CORREIO BRAZILIENSE - 01/08
O Brasil tem o sétimo maior PIB do mundo, mas em 2013 alcançou apenas a 22ª posição no ranking de exportação de bens e a 21ª no ranking de importação, participando com 1,32% das exportações e 1,36% das importações mundiais. Por sua vez, as exportações brasileiras de serviços em geral estão classificadas na 31ª posição no ranking mundial, com 0,80% de participação, enquanto as importações ocupam o 17º posto, com 1,93%. Isso tem levado a crônicos deficits na balança de serviços.
Poucos setores são superavitários entre os diferentes tipos de serviços. O setor de engenharia, que lidera as exportações nessa área, é um deles. Porém, as exportações estão concentradas em cerca de 10 grandes construtoras. As demais empresas estão voltadas para o mercado interno, não por opção própria, mas em razão de não disporem de condições adequadas para executar projetos no exterior.
Quando se fala em exportação de serviços de engenharia, a primeira impressão é que se refere apenas à venda de serviços propriamente ditos. Contudo, também integram essas exportações expressiva parcela de equipamentos que fazem parte da obra, como turbinas, caldeiras, tubulações, além daqueles utilizados para executar as obras, como caminhões, tratores, ônibus, automóveis, britadeiras, guindastes e centrais de concreto, de britagem e de asfalto, entre outros. E ainda centenas de outros itens, como móveis, roupas, calçados, alimentos, louças, talheres etc.
Esses produtos serão exportados e utilizados para concretizar a execução do serviço de engenharia contratado, que pode ser uma rodovia, uma ferrovia, um aeroporto, um porto, uma hidroelétrica, um aqueduto, um sistema de irrigação, barragens etc.
É preciso considerar que, para a execução de um projeto de engenharia no exterior são contratadas, no Brasil, cerca de 2 mil empresas. Trata-se de micro, pequenas e médias empresas que, isoladamente, não teriam condições de ter acesso ao mercado internacional. Utilizando o canal de comercialização proporcionado pelas companhias de serviços de engenharia, que nesse caso funcionam como âncora, ganham a oportunidade de abrir portas fora do país.
Sem a atuação das empresas de serviços de engenharia, produtos sofisticados e de alto valor agregado não poderiam ser exportados. A exportadora é, antes de tudo, uma estruturadora de negócios. Por essa razão, esse tipo de venda tem gerado acirrada concorrência internacional entre países, indiretamente oferecendo suporte para uma guerra comercial visando a venda externa de manufaturados.
Essa realidade fica mais evidente quando se analisa a evolução da participação da China na exportação de serviços de engenharia, especialmente para a América Latina e a África, regiões que concentram grande parte das obras nesse segmento. Na América Latina, a China elevou sua participação de 1,6% em 2004 para 12,1% em 2012. Na África, a participação pulou de 14,7% para 44,8%. O avanço da China vem a reboque de generosas ofertas de financiamento aos países importadores. Em se tratando de serviços de engenharia, o financiamento é o fator preponderante para se fechar um negócio.
No Brasil, o BNDES é o braço governamental de apoio financeiro a longo prazo para as exportações, uma vez que os bancos privados, nacionais ou estrangeiros, não estão dispostos a aceitar a garantia oferecida pelo governo federal por meio do Fundo de Garantia às Exportações (FGE). Isso se deve a restrições inerentes ao fundo, que impactariam o pagamento de possíveis indenizações decorrentes de eventuais sinistros, além da burocracia envolvida.
As condições dos financiamentos alocados pelo governo brasileiro para ficar à disposição das empresas de serviços de engenharia e financiar suas exportações podem ser consideradas adequadas. Porém, ajustes devem ser feitos para elevar o nível de competitividade externa das empresas nesse concorrido mercado.
O governo precisa caracterizar as empresas exportadoras de serviço de engenharia como instrumento de política estratégica de comércio exterior, conferindo prioridades no desenvolvimento de seus processos operacionais.
As empresas de serviços de engenharia já demonstraram ter condições de participar do competitivo mercado internacional. A conquista de novos mercados ou a ampliação de antigos, com a consequente elevação da participação brasileira, depende apenas de decisões internas. Esse tema será debatido durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex 2014), em 7 e 8 de agosto, no Rio de Janeiro.
Exportar serviços de engenharia não é para quem quer, mas para quem pode. O Brasil e suas empresas podem, e querem.