O GLOBO - 09/05
Quando um policial comete um excesso ou mata alguém, pode enfrentar processo, ser expulso da polícia ou ir preso. Mas ainda não se viu nenhum cartaz dizendo ‘Fora traficantes’
A 13 de março último, o aspirante a oficial da PM Leidson Alves, 27 anos, foi morto por traficantes com um tiro na cabeça durante um patrulhamento no Morro do Alemão. Foi o 19º PM morto neste ano no Rio, sendo 13 em emboscadas parecidas — alguns quando estavam de folga. A 7 de abril, ao voltar para casa, outro PM, Lucas Barreto, 23, foi capturado em São Gonçalo e levado para uma favela. Deram-lhe oito tiros, a maioria nas pernas, e o jogaram num matagal.
Desde então, não sei a quantas anda a estatística de PMs cariocas mortos ou feridos — não em combate, como de praxe no ofício, mas pelas costas, à traição. Nem sempre os jornais registram que o policial assassinado era jovem, recém-casado, filho exemplar ou pai de filhos. Artistas da Globo não vão a seus enterros. Não se sabe de missas por suas almas e, na verdade, ninguém está interessado. É como se não houvesse uma pessoa dentro da farda.
Nas últimas “manifestações” no Rio, elementos brandiram cartazes dizendo “Fora UPP” e “UPP assassina”. É fácil protestar contra as Unidades de Polícia Pacificadora. Quando um policial comete um excesso ou mata alguém, pode enfrentar processo, ser expulso da polícia ou ir preso. Mas ainda não se viu nenhum cartaz dizendo “Fora traficantes”. E, no entanto, contra a violência destes, não há recurso — a comunidade tem de aceitar calada os tapas na cara, o estupro de suas filhas e as execuções sumárias de quem eles considerem suspeitos.
É difícil acreditar que essa hostilidade à polícia parta de gente de bem nas comunidades. Os números mostram que, com as UPPs, as mortes diminuíram, os serviços aumentaram e sua economia cresceu.
Tais dados são lesivos, isto sim, aos traficantes, às milícias, aos que vivem das migalhas do crime e a políticos que, para sobreviver, precisam que as UPPs fracassem.
Transcrição da “Folha de S.Paulo”
sexta-feira, maio 09, 2014
Deixem a ortografia em paz - JAIME PINSKY
CORREIO BRAZILIENSE - 09/05
Do Senado, duas notícias, uma boa e outra má. A boa: parece que temos senadores preocupados com o ensino de português. A má: querem alterar outra vez nossa ortografia, agora radicalmente, com a esperança de que, com isso, alunos possam obter melhores resultados na aprendizagem da língua. Criaram até uma comissão, com o objetivo de aplicar o acordo ortográfico (o mesmo que, na prática, já está em vigor), e para fazer com que "se escreva como se fala".
Além de não ser boa, a ideia é impraticável. Fico curioso a respeito de como vai se escrever, por exemplo, aquilo que na ortografia atual é denominada Estação das Barcas (lá na Praça Mauá, no Rio de Janeiro). Para "fazer justiça" à pronúncia, deveríamos grafar "Ijtação daj Barcaj" ou Ixtação dax Barcax"? Fora do Rio, talvez "Istação", ou ainda "Stação", como muita gente fala, já que poucos dizem "estação", além dos curitibanos...
E como redigir o quarto mês do ano? "Abriu", como dizem muitos brasileiros, "abril", como diriam alguns gaúchos, ou "abrir", como parte dos paulistas, mineiros, paranaenses e outros pronunciam? Cabe ao leitor pensar em outros exemplos.
Pesquisas excelentes, feitas por linguistas sérios (Thais Cristófaro, Ataliba Castilho, Stella Maris Bortoni, entre muitos outros) têm mostrado enorme variação linguística até no chamado português culto. Qual seria, pois, o ponto de partida oral, para sua suposta reprodução em texto escrito? Obrigar todos a pronunciar as palavras de uma só maneira, ou ter uma infinidade de representações gráficas para diferentes expressões fonéticas?
Mas isso não é tudo. Como costuma lembrar Carlos Alberto Faraco, a língua escrita não é mero reflexo da língua falada: ambas constituem meios autônomos de manifestação do saber linguístico. A ortografia é uma representação abstrata e convencional da língua. E é fundamental que o sistema ortográfico seja estável e que, independentemente da variação na fala, haja uma única representação gráfica por palavra. Do contrário, não teríamos como reconhecer palavras que fossem escritas em outro tempo (ou até em outro espaço). Seria o caos.
As línguas, patrimônios culturais da humanidade, possuem história. Elas resultam de práticas sociais que as moldaram para que aqui chegassem do jeito que são. São fatores fonológicos, morfológicos, etimológicos e de tradição cultural que fizeram com que nossa língua seja grafada do jeito que é. Línguas também têm parentesco, e nossa origem latina comum permite que possamos ler com relativa facilidade (mesmo que não falemos) outras línguas como o espanhol, o francês e o italiano. Mesmo o inglês, graças ao enorme contingente de palavras de origem latina, fica mais acessível a partir de grafias semelhantes. Arrancar as raízes de nossa ortografia seria romper com importantes aspectos de nossa identidade histórica.
Temos ainda o aspecto prático, talvez o mais relevante de todos. Quando foi imposto o último acordo ortográfico (que, absurdamente, teve sua implantação oficial postergada), toda a indústria editorial movimentou-se para preparar novas edições de todo o seu acervo. Dezenas de milhares de títulos sofreram as mudanças exigidas pelo MEC e outros órgãos governamentais e privados. Gramáticas e dicionários foram refeitos; tratados foram revisados; livros infantis, alterados; manuais, reeditados. Uma nova reforma seria desastrosa, não só para as editoras, mas também para os governos, que teriam que substituir todas as bibliotecas novamente. Trata-se de muito dinheiro jogado fora, possivelmente levando à falência muitas casas editoriais importantes, promovendo gasto desnecessário de verbas públicas, tornando obsoletos bilhões de livros escolares e universitários.
E há, ainda, o aspecto da exclusão social. Quando uma reforma ortográfica é implantada, grande parte dos adultos se torna analfabeta, já que eles nem sempre conseguem reter e utilizar as novas regras inventadas por capricho de meia dúzia de "sábios", ou de desavisados.
A preocupação é com a qualidade do ensino? Busquem-se soluções adequadas, fazendo com que excelentes pesquisas realizadas por importantes grupos de especialistas possam chegar até as escolas brasileiras, por meio de amplo programa nacional de qualificação de professores do ensino fundamental. Se houver, de fato, intenção de melhorar o ensino no Brasil, está cheio de gente boa pronta para ajudar.
Além de não ser boa, a ideia é impraticável. Fico curioso a respeito de como vai se escrever, por exemplo, aquilo que na ortografia atual é denominada Estação das Barcas (lá na Praça Mauá, no Rio de Janeiro). Para "fazer justiça" à pronúncia, deveríamos grafar "Ijtação daj Barcaj" ou Ixtação dax Barcax"? Fora do Rio, talvez "Istação", ou ainda "Stação", como muita gente fala, já que poucos dizem "estação", além dos curitibanos...
E como redigir o quarto mês do ano? "Abriu", como dizem muitos brasileiros, "abril", como diriam alguns gaúchos, ou "abrir", como parte dos paulistas, mineiros, paranaenses e outros pronunciam? Cabe ao leitor pensar em outros exemplos.
Pesquisas excelentes, feitas por linguistas sérios (Thais Cristófaro, Ataliba Castilho, Stella Maris Bortoni, entre muitos outros) têm mostrado enorme variação linguística até no chamado português culto. Qual seria, pois, o ponto de partida oral, para sua suposta reprodução em texto escrito? Obrigar todos a pronunciar as palavras de uma só maneira, ou ter uma infinidade de representações gráficas para diferentes expressões fonéticas?
Mas isso não é tudo. Como costuma lembrar Carlos Alberto Faraco, a língua escrita não é mero reflexo da língua falada: ambas constituem meios autônomos de manifestação do saber linguístico. A ortografia é uma representação abstrata e convencional da língua. E é fundamental que o sistema ortográfico seja estável e que, independentemente da variação na fala, haja uma única representação gráfica por palavra. Do contrário, não teríamos como reconhecer palavras que fossem escritas em outro tempo (ou até em outro espaço). Seria o caos.
As línguas, patrimônios culturais da humanidade, possuem história. Elas resultam de práticas sociais que as moldaram para que aqui chegassem do jeito que são. São fatores fonológicos, morfológicos, etimológicos e de tradição cultural que fizeram com que nossa língua seja grafada do jeito que é. Línguas também têm parentesco, e nossa origem latina comum permite que possamos ler com relativa facilidade (mesmo que não falemos) outras línguas como o espanhol, o francês e o italiano. Mesmo o inglês, graças ao enorme contingente de palavras de origem latina, fica mais acessível a partir de grafias semelhantes. Arrancar as raízes de nossa ortografia seria romper com importantes aspectos de nossa identidade histórica.
Temos ainda o aspecto prático, talvez o mais relevante de todos. Quando foi imposto o último acordo ortográfico (que, absurdamente, teve sua implantação oficial postergada), toda a indústria editorial movimentou-se para preparar novas edições de todo o seu acervo. Dezenas de milhares de títulos sofreram as mudanças exigidas pelo MEC e outros órgãos governamentais e privados. Gramáticas e dicionários foram refeitos; tratados foram revisados; livros infantis, alterados; manuais, reeditados. Uma nova reforma seria desastrosa, não só para as editoras, mas também para os governos, que teriam que substituir todas as bibliotecas novamente. Trata-se de muito dinheiro jogado fora, possivelmente levando à falência muitas casas editoriais importantes, promovendo gasto desnecessário de verbas públicas, tornando obsoletos bilhões de livros escolares e universitários.
E há, ainda, o aspecto da exclusão social. Quando uma reforma ortográfica é implantada, grande parte dos adultos se torna analfabeta, já que eles nem sempre conseguem reter e utilizar as novas regras inventadas por capricho de meia dúzia de "sábios", ou de desavisados.
A preocupação é com a qualidade do ensino? Busquem-se soluções adequadas, fazendo com que excelentes pesquisas realizadas por importantes grupos de especialistas possam chegar até as escolas brasileiras, por meio de amplo programa nacional de qualificação de professores do ensino fundamental. Se houver, de fato, intenção de melhorar o ensino no Brasil, está cheio de gente boa pronta para ajudar.
A oposição viável - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 09/05
De volta ao passado?
Os gastos nas campanhas eleitorais crescem a cada pleito. No Brasil e no mundo. Não há qualquer projeção de redução desses custos. Na contramão, o STF pode tornar ilegal o financiamento pelas empresas. Em 2010, o gasto global com as campanhas no país foi de R$ 3,23 bilhões, e nada indica que haverá redução no futuro. A democracia custa caro. Os especialistas apostam no incremento do "caixa dois", caso o Supremo proíba o financiamento empresarial. No passado, já vigorou a proibição. Ela constava da Lei dos Partidos (1971) dos militares. Deu no que deu. Na democracia, a regra levou o país às CPIs do PC (1992) e dos Anões do Orçamento (1993).
“Não vamos ser tropa de choque do governo nem ponta de lança da oposição”
Eduardo Cunha
Líder do PMDB na Câmara (RJ), sobre a atuação dos deputados do partido na CPI Mista da Petrobras
Se correr o bicho pega, se ficar...
O candidato do PMDB ao governo do Ceará, senador Eunício Oliveira, pode desistir de uma aliança com o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB). Ele teria contra si o ex-presidente Lula, o governador Cid Gomes e a presidente Dilma.
A herança
A cúpula do PMDB saiu confiante da reunião de ontem para avaliar recente pesquisa do Instituto GPP. A aprovação do governo Sérgio Cabral/Luiz Fernando Pezão subiu. Os pontos fortes da gestão são a retomada do desenvolvimento e o protagonismo político do Rio. Além das três marcas do governo: UPPs, UPAs e bilhete único.
Caiu na Rede
A vice do PSB, Marina Silva, esteve anteontem com o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele disse que não vai concorrer à reeleição, mas que "por essa dupla (Eduardo Campos/Marina) eu tenho vontade e discurso para fazer campanha".
Intenção de voto e corrupção
Cientista político, especialista em pesquisas, relata que apenas 10% dos eleitores definem o voto por um julgamento moral. Mas que uma CPI, como a da Petrobras, ajuda a fazer barulho e serve de complemento ao humor dos eleitores com a situação da economia, que é percebida por eles como resultado da atuação do governo.
Aposta no social
O Pronatec 2, cujo lançamento foi anunciado ontem pela presidente Dilma, vai criar milhares de vagas em cursos profissionalizantes específicos voltados para atender as necessidades dos assentados pelo programa da reforma agrária.
Volta ao ninho
Depois de mais de três meses distante, na última quarta-feira, o candidato do PMDB ao Senado pela Bahia, Geddel Vieira Lima, foi ao gabinete do vice Michel Temer. Eles integram o mesmo grupo no partido, mas Geddel é oposição no pleito.
O GOVERNADOR CID GOMES (CE) não deu sinal verde. Seu partido, o PROS, pode não levar a cabeça do ministro Francisco Teixeira (Integração).
Mudar com quem? - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 09/05
A pesquisa Datafolha mostra que falhou a estratégia, evidenciada no pronunciamento de TV de Dilma Rousseff no Primeiro de Maio, de mostrar que ela é a mais preparada para fazer mudanças, desejo de 74% dos eleitores. A vitória de Aécio Neves (PSDB) sobre a presidente como o candidato mais apto a fazer mudanças se ancora na classe média: ele saltou de 20% para 30% nesse item entre quem tem renda de 5 a 10 salários mínimos, e de 14% para 20% na faixa de 2 a 5 mínimos.
Não colou Dilma foi a única que oscilou para baixo como mais apta a fazer mudanças: Lula cresceu de 32% para 38% e Eduardo Campos (PSB), de 7% para 10%.
Se não tem tu... O Datafolha mostrou que 64% dos eleitores que declaram voto em Dilma no primeiro turno acham que o candidato do PT a presidente deveria ser Lula.
... vai tu mesmo Só 34% dos eleitores da presidente acham que ela deveria ser a postulante do partido.
Juntos Em cenário de segundo turno, Campos continua absorvendo votos do eleitorado de Aécio: tem 55%, enquanto só 25% dos pró-tucano votariam na presidente.
Separados Já Aécio perdeu espaço entre os eleitores do pessebista. Entre quem vota em Campos no primeiro turno, o tucano consegue atrair 49%, ante 54% de abril.
Fluxo livre Entre os entrevistados que dizem que votariam em Lula se ele fosse candidato, apenas dois terços declaram voto em Dilma. Ela tem 66% entre os lulistas, Aécio obtém 8% e Campos vai a 6% nesse segmento.
Mão única Já os eleitores de Dilma que dizem votar em Lula caso ele seja o candidato chegam a 87%. Outros 4% dos dilmistas preferem Aécio e 2% escolhem Campos caso a presidente se candidate.
Urbana 1 Dilma perdeu parte de seu eleitorado em municípios pequenos, com até 50 mil habitantes, mas ganhou espaço em relação a abril nos grandes centros.
Urbana 2 Nas cidades menores, a presidente tinha 48% em abril e agora aparece com 44%. Em municípios com mais de 500 mil habitantes, subiu de 31% para 34%.
Nova direção Horas depois de se eleger vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT) exonerou os servidores que trabalhavam no gabinete, antes comandado pelo ex-petista André Vargas. Alguns haviam sido indicados por outros deputados, que foram pegos de surpresa.
Bala... Em conversa preparatória para encontro da frente de prefeitos que terá como bandeira a renegociação da dívida de municípios com a União, Eduardo Paes (PMDB) disse que o governo Dilma age como um "agiota".
... na agulha "Se o poder central continuar agindo como uma espécie de agiota, cobrando juros absurdos, dificilmente as cidades conseguirão enfrentar seus problemas", afirmou o prefeito.
Antenada Na saída do Itaquerão, Dilma foi abordada por moradores e operários que queriam tirar fotos com ela. Depois de posar para várias "selfies", a presidente comentou: "Já estou sendo chamada de Dilma Rousselfie".
Visitas à Folha Alex Ellis, embaixador britânico no Brasil, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Patrícia Torres de Mello, diretora de comunicação do UK Trade & Investment.
Vinicius Lages, ministro do Turismo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Ítalo Oliveira Mendes, diretor de Gestão Estratégica, e de Robrigo Bauer do Carmo, assessor de comunicação.
TIROTEIO
"Marina exala arrogância. Não bastando patrulhar Eduardo, quer patrulhar Aécio e o eleitorado. Ele vai ao segundo turno e ganha."
DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre entrevista em que Marina Silva diz que o PSDB tem cheiro de derrota se disputar o 2º turno contra Dilma.
CONTRAPONTO
Carta remendada
Em palestra no Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, proferida no início da semana, o ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello, comentou a respeito do grande número de emendas à Constituição brasileira, que já chegam a 83. Para ilustrar a crítica, contou uma anedota.
