REVISTA ÉPOCA
Os mensaleiros acabaram presos pelo maior representante da elite branca: Joaquim Barbosa
A elite branca insultou Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo. É sempre assim: os companheiros fazem tudo conforme o manual, aí vem a elite branca com grosseria. Como alertou nosso Delúbio, o mensalão era uma conspiração da direita contra o governo popular. Deu no que deu: os mensaleiros acabaram presos pelo representante máximo da elite branca, Joaquim Barbosa. Ao criticar a preparação do Brasil para a Copa, o ex-jogador Ronaldo vocalizava a conspiração da elite branca. O roubo do juiz a favor do Brasil contra a Croácia não foi nada diante do roubo na construção dos estádios da Copa, disse o humorista Helio de la Pena. É um branco azedo.
Isso não vai ficar assim, não. A elite vermelha já iniciou sua reação. A primeira medida de impacto foi tirar Dilma e Lula de lugares públicos, pelo menos durante a Copa. Sábia medida. Como se sabe, os lugares públicos no Brasil estão completamente tomados pela elite branca - e ela é malcriada. A enteada e o filho do Brasil devem circular, nesse período perigoso, apenas pelos espaços democráticos: as assembleias do PT, os gabinetes do Planalto (evitar os corredores) e as cadeias obrigatórias de rádio e TY, lugares seguros, de onde não se ouvem os impropérios da elite branca.
O Supremo Tribunal Federal também está se tornando um lugar democrático e seguro, com a chegada à presidência de Ricardo Lewandowski, gladiador do PT no processo do mensalão. Um presidente amigo é tudo. O clima no STF não poderia ficar melhor com a ascensão de Luís Roberto Barroso à relatoria desse processo inventado pela elite branca. Barroso foi quem decidiu que a quadrilha petista não é uma quadrilha. Ele recebeu a relatoria declarando que "quem está preso tem pressa". É bonita a preocupação de Barroso com os companheiros da Papuda. Apressemos esse infortúnio. O Brasil e sua elite branca podem esperar sentados pela devolução do dinheiro que os apressados desviaram.
O Tribunal Superior Eleitoral também se tornou um lugar aconchegante para Dilma e Lula. Quem assumiu a presidência do TSE, logo na corrida presidencial? O menino prodígio Dias Toffoli, que compôs, com Lewandowski, a dupla de capa e espada do PT no julgamento do mensalão. Será que o comício eleitoral de Dilma em cadeia obrigatória de rádio e TV na véspera àa Copa suscitará alguma punição à presidente?
Santa ingenuidade, Batman... O juiz do jogo foi advogado do PT em três campanhas presidenciais. Só essa elite branca desmiolada não entende para que serve a inoculação de um militante disciplinado no aparelho de Estado. Vá em frente, companheira Dilma! Os pronunciamentos oficiais foram criados justamente para a senhora vender o peixe do seu pessoal, sem ter de ouvir essa burguesia indócil, que infesta os estádios de futebol e as praças públicas.
O Brasil é um país injusto. Lula e Dilma abriram os cofres da nação para a orgia da Copa. Agora têm de ficar se escondendo por aí, acuados pela elite branca. Mas não há de ser nada. Apesar do derrame bilionário nos estádios (superior à soma dos gastos nas Copas da Alemanha e África do Sul), apesar de trocar a chance de investimento sério em transportes por remendos de última hora, que darão para o gasto, o governo popular triunfará. Com sua famosa honestidade intelectual, os companheiros dirão que os pessimistas duvidaram da Copa no Brasil, mas ela aconteceu mesmo assim. A história suja da preparação dessa Copa sumirá sob um brado triunfal qualquer, tipo "somos brasileiros e não desistimos nunca". O prontuário não deixa dúvidas de que eles não desistem mesmo.
E lá vem notícia ruim na imprensa burguesa golpista: o país volta a cair no ranking de investimento estrangeiro direto. Mas por que, afinal, os investidores fogem do Brasil? Engana-se quem pensa que seja por causa das intervenções populistas desastrosas, do setor elétrico à política econômica (contabilidade criativa), passando pela Petrobras e pelo grande elenco de vítimas do chavismo brasileiro, vizinho de porta do calote argentino. Nada disso.
Os investidores fogem do Brasil com medo da elite branca. Se o dinheiro continuar a ir embora, o jeito será pedir emprestado aos tesoureiros ricos da elite vermelha.
quinta-feira, julho 03, 2014
Errando à luz do sol - J. R. GUZZO
REVISTA VEJA
Lá vamos nós, mais uma vez, fazer a costumeira penitência. É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor é dizer logo de cara que a maior parte da imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa do Mundo de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo para executar qualquer projeto desse porte, mesmo tendo sete anos de prazo para entregar o serviço. Ficaria exposta a ganância das empresas presenteadas com o suntuoso bufê da construção de estádios e das demais obras indispensáveis para abrigar a Copa. Haveria uma coleção inédita de aberrações, com o estouro sistemático de orçamentos, a miserável qualidade dos equipamentos entregues ao público e daí para pior. Deu justamente o contrário. A Copa do Mundo de 2014, até agora, foi acima de tudo o triunfo do futebol — uma sucessão de jogos espetaculares, a exibição de craques como não se via fazia décadas e a presença em campo de todos os oito países que levaram o título mundial em seus 84 anos de disputa. No jogo entre Bélgica e Rússia, para resumir o assunto, havia 70000 torcedores no Maracanã — não é preciso dizer mais nada, realmente, sobre o sucesso da Copa de 2014. Para efeitos práticos, além disso, tudo funcionou: os desatinos da organização não impediram o espetáculo, os 600 000 visitantes estrangeiros acharam o Brasil o máximo e 24 horas depois de encerrado o primeiro jogo ninguém mais se lembrava dos horrores anunciados durante os últimos meses.
É a vida. O que se viu com a Copa de 2014, mais uma vez, foi a aplicação da Lei Universal das Aparências que Enganam — segundo a qual quanto maior a antecedência com que é prevista uma catástrofe futura, tanto menor é a possibilidade de que ela venha de fato a acontecer. O momento mais notável na história dessa lei, possivelmente, foi o infame "bug do milênio". Lembram-se dele? O mundo iria parar a partir de zero hora do ano 2000, pelo derretimento inevitável de todos os computadores do planeta; bilhões de dólares foram gastos por governos e empresas para se defender previamente dessa alucinação, e na hora da desgraça não aconteceu absolutamente nada. As grandes crises, financeiras, que de tanto em tanto tempo vão acabar com o capitalismo no mundo (cada uma delas, inevitavelmente, é apresentada pelos meios de comunicação como "a pior desde 1929"), vêm, vão e se dispersam como os desfiles de escolas de samba. Institutos de pesquisa de opinião, com todos os seus métodos de trabalho testados cientificamente em laboratório, vivem recorrendo a "viradas milagrosas" de última hora para explicar por que o candidato que iria ganhar perdeu, e vice-versa.
A Copa de 2014 é uma boa oportunidade para repetir que a imprensa erra, sim — mas erra em público, à luz do sol, e se errar muito acabará morrendo por falta de leitores, ouvintes e telespectadores. Ao contrário do governo, que jamais reconhece a mínima falha em nada que faça, a imprensa não pode esconder suas responsabilidades. Não tem maioria de 70% no Congresso para abafar seus pecados. Não pode recorrer a embargos infringentes para manter-se impune, nem a ministros amigos no Supremo Tribunal Federal. Não tem a seu dispor cerca de 1,5 trilhão de reais, arrecadados a cada ano em impostos, para comprar quem e o que bem entende. Os jornalistas, no Brasil e no mundo, sem dúvida deveriam ser mais modestos e fazer mais força para errar menos — mas o jornalismo, infelizmente, é uma atividade em que se acumula pouco conhecimento. Fazer o quê? É preciso, bem ou mal, conviver com essa realidade. Afinal, jornalistas têm de ganhar o seu sustento de mais a mais, às vezes chegam até a estar certos. No caso da Copa, na verdade, o que importa é deixar bem claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O sucesso não muda em nada atos de desgoverno, e os atos de desgoverno não mudam em nada o fato de que a Copa foi um imenso êxito. São, apenas, duas realidades diferentes. A qualidade sensacional desta competição, que mexe como nenhuma outra na alma de bilhões de seres humanos, não vai fazer aparecer os benefícios para os brasileiros que foram prometidos e jamais serão entregues; no dia seguinte à final, o poder público nunca mais se lembrará das promessas que fez. As verdades que os jornalistas expuseram não passaram a ser mentiras. O que estava errado continua errado. É isso — e só isso.
Esperemos, agora, a Olimpíada do Rio de Janeiro.
Lá vamos nós, mais uma vez, fazer a costumeira penitência. É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor é dizer logo de cara que a maior parte da imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa do Mundo de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo para executar qualquer projeto desse porte, mesmo tendo sete anos de prazo para entregar o serviço. Ficaria exposta a ganância das empresas presenteadas com o suntuoso bufê da construção de estádios e das demais obras indispensáveis para abrigar a Copa. Haveria uma coleção inédita de aberrações, com o estouro sistemático de orçamentos, a miserável qualidade dos equipamentos entregues ao público e daí para pior. Deu justamente o contrário. A Copa do Mundo de 2014, até agora, foi acima de tudo o triunfo do futebol — uma sucessão de jogos espetaculares, a exibição de craques como não se via fazia décadas e a presença em campo de todos os oito países que levaram o título mundial em seus 84 anos de disputa. No jogo entre Bélgica e Rússia, para resumir o assunto, havia 70000 torcedores no Maracanã — não é preciso dizer mais nada, realmente, sobre o sucesso da Copa de 2014. Para efeitos práticos, além disso, tudo funcionou: os desatinos da organização não impediram o espetáculo, os 600 000 visitantes estrangeiros acharam o Brasil o máximo e 24 horas depois de encerrado o primeiro jogo ninguém mais se lembrava dos horrores anunciados durante os últimos meses.
É a vida. O que se viu com a Copa de 2014, mais uma vez, foi a aplicação da Lei Universal das Aparências que Enganam — segundo a qual quanto maior a antecedência com que é prevista uma catástrofe futura, tanto menor é a possibilidade de que ela venha de fato a acontecer. O momento mais notável na história dessa lei, possivelmente, foi o infame "bug do milênio". Lembram-se dele? O mundo iria parar a partir de zero hora do ano 2000, pelo derretimento inevitável de todos os computadores do planeta; bilhões de dólares foram gastos por governos e empresas para se defender previamente dessa alucinação, e na hora da desgraça não aconteceu absolutamente nada. As grandes crises, financeiras, que de tanto em tanto tempo vão acabar com o capitalismo no mundo (cada uma delas, inevitavelmente, é apresentada pelos meios de comunicação como "a pior desde 1929"), vêm, vão e se dispersam como os desfiles de escolas de samba. Institutos de pesquisa de opinião, com todos os seus métodos de trabalho testados cientificamente em laboratório, vivem recorrendo a "viradas milagrosas" de última hora para explicar por que o candidato que iria ganhar perdeu, e vice-versa.
A Copa de 2014 é uma boa oportunidade para repetir que a imprensa erra, sim — mas erra em público, à luz do sol, e se errar muito acabará morrendo por falta de leitores, ouvintes e telespectadores. Ao contrário do governo, que jamais reconhece a mínima falha em nada que faça, a imprensa não pode esconder suas responsabilidades. Não tem maioria de 70% no Congresso para abafar seus pecados. Não pode recorrer a embargos infringentes para manter-se impune, nem a ministros amigos no Supremo Tribunal Federal. Não tem a seu dispor cerca de 1,5 trilhão de reais, arrecadados a cada ano em impostos, para comprar quem e o que bem entende. Os jornalistas, no Brasil e no mundo, sem dúvida deveriam ser mais modestos e fazer mais força para errar menos — mas o jornalismo, infelizmente, é uma atividade em que se acumula pouco conhecimento. Fazer o quê? É preciso, bem ou mal, conviver com essa realidade. Afinal, jornalistas têm de ganhar o seu sustento de mais a mais, às vezes chegam até a estar certos. No caso da Copa, na verdade, o que importa é deixar bem claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O sucesso não muda em nada atos de desgoverno, e os atos de desgoverno não mudam em nada o fato de que a Copa foi um imenso êxito. São, apenas, duas realidades diferentes. A qualidade sensacional desta competição, que mexe como nenhuma outra na alma de bilhões de seres humanos, não vai fazer aparecer os benefícios para os brasileiros que foram prometidos e jamais serão entregues; no dia seguinte à final, o poder público nunca mais se lembrará das promessas que fez. As verdades que os jornalistas expuseram não passaram a ser mentiras. O que estava errado continua errado. É isso — e só isso.
Esperemos, agora, a Olimpíada do Rio de Janeiro.
Brasil X Chile - RODRIGO CONSTANTINO
REVISTA VEJA
O Brasil enfrentará o Chile nas oitavas de final da Copa, e escrevo estas linhas antes de saber o resultado, torcendo pela nossa seleção. Mas, se no futebol o time brasileiro é o favorito, no campo da economia levamos uma goleada. O Chile, nesse caso, deveria ser um exemplo a ser seguido. Enquanto o Brasil tem crescido cerca de 2% ao ano durante a gestão de Dilma, o Chile tem expandido seu produto interno bruto (PIB) a uma taxa perto de 5% ao ano. Não obstante, a inflação brasileira tem rodado próximo de 6,5% ao ano, apesar- dos preços represados pelo governo, enquanto a inflação chilena, embora tenha subido nos dados mais recentes, ficou abaixo de 3% ao ano nos últimos anos.
A renda per capita chilena chegou perto de 20 000 dólares em 2013, contra pouco mais de 12000 da brasileira. Ou seja, o chileno médio é quase 60% mais rico que o brasileiro médio. Quando analisamos o índice de Desenvolvimento Humano, o Chile fica em quadragésimo lugar, contra um vergonhoso 859 lugar do Brasil. Vários outros indicadores contam a mesma história: o Chile tem dado um banho no Brasil na economia. O que explica isso?
Para começo de conversa, o Chile foi pioneiro no processo de privatizações e liberação das amarras estatais na América Latina. Apesar de viver sob uma ditadura política na era Pinochet, o fato é que ao menos na economia o ditador foi uma espécie de "déspota esclarecido", convidando os liberais da Universidade de Chicago para tocar as reformas no país. Deu certo. Até a Previdência Social foi privatizada no Chile, tornando-se um caso de sucesso internacional, estudado por vários outros países. Isso permitiu um acúmulo de poupança doméstica bem acima da média regional, possibilitando uma taxa de investimento expressiva.
A carga tributária chilena está perto de 20% do PIB, praticamente a metade da brasileira. Além da magnitude bastante inferior, trata-se de uma arrecadação bem menos complexa do que a nossa. No "manicômio tributário" brasileiro, as empresas gastam 2 600 horas por ano só para pagar impostos, nove vezes mais que no Chile.
No ranking "Doing Business", organizado pelo Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios no país, o Chile aparece na 34ª posição, acima de Israel, Bélgica e França, enquanto o Brasil ocupa a absurda 116ª posição, perto de países como República Dominicana, El Salvador e Indonésia. No índice de Liberdade Econômica, feito pela Heritage Foundation, os nossos vizinhos chilenos ocupam uma invejável sétima posição, ostentando uma economia relativamente livre para padrões globais. Já o Brasil está na 114ª posição, ao lado de países como Grécia e Butão. Deve ser por isso que alguns políticos de esquerda já falam em medir a subjetiva "felicidade" em vez do PIB, para fugir da humilhante comparação mais objetiva.
As instituições chilenas gozam de maior confiança dos investidores, e, mesmo quando a esquerda social-democrata assumiu o poder, ela não ousou mexer nas "vacas sagradas" da era liberal. O respeito aos contratos é levado a sério, enquanto no Brasil, como já disse o ex-ministro Pedro Malan, até o passado é incerto.
