O GLOBO - 24/04
Projeto petista de reforma não toca no alicerce do sistema de poder, que sustenta o atual sistema político-partidário: a colonização do Estado pelos partidos
Benito Mussolini comandou a Marcha sobre Roma, em 1922, para assestar o golpe final no frágil governo conservador italiano. A marcha fascista reuniu menos de 30 mil militantes, mas triunfou: sob o temor da guerra civil, e estimulado pela crença de que Mussolini salvaria a Itália dos sindicatos vermelhos, o rei Vittorio Emanuele III entregou ao Duce a chefia do governo. Hoje, o PT anuncia uma Marcha sobre Brasília para impor a sua versão de uma reforma política. O projeto tem o aval de Dilma Rousseff, expresso na declaração presidencial de que “é preciso uma conjuntura que envolva as ruas para pressionar o Congresso a fazer a reforma política”. A história se repete, obviamente como farsa. A farsa, contudo, esclarece muita coisa.
Um embrião do projeto veio à luz num artigo assinado pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, no fim de janeiro. Intitulado “Uma perspectiva de esquerda para o Quinto Lugar”, o texto elucubrava sobre as virtudes do modelo econômico chinês para, na conclusão, preconizar a convocação de “uma nova Assembleia Nacional Constituinte no bojo de um amplo movimento político inspirado pelas jornadas de junho”, mas “com partidos à frente”. Não era uma proposta de médio prazo, mas um chamamento à ação: “Penso que as esquerdas no país devem abordar programaticamente estas novas exigências para o futuro, já neste processo eleitoral”, escreveu Genro.
As palavras de Genro têm um sentido. Assembleia Constituinte é, por definição, o órgão que, concentrando a soberania popular, introduz um novo regime. Historicamente, ela nasce da falência do Estado — ou seja, do desabamento do “antigo regime”. Quando, porém, é o próprio governo que, em plena democracia, conclama o povo a exigir a mudança de regime, estamos diante de uma tentativa de concentração de poder cujo alvo são as liberdades públicas e os direitos políticos da oposição. Por sorte, Genro não fala em nome do governo (e, aliás, esse é o motivo pelo qual ele se dá ao desfrute de publicar desvarios autoritários dessa espécie).
A mobilização anunciada pelo PT segue rota um tanto distinta. O partido prepara a coleta de 1,5 milhão de assinaturas para respaldar um projeto de lei de iniciativa popular articulado em torno das propostas de financiamento público de campanha eleitoral e voto em listas partidárias fechadas. No projeto petista, a “Assembleia Nacional Constituinte” cede lugar à curiosa ideia de uma “Constituinte exclusiva” destinada a legislar unicamente sobre a reforma política. A conclamação de Genro tinha uma certa coerência política: Assembleia Constituinte é, sempre e inevitavelmente, um órgão soberano, pois reúne os representantes eleitos pelo povo para produzir uma Constituição. A versão branda da Marcha sobre Brasília, por outro lado, equivale a inventar uma roda quadrada: uma Constituinte amputada de soberania, circunscrita a uma esfera de decisões desenhada pelo Executivo e pelo Congresso. É farsa — e um tanto ridícula.
A farsa, porém, tem a sua própria lógica. Por que, no 12º ano de poder, o lulopetismo proclama a urgência de uma ampla reforma política? A primeira resposta encontra-se no calendário eleitoral. Os estrategistas da reeleição de Dilma pretendem, por meio da Marcha sobre Brasília, colorir a campanha com as cores de um “mudancismo” ilusório, conectando-se de alguma forma com a vontade de mudança expressa nas jornadas de junho e registrada nas sondagens eleitorais. O sucesso do truque depende das reações — ou da ausência delas — dos candidatos oposicionistas.
A primeira resposta, entretanto, não perfura a película da questão. Segundo depoimento de uma militante, Dilma explicou a interlocutores de “movimentos sociais” que a reforma política “não é só uma questão de caneta”, pois “a maioria que ela tem no Congresso não é uma maioria em todos os temas”. As palavras da presidente têm um sentido. O lulopetismo almeja, efetivamente, um tipo singular de reforma política: a criação das regras mais propícias à cristalização de seu poder. A Marcha sobre Brasília é o instrumento escolhido para atemorizar os parceiros da santa aliança governista, dobrando-os à vontade do PT.
Os dois eixos da proposta petista de reforma política têm objetivos distintos. O financiamento público de campanha, que não exclui o recurso subterrâneo ao caixa 2, destina-se a libertar completamente os partidos da necessidade de arrecadar dinheiro junto à sua base eleitoral. Somado à manutenção do Fundo Partidário e do horário “gratuito” nos meios eletrônicos de comunicação, ele cristaliza a constelação de “partidos estatais” (que abrange os partidos de aluguel), funcionando como um escudo defensivo do conjunto da elite política. É, sobretudo, uma contrarreforma.
Já o voto em listas partidárias fechadas destina-se a reforçar o controle das direções partidárias sobre os representantes eleitos e, também, a ampliar o potencial eleitoral da sigla partidária com maior reconhecimento, que é o próprio PT. O principal prejudicado seria o PMDB, um partido-ônibus, heterogêneo e descentralizado, que congrega máquinas políticas estaduais. No cenário dos sonhos do PT, o parceiro privilegiado da coalizão de poder seria reduzido a um partido de porte médio, condenado a orbitar inerme, ao lado de outros, em torno da estrela vermelha.
Elucidativamente, o projeto petista de reforma não toca no alicerce do sistema de poder, que sustenta o atual sistema político-partidário: a colonização do Estado pelos partidos políticos. A oportunidade de conquistar frações valiosas do poder público — aparelhos ministeriais, empresas estatais, agências regulatórias — constitui o motor do sistema político brasileiro e, também, a fonte primária da corrupção estrutural no país. A Marcha sobre Brasília passará ao largo desse tema, que ocupa o lugar de um tabu no discurso falsamente reformista do PT.
quinta-feira, abril 24, 2014
A inflação do povo e dos economistas - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 24/04
Estão subindo bem acima da média preços que afetam todos: comida e serviços, de corte de cabelo a mensalidade escolar
Em fevereiro deste ano, o Datafolha perguntou em uma de suas pesquisas nacionais: você acha que a inflação vai aumentar ou vai cair? “Vai aumentar”, responderam 59% dos entrevistados. Já mostrava uma expectativa negativa.
No mesmo mês, analistas de fora do governo, consultados pelo Banco Central, estimavam que a inflação chegaria ao fim deste ano em 5,9%, medida pelo IPCA, índice do IBGE. Não chegava a ser uma novidade, pois a média de inflação nos últimos anos tem ficado em torno dos 6%. Mas continuava sendo um número alto, considerando que a meta oficial é de 4,5%, podendo ir até 6,5%, na margem de tolerância.
Vamos para abril. O Datafolha fez a mesma pergunta. E nada menos que 65% disseram que a inflação vai aumentar. Uma alta de seis pontos percentuais.
O BC, como faz toda semana, consultou novamente os analistas. No último dia 17, eles elevaram a previsão de inflação para este ano para 6,51%, conforme mostra o Boletim Focus, que pode ser acompanhado no site do BC. É só um pouquinho acima do teto da meta (a margem de tolerância), mas o movimento tem sido de alta direto. Além disso, é a primeira vez no ano que passa do teto.
Logo, especialistas e povo têm a mesma expectativa. Os economistas não acreditam que a alta de juros promovida pelo Banco Central e a promessa de corte de gastos do governo farão o efeito de bloquear a inflação. As pessoas ou os eleitores não acreditam nas repetidas afirmações da presidente Dilma, do ministro Mantega e do presidente do BC, Alexandre Tombini, segundo os quais o governo vai derrubar o IPCA.
Do ponto de vista técnico, se diz que o BC não está conseguindo “ancorar” as expectativas. No regime de metas, é meio caminho andado quando o mercado acredita que a “autoridade monetária” está mesmo empenhada em colocar a inflação no alvo e tem instrumentos e autonomia para fazer isso. No caso, autonomia para elevar os juros o quanto for necessário. O mercado acha o contrário, neste momento, e opera, negociando taxas de juros, por exemplo, na expectativa de que a inflação é alta e resiliente.
De ponto de vista da população, vale a experiência de compras. Índice de inflação de 6% é uma média entre preços que sobem e caem. Tem cigarro e cerveja no índice. Se você não fuma nem bebe, não percebe a inflação desses itens. Ocorre que estão subindo mais, bem acima da média, preços de itens que afetam todo mundo: comida e serviços em geral, desde corte de cabelo a mensalidade escolar. E, mais recentemente, tarifas de energia elétrica e de transporte público.
Até chegaram a cair preços de alguns eletrodomésticos, por causa da demanda mais fraca e do crédito mais difícil. Muitas pessoas perceberam, mas você não compra geladeira todo ano. Já supermercado e salão de beleza...
Nesse ambiente, acontece algo muito conhecido: quando todos acham que a inflação vai subir... ela sobe.
O empresário trata de colocar no preço a expectativa de alta. Os sindicatos começam a pedida salarial de 7% para cima. Se o mercado está aquecido, o prestador de serviço eleva seus preços mais frequentemente.
A persistência da inflação relativamente alta vai incomodando aos poucos. A pessoa está empregada, com salário em dia, mas toda semana vê que algo ficou mais caro. O dono do negócio, a um determinado momento, não sabe mais que preço estimar — e dá uma parada. O próprio governo vai ficando incomodado, pois seus integrantes percebem que precisam elevar alguns preços e salários.
A sensação de desconforto econômico se transforma em disposição de voto contra o governo. Esse é o maior risco para a presidente Dilma, além, claro, do caso Petrobras: entrar na campanha em ambiente inflacionário.
Mas, pergunta o leitor, não seria possível combater e derrubar essa alta de preços? Sim, é possível, mas, como o governo errou na política econômica, colhendo inflação alta e crescimento baixo, e como tolerou por muito tempo o ritmo elevado dos preços, o remédio necessário é cada vez mais amargo. E de efeitos demorados. Trata-se de juros ainda mais altos e de um forte corte nos gastos públicos, atitudes politicamente negativas e nas quais, a rigor, a presidente Dilma e o ministro Mantega nem acreditam.
Por isso, tentam controlar alguns preços “no braço” e ganhar a batalha das expectativas no grito. Toda hora repetem que a inflação está sob controle. Mas não é o que dizem os analistas e o povo, numa rara combinação.
Em fevereiro deste ano, o Datafolha perguntou em uma de suas pesquisas nacionais: você acha que a inflação vai aumentar ou vai cair? “Vai aumentar”, responderam 59% dos entrevistados. Já mostrava uma expectativa negativa.
No mesmo mês, analistas de fora do governo, consultados pelo Banco Central, estimavam que a inflação chegaria ao fim deste ano em 5,9%, medida pelo IPCA, índice do IBGE. Não chegava a ser uma novidade, pois a média de inflação nos últimos anos tem ficado em torno dos 6%. Mas continuava sendo um número alto, considerando que a meta oficial é de 4,5%, podendo ir até 6,5%, na margem de tolerância.
Vamos para abril. O Datafolha fez a mesma pergunta. E nada menos que 65% disseram que a inflação vai aumentar. Uma alta de seis pontos percentuais.
O BC, como faz toda semana, consultou novamente os analistas. No último dia 17, eles elevaram a previsão de inflação para este ano para 6,51%, conforme mostra o Boletim Focus, que pode ser acompanhado no site do BC. É só um pouquinho acima do teto da meta (a margem de tolerância), mas o movimento tem sido de alta direto. Além disso, é a primeira vez no ano que passa do teto.
Logo, especialistas e povo têm a mesma expectativa. Os economistas não acreditam que a alta de juros promovida pelo Banco Central e a promessa de corte de gastos do governo farão o efeito de bloquear a inflação. As pessoas ou os eleitores não acreditam nas repetidas afirmações da presidente Dilma, do ministro Mantega e do presidente do BC, Alexandre Tombini, segundo os quais o governo vai derrubar o IPCA.
