quinta-feira, setembro 18, 2014

Propaganda de Dilma ultrapassa limites - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 18/09

Ameaça de Marina leva a campanha do PT e a própria candidata a mandar às favas os escrúpulos e a fazer acusações muito além do aceitável


A entrada de Marina Silva nas eleições presidenciais de maneira fortuita, devido à morte trágica de Eduardo Campos, era tudo o que o PT não queria. Não interessava aos petistas que a ex-ministra e senadora conseguisse constituir seu partido, a Rede, a tempo de entrar na disputa de 2014. Ninguém esquecera os 20 milhões de votos arrebanhados por Marina em 2010.

Parece ter faltado competência aos marineiros para conseguir todas as 492 mil assinaturas de eleitores e registrar a Rede nos prazos legais. Mas, embora reclamações tenham sido arquivadas, sempre existirão suspeitas de interferências alopradas em cartórios eleitorais do ABC, onde milhares de assinaturas foram glosadas.

Uma trapaça do destino colocou Marina na corrida presidencial, na cabeça da chapa do PSB, e o medo petista se confirmou. Como reza a tradição da legenda, o partido preparou agressiva campanha contra Marina. Mas ultrapassou todos os limites: da ética, da seriedade, do cinismo.

Antigas armas têm sido acionadas pelos marqueteiros petistas. A do medo, até mesmo usada contra Lula em 2002, logo foi colocada para funcionar. Marina se esquivou com agilidade, ao se comparar a Lula, a quem defendeu naquela campanha, quando era militante petista, futura ministra do meio ambiente.

Mas o rolo compressor petista cresceu, tão logo foi constatado que manobras que funcionaram contra tucanos — apresentados pelo PT como perigosos “privatistas” — seriam inócuas contra a ambientalista e ex-petista.

O maniqueísmo e a dose de inverdades contidas no filmete produzido para atacar a proposta de Marina de autonomia formal do Banco Central são exemplares do vale-tudo petista. A decisão da campanha de Dilma e da própria candidata de mandar às favas os escrúpulos fica exposta em vários aspectos deste e outros ataques a Marina.O primeiro, que a própria Dilma, na campanha de 2010, apoiou a autonomia formal do BC.

O filmete panfletário diz que, num governo Marina, “banqueiros” controlarão o BC e, assim, farão desaparecer a comida da mesa do povo. Ora, o mesmo não acontece nos EUA, Inglaterra, Japão, Alemanha etc. — onde há BCs autônomos. E se algum banqueiro dirigiu o BC, foi nos governos Lula, quando o ex-CEO do Bank Boston, Henrique Meirelles, presidiu a instituição.

Justifica-se, então, o parecer do Procurador-Geral da União, Rodrigo Janot, junto ao TSE, pela suspensão da propaganda, por “criar estados mentais, emocionais ou passionais” nos eleitores. Ministro do Tribunal, Herman Benjamin disse, ao vetar outra publicidade, esta do PSDB, que um pecado mortal dessas peças de propaganda eleitoral é confundir o eleitor. De fato. Mas a última pesquisa Ibope/Rede Globo demonstrou que o dom de iludir desta campanha não tem produzido o efeito desejado pelos marqueteiros. A Justiça e o MP precisam estar ainda mais atentos.

Uma mistura explosiva - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 18/09


Não se pode dizer que foi uma surpresa a baderna que tomou conta do centro da cidade durante 12 horas, na terça-feira - das 6 horas até o começo da noite -, provocada pela resistência à reintegração de posse, ordenada pela Justiça, do imóvel no antigo Hotel Aquarius, na Avenida São João, esquina com a Avenida Ipiranga, ocupado por 200 famílias de sem-teto ligadas à Frente de Luta por Moradia (FLM). Tais episódios vêm se tornando corriqueiros. Mas esse, além de particularmente violento, apresentou características que mostram para que terreno perigoso essas ações, promovidas pelos ditos movimentos sociais, estão caminhando.