Em suma, o Chile é o país latino-americano mais próximo de uma economia de livre mercado capitalista. Não é por acaso que é também o mais próspero e avançado. Não se trata de uma coincidência; ao contrário, o elo causal é evidente aqui: quanto mais liberdade econômica e respeito às regras do jogo, maior o progresso material e social.
Durante a gestão liberal do empresário Sebastián Pinera, a economia do Chile despontou como uma das que mais cresceram no continente. Com o México, o Peru e a Colômbia, o Chile fez vários acordos de livre-comércio por meio da Aliança do Pacifico, enquanto o Brasil permaneceu com a camisa de força bolivariana do Mercosul, completamente ideologizado.
É verdade que Michelle Bachelet voltou ao poder com um discurso mais radical de esquerda. Ainda é cedo para dizer se haverá um grande retrocesso no país, se a socialista terá a coragem (ou a estupidez) de matar as galinhas dos ovos de ouro, criando mais obstáculos aos empreendedores que produzem riqueza. Sua retórica tem sido preocupante, na linha bolivariana. Se o Chile for por esse caminho à esquerda, então suas conquistas estarão em risco. O populismo é sua maior ameaça atualmente. Resta torcer para que os chilenos consigam evitar essa derrota na economia, para que continuem sendo um farol a iluminar uma rota alternativa com mais liberdade na América Latina, infestada de vermelho por todo lado.
O Brasil enfrentará o Chile nas oitavas de final da Copa, e escrevo estas linhas antes de saber o resultado, torcendo pela nossa seleção. Mas, se no futebol o time brasileiro é o favorito, no campo da economia levamos uma goleada. O Chile, nesse caso, deveria ser um exemplo a ser seguido. Enquanto o Brasil tem crescido cerca de 2% ao ano durante a gestão de Dilma, o Chile tem expandido seu produto interno bruto (PIB) a uma taxa perto de 5% ao ano. Não obstante, a inflação brasileira tem rodado próximo de 6,5% ao ano, apesar- dos preços represados pelo governo, enquanto a inflação chilena, embora tenha subido nos dados mais recentes, ficou abaixo de 3% ao ano nos últimos anos.
A renda per capita chilena chegou perto de 20 000 dólares em 2013, contra pouco mais de 12000 da brasileira. Ou seja, o chileno médio é quase 60% mais rico que o brasileiro médio. Quando analisamos o índice de Desenvolvimento Humano, o Chile fica em quadragésimo lugar, contra um vergonhoso 859 lugar do Brasil. Vários outros indicadores contam a mesma história: o Chile tem dado um banho no Brasil na economia. O que explica isso?
Para começo de conversa, o Chile foi pioneiro no processo de privatizações e liberação das amarras estatais na América Latina. Apesar de viver sob uma ditadura política na era Pinochet, o fato é que ao menos na economia o ditador foi uma espécie de "déspota esclarecido", convidando os liberais da Universidade de Chicago para tocar as reformas no país. Deu certo. Até a Previdência Social foi privatizada no Chile, tornando-se um caso de sucesso internacional, estudado por vários outros países. Isso permitiu um acúmulo de poupança doméstica bem acima da média regional, possibilitando uma taxa de investimento expressiva.
A carga tributária chilena está perto de 20% do PIB, praticamente a metade da brasileira. Além da magnitude bastante inferior, trata-se de uma arrecadação bem menos complexa do que a nossa. No "manicômio tributário" brasileiro, as empresas gastam 2 600 horas por ano só para pagar impostos, nove vezes mais que no Chile.
No ranking "Doing Business", organizado pelo Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios no país, o Chile aparece na 34ª posição, acima de Israel, Bélgica e França, enquanto o Brasil ocupa a absurda 116ª posição, perto de países como República Dominicana, El Salvador e Indonésia. No índice de Liberdade Econômica, feito pela Heritage Foundation, os nossos vizinhos chilenos ocupam uma invejável sétima posição, ostentando uma economia relativamente livre para padrões globais. Já o Brasil está na 114ª posição, ao lado de países como Grécia e Butão. Deve ser por isso que alguns políticos de esquerda já falam em medir a subjetiva "felicidade" em vez do PIB, para fugir da humilhante comparação mais objetiva.
As instituições chilenas gozam de maior confiança dos investidores, e, mesmo quando a esquerda social-democrata assumiu o poder, ela não ousou mexer nas "vacas sagradas" da era liberal. O respeito aos contratos é levado a sério, enquanto no Brasil, como já disse o ex-ministro Pedro Malan, até o passado é incerto.
Em suma, o Chile é o país latino-americano mais próximo de uma economia de livre mercado capitalista. Não é por acaso que é também o mais próspero e avançado. Não se trata de uma coincidência; ao contrário, o elo causal é evidente aqui: quanto mais liberdade econômica e respeito às regras do jogo, maior o progresso material e social.
Durante a gestão liberal do empresário Sebastián Pinera, a economia do Chile despontou como uma das que mais cresceram no continente. Com o México, o Peru e a Colômbia, o Chile fez vários acordos de livre-comércio por meio da Aliança do Pacifico, enquanto o Brasil permaneceu com a camisa de força bolivariana do Mercosul, completamente ideologizado.
É verdade que Michelle Bachelet voltou ao poder com um discurso mais radical de esquerda. Ainda é cedo para dizer se haverá um grande retrocesso no país, se a socialista terá a coragem (ou a estupidez) de matar as galinhas dos ovos de ouro, criando mais obstáculos aos empreendedores que produzem riqueza. Sua retórica tem sido preocupante, na linha bolivariana. Se o Chile for por esse caminho à esquerda, então suas conquistas estarão em risco. O populismo é sua maior ameaça atualmente. Resta torcer para que os chilenos consigam evitar essa derrota na economia, para que continuem sendo um farol a iluminar uma rota alternativa com mais liberdade na América Latina, infestada de vermelho por todo lado.
Baixa política - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 03/07
A reviravolta da reviravolta da bancada do PTB, que se rebelou contra a decisão da Executiva Nacional de apoiar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República e declarou voto em Dilma Rousseff, é mais uma faceta dessa farsa em que se transformou o jogo partidário brasileiro.
Ferido com o mesmo ferro com que feriu a presidente, o candidato do PSDB, assim como a incumbente em vários casos, vai somar o tempo de propaganda eleitoral do PTB, mas não terá a máquina do partido a trabalhar por ele nos estados.
Deve estar arrependido da frase que disparou no auge das traições partidárias, quando estimulou membros da base aliada a sugarem o mais que possam o governo federal para depois se juntarem à oposição.
Estimular esse tipo de atitude não corresponde à proposta que o tucano promete apresentar ao eleitorado, de mudança de nossos hábitos e costumes políticos. Se for para deixar tudo como está, para que mudanças?
Ao apresentar o seu programa de governo, Aécio terá oportunidade e espaço para se desfazer desse equívoco, comprometendo-se com uma reforma política que dê ao país alguma estabilidade e previsibilidade na organização partidária.
O caso do PR é exemplar do que não se deveria fazer em uma política séria, e do que se deve fazer em uma política rasteira que vigora em Brasília.
A humilhação a que foi submetida a presidente Dilma, tendo que engolir goela abaixo a recondução do grupo do PR que havia sido varrido do Ministério dos Transportes por suspeita de corrupção, e ainda ter que ceder com relação à direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão que estava no centro das denúncias de corrupção na gestão anterior, foi um requinte de maldade extra na vingança do PR, que assim vendeu caro seu apoio à reeleição.
O general de Exército Jorge Ernesto Pinto Fraxe, que pediu afastamento por razões pessoais , assumira o cargo de diretor-geral do Dnit em setembro de 2011 em substituição a Luiz Antônio Pagot, que deixou o órgão em meio a denúncias de corrupção que atingiram toda a diretoria e levaram à saída do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
Sobre o general, contam as más línguas em Brasília uma piada que se transformou em exemplo de como a gestão no governo Dilma (não) funciona. Para parar a roubalheira no Dnit, a presidente deu carta branca ao general, que realmente estancou os problemas de superfaturamento nas obras públicas com uma decisão draconiana: não aprovava nenhum projeto, por menor que fosse. As obras não andavam, mas também não havia corrupção.
O ex-governador de Pernambuco, atual candidato à Presidência pelo PSB, reclamava muito da administração do general Fraxe, denunciando que as obras no Nordeste estavam todas paradas.
A retomada do Dnit pelo mesmo grupo do PR que havia sido enxotado de lá pela faxineira ética , personagem que por alguns meses Dilma representou, é um retrocesso institucional dos grandes, que reduz os partidos políticos a meros instrumentos de vantagens pessoais de grupos, e faz com que obras viárias necessárias ao país se transformem em dutos de trocas de interesses públicos em privados.
O sucesso da Copa do Mundo anda subindo à cabeça de quem não deveria. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, resolveu gozar a cara dos opositores perguntando onde está a ira social prometida. O ex-presidente Lula, no mais hilário pronunciamento de todos, disse que a Inglaterra foi desclassificada porque não estava acostumada a jogar em gramados tão bons quanto os do Brasil, logo os gramados, um dos pontos negativos dos novos estádios de futebol.
E todo o governo e seu aparato midiático não esconde a euforia com o desenrolar do campeonato, claramente esperando dividendos eleitorais pela derrota dos pessimistas, como alardeia Dilma dia sim, dia não.
A pesquisa do Datafolha que sai hoje de manhã pode dar um alento aos governistas, diante do ambiente desanuviado que o país vive no momento. Mas, se não houver mudanças na popularidade da presidente, aí a coisa estará pior do que imaginam.
Mais 20 anos - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 03/07
Transferência de renda completou o quadro, ao reduzir a desigualdadee favorecer a expansão das classes C e D
Primeiro de julho de 1994: pela primeira vez, os brasileiros estavam animadíssimos com seu dinheiro. Foi um lance genial a introdução das novas cédulas num único dia, em todo o país. Deu força psicológica para o Real. Mas o plano foi muito além disso: uma impressionante sequência de reformas macro e microeconômicas.
No macro: regime de metas de inflação com BC independente; responsabilidade fiscal e superávit primário; câmbio flutuante; e acerto da dívida dos estados. Aqui também um lance genial: regras com limites para o gasto e a norma proibindo que a União voltasse a financiar os estados e municípios.
As privatizações (telecomunicações, mineração, siderurgia, transportes, bancos e energia elétrica) foram cruciais para a infraestrutura. E mais os dois grandes programas de ajuste do sistema bancário, um para o setor privado, outro para o público.
Também foi crucial a quebra do monopólio da Petrobras. Abriu a exploração de petróleo ao capital privado, nacional e estrangeiro, trouxe os investimentos que resultaram na descoberta do pré-sal.
Na área de gestão pública, destaques: reforma administrativa, com a criação das agências reguladoras; reforma no INSS, com a introdução do fator previdenciário em 1999.
Para facilitar a vida econômica de pessoas e empresas, no micro, tivemos: o Simples e a regra de suspensão temporária do contrato de trabalho, importante flexibilização da legislação trabalhista. Tudo isso na era FH.
O primeiro governo Lula, com Antonio Palocci na Fazenda, reforçou o superávit primário e avançou muito na agenda micro. Destaques: conta bancária e poupança simplificadas; a portabilidade do crédito e o regime do Supersimples.
Mudanças na legislação permitiram a volta e a expansão do financiamento imobiliário e a criação do crédito consignado. Com o boom da economia mundial — uma grande sorte — houve abundância de financiamento externo barato. Em cima das mudanças locais, o resultado foi o crescimento vertiginoso do crédito.
Ainda na era Lula: a nova Lei das SAs (2007) e regras aperfeiçoando a área de seguros. Mais a aprovação, em 2004, da contribuição previdenciária de funcionários púbicos aposentados.
Com Dilma, ainda linha ortodoxa: o cadastro positivo de crédito e a criação do fundo de previdência complementar dos funcionários públicos. E, claro, a volta às privatizações, com a concessão de aeroportos.
O mundo ajudou. Do início deste século até a crise financeira de 2008, a economia global experimentou um período de forte crescimento. Consolidou-se o fenômeno China, cuja voracidade por commodities, alimentos, minérios, petróleo e tanta coisa mais abriu enorme espaço para os países emergentes exportadores.
O agronegócio brasileiro tornou-se grande produtor e exportador mundial. Não foi por acaso, nem obra da natureza, mas da inovação, tecnologia e eficiência de empreendedores que se espalharam pelo país todo.
Mais os minérios — e as exportações brasileiras saltaram de US$ 55 bilhões/ano, na virada do século, para os US$ 250 bi de hoje.
Com os investimentos externos que entraram para aproveitar o novo Brasil, completou-se a mudança estrutural: uma economia que sempre sofreu com a falta de dólares tornou-se credora internacional nessa moeda.
Na área social, o reajuste real do salário-mínimo, política iniciada logo após o Real, e os programas sociais de transferência de renda completaram o quadro, ao reduzir a pobreza, a desigualdade e favorecer a expansão das classes C e D.
Hoje, porém, parece que o efeito dessas mudanças já se esgotou. Por exemplo: o crédito não tem como dobrar de novo nos próximos anos. Também não será possível continuar dando aumentos expressivos para o mínimo sem ganhos de produtividade e sem mais uma reforma na Previdência. Sem isso, não será mais distribuição de renda, mas simplesmente mais inflação e déficit público.
Com a deterioração da política econômica, o Brasil não cresce mais que 2% ao ano, com inflação na casa dos 6%. Comparado com as décadas perdidas, está bom. Mas é menos do que fazem os demais emergentes importantes, que conseguem crescer mais com menos inflação.
Hoje, temos um governo que deve muito, arrecada muito, gasta muito e muito mal, com poucos recursos para investimentos. O setor privado é limitado pela carga tributária, juros altos, péssima infraestrutura, custos de produção elevados e um ambiente de negócios hostil, o tal custo Brasil.
Do que resulta a agenda: refazer os fundamentos (metas de inflação, superávit primário, reforma do setor público) e, sobretudo, abrir as portas para um surto de investimentos privados, em todos os setores. Ou seja, mais 20 anos de Real.
A vida depois da Copa - EVERARDO MACIEL
O ESTADÃO - 03/07
A Copa do Mundo de 2014 trouxe surpresas de todos os gêneros. No campo, há um relativo equilíbrio nas disputas, fruto certamente da globalização dos esportes e dos intensos fluxos migratórios transnacionais, dos quais resultam equipes nacionais constituídas por expressivo número de atletas que atuam no exterior e uma grande participação de migrantes nas seleções europeias.
Fora do campo, salvo fatos isolados, constata-se uma tranquilidade que reverteu as expectativas de tumultos, que ocorreram na Copa das Confederações. É uma evidência da eficácia em ações coordenadas das forças responsáveis pela segurança pública. Além disso, impressiona o ato civilizado dos torcedores japoneses, que recolhem o lixo após as partidas, em contraste com a barbárie do mercenarismo extremado de atletas africanos que condicionam a participação nas disputas ao prévio pagamento das premiações e o canibalismo do atleta Luis Suárez, lamentavelmente justificado por autoridades e pela imprensa uruguaias.
Falta conhecer o verdadeiro tamanho dos gastos públicos na Copa e da corrupção na construção dos estádios e obras periféricas. Sou pouco otimista quanto a surpresas agradáveis.
Finda a Copa, começa a temporada das eleições, com destaque para veiculações políticas de apelo meramente publicitário. A disputa entre os candidatos pelo horário eleitoral torna claro que a constituição de partidos e sua adesão a candidaturas se converteram em verdadeiros negócios, à custa dos contribuintes, que financiam a "gratuidade" dos horários e os fundos partidários. Vença quem vencer as eleições deste ano, nossa verdadeira Copa começa em 2015. Este ano serviu tão somente para agravar os problemas econômicos e políticos.
A inflação está elevada, com perspectivas de alta em virtude da artificial contenção dos preços administrados de combustíveis, energia elétrica e transportes públicos. Se hoje a Petrobrás e o sistema elétrico já estão em risco, por força de enormes perdas patrimoniais, em futuro próximo o inevitável aumento nas passagens dos transportes públicos trará mais inflação e tumultos promovidos por grupos radicais.
