinha que narra a criação do Brasil. Ele advertiu que a anedota não se referia ao Brasil, mas sim "a um país da América do Sul". Não colou:

- Quando criou esse país, Deus o poupou de vulcões, terremotos. E colocou nele praias maravilhosas, cachoeiras, terra férteis, petróleo. Aí, um anjo perguntou para que tanto privilégio num país só! Deus respondeu: "Espera para ver o povinho que eu vou colocar lá..."

Para dom Chemello, parece que isso é bíblico.