ZERO HORA - 05/02
Quase todas as novelas acabam virando o samba do crioulo doido da metade para o final. Os autores precisam esticar a trama e aí personagens que no início eram interessantes tornam-se patéticos e a história que fazia sentido passa a não fazer mais sentido algum, a lógica vai para o espaço. Salva-se quem tiver talento acima da média, caso de Mateus Solano, que defendeu seu Félix com bravura e humor, virando o grande destaque de Amor à Vida.
Coube a ele e a Thiago Fragoso a cena histórica da tevê brasileira: o primeiro beijo de amor entre dois homens. Quem vinha acompanhando o desenrolar do relacionamento dos personagens Félix e Niko certamente não se chocou. Se houvesse uma palavra para traduzir aquela relação, seria ternura. O oposto de depravação.
Eu não esperava que o beijo ocorresse. Pega de surpresa, meu senso crítico (bem crítico!) em relação à novela desapareceu e me vi emocionada e feliz por todos os homens e mulheres que vivem um amor homossexual, e por seus pais, e por todos nós. Uma nova sociedade começava ali a sair do armário.
Não se pode desmerecer o alcance de uma novela das nove, ainda mais em seu capítulo final. Dezenas de milhões de pessoas assistiram dentro de suas casas a uma realidade que a cada dia se torna menos secreta. Ouvi de alguém uma comparação espantosa: que assim como os telejornais não mostraram as cenas de cabeças cortadas na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, as novelas também deveriam se abster de mostrar o beijo gay, bastaria uma insinuação. Se entendi bem, o beijo estaria sendo considerado violento.
Os beijos podem ser românticos, eróticos, indecentes (os melhores), mas só são violentos quando acontecem contra a vontade. Afora isso, são detonadores de histórias de amor – ou de ilusões de amor, que seja. A partir deles, sempre começa alguma coisa (o.k., não nesta era de ficações banais, mas permita-me ser nostálgica). Assim como na vida real, os beijos do cinema, do teatro e da televisão ajudam a construir uma narrativa. E o que a história de Félix e Niko contou foi que homens enamoram-se entre si, sentem ciúme, ficam inseguros, reatam, tudo como ocorre entre héteros. Mesmo ainda não sendo considerados casais convencionais, podem ser tão amorosos quanto. Há alguma obscenidade no amor? Nenhuma. Não há obscenidade nem no sexo, não quando consentido e entre maiores de idade.
Obscenidade é quando a grosseria nos remete ao nosso estado mais primitivo, mais irracional. Não fazemos questão de ver cabeças cortadas na tevê porque nos dói admitir o quanto o ser humano é descontrolado e feroz. Em contrapartida, nunca haverá razão para cortar cenas de afeto que nos façam lembrar o quanto podemos ser doces, estejamos em cena ou simplesmente aplaudindo de fora.
quarta-feira, fevereiro 05, 2014
A bola está com o governo - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 05/02
O Estado tem de tomar uma atitude contra a violência, com a colaboração dos clubes e da sociedade
Em minhas caminhadas diárias, o porteiro de um prédio vizinho me pediu para escrever sobre as causas da queda do Corinthians. Disse a ele que os motivos mais decisivos costumam ficar encobertos e que só conheço bem as coisas menos importantes. Ele não acreditou. Achou que eu estava brincando.
Isso me faz lembrar, mais uma vez, de uma cena do filme "Zorba, o Grego", quando Anthony Quinn, no papel de um grego rústico (Zorba), pergunta a seu patrão, um inglês erudito, o que os livros falavam sobre o que existia depois da morte. Ele responde: "Os livros não sabem". Zorba retruca: "Então seus livros não servem para nada".
Em 2012, Tite formou um time disciplinado e eficiente. Os laterais marcavam muito e apoiavam pouco. Os meias, pelos lados, jogavam de uma linha de fundo à outra. Havia uma obsessão por não levar gols. Parecia uma rígida equipe inglesa. O time vencia com um gol de diferença, geralmente por 1 a 0.