Do ponto de vista técnico, se diz que o BC não está conseguindo “ancorar” as expectativas. No regime de metas, é meio caminho andado quando o mercado acredita que a “autoridade monetária” está mesmo empenhada em colocar a inflação no alvo e tem instrumentos e autonomia para fazer isso. No caso, autonomia para elevar os juros o quanto for necessário. O mercado acha o contrário, neste momento, e opera, negociando taxas de juros, por exemplo, na expectativa de que a inflação é alta e resiliente.
De ponto de vista da população, vale a experiência de compras. Índice de inflação de 6% é uma média entre preços que sobem e caem. Tem cigarro e cerveja no índice. Se você não fuma nem bebe, não percebe a inflação desses itens. Ocorre que estão subindo mais, bem acima da média, preços de itens que afetam todo mundo: comida e serviços em geral, desde corte de cabelo a mensalidade escolar. E, mais recentemente, tarifas de energia elétrica e de transporte público.
Até chegaram a cair preços de alguns eletrodomésticos, por causa da demanda mais fraca e do crédito mais difícil. Muitas pessoas perceberam, mas você não compra geladeira todo ano. Já supermercado e salão de beleza...
Nesse ambiente, acontece algo muito conhecido: quando todos acham que a inflação vai subir... ela sobe.
O empresário trata de colocar no preço a expectativa de alta. Os sindicatos começam a pedida salarial de 7% para cima. Se o mercado está aquecido, o prestador de serviço eleva seus preços mais frequentemente.
A persistência da inflação relativamente alta vai incomodando aos poucos. A pessoa está empregada, com salário em dia, mas toda semana vê que algo ficou mais caro. O dono do negócio, a um determinado momento, não sabe mais que preço estimar — e dá uma parada. O próprio governo vai ficando incomodado, pois seus integrantes percebem que precisam elevar alguns preços e salários.
A sensação de desconforto econômico se transforma em disposição de voto contra o governo. Esse é o maior risco para a presidente Dilma, além, claro, do caso Petrobras: entrar na campanha em ambiente inflacionário.
Mas, pergunta o leitor, não seria possível combater e derrubar essa alta de preços? Sim, é possível, mas, como o governo errou na política econômica, colhendo inflação alta e crescimento baixo, e como tolerou por muito tempo o ritmo elevado dos preços, o remédio necessário é cada vez mais amargo. E de efeitos demorados. Trata-se de juros ainda mais altos e de um forte corte nos gastos públicos, atitudes politicamente negativas e nas quais, a rigor, a presidente Dilma e o ministro Mantega nem acreditam.
Por isso, tentam controlar alguns preços “no braço” e ganhar a batalha das expectativas no grito. Toda hora repetem que a inflação está sob controle. Mas não é o que dizem os analistas e o povo, numa rara combinação.
Medo de sincericídio - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 24/04
O governo Dilma tem medo de sincericídio. Em nenhum momento a presidente e seus ministros são capazes de admitir que falharam e que corrigirão os erros. Não entendem que ao menos devem "ponhar um recado na porta", como o Arnesto, que também assumiu compromissos e não cumpriu o comprometido.
Se, apesar de promessas em contrário, o Brasil cresce essa mediocridade, que já perdura quase quatro anos, não é porque a confiança foi minada em consequência da escolha por más políticas; ou porque desarrumou a economia; ou, ainda, porque não há investimento. É porque a crise mundial não ajuda - repetem as autoridades da área econômica.
Se a inflação estoura o teto da meta e por lá persiste, mesmo que recue um pouco, não é porque o governo gaste demais, situação que não consegue ser tapada nem com as já conhecidas manobras de criatividade fiscal. Não é, também, porque permite o aquecimento excessivo do mercado do trabalho, como vem denunciando o Banco Central; ou porque represa os preços administrados e, assim, leva o mercado a adotar remarcações defensivas. É porque o clima não colabora e o governo brasileiro está sujeito a choques de oferta - como ainda ontem repisou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mesmo sabendo que a alta de preços está espalhada e não se concentra apenas nos alimentos.
Se os juros não caem, não é porque o governo emperre os mecanismos de transmissão da política monetária, como advertiu na semana passada o diretor de Política Econômica do Banco Central, e não combata a indexação (remarcação automática de preços), mas porque o mercado financeiro e os rentistas fazem jogo contra.
Se o investimento não decola, não é porque o governo durante tempo demais pretendeu tabelar a Taxa Interna de Retorno (TIR), a remuneração dos concessionários, porque faltam regras confiáveis de jogo e porque o governo não tem agilidade para promover concessões públicas. É porque o empresário é ganancioso e mal acostumado, quer lucro no mole, porque não consegue liberar seu espírito animal.
Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) despejou US$ 85 bilhões por mês (hoje despeja menos) para tirar a economia americana do marasmo, o governo Dilma reclamou de guerra cambial e do tsunami monetário. Com isso, queixaram-se da forte entrada de dólares no câmbio interno. Mas agora festeja as perspectivas de recuperação da economia dos Estados Unidos, graças à adoção dessas políticas.
Agora, é o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que anuncia respostas equivalentes para a área do euro, que corresponderão a emissões de pelo menos 1 trilhão de euros. No entanto, já não se vê a mesma disposição do governo brasileiro de reclamar de inundação de moeda estrangeira no câmbio interno.
Em nenhum momento, o governo admitiu que suas intervenções na área energética (energia elétrica e petróleo) estão produzindo graves distorções.
Quando não admite falhas e desqualifica opiniões divergentes, no pressuposto de que mais transparência é sincericídio e traz prejuízo eleitoral, também fica difícil mudar de rumo e, principalmente, fica difícil justificar a necessidade de mudança de rumo.
O governo Dilma tem medo de sincericídio. Em nenhum momento a presidente e seus ministros são capazes de admitir que falharam e que corrigirão os erros. Não entendem que ao menos devem "ponhar um recado na porta", como o Arnesto, que também assumiu compromissos e não cumpriu o comprometido.
Se, apesar de promessas em contrário, o Brasil cresce essa mediocridade, que já perdura quase quatro anos, não é porque a confiança foi minada em consequência da escolha por más políticas; ou porque desarrumou a economia; ou, ainda, porque não há investimento. É porque a crise mundial não ajuda - repetem as autoridades da área econômica.
Se a inflação estoura o teto da meta e por lá persiste, mesmo que recue um pouco, não é porque o governo gaste demais, situação que não consegue ser tapada nem com as já conhecidas manobras de criatividade fiscal. Não é, também, porque permite o aquecimento excessivo do mercado do trabalho, como vem denunciando o Banco Central; ou porque represa os preços administrados e, assim, leva o mercado a adotar remarcações defensivas. É porque o clima não colabora e o governo brasileiro está sujeito a choques de oferta - como ainda ontem repisou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mesmo sabendo que a alta de preços está espalhada e não se concentra apenas nos alimentos.
Se os juros não caem, não é porque o governo emperre os mecanismos de transmissão da política monetária, como advertiu na semana passada o diretor de Política Econômica do Banco Central, e não combata a indexação (remarcação automática de preços), mas porque o mercado financeiro e os rentistas fazem jogo contra.
Se o investimento não decola, não é porque o governo durante tempo demais pretendeu tabelar a Taxa Interna de Retorno (TIR), a remuneração dos concessionários, porque faltam regras confiáveis de jogo e porque o governo não tem agilidade para promover concessões públicas. É porque o empresário é ganancioso e mal acostumado, quer lucro no mole, porque não consegue liberar seu espírito animal.
Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) despejou US$ 85 bilhões por mês (hoje despeja menos) para tirar a economia americana do marasmo, o governo Dilma reclamou de guerra cambial e do tsunami monetário. Com isso, queixaram-se da forte entrada de dólares no câmbio interno. Mas agora festeja as perspectivas de recuperação da economia dos Estados Unidos, graças à adoção dessas políticas.
Agora, é o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que anuncia respostas equivalentes para a área do euro, que corresponderão a emissões de pelo menos 1 trilhão de euros. No entanto, já não se vê a mesma disposição do governo brasileiro de reclamar de inundação de moeda estrangeira no câmbio interno.
Em nenhum momento, o governo admitiu que suas intervenções na área energética (energia elétrica e petróleo) estão produzindo graves distorções.
Quando não admite falhas e desqualifica opiniões divergentes, no pressuposto de que mais transparência é sincericídio e traz prejuízo eleitoral, também fica difícil mudar de rumo e, principalmente, fica difícil justificar a necessidade de mudança de rumo.
Expectativas de Inflação - MÁRCIO GARCIA
VALOR ECONÔMICO - 24/04
A elevação, para além do limite superior da banda (6,5%), da mediana das expectativas da inflação compiladas pelo Banco Central (BC) para 2014, esquentou o debate sobre a condução da política macroeconômica. Ontem, neste espaço, Mário Mesquita analisou, com maestria, o quadro inflacionário e a ação do BC, mostrando por que a elevação da Selic, de 7,25% para os atuais 11%, não foi suficiente para domar a inflação. A parada iminente da subida da Selic, já sinalizada muito claramente pelo BC, terá de ser temporária, sob o risco de estouro da meta.
O gráfico sintetiza, desde 2001, o desempenho da sistemática de metas para inflação quanto às expectativas inflacionárias. A meta sofreu, inicialmente, várias alterações. Desde 2006, está fixa em 4,5%, com intervalo de tolerância de 2% até 6,5%. Compara-se a meta com a expectativa de inflação 12 meses à frente, prazo considerado razoável para que o BC faça a inflação convergir para a meta. A diferença entre as expectativas e a meta é a área intitulada desvios da meta . O gráfico contém também a taxa Selic.
De 2006 a 2010, os desvios da meta alternaram-se entre valores positivos e negativos, indicando que o mercado acreditava, então, que o BC perseguia, de fato, a meta de 4,5%. Nos anos recentes, isso deixa de ser verdade. Os desvios da meta tornaram-se sistematicamente positivos e crescentes. O gráfico também ilustra o efeito da taxa Selic sobre as expectativas inflacionárias. Até 2010, as elevações da Selic produziram sempre quedas significativas das expectativas de inflação (e também da inflação, embora não conste do gráfico). Isto também deixa de ocorrer, sobretudo após a repentina e canhestra redução da Selic, ao final de agosto de 2011. Em suma, houve flagrante perda de credibilidade da política monetária em anos recentes, como tem sido ratificado por diversos estudos.
A desancoragem das expectativas inflacionárias torna o trabalho do BC muito mais difícil. Prevendo inflação mais alta do que a meta, firmas remarcam preços mais intensamente, ao mesmo tempo que trabalhadores reivindicam salários mais elevados, na conhecida espiral de preços e salários. Para estancar o processo, o BC tem que elevar ainda mais os juros.
Há, entretanto, exemplos nos quais bancos centrais lograram reverter a desancoragem de expectativas sem ter que incorrer no custo de juros muito elevados. Em maio de 1997, após a vitória eleitoral do partido Trabalhista, o recém-nomeado primeiro-ministro Tony Blair conferiu independência ( instrument independence ) ao Banco da Inglaterra para perseguir a meta para inflação de 2,5%. Imediatamente, as expectativas inflacionárias, bem como as taxas de juros de longo prazo, caíram abruptamente, denotando o ganho de credibilidade do novo regime de política monetária.