Disse que certa vez, em uma livraria, um vendedor foi questionado se a loja vendia exemplares da Constituição.
Virou-se então para o cliente e respondeu:
--Não, não trabalhamos com periódicos.
Vai sobrar para Dilma... - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 09/05
No meio da briga interna, coube ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ponderar e tentar cobrar bom senso, já que faltam sete meses para terminar o ano, e trocar ministro agora seria inócuo, uma vez que, até um novo se inteirar do serviço, o ano haverá terminado. O Pros, entretanto, não quer saber. Daqui a pouco, vai procurar Dilma e dar um ultimato: ou fica com Cid/Ciro Gomes ou com o partido. Decisão nos próximos capítulos.
Em tempo: no meio dessa briga, ainda tem o PMDB. Está chegando a hora de Dilma escolher entre Cid Gomes, o governador que deseja fazer o sucessor sozinho, ou o líder do PMDB, Eunício Oliveira, pré-candidato ao governo estadual que controla hoje a maior bancada do Senado.
Skaf leva o Pros
Eurípedes Júnior, presidente do Pros, selou ontem uma aliança com Paulo Skaf (PMDB), pré-candidato a governador de São Paulo. Isso significa mais tempo na tevê para o peemedebista.
Momento empresariado
O encontro da presidente Dilma Rousseff com líderes do comércio varejista em São Paulo está diretamente relacionado à vontade do governo em recuperar fôlego com o empresariado como um todo. Os petistas têm sentido que essa turma hoje está mais para a oposição do que para a reeleição da presidente.
Jogo de empurra
O governo agora usa o mesmo discurso da oposição em relação à CPI da Petrobras. “Eles é que querem atrasar. Se tivessem aceitado uma única CPI, com relatores diferentes para cada caso, já estaríamos com tudo funcionando”, diz a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
CURTIDAS
Falta só jogar “bafo”/ Nas horas que passa dentro do avião, a presidente Dilma Rousseff tem aproveitado para trocar figurinhas com o brigadeiro Francisco Joseli, secretário de acompanhamento de assuntos militares. Tudo para ver se completa o álbum da Copa do neto, Gabriel, 3 anos, antes do início dos jogos. Dia desses, perguntou para o brigadeiro: “Por que o seu álbum tem capa dura e o meu não?”
Enquanto isso, em Porto Alegre.../ Dilma telefona para a filha Paula e conta a novidade: “Estou fazendo um álbum para o menino pequeno”. Eis que Paula responde: “Eu também”. Dilma não resiste: ”Ah! Que sem graça...”. Agora, o “menino pequeno” terá um álbum em Brasília e outro em Porto Alegre.
Jogo triplo/ Conforme anunciado aqui há alguns meses, o PMDB confirma a divisão em três grupos. A cúpula segue com Dilma, a Bahia está com Aécio Neves e o Rio Grande do Sul vai de Eduardo Campos, com direito a jantar na próxima quarta-feira com o pré-candidato na casa do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). É a maior prova de que a classe política está no escuro quanto à eleição de outubro.
Quase férias coletivas/ Mesmo depois das semanas de feriadão, os políticos não se mostram muito interessados em se agarrarem no serviço em Brasília. Ontem, no fim da tarde, o senador Paulo Paim, do PT-RS, discursava e presidia a sessão ao mesmo tempo. Sinal de que a pré-campanha está bombando nos estados.
O Bolsa Família e a expropriação inflacionária - ALKIMAR R. MOURA
O Estado de S.Paulo - 09/05
Não há como não reconhecer o mérito das administrações petistas em promover mudanças na política econômica a fim de conferir maior ênfase às questões distributivas, para atenuar um quadro secular de má distribuição de renda, que nos coloca entre os países mais desiguais do mundo. Cumprida uma parte importante, ainda incompleta, da agenda de estabilização monetária, fazia todo sentido que o governo Lula criasse programas governamentais de transferências interpessoais de renda, para reforçar os efeitos benéficos do programa de maior impacto redistributivo, o próprio Plano Real.
O Bolsa Família é um bem-sucedido programa de redistribuição de renda, pois é focado em grupos socioeconômicos mais vulneráveis e previamente identificados, é financiado via dotações orçamentárias e é acompanhado por algumas exigências, relacionadas a cuidados com a educação e saúde das famílias beneficiárias, que aumentam a efetividade do programa. De acordo com relatos oficiais, o Bolsa Família atinge hoje 36 milhões de beneficiários, sendo extremamente importante para manter um determinado nível de demanda, de renda e de emprego em algumas regiões do País.
Paralelamente a essa melhoria nos indicadores de distribuição de renda, estamos sendo submetidos a um processo inflacionário persistente que, em certa medida, pode contribuir para desfazer parte dos benefícios dos programas oficiais de transferência de renda, como parte das inúmeras distorções econômicas provocadas pela inflação.
No Brasil, anos de convivência com taxas elevadas de inflação, antes da introdução da correção monetária, e a experiência de outros países que enfrentaram surtos de alta inflação já mostraram os efeitos nocivos daquele processo sobre as finanças empresariais, ao dilapidar o capital de giro, os fundos para compensar a depreciação dos ativos fixos e para evitar a obsolescência tecnológica e aqueles recursos destinados ao financiamento de projetos de investimento de longo prazo. Todos esses impactos sobre as finanças empresariais continuam presentes hoje, mesmo com uma taxa de inflação mais civilizada e na ausência de mecanismos formais de indexação.
No entanto, além dos efeitos sobre as finanças das empresas, sabe-se que a persistência de uma taxa de inflação nos níveis atuais por prazos longos provoca distorções na distribuição de renda, ao corroer salários e ordenados fixados em termos monetários ou cuja variação não acompanha a elevação do custo de vida. Essa queda nos salários reais é uma forma de tributação arbitrária sobre o fluxo de renda dos assalariados, cuja incidência é aleatória, penalizando mais os que percebem remunerações fixas em termos nominais, vale dizer, empregados nos setores público e privado, aposentados e pensionistas e trabalhadores sobrevivendo no setor informal da economia. Além do mais, a inflação não apenas reduz a capacidade de adquirir bens e serviços correntes, ao contrair os salários reais, mas também penaliza o estoque de ativos monetários das famílias e dos indivíduos, com a diminuição do valor real da riqueza mantida sob a forma de saldos monetários. A inflação reduz a capacidade de consumo atual e também o padrão de vida futuro dos detentores de riqueza fixada em termos nominais. Dessa forma, ela pode funcionar como um mecanismo de transferência intertemporal de desigualdade de renda.
Em resumo, observa-se, nas duas últimas administrações, um processo consentido de redistribuição de renda, cujo melhor exemplo é o Bolsa Família, que é focado, com tamanho e custos conhecidos e cujo resultado pode ser avaliado. Em contrapartida, ocorre também um processo de concentração de renda, que não passa pelos canais formais de aprovação política, cujo tamanho e incidência são arbitrários e difusos, mas que penaliza com maior rigor os que recebem fluxos de renda fixos e cujos ajustes anuais não acompanham a taxa de inflação. Não se trata evidentemente de apurar o efeito líquido dos dois processos divergentes e contraditórios. Trata-se, isso sim, de dar fim a uma atitude de complacência com a inflação, que nos faz mirar o teto da meta como sendo a versão tupiniquim do regime de metas de inflação. E, ao fazê-lo, permite o funcionamento de um mecanismo perverso de concentração de renda que contradiz a retórica oficial das duas últimas administrações, comandadas por um partido político supostamente destinado a defender os interesses dos trabalhadores.
Não há como não reconhecer o mérito das administrações petistas em promover mudanças na política econômica a fim de conferir maior ênfase às questões distributivas, para atenuar um quadro secular de má distribuição de renda, que nos coloca entre os países mais desiguais do mundo. Cumprida uma parte importante, ainda incompleta, da agenda de estabilização monetária, fazia todo sentido que o governo Lula criasse programas governamentais de transferências interpessoais de renda, para reforçar os efeitos benéficos do programa de maior impacto redistributivo, o próprio Plano Real.
O Bolsa Família é um bem-sucedido programa de redistribuição de renda, pois é focado em grupos socioeconômicos mais vulneráveis e previamente identificados, é financiado via dotações orçamentárias e é acompanhado por algumas exigências, relacionadas a cuidados com a educação e saúde das famílias beneficiárias, que aumentam a efetividade do programa. De acordo com relatos oficiais, o Bolsa Família atinge hoje 36 milhões de beneficiários, sendo extremamente importante para manter um determinado nível de demanda, de renda e de emprego em algumas regiões do País.
Paralelamente a essa melhoria nos indicadores de distribuição de renda, estamos sendo submetidos a um processo inflacionário persistente que, em certa medida, pode contribuir para desfazer parte dos benefícios dos programas oficiais de transferência de renda, como parte das inúmeras distorções econômicas provocadas pela inflação.
No Brasil, anos de convivência com taxas elevadas de inflação, antes da introdução da correção monetária, e a experiência de outros países que enfrentaram surtos de alta inflação já mostraram os efeitos nocivos daquele processo sobre as finanças empresariais, ao dilapidar o capital de giro, os fundos para compensar a depreciação dos ativos fixos e para evitar a obsolescência tecnológica e aqueles recursos destinados ao financiamento de projetos de investimento de longo prazo. Todos esses impactos sobre as finanças empresariais continuam presentes hoje, mesmo com uma taxa de inflação mais civilizada e na ausência de mecanismos formais de indexação.
No entanto, além dos efeitos sobre as finanças das empresas, sabe-se que a persistência de uma taxa de inflação nos níveis atuais por prazos longos provoca distorções na distribuição de renda, ao corroer salários e ordenados fixados em termos monetários ou cuja variação não acompanha a elevação do custo de vida. Essa queda nos salários reais é uma forma de tributação arbitrária sobre o fluxo de renda dos assalariados, cuja incidência é aleatória, penalizando mais os que percebem remunerações fixas em termos nominais, vale dizer, empregados nos setores público e privado, aposentados e pensionistas e trabalhadores sobrevivendo no setor informal da economia. Além do mais, a inflação não apenas reduz a capacidade de adquirir bens e serviços correntes, ao contrair os salários reais, mas também penaliza o estoque de ativos monetários das famílias e dos indivíduos, com a diminuição do valor real da riqueza mantida sob a forma de saldos monetários. A inflação reduz a capacidade de consumo atual e também o padrão de vida futuro dos detentores de riqueza fixada em termos nominais. Dessa forma, ela pode funcionar como um mecanismo de transferência intertemporal de desigualdade de renda.
Em resumo, observa-se, nas duas últimas administrações, um processo consentido de redistribuição de renda, cujo melhor exemplo é o Bolsa Família, que é focado, com tamanho e custos conhecidos e cujo resultado pode ser avaliado. Em contrapartida, ocorre também um processo de concentração de renda, que não passa pelos canais formais de aprovação política, cujo tamanho e incidência são arbitrários e difusos, mas que penaliza com maior rigor os que recebem fluxos de renda fixos e cujos ajustes anuais não acompanham a taxa de inflação. Não se trata evidentemente de apurar o efeito líquido dos dois processos divergentes e contraditórios. Trata-se, isso sim, de dar fim a uma atitude de complacência com a inflação, que nos faz mirar o teto da meta como sendo a versão tupiniquim do regime de metas de inflação. E, ao fazê-lo, permite o funcionamento de um mecanismo perverso de concentração de renda que contradiz a retórica oficial das duas últimas administrações, comandadas por um partido político supostamente destinado a defender os interesses dos trabalhadores.
Rondando o teto - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 09/05
Será conhecida hoje a inflação de abril e mesmo sem saber o número exato há concordância sobre a tendência. Os economistas acham que o índice ficará abaixo de março, mas o acumulado em 12 meses continuará subindo. Assim será também em maio. De novo, uma queda na taxa mensal, mas o IPCA permanecerá em alta. Nos próximos meses, ficará sempre no teto.
Com a inflação de abril, não será ultrapassado o topo da meta, mas em maio é bem provável que isso aconteça. O professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha calcula que o dado de abril deve ficar em 0,75%; abaixo dos 0,92% de março. Mas o IPCA subiria para 6,33% em 12 meses. Em maio, a taxa pode cair de novo, segundo Cunha, para 0,55%, mas como será maior do que maio do ano passado, o acumulado ultrapassaria o limite de 6,5%.
— Depois, em junho, julho e agosto, a inflação em 12 meses deverá ficar em torno do teto, com a maior tendência de ser acima do limite porque no ano passado os três meses foram de preços bem baixos — disse Luiz Roberto Cunha.
O item que mais está pesando, e isso será mostrado hoje, é ainda a alimentação. Há preços subindo menos, mas, no conjunto, os alimentos ainda pressionam.
— Alimentação no domicílio ficou, em março, em 2,44% e, em abril, deve ficar em 2,21%. A alta de tubérculos vai cair, mas assim: de 22% para 8%. Por outro lado, carne e leite estão subindo mais. Há ainda impactos da energia no grupo habitação. No mês que vem, a energia terá ainda mais peso na alta de preços. Está também entrando uma nova estação e por isso o item vestuário deve também mostrar alta — diz Cunha.
Cada mês a sua agonia; os preços que pesam mais vão neutralizando as eventuais quedas. E, quando o índice fica menor, o acumulado sobe. O fato é que inflação voltou a ser tema diário nas conversas e nas preocupações das famílias e empresas. O índice não está descontrolado, mas permanece resistente, alto demais, criando incerteza e desconforto. Dá para sentir nas conversas, em qualquer lugar, com as pessoas responsáveis por fazerem as compras de feira e supermercado. Todos ficam pontuando os preços que dispararam.
O economista Samuel Pessoa, do Ibre/FGV, em artigo na “Folha de S. Paulo”, mostrou que a situação atual é mais complexa até mesmo que a de 2002, que terminou com o IPCA em 12,5%. Ele percebeu que a inflação de serviços roda a casa de 8,5% há três anos, contra 5,5% daquela época. Os preços administrados, que subiram 14,7% em 2002, têm alta de 3,4% em 2014. Isso quer dizer que eles estão congelados e vão ter que subir à frente, principalmente gasolina, energia elétrica e transporte público. O país hoje tem déficit em corrente de 3,7% do PIB, contra 1,6% em 2002. Isso coloca pressão sobre a nossa moeda. O que mais chamou atenção foi a comparação das expectativas de inflação 12 meses à frente. Agora, elas são maiores do que naquela época: 6,4% contra 5,6%.
— Não tinha me dado conta disso até escrever o artigo. O problema desta vez é estrutural, quando naquele ano foi concentrado na alta do dólar. Levar a inflação para a meta este ano será mais difícil — disse Pessoa.
Não é culpa do tempo, da falta de chuvas, do imponderável. Claro que esses problemas aguçam a elevação dos preços. Mas o que trouxe a situação a esse ponto foi a sucessão de erros na administração da política anti-inflacionária. Quando a taxa já está estacionada em nível alto, qualquer inesperado faz o índice superar o limite.
— Num cenário de IPCA em 0,75% em abril, 0,55% em maio, e 0,2% em média mensal em junho, julho, agosto, o acumulado de 12 meses ficará sempre acima do teto. Se for 0,3%, em média, nesses três meses chegaremos a agosto com 7% — explicou Luiz Roberto Cunha.
As projeções servem para mostrar a tendência, mas a percepção das pessoas é de que os preços estão passando por um período de alta disseminada e de instabilidade. Isso encomenda outros reajustes. Quando sobe o preço do material de limpeza, o condomínio é reajustado. Quando os alimentos aumentam, certamente haverá alta de restaurante. Essa percepção precisa ser quebrada. O governo prefere acreditar que tudo vai se acertar quando passar a sazonalidade do alimento. Mas temos tido anos de inflação beirando ou superando a meta. E esta será de novo a trajetória neste ano.
Será conhecida hoje a inflação de abril e mesmo sem saber o número exato há concordância sobre a tendência. Os economistas acham que o índice ficará abaixo de março, mas o acumulado em 12 meses continuará subindo. Assim será também em maio. De novo, uma queda na taxa mensal, mas o IPCA permanecerá em alta. Nos próximos meses, ficará sempre no teto.
Com a inflação de abril, não será ultrapassado o topo da meta, mas em maio é bem provável que isso aconteça. O professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha calcula que o dado de abril deve ficar em 0,75%; abaixo dos 0,92% de março. Mas o IPCA subiria para 6,33% em 12 meses. Em maio, a taxa pode cair de novo, segundo Cunha, para 0,55%, mas como será maior do que maio do ano passado, o acumulado ultrapassaria o limite de 6,5%.
— Depois, em junho, julho e agosto, a inflação em 12 meses deverá ficar em torno do teto, com a maior tendência de ser acima do limite porque no ano passado os três meses foram de preços bem baixos — disse Luiz Roberto Cunha.
O item que mais está pesando, e isso será mostrado hoje, é ainda a alimentação. Há preços subindo menos, mas, no conjunto, os alimentos ainda pressionam.