A política de estímulo ao consumo já deu provas de esgotamento, em razão da perda de poder aquisitivo e do elevado endividamento da população. Caminhamos para uma trágica combinação de crescimento baixo e inflação elevada, que tantas vezes nos infelicitou.
A sucateada infraestrutura conspira continuadamente contra a produtividade. Não se formou ainda uma clara convicção de que a resolução do problema exige programas de privatização capazes de atrair investimentos.
A política fiscal é um desastre que as manobras de "contabilidade criativa" não conseguiram esconder. Os gastos públicos seguem um passo à frente das receitas.
As desonerações de tributos não observam critérios técnicos. Respondem apenas a investidas dos lobbies. Qual a lógica da desoneração dos automóveis e combustíveis, no momento em que as cidades brasileiras se encontram imobilizadas por congestionamentos?
O PIS e a Cofins assumiram complexidade e inconsistência jamais vistas na história tributária do País. Não se vislumbra solução para a guerra fiscal do ICMS. A legislação do Imposto de Renda, que ganhara respeitabilidade internacional, está sendo desfigurada pela profusão de incidências de caráter regressivo nas aplicações financeiras e pela desastrada adoção dos chamados padrões internacionais de contabilidade (IFRS) em conflito não resolvido com a política tributária.
No plano político, o Congresso Nacional, debilitado pela supremacia das medidas provisórias, pela apatia na apreciação dos vetos presidenciais e pela guerra suja das emendas orçamentárias, é agora afrontado por decreto que institucionaliza a participação de "conselhos populares" na formulação das políticas públicas.
Vencer a Copa de 2015, no Brasil, requer algo mais elaborado que sangre, corazón y garra, como pedia Obdulio Varela, capitão da seleção uruguaia de 1950.
A Copa do Mundo de 2014 trouxe surpresas de todos os gêneros. No campo, há um relativo equilíbrio nas disputas, fruto certamente da globalização dos esportes e dos intensos fluxos migratórios transnacionais, dos quais resultam equipes nacionais constituídas por expressivo número de atletas que atuam no exterior e uma grande participação de migrantes nas seleções europeias.
Fora do campo, salvo fatos isolados, constata-se uma tranquilidade que reverteu as expectativas de tumultos, que ocorreram na Copa das Confederações. É uma evidência da eficácia em ações coordenadas das forças responsáveis pela segurança pública. Além disso, impressiona o ato civilizado dos torcedores japoneses, que recolhem o lixo após as partidas, em contraste com a barbárie do mercenarismo extremado de atletas africanos que condicionam a participação nas disputas ao prévio pagamento das premiações e o canibalismo do atleta Luis Suárez, lamentavelmente justificado por autoridades e pela imprensa uruguaias.
Falta conhecer o verdadeiro tamanho dos gastos públicos na Copa e da corrupção na construção dos estádios e obras periféricas. Sou pouco otimista quanto a surpresas agradáveis.
Finda a Copa, começa a temporada das eleições, com destaque para veiculações políticas de apelo meramente publicitário. A disputa entre os candidatos pelo horário eleitoral torna claro que a constituição de partidos e sua adesão a candidaturas se converteram em verdadeiros negócios, à custa dos contribuintes, que financiam a "gratuidade" dos horários e os fundos partidários. Vença quem vencer as eleições deste ano, nossa verdadeira Copa começa em 2015. Este ano serviu tão somente para agravar os problemas econômicos e políticos.
A inflação está elevada, com perspectivas de alta em virtude da artificial contenção dos preços administrados de combustíveis, energia elétrica e transportes públicos. Se hoje a Petrobrás e o sistema elétrico já estão em risco, por força de enormes perdas patrimoniais, em futuro próximo o inevitável aumento nas passagens dos transportes públicos trará mais inflação e tumultos promovidos por grupos radicais.
A política de estímulo ao consumo já deu provas de esgotamento, em razão da perda de poder aquisitivo e do elevado endividamento da população. Caminhamos para uma trágica combinação de crescimento baixo e inflação elevada, que tantas vezes nos infelicitou.
A sucateada infraestrutura conspira continuadamente contra a produtividade. Não se formou ainda uma clara convicção de que a resolução do problema exige programas de privatização capazes de atrair investimentos.
A política fiscal é um desastre que as manobras de "contabilidade criativa" não conseguiram esconder. Os gastos públicos seguem um passo à frente das receitas.
As desonerações de tributos não observam critérios técnicos. Respondem apenas a investidas dos lobbies. Qual a lógica da desoneração dos automóveis e combustíveis, no momento em que as cidades brasileiras se encontram imobilizadas por congestionamentos?
O PIS e a Cofins assumiram complexidade e inconsistência jamais vistas na história tributária do País. Não se vislumbra solução para a guerra fiscal do ICMS. A legislação do Imposto de Renda, que ganhara respeitabilidade internacional, está sendo desfigurada pela profusão de incidências de caráter regressivo nas aplicações financeiras e pela desastrada adoção dos chamados padrões internacionais de contabilidade (IFRS) em conflito não resolvido com a política tributária.
No plano político, o Congresso Nacional, debilitado pela supremacia das medidas provisórias, pela apatia na apreciação dos vetos presidenciais e pela guerra suja das emendas orçamentárias, é agora afrontado por decreto que institucionaliza a participação de "conselhos populares" na formulação das políticas públicas.
Vencer a Copa de 2015, no Brasil, requer algo mais elaborado que sangre, corazón y garra, como pedia Obdulio Varela, capitão da seleção uruguaia de 1950.
Pioras, rápidas e imprevistas - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 03/07
Indústria embica em recessão pior do que estimada; cresce risco de recessão do PIB
VAI HAVER RECESSÃO na indústria brasileira neste ano, recessão talvez feia. Isto é, as fábricas vão produzir menos do que no ano passado. Talvez menos do que em 2008. Na verdade, desde então, a quantidade de produção industrial não foi muito além desse ano do início da Grande Recessão mundial.
Maio foi ruim. Há risco razoável de junho ser pior. A coisa desanda em ritmo rápido, imprevisto.
O IBGE informou que a indústria caiu pelo terceiro mês seguido em maio. A produção despenca tanto por causa do consumo de bens duráveis (carros, eletrodomésticos etc.), que definha, como pela despesa agonizante com bens de capital (equipamentos para a produção).
Ou seja, não há dinheiro ou vontade de comprar bens mais caros, ao menos bens nacionais, ou não há dinheiro ou vontade de investir em aumento ou melhorias de produção.
De janeiro a maio, a produção industrial encolheu 1,6% em relação aos primeiros cinco meses de 2013. No mesmo período, a produção de bens de capital encolheu quase 6%. A de bens de consumo duráveis, cerca de 3%. A indústria não cresce faz três trimestres. Recessão.
Em maio, a produção de veículos, segundo a medida do IBGE, caiu espantosos 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Difícil esperar coisa melhor do mês de junho, pois as empresas estão parando linhas de produção, dando férias coletivas em massa, quando não estão demitindo mesmo.
Segundo comentário do economista Rodrigo Miyamoto, em relatório de ontem do departamento de economia do Itaú, junho vai ser ruim mesmo.
"Para junho, esperamos nova retração na produção industrial, em linha com os recuos da confiança do empresário industrial, os altos estoques e dados de consumo de energia. Os índices de confiança continuam em baixo patamar histórico e recuaram novamente em junho. Os estoques na indústria voltaram a aumentar e indicam uma menor produção à frente. No mesmo sentido, os dados de consumo de energia também apontam para queda. Finalmente, há o impacto negativo sobre as horas trabalhadas relacionado à Copa do Mundo de Futebol", escreve o economista.
Finda a "suspensão do tempo", os dias de anestesia festeira da Copa, os brasileiros que prestam alguma atenção ao noticiário de economia vão ter notícia de que o país pode ter entrado numa recessãozinha no primeiro semestre.
Torna-se quase consenso a estimativa (chute muito bem e honestamente informado) de que a produção econômica, o PIB, encolheu no segundo trimestre, o que deve provocar a revisão para abaixo de zero da taxa pífia de crescimento do primeiro trimestre.
Na prática, por ora, não vai fazer diferença a não ser entre a minoria, no entanto influente, que se ocupa desses assuntos. Vai haver algum bafafá político-midiático, pois.
No entanto, a velocidade na qual a economia desce a ladeira é bem maior do que a imaginada até, digamos, março, quando não se previa que a degringolada teria efeitos na vida da massa do eleitorado.
Dado o andar da carruagem, porém, as dificuldades de encontrar ou manter emprego devem ficar mais evidentes ao final do terceiro trimestre (quando entrar setembro), ao menos nas grandes metrópoles.
Indústria embica em recessão pior do que estimada; cresce risco de recessão do PIB
VAI HAVER RECESSÃO na indústria brasileira neste ano, recessão talvez feia. Isto é, as fábricas vão produzir menos do que no ano passado. Talvez menos do que em 2008. Na verdade, desde então, a quantidade de produção industrial não foi muito além desse ano do início da Grande Recessão mundial.
Maio foi ruim. Há risco razoável de junho ser pior. A coisa desanda em ritmo rápido, imprevisto.
O IBGE informou que a indústria caiu pelo terceiro mês seguido em maio. A produção despenca tanto por causa do consumo de bens duráveis (carros, eletrodomésticos etc.), que definha, como pela despesa agonizante com bens de capital (equipamentos para a produção).
Ou seja, não há dinheiro ou vontade de comprar bens mais caros, ao menos bens nacionais, ou não há dinheiro ou vontade de investir em aumento ou melhorias de produção.
De janeiro a maio, a produção industrial encolheu 1,6% em relação aos primeiros cinco meses de 2013. No mesmo período, a produção de bens de capital encolheu quase 6%. A de bens de consumo duráveis, cerca de 3%. A indústria não cresce faz três trimestres. Recessão.
Em maio, a produção de veículos, segundo a medida do IBGE, caiu espantosos 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Difícil esperar coisa melhor do mês de junho, pois as empresas estão parando linhas de produção, dando férias coletivas em massa, quando não estão demitindo mesmo.
Segundo comentário do economista Rodrigo Miyamoto, em relatório de ontem do departamento de economia do Itaú, junho vai ser ruim mesmo.
"Para junho, esperamos nova retração na produção industrial, em linha com os recuos da confiança do empresário industrial, os altos estoques e dados de consumo de energia. Os índices de confiança continuam em baixo patamar histórico e recuaram novamente em junho. Os estoques na indústria voltaram a aumentar e indicam uma menor produção à frente. No mesmo sentido, os dados de consumo de energia também apontam para queda. Finalmente, há o impacto negativo sobre as horas trabalhadas relacionado à Copa do Mundo de Futebol", escreve o economista.
Finda a "suspensão do tempo", os dias de anestesia festeira da Copa, os brasileiros que prestam alguma atenção ao noticiário de economia vão ter notícia de que o país pode ter entrado numa recessãozinha no primeiro semestre.
Torna-se quase consenso a estimativa (chute muito bem e honestamente informado) de que a produção econômica, o PIB, encolheu no segundo trimestre, o que deve provocar a revisão para abaixo de zero da taxa pífia de crescimento do primeiro trimestre.
Na prática, por ora, não vai fazer diferença a não ser entre a minoria, no entanto influente, que se ocupa desses assuntos. Vai haver algum bafafá político-midiático, pois.
No entanto, a velocidade na qual a economia desce a ladeira é bem maior do que a imaginada até, digamos, março, quando não se previa que a degringolada teria efeitos na vida da massa do eleitorado.
Dado o andar da carruagem, porém, as dificuldades de encontrar ou manter emprego devem ficar mais evidentes ao final do terceiro trimestre (quando entrar setembro), ao menos nas grandes metrópoles.
A indústria perde fôlego - CELSO MING
O ESTADÃO - 03/07
Até há alguns meses, os números negativos a respeito do desempenho da indústria apenas vinham se sucedendo. Agora, a queda está em aceleração, sem perspectiva de melhora.
A produção industrial caiu 0,6% em maio (sobre abril), perfazendo uma queda de 1,6% nos primeiros cinco meses do ano (sobre igual período de 2013). É positiva em apenas 0,2%, uma vez considerado o período dos últimos 12 meses.
O desempenho do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) é ainda mais desanimador porque demonstra a baixa disposição em investir. Houve queda de 5,8% no acumulado de janeiro-maio.
O raquitismo da indústria já ficara evidente na análise do comportamento da balança comercial do primeiro semestre. E repete-se em outros números atualizados igualmente ruins. O Indicador de Nível de Atividade da indústria paulista da Fiesp acusou queda de 0,9% em maio (em relação a abril). E o desempenho das vendas do setor de veículos, ontem divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apresenta queda de 9,8% em junho (em comparação com maio) e de 7,3% na acumulada dos seis primeiros meses do ano.
É pobre o diagnóstico repetido por autoridades do governo de que o comportamento insatisfatório da indústria é o resultado da fraca recuperação econômica global. A crise começou em 2007, teve seu auge em 2008. Mesmo depois disso, seu impacto no mercado interno foi a tal "marolinha" de que o então presidente Lula se vangloriou. O nível da atividade da indústria está hoje 5,5% abaixo do que estava em 2011, como reconheceu ontem o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.
Embora não se possam ignorar as limitações do mercado externo, é preciso admitir que os principais problemas estão aqui dentro e são o resultado das opções de política econômica.
A indústria brasileira perde competitividade mês a mês porque enfrenta custos maiores também a cada mês. Embora o câmbio não ajude, os custos vão se elevando não só em carga tributária e carências da infraestrutura, mas, também, como vem apontando o Banco Central, no fator trabalho. O pleno-emprego e o aumento dos salários acima dos índices de produtividade pesam cada vez mais. Não podem ser compensados por uma desvalorização do real em relação ao dólar. A decisão do governo é usar o câmbio como âncora para os preços.
Não dá para dizer que o pior já passou e que, daqui para a frente, a indústria começará a recuperar-se. Os medidores do nível de confiança mostram desânimo. Por isso, as projeções sobre o comportamento da economia e da indústria mostram prostração. Ontem, a Fiesp projetou queda de 4,4% na produção industrial paulista em 2014.
O governo não admite publicamente seus erros. Limita-se a retocar a maquilagem, como mostrou com seu último pacotinho de bondades, que não foi além de prorrogar por mais seis meses a redução de IPI para o setor de veículos.
Isso mostra que não pretende apresentar nada capaz de reverter a atual situação antes das eleições.
Até há alguns meses, os números negativos a respeito do desempenho da indústria apenas vinham se sucedendo. Agora, a queda está em aceleração, sem perspectiva de melhora.
A produção industrial caiu 0,6% em maio (sobre abril), perfazendo uma queda de 1,6% nos primeiros cinco meses do ano (sobre igual período de 2013). É positiva em apenas 0,2%, uma vez considerado o período dos últimos 12 meses.
O desempenho do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) é ainda mais desanimador porque demonstra a baixa disposição em investir. Houve queda de 5,8% no acumulado de janeiro-maio.
O raquitismo da indústria já ficara evidente na análise do comportamento da balança comercial do primeiro semestre. E repete-se em outros números atualizados igualmente ruins. O Indicador de Nível de Atividade da indústria paulista da Fiesp acusou queda de 0,9% em maio (em relação a abril). E o desempenho das vendas do setor de veículos, ontem divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apresenta queda de 9,8% em junho (em comparação com maio) e de 7,3% na acumulada dos seis primeiros meses do ano.
É pobre o diagnóstico repetido por autoridades do governo de que o comportamento insatisfatório da indústria é o resultado da fraca recuperação econômica global. A crise começou em 2007, teve seu auge em 2008. Mesmo depois disso, seu impacto no mercado interno foi a tal "marolinha" de que o então presidente Lula se vangloriou. O nível da atividade da indústria está hoje 5,5% abaixo do que estava em 2011, como reconheceu ontem o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.