É pouco provável que algo nessa linha possa ocorrer no Brasil até as eleições. Independentemente do ganhador, o próximo presidente deveria anunciar que promover o retorno da inflação à meta voltará a ser a prioridade do BC. Tal tarefa torna-se ainda mais difícil pela herança da inflação reprimida (energia elétrica, gasolina, tarifas públicas etc) que deverá ser repassada para 2015, estimada entre 120 e 150 pontos básicos. Conferir autonomia operacional ao BC, como fizeram os trabalhistas no Reino Unido em 1997, seria uma medida que reforçaria as credenciais anti-inflacionárias do novo governo. As novas prioridades deveriam se estender às demais políticas macroeconômicas, revertendo a expansão fiscal e parafiscal dos anos recentes. Por outro lado, a continuação do atual processo de perda de credibilidade do BC para além de 2014 pode colocar a inflação, e nossa economia, em uma trajetória muito arriscada. Oxalá isso não venha a ocorrer.
Para reancorar as expectativas, o presidente eleito terá de priorizar o retorno da inflação à meta
A elevação, para além do limite superior da banda (6,5%), da mediana das expectativas da inflação compiladas pelo Banco Central (BC) para 2014, esquentou o debate sobre a condução da política macroeconômica. Ontem, neste espaço, Mário Mesquita analisou, com maestria, o quadro inflacionário e a ação do BC, mostrando por que a elevação da Selic, de 7,25% para os atuais 11%, não foi suficiente para domar a inflação. A parada iminente da subida da Selic, já sinalizada muito claramente pelo BC, terá de ser temporária, sob o risco de estouro da meta.
O gráfico sintetiza, desde 2001, o desempenho da sistemática de metas para inflação quanto às expectativas inflacionárias. A meta sofreu, inicialmente, várias alterações. Desde 2006, está fixa em 4,5%, com intervalo de tolerância de 2% até 6,5%. Compara-se a meta com a expectativa de inflação 12 meses à frente, prazo considerado razoável para que o BC faça a inflação convergir para a meta. A diferença entre as expectativas e a meta é a área intitulada desvios da meta . O gráfico contém também a taxa Selic.
De 2006 a 2010, os desvios da meta alternaram-se entre valores positivos e negativos, indicando que o mercado acreditava, então, que o BC perseguia, de fato, a meta de 4,5%. Nos anos recentes, isso deixa de ser verdade. Os desvios da meta tornaram-se sistematicamente positivos e crescentes. O gráfico também ilustra o efeito da taxa Selic sobre as expectativas inflacionárias. Até 2010, as elevações da Selic produziram sempre quedas significativas das expectativas de inflação (e também da inflação, embora não conste do gráfico). Isto também deixa de ocorrer, sobretudo após a repentina e canhestra redução da Selic, ao final de agosto de 2011. Em suma, houve flagrante perda de credibilidade da política monetária em anos recentes, como tem sido ratificado por diversos estudos.
A desancoragem das expectativas inflacionárias torna o trabalho do BC muito mais difícil. Prevendo inflação mais alta do que a meta, firmas remarcam preços mais intensamente, ao mesmo tempo que trabalhadores reivindicam salários mais elevados, na conhecida espiral de preços e salários. Para estancar o processo, o BC tem que elevar ainda mais os juros.
Há, entretanto, exemplos nos quais bancos centrais lograram reverter a desancoragem de expectativas sem ter que incorrer no custo de juros muito elevados. Em maio de 1997, após a vitória eleitoral do partido Trabalhista, o recém-nomeado primeiro-ministro Tony Blair conferiu independência ( instrument independence ) ao Banco da Inglaterra para perseguir a meta para inflação de 2,5%. Imediatamente, as expectativas inflacionárias, bem como as taxas de juros de longo prazo, caíram abruptamente, denotando o ganho de credibilidade do novo regime de política monetária.
É pouco provável que algo nessa linha possa ocorrer no Brasil até as eleições. Independentemente do ganhador, o próximo presidente deveria anunciar que promover o retorno da inflação à meta voltará a ser a prioridade do BC. Tal tarefa torna-se ainda mais difícil pela herança da inflação reprimida (energia elétrica, gasolina, tarifas públicas etc) que deverá ser repassada para 2015, estimada entre 120 e 150 pontos básicos. Conferir autonomia operacional ao BC, como fizeram os trabalhistas no Reino Unido em 1997, seria uma medida que reforçaria as credenciais anti-inflacionárias do novo governo. As novas prioridades deveriam se estender às demais políticas macroeconômicas, revertendo a expansão fiscal e parafiscal dos anos recentes. Por outro lado, a continuação do atual processo de perda de credibilidade do BC para além de 2014 pode colocar a inflação, e nossa economia, em uma trajetória muito arriscada. Oxalá isso não venha a ocorrer.
Crise anunciada - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/04
A crise que deixou desfalcada a diretoria da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estava anunciada. Os diretores, em várias reuniões, disseram que não concordavam com a decisão do governo de que um condomínio, sem ativos, tomasse um empréstimo de R$11,2 bilhões. Quando aqui escrevi que havia uma crise, a CCEE negou. Ontem, três dos cinco diretores saíram.
A Câmara praticamente acéfala vai assinar um empréstimo sem pé nem cabeça. Não faz sentido que um ente privado que representa as entidades do setor — por isso é um condomínio —, cuja função é ser uma câmara de comercialização, vá socorrer as empresas distribuidoras.
Esse assunto é tão enrolado que a cada dia aparece um número inesperado, como o custo de R$ 4,7 bilhões de fevereiro, com o preço mais alto de termelétricas e energia comprada no mercado de curto prazo. Esse empréstimo foi arquitetado como mais uma maquiagem, das tantas do país das alquimias, para esconder que as distribuidoras estão quebradas, que o Tesouro está socorrendo as empresas, e que tudo isso será pago pelo consumidor.
Se fosse integralmente posto na conta do Tesouro, o estrago apareceria em sua dimensão exata e o superávit primário teria que ser reduzido. Por isso, o Ministério da Fazenda criou esse plano estranho, de a CCEE se endividar no mercado e ter como garantia uma anuência da Aneel de que parte das tarifas futuras será usada para pagar à Câmara.
O que foi discutido nas reuniões preliminares da Câmara de Energia é a responsabilidade por este empréstimo em caso de calote. Diretores temem ter que responder com seus bens. Por isso, três dos cinco diretores da CCEE saíram depois da aprovação na assembleia da contratação do empréstimo. A dívida será assumida amanhã. Alguns cotistas também têm o mesmo temor, em caso de não pagamento, mas ao mesmo tempo o setor está todo dependendo do governo e com medo de negar.
A operação foi aprovada por 87% dos 70% que compareceram. A maioria que aprova o empréstimo o faz constrangida pelo governo, da mesma forma que alguns bancos foram empurrados para esta operação, de dar uma montanha de dinheiro e ter como garantia uma anuência da agência reguladora a respeito de uma tarifa ainda não recolhida.
A cada novo lance dessa história, mais complexa ela fica.
O governo baixou o preço para fazer propaganda política, os custos cresceram, o consumo aumentou, as empresas não puderam repassar os novos custos e ficaram desequilibradas. O governo quis forçar o preço para baixo em leilões que deram errado e isso fez as empresas ficarem involuntariamente expostas ao mercado de curto prazo, ou seja, elas têm que comprar parte da energia que vendem ao preço que o mercado exigir. Com isso, veio também um ano péssimo do ponto de vista hidrológico e tudo ficou ainda mais grave.
O empréstimo seria de R$ 8 bilhões, passou para R$11,2 bilhões e pode não ser suficiente porque só em fevereiro o custo extra das distribuidoras foi de R$ 4,7 bilhões. As projeções de consultorias como a PSR indicam que se pode chegar ao fim do ano com apenas 10% de água nos reservatórios, mesmo usando todas as termelétricas, o que tornaria o racionamento inevitável no ano que vem.
A crise energética não foi provocada pela pouca chuva desse verão. Ela foi resultado da imperícia e da má administração. Além de deixar monstrengos, como essa dívida tomada pela CCEE para fazer algo que não é sua função — socorrer as distribuidoras —, a crise está legando uma complicada herança para 2015. Quem estiver no governo terá que desatar esse nó cuja origem é o populismo eleitoreiro no setor elétrico.
A crise que deixou desfalcada a diretoria da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estava anunciada. Os diretores, em várias reuniões, disseram que não concordavam com a decisão do governo de que um condomínio, sem ativos, tomasse um empréstimo de R$11,2 bilhões. Quando aqui escrevi que havia uma crise, a CCEE negou. Ontem, três dos cinco diretores saíram.
A Câmara praticamente acéfala vai assinar um empréstimo sem pé nem cabeça. Não faz sentido que um ente privado que representa as entidades do setor — por isso é um condomínio —, cuja função é ser uma câmara de comercialização, vá socorrer as empresas distribuidoras.
Esse assunto é tão enrolado que a cada dia aparece um número inesperado, como o custo de R$ 4,7 bilhões de fevereiro, com o preço mais alto de termelétricas e energia comprada no mercado de curto prazo. Esse empréstimo foi arquitetado como mais uma maquiagem, das tantas do país das alquimias, para esconder que as distribuidoras estão quebradas, que o Tesouro está socorrendo as empresas, e que tudo isso será pago pelo consumidor.
Se fosse integralmente posto na conta do Tesouro, o estrago apareceria em sua dimensão exata e o superávit primário teria que ser reduzido. Por isso, o Ministério da Fazenda criou esse plano estranho, de a CCEE se endividar no mercado e ter como garantia uma anuência da Aneel de que parte das tarifas futuras será usada para pagar à Câmara.
O que foi discutido nas reuniões preliminares da Câmara de Energia é a responsabilidade por este empréstimo em caso de calote. Diretores temem ter que responder com seus bens. Por isso, três dos cinco diretores da CCEE saíram depois da aprovação na assembleia da contratação do empréstimo. A dívida será assumida amanhã. Alguns cotistas também têm o mesmo temor, em caso de não pagamento, mas ao mesmo tempo o setor está todo dependendo do governo e com medo de negar.
A operação foi aprovada por 87% dos 70% que compareceram. A maioria que aprova o empréstimo o faz constrangida pelo governo, da mesma forma que alguns bancos foram empurrados para esta operação, de dar uma montanha de dinheiro e ter como garantia uma anuência da agência reguladora a respeito de uma tarifa ainda não recolhida.
A cada novo lance dessa história, mais complexa ela fica.
O governo baixou o preço para fazer propaganda política, os custos cresceram, o consumo aumentou, as empresas não puderam repassar os novos custos e ficaram desequilibradas. O governo quis forçar o preço para baixo em leilões que deram errado e isso fez as empresas ficarem involuntariamente expostas ao mercado de curto prazo, ou seja, elas têm que comprar parte da energia que vendem ao preço que o mercado exigir. Com isso, veio também um ano péssimo do ponto de vista hidrológico e tudo ficou ainda mais grave.
O empréstimo seria de R$ 8 bilhões, passou para R$11,2 bilhões e pode não ser suficiente porque só em fevereiro o custo extra das distribuidoras foi de R$ 4,7 bilhões. As projeções de consultorias como a PSR indicam que se pode chegar ao fim do ano com apenas 10% de água nos reservatórios, mesmo usando todas as termelétricas, o que tornaria o racionamento inevitável no ano que vem.
A crise energética não foi provocada pela pouca chuva desse verão. Ela foi resultado da imperícia e da má administração. Além de deixar monstrengos, como essa dívida tomada pela CCEE para fazer algo que não é sua função — socorrer as distribuidoras —, a crise está legando uma complicada herança para 2015. Quem estiver no governo terá que desatar esse nó cuja origem é o populismo eleitoreiro no setor elétrico.