— Alimentação no domicílio ficou, em março, em 2,44% e, em abril, deve ficar em 2,21%. A alta de tubérculos vai cair, mas assim: de 22% para 8%. Por outro lado, carne e leite estão subindo mais. Há ainda impactos da energia no grupo habitação. No mês que vem, a energia terá ainda mais peso na alta de preços. Está também entrando uma nova estação e por isso o item vestuário deve também mostrar alta — diz Cunha.
Cada mês a sua agonia; os preços que pesam mais vão neutralizando as eventuais quedas. E, quando o índice fica menor, o acumulado sobe. O fato é que inflação voltou a ser tema diário nas conversas e nas preocupações das famílias e empresas. O índice não está descontrolado, mas permanece resistente, alto demais, criando incerteza e desconforto. Dá para sentir nas conversas, em qualquer lugar, com as pessoas responsáveis por fazerem as compras de feira e supermercado. Todos ficam pontuando os preços que dispararam.
O economista Samuel Pessoa, do Ibre/FGV, em artigo na “Folha de S. Paulo”, mostrou que a situação atual é mais complexa até mesmo que a de 2002, que terminou com o IPCA em 12,5%. Ele percebeu que a inflação de serviços roda a casa de 8,5% há três anos, contra 5,5% daquela época. Os preços administrados, que subiram 14,7% em 2002, têm alta de 3,4% em 2014. Isso quer dizer que eles estão congelados e vão ter que subir à frente, principalmente gasolina, energia elétrica e transporte público. O país hoje tem déficit em corrente de 3,7% do PIB, contra 1,6% em 2002. Isso coloca pressão sobre a nossa moeda. O que mais chamou atenção foi a comparação das expectativas de inflação 12 meses à frente. Agora, elas são maiores do que naquela época: 6,4% contra 5,6%.
— Não tinha me dado conta disso até escrever o artigo. O problema desta vez é estrutural, quando naquele ano foi concentrado na alta do dólar. Levar a inflação para a meta este ano será mais difícil — disse Pessoa.
Não é culpa do tempo, da falta de chuvas, do imponderável. Claro que esses problemas aguçam a elevação dos preços. Mas o que trouxe a situação a esse ponto foi a sucessão de erros na administração da política anti-inflacionária. Quando a taxa já está estacionada em nível alto, qualquer inesperado faz o índice superar o limite.
— Num cenário de IPCA em 0,75% em abril, 0,55% em maio, e 0,2% em média mensal em junho, julho, agosto, o acumulado de 12 meses ficará sempre acima do teto. Se for 0,3%, em média, nesses três meses chegaremos a agosto com 7% — explicou Luiz Roberto Cunha.
As projeções servem para mostrar a tendência, mas a percepção das pessoas é de que os preços estão passando por um período de alta disseminada e de instabilidade. Isso encomenda outros reajustes. Quando sobe o preço do material de limpeza, o condomínio é reajustado. Quando os alimentos aumentam, certamente haverá alta de restaurante. Essa percepção precisa ser quebrada. O governo prefere acreditar que tudo vai se acertar quando passar a sazonalidade do alimento. Mas temos tido anos de inflação beirando ou superando a meta. E esta será de novo a trajetória neste ano.
A degradação moral de um país e o legado do PT - ROBERTO FREIRE
Brasil Econômico - 09/05
A conexão criminosa entre o Ministério da Saúde e o laborató -rio de fachada do doleiro Alberto Youssef, preso pela PF, é apenas um dos tentáculos que ligam o governo petista à complexa rede de ilegalidades que se instalou no poder. São tantas denúncias a estamparem as manchetes, e tão graves, que os brasileiros têm dificuldade em acompanhá-las sem perder o fio da meada. A banalização do ilícito e da corrupção e a sensação de que o desvio de dinheiro público é algo natural fazem parte do legado danoso que o PT deixará ao país.
Controlado por Youssef e registrado em nome de um "laranja", o labo-ratório-fantasma Labogen - que firmou parceria com o Ministério da Saúde então comandado pelo petista Alexandre Padilha - foi usado pelo doleiro para realizar fraudes a partir de importações fictícias de insumos farmacêuticos. A desconhecida empresa não importava remédios, mas caixas de vinhos, coleções de joias italianas, instrumentos musicais de origem holandesa e até rolos de seda chinesa.
Diante de um mundo de oportunidades facilitado por suas relações próximas com o poder, o doleiro diversificou as atividades e atendeu aos mais diversos interesses, atuando sempre à margem da lei. Além de providenciar um jatinho para a viagem de férias do ex-petista André Vargas, Youssef também pagou caminhões lotados de gado para outro deputado cujo nome aparece nas interceptações telefônicas feitas pela polícia.
De contratos suspeitos com empresas de fachada à mais rasteira troca de favores, a sucessão de escândalos faz o cidadão se acostumar com a ilicitude. Como escreveu Arnaldo Jabor em artigo publicado em alguns dos principais jornais do país, "o imaginário nacional está se deformando". O texto aponta que "o desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a cultura da marginalidade, a normalização do crime".
Mensalões, dinheiro na cueca, roubalheira na Petrobras e dinheiro lavado no Brasil e no exterior fazem com que o malfeito seja encarado com naturalidade, quase como um dado inevitável darealidade. Torturas, assassinatos brutais, linchamentos eum perigoso sentimento de que é preciso fazer justiça com as próprias mãos diante da absoluta falência do Estado são conseqüência da degradação que começa no governo federal. Os exemplos vêm de cima e, nos últimos 12 anos, têm sido os piores possíveis.
Para agravar o quadro, a população sofre com a incompetência da presidente da República, que não foi capaz de melhorar a qualidade dos serviços públicos, fez a economia andar para trás e deixou as empresas estatais em frangalhos. Além disso, o PT incentiva o desprezo pelo trabalho em seu maior programa social, cujo resultado é um contingente de 62 milhões de brasileiros que simplesmente não procuram emprego - até porque, se encontrarem, perdem o benefício do Bolsa Família. Só entre os jovens de 15 a 29 anos, 9,6 milhões não estudam nem trabalham, segundo o IBGE.
A falta de perspectivas da nação diz muito a respeito do desastre da experiência petista. Lula e Dilma fizeram tão mal ao Brasil que há uma sensação de que o país passou a odiar a si mesmo, comaperda de princípios democráticos e o esgarçamento da solidariedade e do humanismo. Nas próximas eleições, além do comando do governo, também estará em disputa a retomada desses valores.
De contratos suspeitos com empresas de fachada à mais rasteira troca de favores, a sucessão de escândalos faz o cidadão se acostumar com a ilicitude.
A conexão criminosa entre o Ministério da Saúde e o laborató -rio de fachada do doleiro Alberto Youssef, preso pela PF, é apenas um dos tentáculos que ligam o governo petista à complexa rede de ilegalidades que se instalou no poder. São tantas denúncias a estamparem as manchetes, e tão graves, que os brasileiros têm dificuldade em acompanhá-las sem perder o fio da meada. A banalização do ilícito e da corrupção e a sensação de que o desvio de dinheiro público é algo natural fazem parte do legado danoso que o PT deixará ao país.
Controlado por Youssef e registrado em nome de um "laranja", o labo-ratório-fantasma Labogen - que firmou parceria com o Ministério da Saúde então comandado pelo petista Alexandre Padilha - foi usado pelo doleiro para realizar fraudes a partir de importações fictícias de insumos farmacêuticos. A desconhecida empresa não importava remédios, mas caixas de vinhos, coleções de joias italianas, instrumentos musicais de origem holandesa e até rolos de seda chinesa.
Diante de um mundo de oportunidades facilitado por suas relações próximas com o poder, o doleiro diversificou as atividades e atendeu aos mais diversos interesses, atuando sempre à margem da lei. Além de providenciar um jatinho para a viagem de férias do ex-petista André Vargas, Youssef também pagou caminhões lotados de gado para outro deputado cujo nome aparece nas interceptações telefônicas feitas pela polícia.
De contratos suspeitos com empresas de fachada à mais rasteira troca de favores, a sucessão de escândalos faz o cidadão se acostumar com a ilicitude. Como escreveu Arnaldo Jabor em artigo publicado em alguns dos principais jornais do país, "o imaginário nacional está se deformando". O texto aponta que "o desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a cultura da marginalidade, a normalização do crime".
Mensalões, dinheiro na cueca, roubalheira na Petrobras e dinheiro lavado no Brasil e no exterior fazem com que o malfeito seja encarado com naturalidade, quase como um dado inevitável darealidade. Torturas, assassinatos brutais, linchamentos eum perigoso sentimento de que é preciso fazer justiça com as próprias mãos diante da absoluta falência do Estado são conseqüência da degradação que começa no governo federal. Os exemplos vêm de cima e, nos últimos 12 anos, têm sido os piores possíveis.
Para agravar o quadro, a população sofre com a incompetência da presidente da República, que não foi capaz de melhorar a qualidade dos serviços públicos, fez a economia andar para trás e deixou as empresas estatais em frangalhos. Além disso, o PT incentiva o desprezo pelo trabalho em seu maior programa social, cujo resultado é um contingente de 62 milhões de brasileiros que simplesmente não procuram emprego - até porque, se encontrarem, perdem o benefício do Bolsa Família. Só entre os jovens de 15 a 29 anos, 9,6 milhões não estudam nem trabalham, segundo o IBGE.
A falta de perspectivas da nação diz muito a respeito do desastre da experiência petista. Lula e Dilma fizeram tão mal ao Brasil que há uma sensação de que o país passou a odiar a si mesmo, comaperda de princípios democráticos e o esgarçamento da solidariedade e do humanismo. Nas próximas eleições, além do comando do governo, também estará em disputa a retomada desses valores.
De contratos suspeitos com empresas de fachada à mais rasteira troca de favores, a sucessão de escândalos faz o cidadão se acostumar com a ilicitude.
A Copa da rua já começou - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 09/05
Manifestantes entram no jogo; resta saber se baque político e econômico será como o de 2013
COMO ERA previsto, há greves e manifestações mais ou menos tumultuadas nessa janela de oportunidade política aberta pela confluência de início do período de Copa e de campanha eleitoral.
Vai piorar? Se piorar, que efeito haverá sobre a economia? Note-se que o Junho de 2013 foi um baque adicional na confiança de consumidores e empresários, que vinha despencando desde os meses finais de 2012.
O encadeamento de microprotestos terá efeito daninho no prestígio de Dilma Rousseff, como foi o caso dos protestos de 2013? As manifestações vão transbordar e se aglutinar? Vitórias do Brasil no futebol vão amainar o ânimo manifestante?
O leitor desculpe tanta especulação aberta. Mas tais perguntas são apenas parte do rol de dúvidas a respeito dos desdobramentos políticos e econômicos deste ano, com o que se pode concluir que está muito cedo para fazer prognósticos sobre eleição.
É um despropósito dizer que o país está um tumulto, mas a exposição midiática diária de protestos convulsionados, ainda que localizados, e os transtornos no trânsito e na vida de cidades como São Paulo e Rio não devem melhorar um clima que já não andava bom. Mais difícil de estimar é o objeto e o tamanho da irritação. Pode até ser que a maioria da população fique fula com os grupos ora minoritários que protestam. Ou até se revoltar com tudo e todos, governo federal, estadual, prefeituras.
De mais notório e visível, nesta semana, houve passeatas relevantes de professores paulistanos em greve, o protesto de ontem em São Paulo dos sem-terra (MST) e dos sem-teto (MTST) contra empreiteiras da Copa, e essa confusa greve parcial de dissidentes do rodoviários no Rio.
Há mais greves e ameaças programadas pelo Brasil, várias delas no funcionalismo. Não se trata de uma onda de paralisações com jeito de confluir num movimento maior qualquer. São movimentos isolados e oportunistas, no sentido mais neutro da palavra: trata-se de um bom momento para negociar de modo mais duro.
A "imagem do Brasil" na Copa, a ameaça de cortar serviços essenciais neste momento e a eleição próxima obviamente aumentam o poder de barganha de sindicatos e outros movimentos sociais. O pessoal que liderou o protesto de ontem, por exemplo, conseguiu ser recebido pela presidente Dilma Rousseff.
Os candidatos da oposição, porém, continuam sem conversar com essa rua barulhenta.
OUTRO MUNDO
Empresas, bancos e governos pegaram uma dinheirama lá fora neste início de ano. Tomaram emprestado, "captaram", US$ 22,5 bilhões até abril, mais que o dobro "captado" no mesmo quadrimestre do ano passado (US$ 10,7 bilhões).
Empresas, na maioria grandes, ficaram com quase 78% disso. O dinheiro no mundo ainda está barato. Pode ser que não esteja em 2015. Mas é inegável que empresa brasileira boa está com certo prestígio lá fora (o que significa que, numa perspectiva de médio prazo, o Brasil ainda não está desprestigiado).
Tal dinheirama e as intervenções do Banco Central, porém, estão barateando o dólar, barateando demais para um país que gasta além da conta, aqui e lá fora. Isso vai dar problema.
Manifestantes entram no jogo; resta saber se baque político e econômico será como o de 2013
COMO ERA previsto, há greves e manifestações mais ou menos tumultuadas nessa janela de oportunidade política aberta pela confluência de início do período de Copa e de campanha eleitoral.
Vai piorar? Se piorar, que efeito haverá sobre a economia? Note-se que o Junho de 2013 foi um baque adicional na confiança de consumidores e empresários, que vinha despencando desde os meses finais de 2012.
O encadeamento de microprotestos terá efeito daninho no prestígio de Dilma Rousseff, como foi o caso dos protestos de 2013? As manifestações vão transbordar e se aglutinar? Vitórias do Brasil no futebol vão amainar o ânimo manifestante?
O leitor desculpe tanta especulação aberta. Mas tais perguntas são apenas parte do rol de dúvidas a respeito dos desdobramentos políticos e econômicos deste ano, com o que se pode concluir que está muito cedo para fazer prognósticos sobre eleição.
É um despropósito dizer que o país está um tumulto, mas a exposição midiática diária de protestos convulsionados, ainda que localizados, e os transtornos no trânsito e na vida de cidades como São Paulo e Rio não devem melhorar um clima que já não andava bom. Mais difícil de estimar é o objeto e o tamanho da irritação. Pode até ser que a maioria da população fique fula com os grupos ora minoritários que protestam. Ou até se revoltar com tudo e todos, governo federal, estadual, prefeituras.
De mais notório e visível, nesta semana, houve passeatas relevantes de professores paulistanos em greve, o protesto de ontem em São Paulo dos sem-terra (MST) e dos sem-teto (MTST) contra empreiteiras da Copa, e essa confusa greve parcial de dissidentes do rodoviários no Rio.
Há mais greves e ameaças programadas pelo Brasil, várias delas no funcionalismo. Não se trata de uma onda de paralisações com jeito de confluir num movimento maior qualquer. São movimentos isolados e oportunistas, no sentido mais neutro da palavra: trata-se de um bom momento para negociar de modo mais duro.
A "imagem do Brasil" na Copa, a ameaça de cortar serviços essenciais neste momento e a eleição próxima obviamente aumentam o poder de barganha de sindicatos e outros movimentos sociais. O pessoal que liderou o protesto de ontem, por exemplo, conseguiu ser recebido pela presidente Dilma Rousseff.
Os candidatos da oposição, porém, continuam sem conversar com essa rua barulhenta.
OUTRO MUNDO
Empresas, bancos e governos pegaram uma dinheirama lá fora neste início de ano. Tomaram emprestado, "captaram", US$ 22,5 bilhões até abril, mais que o dobro "captado" no mesmo quadrimestre do ano passado (US$ 10,7 bilhões).
Empresas, na maioria grandes, ficaram com quase 78% disso. O dinheiro no mundo ainda está barato. Pode ser que não esteja em 2015. Mas é inegável que empresa brasileira boa está com certo prestígio lá fora (o que significa que, numa perspectiva de médio prazo, o Brasil ainda não está desprestigiado).
Tal dinheirama e as intervenções do Banco Central, porém, estão barateando o dólar, barateando demais para um país que gasta além da conta, aqui e lá fora. Isso vai dar problema.
Ambiguidades e a campanha eleitoral - CLAUDIA SAFATLE
Valor Econômico - 09/05
Dilma não colheu "benefícios" das bondades que fez
Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à reeleição, não pretende cometer "sincericídio" durante a campanha, mas já estaria ciente de que 2015 será um ano de ajuste. "A presidente não rasga dinheiro", argumentam colaboradores qualificados e próximos a ela. Traduzindo: ela não é de trato fácil, precisa ser exaustivamente convencida, mas quando colocada diante da dura realidade reage com a razão.
Durante a campanha, portanto, Dilma não tratará de temas espinhosos. Longe do palanque o discurso é mais pé no chão, asseguram fontes oficiais. Ela saberia, por exemplo, que a atual política de valorização do salário mínimo já cumpriu a função e sua continuidade é insustentável. A lei deve ser revista. O mesmo ocorreria com o abono salarial, o seguro desemprego, as pensões por morte e, provavelmente, com a amplitude e o custo das desonerações da folha.