Embora não se possam ignorar as limitações do mercado externo, é preciso admitir que os principais problemas estão aqui dentro e são o resultado das opções de política econômica.
A indústria brasileira perde competitividade mês a mês porque enfrenta custos maiores também a cada mês. Embora o câmbio não ajude, os custos vão se elevando não só em carga tributária e carências da infraestrutura, mas, também, como vem apontando o Banco Central, no fator trabalho. O pleno-emprego e o aumento dos salários acima dos índices de produtividade pesam cada vez mais. Não podem ser compensados por uma desvalorização do real em relação ao dólar. A decisão do governo é usar o câmbio como âncora para os preços.
Não dá para dizer que o pior já passou e que, daqui para a frente, a indústria começará a recuperar-se. Os medidores do nível de confiança mostram desânimo. Por isso, as projeções sobre o comportamento da economia e da indústria mostram prostração. Ontem, a Fiesp projetou queda de 4,4% na produção industrial paulista em 2014.
O governo não admite publicamente seus erros. Limita-se a retocar a maquilagem, como mostrou com seu último pacotinho de bondades, que não foi além de prorrogar por mais seis meses a redução de IPI para o setor de veículos.
Isso mostra que não pretende apresentar nada capaz de reverter a atual situação antes das eleições.
A narrativa ausente - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 03/07
“Decifra-me ou devoro-te!” O eco do desafio mitológico da esfinge de Tebas acompanha a divulgação das sondagens eleitorais. Na etapa final da campanha, não existem enigmas difíceis: a trajetória das intenções de voto diz tudo o que importa. Contudo, nas etapas prévias, o panorama é mais complexo. Os analistas têm destacado as informações sobre a vontade de mudança do eleitorado e os índices de rejeição da presidente que busca a reeleição. São dados relevantes na equação, mas não deveriam obscurecer um outro, que configura um paradoxo: o crescimento das intenções de voto nos candidatos de oposição continua longe de refletir a vontade majoritária de mudança. Se não interpretarem corretamente o paradoxo, os oposicionistas oferecerão a Dilma Rousseff um triunfo que ela não pode obter por suas próprias forças.
Publicamente, o PSDB e o PSB asseguram que o crescimento das candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos é só uma questão de tempo – ou seja, de exposição no horário eleitoral. Na hipótese benigna, eles não acreditam nisso, mas falam para animar suas bases. A hipótese maligna é que se refugiam no pensamento mágico, acalentando o sonho de uma vitória por default. De um modo ou de outro, parecem longe de admitir o que as sondagens eleitorais insistem em demonstrar: ambos carecem de uma narrativa política capaz de traduzir o desejo majoritário de mudança.
A candidatura de Eduardo Campos sofre de um mal de origem. O ex-governador de Pernambuco era, até ontem, um “companheiro de viagem” do lulismo, e sua vice, Marina Silva, fez carreira política no PT, ainda que sua dissidência já tenha uma história. Desse mal decorre um frágil discurso eleitoral: a “terceira via”, ao menos na versão de Campos, é um elogio do “lulismo sem Dilma”. O discurso viola a verdade política, pois o governo Dilma representa, em todos os sentidos, o prolongamento dos mandatos de Lula. De mais a mais, é inverossímil, pois o eleitorado aprendeu que “Lula é Dilma” e “Dilma é Lula”.
A candidatura de Aécio Neves sofre de um mal distinto, evidenciado nas campanhas presidenciais de Geraldo Alckmin, em 2006, e de José Serra, em 2010: o PSDB não sabe explicar o motivo pelo qual quer governar o país. Oito anos atrás, Alckmin apostou suas chances na tecla da denúncia de corrupção. Há quatro anos, Serra investiu nas suas qualidades pessoais (a “experiência”) e no tema da “gestão eficiente”. A despolitização do discurso dos tucanos refletiu-se na apagada atuação parlamentar de Aécio, que nem sequer tentou transformar sua tribuna no Senado em polo de difusão de uma mensagem oposicionista. Não é fortuito que, a essa altura da corrida presidencial, suas intenções de voto permaneçam tão abaixo dos índices de rejeição à candidatura de Dilma.
O PSDB tem algo a aprender com o PT. Nos seus anos de oposição, o PT construiu uma narrativa sobre o governo e a sociedade que, mesmo se mistificadora, sintetizava uma crítica fundamental às políticas de FHC e indicava um rumo de mudança. Naquele tempo, o PT dizia que os tucanos governavam para a elite, acentuavam as desigualdades sociais e, no programa de privatizações, queimavam o patrimônio público no altar dos negócios privados. O PSDB desperdiçou seus anos de oposição sem fazer a defesa do legado de FHC, propiciando a cristalização da narrativa petista. Consequência disso, não formulou uma crítica de conjunto aos governos lulopetistas, limitando-se a aguardar que, num passe de mágica, o poder retornasse às suas mãos. Agora, Aécio só triunfará se produzir, em escassos meses, a narrativa que seu partido não elaborou ao longo de 12 anos.
Lula disse, várias vezes, e com razão, que “os ricos nunca ganharam tanto dinheiro como nos seus governos”. O PT governa para a elite, subsidiando pesadamente o grande capital privado enquanto distribui migalhas do banquete para os pobres, a fim de comprar seus votos. O contraste entre os valores envolvidos no Bolsa Empresário e os dispêndios no Bolsa Família contam uma história sobre o lulismo que o PSDB ocultou enquanto fingia fazer oposição. Terá Aécio a coragem de expô-la, mesmo às custas de desagradar ao alto empresariado?
Nos três mandatos do lulopetismo, o governo promoveu o consumo de bens privados, descuidando-se da geração de bens públicos. Os manifestantes de junho de 2013 foram rotulados pelo PT como “despolitizados” por apontarem essa contradição, levantando as bandeiras da educação e da saúde (“escolas e hospitais padrão Fifa”). No fundo, as multidões que ocuparam as ruas até serem expulsas pelos vândalos e depredadores estavam tomando uma posição sobre as funções do Estado. Terá Aécio a lucidez de reacender esse debate, do qual o PSDB foge sempre que o PT menciona a palavra “privatização”?
O sistema político do país vive um longo outono, putrefazendo-se diante de todos. A “solução” oferecida pelo PT é uma reforma política que acentuaria seus piores aspectos, junto com a rendição do Congresso à pressão dos “conselhos participativos”. Mas a raiz da crise crônica está fora do sistema político: encontra-se na própria administração pública, aberta de par em par à colonização pelos partidos políticos. Aécio promete operar uma cirurgia puramente simbólica, reduzindo o número de ministérios. Terá ele a ousadia de, desafiando o conjunto da elite política, propor um corte profundo, radical, no número de cargos públicos de livre indicação?
Ano passado, ouvi de uma assessora econômica tucana a profecia de que, antes do fim da Copa, um colapso econômico provocado pela inversão da política monetária americana decidiria a eleição presidencial brasileira. Era um sintoma da persistência do pensamento mágico que hipnotiza o PSDB desde a ascensão de Lula à presidência. Não: o Planalto não cairá no colo de Aécio. Para triunfar, ele precisa oferecer ao país uma narrativa política coerente.
“Decifra-me ou devoro-te!” O eco do desafio mitológico da esfinge de Tebas acompanha a divulgação das sondagens eleitorais. Na etapa final da campanha, não existem enigmas difíceis: a trajetória das intenções de voto diz tudo o que importa. Contudo, nas etapas prévias, o panorama é mais complexo. Os analistas têm destacado as informações sobre a vontade de mudança do eleitorado e os índices de rejeição da presidente que busca a reeleição. São dados relevantes na equação, mas não deveriam obscurecer um outro, que configura um paradoxo: o crescimento das intenções de voto nos candidatos de oposição continua longe de refletir a vontade majoritária de mudança. Se não interpretarem corretamente o paradoxo, os oposicionistas oferecerão a Dilma Rousseff um triunfo que ela não pode obter por suas próprias forças.
Publicamente, o PSDB e o PSB asseguram que o crescimento das candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos é só uma questão de tempo – ou seja, de exposição no horário eleitoral. Na hipótese benigna, eles não acreditam nisso, mas falam para animar suas bases. A hipótese maligna é que se refugiam no pensamento mágico, acalentando o sonho de uma vitória por default. De um modo ou de outro, parecem longe de admitir o que as sondagens eleitorais insistem em demonstrar: ambos carecem de uma narrativa política capaz de traduzir o desejo majoritário de mudança.
A candidatura de Eduardo Campos sofre de um mal de origem. O ex-governador de Pernambuco era, até ontem, um “companheiro de viagem” do lulismo, e sua vice, Marina Silva, fez carreira política no PT, ainda que sua dissidência já tenha uma história. Desse mal decorre um frágil discurso eleitoral: a “terceira via”, ao menos na versão de Campos, é um elogio do “lulismo sem Dilma”. O discurso viola a verdade política, pois o governo Dilma representa, em todos os sentidos, o prolongamento dos mandatos de Lula. De mais a mais, é inverossímil, pois o eleitorado aprendeu que “Lula é Dilma” e “Dilma é Lula”.
A candidatura de Aécio Neves sofre de um mal distinto, evidenciado nas campanhas presidenciais de Geraldo Alckmin, em 2006, e de José Serra, em 2010: o PSDB não sabe explicar o motivo pelo qual quer governar o país. Oito anos atrás, Alckmin apostou suas chances na tecla da denúncia de corrupção. Há quatro anos, Serra investiu nas suas qualidades pessoais (a “experiência”) e no tema da “gestão eficiente”. A despolitização do discurso dos tucanos refletiu-se na apagada atuação parlamentar de Aécio, que nem sequer tentou transformar sua tribuna no Senado em polo de difusão de uma mensagem oposicionista. Não é fortuito que, a essa altura da corrida presidencial, suas intenções de voto permaneçam tão abaixo dos índices de rejeição à candidatura de Dilma.
O PSDB tem algo a aprender com o PT. Nos seus anos de oposição, o PT construiu uma narrativa sobre o governo e a sociedade que, mesmo se mistificadora, sintetizava uma crítica fundamental às políticas de FHC e indicava um rumo de mudança. Naquele tempo, o PT dizia que os tucanos governavam para a elite, acentuavam as desigualdades sociais e, no programa de privatizações, queimavam o patrimônio público no altar dos negócios privados. O PSDB desperdiçou seus anos de oposição sem fazer a defesa do legado de FHC, propiciando a cristalização da narrativa petista. Consequência disso, não formulou uma crítica de conjunto aos governos lulopetistas, limitando-se a aguardar que, num passe de mágica, o poder retornasse às suas mãos. Agora, Aécio só triunfará se produzir, em escassos meses, a narrativa que seu partido não elaborou ao longo de 12 anos.
Lula disse, várias vezes, e com razão, que “os ricos nunca ganharam tanto dinheiro como nos seus governos”. O PT governa para a elite, subsidiando pesadamente o grande capital privado enquanto distribui migalhas do banquete para os pobres, a fim de comprar seus votos. O contraste entre os valores envolvidos no Bolsa Empresário e os dispêndios no Bolsa Família contam uma história sobre o lulismo que o PSDB ocultou enquanto fingia fazer oposição. Terá Aécio a coragem de expô-la, mesmo às custas de desagradar ao alto empresariado?
Nos três mandatos do lulopetismo, o governo promoveu o consumo de bens privados, descuidando-se da geração de bens públicos. Os manifestantes de junho de 2013 foram rotulados pelo PT como “despolitizados” por apontarem essa contradição, levantando as bandeiras da educação e da saúde (“escolas e hospitais padrão Fifa”). No fundo, as multidões que ocuparam as ruas até serem expulsas pelos vândalos e depredadores estavam tomando uma posição sobre as funções do Estado. Terá Aécio a lucidez de reacender esse debate, do qual o PSDB foge sempre que o PT menciona a palavra “privatização”?
O sistema político do país vive um longo outono, putrefazendo-se diante de todos. A “solução” oferecida pelo PT é uma reforma política que acentuaria seus piores aspectos, junto com a rendição do Congresso à pressão dos “conselhos participativos”. Mas a raiz da crise crônica está fora do sistema político: encontra-se na própria administração pública, aberta de par em par à colonização pelos partidos políticos. Aécio promete operar uma cirurgia puramente simbólica, reduzindo o número de ministérios. Terá ele a ousadia de, desafiando o conjunto da elite política, propor um corte profundo, radical, no número de cargos públicos de livre indicação?
Ano passado, ouvi de uma assessora econômica tucana a profecia de que, antes do fim da Copa, um colapso econômico provocado pela inversão da política monetária americana decidiria a eleição presidencial brasileira. Era um sintoma da persistência do pensamento mágico que hipnotiza o PSDB desde a ascensão de Lula à presidência. Não: o Planalto não cairá no colo de Aécio. Para triunfar, ele precisa oferecer ao país uma narrativa política coerente.
Inimiga da perfeição - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 03/07
A Copa do Mundo está aí mesmo para comprovar o óbvio: o prazo de validade das previsões, das catastróficas às mais otimistas, é ditado pelos fatos.
De onde não se deve brigar com eles, quando se impõem, nem por isso é aconselhável menosprezar os dados do presente como indicadores de um provável cenário futuro.
No caso do Mundial, os improvisos, os atrasos, os gastos, o histórico de maus serviços públicos e o clima adverso não apontavam para o desfecho que a realidade agradavelmente tratou de desmentir.
A expectativa tem dessas coisas. Acontece na política também. Em 5 de outubro de 2013, um sábado, o então ainda governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, anunciaram uma aliança que na época foi interpretada como o grande lance dessa eleição.
Um gesto capaz de mudar todo o cenário, romper a polarização entre PT e PSDB. Juntando a experiência política e a boa avaliação administrativa de Campos ao capital de votos e simbolismo de Marina, a aparência era mesmo daquilo a que se chamou de "golpe de mestre".
O alvoroço e a inquietação tomaram conta das hostes petistas e tucanas. Uma das pesquisas próximas ao anúncio da aliança parecia confirmar a expectativa positiva.
Mas, logo os índices voltaram a cair, os problemas a se mostrarem maiores que as soluções e a festejada união perdeu o elã, dando lugar a um leve sabor de frustração.
Isso quer dizer que esteja fadada ao fracasso? Tal resposta só quem tem são os fatos, aqueles senhores absolutos do prazo de validade das previsões.
Falando neles, fato é que o efeito transformador do cenário não aconteceu. Ao menos até agora.
No oficial, os parceiros não falam em arrependimento. No paralelo, porém, ressaltam que a pressa e o improviso na formação da aliança não foram bons conselheiros.
A posição de vestal de Marina afugentou potenciais aliados de Eduardo Campos e a posição dela como coadjuvante não entusiasmou na mesma proporção aquele eleitorado de 2010. Dizendo de modo mais direto: a aliança não rendeu (ainda?) aquilo que se esperava.
Culpa de Marina Silva, que só cria problemas? O PSB tende a considerar que sim, mas se a gente olhar direitinho vai ver que apesar de todas as exigências a vontade dela não prevaleceu nas decisões do partido nos três maiores colégios eleitorais, São Paulo, Minas e Rio.
Responsabilidade de Campos, que poupa o ex-presidente Lula de críticas e com isso dá a impressão de que ainda possa se aliar ao PT?
Talvez, mas isso não tem nada a ver com a aliança e sim com as razões dele que até o momento não estão claras quais são.
Senhor da razão. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que a presidente Dilma Rousseff escolherá o substituto de Joaquim Barbosa no "momento certo".
Tendo em vista a imprevisibilidade do resultado da eleição, é complicada a decisão sobre qual seria esse momento. Em tese a presidente não tem, como alega o ministro, o tempo que "for necessário".
Se deixar para depois e for derrotada ou o PT perde a chance de nomear mais um ministro do STF ou Dilma fará uma nomeação sem legitimidade para tal. Caso ganhe, aí sim será senhora do tempo.