Governo, o vilão da inflação - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 24/04
O vilão da inflação é o governo, como provou mais uma vez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em sua patética entrevista sobre a disparada dos preços. "Eu tenho certeza de que vamos terminar o ano dentro do limite de 6,5%. Não vamos ultrapassar", assegurou. A meta oficial é de 4,5%, mas as falas do ministro e da presidente Dilma Rousseff geralmente passam longe desse detalhe. A preocupação efetiva, como têm confirmado os números nos últimos quatro anos, é alcançar qualquer ponto até o limite da margem de tolerância. Tanto melhor se o resultado ficar em torno de 6%, de preferência pouco abaixo, como em 2012 e 2013. Mas esse pormenor é meramente decorativo. Mais de uma vez a presidente negou qualquer tolerância à inflação. Mais de uma vez a política oficial desmentiu suas palavras e desmoralizou suas promessas. Igualmente desmoralizante, a entrevista do ministro Mantega ainda acrescentou um toque grotesco ao cenário.
No dia anterior, a pesquisa Focus do Banco Central (BC), realizada com cerca de cem especialistas do mercado financeiro e de consultorias, havia mostrado pela primeira vez neste ano uma projeção de inflação acima do limite de tolerância. Na semana anterior, a mediana das projeções havia chegado a 6,47%, quase batendo no limite. O número divulgado na terça-feira, depois do feriadão, foi 6,51%. A novidade teve um enorme valor simbólico e político.
No mesmo dia circularam em Brasília, segundo registrou O Globo, conversas sobre uma possível mudança no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência oficial para o regime de metas. Dois temas incômodos foram acrescentados, portanto, à pauta de qualquer figura importante da equipe econômica. Não haveria como evitá-los.
Coube ao ministro da Fazenda enfrentar os dois desafios. Ele negou qualquer plano de alteração do IPCA. Segundo as conversas noticiadas, a ideia seria excluir do cálculo os preços dos alimentos.
No Brasil, nenhum argumento estatístico poderia justificar essa mudança. O custo da alimentação ainda é um componente importante do orçamento da maior parte das famílias. Eliminá-lo do índice cheio seria falsificar os dados do custo de vida. Além disso, quem quiser saber como ficaria o IPCA sem os preços dos alimentos e dos combustíveis pode satisfazer sua curiosidade consultando os núcleos calculados por várias consultorias.
Detalhe muito importante: as tendências mostradas por esses núcleos são às vezes piores que aquelas apontadas pelo índice completo. É uma tolice tentar explicar uma inflação tão alta quanto a brasileira pela evolução de um ou outro grupo de preços, os famigerados vilões.
Mas o ministro fala como se acreditasse nessa tolice. Segundo ele, a alta do IPCA acumulada em 12 meses poderá ultrapassar o limite de 6,5% em breve, mas logo diminuirá e ficará abaixo dessa marca no fim do ano.
Os analistas do mercado poderiam estar certos quanto ao curtíssimo prazo, mas errados em relação ao número final de 2014. Ótimo para o ministro e para a presidente, se eles se contentarem, como nos últimos anos, com qualquer resultado até o limite de tolerância, de 6,5%.
O ministro baseia sua convicção numa pitoresca teoria dos vilões da alta de preços. "Todo ano tem algum vilão na história da inflação, mas o importante é que seja apenas um vilão e os outros preços possam flutuar e cair ao longo do tempo, de acordo com a sazonalidade."
Quantos vilões serão necessários para explicar os resultados dos últimos quatro anos - 5,91% em 2010, 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013? E quantos são os vilões em atividade neste ano?
O ministro mencionou os preços de alimentos, as tarifas de energia elétrica (reprimidas desde o ano passado) e outros preços administrados, cada qual com "sua regra específica". E como falar em vilão, quando os preços em alta oscilam entre 65% e 70% do total, como têm oscilado?
Diplomado em economia, o ministro parece desconhecer fatores como as limitações da oferta e o excesso de demanda alimentado pelos estímulos ao consumo e pela gastança pública. Quem leva em conta esses fatores identifica o verdadeiro vilão.
O vilão da inflação é o governo, como provou mais uma vez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em sua patética entrevista sobre a disparada dos preços. "Eu tenho certeza de que vamos terminar o ano dentro do limite de 6,5%. Não vamos ultrapassar", assegurou. A meta oficial é de 4,5%, mas as falas do ministro e da presidente Dilma Rousseff geralmente passam longe desse detalhe. A preocupação efetiva, como têm confirmado os números nos últimos quatro anos, é alcançar qualquer ponto até o limite da margem de tolerância. Tanto melhor se o resultado ficar em torno de 6%, de preferência pouco abaixo, como em 2012 e 2013. Mas esse pormenor é meramente decorativo. Mais de uma vez a presidente negou qualquer tolerância à inflação. Mais de uma vez a política oficial desmentiu suas palavras e desmoralizou suas promessas. Igualmente desmoralizante, a entrevista do ministro Mantega ainda acrescentou um toque grotesco ao cenário.
No dia anterior, a pesquisa Focus do Banco Central (BC), realizada com cerca de cem especialistas do mercado financeiro e de consultorias, havia mostrado pela primeira vez neste ano uma projeção de inflação acima do limite de tolerância. Na semana anterior, a mediana das projeções havia chegado a 6,47%, quase batendo no limite. O número divulgado na terça-feira, depois do feriadão, foi 6,51%. A novidade teve um enorme valor simbólico e político.
No mesmo dia circularam em Brasília, segundo registrou O Globo, conversas sobre uma possível mudança no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência oficial para o regime de metas. Dois temas incômodos foram acrescentados, portanto, à pauta de qualquer figura importante da equipe econômica. Não haveria como evitá-los.
Coube ao ministro da Fazenda enfrentar os dois desafios. Ele negou qualquer plano de alteração do IPCA. Segundo as conversas noticiadas, a ideia seria excluir do cálculo os preços dos alimentos.
No Brasil, nenhum argumento estatístico poderia justificar essa mudança. O custo da alimentação ainda é um componente importante do orçamento da maior parte das famílias. Eliminá-lo do índice cheio seria falsificar os dados do custo de vida. Além disso, quem quiser saber como ficaria o IPCA sem os preços dos alimentos e dos combustíveis pode satisfazer sua curiosidade consultando os núcleos calculados por várias consultorias.
Detalhe muito importante: as tendências mostradas por esses núcleos são às vezes piores que aquelas apontadas pelo índice completo. É uma tolice tentar explicar uma inflação tão alta quanto a brasileira pela evolução de um ou outro grupo de preços, os famigerados vilões.
Mas o ministro fala como se acreditasse nessa tolice. Segundo ele, a alta do IPCA acumulada em 12 meses poderá ultrapassar o limite de 6,5% em breve, mas logo diminuirá e ficará abaixo dessa marca no fim do ano.
Os analistas do mercado poderiam estar certos quanto ao curtíssimo prazo, mas errados em relação ao número final de 2014. Ótimo para o ministro e para a presidente, se eles se contentarem, como nos últimos anos, com qualquer resultado até o limite de tolerância, de 6,5%.
O ministro baseia sua convicção numa pitoresca teoria dos vilões da alta de preços. "Todo ano tem algum vilão na história da inflação, mas o importante é que seja apenas um vilão e os outros preços possam flutuar e cair ao longo do tempo, de acordo com a sazonalidade."
Quantos vilões serão necessários para explicar os resultados dos últimos quatro anos - 5,91% em 2010, 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013? E quantos são os vilões em atividade neste ano?
O ministro mencionou os preços de alimentos, as tarifas de energia elétrica (reprimidas desde o ano passado) e outros preços administrados, cada qual com "sua regra específica". E como falar em vilão, quando os preços em alta oscilam entre 65% e 70% do total, como têm oscilado?
Diplomado em economia, o ministro parece desconhecer fatores como as limitações da oferta e o excesso de demanda alimentado pelos estímulos ao consumo e pela gastança pública. Quem leva em conta esses fatores identifica o verdadeiro vilão.
Justiça americana põe cota racial em xeque - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 24/04
Como os EUA foram o berço das ‘ações afirmativas’, a revogação do critério da cor da pele na matrícula em faculdades públicas americanas deveria levar Brasília à reflexão
Chega a ser curioso que não muito tempo depois de o Supremo Tribunal Federal brasileiro carimbar a cota racial para efeito de ingresso nas universidades públicas, a Suprema Corte dos Estados Unidos, berço deste tipo de ação afirmativa, decida, por maioria de votos, que a revogação deste critério discricionário na seleção de alunos, criado supostamente para combater desigualdades, não é inconstitucional.
É relevante a decisão porque os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, construíram uma sociedade com base na ideia de “raças", conceito cientificamente errado, além de política e socialmente deplorável. Mas mesmo lá, como se vê, não se trata de assunto pacífico.
O debate sobre cotas se reaviva a partir desta decisão, anunciada terça-feira, tomada sobre processo movido contra plebiscito realizado no estado de Michigan, no qual a revogação de cotas raciais e de gênero, para efeito de admissão em faculdades estaduais, foi aprovada por 58% dos eleitores. O objeto da consulta era a emenda à Constituição estadual que revoga as cotas na avaliação dos estudantes.
A redução do apoio a cotas não é de hoje. Vários estados já as proíbem — como Califórnia, Washington, Texas, Flórida. A decisão desta semana abre caminho a que outros estados sigam o mesmo caminho. Entre eles, Ohio, Missouri e Utah. A Suprema Corte também já havia vetado o uso de cotas em valores percentuais, mantendo apenas a aplicação do conceito na avaliação dos estudantes.
Não se trata de acabar com a política em si de ações afirmativas, mas de torná-las razoáveis, sem discriminar, por exemplo, o branco pobre. Nem servir de atenuante a governos que deixam de executar políticas amplas e eficientes de melhoria da educação pública básica, a melhor das ações afirmativas.
O ensino básico americano está em crise, e não é de agora. O fato tem sido observado na sequência de exames internacionais de proficiência (Pisa), em que o estudante adolescente americano tem apresentado baixo rendimento, principalmente em comparação com asiáticos (chineses, sul-coreanos) e alguns europeus. E é certo que a aplicação burocrática de cotas não favorece os americanos nessas comparações.
O jornal “New York Times” noticiou ontem que, diante da decisão dos juízes, reitores e outros responsáveis por estabelecimentos públicos de ensino superior já discutem alternativas às cotas, para continuar a incentivar a diversidade em suas escolas.
O critério de renda foi citado, a chamada cota social, também existente no Brasil. Esta não faz a odiosa discriminação pela cor da pele, não segrega o branco pobre.
O alerta vem dos Estados Unidos quando, no Brasil, o racialismo não para de avançar. Deveria fazer pensar por que cotas começam a cair em desgraça junto aos próprios americanos.
Como os EUA foram o berço das ‘ações afirmativas’, a revogação do critério da cor da pele na matrícula em faculdades públicas americanas deveria levar Brasília à reflexão
Chega a ser curioso que não muito tempo depois de o Supremo Tribunal Federal brasileiro carimbar a cota racial para efeito de ingresso nas universidades públicas, a Suprema Corte dos Estados Unidos, berço deste tipo de ação afirmativa, decida, por maioria de votos, que a revogação deste critério discricionário na seleção de alunos, criado supostamente para combater desigualdades, não é inconstitucional.
É relevante a decisão porque os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, construíram uma sociedade com base na ideia de “raças", conceito cientificamente errado, além de política e socialmente deplorável. Mas mesmo lá, como se vê, não se trata de assunto pacífico.
O debate sobre cotas se reaviva a partir desta decisão, anunciada terça-feira, tomada sobre processo movido contra plebiscito realizado no estado de Michigan, no qual a revogação de cotas raciais e de gênero, para efeito de admissão em faculdades estaduais, foi aprovada por 58% dos eleitores. O objeto da consulta era a emenda à Constituição estadual que revoga as cotas na avaliação dos estudantes.
A redução do apoio a cotas não é de hoje. Vários estados já as proíbem — como Califórnia, Washington, Texas, Flórida. A decisão desta semana abre caminho a que outros estados sigam o mesmo caminho. Entre eles, Ohio, Missouri e Utah. A Suprema Corte também já havia vetado o uso de cotas em valores percentuais, mantendo apenas a aplicação do conceito na avaliação dos estudantes.