A experiência de três anos de governo mostrou que quando a presidente descentraliza a gestão e deixa os profissionais das respectivas áreas trabalharem, as coisas funcionam bem melhor. Exemplo: a readequação geral que teve que ser feita nas regras das concessões para atrair o setor privado. Teria compreendido, também, que taxa de juros baixa não gera crescimento econômico, mas ainda continuaria descrente da eficácia da política monetária no combate à inflação.
É preciso, primeiro, ganhar a eleição. Só após assegurado o segundo mandato é que o governo deve começar a dizer a que veio. É com esse argumento que economistas oficiais justificam algumas das ambiguidades no discurso da presidente.
Quando anunciou reajuste de 10% no Bolsa Família e a correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda para 2015, em um gesto de agrado às vésperas do dia 1° de maio, Dilma estava mirando os eleitores do PT que as pesquisas indicam que ela está perdendo. Ao contrário do que pareceu, não foi um ato de desmedida generosidade eleitoral. O Bolsa Família estava sem aumento há dois anos e a tabela do IR é corrigida, desde 2007, pela meta de inflação raramente cumprida, subtraindo salário nominal dos trabalhadores.
Quando diz que não vai combater a inflação com desemprego, porém, Dilma não está cometendo um despiste eleitoral. É desejo legítimo da esquerda desde o início dos tempos encontrar uma arma de combate à inflação que não produza recessão. Mais importante do que ter resposta a essa pergunta seria substituí-la por outra, que se refira à maneira mais eficiente de se controlar a inflação com o menor custo possível para as parcelas mais vulneráveis da população, ponderou uma fonte.
Esse dilema deixou de ser tema das nações desenvolvidas desde os anos 70, quando Paul Volcker, como presidente do Fed, elevou os juros às alturas para derrubar uma inflação renitente que vinha sendo tratada à base de política de rendas. E deu início a um dos mais longos ciclos de prosperidade americana.
Quando assumiu, em janeiro de 2011, a presidente Dilma fez uma reunião ministerial onde o titular da Fazenda, Guido Mantega, apresentou os objetivos do novo governo para os quatro anos de mandato.
Nos gráficos e tabelas da apresentação, o ministro indicou que a taxa média de crescimento até 2014 seria de 5,9% ao ano, deixando para trás um crescimento médio de 2,6% da era FHC e de 4% no período Lula. O investimento passaria de 19% do PIB em 2010 para 24% do PIB em 2014. A meta de 4,5% para a inflação em 2011 e 2012 já estava aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, nos prognósticos do ministro, o IPCA teria variação de 5% no primeiro ano do governo Dilma e cairia para 4,5% já no ano seguinte. A esses objetivos agregava-se, ainda, a redução da taxa de juros real para a casa dos 2% ao ano que Dilma defendia.
Confrontando a realidade com aquele leque de intenções, vê-se que a execução da política econômica ficou muito distante dos objetivos traçados. É fato que uma crise pesada abalou as economias da Zona do Euro em 2011, com consequências danosas para todo o mundo.
No caso do Brasil, aos efeitos da crise mundial e aos desdobramentos da mudança da política monetária americana, com suas idas e vindas, somou-se um mal humor crescente dos investidores internacionais e domésticos, gerado por uma forte desconfiança nos rumos do governo a partir das estripulias contábeis do Tesouro Nacional, das intervenções no setor elétrico e nos preços da Petrobras, da suspeita de que o Banco Central estava proibido de elevar os juros e da impressão de que o governo queria determinar a taxa de câmbio, dentre outras.
Dilma tentou reagir à crescente desconfiança. Chamou empresários e banqueiros para conversar, compareceu perante a elite econômica mundial em Davos, comprometeu-se com a redução da expansão do crédito dos bancos públicos, se conformou com a flutuação da taxa de câmbio e com o aumento dos juros para dois dígitos (de 7,25% para 11% ao ano).
Depois de uma série de gestos de aproximação com o mercado, no entanto, a percepção que ficou para a presidente foi de que ela não colheu qualquer "benefício", nem mesmo dos empresários que tiveram montanhas de dinheiro barato do BNDES. Estão praticamente todos contra sua reeleição.
A área econômica se prepara, agora, para um cenário em que pode haver um ataque especulativo nos juros e no câmbio durante a campanha eleitoral. Não se espera, porém, um movimento parecido com 2002 quando a taxa de câmbio foi a R$ 4,00, os juros subiram para 25% e a inflação disparou. O objetivo, agora, é levar o barco de forma segura até o fim do ano, garantiu uma fonte qualificada.
Em agosto do ano passado, quando os recursos externos começaram a minguar e o câmbio se desvalorizava, o Banco Central deu início a um vigoroso programa de leilões de swaps cambiais que lhe rendeu, até ontem, um lucro de R$ 17 bilhões. Essa é a expressão do que o mercado está perdendo ao apostar contra, aponta a fonte.
Um outro grande drama se apresenta: o risco de racionamento de energia para depois das eleições. É crescente o temor de um tombo na economia em 2015 pela falta de energia.
Na visão do governo, contudo, a realidade continua sendo melhor do que a percepção que os agentes econômicos têm dela.
Durante a campanha, portanto, Dilma não tratará de temas espinhosos. Longe do palanque o discurso é mais pé no chão, asseguram fontes oficiais. Ela saberia, por exemplo, que a atual política de valorização do salário mínimo já cumpriu a função e sua continuidade é insustentável. A lei deve ser revista. O mesmo ocorreria com o abono salarial, o seguro desemprego, as pensões por morte e, provavelmente, com a amplitude e o custo das desonerações da folha.
A experiência de três anos de governo mostrou que quando a presidente descentraliza a gestão e deixa os profissionais das respectivas áreas trabalharem, as coisas funcionam bem melhor. Exemplo: a readequação geral que teve que ser feita nas regras das concessões para atrair o setor privado. Teria compreendido, também, que taxa de juros baixa não gera crescimento econômico, mas ainda continuaria descrente da eficácia da política monetária no combate à inflação.
É preciso, primeiro, ganhar a eleição. Só após assegurado o segundo mandato é que o governo deve começar a dizer a que veio. É com esse argumento que economistas oficiais justificam algumas das ambiguidades no discurso da presidente.
Quando anunciou reajuste de 10% no Bolsa Família e a correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda para 2015, em um gesto de agrado às vésperas do dia 1° de maio, Dilma estava mirando os eleitores do PT que as pesquisas indicam que ela está perdendo. Ao contrário do que pareceu, não foi um ato de desmedida generosidade eleitoral. O Bolsa Família estava sem aumento há dois anos e a tabela do IR é corrigida, desde 2007, pela meta de inflação raramente cumprida, subtraindo salário nominal dos trabalhadores.
Quando diz que não vai combater a inflação com desemprego, porém, Dilma não está cometendo um despiste eleitoral. É desejo legítimo da esquerda desde o início dos tempos encontrar uma arma de combate à inflação que não produza recessão. Mais importante do que ter resposta a essa pergunta seria substituí-la por outra, que se refira à maneira mais eficiente de se controlar a inflação com o menor custo possível para as parcelas mais vulneráveis da população, ponderou uma fonte.
Esse dilema deixou de ser tema das nações desenvolvidas desde os anos 70, quando Paul Volcker, como presidente do Fed, elevou os juros às alturas para derrubar uma inflação renitente que vinha sendo tratada à base de política de rendas. E deu início a um dos mais longos ciclos de prosperidade americana.
Quando assumiu, em janeiro de 2011, a presidente Dilma fez uma reunião ministerial onde o titular da Fazenda, Guido Mantega, apresentou os objetivos do novo governo para os quatro anos de mandato.
Nos gráficos e tabelas da apresentação, o ministro indicou que a taxa média de crescimento até 2014 seria de 5,9% ao ano, deixando para trás um crescimento médio de 2,6% da era FHC e de 4% no período Lula. O investimento passaria de 19% do PIB em 2010 para 24% do PIB em 2014. A meta de 4,5% para a inflação em 2011 e 2012 já estava aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, nos prognósticos do ministro, o IPCA teria variação de 5% no primeiro ano do governo Dilma e cairia para 4,5% já no ano seguinte. A esses objetivos agregava-se, ainda, a redução da taxa de juros real para a casa dos 2% ao ano que Dilma defendia.
Confrontando a realidade com aquele leque de intenções, vê-se que a execução da política econômica ficou muito distante dos objetivos traçados. É fato que uma crise pesada abalou as economias da Zona do Euro em 2011, com consequências danosas para todo o mundo.
No caso do Brasil, aos efeitos da crise mundial e aos desdobramentos da mudança da política monetária americana, com suas idas e vindas, somou-se um mal humor crescente dos investidores internacionais e domésticos, gerado por uma forte desconfiança nos rumos do governo a partir das estripulias contábeis do Tesouro Nacional, das intervenções no setor elétrico e nos preços da Petrobras, da suspeita de que o Banco Central estava proibido de elevar os juros e da impressão de que o governo queria determinar a taxa de câmbio, dentre outras.
Dilma tentou reagir à crescente desconfiança. Chamou empresários e banqueiros para conversar, compareceu perante a elite econômica mundial em Davos, comprometeu-se com a redução da expansão do crédito dos bancos públicos, se conformou com a flutuação da taxa de câmbio e com o aumento dos juros para dois dígitos (de 7,25% para 11% ao ano).
Depois de uma série de gestos de aproximação com o mercado, no entanto, a percepção que ficou para a presidente foi de que ela não colheu qualquer "benefício", nem mesmo dos empresários que tiveram montanhas de dinheiro barato do BNDES. Estão praticamente todos contra sua reeleição.
A área econômica se prepara, agora, para um cenário em que pode haver um ataque especulativo nos juros e no câmbio durante a campanha eleitoral. Não se espera, porém, um movimento parecido com 2002 quando a taxa de câmbio foi a R$ 4,00, os juros subiram para 25% e a inflação disparou. O objetivo, agora, é levar o barco de forma segura até o fim do ano, garantiu uma fonte qualificada.
Em agosto do ano passado, quando os recursos externos começaram a minguar e o câmbio se desvalorizava, o Banco Central deu início a um vigoroso programa de leilões de swaps cambiais que lhe rendeu, até ontem, um lucro de R$ 17 bilhões. Essa é a expressão do que o mercado está perdendo ao apostar contra, aponta a fonte.
Um outro grande drama se apresenta: o risco de racionamento de energia para depois das eleições. É crescente o temor de um tombo na economia em 2015 pela falta de energia.
Na visão do governo, contudo, a realidade continua sendo melhor do que a percepção que os agentes econômicos têm dela.
Fabiane e a maçã envenenada - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 09/05
O Estado é tentacular, mas está onde não deve e não está, não de modo eficiente ao menos, onde deve
Fabiane Maria de Jesus, a mulher que foi espancada até a morte no bairro de Morrinhos, no Guarujá, começou a ser agredida porque, ao oferecer uma banana a uma criança, foi confundida com um fantasma criado pela irresponsabilidade de uma página na internet. Tomaram-na por uma sequestradora de crianças, que usaria os infantes em rituais de magia negra.
Trata-se de uma história infantil de desfecho trágico. Lá estava a bruxa da hora oferecendo uma maçã envenenada -no caso, a banana- a um inocente. O mal se apresentava nas vestes do bem, a fazer uma doação para conspurcar a pureza. À diferença da narrativa original, esta não teve um desfecho feliz. A bruxa era só uma dona de casa que tinha ido buscar a Bíblia, que esquecera na igreja. A fruta que ela oferecia era mesmo uma doação. Dava pão a quem tinha fome, a primeira virtude. Seus algozes mancharam as mãos de sangue e, no entanto, até onde se sabe, não tinham um histórico de crimes.
Li muito a respeito. Há tentações para todos os gostos. Como é que gente trabalhadora, que luta para ganhar a vida, pratica esses desatinos? "Sou homem, e nada do que é humano é estranho a mim", escreveu Terêncio. Ainda que a frase possa servir à especulação teórica e que carreguemos em nós todo horror e toda maravilha, não creio que se possa avançar muito por aí. A questão é outra: quem vai conter a besta? Pensadores os mais diversos deram a sua resposta ao longo da história. Houve quem recomendasse um Estado tirano como o único capaz de disciplinar os apetites humanos. Não me parece um bom caminho. Só açula a... besta!
Percebo, de um lado, a tentativa de buscar na nossa formação algo que explique a tragédia; no outro extremo, procuram-se eventos recentes que teriam gerado algum desequilíbrio, de sorte que aquele povo pacífico, mas potencialmente violento, teria voltado à sua natureza. Acho tudo exagerado e despropositado. Não há nenhuma ocorrência que explique a barbárie. Número a número, o Brasil melhora sempre um pouco, em vez de piorar. Também não se trata de uma índole. Não temos de temer a nossa natureza, só as nossas escolhas.
Entrem na internet. Há linchamentos diários de norte a sul do país. Não são uma novidade. Nova é apenas a tecnologia que permite que fiquemos sabendo desses atos criminosos. É bem possível que, no mais das vezes, as vítimas não sejam inocentes, como era Fabiane. E daí? O assassino mais facinoroso tem, e deve ter, o direito a um julgamento justo. Se essa noção não está interiorizada e não se transforma num dado de civilização, então se caminha para o pior dos mundos. Mas esperem um pouco!
Que país o nosso, não é!? Notaram como temos Estado demais em petróleo e de menos em segurança pública? Notaram como temos Estado demais em energia elétrica e de menos em educação? Notaram como temos Estado demais no setor bancário e de menos em saneamento e urbanismo? Esse Estado é gigantesco e tentacular, mas está onde não deve e não está, não de modo eficiente ao menos, onde deve. Para os que lincharam Fabiane, ela era uma criminosa, e se cultiva a certeza por lá e em toda parte de que os criminosos, neste país (como diria aquele), permanecem impunes -o que é verdade com uma frequência assombrosa. Há mais de 50 mil homicídios por ano no Brasil.
Os assassinos improvisados de Fabiane carregam nas costas um Estado que não conhecem e conhecem um Estado que não existe para eles. Organizam, então, tribunais populares, nos quais, como prova a história, a inocência é sempre a primeira vítima. Têm, sim, de pagar caro por seu ato bárbaro. Mas também vão expiar a culpa de um modelo de que são vítimas.
E arremato observando que, nos últimos tempos, há um indiscreto incentivo no país ao "faça você mesmo a sua justiça social", sem dar bola para as leis. Não se iludam: quem flerta com depredadores do bem público, com invasores da propriedade alheia e com incendiários da ordem democrática -leu bem, presidente Dilma?- está dando uma piscadela a linchadores. É a maçã envenenada da desordem.
O Estado é tentacular, mas está onde não deve e não está, não de modo eficiente ao menos, onde deve
Fabiane Maria de Jesus, a mulher que foi espancada até a morte no bairro de Morrinhos, no Guarujá, começou a ser agredida porque, ao oferecer uma banana a uma criança, foi confundida com um fantasma criado pela irresponsabilidade de uma página na internet. Tomaram-na por uma sequestradora de crianças, que usaria os infantes em rituais de magia negra.
Trata-se de uma história infantil de desfecho trágico. Lá estava a bruxa da hora oferecendo uma maçã envenenada -no caso, a banana- a um inocente. O mal se apresentava nas vestes do bem, a fazer uma doação para conspurcar a pureza. À diferença da narrativa original, esta não teve um desfecho feliz. A bruxa era só uma dona de casa que tinha ido buscar a Bíblia, que esquecera na igreja. A fruta que ela oferecia era mesmo uma doação. Dava pão a quem tinha fome, a primeira virtude. Seus algozes mancharam as mãos de sangue e, no entanto, até onde se sabe, não tinham um histórico de crimes.
Li muito a respeito. Há tentações para todos os gostos. Como é que gente trabalhadora, que luta para ganhar a vida, pratica esses desatinos? "Sou homem, e nada do que é humano é estranho a mim", escreveu Terêncio. Ainda que a frase possa servir à especulação teórica e que carreguemos em nós todo horror e toda maravilha, não creio que se possa avançar muito por aí. A questão é outra: quem vai conter a besta? Pensadores os mais diversos deram a sua resposta ao longo da história. Houve quem recomendasse um Estado tirano como o único capaz de disciplinar os apetites humanos. Não me parece um bom caminho. Só açula a... besta!
Percebo, de um lado, a tentativa de buscar na nossa formação algo que explique a tragédia; no outro extremo, procuram-se eventos recentes que teriam gerado algum desequilíbrio, de sorte que aquele povo pacífico, mas potencialmente violento, teria voltado à sua natureza. Acho tudo exagerado e despropositado. Não há nenhuma ocorrência que explique a barbárie. Número a número, o Brasil melhora sempre um pouco, em vez de piorar. Também não se trata de uma índole. Não temos de temer a nossa natureza, só as nossas escolhas.
Entrem na internet. Há linchamentos diários de norte a sul do país. Não são uma novidade. Nova é apenas a tecnologia que permite que fiquemos sabendo desses atos criminosos. É bem possível que, no mais das vezes, as vítimas não sejam inocentes, como era Fabiane. E daí? O assassino mais facinoroso tem, e deve ter, o direito a um julgamento justo. Se essa noção não está interiorizada e não se transforma num dado de civilização, então se caminha para o pior dos mundos. Mas esperem um pouco!