Avalistas. A gente percebe a dimensão da influência da economia nessa campanha eleitoral quando dois pretendentes a governantes apresentam como avalistas dois ex-presidentes do Banco Central com alto capital de confiabilidade.
Aécio Neves para onde vai leva Armínio Fraga a tiracolo. Paulo Skaf mal recebeu o apoio do PSD e já anunciou Henrique Meirelles secretário de Fazenda, caso vença a eleição em São Paulo.
A Copa do Mundo está aí mesmo para comprovar o óbvio: o prazo de validade das previsões, das catastróficas às mais otimistas, é ditado pelos fatos.
De onde não se deve brigar com eles, quando se impõem, nem por isso é aconselhável menosprezar os dados do presente como indicadores de um provável cenário futuro.
No caso do Mundial, os improvisos, os atrasos, os gastos, o histórico de maus serviços públicos e o clima adverso não apontavam para o desfecho que a realidade agradavelmente tratou de desmentir.
A expectativa tem dessas coisas. Acontece na política também. Em 5 de outubro de 2013, um sábado, o então ainda governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, anunciaram uma aliança que na época foi interpretada como o grande lance dessa eleição.
Um gesto capaz de mudar todo o cenário, romper a polarização entre PT e PSDB. Juntando a experiência política e a boa avaliação administrativa de Campos ao capital de votos e simbolismo de Marina, a aparência era mesmo daquilo a que se chamou de "golpe de mestre".
O alvoroço e a inquietação tomaram conta das hostes petistas e tucanas. Uma das pesquisas próximas ao anúncio da aliança parecia confirmar a expectativa positiva.
Mas, logo os índices voltaram a cair, os problemas a se mostrarem maiores que as soluções e a festejada união perdeu o elã, dando lugar a um leve sabor de frustração.
Isso quer dizer que esteja fadada ao fracasso? Tal resposta só quem tem são os fatos, aqueles senhores absolutos do prazo de validade das previsões.
Falando neles, fato é que o efeito transformador do cenário não aconteceu. Ao menos até agora.
No oficial, os parceiros não falam em arrependimento. No paralelo, porém, ressaltam que a pressa e o improviso na formação da aliança não foram bons conselheiros.
A posição de vestal de Marina afugentou potenciais aliados de Eduardo Campos e a posição dela como coadjuvante não entusiasmou na mesma proporção aquele eleitorado de 2010. Dizendo de modo mais direto: a aliança não rendeu (ainda?) aquilo que se esperava.
Culpa de Marina Silva, que só cria problemas? O PSB tende a considerar que sim, mas se a gente olhar direitinho vai ver que apesar de todas as exigências a vontade dela não prevaleceu nas decisões do partido nos três maiores colégios eleitorais, São Paulo, Minas e Rio.
Responsabilidade de Campos, que poupa o ex-presidente Lula de críticas e com isso dá a impressão de que ainda possa se aliar ao PT?
Talvez, mas isso não tem nada a ver com a aliança e sim com as razões dele que até o momento não estão claras quais são.
Senhor da razão. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que a presidente Dilma Rousseff escolherá o substituto de Joaquim Barbosa no "momento certo".
Tendo em vista a imprevisibilidade do resultado da eleição, é complicada a decisão sobre qual seria esse momento. Em tese a presidente não tem, como alega o ministro, o tempo que "for necessário".
Se deixar para depois e for derrotada ou o PT perde a chance de nomear mais um ministro do STF ou Dilma fará uma nomeação sem legitimidade para tal. Caso ganhe, aí sim será senhora do tempo.
Avalistas. A gente percebe a dimensão da influência da economia nessa campanha eleitoral quando dois pretendentes a governantes apresentam como avalistas dois ex-presidentes do Banco Central com alto capital de confiabilidade.
Aécio Neves para onde vai leva Armínio Fraga a tiracolo. Paulo Skaf mal recebeu o apoio do PSD e já anunciou Henrique Meirelles secretário de Fazenda, caso vença a eleição em São Paulo.
A indústria encolhe - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/07
A queda forte da produção industrial de maio, de 0,6%, confirma o sentimento geral de desânimo do setor. Por qualquer ângulo que se olhe, o número é negativo. O acumulado em cinco meses mostra uma queda de 1,6%; na comparação com maio do ano passado, há uma redução de 3,2%. Além da pouca atividade doméstica, há também dificuldades para exportar produtos manufaturados.
Os dados dos últimos dias mostram o seguinte quadro: a indústria está encolhendo, o Tesouro teve o pior déficit primário da série histórica, e abalança comercial fechou o semestre no vermelho. O saldo de janeiro a junho é negativo em US$ 2,4 bilhões, com queda das exportações, das importações, e, portanto, da corrente de comércio. A crise na Argentina já está afetando as exportações de manufaturados, que caíram 10% sobre o mesmo período de 2013.
A boa notícia é que o déficit externo diminuiu. Já houve momento do ano em que estava com US$ 6 bilhões e está agora com US$ 2,4 bi, após um bom superávit no mês de junho. Em parte, isso se deve ao aumento de produção e de exportação de petróleo. O déficit do ano passado no setor de petróleo ficou em US$ 20 bilhões, este ano pode fechar, nas previsões do governo, em US$ 15 bi.
A pior notícia dos dados da indústria é a queda de 2,6% da produção de bens de capitais em maio, em relação a abril, e de 9,7%, em relação a maio do ano passado. O número em relação ao mesmo mês de 2013 pode estar exagerado pelo aumento grande que houve de produção de caminhões para a renovação da frota com novos motores de baixa emissão. Mas está havendo queda até de um mês em relação ao anterior. E no ano já acumula redução de 5,8%.
No caso da balança comercial, ter déficit não é, necessariamente, um problema. Quando o volume de comércio está aumentando, ou quando as importações são de máquinas e equipamentos, a economia vai ser beneficiada por crescimento ou por um futuro aumento da produtividade. Nenhum problema. A questão é que o resultado divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento mostrou que as importações de bens de capital caíram 5,1% no primeiro semestre, e isso reforça a percepção de que os empresários estão pouco confiantes com a economia e reduzindo investimentos. As importações em geral encolheram 3% na média diária. O déficit ficou menor porque o país importou menos combustíveis, 8%, e exportou mais petróleo.
Pelo lado das exportações, caíram as vendas externas que deveriam subir, e cresceu a dependência dos produtos básicos, como soja e minério de ferro. A exportação de produtos manufaturados recuou 10% no semestre, com retração de 31% nos automóveis e 25% nas autopeças. As vendas de produtos semimanufaturados também caíram 8,5%. Em compensação, vendemos mais produtos básicos, como carnes e soja.
A exportação de petróleo bruto cresceu 29% e ajudou a diminuir o rombo do setor energético no primeiro semestre. Ainda assim, o país ainda vive uma carência muito forte de produtos ligados ao setor de e nergia. Temos importado muito de tudo: gasolina, óleo diesel, gás, nafta petroquímico, querosene de aviação.
O quadro negativo revelado ontem pelos dados do IBGE em relação à indústria é muito maior, mais generalizado e permanente do que supõe o governo. O Ministério da Fazenda tem administrado os mesmos remédios que já foram usados e que não produziram nenhum resultado, como o pacotinho de não elevação do IPI de carros e alguns outros produtos. A indústria precisa mais que um medicamento temporário, tópico e setorial. Os dados confirmam as previsões de um ano de crescimento do PIB em torno de 1%, como registra a última pesquisa Focus, e consolidam o cenário de desânimo na economia.
A queda forte da produção industrial de maio, de 0,6%, confirma o sentimento geral de desânimo do setor. Por qualquer ângulo que se olhe, o número é negativo. O acumulado em cinco meses mostra uma queda de 1,6%; na comparação com maio do ano passado, há uma redução de 3,2%. Além da pouca atividade doméstica, há também dificuldades para exportar produtos manufaturados.
Os dados dos últimos dias mostram o seguinte quadro: a indústria está encolhendo, o Tesouro teve o pior déficit primário da série histórica, e abalança comercial fechou o semestre no vermelho. O saldo de janeiro a junho é negativo em US$ 2,4 bilhões, com queda das exportações, das importações, e, portanto, da corrente de comércio. A crise na Argentina já está afetando as exportações de manufaturados, que caíram 10% sobre o mesmo período de 2013.
A boa notícia é que o déficit externo diminuiu. Já houve momento do ano em que estava com US$ 6 bilhões e está agora com US$ 2,4 bi, após um bom superávit no mês de junho. Em parte, isso se deve ao aumento de produção e de exportação de petróleo. O déficit do ano passado no setor de petróleo ficou em US$ 20 bilhões, este ano pode fechar, nas previsões do governo, em US$ 15 bi.
A pior notícia dos dados da indústria é a queda de 2,6% da produção de bens de capitais em maio, em relação a abril, e de 9,7%, em relação a maio do ano passado. O número em relação ao mesmo mês de 2013 pode estar exagerado pelo aumento grande que houve de produção de caminhões para a renovação da frota com novos motores de baixa emissão. Mas está havendo queda até de um mês em relação ao anterior. E no ano já acumula redução de 5,8%.
No caso da balança comercial, ter déficit não é, necessariamente, um problema. Quando o volume de comércio está aumentando, ou quando as importações são de máquinas e equipamentos, a economia vai ser beneficiada por crescimento ou por um futuro aumento da produtividade. Nenhum problema. A questão é que o resultado divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento mostrou que as importações de bens de capital caíram 5,1% no primeiro semestre, e isso reforça a percepção de que os empresários estão pouco confiantes com a economia e reduzindo investimentos. As importações em geral encolheram 3% na média diária. O déficit ficou menor porque o país importou menos combustíveis, 8%, e exportou mais petróleo.
Pelo lado das exportações, caíram as vendas externas que deveriam subir, e cresceu a dependência dos produtos básicos, como soja e minério de ferro. A exportação de produtos manufaturados recuou 10% no semestre, com retração de 31% nos automóveis e 25% nas autopeças. As vendas de produtos semimanufaturados também caíram 8,5%. Em compensação, vendemos mais produtos básicos, como carnes e soja.
A exportação de petróleo bruto cresceu 29% e ajudou a diminuir o rombo do setor energético no primeiro semestre. Ainda assim, o país ainda vive uma carência muito forte de produtos ligados ao setor de e nergia. Temos importado muito de tudo: gasolina, óleo diesel, gás, nafta petroquímico, querosene de aviação.
O quadro negativo revelado ontem pelos dados do IBGE em relação à indústria é muito maior, mais generalizado e permanente do que supõe o governo. O Ministério da Fazenda tem administrado os mesmos remédios que já foram usados e que não produziram nenhum resultado, como o pacotinho de não elevação do IPI de carros e alguns outros produtos. A indústria precisa mais que um medicamento temporário, tópico e setorial. Os dados confirmam as previsões de um ano de crescimento do PIB em torno de 1%, como registra a última pesquisa Focus, e consolidam o cenário de desânimo na economia.
O real no seu 20º aniversário - ROBERTO MACEDO
O ESTADO DE S.PAULO - 03/07
Em face do que representa para a economia brasileira, o Plano Real merece comemorações nos dois dias que marcam os aniversários do que trouxe de bom. A primeira, do lançamento do plano, em 1.º de março de 1994, quando nasceu a Unidade Real de Valor (URV), de vida curta e morte anunciada. A segunda, do surgimento do real como papel-moeda, em 1.º de julho do mesmo ano, quando a URV expirou.
Em torno do último dia 1.º vieram vários artigos e depoimentos sobre o real neste aniversário, abordando vários de seus aspectos. Entre estes, a muito menor taxa de inflação que veio com ele e seu impacto muito favorável sobre os rendimentos dos mais pobres, os que mais sofriam o efeito corrosivo da fortíssima inflação sobre o seu dinheiro. E as dificuldades diante da necessidade de um controle mais firme da inflação, em particular a indisciplina que marca as contas públicas federais.
Vou tocar em outros dois aspectos. Começarei por mostrar como o padrão monetário brasileiro se degenerou por décadas antes do real. Em seguida argumentarei que o extenso período de elevadíssima inflação e de luta pela estabilização do valor da moeda moldou uma geração de economistas e um conjunto de políticas econômicas muito focados nessa estabilização, negligenciando um igualmente indispensável empenho no desenvolvimento econômico do País.
Quanto ao primeiro tema, foram oito (!) os padrões monetários que a partir de 1.º de novembro de 1942 marcaram a fase posterior ao mil-réis: cruzeiro, cruzeiro novo, novamente o cruzeiro, cruzado, cruzado novo, outra vez o cruzeiro, cruzeiro real e real. E por quatro (!) vezes um novo padrão foi introduzido cortando-se três zeros do anterior, começando com 1.000 réis = Cr$ 1. Na época do cruzeiro novo, entre 1967 e 1970, não houve nem emissão de novas notas, usando-se as mesmas do padrão anterior depois de carimbadas com o corte de três zeros.
O cruzado novo veio em 1989 com o corte de três zeros, mas já no ano seguinte surgiu outro cruzeiro, sem esse corte e que durou até 1993. Entre esses dois anos, porém, a inflação foi tanta que surgiu uma nota de Cr$ 500.000 (!) com a efígie de Mário de Andrade. Este, entre outras obras, escreveu Macunaíma, o "herói sem caráter". Mais para vilão, o nosso padrão monetário também não tinha caráter.
O primeiro cruzeiro começou em 1942, estampado com vultos históricos como Cabral, Duque de Caxias, Pedro I e outros. Getúlio Vargas, então ditador, ditou que também deveria ser mostrado. Mais à frente vieram expoentes da pintura, música e literatura. E na nota de valor imediatamente inferior (Cr$ 100.000) à que "homenageou" Mário de Andrade, um ninho de beija-flores. As duas últimas notas antes do real tiveram figuras folclóricas, uma baiana na nota de CR$ 50.000 e um gaúcho noutra de um décimo desse valor, ou CR$ 5.000, o que virou motivo de piadas e mostra a falta de cuidados em escolhas como essa.
É ver para crer. Essas notas e todas as demais desde o primeiro cruzeiro estão no portal do Banco Central (www.bcb.gov.br/?PADMONET). O que ali se vê é trágico e serve para assustar e prevenir quanto a um retorno ao passado pré-real. Este conseguiu reverter a história quando chegou. Já dura mais que todos os padrões que vieram após o cruzeiro de 1942, que chegou perto de 25 anos. Com mais cinco o real vai ultrapassá-lo.
Passando ao outro tema, quando comecei a estudar Economia, em meados dos anos 1960, no Brasil o tema de maior interesse da área era o desenvolvimento econômico. Dados de contas nacionais passaram a evidenciar, com o produto interno bruto (PIB) por habitante, as enormes diferenças entre países ricos e pobres. Após a 2.ª Guerra Mundial e até a década de 1970, o do Brasil cresceu bastante, mas sobreveio forte inflação que prejudicou o País. Em meados dos anos 1980, ela escapou do controle. E se tornou a preocupação central de economistas acadêmicos e de gestores da política econômica.
Com isso ganhou realce a disciplina Macroeconomia, cujos livros focam mais no propósito de estabilizar a economia. Em geral oriundos dos EUA, esses manuais costumam deixar o crescimento econômico numa posição secundária, recebendo apenas a atenção de uns poucos capítulos ao final.
Nos EUA isso é compreensível, porque já é um país desenvolvido. Aqui não se pode aceitar que as questões ligadas ao desenvolvimento econômico sejam também postas em segundo plano, pois ele é tão primordial quanto a estabilização. Saindo do economês, um avião tem muitos mecanismos para estabilização do seu voo, mas sem motores não voará. No Brasil é escassa a atenção dada aos motores da economia, em particular o investimento na expansão da sua capacidade produtiva.
Outro fator a moldar esse quadro é a grande influência exercida pelo mercado financeiro, cujas instituições hoje dispõem de grandes departamentos econômicos e economistas bem treinados, a fornecer enorme quantidade de informações que tomam grande espaço na mídia. Mas a preocupação central dessas instituições é gerir seus ativos, como ao ficarem de olho nas taxas de juros e para saberem se o governo vai pagar direitinho sua dívida com o mesmo mercado. O desenvolvimento econômico e outras questões de horizonte mais longo ficam, se tanto, na margem do alcance de seus radares.