Segundo o comandante do policiamento da capital, coronel Glauco Araújo de Carvalho, a tropa da Polícia Militar (PM) chegou ao local às 6 horas e até as 8 horas tentou convencer os sem-teto a deixarem pacificamente o local. Tanto o que diz é procedente que o tumulto só começou por volta das 8 horas, quando os ocupantes do imóvel começaram a atirar pedras, móveis e até aparelhos eletrodomésticos sobre os policiais, que reagiram com bombas de gás lacrimogêneo. A alegação dos sem-teto para sua resistência à desocupação foi de que a PM não levou ao local os 40 caminhões prometidos para ajudar na mudança. A PM assegura que os caminhões estavam lá, embora uma parte deles, nas imediações, pois não havia como estacionar todos perto do imóvel.

Até aí, esse lamentável afrontamento parecia estar dentro dos limites do que vem ocorrendo nesses casos. A situação degenerou quando entraram em cena outros atores, os mais diversos - integrantes de outros movimentos, estudantes, black blocs, usuários de drogas, ladrões e infratores. Um ajuntamento explosivo que levou a atos de violência que se espalharam pelas imediações, do Viaduto do Chá à Praça da República, e que nada tinham a ver com a desocupação daquele imóvel - depredações e saques de lojas e agências bancárias e incêndio de ônibus. A PM respondeu, além das bombas de gás, com balas de borracha.

A desordem tomou conta da região, levou o comércio a baixar as portas e tumultuou o trânsito numa ampla área da cidade. Uma situação que perdurou até o fim da tarde e começo da noite, com momentos alternados de baderna de maior e menor intensidade. Ao final, 9 pessoas haviam sido presas e 75 levadas a delegacias e soltas pouco depois. Outras 12 ficaram feridas, entre elas 5 PMs, o que torna inconsistente a acusação de excesso repressivo da polícia. O que houve foi uma verdadeira batalha, iniciada pelos sem-teto, da qual a PM, evidentemente, não podia fugir.

Há duas coisas altamente preocupantes nesse episódio. Uma é a reunião de um grupo heterogêneo como esse - de sem-teto a bandidos, passando por black blocs - numa situação como essa, que pode se repetir tanto no centro como em outras regiões onde existem imóveis invadidos. É uma combinação explosiva que, além de contaminar qualquer reivindicação, tem tudo para semear o pânico e o vandalismo na cidade, como já se viu, e cedo ou tarde acabar em tragédia.

Outra é o caráter marcadamente político e partidário que vem adquirindo a ação de grupos como a FLM, que tem notórias ligações com políticos petistas, como os deputados Adriano Diogo (estadual) e Renato Simões (federal). Ficar repetindo, como eles fazem, que os imóveis ocupados não cumprem função social só serve para incentivar novas ocupações e tentar atribuir a culpa pelo problema habitacional ao governador do Estado, que é do PSDB e comanda a PM. Ora, ele não tem nada a ver com a reintegração de posse. Ela é uma ordem judicial que o governador - seja Geraldo Alckmin ou qualquer outro - é obrigado a cumprir, acionando a PM. E, diante da resistência dos ocupantes, só resta à PM retirá-los do local pela força. Não há outra saída para esse tipo de situação.

Se os petistas ligados aos sem-teto quisessem mesmo resolver o seu problema, poderiam começar pressionando o prefeito Fernando Haddad, que é seu correligionário, a investir mais em programas habitacionais. Deixar Haddad de lado e insinuar que a culpa é de Alckmin não é sério.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Isto aqui não é teatro”
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) fingindo acreditar na seriedade da CPMI da Petrobras


HOMEM-BOMBA VIRA HOMEM-TRAQUE E ALIVIA CPMI

Foi tudo uma encenação patética: apresentado como “homem-bomba”, o potencial “explosivo” do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa mais se assemelhou a um “traque”, trouxinha inofensiva utilizada por crianças nos festejos juninos do Nordeste. O ex-diretor entrou mudo e saiu calado da CPMI, proporcionando alívio em boa parte do plenário, onde estavam alguns suspeitos do Petrolão dos governos Lula e Dilma.

BLINDAGEM

Tropa de choque do Planalto estava pronta para “blindar” o governo, caso o delator jogasse a roubalheira da Petrobras no ventilador.

OPERAÇÃO ABAFA

Envolvidos até o pescoço, parlamentares do PT e do PMDB atuaram para impedir tentativa da oposição de ouvir o ex-diretor em reunião secreta.

OLHO DO FURACÃO

Com vários dirigentes citados na delação premiada de Paulo Roberto Costa, o PP não deu as caras ontem na CPMI da Petrobras.