Não se trata de acabar com a política em si de ações afirmativas, mas de torná-las razoáveis, sem discriminar, por exemplo, o branco pobre. Nem servir de atenuante a governos que deixam de executar políticas amplas e eficientes de melhoria da educação pública básica, a melhor das ações afirmativas.
O ensino básico americano está em crise, e não é de agora. O fato tem sido observado na sequência de exames internacionais de proficiência (Pisa), em que o estudante adolescente americano tem apresentado baixo rendimento, principalmente em comparação com asiáticos (chineses, sul-coreanos) e alguns europeus. E é certo que a aplicação burocrática de cotas não favorece os americanos nessas comparações.
O jornal “New York Times” noticiou ontem que, diante da decisão dos juízes, reitores e outros responsáveis por estabelecimentos públicos de ensino superior já discutem alternativas às cotas, para continuar a incentivar a diversidade em suas escolas.
O critério de renda foi citado, a chamada cota social, também existente no Brasil. Esta não faz a odiosa discriminação pela cor da pele, não segrega o branco pobre.
O alerta vem dos Estados Unidos quando, no Brasil, o racialismo não para de avançar. Deveria fazer pensar por que cotas começam a cair em desgraça junto aos próprios americanos.
Conformismo com inflação - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 24/04
Para o governo, o atual período de alta inflacionária vai passar e o país fechará 2014 com o aumento dos preços contido dentro da meta de 6,5% ao ano, embora esse seja o teto definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Bom, essa é a tese do ministro da Fazenda, Guido Mantega. E ele justifica tanta confiança com explicação singela: "É assim que acontece todos os anos". Resta saber se o comandante da economia combinou a repetição da história com os russos - como diria o eterno craque Garrincha, questionando o técnico da Seleção de 1958 se o comportamento recomendado a ele em campo estava acertado com o adversário para ser tão facilmente executado.
No caso de Mantega, certamente não há nada combinado. Seja do lado do consumidor, seja do lado do mercado, o que há é apreensão. A expectativa de quem compra caiu, em março, ao menor nível desde julho de 2009, atingindo 108,8 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Já a confiança de quem vende, calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve queda de 2,1% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. Motivação não faltou para que tais reações coincidissem, até porque nenhuma delas é fundamentada em pessimismo fortuito. Pelo contrário, são ambas fundadas na dura realidade nacional.
Afinal, já nos três primeiros meses de 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,18%. A título de comparação, nesse período, a poupança rendeu 1,70% e a média de rendimento dos fundos de investimento foi de 2,04%. Ou seja, o brasileiro não tem para onde correr. Assim, Mantega é quase uma ilha de despreocupação. Tudo bem, é verdade que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, esteja afinado com ele quanto à inflação fechar o ano no teto da meta. Mas o próprio BC previu na terça-feira, por meio do Boletim Focus, que o IPCA vai a 6,51% até dezembro. Na semana passada, a previsão era de 6,47%, portanto, ainda dentro do limite.
O que Mantega disse ontem que está em plenas condições de cumprir - e é melhor acreditar que assim será - é que o governo não fará uso de medidas heterodoxas para controlar, ou melhor, manipular, a inflação. Nada de mágica, como um expurgo aqui outro ali. A aposta dele é que a pressão inflacionária ceda naturalmente, com mercados sujeitos a sazonalidades e produtos que estão na entressafra - especialmente os hortifrutigranjeiros, que citou como prejudicados pelas chuvas mais escassas - vencendo os períodos difíceis e apresentando melhor oferta. Assim seja. Mas o país ficará menos desconfortável se o governo não cruzar os braços diante desse prognóstico.
Nem sequer é razoável seguir a toada de uma nota só da política monetária. Tentar domar a fera apenas com o garrote dos juros, enquanto o gigantesco Estado a alimenta com gastos perdulários, é enxugar gelo. Conformar-se com a inflação roçando o teto, outra atitude incompreensível das autoridades, só compatível com o crescimento igualmente despretencioso do Produto Interno Bruto. Este país precisa pensar grande. Sem rigoroso ajuste fiscal, ora relaxado, os preços serão sempre uma ameaça. O Brasil já perdeu oportunidades demais. É hora de encarar os problemas com firmeza e arrumar de vez a casa, para que as conquistas sociais possam ser mantidas e até ampliadas.
No caso de Mantega, certamente não há nada combinado. Seja do lado do consumidor, seja do lado do mercado, o que há é apreensão. A expectativa de quem compra caiu, em março, ao menor nível desde julho de 2009, atingindo 108,8 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Já a confiança de quem vende, calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve queda de 2,1% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. Motivação não faltou para que tais reações coincidissem, até porque nenhuma delas é fundamentada em pessimismo fortuito. Pelo contrário, são ambas fundadas na dura realidade nacional.
Afinal, já nos três primeiros meses de 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 2,18%. A título de comparação, nesse período, a poupança rendeu 1,70% e a média de rendimento dos fundos de investimento foi de 2,04%. Ou seja, o brasileiro não tem para onde correr. Assim, Mantega é quase uma ilha de despreocupação. Tudo bem, é verdade que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, esteja afinado com ele quanto à inflação fechar o ano no teto da meta. Mas o próprio BC previu na terça-feira, por meio do Boletim Focus, que o IPCA vai a 6,51% até dezembro. Na semana passada, a previsão era de 6,47%, portanto, ainda dentro do limite.
O que Mantega disse ontem que está em plenas condições de cumprir - e é melhor acreditar que assim será - é que o governo não fará uso de medidas heterodoxas para controlar, ou melhor, manipular, a inflação. Nada de mágica, como um expurgo aqui outro ali. A aposta dele é que a pressão inflacionária ceda naturalmente, com mercados sujeitos a sazonalidades e produtos que estão na entressafra - especialmente os hortifrutigranjeiros, que citou como prejudicados pelas chuvas mais escassas - vencendo os períodos difíceis e apresentando melhor oferta. Assim seja. Mas o país ficará menos desconfortável se o governo não cruzar os braços diante desse prognóstico.
Nem sequer é razoável seguir a toada de uma nota só da política monetária. Tentar domar a fera apenas com o garrote dos juros, enquanto o gigantesco Estado a alimenta com gastos perdulários, é enxugar gelo. Conformar-se com a inflação roçando o teto, outra atitude incompreensível das autoridades, só compatível com o crescimento igualmente despretencioso do Produto Interno Bruto. Este país precisa pensar grande. Sem rigoroso ajuste fiscal, ora relaxado, os preços serão sempre uma ameaça. O Brasil já perdeu oportunidades demais. É hora de encarar os problemas com firmeza e arrumar de vez a casa, para que as conquistas sociais possam ser mantidas e até ampliadas.
Vargas vai para cima - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 24/04
O deputado petista André Vargas, que se viu compelido a deixar a vice-presidência da Câmara ao emergirem os seus negócios com o grão-doleiro Alberto Youssef - o que levou o Conselho de Ética da Casa a abrir contra ele processo por quebra de decoro parlamentar -, deve se achar um guerreiro. Não tem, é claro, a movimentada biografia de um José Dirceu, o ex-presidente do PT, ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil que cumpre pena na Papuda como capo do mensalão, a quem os companheiros assim reverenciam, acrescentando, para rimar, "do povo brasileiro".
Mas, para quem ignorasse os métodos, não propriamente solares, graças aos quais André Luiz Vargas Ilário fez carreira no PT de Londrina - começando por dirigir o Albergue Noturno local até chegar ao comando da sigla no Paraná em 1998 e ao Congresso Nacional em 2006 -, foi na esteira do encarceramento de Dirceu que ele apareceu na mídia nacional. O robusto parlamentar valeu-se da circunstância de estar ao lado do presidente do STF, Joaquim Barbosa, na abertura do atual ano legislativo, para erguer o punho esquerdo em solidariedade aos mensaleiros condenados, vítimas, segundo ele, de um julgamento injusto.
O bravo Ilário acabaria, porém, metendo os pés pelas mãos, quando se revelou que viajara de férias a bordo de um jatinho providenciado por Youssef. O episódio virou notícia porque, a essa altura, ele tinha sido preso sob a acusação de operar uma usina de lavagem de dinheiro que branqueara R$ 10 bilhões. (O mundo é pequeno. Como o Estado revelou, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que fugiu para a Itália para não fazer companhia aos correligionários cumprindo pena pelo mensalão, é considerado pela Justiça italiana suspeito de ligações com uma lavanderia chefiada por um certo Valter Lavitola, que prestava serviços ao ex-premiê Sílvio Berlusconi.)
Primeiro, Vargas negou que conhecesse Youssef. Depois se enrolou em um cipoal de novas mentiras até, contrito, dizer que se "equivocou". Tudo poderia ser reduzido a um pecadilho, e punido, quem sabe, com advertência ou suspensão do mandato. Mas o seu mundo caiu quando a Polícia Federal descobriu que ele atolara com o doleiro na tentativa de tomar R$ 31 milhões do Ministério da Saúde para medicamentos a serem produzidos por uma empresa cujo dono oculto é Youssef. Exposto o tráfico de influência, Vargas imaginou que, se renunciasse ao mandato, mataria o processo no Conselho de Ética. Assim, poderia candidatar-se de novo este ano.
Desfeita a ilusão, renunciou à anunciada renúncia - e deixou o PT em polvorosa, a ponto de ameaçá-lo de expulsão se insistisse em manter-se deputado. O partido tem pelo menos dois bons motivos para tirar Vargas de cena - e nenhum deles tem que ver com um improvável surto ético pós-mensalão da legenda de Lula. O primeiro se chama Gleisi Hoffman. O segundo, Alexandre Padilha. A ex-ministra da Casa Civil de Dilma é candidata ao governo do Paraná, onde os adversários poderiam usar contra ela a folha corrida de Vargas. Já o ex-ministro da Saúde, candidato em São Paulo, teria de ficar explicando que, afinal, a pasta não fechou o negócio com Youssef mediado pelo parlamentar.
No limite, a própria campanha reeleitoral da presidente poderia ser atingida pelos detritos da era Vargas. Nem esse argumento dissuadiu o deputado valentão. Numa reunião com a cúpula partidária, na terça-feira, ele peitou os cobradores. "Não renuncio. Agora vou até o fim", avisou. E, no que poderia ser tomado como um acesso de megalomania não fossem o que são os conflitos internos do PT, provocou: "Vou fazer o meu sucessor (na Mesa da Câmara)". De fato, embora o presidente da sigla, Rui Falcão, tenha lhe dito que "já devia ter renunciado", porque não conseguirá "sustentar a sua versão dos fatos no Conselho e no plenário", há quem divirja.
Figuras carimbadas como os deputados paulistas José Mentor e Cândido Vaccarezza e o carioca Luiz Sérgio estão fechados com o teimoso, que se gaba de ter o apoio de 1/3 dos 88 membros da bancada. Como diria Lula, ele "foi para cima".
O deputado petista André Vargas, que se viu compelido a deixar a vice-presidência da Câmara ao emergirem os seus negócios com o grão-doleiro Alberto Youssef - o que levou o Conselho de Ética da Casa a abrir contra ele processo por quebra de decoro parlamentar -, deve se achar um guerreiro. Não tem, é claro, a movimentada biografia de um José Dirceu, o ex-presidente do PT, ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil que cumpre pena na Papuda como capo do mensalão, a quem os companheiros assim reverenciam, acrescentando, para rimar, "do povo brasileiro".