Assim, o Corinthians ganhou títulos, facilitado pela pouca qualidade dos rivais brasileiros e sul-americanos. Como o time estava preparado para não sofrer gols, mesmo de grandes equipes, não foi surpresa a vitória por 1 a 0 sobre o Chelsea, que vivia um mau momento.
A partir daí, criou-se uma grande expectativa, como se o Corinthians fosse um timão, com vários craques. Por isso, e mais a saída de Paulinho, a chegada inevitável da soberba, o desejo de todas as outras equipes de vencer o campeão mundial e o desgaste de fazer sempre tudo igual, surgiram os maus resultados, que só não foram piores porque a defesa continuava bem. Além disso, quem ganha por 1 a 0 corre grande risco de começar a perder, mesmo se não houver queda técnica.
Neste ano, com novo técnico, novos planos, renasceram as esperanças de recuperação.
Segundo informações de comentaristas, Mano Menezes quer que os laterais apoiem mais e que os meias se aproximem mais do centroavante, sem se preocuparem tanto em voltar para marcar os laterais. O time ficou mais fraco na defesa e continua ruim no ataque.
Nada mais ultrapassado do que jogar com laterais marcando e avançando como pontas, sem a ajuda de meias pelos lados, e com os volantes mais atrás, para fazer a cobertura dos laterais.
Muito mais graves que a queda técnica do Corinthians são as agressões sofridas pelos atletas. O presidente do Cruzeiro rompeu com as torcidas organizadas, o que deveria ser seguido pelos outros clubes, mas isso não é solução para o problema.
A violência é caso de polícia. É preciso identificar os marginais, não permitir que entrem em estádios, processá-los e prendê-los. O Estado brasileiro tem de tomar uma atitude, com urgência, com a colaboração efetiva e constante dos clubes e da sociedade. A bola está com o governo.
O Estado tem de tomar uma atitude contra a violência, com a colaboração dos clubes e da sociedade
Em minhas caminhadas diárias, o porteiro de um prédio vizinho me pediu para escrever sobre as causas da queda do Corinthians. Disse a ele que os motivos mais decisivos costumam ficar encobertos e que só conheço bem as coisas menos importantes. Ele não acreditou. Achou que eu estava brincando.
Isso me faz lembrar, mais uma vez, de uma cena do filme "Zorba, o Grego", quando Anthony Quinn, no papel de um grego rústico (Zorba), pergunta a seu patrão, um inglês erudito, o que os livros falavam sobre o que existia depois da morte. Ele responde: "Os livros não sabem". Zorba retruca: "Então seus livros não servem para nada".
Em 2012, Tite formou um time disciplinado e eficiente. Os laterais marcavam muito e apoiavam pouco. Os meias, pelos lados, jogavam de uma linha de fundo à outra. Havia uma obsessão por não levar gols. Parecia uma rígida equipe inglesa. O time vencia com um gol de diferença, geralmente por 1 a 0.
Assim, o Corinthians ganhou títulos, facilitado pela pouca qualidade dos rivais brasileiros e sul-americanos. Como o time estava preparado para não sofrer gols, mesmo de grandes equipes, não foi surpresa a vitória por 1 a 0 sobre o Chelsea, que vivia um mau momento.
A partir daí, criou-se uma grande expectativa, como se o Corinthians fosse um timão, com vários craques. Por isso, e mais a saída de Paulinho, a chegada inevitável da soberba, o desejo de todas as outras equipes de vencer o campeão mundial e o desgaste de fazer sempre tudo igual, surgiram os maus resultados, que só não foram piores porque a defesa continuava bem. Além disso, quem ganha por 1 a 0 corre grande risco de começar a perder, mesmo se não houver queda técnica.
Neste ano, com novo técnico, novos planos, renasceram as esperanças de recuperação.
Segundo informações de comentaristas, Mano Menezes quer que os laterais apoiem mais e que os meias se aproximem mais do centroavante, sem se preocuparem tanto em voltar para marcar os laterais. O time ficou mais fraco na defesa e continua ruim no ataque.