Mais especificamente, o debate sobre a política macroeconômica é muito centrado no curto prazo e no chamado tripé, formado pelas políticas de metas da inflação, de contas públicas bem administradas, em particular seus déficits e dívidas, para não causar turbulências financeiras, e de taxa de câmbio flutuante, para atenuar desequilíbrios do setor externo. Uma luneta com zoom precisa apoiar-se nesse tripé para acomodar a visão de um País economicamente maior e também mais desenvolvido noutras dimensões e num futuro que não seja tão longínquo como que hoje se contempla.
Em face do que representa para a economia brasileira, o Plano Real merece comemorações nos dois dias que marcam os aniversários do que trouxe de bom. A primeira, do lançamento do plano, em 1.º de março de 1994, quando nasceu a Unidade Real de Valor (URV), de vida curta e morte anunciada. A segunda, do surgimento do real como papel-moeda, em 1.º de julho do mesmo ano, quando a URV expirou.
Em torno do último dia 1.º vieram vários artigos e depoimentos sobre o real neste aniversário, abordando vários de seus aspectos. Entre estes, a muito menor taxa de inflação que veio com ele e seu impacto muito favorável sobre os rendimentos dos mais pobres, os que mais sofriam o efeito corrosivo da fortíssima inflação sobre o seu dinheiro. E as dificuldades diante da necessidade de um controle mais firme da inflação, em particular a indisciplina que marca as contas públicas federais.
Vou tocar em outros dois aspectos. Começarei por mostrar como o padrão monetário brasileiro se degenerou por décadas antes do real. Em seguida argumentarei que o extenso período de elevadíssima inflação e de luta pela estabilização do valor da moeda moldou uma geração de economistas e um conjunto de políticas econômicas muito focados nessa estabilização, negligenciando um igualmente indispensável empenho no desenvolvimento econômico do País.
Quanto ao primeiro tema, foram oito (!) os padrões monetários que a partir de 1.º de novembro de 1942 marcaram a fase posterior ao mil-réis: cruzeiro, cruzeiro novo, novamente o cruzeiro, cruzado, cruzado novo, outra vez o cruzeiro, cruzeiro real e real. E por quatro (!) vezes um novo padrão foi introduzido cortando-se três zeros do anterior, começando com 1.000 réis = Cr$ 1. Na época do cruzeiro novo, entre 1967 e 1970, não houve nem emissão de novas notas, usando-se as mesmas do padrão anterior depois de carimbadas com o corte de três zeros.
O cruzado novo veio em 1989 com o corte de três zeros, mas já no ano seguinte surgiu outro cruzeiro, sem esse corte e que durou até 1993. Entre esses dois anos, porém, a inflação foi tanta que surgiu uma nota de Cr$ 500.000 (!) com a efígie de Mário de Andrade. Este, entre outras obras, escreveu Macunaíma, o "herói sem caráter". Mais para vilão, o nosso padrão monetário também não tinha caráter.
O primeiro cruzeiro começou em 1942, estampado com vultos históricos como Cabral, Duque de Caxias, Pedro I e outros. Getúlio Vargas, então ditador, ditou que também deveria ser mostrado. Mais à frente vieram expoentes da pintura, música e literatura. E na nota de valor imediatamente inferior (Cr$ 100.000) à que "homenageou" Mário de Andrade, um ninho de beija-flores. As duas últimas notas antes do real tiveram figuras folclóricas, uma baiana na nota de CR$ 50.000 e um gaúcho noutra de um décimo desse valor, ou CR$ 5.000, o que virou motivo de piadas e mostra a falta de cuidados em escolhas como essa.
É ver para crer. Essas notas e todas as demais desde o primeiro cruzeiro estão no portal do Banco Central (www.bcb.gov.br/?PADMONET). O que ali se vê é trágico e serve para assustar e prevenir quanto a um retorno ao passado pré-real. Este conseguiu reverter a história quando chegou. Já dura mais que todos os padrões que vieram após o cruzeiro de 1942, que chegou perto de 25 anos. Com mais cinco o real vai ultrapassá-lo.
Passando ao outro tema, quando comecei a estudar Economia, em meados dos anos 1960, no Brasil o tema de maior interesse da área era o desenvolvimento econômico. Dados de contas nacionais passaram a evidenciar, com o produto interno bruto (PIB) por habitante, as enormes diferenças entre países ricos e pobres. Após a 2.ª Guerra Mundial e até a década de 1970, o do Brasil cresceu bastante, mas sobreveio forte inflação que prejudicou o País. Em meados dos anos 1980, ela escapou do controle. E se tornou a preocupação central de economistas acadêmicos e de gestores da política econômica.
Com isso ganhou realce a disciplina Macroeconomia, cujos livros focam mais no propósito de estabilizar a economia. Em geral oriundos dos EUA, esses manuais costumam deixar o crescimento econômico numa posição secundária, recebendo apenas a atenção de uns poucos capítulos ao final.
Nos EUA isso é compreensível, porque já é um país desenvolvido. Aqui não se pode aceitar que as questões ligadas ao desenvolvimento econômico sejam também postas em segundo plano, pois ele é tão primordial quanto a estabilização. Saindo do economês, um avião tem muitos mecanismos para estabilização do seu voo, mas sem motores não voará. No Brasil é escassa a atenção dada aos motores da economia, em particular o investimento na expansão da sua capacidade produtiva.
Outro fator a moldar esse quadro é a grande influência exercida pelo mercado financeiro, cujas instituições hoje dispõem de grandes departamentos econômicos e economistas bem treinados, a fornecer enorme quantidade de informações que tomam grande espaço na mídia. Mas a preocupação central dessas instituições é gerir seus ativos, como ao ficarem de olho nas taxas de juros e para saberem se o governo vai pagar direitinho sua dívida com o mesmo mercado. O desenvolvimento econômico e outras questões de horizonte mais longo ficam, se tanto, na margem do alcance de seus radares.
Mais especificamente, o debate sobre a política macroeconômica é muito centrado no curto prazo e no chamado tripé, formado pelas políticas de metas da inflação, de contas públicas bem administradas, em particular seus déficits e dívidas, para não causar turbulências financeiras, e de taxa de câmbio flutuante, para atenuar desequilíbrios do setor externo. Uma luneta com zoom precisa apoiar-se nesse tripé para acomodar a visão de um País economicamente maior e também mais desenvolvido noutras dimensões e num futuro que não seja tão longínquo como que hoje se contempla.
As preocupantes declarações de Joaquim Barbosa - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 03/07
O ex-presidente do STF contribui para a defesa de indicações sérias de novos ministros ao denunciar a interferência de interesses privados no tribunal
Bem ao seu estilo, o ministro Joaquim Barbosa se despediu do Supremo Tribunal Federal sem cumprir o protocolo. Para não ouvir os discursos de praxe de colegas e evitar qualquer pronunciamento formal, Barbosa saiu antes de encerrada a sessão de terça-feira, a sua última no STF. Agora, espera a publicação da aposentadoria no Diário Oficial.
Mas já aproveitou os primeiros momentos fora da Corte para, em entrevista, dar opiniões fortes sobre a atuação de ministros. No julgamento do mensalão, de que foi relator, já fizera acusações a alguns de seus pares de atuar com o objetivo de ajudar condenados.
Terça, sem a toga, foi mais explícito: “Aqui (STF) não é lugar para pessoas que chegam com vínculos a determinados grupos. Não é lugar para privilegiar determinadas orientações". E mais adiante: “(...) aquilo que falei da constante queda de braço, da tentativa de utilização da jurisdição para fins partidários, de fortalecimento de grupos, de certas corporações, isso é extremamente nocivo, em primeiro lugar, à credibilidade do tribunal, e também à institucionalidade do nosso país”.
Joaquim Barbosa tem razão, e precisa, à primeira oportunidade, aprofundar este tema do uso do Supremo para fins privados.
Quem acompanhou sessões do julgamento percebeu em algumas manobras a defesa de interesses dos mensaleiros. Por exemplo, na lentidão forçada dos trabalhos na primeira fase das sessões, para que os ministros Cezar Peluso e Ayres Britto se aposentassem votando o mínimo possível, por serem favoráveis à condenação dos acusados. Deu certo, infelizmente.
A visão crítica de Joaquim Barbosa não reduz a importância histórica do julgamento, nem seu êxito. Pode ter havido frustrações, mas deve-se relembrar que nunca no Brasil políticos de partidos no poder — ou mesmo fora dele — foram condenados e presos por corrupção. Neste sentido, importa menos o rigor das penas, mas o ineditismo da punição, essencial para o consolidação das instituições da democracia representativa.
O mesmo aconteceu no impeachment de Collor: o fato de ele não ter sido condenado pelo Supremo não reduziu a contribuição do Congresso à estabilidade institucional.
Esta primeira entrevista de Joaquim Barbosa fora do Pleno do STF tem a ver com os critérios de indicação de candidatos a ministros ao Senado, prerrogativa da Presidência da República. A própria escolha de seu sucessor será um teste para a presidente Dilma Rousseff, caso ela decida fazê-la antes de apuradas as urnas de outubro.
Será muito ruim para as instituições se Dilma, permeável a pressões de alas petistas radicais em função do quadro eleitoral, fizer uma indicação inadequada ao Supremo, a última linha de defesa do estado democrático de direito. Agravará as distorções mencionadas por Barbosa.
O ex-presidente do STF contribui para a defesa de indicações sérias de novos ministros ao denunciar a interferência de interesses privados no tribunal
Bem ao seu estilo, o ministro Joaquim Barbosa se despediu do Supremo Tribunal Federal sem cumprir o protocolo. Para não ouvir os discursos de praxe de colegas e evitar qualquer pronunciamento formal, Barbosa saiu antes de encerrada a sessão de terça-feira, a sua última no STF. Agora, espera a publicação da aposentadoria no Diário Oficial.
Mas já aproveitou os primeiros momentos fora da Corte para, em entrevista, dar opiniões fortes sobre a atuação de ministros. No julgamento do mensalão, de que foi relator, já fizera acusações a alguns de seus pares de atuar com o objetivo de ajudar condenados.
Terça, sem a toga, foi mais explícito: “Aqui (STF) não é lugar para pessoas que chegam com vínculos a determinados grupos. Não é lugar para privilegiar determinadas orientações". E mais adiante: “(...) aquilo que falei da constante queda de braço, da tentativa de utilização da jurisdição para fins partidários, de fortalecimento de grupos, de certas corporações, isso é extremamente nocivo, em primeiro lugar, à credibilidade do tribunal, e também à institucionalidade do nosso país”.
Joaquim Barbosa tem razão, e precisa, à primeira oportunidade, aprofundar este tema do uso do Supremo para fins privados.
Quem acompanhou sessões do julgamento percebeu em algumas manobras a defesa de interesses dos mensaleiros. Por exemplo, na lentidão forçada dos trabalhos na primeira fase das sessões, para que os ministros Cezar Peluso e Ayres Britto se aposentassem votando o mínimo possível, por serem favoráveis à condenação dos acusados. Deu certo, infelizmente.
A visão crítica de Joaquim Barbosa não reduz a importância histórica do julgamento, nem seu êxito. Pode ter havido frustrações, mas deve-se relembrar que nunca no Brasil políticos de partidos no poder — ou mesmo fora dele — foram condenados e presos por corrupção. Neste sentido, importa menos o rigor das penas, mas o ineditismo da punição, essencial para o consolidação das instituições da democracia representativa.
O mesmo aconteceu no impeachment de Collor: o fato de ele não ter sido condenado pelo Supremo não reduziu a contribuição do Congresso à estabilidade institucional.
Esta primeira entrevista de Joaquim Barbosa fora do Pleno do STF tem a ver com os critérios de indicação de candidatos a ministros ao Senado, prerrogativa da Presidência da República. A própria escolha de seu sucessor será um teste para a presidente Dilma Rousseff, caso ela decida fazê-la antes de apuradas as urnas de outubro.
Será muito ruim para as instituições se Dilma, permeável a pressões de alas petistas radicais em função do quadro eleitoral, fizer uma indicação inadequada ao Supremo, a última linha de defesa do estado democrático de direito. Agravará as distorções mencionadas por Barbosa.
Dependência de primários é a maior em três décadas - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 03/07
A balança comercial registrou um superávit de US$ 2,36 bilhões em junho e um déficit de US$ 2,49 bilhões no primeiro semestre. Pela primeira vez em mais de três décadas, as exportações de produtos básicos representaram mais da metade das vendas (50,8%) no semestre, cabendo apenas 34,4% aos manufaturados.
Nem a queda do déficit comercial no mês indica mudança de tendência nem uma avaliação mais ampla do comércio exterior, em 2014, dá alento ao balanço de pagamentos - o déficit na conta corrente está em US$ 81,9 bilhões, em 12 meses.
As exportações caíram 3,2%, entre junho de 2013 e junho de 2014, e as importações caíram mais: 3,8%. A dependência da exportação de produtos primários acentuou-se, pois enquanto estas cresceram 9,5%, pelo critério de média diária, as de manufaturados diminuíram 19,3% - um desastre, ainda que influenciado por um fator principal: o estreitamento do mercado argentino.
O Brasil foi salvo, do lado das exportações, pelo aumento de 11,4% das vendas para os Estados Unidos. A retomada da economia americana, ainda que lenta, favorece o País, segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. As exportações de petróleo em bruto também ajudaram no semestre.
Mas a queda das importações foi o fator decisivo do resultado do mês passado: diminuíram as compras de veículos automotores e partes (19,6%), de equipamentos mecânicos (19,2%), de equipamentos eletroeletrônicos (18,7%), de itens siderúrgicos (12%) e de adubos e fertilizantes (31,5%). Isso significa queda da demanda da indústria - e, portanto, do investimento. Houve "moderação atípica na atividade econômica" no período de jogos da Copa do Mundo, avaliou o boletim do Departamento Econômico do Bradesco. O banco prevê um pequeno déficit na balança comercial em 2014, pouco superior a US$ 1,5 bilhão, enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ainda espera um superávit de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões.
Tão ou mais grave que o encolhimento do saldo comercial no primeiro semestre foi a queda de 2,8% na corrente de comércio (soma de importações e de exportações), de US$ 231,9 bilhões para US$ 223,6 bilhões. O comércio exterior fornece, assim, um duplo sinal negativo: não gera saldo comercial suficiente para atenuar o déficit externo e a corrente de comércio confirma a desaceleração em curso.
A balança comercial registrou um superávit de US$ 2,36 bilhões em junho e um déficit de US$ 2,49 bilhões no primeiro semestre. Pela primeira vez em mais de três décadas, as exportações de produtos básicos representaram mais da metade das vendas (50,8%) no semestre, cabendo apenas 34,4% aos manufaturados.
Nem a queda do déficit comercial no mês indica mudança de tendência nem uma avaliação mais ampla do comércio exterior, em 2014, dá alento ao balanço de pagamentos - o déficit na conta corrente está em US$ 81,9 bilhões, em 12 meses.
As exportações caíram 3,2%, entre junho de 2013 e junho de 2014, e as importações caíram mais: 3,8%. A dependência da exportação de produtos primários acentuou-se, pois enquanto estas cresceram 9,5%, pelo critério de média diária, as de manufaturados diminuíram 19,3% - um desastre, ainda que influenciado por um fator principal: o estreitamento do mercado argentino.
O Brasil foi salvo, do lado das exportações, pelo aumento de 11,4% das vendas para os Estados Unidos. A retomada da economia americana, ainda que lenta, favorece o País, segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. As exportações de petróleo em bruto também ajudaram no semestre.