Mas, para quem ignorasse os métodos, não propriamente solares, graças aos quais André Luiz Vargas Ilário fez carreira no PT de Londrina - começando por dirigir o Albergue Noturno local até chegar ao comando da sigla no Paraná em 1998 e ao Congresso Nacional em 2006 -, foi na esteira do encarceramento de Dirceu que ele apareceu na mídia nacional. O robusto parlamentar valeu-se da circunstância de estar ao lado do presidente do STF, Joaquim Barbosa, na abertura do atual ano legislativo, para erguer o punho esquerdo em solidariedade aos mensaleiros condenados, vítimas, segundo ele, de um julgamento injusto.
O bravo Ilário acabaria, porém, metendo os pés pelas mãos, quando se revelou que viajara de férias a bordo de um jatinho providenciado por Youssef. O episódio virou notícia porque, a essa altura, ele tinha sido preso sob a acusação de operar uma usina de lavagem de dinheiro que branqueara R$ 10 bilhões. (O mundo é pequeno. Como o Estado revelou, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que fugiu para a Itália para não fazer companhia aos correligionários cumprindo pena pelo mensalão, é considerado pela Justiça italiana suspeito de ligações com uma lavanderia chefiada por um certo Valter Lavitola, que prestava serviços ao ex-premiê Sílvio Berlusconi.)
Primeiro, Vargas negou que conhecesse Youssef. Depois se enrolou em um cipoal de novas mentiras até, contrito, dizer que se "equivocou". Tudo poderia ser reduzido a um pecadilho, e punido, quem sabe, com advertência ou suspensão do mandato. Mas o seu mundo caiu quando a Polícia Federal descobriu que ele atolara com o doleiro na tentativa de tomar R$ 31 milhões do Ministério da Saúde para medicamentos a serem produzidos por uma empresa cujo dono oculto é Youssef. Exposto o tráfico de influência, Vargas imaginou que, se renunciasse ao mandato, mataria o processo no Conselho de Ética. Assim, poderia candidatar-se de novo este ano.
Desfeita a ilusão, renunciou à anunciada renúncia - e deixou o PT em polvorosa, a ponto de ameaçá-lo de expulsão se insistisse em manter-se deputado. O partido tem pelo menos dois bons motivos para tirar Vargas de cena - e nenhum deles tem que ver com um improvável surto ético pós-mensalão da legenda de Lula. O primeiro se chama Gleisi Hoffman. O segundo, Alexandre Padilha. A ex-ministra da Casa Civil de Dilma é candidata ao governo do Paraná, onde os adversários poderiam usar contra ela a folha corrida de Vargas. Já o ex-ministro da Saúde, candidato em São Paulo, teria de ficar explicando que, afinal, a pasta não fechou o negócio com Youssef mediado pelo parlamentar.
No limite, a própria campanha reeleitoral da presidente poderia ser atingida pelos detritos da era Vargas. Nem esse argumento dissuadiu o deputado valentão. Numa reunião com a cúpula partidária, na terça-feira, ele peitou os cobradores. "Não renuncio. Agora vou até o fim", avisou. E, no que poderia ser tomado como um acesso de megalomania não fossem o que são os conflitos internos do PT, provocou: "Vou fazer o meu sucessor (na Mesa da Câmara)". De fato, embora o presidente da sigla, Rui Falcão, tenha lhe dito que "já devia ter renunciado", porque não conseguirá "sustentar a sua versão dos fatos no Conselho e no plenário", há quem divirja.
Figuras carimbadas como os deputados paulistas José Mentor e Cândido Vaccarezza e o carioca Luiz Sérgio estão fechados com o teimoso, que se gaba de ter o apoio de 1/3 dos 88 membros da bancada. Como diria Lula, ele "foi para cima".
As quatro leis da entropia petista - JOSÉ SERRA
O Estado de S.Paulo - 24/04
Arrumando meus papéis, encontrei transcrições completas dos debates em rede nacional da campanha presidencial de 2010. De forma um tanto masoquista, li todas elas e lembrei de um juízo que formei na época e disse a uma assessora: "Dilma Rousseff tem o dom de empregar o máximo de palavras para expressar o mínimo de pensamento (*). Mesmo assim, um mínimo errado".
Arrumando meus papéis, encontrei transcrições completas dos debates em rede nacional da campanha presidencial de 2010. De forma um tanto masoquista, li todas elas e lembrei de um juízo que formei na época e disse a uma assessora: "Dilma Rousseff tem o dom de empregar o máximo de palavras para expressar o mínimo de pensamento (*). Mesmo assim, um mínimo errado".
Ao longo desses debates, eu tinha duas preocupações essenciais. A primeira, como é óbvio, perder no segundo turno, não tanto pelo desempenho de Dilma, mas pela avaliação do governo Lula: no período entre junho e setembro, mais de 75% das pessoas achavam o governo ótimo ou bom e 85% o aprovavam. As vendas a varejo cresciam a 11%, a massa real de rendimentos, 8%, e a supervalorização cambial chegava ao seu ponto máximo, subsidiando o consumo importado e o turismo no exterior - naquele ano, o dólar valeu em média R$ 1,7. Precisava mais?
A outra preocupação era com o futuro do Brasil em si, independentemente de minha participação no processo. Estava convencido de que o boom econômico capotaria logo, de que a herança de Lula seria bastante adversa e de que, se fosse eleita, Dilma Rousseff faria um governo atrapalhado e ruim, pisando no acelerador do atraso. Passara a campanha mostrando que não conhecia os problemas brasileiros e que não tinha nenhuma qualificação especial como administradora pública. Pelo contrário.
Uma coisa é fazer uma previsão pessimista, outra é vê-la se cumprir, ver a intuição virar razão: quando isso ocorre, não fico exatamente surpreso, mas sou tomado de certa estupefação.
A lei do máximo de palavras para um mínimo de conteúdo está acoplada a três "antileis" afins, a começar pela que estabeleceu que a menor distância entre dois pontos não é uma linha reta, mas alguma curva tridimensional e espiralada, teorema antieuclidiano que o governo Dilma segue à risca. Outra "antilei" sagrada tem origem na volta ao geocentrismo, ou seja, à ideia de que o sol e os planetas giram em torno da Terra, que é o centro do universo. A presidente Rousseff e o PT se comportam como se fossem o centro do universo brasileiro, em torno do qual tudo e todos têm de girar: o conhecimento, a moral, a ética, a Justiça, a imprensa e todos os políticos e seus respectivos partidos.
Por fim, adotaram a "antilei" que afeta o funcionamento da economia: a da inépcia inovadora, segundo a qual as facilidades não devem ser aproveitadas, mas tornadas em dificuldades. Por exemplo, se o modelo anterior de concessão na exploração de petróleo funcionava bem, para que aproveitá-lo no pré-sal? Não! Preferiu-se um novo método, que não traz mais dinheiro ao País e ao Fisco, mas colabora para quebrar a Petrobrás.
Houve bastante originalidade nos erros do governo Dilma, mas quase nada que não pudesse ter sido previsto em 2010, seja pelo que já estava se fazendo no governo Lula (com forte participação da então ministra), seja pelo que ela já anunciava na disputa eleitoral. Suas intervenções na campanha presidencial daquele ano preconizavam a conversão das quatro leis citadas em verdadeiro método de governo. Ilustro com dois exemplos eloquentes.
Volto aos meus papéis e vejo como é fácil banalizar com conversa mole e discursos balofos ações que dizem respeito à vida de milhões de pessoas. Afirmou, por exemplo, a então candidata petista: "No caso da segurança pública, nós iremos apostar nisso que está dando muito certo que são as Unidades de Polícia Pacificadora já implantadas no Rio de Janeiro". Ou ainda: "(Para combater o tráfico de drogas) compramos veículos aéreos não tripulados, chamados Vants, que são aqueles que policiam as fronteiras e permitem que a gente localize o tráfico. Os Vants chegaram em setembro e até o final do ano mais dois vão chegar, e eu pretendo transformar esse policiamento das fronteiras num policiamento sistemático, com mais 14 Vants".
Como se sabe, as UPPs não foram implantadas Brasil afora e, em setembro de 2010, não havia nenhum Vant em funcionamento. Neste ano, 2014, só há dois voando de fato nas fronteiras do País, apesar dos 14 anunciados pela candidata.
Das alturas cerúleas para as profundezas da Terra, mais uma fala da candidata Dilma: "Com o pré-sal, eu vou poder ter no Brasil mais milhares de equipamentos para controlar a fronteira... Mas não se pode deixar de olhar que a questão do pré-sal é fundamental. Quando eu coloco o problema da privatização, eu estou preocupada com o quê? Com esses recursos do pré-sal, que, segundo o candidato Serra, só vão chegar no final da década. Mas ele é mal informado. Os recursos do pré-sal já começaram".
O "candidato Serra", como ela se referiu a mim, não dizia nada que o "indivíduo Serra" não pudesse sustentar. A ideia de que o óleo do pré-sal iria proporcionar "milhares de equipamentos" para controlar a fronteira é emblemática não só da ignorância desmedida de quem preparou as fichas nas quais a então candidata acreditou, mas também da ligeireza com que se tratava algo tão sério: observem que se acusava o candidato da oposição de pretender privatizar o pré-sal e acabar com os recursos que seriam destinados ao narcotráfico... Um completo despropósito. Note-se à margem que a produção de petróleo no governo Dilma estagnou, a proclamada autossuficiência não aconteceu, jogaram-se muitos bilhões de dólares na aventura das refinarias, nada sobrou para o controle das fronteiras nem para a Petrobrás, que hoje é a empresa não financeira mais endividada do mundo, tendo perdido 50% do seu valor de mercado.
Poderia me estender aqui com dezenas de exemplos, mas esses dois, que saltaram primeiro à mão ao mexer nas minhas anotações, são bastante eloquentes. Essas "antileis" - ou as quatro leis da entropia petista - não são uma questão corriqueira, que se resume ao discurso. Elas têm consequências práticas na vida dos brasileiros e no futuro do País. Formam os alicerces do atraso, que sustentam um projeto de poder.
(*) Referência ao que dissera Winston Churchill sobre o primeiro-ministro Ramsay MacDonald.
A outra preocupação era com o futuro do Brasil em si, independentemente de minha participação no processo. Estava convencido de que o boom econômico capotaria logo, de que a herança de Lula seria bastante adversa e de que, se fosse eleita, Dilma Rousseff faria um governo atrapalhado e ruim, pisando no acelerador do atraso. Passara a campanha mostrando que não conhecia os problemas brasileiros e que não tinha nenhuma qualificação especial como administradora pública. Pelo contrário.
Uma coisa é fazer uma previsão pessimista, outra é vê-la se cumprir, ver a intuição virar razão: quando isso ocorre, não fico exatamente surpreso, mas sou tomado de certa estupefação.
A lei do máximo de palavras para um mínimo de conteúdo está acoplada a três "antileis" afins, a começar pela que estabeleceu que a menor distância entre dois pontos não é uma linha reta, mas alguma curva tridimensional e espiralada, teorema antieuclidiano que o governo Dilma segue à risca. Outra "antilei" sagrada tem origem na volta ao geocentrismo, ou seja, à ideia de que o sol e os planetas giram em torno da Terra, que é o centro do universo. A presidente Rousseff e o PT se comportam como se fossem o centro do universo brasileiro, em torno do qual tudo e todos têm de girar: o conhecimento, a moral, a ética, a Justiça, a imprensa e todos os políticos e seus respectivos partidos.
Por fim, adotaram a "antilei" que afeta o funcionamento da economia: a da inépcia inovadora, segundo a qual as facilidades não devem ser aproveitadas, mas tornadas em dificuldades. Por exemplo, se o modelo anterior de concessão na exploração de petróleo funcionava bem, para que aproveitá-lo no pré-sal? Não! Preferiu-se um novo método, que não traz mais dinheiro ao País e ao Fisco, mas colabora para quebrar a Petrobrás.