Nada mais ultrapassado do que jogar com laterais marcando e avançando como pontas, sem a ajuda de meias pelos lados, e com os volantes mais atrás, para fazer a cobertura dos laterais.
Muito mais graves que a queda técnica do Corinthians são as agressões sofridas pelos atletas. O presidente do Cruzeiro rompeu com as torcidas organizadas, o que deveria ser seguido pelos outros clubes, mas isso não é solução para o problema.
A violência é caso de polícia. É preciso identificar os marginais, não permitir que entrem em estádios, processá-los e prendê-los. O Estado brasileiro tem de tomar uma atitude, com urgência, com a colaboração efetiva e constante dos clubes e da sociedade. A bola está com o governo.
Ueba! Marina é o Bial de coque! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 05/02
'Cantor Leonardo é preso portando munição'. Balada Sertaneja. A munição era uma caixa de CDs dele
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Calor! Frente Frita! Frita até os miolos. Acho que esses ônibus em São Paulo não foram incendiados, entraram em combustão!
E a pele que vira pele de jacaré? Crocodilo Style! E a Dilma vai lançar o Bolsa Calor: todo brasileiro terá direito a uma piscininha de plástico! Azulzinha, por favor!
E o negócio é filar ar-condicionado em banco. Vou levar cadeira de praia pra agência do Banco do Brasil. Mas aí você corre o perigo de eles quererem te vender título de capitalização Ourocap! Rarará!
E o primeiro capítulo da novela do Manoel Carlos? Sem Leblon! E sem ar-condicionado! E a melhor Helena seria a Heloísa Helena. Barraco garantido. Só que a Heloísa Helena não tem dinheiro pra morar no Leblon! Rarará!
E essa: "Cantor Leonardo preso em Brasília portando munição". BALADA! Balada Sertaneja. A munição era pra balada! A munição era uma caixa de CDs do Leonardo. Ou como disse um tuiteiro: "O preço dos ingressos pro show do Leonardo é um tiro no peito!" Rarará!
E essa: "Rede e PSB lançam diretrizes de programa". E tudo em verso! Eles rimaram digital com social! E conseguiram rimar Bornhausen com socialista!
E a Marina discursando parece a Menina Pastora Louca. E o Campos com aqueles dois olhos esbugalhados parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! Marina Pastora Louca e o Iluminado! Rarará!
E, como a Marina parece uma tartaruga sem casco, devia ser presidente do Projeto Tamar! E o PSB conseguiu uma façanha: encaixar o Heráclito Fortes e o Bornhausen num partido socialista! Aceitamos qualquer um, contanto que não seja socialista. Rarará!
E eu não entendo nada do que a Marina fala: "Podemos superar a fragmentação do mundo em crise compondo novas sínteses baseadas em novas harmonias". Tradução: o pinto do meu pai fugiu com a galinha do vizinho. A Marina é o Bial da política. É um Bial de coque! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é lúdico! Brasileiro escreve errado, mas todo mundo se entende! Olha essa placa em Curitiba: "Vende-se uma cama. Um corchom de sortero. Uma bisecleta. Uma geladeira. Uma samfona". Isso é tudo o que uma pessoa precisa pra viver. Inclusive, a SAMFONA! Eu quero a SAMFONA! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
'Cantor Leonardo é preso portando munição'. Balada Sertaneja. A munição era uma caixa de CDs dele
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Calor! Frente Frita! Frita até os miolos. Acho que esses ônibus em São Paulo não foram incendiados, entraram em combustão!
E a pele que vira pele de jacaré? Crocodilo Style! E a Dilma vai lançar o Bolsa Calor: todo brasileiro terá direito a uma piscininha de plástico! Azulzinha, por favor!
E o negócio é filar ar-condicionado em banco. Vou levar cadeira de praia pra agência do Banco do Brasil. Mas aí você corre o perigo de eles quererem te vender título de capitalização Ourocap! Rarará!