Que país o nosso, não é!? Notaram como temos Estado demais em petróleo e de menos em segurança pública? Notaram como temos Estado demais em energia elétrica e de menos em educação? Notaram como temos Estado demais no setor bancário e de menos em saneamento e urbanismo? Esse Estado é gigantesco e tentacular, mas está onde não deve e não está, não de modo eficiente ao menos, onde deve. Para os que lincharam Fabiane, ela era uma criminosa, e se cultiva a certeza por lá e em toda parte de que os criminosos, neste país (como diria aquele), permanecem impunes -o que é verdade com uma frequência assombrosa. Há mais de 50 mil homicídios por ano no Brasil.
Os assassinos improvisados de Fabiane carregam nas costas um Estado que não conhecem e conhecem um Estado que não existe para eles. Organizam, então, tribunais populares, nos quais, como prova a história, a inocência é sempre a primeira vítima. Têm, sim, de pagar caro por seu ato bárbaro. Mas também vão expiar a culpa de um modelo de que são vítimas.
E arremato observando que, nos últimos tempos, há um indiscreto incentivo no país ao "faça você mesmo a sua justiça social", sem dar bola para as leis. Não se iludam: quem flerta com depredadores do bem público, com invasores da propriedade alheia e com incendiários da ordem democrática -leu bem, presidente Dilma?- está dando uma piscadela a linchadores. É a maçã envenenada da desordem.
A arte de armar - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 09/05
Com toda a deterioração das condições objetivas para que o governo dê como favas contadas a reeleição da presidente Dilma Rousseff, convém que os candidatos de oposição não se animem em excesso nem desconsiderem a hipótese de que a Presidência seja do PT mais uma vez, a partir de 2015.
O que se tem como impossibilidade é apenas a vitória no primeiro turno, coisa que o bom senso, o histórico e os dados de realidade jamais autorizaram como cenário real. Se nas últimas três semanas o quadro mudou em desfavor do governo, nos próximos quatro meses nada impede que se inverta da trajetória. Competência e instrumentos para construir a viravolta os ocupantes do poder já demonstraram que têm. E ultimamente vêm dando sinais de que encontraram um caminho em busca da salvação.
Desde que começou a ganhar eleições, o PT faz o mesmo: escolhe uma ideia-força que seja simples de entender, soe prazerosa aos ouvidos da população e martela aquilo de modo a que represente a salvação e o adversário seja o retrato da danação. Em 2002, “a esperança venceu o medo”. Esperança de quê? “De que um mundo diferente é possível”. Em 2006, a oposição venderia a preço de banana todo o patrimônio do país, Petrobras à frente. Em 2010, “a primeira mulher a governar o Brasil” levaria o país ao prometido futuro devido aos atributos de gestora excepcional.
Vencidas as validades desses slogans, hoje se prepara um novo roteiro, já posto em execução, com base na ideia-força da luta do bem contra o mal. Não se pode desprezar a eficácia dessa dicotomia. Por ela, a presidente Dilma seria a representação de um horizonte confortável, com a continuidade das benesses dos últimos anos, sem crises nem remédios amargos. A oposição, por sua vez, que só fala em crise, na necessidade de se tomar medidas impopulares, representaria uma ameaça ao conforto proporcionado pelos governos do PT.
Aos ouvidos de plateias que dispõem de informações sobre o que vem por aí, o discurso até soa artificial. Mas, para a maioria, não é assim. Para esse eleitorado, vale mais uma doce promessa na mão que a perspectiva de amargura voando. É nessa arena que a oposição será desafiada. E por ora não parece preparada para responder.
Sem retoque. Ao dizer em entrevista à Folha de S. Paulo que a candidatura do senador Aécio Neves “tem cheiro de derrota no segundo turno”, a candidata a vice-presidente da chapa do PSB, Marina Silva, foi apenas Marina Silva cumprindo o papel que lhe cabe na parceria estabelecida em moldes muito claros em termos de personalidade política e representatividade social.
Adversária dos tucanos, com a vida pública construída no PT até a saída do governo Lula e ocupando um espaço que vai muito além do papel de mera coadjuvante, natural que Marina marque seu território junto ao eleitorado. Foi com a ideia de agregar essas forças que em 2010 já não quiseram se aliar ao PT nem ao PSDB que o ex-governador Eduardo Campos recebeu com entusiasmo a filiação de Marina, quando a Rede de Sustentabilidade não obteve registro na Justiça Eleitoral.
No momento em que o candidato do PSDB sobe nas pesquisas, o movimento do terceiro colocado é se diferenciar para disputar. Se não o fizer, transforma-se numa sombra daquele que pode até não ser o inimigo principal (não é quem se tenta afastar do poder), mas não deixa de ser um oponente.
A reclamação tucana de que Marina está “levando água para o moinho do PT” só faz sentido pelo desejo de que os colegas de oposição participem da campanha na condição de linha auxiliar. Na disputa para valer, ao dizer que Campos é o único em condições de derrotar o governo, Marina leva água para onde deve levar: ao moinho do PSB. Para onde mais?
Com toda a deterioração das condições objetivas para que o governo dê como favas contadas a reeleição da presidente Dilma Rousseff, convém que os candidatos de oposição não se animem em excesso nem desconsiderem a hipótese de que a Presidência seja do PT mais uma vez, a partir de 2015.
O que se tem como impossibilidade é apenas a vitória no primeiro turno, coisa que o bom senso, o histórico e os dados de realidade jamais autorizaram como cenário real. Se nas últimas três semanas o quadro mudou em desfavor do governo, nos próximos quatro meses nada impede que se inverta da trajetória. Competência e instrumentos para construir a viravolta os ocupantes do poder já demonstraram que têm. E ultimamente vêm dando sinais de que encontraram um caminho em busca da salvação.
Desde que começou a ganhar eleições, o PT faz o mesmo: escolhe uma ideia-força que seja simples de entender, soe prazerosa aos ouvidos da população e martela aquilo de modo a que represente a salvação e o adversário seja o retrato da danação. Em 2002, “a esperança venceu o medo”. Esperança de quê? “De que um mundo diferente é possível”. Em 2006, a oposição venderia a preço de banana todo o patrimônio do país, Petrobras à frente. Em 2010, “a primeira mulher a governar o Brasil” levaria o país ao prometido futuro devido aos atributos de gestora excepcional.
Vencidas as validades desses slogans, hoje se prepara um novo roteiro, já posto em execução, com base na ideia-força da luta do bem contra o mal. Não se pode desprezar a eficácia dessa dicotomia. Por ela, a presidente Dilma seria a representação de um horizonte confortável, com a continuidade das benesses dos últimos anos, sem crises nem remédios amargos. A oposição, por sua vez, que só fala em crise, na necessidade de se tomar medidas impopulares, representaria uma ameaça ao conforto proporcionado pelos governos do PT.
Aos ouvidos de plateias que dispõem de informações sobre o que vem por aí, o discurso até soa artificial. Mas, para a maioria, não é assim. Para esse eleitorado, vale mais uma doce promessa na mão que a perspectiva de amargura voando. É nessa arena que a oposição será desafiada. E por ora não parece preparada para responder.
Sem retoque. Ao dizer em entrevista à Folha de S. Paulo que a candidatura do senador Aécio Neves “tem cheiro de derrota no segundo turno”, a candidata a vice-presidente da chapa do PSB, Marina Silva, foi apenas Marina Silva cumprindo o papel que lhe cabe na parceria estabelecida em moldes muito claros em termos de personalidade política e representatividade social.
Adversária dos tucanos, com a vida pública construída no PT até a saída do governo Lula e ocupando um espaço que vai muito além do papel de mera coadjuvante, natural que Marina marque seu território junto ao eleitorado. Foi com a ideia de agregar essas forças que em 2010 já não quiseram se aliar ao PT nem ao PSDB que o ex-governador Eduardo Campos recebeu com entusiasmo a filiação de Marina, quando a Rede de Sustentabilidade não obteve registro na Justiça Eleitoral.
No momento em que o candidato do PSDB sobe nas pesquisas, o movimento do terceiro colocado é se diferenciar para disputar. Se não o fizer, transforma-se numa sombra daquele que pode até não ser o inimigo principal (não é quem se tenta afastar do poder), mas não deixa de ser um oponente.
A reclamação tucana de que Marina está “levando água para o moinho do PT” só faz sentido pelo desejo de que os colegas de oposição participem da campanha na condição de linha auxiliar. Na disputa para valer, ao dizer que Campos é o único em condições de derrotar o governo, Marina leva água para onde deve levar: ao moinho do PSB. Para onde mais?
Brasil F.C. - NELSON MOTTA
O GLOBO - 09/05
O jogo virou quando Dirceu foi expulso por trocar socos e pontapés com Jefferson (do seu próprio time!) e por ofensas ao árbitro, e Lula improvisou Rousseff
Meu amigo Spike é um rapper afro-americano louco por futebol, mas não sabe nada da história política recente do Brasil. Como vem pra Copa, me pediu um resumo. Som na caixa!
Depois de um início promissor em 2010, com apoio maciço da torcida, o atual campeão passa por má fase, com chutões para frente, muitas faltas e passes errados; começa a perder terreno e a ser envolvido por manobras adversárias pelas extremas e, principalmente, pelo centro. Parte da torcida começa a vaiar. Parte pede a volta do técnico anterior.
Esse estilo de jogar para a torcida, mas evitando tomar gol, começou com o time bicampeão do técnico Lula, capitaneado pelo impetuoso e catimbeiro Zé Dirceu, que tinha o seu ponto forte no meio de campo, com o craque Meirelles como volante protegendo a defesa, e o fino armador Palocci tocando a bola e distribuindo o jogo pela esquerda e pela direita.
O jogo virou quando Dirceu foi expulso, por trocar socos e pontapés com o volante Jefferson (do seu próprio time!) e por ofensas ao árbitro, e Lula improvisou a cabeça de área Rousseff para capitã do time. Cintura dura, ela não tinha a habilidade de Dirceu, mas era disciplinada, chegava junto e corria o campo todo. Com o time sob pressão, era preciso fechar a defesa diante de uma virada iminente, e Lula seguiu a máxima de Neném Prancha: “Arrecua os arfe pra evitar a catastre.”
Jogando com todo o time atrás da linha da bola, os adversários não conseguiam entrar na área e nem chutar em gol e começaram a cansar e a bater cabeça. O time de Lula cresceu e passou a fazer rápidos contra-ataques e a envolver o adversário bisonho, que tomava bola nas costas, errava nos passes e na tática de jogo, e, depois de perder várias oportunidades com o gol vazio, acabou tomando uma virada surpreendente.
Com vantagem no placar, Lula cozinhou o jogo e, aproveitando a fraqueza do adversário, teve uma vitória folgada, com a capitã Rousseff fazendo os dois gols, um de canela e outro de barriga, e se tornando a nova técnica do time campeão.
Mas isso foi no campeonato passado. Agora é outro jogo. E a política, you know, is a small box of surprises.
O jogo virou quando Dirceu foi expulso por trocar socos e pontapés com Jefferson (do seu próprio time!) e por ofensas ao árbitro, e Lula improvisou Rousseff
Meu amigo Spike é um rapper afro-americano louco por futebol, mas não sabe nada da história política recente do Brasil. Como vem pra Copa, me pediu um resumo. Som na caixa!
Depois de um início promissor em 2010, com apoio maciço da torcida, o atual campeão passa por má fase, com chutões para frente, muitas faltas e passes errados; começa a perder terreno e a ser envolvido por manobras adversárias pelas extremas e, principalmente, pelo centro. Parte da torcida começa a vaiar. Parte pede a volta do técnico anterior.
Esse estilo de jogar para a torcida, mas evitando tomar gol, começou com o time bicampeão do técnico Lula, capitaneado pelo impetuoso e catimbeiro Zé Dirceu, que tinha o seu ponto forte no meio de campo, com o craque Meirelles como volante protegendo a defesa, e o fino armador Palocci tocando a bola e distribuindo o jogo pela esquerda e pela direita.
O jogo virou quando Dirceu foi expulso, por trocar socos e pontapés com o volante Jefferson (do seu próprio time!) e por ofensas ao árbitro, e Lula improvisou a cabeça de área Rousseff para capitã do time. Cintura dura, ela não tinha a habilidade de Dirceu, mas era disciplinada, chegava junto e corria o campo todo. Com o time sob pressão, era preciso fechar a defesa diante de uma virada iminente, e Lula seguiu a máxima de Neném Prancha: “Arrecua os arfe pra evitar a catastre.”
Jogando com todo o time atrás da linha da bola, os adversários não conseguiam entrar na área e nem chutar em gol e começaram a cansar e a bater cabeça. O time de Lula cresceu e passou a fazer rápidos contra-ataques e a envolver o adversário bisonho, que tomava bola nas costas, errava nos passes e na tática de jogo, e, depois de perder várias oportunidades com o gol vazio, acabou tomando uma virada surpreendente.
Com vantagem no placar, Lula cozinhou o jogo e, aproveitando a fraqueza do adversário, teve uma vitória folgada, com a capitã Rousseff fazendo os dois gols, um de canela e outro de barriga, e se tornando a nova técnica do time campeão.
Mas isso foi no campeonato passado. Agora é outro jogo. E a política, you know, is a small box of surprises.
Discurso fácil para eleição difícil - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 09/05
Pronunciamento de 1º de maio foi marcado por populismo, mistificação e negação
O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff à nação, em cadeia nacional de rádio e televisão, na véspera do 1º de maio, acabou recebendo menos atenção do que merece. Há boas razões para se crer que o que se ouviu no horário nobre do dia 30 seja a essência do discurso que a presidente pretende explorar ao longo dos próximos meses, na campanha da reeleição. E que o pronunciamento já possa ser visto como protótipo bastante avançado do melhor que o marqueteiro do Planalto conseguiu produzir, no esforço de concepção de um discurso eficaz que permita que a presidente enfrente o desafio da reeleição com razoável chance de sucesso. Se é esse o caso, é bem provável que a fragilidade do discurso tenha deixado o PT e o resto da base aliada ainda mais apreensivos com as reais possibilidades da candidatura Dilma Rousseff.
O pronunciamento combinou cenas de populismo explícito, mistificação do desempenho do governo em áreas especialmente problemáticas e negação de dificuldades óbvias que estão a exigir correções de rumo em 2015.
Logo de entrada, para não deixar dúvidas sobre suas reais intenções, a presidente permitiu-se abrir farto pacote de bondades, com anúncio de reajustes nos benefícios do Bolsa Família e na tabela de recolhimento de Imposto de Renda, seguido de reiteração do seu inarredável compromisso com a “valorização do salário mínimo”. Terminado o arroubo populista, a presidente sentiu-se à vontade para classificar seu governo como “o governo do crescimento com estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração correta das contas públicas”. Uma tríplice inverdade, para dizer o mínimo.
Essa foi a única vez que a palavra crescimento apareceu no discurso. Tampouco houve qualquer nova menção à situação fiscal. Quanto à inflação, a presidente tentou vender a fantasia de que os aumentos de preços têm sido “localizados”, “temporários” e, “na maioria das vezes, motivados por fatores climáticos”. E aproveitou para protestar contra “o uso político da inflação por aqueles que defendem o quanto pior melhor”.
Com o país agora à beira do racionamento de energia, a breve menção feita à desastrosa atuação do governo no setor elétrico parecia extraída de uma antologia de discurso político desonesto. Quem não ouviu o pronunciamento pode não acreditar, mas a historieta infantilizada da crise energética que a presidente se permitiu contar ao eleitorado, em cadeia nacional de rádio e televisão, foi a seguinte: “A tarifa de luz, por exemplo, teve a maior redução da história. A seca baixou o nível dos reservatórios e tivemos de acionar as termelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imaginem se nós não tivéssemos baixado as tarifas em 2013.”
O pronunciamento denota aposta arriscada num discurso fadado a ser percebido pela parcela mais esclarecida do eleitorado como enganoso e pouco respeitável, na esperança de que a grande maioria dos eleitores restantes possa ser iludida. Tal aposta parece baseada numa aritmética eleitoral primitiva, que soma eleitores beneficiários do Bolsa Família, trabalhadores ativos e inativos que recebem salário mínimo e a parte do eleitorado que, supostamente, se deixaria conquistar por promessas de que “nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial nem o da mão dura contra o trabalhador”.
No próprio PT, há grande ceticismo sobre o acerto da escolha de um discurso tão pouco respeitável e tão arriscado, para respaldar uma candidatura que já enfrenta sérias dificuldades. Não obstante o indisfarçável incômodo que vem causando ao Planalto, o movimento “Volta Lula” continua insepulto. Há poucos dias, no 14º Encontro Nacional do PT, houve nova tentativa de enterrá-lo. Vários próceres do partido foram convocados para assegurar de público que, desta vez, a ideia estava definitivamente afastada. Mas não vai ser tão fácil. O movimento, por mais bem enterrado que seja, parece sempre pronto a saltar da cova a cada nova dificuldade enfrentada pelo projeto de reeleição.