Mas a queda das importações foi o fator decisivo do resultado do mês passado: diminuíram as compras de veículos automotores e partes (19,6%), de equipamentos mecânicos (19,2%), de equipamentos eletroeletrônicos (18,7%), de itens siderúrgicos (12%) e de adubos e fertilizantes (31,5%). Isso significa queda da demanda da indústria - e, portanto, do investimento. Houve "moderação atípica na atividade econômica" no período de jogos da Copa do Mundo, avaliou o boletim do Departamento Econômico do Bradesco. O banco prevê um pequeno déficit na balança comercial em 2014, pouco superior a US$ 1,5 bilhão, enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ainda espera um superávit de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões.
Tão ou mais grave que o encolhimento do saldo comercial no primeiro semestre foi a queda de 2,8% na corrente de comércio (soma de importações e de exportações), de US$ 231,9 bilhões para US$ 223,6 bilhões. O comércio exterior fornece, assim, um duplo sinal negativo: não gera saldo comercial suficiente para atenuar o déficit externo e a corrente de comércio confirma a desaceleração em curso.
Quem vai pagar por Pasadena? - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 03/07
Os relatórios do TCU deixam claro que a compra da refinaria não foi apenas uma aposta que deu errado, mas uma combinação de negligência e irresponsabilidade
Dois relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), cujo conteúdo foi divulgado ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo, chegaram a uma conclusão comum: os cofres públicos precisam ser compensados pelo prejuízo quase bilionário que a Petrobras teve na negociação de uma refinaria em Pasadena, no Texas. Os dois textos divergem na extensão da lista dos responsáveis, mas ambos consideram que houve, nas palavras de um dos auditores, “graves indícios de lesão ao erário, além de atos de gestão antieconômicos e ilegítimos”.
Em 2006, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por 50% da refinaria texana. A outra metade continuaria pertencendo à belga Astra Oil, que havia pago, por 100% da unidade, apenas US$ 42,5 milhões um ano antes. O contrato, no entanto, continha uma cláusula segundo a qual, em caso de desentendimento entre sócios, uma parte teria de comprar as ações da outra. Como acabou havendo conflito entre a Petrobras e a Astra, os belgas foram à Justiça norte-americana e, em 2012, ganharam a ação. A Petrobras, assim, foi obrigada a desembolsar mais US$ 820 milhões para ter o controle total da refinaria.
O negócio original, ocorrido quando Lula era presidente da República e José Sérgio Gabrielli comandava a estatal, tinha sido aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras, à época chefiado por Dilma Rousseff – a atual presidente da República era, então, ministra-chefe da Casa Civil – e que tinha também a participação de empresários como Jorge Gerdau e outros petistas importantes, como Antonio Palocci, que era ministro da Fazenda, e Jaques Wagner, então ministro das Relações Institucionais e hoje governador da Bahia. Boa parte da polêmica envolvendo Pasadena se refere ao grau de conhecimento que os conselheiros tinham a respeito não apenas da cláusula “put option” (que forçava a compra das ações da outra parte em caso de desentendimento), mas também da cláusula “Marlin”, que garantia à Astra um lucro mínimo que independia do desempenho da refinaria. Foi assim que boa parte da culpa pelo negócio desastroso caiu sobre as costas de Nestor Cerveró, ex-diretor responsável pelo relatório entregue aos conselheiros. Ele é quem teria passado informações incompletas, levando o Conselho a aprovar uma compra que, de outro modo, não teria ocorrido, como afirmou a própria presidente Dilma.
A grande divergência entre os dois relatórios do TCU é justamente essa indefinição sobre o grau de responsabilidade dos conselheiros. Um dos pareceres culpa Dilma, Palocci, Gerdau e os demais integrantes do Conselho, que teriam exercido inadequadamente o dever de diligência que lhes competia e sido omissos na apuração das responsabilidades pelas falhas no relatório que embasou a decisão de comprar a refinaria. O outro parecer isenta os conselheiros, justamente porque eles teriam sido iludidos pelo resumo executivo apresentado a eles. Em comum, os dois relatórios responsabilizam Gabrielli, Cerveró e outro ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa (que chegou a ser preso na Operação Lava Jato).
Os dois textos serão, agora, encaminhados ao relator do processo no TCU, José Jorge, que levará o caso ao plenário do tribunal. Só então haverá uma decisão, que será encaminhada ao Ministério Público, que por sua vez decidirá se inicia ou não uma ação. De qualquer maneira, o que os dois relatórios deixam claro é que Pasadena não foi apenas uma aposta que deu errado, algo que pode acontecer nas melhores empresas; Pasadena foi uma combinação de negligência e irresponsabilidade, que em qualquer companhia privada já teria custado pelo menos o cargo dos envolvidos – quase o oposto do que aconteceu com Cerveró, que em 2008 (quando já surgiam os sinais de que o negócio era um desastre) deixou a diretoria da Área Internacional da Petrobras para assumir a direção financeira da BR Distribuidora; só em março desse ano, quando o escândalo tomou as proporções atuais, é que ele foi demitido. Mas, como a Petrobras é estatal, seu prejuízo acabou dividido com o cidadão brasileiro. Resta saber até quando seguirá sendo assim.
Os relatórios do TCU deixam claro que a compra da refinaria não foi apenas uma aposta que deu errado, mas uma combinação de negligência e irresponsabilidade
Dois relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), cujo conteúdo foi divulgado ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo, chegaram a uma conclusão comum: os cofres públicos precisam ser compensados pelo prejuízo quase bilionário que a Petrobras teve na negociação de uma refinaria em Pasadena, no Texas. Os dois textos divergem na extensão da lista dos responsáveis, mas ambos consideram que houve, nas palavras de um dos auditores, “graves indícios de lesão ao erário, além de atos de gestão antieconômicos e ilegítimos”.
Em 2006, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por 50% da refinaria texana. A outra metade continuaria pertencendo à belga Astra Oil, que havia pago, por 100% da unidade, apenas US$ 42,5 milhões um ano antes. O contrato, no entanto, continha uma cláusula segundo a qual, em caso de desentendimento entre sócios, uma parte teria de comprar as ações da outra. Como acabou havendo conflito entre a Petrobras e a Astra, os belgas foram à Justiça norte-americana e, em 2012, ganharam a ação. A Petrobras, assim, foi obrigada a desembolsar mais US$ 820 milhões para ter o controle total da refinaria.
O negócio original, ocorrido quando Lula era presidente da República e José Sérgio Gabrielli comandava a estatal, tinha sido aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras, à época chefiado por Dilma Rousseff – a atual presidente da República era, então, ministra-chefe da Casa Civil – e que tinha também a participação de empresários como Jorge Gerdau e outros petistas importantes, como Antonio Palocci, que era ministro da Fazenda, e Jaques Wagner, então ministro das Relações Institucionais e hoje governador da Bahia. Boa parte da polêmica envolvendo Pasadena se refere ao grau de conhecimento que os conselheiros tinham a respeito não apenas da cláusula “put option” (que forçava a compra das ações da outra parte em caso de desentendimento), mas também da cláusula “Marlin”, que garantia à Astra um lucro mínimo que independia do desempenho da refinaria. Foi assim que boa parte da culpa pelo negócio desastroso caiu sobre as costas de Nestor Cerveró, ex-diretor responsável pelo relatório entregue aos conselheiros. Ele é quem teria passado informações incompletas, levando o Conselho a aprovar uma compra que, de outro modo, não teria ocorrido, como afirmou a própria presidente Dilma.
A grande divergência entre os dois relatórios do TCU é justamente essa indefinição sobre o grau de responsabilidade dos conselheiros. Um dos pareceres culpa Dilma, Palocci, Gerdau e os demais integrantes do Conselho, que teriam exercido inadequadamente o dever de diligência que lhes competia e sido omissos na apuração das responsabilidades pelas falhas no relatório que embasou a decisão de comprar a refinaria. O outro parecer isenta os conselheiros, justamente porque eles teriam sido iludidos pelo resumo executivo apresentado a eles. Em comum, os dois relatórios responsabilizam Gabrielli, Cerveró e outro ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa (que chegou a ser preso na Operação Lava Jato).
Os dois textos serão, agora, encaminhados ao relator do processo no TCU, José Jorge, que levará o caso ao plenário do tribunal. Só então haverá uma decisão, que será encaminhada ao Ministério Público, que por sua vez decidirá se inicia ou não uma ação. De qualquer maneira, o que os dois relatórios deixam claro é que Pasadena não foi apenas uma aposta que deu errado, algo que pode acontecer nas melhores empresas; Pasadena foi uma combinação de negligência e irresponsabilidade, que em qualquer companhia privada já teria custado pelo menos o cargo dos envolvidos – quase o oposto do que aconteceu com Cerveró, que em 2008 (quando já surgiam os sinais de que o negócio era um desastre) deixou a diretoria da Área Internacional da Petrobras para assumir a direção financeira da BR Distribuidora; só em março desse ano, quando o escândalo tomou as proporções atuais, é que ele foi demitido. Mas, como a Petrobras é estatal, seu prejuízo acabou dividido com o cidadão brasileiro. Resta saber até quando seguirá sendo assim.
Indústria negativa - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 03/07
Setor manufatureiro recua pela terceira vez seguida e aumenta lista de sinais de que a economia brasileira está na direção errada
Apesar de todos os pacotes de estímulo do governo federal, reafirmam-se, a cada novo indicador divulgado, as previsões de que este será um ano bastante ruim para a economia brasileira --mais um. A bola da vez é o setor industrial, cuja produção teve, em maio, o terceiro recuo consecutivo.
A queda foi de 0,6% na comparação com abril, com destaque negativo para os bens de consumo duráveis e áreas ligadas a investimentos. Estima-se que, ao final deste 2014, a indústria terá encolhido pelo menos 2%, fruto, entre outros motivos, do crescente desalento percebido entre empresários e consumidores.
A situação é particularmente adversa no ramo automotivo, que registrou no primeiro semestre o pior volume de vendas desde 2010. Parte desse quadro se deve, sem dúvida, à interrupção de negócios alheios à Copa do Mundo, mas a expectativa para o restante do ano também é desanimadora.
Os estoques permanecem excessivos, no maior patamar desde 2008. Até o fim de maio havia 400 mil veículos nos pátios, o equivalente a 40 dias de vendas.
As montadoras reagem generalizando férias coletivas para um maior número de fábricas. Desde o início do ano, cortaram-se 4.700 postos de trabalho --ou quase o dobro, se contar os fornecedores.
Aparecem evidências das dificuldades da indústria também nas vendas de bens manufaturados para o exterior. Os produtos básicos responderam, no primeiro semestre, por 50,8% do total de exportações, a maior fatia desde 1980.
Embora seja cômodo atribuir o resultado à situação desfavorável da economia mundial, a verdade é bem menos conveniente: trata-se da incapacidade da indústria brasileira de participar de forma ativa da competição global. Hoje resta apenas a defesa do mercado interno, estratégia reforçada pelas ações protecionistas do governo Dilma Rousseff (PT).
Ocorre que esse caminho se mostrará um beco sem saída. No mundo das grandes cadeias de valor, criadas e geridas pelas principais empresas globais, não há competitividade possível se não houver integração e especialização.
A prostração da indústria não se resolverá com o crescimento da demanda mundial. Quando isso ocorrer, não haverá exportadores para aproveitar a oportunidade. E a procura interna, mesmo que vigorosa, será cada vez mais atendida pelas importações.
As políticas industrial e de vendas internacionais precisam ser repensadas com vistas a reconectar o Brasil ao comércio mundial. O governo atual, entretanto, insiste na direção oposta --e os resultados mostram como tem sido um erro.
Setor manufatureiro recua pela terceira vez seguida e aumenta lista de sinais de que a economia brasileira está na direção errada
Apesar de todos os pacotes de estímulo do governo federal, reafirmam-se, a cada novo indicador divulgado, as previsões de que este será um ano bastante ruim para a economia brasileira --mais um. A bola da vez é o setor industrial, cuja produção teve, em maio, o terceiro recuo consecutivo.
A queda foi de 0,6% na comparação com abril, com destaque negativo para os bens de consumo duráveis e áreas ligadas a investimentos. Estima-se que, ao final deste 2014, a indústria terá encolhido pelo menos 2%, fruto, entre outros motivos, do crescente desalento percebido entre empresários e consumidores.
A situação é particularmente adversa no ramo automotivo, que registrou no primeiro semestre o pior volume de vendas desde 2010. Parte desse quadro se deve, sem dúvida, à interrupção de negócios alheios à Copa do Mundo, mas a expectativa para o restante do ano também é desanimadora.
Os estoques permanecem excessivos, no maior patamar desde 2008. Até o fim de maio havia 400 mil veículos nos pátios, o equivalente a 40 dias de vendas.
As montadoras reagem generalizando férias coletivas para um maior número de fábricas. Desde o início do ano, cortaram-se 4.700 postos de trabalho --ou quase o dobro, se contar os fornecedores.
Aparecem evidências das dificuldades da indústria também nas vendas de bens manufaturados para o exterior. Os produtos básicos responderam, no primeiro semestre, por 50,8% do total de exportações, a maior fatia desde 1980.
Embora seja cômodo atribuir o resultado à situação desfavorável da economia mundial, a verdade é bem menos conveniente: trata-se da incapacidade da indústria brasileira de participar de forma ativa da competição global. Hoje resta apenas a defesa do mercado interno, estratégia reforçada pelas ações protecionistas do governo Dilma Rousseff (PT).
Ocorre que esse caminho se mostrará um beco sem saída. No mundo das grandes cadeias de valor, criadas e geridas pelas principais empresas globais, não há competitividade possível se não houver integração e especialização.
A prostração da indústria não se resolverá com o crescimento da demanda mundial. Quando isso ocorrer, não haverá exportadores para aproveitar a oportunidade. E a procura interna, mesmo que vigorosa, será cada vez mais atendida pelas importações.
As políticas industrial e de vendas internacionais precisam ser repensadas com vistas a reconectar o Brasil ao comércio mundial. O governo atual, entretanto, insiste na direção oposta --e os resultados mostram como tem sido um erro.
Crise na indústria se agrava - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 03/07
A indústria vai mal, o investimento recua e 2014 deve ser marcado por um novo fiasco na economia, apesar da retórica triunfal da presidente Dilma Rousseff e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega. A crise industrial já se reflete no setor de serviços, prejudica o emprego em geral e, cada vez mais, o crescimento econômico, assim como a exportação, depende da agropecuária. A produção industrial caiu 0,6% de abril para maio, recuando em 15 dos 24 ramos cobertos pela pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor produziu em maio 3,2% menos que um ano antes. De janeiro a maio, o resultado foi 1,6% inferior ao de um ano antes. O crescimento acumulado em 12 meses ficou em apenas 0,2%, mas nem esse dado ligeiramente positivo pode justificar algum otimismo. A média móvel trimestral caiu 0,5% no período até maio. Nos três meses terminados em abril a queda havia chegado a 0,3%.
Mas os números mais preocupantes são os da fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, porque confirmam a estagnação da capacidade produtiva. O ministro da Fazenda prometeu várias vezes, nos últimos anos, um novo padrão de crescimento econômico. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) seria puxada principalmente pelo investimento produtivo. Mas essas palavras nunca se traduziram em fatos. Aos empresários urbanos têm faltado confiança e segurança para investir. Ao governo tem faltado competência para converter em obras, com a rapidez necessária, seus programas de ampliação e fortalecimento da infraestrutura. Os balanços do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) têm sido sempre vitaminados pela contabilização do dinheiro aplicado em moradias.
Pelos novos números do IBGE, em maio a produção de bens de capital ficou 2,6% abaixo da de abril e foi 9,7% inferior à de um ano antes. De janeiro a maio o total produzido foi 5,8% menor que o de igual período de 2013. Em 12 meses ainda se acumulou uma expansão de 4,1%, mas esse dado fica bem menos impressionante quando se examinam os números do passado recente. A produção de bens de capital cresceu 5% em 2011 e permaneceu praticamente estagnada nos dois anos seguintes, com queda de 11,2% em 2012 e aumento de 11,6% em 2013.