Houve bastante originalidade nos erros do governo Dilma, mas quase nada que não pudesse ter sido previsto em 2010, seja pelo que já estava se fazendo no governo Lula (com forte participação da então ministra), seja pelo que ela já anunciava na disputa eleitoral. Suas intervenções na campanha presidencial daquele ano preconizavam a conversão das quatro leis citadas em verdadeiro método de governo. Ilustro com dois exemplos eloquentes.
Volto aos meus papéis e vejo como é fácil banalizar com conversa mole e discursos balofos ações que dizem respeito à vida de milhões de pessoas. Afirmou, por exemplo, a então candidata petista: "No caso da segurança pública, nós iremos apostar nisso que está dando muito certo que são as Unidades de Polícia Pacificadora já implantadas no Rio de Janeiro". Ou ainda: "(Para combater o tráfico de drogas) compramos veículos aéreos não tripulados, chamados Vants, que são aqueles que policiam as fronteiras e permitem que a gente localize o tráfico. Os Vants chegaram em setembro e até o final do ano mais dois vão chegar, e eu pretendo transformar esse policiamento das fronteiras num policiamento sistemático, com mais 14 Vants".
Como se sabe, as UPPs não foram implantadas Brasil afora e, em setembro de 2010, não havia nenhum Vant em funcionamento. Neste ano, 2014, só há dois voando de fato nas fronteiras do País, apesar dos 14 anunciados pela candidata.
Das alturas cerúleas para as profundezas da Terra, mais uma fala da candidata Dilma: "Com o pré-sal, eu vou poder ter no Brasil mais milhares de equipamentos para controlar a fronteira... Mas não se pode deixar de olhar que a questão do pré-sal é fundamental. Quando eu coloco o problema da privatização, eu estou preocupada com o quê? Com esses recursos do pré-sal, que, segundo o candidato Serra, só vão chegar no final da década. Mas ele é mal informado. Os recursos do pré-sal já começaram".
O "candidato Serra", como ela se referiu a mim, não dizia nada que o "indivíduo Serra" não pudesse sustentar. A ideia de que o óleo do pré-sal iria proporcionar "milhares de equipamentos" para controlar a fronteira é emblemática não só da ignorância desmedida de quem preparou as fichas nas quais a então candidata acreditou, mas também da ligeireza com que se tratava algo tão sério: observem que se acusava o candidato da oposição de pretender privatizar o pré-sal e acabar com os recursos que seriam destinados ao narcotráfico... Um completo despropósito. Note-se à margem que a produção de petróleo no governo Dilma estagnou, a proclamada autossuficiência não aconteceu, jogaram-se muitos bilhões de dólares na aventura das refinarias, nada sobrou para o controle das fronteiras nem para a Petrobrás, que hoje é a empresa não financeira mais endividada do mundo, tendo perdido 50% do seu valor de mercado.
Poderia me estender aqui com dezenas de exemplos, mas esses dois, que saltaram primeiro à mão ao mexer nas minhas anotações, são bastante eloquentes. Essas "antileis" - ou as quatro leis da entropia petista - não são uma questão corriqueira, que se resume ao discurso. Elas têm consequências práticas na vida dos brasileiros e no futuro do País. Formam os alicerces do atraso, que sustentam um projeto de poder.
(*) Referência ao que dissera Winston Churchill sobre o primeiro-ministro Ramsay MacDonald.
Feitiço contra o feiticeiro - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 24/04
Graças a um erro estratégico da presidente Dilma, o governismo, de maneira geral, abrangendo mesmo aqueles que não gostariam de ter que apoiar a reeleição da presidente, está tendo dificuldades para enfrentar os problemas políticos decorrentes do mau negócio que a Petrobras realizou comprando a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Digo erro estratégico porque até pouco tempo atrás todos os envolvidos na transação, inclusive a própria presidente, tinham a mesma versão de que a compra fora um bom negócio, justificável pelo plano estratégico da empresa. Mesmo que hoje se saiba que essa explicação não corresponde à verdade, foi graças à irritabilidade da presidente Dilma que ficamos sabendo disso, e com detalhes como as cláusulas omitidas no resumo técnico levado ao Conselho da Petrobras.
Muitos se espantaram com minhas críticas ao sincericídio de Dilma, como se estivesse criticando-a por ter falado a verdade. Minha crítica é mais extensa: acho que a presidente Dilma não tem condições políticas para esclarecer o caso, e tentou, com sua nota oficial de próprio punho, livrar sua responsabilidade no caso, como acentuou o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli.
Tanto é verdade que ainda presidente do Conselho, mas já sabendo que as negociações para a compra de Pasadena haviam sido omitidas, aceitou que o diretor responsável pelo relatório falho técnica e juridicamente fosse transferido para outra diretoria da Petrobras Distribuidora, com elogios formais do Conselho por sua atuação. E em nenhum momento fez críticas à atuação da diretoria da Petrobras.
A ministra-chefe da Casa Civil toda-poderosa conviveu com a diretoria da Petrobras, da qual discordava, sem criar marolas políticas, pois já estava trabalhando para ser a candidata oficial à sucessão de Lula em 2010. Portanto, o seu sincericídio , em vez de significar uma reação a uma maneira de fazer política empresarial da qual discorda, é muito mais um ato voluntarioso de uma pessoa que não está acostumada a ser contrariada, não tem maiores consequências na mudança de rumos da gestão da Petrobras.
Mas, voltando às dificuldades que o PT está tendo para justificar sua posição na crise da Petrobras, é bom lembrar que logo depois da eleição de 2006, em entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha , o marqueteiro João Santana revelou que o debate sobre as privatizações fora utilizado como maneira de reavivar emoções políticas no imaginário do brasileiro comum.
Santana admitiu na entrevista que a impressão de que algo obscuro acontecera nas privatizações deveu-se a um erro de comunicação do governo FH, que poderia ter vendido o benefício das privatizações de maneira mais clara . O erro do PSDB fora, segundo ele, não ter defendido as privatizações como maneira de alcançar o desenvolvimento . No caso da telefonia, teve um sucesso fabuloso que não foi capitalizado pela oposição, dizia ele.
João Santana foi claro quando respondeu se não seria desonesto explorar sentimentos que ele sabia não exprimirem a verdade: Trabalho com o imaginário da população. Numa campanha, trabalhamos com produções simbólicas .
Pois hoje a exploração das produções simbólicas no imaginário da população está causando graves problemas para o governismo, acusado pela oposição de ter privatizado a Petrobras para um grupo político. O governo ainda tenta sair das cordas acusando a oposição de estar fazendo uma campanha contra a Petrobras , mas a falta de sentido dessa acusação não encontra eco no cidadão comum, que está vendo a crise na Petrobras como uma grave falha do governo.
Aliás, o PT no poder tem como hábito assumir o papel do Estado brasileiro, e, quando sua atuação é criticada, seus líderes atribuem as críticas a uma campanha contra o país . O ex-presidente Lula já se cansou de acusar o ex-presidente Fernando Henrique de falar mal do país em suas conferência internacionais. A presidente Dilma Rousseff volta e meia diz que tem gente torcendo para o país dar errado .
Na verdade, tanto Lula quanto Dilma se referem a oposicionistas que criticam a atuação do governo, e não o país. Um governo representa o país, é fato, mas pode representar mal e merecer críticas. Assim como críticas à gestão de uma empresa não representam campanha contra ela.
Graças a um erro estratégico da presidente Dilma, o governismo, de maneira geral, abrangendo mesmo aqueles que não gostariam de ter que apoiar a reeleição da presidente, está tendo dificuldades para enfrentar os problemas políticos decorrentes do mau negócio que a Petrobras realizou comprando a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Digo erro estratégico porque até pouco tempo atrás todos os envolvidos na transação, inclusive a própria presidente, tinham a mesma versão de que a compra fora um bom negócio, justificável pelo plano estratégico da empresa. Mesmo que hoje se saiba que essa explicação não corresponde à verdade, foi graças à irritabilidade da presidente Dilma que ficamos sabendo disso, e com detalhes como as cláusulas omitidas no resumo técnico levado ao Conselho da Petrobras.
Muitos se espantaram com minhas críticas ao sincericídio de Dilma, como se estivesse criticando-a por ter falado a verdade. Minha crítica é mais extensa: acho que a presidente Dilma não tem condições políticas para esclarecer o caso, e tentou, com sua nota oficial de próprio punho, livrar sua responsabilidade no caso, como acentuou o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli.
Tanto é verdade que ainda presidente do Conselho, mas já sabendo que as negociações para a compra de Pasadena haviam sido omitidas, aceitou que o diretor responsável pelo relatório falho técnica e juridicamente fosse transferido para outra diretoria da Petrobras Distribuidora, com elogios formais do Conselho por sua atuação. E em nenhum momento fez críticas à atuação da diretoria da Petrobras.
A ministra-chefe da Casa Civil toda-poderosa conviveu com a diretoria da Petrobras, da qual discordava, sem criar marolas políticas, pois já estava trabalhando para ser a candidata oficial à sucessão de Lula em 2010. Portanto, o seu sincericídio , em vez de significar uma reação a uma maneira de fazer política empresarial da qual discorda, é muito mais um ato voluntarioso de uma pessoa que não está acostumada a ser contrariada, não tem maiores consequências na mudança de rumos da gestão da Petrobras.
Mas, voltando às dificuldades que o PT está tendo para justificar sua posição na crise da Petrobras, é bom lembrar que logo depois da eleição de 2006, em entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha , o marqueteiro João Santana revelou que o debate sobre as privatizações fora utilizado como maneira de reavivar emoções políticas no imaginário do brasileiro comum.
Santana admitiu na entrevista que a impressão de que algo obscuro acontecera nas privatizações deveu-se a um erro de comunicação do governo FH, que poderia ter vendido o benefício das privatizações de maneira mais clara . O erro do PSDB fora, segundo ele, não ter defendido as privatizações como maneira de alcançar o desenvolvimento . No caso da telefonia, teve um sucesso fabuloso que não foi capitalizado pela oposição, dizia ele.
João Santana foi claro quando respondeu se não seria desonesto explorar sentimentos que ele sabia não exprimirem a verdade: Trabalho com o imaginário da população. Numa campanha, trabalhamos com produções simbólicas .
Pois hoje a exploração das produções simbólicas no imaginário da população está causando graves problemas para o governismo, acusado pela oposição de ter privatizado a Petrobras para um grupo político. O governo ainda tenta sair das cordas acusando a oposição de estar fazendo uma campanha contra a Petrobras , mas a falta de sentido dessa acusação não encontra eco no cidadão comum, que está vendo a crise na Petrobras como uma grave falha do governo.
Aliás, o PT no poder tem como hábito assumir o papel do Estado brasileiro, e, quando sua atuação é criticada, seus líderes atribuem as críticas a uma campanha contra o país . O ex-presidente Lula já se cansou de acusar o ex-presidente Fernando Henrique de falar mal do país em suas conferência internacionais. A presidente Dilma Rousseff volta e meia diz que tem gente torcendo para o país dar errado .
Na verdade, tanto Lula quanto Dilma se referem a oposicionistas que criticam a atuação do governo, e não o país. Um governo representa o país, é fato, mas pode representar mal e merecer críticas. Assim como críticas à gestão de uma empresa não representam campanha contra ela.
Refresco para Dilma - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 24/04
BRASÍLIA - Assim como a espionagem americana garantiu um bom momento para Dilma na ONU, a NETMundial proporciona um refresco político para ela nesta semana.
Com a denúncia de espionagem de Edward Snowden, em 2013, Dilma pôde empinar o nariz, cancelar a visita a Barack Obama e fazer um discurso forte e afirmativo na ONU, recebendo elogios a torto e a direito.
Com a NETMundial, ontem e hoje em São Paulo, ela cobrou lealdade da base aliada, demonstrou força no Congresso e criou um bom momento para foto ao sancionar o Marco Civil da Internet diante de representantes de dezenas de países. O texto serve de base para os debates no encontro e pode ser bastante útil para novas legislações mundo afora.