Pronunciamento de 1º de maio foi marcado por populismo, mistificação e negação
O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff à nação, em cadeia nacional de rádio e televisão, na véspera do 1º de maio, acabou recebendo menos atenção do que merece. Há boas razões para se crer que o que se ouviu no horário nobre do dia 30 seja a essência do discurso que a presidente pretende explorar ao longo dos próximos meses, na campanha da reeleição. E que o pronunciamento já possa ser visto como protótipo bastante avançado do melhor que o marqueteiro do Planalto conseguiu produzir, no esforço de concepção de um discurso eficaz que permita que a presidente enfrente o desafio da reeleição com razoável chance de sucesso. Se é esse o caso, é bem provável que a fragilidade do discurso tenha deixado o PT e o resto da base aliada ainda mais apreensivos com as reais possibilidades da candidatura Dilma Rousseff.
O pronunciamento combinou cenas de populismo explícito, mistificação do desempenho do governo em áreas especialmente problemáticas e negação de dificuldades óbvias que estão a exigir correções de rumo em 2015.
Logo de entrada, para não deixar dúvidas sobre suas reais intenções, a presidente permitiu-se abrir farto pacote de bondades, com anúncio de reajustes nos benefícios do Bolsa Família e na tabela de recolhimento de Imposto de Renda, seguido de reiteração do seu inarredável compromisso com a “valorização do salário mínimo”. Terminado o arroubo populista, a presidente sentiu-se à vontade para classificar seu governo como “o governo do crescimento com estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração correta das contas públicas”. Uma tríplice inverdade, para dizer o mínimo.
Essa foi a única vez que a palavra crescimento apareceu no discurso. Tampouco houve qualquer nova menção à situação fiscal. Quanto à inflação, a presidente tentou vender a fantasia de que os aumentos de preços têm sido “localizados”, “temporários” e, “na maioria das vezes, motivados por fatores climáticos”. E aproveitou para protestar contra “o uso político da inflação por aqueles que defendem o quanto pior melhor”.
Com o país agora à beira do racionamento de energia, a breve menção feita à desastrosa atuação do governo no setor elétrico parecia extraída de uma antologia de discurso político desonesto. Quem não ouviu o pronunciamento pode não acreditar, mas a historieta infantilizada da crise energética que a presidente se permitiu contar ao eleitorado, em cadeia nacional de rádio e televisão, foi a seguinte: “A tarifa de luz, por exemplo, teve a maior redução da história. A seca baixou o nível dos reservatórios e tivemos de acionar as termelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imaginem se nós não tivéssemos baixado as tarifas em 2013.”
O pronunciamento denota aposta arriscada num discurso fadado a ser percebido pela parcela mais esclarecida do eleitorado como enganoso e pouco respeitável, na esperança de que a grande maioria dos eleitores restantes possa ser iludida. Tal aposta parece baseada numa aritmética eleitoral primitiva, que soma eleitores beneficiários do Bolsa Família, trabalhadores ativos e inativos que recebem salário mínimo e a parte do eleitorado que, supostamente, se deixaria conquistar por promessas de que “nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial nem o da mão dura contra o trabalhador”.
No próprio PT, há grande ceticismo sobre o acerto da escolha de um discurso tão pouco respeitável e tão arriscado, para respaldar uma candidatura que já enfrenta sérias dificuldades. Não obstante o indisfarçável incômodo que vem causando ao Planalto, o movimento “Volta Lula” continua insepulto. Há poucos dias, no 14º Encontro Nacional do PT, houve nova tentativa de enterrá-lo. Vários próceres do partido foram convocados para assegurar de público que, desta vez, a ideia estava definitivamente afastada. Mas não vai ser tão fácil. O movimento, por mais bem enterrado que seja, parece sempre pronto a saltar da cova a cada nova dificuldade enfrentada pelo projeto de reeleição.
Hora da chantagem - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 09/05
BRASÍLIA - Os governos, tanto o federal quanto os estaduais, tiveram um bom exemplo ontem do que pode ocorrer até a Copa --não necessariamente durante a própria Copa.
Os sem-teto pintaram, bordaram e acabaram recebidos por Dilma em São Paulo. Motoristas e cobradores em greve no Rio, com ataques a mais de 450 ônibus. Sem-terra e servidores municipais sacudiram Salvador. Uma manifestação por melhorias disso e daquilo parou parte de Belo Horizonte. Uma outra, por melhores moradias, tumultuou Curitiba.
Tudo isso num clima contaminado por atrasos nas obras em aeroportos e estádios e de mobilidade urbana. E com mais uma morte de operário, ontem, num acidente.
E ainda falta mais de um mês para o início da Copa do Mundo, quando milhares de turistas virão e milhões de telespectadores/ouvintes/leitores estarão atentos aos campos e ao que ocorrerá em torno deles.
Várias categorias já estão se organizando ou ameaçam se mobilizar para, digamos, dar um susto nos governantes. Já imaginaram os profissionais do setor elétrico parando durante a Copa? E os motoristas de ônibus e táxis? E aeronautas e aeroviários? E médicos e enfermeiros?
Sem falar que, assim como surpreenderam o país em junho de 2013, manifestantes de todas ou de nenhuma causa podem estar esquentando as chuteiras para gritar "fora Fifa" ou "abaixo a Copa", ou "cadê a saúde e a educação?", enquanto os craques estiverem suando nos gramados.
A presidente, porém, desfila em solenidades, jantares, reuniões e twitter com um ar confiante. Ou a disciplinada Dilma vestiu a fantasia alegre que Lula e os marqueteiros impuseram, ou ela tem informações seguras dos serviços de inteligência e de seus arapongas de que tudo não passa de ameaças. Ou ambos.
A turma estaria só usando a Copa para pedir aumentos e vantagens e, no fim, todo mundo vai curtir a festa, torcer pela seleção, ver os gols do Neymar e se orgulhar do Brasil. Será?
BRASÍLIA - Os governos, tanto o federal quanto os estaduais, tiveram um bom exemplo ontem do que pode ocorrer até a Copa --não necessariamente durante a própria Copa.
Os sem-teto pintaram, bordaram e acabaram recebidos por Dilma em São Paulo. Motoristas e cobradores em greve no Rio, com ataques a mais de 450 ônibus. Sem-terra e servidores municipais sacudiram Salvador. Uma manifestação por melhorias disso e daquilo parou parte de Belo Horizonte. Uma outra, por melhores moradias, tumultuou Curitiba.
Tudo isso num clima contaminado por atrasos nas obras em aeroportos e estádios e de mobilidade urbana. E com mais uma morte de operário, ontem, num acidente.
E ainda falta mais de um mês para o início da Copa do Mundo, quando milhares de turistas virão e milhões de telespectadores/ouvintes/leitores estarão atentos aos campos e ao que ocorrerá em torno deles.
Várias categorias já estão se organizando ou ameaçam se mobilizar para, digamos, dar um susto nos governantes. Já imaginaram os profissionais do setor elétrico parando durante a Copa? E os motoristas de ônibus e táxis? E aeronautas e aeroviários? E médicos e enfermeiros?
Sem falar que, assim como surpreenderam o país em junho de 2013, manifestantes de todas ou de nenhuma causa podem estar esquentando as chuteiras para gritar "fora Fifa" ou "abaixo a Copa", ou "cadê a saúde e a educação?", enquanto os craques estiverem suando nos gramados.
A presidente, porém, desfila em solenidades, jantares, reuniões e twitter com um ar confiante. Ou a disciplinada Dilma vestiu a fantasia alegre que Lula e os marqueteiros impuseram, ou ela tem informações seguras dos serviços de inteligência e de seus arapongas de que tudo não passa de ameaças. Ou ambos.
A turma estaria só usando a Copa para pedir aumentos e vantagens e, no fim, todo mundo vai curtir a festa, torcer pela seleção, ver os gols do Neymar e se orgulhar do Brasil. Será?
A volta do retorno - FERNANDO GABEIRA
O ESTADO DE S. PAULO - 09/05
Na entrevista de Lula, o que me preocupou mais foi ele ter encarnado um Dom Sebastião
Cuidado com a volta do retorno." Quem me dizia sempre isso era Marinho Celestino, um cabeleireiro capixaba que estudou cinema em Paris e morreu no Brasil. Não sei se queria expressar com isso a circularidade do tempo ou se usava a expressão apenas para advertir os perigos de uma recaída. O movimento 'Volta, Lula" sempre me lembra a expressão de Marinho Celestino: a volta do retomo, uma espécie de bumerangue.
Durante um tempo, ele se comportou apenas como um ex-presidente. Achei que merecia o habeas língua que sempre conferimos àqueles que já cumpriram sua tarefa. Clarice Lispector, num belo conto chamado Feliz Aniversário, conta a história de uma festa para a mulher que fazia 89 anos e de quem todos queriam arrancar uma palavra. A velha permaneceu calada, apesar de muitas provocações, até que, no final da festa, resolveu falar só isto: "Não sou surda!".
Para mim, Lula ainda é um jovem. Desenvolvi uma tolerância a suas frases e, em certos momentos, até me diverti com elas. Era só um ex-presidente, com direito a parar de fazer sentido.
Agora, que querem lançá-lo de novo à Presidência, é preciso ter cuidado com a volta do retorno. Não me preocupa tanto que tenha dito que o julgamento do mensalão foi 80% político e 20% técnico. Lula aprendeu, ao longo destes anos, a usar os números para tornar a mentira convincente. Se o apertarmos num debate, ele vai conceder: "Está bem, então 79% político, 21% técnico". Ele sabe que números quebrados convencem ainda mais que os redondos. O que me preocupou mais nessa entrevista aos portugueses foi ele ter encarnado o espírito de salvador, um arquétipo da nossa cultura luso- brasileira, um Dom Sebastião.
Ele disse que, apesar do que noticiavam os jornais, TV e oposição, o povo sempre olharia nos seus olhos e acreditaria na sua verdade. Isso implica uma visão pobre da democracia e, sobretudo, do povo. Como se as pessoas fossem completamente blindadas diante do debate nacional, como se não fossem curiosas, não formassem opinião por meio da troca de ideias, como se não estivessem constantemente reavaliando suas crenças com novos dados.
Nessa frase de Lula, o povo só se acende com o seu olhar hipnótico e é nele que procura a verdade, não nos fatos e nas evidências que se desdobram.
Cuidado com a volta do retorno. A realidade mostra que as pessoas avançaram, que valorizam melhorias materiais, mas pedem também mais do que isso. Seria interessante para o PT e para o próprio Lula darem uma volta pelas ruas do Brasil e tentar a fórmula olho no olho. No mínimo, vão se desapontar.
Lula não conseguiu, com olhar magnético, convencer o povo brasileiro de que a Copa foi uma decisão acertada num país com tantas dificuldades. Tanto ele quanto Gilberto Carvalho ficam perplexos diante das críticas. Como é possível não celebrar a Copa no Brasil? Neste caso, a fantasia de uma identificação mítica com o povo vai para o espaço. Como restaurá-la? Com olho no olho? O olhar número cinco falhou. A única saída é partir para outros truques, como, por exemplo, fazer com que os copos se movam sozinhos nas mesas, como naquelas sessões espíritas no princípio do século 20.
Na entrevista em Portugal, Lula procurou explicar também por que o povo olhava no seu olho e o apoiava. Mencionou, mais uma vez, a história da mãe que o aconselhou a andar sempre de cabeça erguida. Um conselho de mãe e o olho no olho são os talismãs que o protegem de todas as acusações, que lhe dão força, inclusive, para proteger em seu governo grandes e pequenos bandidos da política nacional. Não e à toa que alguns ratos começam a abandonar o navio da candidatura Dilma. Eles anseiam também por migalhas desse poder de Lula, querem se esconder embaixo do manto protetor.
E Dilma, ou o fantasma dela, apareceu na televisão. Gostei da maquilagem, do tom da pele, embora para muitos ela estivesse um pouco pálida. Os profissionais trabalharam bem no rosto, no penteado e mesmo nas ideias do texto. Você querem mudança? Nós somos a mudança.
Está chegando um tempo em que o abuso das palavras perde sua elasticidade. Um tempo em que a onipotência de um suposto magnetismo tem de descer ao mundo dos debates, do choque de ideias, da avaliação permanente dos rumos do País. E o ocaso da magia. Da cartola, saem apenas os velhos e combalidos coelhos: aumento da cesta básica, modesta redução no Imposto de Renda.
O naufrágio se define com a perda do horizonte. Mesmo o famoso mercado parece esperar a derrota de Dilma. Quando cai nas pesquisas, a Bolsa sobe. Mas nem sempre o mercado tem razão diante da política. Senão, substituiríamos o debate parlamentar pelo grito dos corretores na Bolsa. Realizar uma política social generosa, muitas vezes,bate de frente com o mercado. Só é possível levá-la adiante, de fato, num quadro econômico de crescimento sustentável. E parece existir no mercado a compreensão de que a atual política econômica está fracassando, de que Dilma foi má administradora em campos vitais, como a energia, e incompetente para deter a degradação da Petrobrás.
Não sei como Dilma e Lula vão se apresentar na campanha. Ele vai precisar de uma lente de contatos para mudar a cor dos olhos, em caso de necessidade. Dilma não poderá repetir apenas o que escrevem os marqueteiros. Ela apenas registrou que os ratos abandonavam o barco, mas não se perguntou em nenhum momento por que o barco começa a afundar.
No debate, os dois, cada um com seu estilo, vão ter de explicar o que fizeram do Brasil, que se vê agora sugado pela corrupção, gastando fortunas com as obras de uma Copa trazida pela visão megalomaníaca de Lula. Na África do Sul, ele até convidou atletas estrangeiros para se mudarem para o Brasil porque haveria tanta competição esportiva que nossas equipes não seriam capazes de disputar todas.
Nada como esperar a campanha presidencial de 2014. Por enquanto, o discurso do governo é 80% mentira e 20% malandragem.
Melhorar a cobrança - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 09/05
Quanto mais o IBGE conhecer o Brasil, melhor será o conhecimento que o governo e a opinião pública terão do país e de seus problemas
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é um órgão exclusivamente técnico. Pelo menos em tese, ele divulga suas pesquisas sem levar em conta as consequências políticas dos números que colhe. Por exemplo, quando eles revelam a quantas anda o mercado de trabalho no país.
E, se a taxa de desemprego está mais alta do que se deseja, a notícia não é apenas vista com desalento pelos trabalhadores: ela também provoca suores frios nos partidos e políticos que mandam no país.
No mês passado, o IBGE decidiu suspender uma nova pesquisa, de óbvia importância. Ela atende pelo nome de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, e serve para mostrar a quantas anda o mercado de trabalho no país. Se os números são positivos, essa será boa notícia não apenas para os cidadãos: também enfeitará a imagem dos partidos e políticos que mandam no país.
Recentemente, o IBGE ampliara a pesquisa: era realizada em seis regiões e passou a ser feita no país inteiro. Obviamente, foi um progresso de grande importância. Mas alguém não gostou, e, no mês passado, anunciou-se que o trabalho fora engavetado e só voltaria no ano que vem. A razão seria uma confusão sobre prazos. Mas esta semana, o instituto voltou atrás. Note-se que representantes dos funcionários aplaudiram a retomada da pesquisa, mesmo que ela represente mais trabalho para eles.
O fim da questão é, sem dúvida, bastante positivo. Quanto mais o IBGE conhecer o Brasil, melhor será o conhecimento que o governo e a opinião pública terão do país e de seus problemas.
É certo que conhecê-los não é resolvê-los — mas, pelo menos, os cidadãos terão mais argumentos e mais força para cobrar bom serviço de quem nos governa.
Quanto mais o IBGE conhecer o Brasil, melhor será o conhecimento que o governo e a opinião pública terão do país e de seus problemas
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é um órgão exclusivamente técnico. Pelo menos em tese, ele divulga suas pesquisas sem levar em conta as consequências políticas dos números que colhe. Por exemplo, quando eles revelam a quantas anda o mercado de trabalho no país.
E, se a taxa de desemprego está mais alta do que se deseja, a notícia não é apenas vista com desalento pelos trabalhadores: ela também provoca suores frios nos partidos e políticos que mandam no país.
No mês passado, o IBGE decidiu suspender uma nova pesquisa, de óbvia importância. Ela atende pelo nome de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, e serve para mostrar a quantas anda o mercado de trabalho no país. Se os números são positivos, essa será boa notícia não apenas para os cidadãos: também enfeitará a imagem dos partidos e políticos que mandam no país.
Recentemente, o IBGE ampliara a pesquisa: era realizada em seis regiões e passou a ser feita no país inteiro. Obviamente, foi um progresso de grande importância. Mas alguém não gostou, e, no mês passado, anunciou-se que o trabalho fora engavetado e só voltaria no ano que vem. A razão seria uma confusão sobre prazos. Mas esta semana, o instituto voltou atrás. Note-se que representantes dos funcionários aplaudiram a retomada da pesquisa, mesmo que ela represente mais trabalho para eles.
O fim da questão é, sem dúvida, bastante positivo. Quanto mais o IBGE conhecer o Brasil, melhor será o conhecimento que o governo e a opinião pública terão do país e de seus problemas.