A expansão de 4,1% nos 12 meses terminados em maio parte, portanto, de uma base achatada e muito próxima do nível de 2011. Em outras palavras, o setor derrapou durante a maior parte do governo da presidente Dilma Rousseff. O resultado de janeiro a maio deste ano, 5,8% inferior ao dos mesmos meses do ano passado, mostra a continuidade da crise no setor e confirma a baixa disposição de investir do empresariado.
As cifras do comércio exterior complementam esse quadro. De janeiro a junho, foram gastos US$ 21,14 bilhões com a importação de bens de capital, 5,1% menos que no primeiro semestre do ano passado.
O cenário de produção em queda também se completa com a redução da despesa com matérias-primas e bens intermediários importados. O valor gasto, US$ 50,36 bilhões, foi 1% inferior a de um ano antes. Internamente, a produção de bens intermediários entre janeiro e maio foi 1,8% menor que a dos mesmos meses de 2013. Em maio, ficou 2,2% abaixo da estimada no ano anterior.
A crise da produção industrial e a redução das importações confirmam o esgotamento da política baseada no estímulo ao consumo. Analistas haviam apontado há bom tempo o fracasso inevitável dessa política.
A disposição de compra dos consumidores pode animar a produção durante algum tempo, mas é preciso mais que isso para manter a indústria em atividade e - mais importante - para expandir sua capacidade produtiva e seu poder de competição internacional.
O governo errou no diagnóstico e na estratégia. Além disso, criou insegurança entre os empresários com intervenções inábeis e medidas improvisadas. Também as medidas protecionistas, aplaudidas por alguns setores, tiveram efeito negativo, porque desestimularam a busca de eficiência. O balanço é claro e está sintetizado nas séries de números do IBGE.
A indústria vai mal, o investimento recua e 2014 deve ser marcado por um novo fiasco na economia, apesar da retórica triunfal da presidente Dilma Rousseff e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega. A crise industrial já se reflete no setor de serviços, prejudica o emprego em geral e, cada vez mais, o crescimento econômico, assim como a exportação, depende da agropecuária. A produção industrial caiu 0,6% de abril para maio, recuando em 15 dos 24 ramos cobertos pela pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor produziu em maio 3,2% menos que um ano antes. De janeiro a maio, o resultado foi 1,6% inferior ao de um ano antes. O crescimento acumulado em 12 meses ficou em apenas 0,2%, mas nem esse dado ligeiramente positivo pode justificar algum otimismo. A média móvel trimestral caiu 0,5% no período até maio. Nos três meses terminados em abril a queda havia chegado a 0,3%.
Mas os números mais preocupantes são os da fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, porque confirmam a estagnação da capacidade produtiva. O ministro da Fazenda prometeu várias vezes, nos últimos anos, um novo padrão de crescimento econômico. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) seria puxada principalmente pelo investimento produtivo. Mas essas palavras nunca se traduziram em fatos. Aos empresários urbanos têm faltado confiança e segurança para investir. Ao governo tem faltado competência para converter em obras, com a rapidez necessária, seus programas de ampliação e fortalecimento da infraestrutura. Os balanços do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) têm sido sempre vitaminados pela contabilização do dinheiro aplicado em moradias.
Pelos novos números do IBGE, em maio a produção de bens de capital ficou 2,6% abaixo da de abril e foi 9,7% inferior à de um ano antes. De janeiro a maio o total produzido foi 5,8% menor que o de igual período de 2013. Em 12 meses ainda se acumulou uma expansão de 4,1%, mas esse dado fica bem menos impressionante quando se examinam os números do passado recente. A produção de bens de capital cresceu 5% em 2011 e permaneceu praticamente estagnada nos dois anos seguintes, com queda de 11,2% em 2012 e aumento de 11,6% em 2013.
A expansão de 4,1% nos 12 meses terminados em maio parte, portanto, de uma base achatada e muito próxima do nível de 2011. Em outras palavras, o setor derrapou durante a maior parte do governo da presidente Dilma Rousseff. O resultado de janeiro a maio deste ano, 5,8% inferior ao dos mesmos meses do ano passado, mostra a continuidade da crise no setor e confirma a baixa disposição de investir do empresariado.
As cifras do comércio exterior complementam esse quadro. De janeiro a junho, foram gastos US$ 21,14 bilhões com a importação de bens de capital, 5,1% menos que no primeiro semestre do ano passado.
O cenário de produção em queda também se completa com a redução da despesa com matérias-primas e bens intermediários importados. O valor gasto, US$ 50,36 bilhões, foi 1% inferior a de um ano antes. Internamente, a produção de bens intermediários entre janeiro e maio foi 1,8% menor que a dos mesmos meses de 2013. Em maio, ficou 2,2% abaixo da estimada no ano anterior.
A crise da produção industrial e a redução das importações confirmam o esgotamento da política baseada no estímulo ao consumo. Analistas haviam apontado há bom tempo o fracasso inevitável dessa política.
A disposição de compra dos consumidores pode animar a produção durante algum tempo, mas é preciso mais que isso para manter a indústria em atividade e - mais importante - para expandir sua capacidade produtiva e seu poder de competição internacional.
O governo errou no diagnóstico e na estratégia. Além disso, criou insegurança entre os empresários com intervenções inábeis e medidas improvisadas. Também as medidas protecionistas, aplaudidas por alguns setores, tiveram efeito negativo, porque desestimularam a busca de eficiência. O balanço é claro e está sintetizado nas séries de números do IBGE.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Dependo do governo que eu fizer”
Luiz Pezão(PMDB), governador do Rio de Janeiro, sobre suas chances de reeleição
COM TANTOS IMPLICADOS, PT APOSTA EM PIZZA NA CPI
É tão expressivo o número de políticos citados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, cujos autos foram disponibilizados à CPI Mista da Petrobras, que o PT, agora, aposta no desinteresse dos próprios partidos em aprofundar investigações.
Dirigentes petistas alegam que, por se tratar de uma CPMI ampla e “sem foco”, os partidos dificilmente vão trazer à tona denúncias que os prejudiquem em pleno ano eleitoral.
DESINTERESSE
A 13ª Vara Federal de Curitiba permitiu acesso ao processo, que corre em segredo de justiça. Mas a turma da CPI, a rigor, nem quer saber disso.
MATERIAL, TEM
A CPI Mista da Petrobras recebeu provas colhidas nas investigações, e dados bancários e interceptações telefônicas de Paulo Roberto Costa.
PEIXES GRANDES
Além de políticos, investigações da Operação Lava Jato pegaram os chefões de grandes empreiteiras, todas no topo das doações eleitorais.
QUE CPMI?
Os políticos e os empreiteiros que os financiam celebram a Copa do Mundo, que despachou a CPMI da Petrobras para plano secundário.
ATÉ PETISTA ‘ESQUECE’ DILMA E COLA EM LULA
A exemplo do candidato ao governo de Pernambuco, Armando Monteiro (PTB), que tem apoio do PT e só encomendou peças publicitárias ao lado de Lula, também o candidato petista ao Senado, João Paulo, ignora solenemente a presidente Dilma em sua propaganda de campanha. Até no jingle. A musiquinha, em ritmo de frevo, jura que “João Paulo é de Lula, é do povo”, e não cita Dilma.
O PRATO QUE COMERAM
Tanto Armando Monteiro quanto o petista João Paulo passaram seus mandatos de senador e deputado no cordão do “beija-mão” a Dilma.
METADE
Eleito em 2010 com mais de 1 milhão de votos, o deputado Tiririca (PR) será reeleito com pelo menos 500 mil votos, este ano, em São Paulo.
MAIS UM
O PR sugeriu para substituir o general Jorge Fraxe, na direção-geral do DNIT: Anderson Ribeiro, ex-superintendente do órgão em Goiás e no Distrito Federal.
LIVRE DA MISÉRIA
O Distrito Federal, agora, é território livre da fome e da extrema pobreza. Hoje, menos de 3% de sua população têm renda inferior a R$ 140 per capita, superando tecnicamente os parâmetros fixados pela ONU.
ALÔ, RECEITA!
Além de US$ 3 milhões para jogadores, o jatinho do presidente de Gana trouxe ao Brasil US$ 1,5 milhão “não contabilizados” para 122 pessoas, entre seguranças, aspones e até amantes, segundo a imprensa local.
TERCEIRONA
Com o desempenho pífio de Alexandre Padilha (PT) nas pesquisas, o presidente do Solidariedade, sindicalista e deputado Paulo Pereira (SP) acha que, em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff ficará atrás não apenas do tucano Aécio Neves, como também de Eduardo Campos (PSB).
PRA FRENTE, BRASIL
Cinquenta anos depois da ditadura que a vitimou, Dilma apelou ao patriotismo dos brasileiros para incentivar a Seleção. Na Copa de 1970, ela diz que torceu pelo Brasil, mesmo trancafiada pela ditadura Médici.
O BARATO DO CARA
O deputado André Vargas (ex-PT-PR) gastou R$ 7 mil em verba parlamentar desde abril, quando se afastou para ser julgado pela comissão de ética do partido. De R$ 508 chegou a R$ 4,3 mil em junho.
BRASIL 2022
Jerôme Valcke, admite o Mundial de Clubes 2017. Estádios não faltam. E, assim como o México sediou as copas de 1970 e 1986, o Brasil pode se habilitar a substituir o Catar, em 2022.
COMPENSAÇÃO
Há servidores federais que não querem nada com coisa nenhuma, mas também há muitos que dão duro e ainda cumprem a portaria que os obriga a compensar as horas de liberação para curtir jogos da Copa.
QUEM RESOLVE
Dirigentes do PCdoB pediram à presidente Dilma uma solução na briga dos candidatos ao Senado Inácio Arruda (CE) e Edvaldo Nogueira (SE). Ela repassou a bola para Aloizio Mercadante.
Ê, VIDÃO
Em meio à vagabundagem geral, só seis comissões da Câmara dos Deputados, do total de 22, tiveram quórum para funcionar, ontem.
PODER SEM PUDOR
SUCULENTA ATMOSFERA
O falecido escritor paraibano Maurílio de Almeida publicou ótimo livro sobre a viagem de d. Pedro II à cidade de Mamanguape, antiga capital do seu Estado. Ele conta no livro que um fazendeiro simples ofereceu almoço ao imperador. Após a refeição, Pedro II foi até o amplo terraço da fazenda, de onde se via um imenso laranjal. Fazia um calorzão dos diabos e d. Pedro resolveu jogar conversa fora, com o anfitrião:
- A atmosfera, hoje, está carregada...
O fazendeiro não deixou o imperador sem resposta:
- O senhor não viu nada, excelência! Naquelas laranjeiras nasce cada atmosferão do tamanho de uma jaca.
D. Pedro I caiu na risada.
Luiz Pezão(PMDB), governador do Rio de Janeiro, sobre suas chances de reeleição
COM TANTOS IMPLICADOS, PT APOSTA EM PIZZA NA CPI
É tão expressivo o número de políticos citados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, cujos autos foram disponibilizados à CPI Mista da Petrobras, que o PT, agora, aposta no desinteresse dos próprios partidos em aprofundar investigações.
Dirigentes petistas alegam que, por se tratar de uma CPMI ampla e “sem foco”, os partidos dificilmente vão trazer à tona denúncias que os prejudiquem em pleno ano eleitoral.
DESINTERESSE
A 13ª Vara Federal de Curitiba permitiu acesso ao processo, que corre em segredo de justiça. Mas a turma da CPI, a rigor, nem quer saber disso.
MATERIAL, TEM
A CPI Mista da Petrobras recebeu provas colhidas nas investigações, e dados bancários e interceptações telefônicas de Paulo Roberto Costa.
PEIXES GRANDES
Além de políticos, investigações da Operação Lava Jato pegaram os chefões de grandes empreiteiras, todas no topo das doações eleitorais.
QUE CPMI?
Os políticos e os empreiteiros que os financiam celebram a Copa do Mundo, que despachou a CPMI da Petrobras para plano secundário.
ATÉ PETISTA ‘ESQUECE’ DILMA E COLA EM LULA
A exemplo do candidato ao governo de Pernambuco, Armando Monteiro (PTB), que tem apoio do PT e só encomendou peças publicitárias ao lado de Lula, também o candidato petista ao Senado, João Paulo, ignora solenemente a presidente Dilma em sua propaganda de campanha. Até no jingle. A musiquinha, em ritmo de frevo, jura que “João Paulo é de Lula, é do povo”, e não cita Dilma.
O PRATO QUE COMERAM
Tanto Armando Monteiro quanto o petista João Paulo passaram seus mandatos de senador e deputado no cordão do “beija-mão” a Dilma.
METADE
Eleito em 2010 com mais de 1 milhão de votos, o deputado Tiririca (PR) será reeleito com pelo menos 500 mil votos, este ano, em São Paulo.
MAIS UM
O PR sugeriu para substituir o general Jorge Fraxe, na direção-geral do DNIT: Anderson Ribeiro, ex-superintendente do órgão em Goiás e no Distrito Federal.
LIVRE DA MISÉRIA
O Distrito Federal, agora, é território livre da fome e da extrema pobreza. Hoje, menos de 3% de sua população têm renda inferior a R$ 140 per capita, superando tecnicamente os parâmetros fixados pela ONU.
ALÔ, RECEITA!
Além de US$ 3 milhões para jogadores, o jatinho do presidente de Gana trouxe ao Brasil US$ 1,5 milhão “não contabilizados” para 122 pessoas, entre seguranças, aspones e até amantes, segundo a imprensa local.
TERCEIRONA
Com o desempenho pífio de Alexandre Padilha (PT) nas pesquisas, o presidente do Solidariedade, sindicalista e deputado Paulo Pereira (SP) acha que, em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff ficará atrás não apenas do tucano Aécio Neves, como também de Eduardo Campos (PSB).
PRA FRENTE, BRASIL
Cinquenta anos depois da ditadura que a vitimou, Dilma apelou ao patriotismo dos brasileiros para incentivar a Seleção. Na Copa de 1970, ela diz que torceu pelo Brasil, mesmo trancafiada pela ditadura Médici.
O BARATO DO CARA
O deputado André Vargas (ex-PT-PR) gastou R$ 7 mil em verba parlamentar desde abril, quando se afastou para ser julgado pela comissão de ética do partido. De R$ 508 chegou a R$ 4,3 mil em junho.
BRASIL 2022
Jerôme Valcke, admite o Mundial de Clubes 2017. Estádios não faltam. E, assim como o México sediou as copas de 1970 e 1986, o Brasil pode se habilitar a substituir o Catar, em 2022.
COMPENSAÇÃO
Há servidores federais que não querem nada com coisa nenhuma, mas também há muitos que dão duro e ainda cumprem a portaria que os obriga a compensar as horas de liberação para curtir jogos da Copa.
QUEM RESOLVE
Dirigentes do PCdoB pediram à presidente Dilma uma solução na briga dos candidatos ao Senado Inácio Arruda (CE) e Edvaldo Nogueira (SE). Ela repassou a bola para Aloizio Mercadante.
Ê, VIDÃO
Em meio à vagabundagem geral, só seis comissões da Câmara dos Deputados, do total de 22, tiveram quórum para funcionar, ontem.
PODER SEM PUDOR
SUCULENTA ATMOSFERA
O falecido escritor paraibano Maurílio de Almeida publicou ótimo livro sobre a viagem de d. Pedro II à cidade de Mamanguape, antiga capital do seu Estado. Ele conta no livro que um fazendeiro simples ofereceu almoço ao imperador. Após a refeição, Pedro II foi até o amplo terraço da fazenda, de onde se via um imenso laranjal. Fazia um calorzão dos diabos e d. Pedro resolveu jogar conversa fora, com o anfitrião:
- A atmosfera, hoje, está carregada...
O fazendeiro não deixou o imperador sem resposta:
- O senhor não viu nada, excelência! Naquelas laranjeiras nasce cada atmosferão do tamanho de uma jaca.
D. Pedro I caiu na risada.