Um momento de alívio para quem tropeçou nas próprias pernas --e no próprio voluntarismo-- ao jogar a crise da Petrobras dentro do gabinete presidencial no Planalto e ficar durante semanas sob tensão pelo prejuízo da compra da refinaria de Pasadena e pelo mau desempenho da principal empresa brasileira.
Dilma, porém, não deixou de cair em suas próprias pegadinhas na NETMundial. Tudo bem que voltasse a criticar a espionagem americana como "inaceitável" e defendesse uma governança da internet "em pé de igualdade" (ou seja, não imposta por uma única potência). Mas não precisava espicaçar os EUA de graça.
Como relatado pela própria internet, ela sorriu e aplaudiu de pé quando enalteceram Snowden, um dos piores inimigos de Washington neste momento. Foi uma provocação boba, quase tão infantil e impensada quanto a nota em que, ao tentar lavar as mãos no caso Pasadena, incendiou uma questão até então fria.
Além disso, o NETMundial acaba, mas a Petrobras e o renitente deputado André Vargas ficam --e assombrando o PT, Dilma e candidaturas petistas que resvalam na dupla Vargas-Youssef. O Marco Civil da internet é só refresco, a fervura continua.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Vou continuar insistindo para ver se o convenço”
Rui Falcão, presidente do PT, defendendo a renúncia do deputado André Vargas (PR)
LULA E WAGNER TENTAM CALAR A BOCA DE GABRIELLI
O ex-presidente Lula e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foram acionados para tentar “acalmar” o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli. Irritado, ele afirmou que a presidente Dilma Rousseff, então presidente do conselho de administração da estatal, “precisa assumir as responsabilidades dela” pela decisão de comprar por US$ 1,3 bilhão a refinaria norte-americana avaliada em US$ 42,5 milhões.
O MANDANTE
Lula anda preocupado porque decisões tão importantes, como comprar a refinaria, passavam por ele. E sabe que o caso impactará na eleição.
TIRANDO O CORPO
Após o caso ser denunciado, Dilma informou em nota que um parecer do ex-diretor Nestor Cerveró a induziu ao erro de aprovar o negócio.
MAU NEGÓCIO
Também irritou Gabrielli a afirmação de Graça Foster, que o substituiu na presidência da Petrobras, de que a refinaria foi um mau negócio.
ATÉ O PESCOÇO
Indicado por Jaques Wagner, Sergio Gabrielli presidia a Petrobras em 2006, quando foi fechado o negócio da refinaria de Pasadena.
GREVE POR ‘LUCRO’ DE ESTATAL QUEBRADA VIROU PIADA
Funcionários do sistema Eletrobras iniciaram à meia-noite uma “greve de advertência”, como esta coluna antecipou, exigindo “participação nos lucros”. Parece notícia de “1º de abril”, mas não é piada: a estatal registrou prejuízos de R$ 6,8 bilhões em 2012 e R$ 6,2 bilhões em 2013. Grevistas não mencionam “participação nos prejuízos” de mais de R$ 13,2 bilhões em apenas dois anos. Devem culpar o contribuinte.
IMPEACHMENT
O Movimento de Combate à Corrupção protocola hoje na Assembleia do RN pedido de impeachment da governadora Rosalba Ciarlini (DEM).
TREMEI, RUSSOS
Agora vai: após um mês e meio, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou moção pela “soberania territorial da Ucrânia”.
SALADA NO SOFÁ
Para combater a inflação, o governo federal vai tirar os alimentos do índice. Deveria começar pelo pepino, nabo, abacaxi e batata quente.
CHEGA DE ESQUIVAS
Após tentativas frustradas de notificar André Vargas (PT-PR) do seu processo de cassação, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP) decidiu publicá-la no Diário Oficial da União.
MARCO CIVIL
Na Câmara dos Deputados, “marco civil” deve ser o gesto de meter a mão no bolso do contribuinte desavisado: suas excelências deverão ganhar notebooks novinhos, da Lenovo, ao preço de R$ 23,7 milhões.
MÃE DOS POBRES
O Brasil vai emprestar R$ 18 milhões ao Quênia para comprar tratores, sem taxas de importação, aliviando produtores de cana de açúcar. De lá. E fazendo a festa de vendedores de tratores. De cá.
MARQUETEIRO
O candidato do PSDB ao governo do DF, Luiz Pitiman, fechou contrato com Chico Santa Rita, para tocar sua campanha eleitoral. Santa Rita foi marqueteiro, em São Paulo, de políticos como Orestes Quércia.
QUE PENA
Em Módena, para o aniversário da tomada de Montese pelo Brasil, em 1945, o embaixador em Roma, Ricardo Tavares, não encontrará a comitiva chefiada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que irá à cerimônia de santificação de João Paulo II e João XXIII, domingo.
DILIGÊNCIA
A Comissão de Direitos Humanos fará diligência na Papuda, para verificar eventuais regalias do ex-ministro José Dirceu. O ministro Joaquim Barbosa usa a suspeita como pretexto para manter na gaveta o processo que concede ao preso o direito de trabalhar durante o dia.
DOS MALES O MENOR
Com medo de cassação no plenário, Carlos Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Carlos Cachoeira, fez périplo ontem na Câmara para pedir aos deputados que aprovem apenas sua suspensão de 90 dias.
EMBRAPA, 41
A presidente Dilma foi convidada pelo presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, a participar nesta quinta (24) com o ministro Neri Geller (Agricultura), em Brasília, da comemoração dos 41 anos da empresa.
PENSANDO BEM...
...o deputado petista indeciso André Vargas é o Delúbio Soares amanhã. Só falta mesmo a Papuda.
PODER SEM PUDOR
OBRAS LIGEIRAS
Jânio Quadros, presidente da República, fazia uma viagem ao Recife. Aproveitando que o chefe não estava em Brasília, um assessor chamou um engenheiro da estatal Novacap para construir um canil no Palácio da Alvorada. Estava convencido de que o presidente iria adorar a surpresa.
Jânio já encontrou a obra pronta, ao retornar da viagem. Mandou chamar o engenheiro responsável:
- Quanto tempo o senhor levou para construir esta maravilha?
- Doze horas, excelência - gabou-se o homem.
Apontando para o canil, Jânio pôs fim à felicidade do engenheiro:
- Pois então tem exatas duas horas para botar tudo no chão. Tudo!
Rui Falcão, presidente do PT, defendendo a renúncia do deputado André Vargas (PR)
LULA E WAGNER TENTAM CALAR A BOCA DE GABRIELLI
O ex-presidente Lula e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foram acionados para tentar “acalmar” o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli. Irritado, ele afirmou que a presidente Dilma Rousseff, então presidente do conselho de administração da estatal, “precisa assumir as responsabilidades dela” pela decisão de comprar por US$ 1,3 bilhão a refinaria norte-americana avaliada em US$ 42,5 milhões.
O MANDANTE
Lula anda preocupado porque decisões tão importantes, como comprar a refinaria, passavam por ele. E sabe que o caso impactará na eleição.
TIRANDO O CORPO
Após o caso ser denunciado, Dilma informou em nota que um parecer do ex-diretor Nestor Cerveró a induziu ao erro de aprovar o negócio.
MAU NEGÓCIO
Também irritou Gabrielli a afirmação de Graça Foster, que o substituiu na presidência da Petrobras, de que a refinaria foi um mau negócio.
ATÉ O PESCOÇO
Indicado por Jaques Wagner, Sergio Gabrielli presidia a Petrobras em 2006, quando foi fechado o negócio da refinaria de Pasadena.
GREVE POR ‘LUCRO’ DE ESTATAL QUEBRADA VIROU PIADA
Funcionários do sistema Eletrobras iniciaram à meia-noite uma “greve de advertência”, como esta coluna antecipou, exigindo “participação nos lucros”. Parece notícia de “1º de abril”, mas não é piada: a estatal registrou prejuízos de R$ 6,8 bilhões em 2012 e R$ 6,2 bilhões em 2013. Grevistas não mencionam “participação nos prejuízos” de mais de R$ 13,2 bilhões em apenas dois anos. Devem culpar o contribuinte.
IMPEACHMENT
O Movimento de Combate à Corrupção protocola hoje na Assembleia do RN pedido de impeachment da governadora Rosalba Ciarlini (DEM).
TREMEI, RUSSOS
Agora vai: após um mês e meio, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou moção pela “soberania territorial da Ucrânia”.
SALADA NO SOFÁ
Para combater a inflação, o governo federal vai tirar os alimentos do índice. Deveria começar pelo pepino, nabo, abacaxi e batata quente.
CHEGA DE ESQUIVAS
Após tentativas frustradas de notificar André Vargas (PT-PR) do seu processo de cassação, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP) decidiu publicá-la no Diário Oficial da União.
MARCO CIVIL
Na Câmara dos Deputados, “marco civil” deve ser o gesto de meter a mão no bolso do contribuinte desavisado: suas excelências deverão ganhar notebooks novinhos, da Lenovo, ao preço de R$ 23,7 milhões.
MÃE DOS POBRES
O Brasil vai emprestar R$ 18 milhões ao Quênia para comprar tratores, sem taxas de importação, aliviando produtores de cana de açúcar. De lá. E fazendo a festa de vendedores de tratores. De cá.
MARQUETEIRO
O candidato do PSDB ao governo do DF, Luiz Pitiman, fechou contrato com Chico Santa Rita, para tocar sua campanha eleitoral. Santa Rita foi marqueteiro, em São Paulo, de políticos como Orestes Quércia.
QUE PENA
Em Módena, para o aniversário da tomada de Montese pelo Brasil, em 1945, o embaixador em Roma, Ricardo Tavares, não encontrará a comitiva chefiada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que irá à cerimônia de santificação de João Paulo II e João XXIII, domingo.
DILIGÊNCIA
A Comissão de Direitos Humanos fará diligência na Papuda, para verificar eventuais regalias do ex-ministro José Dirceu. O ministro Joaquim Barbosa usa a suspeita como pretexto para manter na gaveta o processo que concede ao preso o direito de trabalhar durante o dia.
DOS MALES O MENOR
Com medo de cassação no plenário, Carlos Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Carlos Cachoeira, fez périplo ontem na Câmara para pedir aos deputados que aprovem apenas sua suspensão de 90 dias.
EMBRAPA, 41
A presidente Dilma foi convidada pelo presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, a participar nesta quinta (24) com o ministro Neri Geller (Agricultura), em Brasília, da comemoração dos 41 anos da empresa.
PENSANDO BEM...
...o deputado petista indeciso André Vargas é o Delúbio Soares amanhã. Só falta mesmo a Papuda.
PODER SEM PUDOR
OBRAS LIGEIRAS
Jânio Quadros, presidente da República, fazia uma viagem ao Recife. Aproveitando que o chefe não estava em Brasília, um assessor chamou um engenheiro da estatal Novacap para construir um canil no Palácio da Alvorada. Estava convencido de que o presidente iria adorar a surpresa.
Jânio já encontrou a obra pronta, ao retornar da viagem. Mandou chamar o engenheiro responsável:
- Quanto tempo o senhor levou para construir esta maravilha?
- Doze horas, excelência - gabou-se o homem.
Apontando para o canil, Jânio pôs fim à felicidade do engenheiro:
- Pois então tem exatas duas horas para botar tudo no chão. Tudo!
QUINTA NOS JORNAIS
- Estadão: Ministra do STF decide por CPI exclusiva da Petrobrás
- Folha: Ministra do STF manda abrir CPI só da Petrobras
- Globo: Auditoria descobre saque de R$ 10 milhões sem registro
- Correio: O último a sair apague a luz
- Zero Hora: Operação lava-jato: Doleiro apontado como chefe de fraude vira réu
- Brasil Econômico: Divergência provoca desmonte de conselho da CCEE