É certo que conhecê-los não é resolvê-los — mas, pelo menos, os cidadãos terão mais argumentos e mais força para cobrar bom serviço de quem nos governa.
O paradoxo fundamental - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 09/05
SÃO PAULO - Partilho com Vladimir Safatle da preocupação em tornar o Brasil um país um pouco menos desigual. Receio, entretanto, que não existam medidas mágicas que nos levem a esse objetivo. Não há nenhuma dúvida de que a política tributária desempenha um papel-chave aqui, mas, se há uma verdade universal em relação aos impostos, é que nada é tão simples como pode parecer à primeira vista.
É verdade, como disse Safatle, que a alíquota máxima do imposto federal sobre patrimônio nos EUA --que equivale "grosso modo" ao nosso imposto estadual sobre heranças-- é de 40%, o que contrasta fortemente com os 4% a 8% cobrados no Brasil. Mas, no país ao norte, o limite de isenção foi de US$ 5,25 milhões por pessoa em 2013. Só o que excede esse valor sofre algum tipo de taxação.
O resultado disso e de outras sutilezas da legislação tributária (que incluem incentivos à constituição de "trusts" e fundações familiares) é que, em 2013, apenas 0,14% dos espólios de norte-americanos pagaram imposto federal. E, mesmo aí, devido às deduções legais, a alíquota média efetiva foi de 16,6% e não os 40%.
O problema de elevar muito esse tributo é que mexidas bruscas, especialmente numa economia globalizada, geram uma cascata de consequências nem sempre desejáveis. Os mais ricos podem simplesmente transferir ativos para outro país, levando embora a riqueza a ser taxada.
Numa dimensão mais filosófica, estamos diante de um problema até certo ponto insolúvel. É o que Steven Pinker chama de paradoxo fundamental da política: o amor que pais dedicam a seus filhos torna impossível que uma sociedade seja, ao mesmo tempo, justa, livre e igualitária. Se é justa, as pessoas que se esforçarem mais acumularão mais bens. Se é livre, elas os transmitirão a seus parentes. Mas, neste caso, a sociedade deixa de ser igualitária e justa, pois alguns herdarão riquezas pelas quais jamais trabalharam.
Brasil perde a Copa do planejamento e execução - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 09/05
China, com as Olimpíadas de 2008, fortaleceu a imagem de país empreendedor, capaz de planejar e executar grandes projetos. O Brasil não fez o mesmo no futebol
O atual momento, quase a um mês da Copa, serve para o resgate da surrada máxima de que “o futebol brasileiro só evoluiu da boca do túnel para dentro”. A imagem, criada para criticar a administração dos cartolas dos clubes e entidades, pode ser usada para ilustrar o saldo negativo no planejamento e execução do projeto do torneio, de que governos federal e estaduais são os responsáveis.
Não consolam fotos de jogos da Copa de 50 em que aparece um Maracanã ainda com enormes andaimes nas arquibancadas. As cenas podem não se repetir, mas o que foi prometido quando o país, em 2007,conquistou a escolha da sede da Copa de 2014, não será entregue. Este jogo está perdido.
O erro começou com a pressão brasileira para aumentar de oito para 12 o número de cidades-sede. Lula, ainda no Alvorada, deve ter arquitetado ampliar o palanque por onde desfilaria a sua sucessora, Dilma Rousseff, em campanha para a reeleição. Só a primeira parte do plano deu certo: ele elegeu Dilma. Mas usar jogos como palanque, os petistas são os primeiros a saber que seria uma insanidade, diante do mau humor que toma conta do país.
Não se antevê grandes problemas com estádios, embora tenham ocorrido atrasos de provocar ataques de nervos em Jérôme Valcke, o francês secretário-geral da Fifa. Uma das grandes falhas do projeto Copa é o pequeno legado, quando existe, para as populações das cidades-sede em termos de projetos de infraestrutura, principalmente para facilitar a locomoção das pessoas. No início, havia listadas 56 obras com este objetivo. Foram cortadas para 39, e talvez não cheguem a dez as que terão sido entregues até 12 de junho.
Outro gol contra foram os aeroportos. Por cegueira ideológica, o governo federal demorou muito a licitar terminais para serem administrados pela iniciativa privada, uma solução óbvia.
O Galeão, um dos símbolos da ineficiência histórica da estatal Infraero, só foi licitado no começo de abril. Melhorias efetivas, só para as Olimpíadas, daqui a dois anos. O problema nos aeroportos é menos de capacidade e mais de falta de conforto, em todos os sentidos, imposta aos viajantes. Outra derrota brasileira é nos custos. Dentro da tradição pátria, eles se multiplicam sem limites. Apenas no Itaquerão, de São Paulo, onde a Copa será aberta com o jogo do Brasil contra a Croácia, em 12 de junho, o orçamento de R$ 820 milhões já havia sido ultrapassado em R$ 300 milhões.
Seja ou não o Brasil hexa, tem-se de analisar as causas de todos os erros, e aprender com eles, talvez para evitar problemas nas Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. O legado das falhas tem função pedagógica a ser explorada. A China fez os Jogos Olímpicos de 2008 para fortalecer a imagem de um país empreendedor, capaz de planejar e executar grandes projetos. O Brasil perdeu uma oportunidade.
China, com as Olimpíadas de 2008, fortaleceu a imagem de país empreendedor, capaz de planejar e executar grandes projetos. O Brasil não fez o mesmo no futebol
O atual momento, quase a um mês da Copa, serve para o resgate da surrada máxima de que “o futebol brasileiro só evoluiu da boca do túnel para dentro”. A imagem, criada para criticar a administração dos cartolas dos clubes e entidades, pode ser usada para ilustrar o saldo negativo no planejamento e execução do projeto do torneio, de que governos federal e estaduais são os responsáveis.
Não consolam fotos de jogos da Copa de 50 em que aparece um Maracanã ainda com enormes andaimes nas arquibancadas. As cenas podem não se repetir, mas o que foi prometido quando o país, em 2007,conquistou a escolha da sede da Copa de 2014, não será entregue. Este jogo está perdido.
O erro começou com a pressão brasileira para aumentar de oito para 12 o número de cidades-sede. Lula, ainda no Alvorada, deve ter arquitetado ampliar o palanque por onde desfilaria a sua sucessora, Dilma Rousseff, em campanha para a reeleição. Só a primeira parte do plano deu certo: ele elegeu Dilma. Mas usar jogos como palanque, os petistas são os primeiros a saber que seria uma insanidade, diante do mau humor que toma conta do país.
Não se antevê grandes problemas com estádios, embora tenham ocorrido atrasos de provocar ataques de nervos em Jérôme Valcke, o francês secretário-geral da Fifa. Uma das grandes falhas do projeto Copa é o pequeno legado, quando existe, para as populações das cidades-sede em termos de projetos de infraestrutura, principalmente para facilitar a locomoção das pessoas. No início, havia listadas 56 obras com este objetivo. Foram cortadas para 39, e talvez não cheguem a dez as que terão sido entregues até 12 de junho.
Outro gol contra foram os aeroportos. Por cegueira ideológica, o governo federal demorou muito a licitar terminais para serem administrados pela iniciativa privada, uma solução óbvia.
O Galeão, um dos símbolos da ineficiência histórica da estatal Infraero, só foi licitado no começo de abril. Melhorias efetivas, só para as Olimpíadas, daqui a dois anos. O problema nos aeroportos é menos de capacidade e mais de falta de conforto, em todos os sentidos, imposta aos viajantes. Outra derrota brasileira é nos custos. Dentro da tradição pátria, eles se multiplicam sem limites. Apenas no Itaquerão, de São Paulo, onde a Copa será aberta com o jogo do Brasil contra a Croácia, em 12 de junho, o orçamento de R$ 820 milhões já havia sido ultrapassado em R$ 300 milhões.
Seja ou não o Brasil hexa, tem-se de analisar as causas de todos os erros, e aprender com eles, talvez para evitar problemas nas Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. O legado das falhas tem função pedagógica a ser explorada. A China fez os Jogos Olímpicos de 2008 para fortalecer a imagem de um país empreendedor, capaz de planejar e executar grandes projetos. O Brasil perdeu uma oportunidade.
O 'interesse todo' da CPI - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 09/05
Primeiro, a presidente Dilma Rousseff encabeçou uma metafórica passeata em direção ao Congresso Nacional, puxando o coro "Não vai ter CPI". Não tardou, porém, a ficar claro que o presidente do Senado, Renan Calheiros, em que pese ter exacerbado a sua condição de leguleio a serviço do governo, não conseguiria impedir a minoria oposicionista da Casa de exercer o seu inquestionável direito de investigar os presumíveis malfeitos da Petrobrás, a começar do desastroso negócio da Refinaria de Pasadena.
Quando a ficha caiu no Planalto, a palavra de ordem mudou para "Vamos melar a CPI". Tornou a dar errado. A jogada faltosa de incluir no inquérito os indícios de formação de cartel em contratos do Metrô de São Paulo, em gestões tucanas, e do Distrito Federal, administrado à época pelo DEM, para reduzir tudo a uma geleia geral, recebeu o merecido cartão vermelho da ministra Rosa Weber, do Supremo tribunal Federal (STF).
Diante disso, o lema passou a ser "Vai ter CPI só no Senado". Se tivesse começado por aí, Dilma talvez conseguiria neutralizar a iniciativa oposicionista, surgida da nota ao Estado na qual confessou que, no comando do Conselho de Administração da Petrobrás, aprovou em 2006 a compra de metade da instalação texana com base apenas em um resumo "técnica e juridicamente falho". Afinal, a maioria aliada controlaria os cargos decisivos, o ritmo e o rumo das apurações para esvaziá-las - com o País de olhos postos na Copa.
No entanto, já não bastassem os seus reflexos retardados, o governo subestimou a determinação dos adversários em transformar a investigação que seria manietada no Senado numa outra, com a mesma pauta, mas incluindo a Câmara - a CPI mista, ou CPMI. Resta a Renan, o aliado-mor de Dilma no Congresso, esmerar-se em protelar cada fase do processo. E só agora, provando que a sua incompetência não se limita à economia, o Planalto correu a emplacar a sua própria CPMI, a do cartel do Metrô paulistano.
É um ganho tático, mas não alivia a situação da presidente. Nos 50 dias a contar do seu chamado "sincericídio", ela não conseguiu se livrar das dúvidas e suspeitas sobre a sua responsabilidade pessoal no multimilionário mico de Pasadena. E quanto mais ela fala disso, mais parece se enredar. No jantar da terça-feira com uma dezena de jornalistas mulheres, ela afirmou não ter "temor nenhum" da CPI da Petrobrás, quando até o piso do Alvorada há de saber do seu empenho em abortá-la. Sem querer, disse uma verdade inconveniente com a frase "O interesse todo nessa história sou eu".
É, sim. Mas isso se deve - eleições à parte - às versões contraditórias sobre o que ela sabia dos termos da malfadada aquisição da refinaria. Dito de outro modo, se é fato que Dilma lhe deu o sinal verde amparada apenas em um texto de página e meia - que omitia as duas cláusulas das quais diria que se as conhecesse teria barrado o negócio -, ela deveria ter sustado a decisão até o recebimento de informações mais substantivas. Não o tendo feito, foi irresponsável. Dias depois de sua nota, o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, retrucou que o Conselho tinha acesso a toda a documentação a respeito.
Mais indigesto, para Dilma, foi o depoimento - na mesma linha - do ex- diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, à comissão criada na empresa para apurar o caso. Autor do resumo criticado pela presidente, ele foi demitido em março da diretoria da BR Distribuidora para a qual havia sido transferido em consequência do affair Pasadena. Conforme revelou O Globo na quarta-feira, Cerveró disse que, de fato, o seu texto não mencionava as cláusulas porque a principal delas, a Put Option, que obrigou a estatal a ficar com a refinaria inteira, constava do parecer jurídico encaminhado ao Conselho a tempo e a hora - assim como, entre outros documentos, a íntegra do contrato com os donos da refinaria.
Pode ser, numa hipótese caridosa, que a secretaria do colegiado não tenha distribuído a papelada aos seus membros. Mas, nesse caso, volta-se ao ponto de partida: Dilma não poderia ter autorizado a fatídica votação que atolou a Petrobrás em Pasadena. Só isso já justificaria o "interesse todo nessa história".
Primeiro, a presidente Dilma Rousseff encabeçou uma metafórica passeata em direção ao Congresso Nacional, puxando o coro "Não vai ter CPI". Não tardou, porém, a ficar claro que o presidente do Senado, Renan Calheiros, em que pese ter exacerbado a sua condição de leguleio a serviço do governo, não conseguiria impedir a minoria oposicionista da Casa de exercer o seu inquestionável direito de investigar os presumíveis malfeitos da Petrobrás, a começar do desastroso negócio da Refinaria de Pasadena.
Quando a ficha caiu no Planalto, a palavra de ordem mudou para "Vamos melar a CPI". Tornou a dar errado. A jogada faltosa de incluir no inquérito os indícios de formação de cartel em contratos do Metrô de São Paulo, em gestões tucanas, e do Distrito Federal, administrado à época pelo DEM, para reduzir tudo a uma geleia geral, recebeu o merecido cartão vermelho da ministra Rosa Weber, do Supremo tribunal Federal (STF).
Diante disso, o lema passou a ser "Vai ter CPI só no Senado". Se tivesse começado por aí, Dilma talvez conseguiria neutralizar a iniciativa oposicionista, surgida da nota ao Estado na qual confessou que, no comando do Conselho de Administração da Petrobrás, aprovou em 2006 a compra de metade da instalação texana com base apenas em um resumo "técnica e juridicamente falho". Afinal, a maioria aliada controlaria os cargos decisivos, o ritmo e o rumo das apurações para esvaziá-las - com o País de olhos postos na Copa.
No entanto, já não bastassem os seus reflexos retardados, o governo subestimou a determinação dos adversários em transformar a investigação que seria manietada no Senado numa outra, com a mesma pauta, mas incluindo a Câmara - a CPI mista, ou CPMI. Resta a Renan, o aliado-mor de Dilma no Congresso, esmerar-se em protelar cada fase do processo. E só agora, provando que a sua incompetência não se limita à economia, o Planalto correu a emplacar a sua própria CPMI, a do cartel do Metrô paulistano.
É um ganho tático, mas não alivia a situação da presidente. Nos 50 dias a contar do seu chamado "sincericídio", ela não conseguiu se livrar das dúvidas e suspeitas sobre a sua responsabilidade pessoal no multimilionário mico de Pasadena. E quanto mais ela fala disso, mais parece se enredar. No jantar da terça-feira com uma dezena de jornalistas mulheres, ela afirmou não ter "temor nenhum" da CPI da Petrobrás, quando até o piso do Alvorada há de saber do seu empenho em abortá-la. Sem querer, disse uma verdade inconveniente com a frase "O interesse todo nessa história sou eu".
É, sim. Mas isso se deve - eleições à parte - às versões contraditórias sobre o que ela sabia dos termos da malfadada aquisição da refinaria. Dito de outro modo, se é fato que Dilma lhe deu o sinal verde amparada apenas em um texto de página e meia - que omitia as duas cláusulas das quais diria que se as conhecesse teria barrado o negócio -, ela deveria ter sustado a decisão até o recebimento de informações mais substantivas. Não o tendo feito, foi irresponsável. Dias depois de sua nota, o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, retrucou que o Conselho tinha acesso a toda a documentação a respeito.
Mais indigesto, para Dilma, foi o depoimento - na mesma linha - do ex- diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, à comissão criada na empresa para apurar o caso. Autor do resumo criticado pela presidente, ele foi demitido em março da diretoria da BR Distribuidora para a qual havia sido transferido em consequência do affair Pasadena. Conforme revelou O Globo na quarta-feira, Cerveró disse que, de fato, o seu texto não mencionava as cláusulas porque a principal delas, a Put Option, que obrigou a estatal a ficar com a refinaria inteira, constava do parecer jurídico encaminhado ao Conselho a tempo e a hora - assim como, entre outros documentos, a íntegra do contrato com os donos da refinaria.
Pode ser, numa hipótese caridosa, que a secretaria do colegiado não tenha distribuído a papelada aos seus membros. Mas, nesse caso, volta-se ao ponto de partida: Dilma não poderia ter autorizado a fatídica votação que atolou a Petrobrás em Pasadena. Só isso já justificaria o "interesse todo nessa história".
Para todos os lados - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 09/05
Instalação de CPIs da Petrobras e do cartel de trens se submete ao interesse eleitoral, o que gera dúvidas sobre resultados concretos
É tarefa inglória tentar entender os trâmites e as chicanas que acompanham a criação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional.
O mais recente desenvolvimento da trama, determinado nesta quarta-feira pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), leva à formação de uma comissão mista, com deputados e senadores.
Cede-se, nesse ponto, às demandas da oposição, que enxergava pouco potencial inquisitivo na primeira CPI, composta exclusivamente de senadores.
Ao mesmo tempo, as forças governistas contabilizaram sua vitória. Renan mandou instalar outra Comissão Parlamentar de Inquérito, esta voltada aos contratos envolvendo trens nos governos de São Paulo e do Distrito Federal.