JUNTOS CONTRA UM

Deputado do PDT, aliado de Dilma, Ênio Bacci (RS) seguiu exemplo do senador Gim Argello (PTB-DF) e votou com a oposição na CPMI.

ESPECTRO DE VALÉRIO ASSOMBRA SUCESSÃO MINEIRA

Conexões de Marcos Valério, do mensalão do PT, assombram o PSDB na sucessão estadual, em Minas. Indiciado pela PF por ter recebido R$ 300 mil, ocandidato Pimenta da Veiga (PSDB) mudou a versão que apresentou dois anos depois, ao retificar o imposto de renda de pessoa física: a grana seria pagamento de consultoria, por meio de “pareceres verbais”. Agora, ele atribui a consultoria a sua “pessoa jurídica”.

SIGILO QUEBRADO

Pimenta da Veiga somente faria retificação do seu imposto de renda quando foi quebrado o sigilo bancário de Marcos Valério.

PESSOA JURÍDICA

Esta semana, Pimenta disse que não fez a declaração no prazo porque não havia constituído pessoa jurídica: “Precisava fazer por ela”.

‘EMPRÉSTIMO’

Faltou Pimenta da Veiga combinar com Marcos Valério: o tesoureiro do mensalão justificou o dinheiro como “empréstimo pessoal” ao amigo.

JÁ ERA

O PT dá como certa a derrota de Armando Monteiro (PTB), na disputa pelo governo de Pernambuco. Vai tentar “salvar” o petista João Paulo, empatado com Fernando Bezerra (PSB) na briga pelo Senado.

EFEITO TRATOR

O Planalto mobilizou ontem parlamentares do PDT, PR e PCdoB, que nem sequer integram a CPMI, para lotar o plenário e ajudar o PT e o PMDB a “melar” o depoimento do ex-diretor corrupto da Petrobras.

A VIÚVA SUMIU

Viúva do ex-deputado José Janene (PP-PR), estrela do mensalão, Stael Janene chegou a ensaiar denúncia, mas submergiu após ganhar proporções o escândalo envolvendo Alberto Youssef e Petrobras.

A VIDA COMO ELA É

A declaração de votos para Dilma dos reitores que ela nomeou, nasuniversidades, só foi superada pelo apoio de supostos “líderes” dos protestos de 2013 que chefiam ONGs bancadas com dinheiro público.

GASTOS SECRETOS

O Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento deixou de ser atualizado. Ninguém sabe ao certo quanto foi gasto com salários de servidores nos últimos meses. Dados mais recentes são de junho.

APAGÃO NO PARÁ

Belém se viu mergulhada nas trevas desde terça-feira, sem internet, sem celular, sem acesso a pagar contas com cartão de crédito ou débito, nem fazer saques nos caixas. Caos total. E sem explicações.

MULHERES VETADAS

Na negociação para definir o substituto de Arruda na disputa pelo governo do DF, o escaldado Joaquim Roriz fez apenas uma imposição: manter as respectivas mulheres, e até filhas, fora da cabeça de chapa.

PODE ISSO, TRE?

Passeata do PT no início da noite, ontem, em Brasília, parecia desfile de servidores do governo do DF. Sempre ausente onde é necessário, o Detran-DF se fez representar por cinco viaturas e mais cinco motos.

PENSANDO BEM...

...depois de jogarem um deputado numa lixeira, na Ucrânia, não será surpresa se começarem a sumir latas de lixo em Brasília, Rio, São Paulo...


PODER SEM PUDOR

O FOGO DA JUVENTUDE

Representando o regime militar, Eliseu Resende foi candidato ao governo de Minas, em 1982, contra Tancredo Neves (PMDB). Pouco conhecido e sem experiência, ele cometeu um erro: centrou sua campanha na crítica à idade do adversário:

- Não podemos entregar o Estado a quem, numa idade provecta, não pode sustentar o peso da administração - declarou na TV.

Tancredo ficou ofendido, mas não passou recibo. Dois dias depois, foi à televisão, elogiou o adversário para depois acabar com ele:

- Konrad Adenauer deixou o governo da Alemanha aos 80 anos, após reconstruir o país. Já o jovem Nero, aos 31, tocou fogo em Roma...