O escândalo paulista, em particular, atinge uma longa linhagem de administrações do PSDB, e as iniciativas para esclarecê-lo em âmbito estadual não foram, até aqui, minimamente convincentes.
Confrontado com as notícias de que um cartel organizava concorrências do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, o governador Geraldo Alckmin procurou desvencilhar-se das desconfianças que cercavam seu partido.
Entre outras medidas que de pouco serviram por enquanto, recorreu ao Judiciário. Afinal, consta que o próprio Estado sofreu prejuízos com o suposto acerto das licitações entre empresas privadas.
Ocorre que a Justiça ameaça desconsiderar o pleito, dadas as falhas técnicas com que foi encaminhado. Eram visíveis a olho nu. Primeiro, o governo estadual mencionava só uma empresa, mas um cartel é composto de várias.
Corrigida a omissão, a ruidosa iniciativa prosseguiu por mais alguns meses até recair, nesta semana, em seu segundo ridículo. Era preciso que o governo fizesse uma estimativa do montante perdido com os negócios suspeitos.
Por diversas vezes a administração paulista deixou de observar a exigência; impossível quantificar, afirma-se, o dano a ser reparado.
Teve-se, assim, uma ação judicial movida não se sabia direito contra quem, exigindo não se sabe quanto, em decorrência de supostas irregularidades que teriam sido praticadas sistematicamente por mais de uma década, mas de que ninguém, nas seguidas gestões tucanas, tinha conhecimento.
Diante de tanta inocência, é lícito que até os santos desconfiem. Tenta-se agora promover uma CPI sobre o caso, no âmbito federal --uma vez que da Assembleia Legislativa paulista, sob domínio do PSDB, nada há a esperar.
Em Brasília, as CPIs da Petrobras e do cartel se submetem, por sua vez, ao interesse eleitoral. É infelizmente duvidoso que os inquéritos resultem em dados concretos nesse clima; mas, quando as suspeitas de corrupção se generalizam por todos os partidos, é pelo menos saudável que nenhum lado saia preservado no processo.
Instalação de CPIs da Petrobras e do cartel de trens se submete ao interesse eleitoral, o que gera dúvidas sobre resultados concretos
É tarefa inglória tentar entender os trâmites e as chicanas que acompanham a criação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional.
O mais recente desenvolvimento da trama, determinado nesta quarta-feira pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), leva à formação de uma comissão mista, com deputados e senadores.
Cede-se, nesse ponto, às demandas da oposição, que enxergava pouco potencial inquisitivo na primeira CPI, composta exclusivamente de senadores.
Ao mesmo tempo, as forças governistas contabilizaram sua vitória. Renan mandou instalar outra Comissão Parlamentar de Inquérito, esta voltada aos contratos envolvendo trens nos governos de São Paulo e do Distrito Federal.
O escândalo paulista, em particular, atinge uma longa linhagem de administrações do PSDB, e as iniciativas para esclarecê-lo em âmbito estadual não foram, até aqui, minimamente convincentes.
Confrontado com as notícias de que um cartel organizava concorrências do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, o governador Geraldo Alckmin procurou desvencilhar-se das desconfianças que cercavam seu partido.
Entre outras medidas que de pouco serviram por enquanto, recorreu ao Judiciário. Afinal, consta que o próprio Estado sofreu prejuízos com o suposto acerto das licitações entre empresas privadas.
Ocorre que a Justiça ameaça desconsiderar o pleito, dadas as falhas técnicas com que foi encaminhado. Eram visíveis a olho nu. Primeiro, o governo estadual mencionava só uma empresa, mas um cartel é composto de várias.
Corrigida a omissão, a ruidosa iniciativa prosseguiu por mais alguns meses até recair, nesta semana, em seu segundo ridículo. Era preciso que o governo fizesse uma estimativa do montante perdido com os negócios suspeitos.
Por diversas vezes a administração paulista deixou de observar a exigência; impossível quantificar, afirma-se, o dano a ser reparado.
Teve-se, assim, uma ação judicial movida não se sabia direito contra quem, exigindo não se sabe quanto, em decorrência de supostas irregularidades que teriam sido praticadas sistematicamente por mais de uma década, mas de que ninguém, nas seguidas gestões tucanas, tinha conhecimento.
Diante de tanta inocência, é lícito que até os santos desconfiem. Tenta-se agora promover uma CPI sobre o caso, no âmbito federal --uma vez que da Assembleia Legislativa paulista, sob domínio do PSDB, nada há a esperar.
Em Brasília, as CPIs da Petrobras e do cartel se submetem, por sua vez, ao interesse eleitoral. É infelizmente duvidoso que os inquéritos resultem em dados concretos nesse clima; mas, quando as suspeitas de corrupção se generalizam por todos os partidos, é pelo menos saudável que nenhum lado saia preservado no processo.
Injustiça com as mãos - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 09/05
É assustador. Cidadãos se sentem no direito de fazer justiça com as próprias mãos. Ignoram as instituições do Estado e regridem aos tempos em que imperava a lei do mais forte. Ações da polícia consideradas abusivas recebem resposta violenta - ônibus incendiados com inacreditável frequência. Em São Paulo, a média atinge a inacreditável cifra de um veículo a cada dois dias.
Menores surpreendidos na prática de pequenos delitos, além de levar pancadas da população, são algemados a postes espalhados pela cidade. Pessoas incomodadas com a presença de mendigos ou moradores de rua sentem-se no direito de transformá-los em tochas humanas. Manifestações homofóbicas deixam saldo de cadáveres, mutilados e feridos.
O horror dos horrores aconteceu na semana passada. Não foi em estado remoto nem em comunidade movida por fanatismo religioso. O fato ocorreu na mais importante unidade da Federação brasileira. Fabiane Maria de Jesus, dona de casa de 33 anos, mãe de dois filhos, morava em Guarujá, município que, com uma das mais belas costas do litoral paulista, recebe turistas nacionais e estrangeiros.
Com base em retrato falado de mulher que sequestrava crianças para rituais de magia negra (divulgado na internet), Fabiane sofreu espancamentos até a morte. Homens e mulheres arrastaram-na pela rua, chutaram-na, deram-lhe pancadas na cabeça. Não faltou um ciclista que passou por cima do corpo ferido. Presentes que não participaram diretamente do linchamento fotografaram as cenas com a câmera do celular.
Fabiane era inocente. E se fosse culpada? Em nenhuma hipótese se podem aceitar métodos medievais de punição. O Estado moderno detém o monopólio do uso legítimo da força física dentro do território. Cabe à polícia, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário garantir a sociedade contra a violência. Leis asseguram o direito à ampla defesa de qualquer pessoa seja qual for o crime de que é acusada. Ignorar as conquistas da civilização é voltar aos tempos da barbárie.
É preocupante a escalada do justiçamento no país. Brasileiros agem com a certeza da impunidade. Urge análise das causas da descrença na Justiça. A infinidade de recursos, que leva à tramitação demorada do processo, dá a impressão de que crimes ficam sem punição. Basta ter recursos para pagar bons advogados. O descrédito na efetiva resposta do Estado autoriza a pensar que o linchamento de Fabiane não foi o capítulo final da novela de terror. Outros virão. Impõe-se agir. Agora.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“A marca de Dilma é o retrocesso”
Marina Silva ao comparar as marcas dos governos Dilma e Fernando Henrique Cardoso
EX-DIRETOR DA PETROBRAS SERIA DONO DE DEZ NAVIOS
Investigadores da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, suspeitam que Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal, “operador” de negócios nada republicanos envolvendo a Petrobras e figurões da política, acumulou fortuna que incluiria dez navios, inclusive petroleiros, dos quais seria dono e/ou sócio. Supostas relações com a Transpetro, subsidiária da Petrobras, ainda serão esclarecidas pelas investigações.
DEPOIMENTO
A oposição acha que Sergio Machado, presidente da Transpetro, poderá ajudar a CPI a esclarecer pontos obscuros do caso Lava Jato.
COSTAS LARGAS
Sergio Machado foi indicado e é mantido na presidência da Transpetro há 11 anos, graças à força política do amigo Renan Calheiros.
BATOM NA CUECA
Foram casuais as descobertas mais importantes da PF sobre Paulo Roberto Costa. Ele anotava nomes, datas, valores, negócios, tudo.
INTIMIDADE FATAL
Íntimo dos poderosos, Paulo Roberto Costa era chamado por “PR” pelos políticos ou “Paulinho”, como o ex-presidente Lula o tratava.
FATURA DOS CARTÕES JÁ PASSA DE R$ 10,5 MILHÕES
O governo Dilma ultrapassou os R$ 10,5 milhões em gastos com os cartões corporativos no primeiro trimestre do ano, segundo o Portal Transparência. A novidade fica por conta dos gastos da bisbilhoteira Agência Brasileira de Inteligência (Abin), empatados com a Presidência da República. A Abin torrou R$ 1,713 milhão contra R$ 1,749 milhão do gabinete de Dilma. Ninguém sabe em quê: é tudo “segredo de Estado”.
COMPANHEIRO?
Raro cartão da Presidência com contas abertas mostra gastos de R$ 10 mil com gasolina em um posto de São Bernardo (SP), onde mora Lula.
VOLTAS NO PAÍS
Com abastecimentos semanais de quase R$ 800, o combustível gasto daria para completar quase duas voltas pelas fronteiras do Brasil.
BOM PARA CREDOR
Já passou a barreira dos R$ 300 bilhões os gastos diretos do governo federal com amortização e juros da dívida pública, em 2014.
TAPA NO VISUAL
O presidiário Delúbio Soares implicou e até exigiu a demissão do agente penitenciário que o mandou raspar a barba, mas apara cabelos e bigodes com um barbeiro que o visita em seu gabinete na CUT.
MEGALONANIQUICE EM LIVRO
O Ministério das Relações Exteriores vai lançar um livro sobre as “realizações” da política externa nos últimos doze anos. Não será o livro branco, mas o livro em branco da diplomacia brasileira, nos anos do megalonanico ex-ministro Celso Amorim e sua turma.
HAJA SUJEIRA
Já tem mais de 5 mil páginas o processo contra Rosemary Noronha, amiga íntima do ex-presidente Lula e antiga chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, acusada inclusive de tráfico de influência.
CAI-CAI
Assim como a oposição a cada pesquisa divulgada, o diretor de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, não conseguiu se segurar e deu um sorriso ao ver o tropeço de Dilma, ontem, no Itaquerão.
ROMPIMENTO
Com a queda persistente de Dilma nas pesquisas, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), articula junto a dirigentes estaduais para aumentar a pressão pela liberação do tempo nacional de TV do partido.
AGORA É TARDE
Maria do Rosário (Direitos Humanos) andou teorizando no Twitter sobre “justiçamentos”, como o da pobre mulher linchada no Guarujá. Mas sua ex-secretaria nem sequer se fez representar no enterro da vítima.
SÃO PEDRO TINHA PRESSA
Em seu último show terça (6), em São Lourenço (MG), Jair Rodrigues deu risadas, plantou bananeira e, após cantar Romaria, olhou para o alto e se dirigiu à saudosa Elis Regina: “Olha, Pimentinha, dê um abraço aí no São Pedro e diga a ele que não estou com pressa, não!”.
BRIGA INTERNA
O deputado Guilherme Campos (PSD) ficou uma arara com o ministro do partido, Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa), que mudou de última hora texto do projeto do Super Simples, sem sequer consultá-lo.
BURRO EM PÉ
Greves nos transportes públicos, como a que infernizou os cariocas, ontem, mostram a face burra do sindicalismo brasileiro, que não hesita em penalizar os pobres, a “classe operária”.
PODER SEM PUDOR
SEM DICIONÁRIO
Ramiro Pereira, antes de passar pela Assembleia Legislativa e de se tornar conselheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, comandou a política de São José da Laje. Era vereador quando, durante discussão acalorada, partiu para o ataque frontal ao opositor:
- Vossa Excelência é um demagogo!
- Perdoe a ignorância, seu Ramiro, mas o que é um demagogo? - perguntou o opositor, humildemente.
Ramiro não reduziu o tom:
- Deve ser um cabrinha muito do safado, assim feito Vossa Excelência.
Marina Silva ao comparar as marcas dos governos Dilma e Fernando Henrique Cardoso
EX-DIRETOR DA PETROBRAS SERIA DONO DE DEZ NAVIOS
Investigadores da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, suspeitam que Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal, “operador” de negócios nada republicanos envolvendo a Petrobras e figurões da política, acumulou fortuna que incluiria dez navios, inclusive petroleiros, dos quais seria dono e/ou sócio. Supostas relações com a Transpetro, subsidiária da Petrobras, ainda serão esclarecidas pelas investigações.
DEPOIMENTO
A oposição acha que Sergio Machado, presidente da Transpetro, poderá ajudar a CPI a esclarecer pontos obscuros do caso Lava Jato.
COSTAS LARGAS
Sergio Machado foi indicado e é mantido na presidência da Transpetro há 11 anos, graças à força política do amigo Renan Calheiros.
BATOM NA CUECA
Foram casuais as descobertas mais importantes da PF sobre Paulo Roberto Costa. Ele anotava nomes, datas, valores, negócios, tudo.
INTIMIDADE FATAL
Íntimo dos poderosos, Paulo Roberto Costa era chamado por “PR” pelos políticos ou “Paulinho”, como o ex-presidente Lula o tratava.
FATURA DOS CARTÕES JÁ PASSA DE R$ 10,5 MILHÕES
O governo Dilma ultrapassou os R$ 10,5 milhões em gastos com os cartões corporativos no primeiro trimestre do ano, segundo o Portal Transparência. A novidade fica por conta dos gastos da bisbilhoteira Agência Brasileira de Inteligência (Abin), empatados com a Presidência da República. A Abin torrou R$ 1,713 milhão contra R$ 1,749 milhão do gabinete de Dilma. Ninguém sabe em quê: é tudo “segredo de Estado”.
COMPANHEIRO?
Raro cartão da Presidência com contas abertas mostra gastos de R$ 10 mil com gasolina em um posto de São Bernardo (SP), onde mora Lula.
VOLTAS NO PAÍS
Com abastecimentos semanais de quase R$ 800, o combustível gasto daria para completar quase duas voltas pelas fronteiras do Brasil.
BOM PARA CREDOR
Já passou a barreira dos R$ 300 bilhões os gastos diretos do governo federal com amortização e juros da dívida pública, em 2014.
TAPA NO VISUAL
O presidiário Delúbio Soares implicou e até exigiu a demissão do agente penitenciário que o mandou raspar a barba, mas apara cabelos e bigodes com um barbeiro que o visita em seu gabinete na CUT.
MEGALONANIQUICE EM LIVRO
O Ministério das Relações Exteriores vai lançar um livro sobre as “realizações” da política externa nos últimos doze anos. Não será o livro branco, mas o livro em branco da diplomacia brasileira, nos anos do megalonanico ex-ministro Celso Amorim e sua turma.
HAJA SUJEIRA
Já tem mais de 5 mil páginas o processo contra Rosemary Noronha, amiga íntima do ex-presidente Lula e antiga chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, acusada inclusive de tráfico de influência.
CAI-CAI
Assim como a oposição a cada pesquisa divulgada, o diretor de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, não conseguiu se segurar e deu um sorriso ao ver o tropeço de Dilma, ontem, no Itaquerão.
ROMPIMENTO
Com a queda persistente de Dilma nas pesquisas, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), articula junto a dirigentes estaduais para aumentar a pressão pela liberação do tempo nacional de TV do partido.
AGORA É TARDE
Maria do Rosário (Direitos Humanos) andou teorizando no Twitter sobre “justiçamentos”, como o da pobre mulher linchada no Guarujá. Mas sua ex-secretaria nem sequer se fez representar no enterro da vítima.
SÃO PEDRO TINHA PRESSA
Em seu último show terça (6), em São Lourenço (MG), Jair Rodrigues deu risadas, plantou bananeira e, após cantar Romaria, olhou para o alto e se dirigiu à saudosa Elis Regina: “Olha, Pimentinha, dê um abraço aí no São Pedro e diga a ele que não estou com pressa, não!”.
BRIGA INTERNA
O deputado Guilherme Campos (PSD) ficou uma arara com o ministro do partido, Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa), que mudou de última hora texto do projeto do Super Simples, sem sequer consultá-lo.
BURRO EM PÉ
Greves nos transportes públicos, como a que infernizou os cariocas, ontem, mostram a face burra do sindicalismo brasileiro, que não hesita em penalizar os pobres, a “classe operária”.
PODER SEM PUDOR
SEM DICIONÁRIO
Ramiro Pereira, antes de passar pela Assembleia Legislativa e de se tornar conselheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, comandou a política de São José da Laje. Era vereador quando, durante discussão acalorada, partiu para o ataque frontal ao opositor:
- Vossa Excelência é um demagogo!
- Perdoe a ignorância, seu Ramiro, mas o que é um demagogo? - perguntou o opositor, humildemente.
Ramiro não reduziu o tom:
- Deve ser um cabrinha muito do safado, assim feito Vossa Excelência.