E o primeiro capítulo da novela do Manoel Carlos? Sem Leblon! E sem ar-condicionado! E a melhor Helena seria a Heloísa Helena. Barraco garantido. Só que a Heloísa Helena não tem dinheiro pra morar no Leblon! Rarará!
E essa: "Cantor Leonardo preso em Brasília portando munição". BALADA! Balada Sertaneja. A munição era pra balada! A munição era uma caixa de CDs do Leonardo. Ou como disse um tuiteiro: "O preço dos ingressos pro show do Leonardo é um tiro no peito!" Rarará!
E essa: "Rede e PSB lançam diretrizes de programa". E tudo em verso! Eles rimaram digital com social! E conseguiram rimar Bornhausen com socialista!
E a Marina discursando parece a Menina Pastora Louca. E o Campos com aqueles dois olhos esbugalhados parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! Marina Pastora Louca e o Iluminado! Rarará!
E, como a Marina parece uma tartaruga sem casco, devia ser presidente do Projeto Tamar! E o PSB conseguiu uma façanha: encaixar o Heráclito Fortes e o Bornhausen num partido socialista! Aceitamos qualquer um, contanto que não seja socialista. Rarará!
E eu não entendo nada do que a Marina fala: "Podemos superar a fragmentação do mundo em crise compondo novas sínteses baseadas em novas harmonias". Tradução: o pinto do meu pai fugiu com a galinha do vizinho. A Marina é o Bial da política. É um Bial de coque! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é lúdico! Brasileiro escreve errado, mas todo mundo se entende! Olha essa placa em Curitiba: "Vende-se uma cama. Um corchom de sortero. Uma bisecleta. Uma geladeira. Uma samfona". Isso é tudo o que uma pessoa precisa pra viver. Inclusive, a SAMFONA! Eu quero a SAMFONA! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O bicho de volta - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 05/02
Mas este ano pode ser diferente. Rogério Andrade, sobrinho de Castor e acusado pela morte do primo Paulinho, está de volta à Mocidade. Não terá cargo, mas vai comandar a escola.
Expresso no frevo
Além do carnaval de Salvador, onde já está há 16 anos, o camarote Expresso 2222, de Flora e Gilberto Gil, vai chegar ao Recife este ano.
Será no sábado de carnaval, na Apoteose do Galo da Madrugada. E Gil ainda faz show à noite no Marco Zero.
Cortina de ferro
Paulo Freire, o educador brasileiro, vai ser homenageado na Feira Internacional do Livro em Havana, na segunda quinzena do mês. Serão dez dias de debate em torno da obra do mestre.
Um pingo de História...
Veja só. Até 1985, Paulo Freire era proibido em Cuba, considerado idealista pelos soviéticos e, de quebra, pelos cubanos.
Separação
Na semana que vem, Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, entra na Justiça do Rio com um pedido de divórcio amigável de Ana Teixeira.
Que Copa, hein!
A quatro meses da Copa, os preços de imóveis na Zona Sul do Rio continuam subindo.
O dono de um três quartos em Ipanema, que em tempos normais é alugado por R$ 4 mil, por mês, recebeu oferta para ganhar R$ 2,5 mil por dia, durante os jogos. Ou seja, pode faturar R$ 75 mil.
Fator Tony Ramos
Gisele Bündchen e Neymar que se cuidem. O garoto-propaganda do Brasil é Tony Ramos, o ator. Desde que passou a anunciar a carne da Friboi, em maio do ano passado, a empresa ganhou mais de 10 mil novos pontos de venda.
O crescimento da demanda fez a fábrica da Seara em Duque de Caxias, RJ, implantar o terceiro turno.
Mas...
A campanha, como se sabe, vem sendo criticada no setor, ao sugerir, segundo Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, que as outras marcas não cumprem regras sanitárias.
O conhecido agrônomo Xico Graziano levantou também o temor de que a campanha ajude a formar um poderoso cartel entre os frigoríficos.
Outro segredo
Autora de “O segredo”, fenômeno mundial com mais de 20 milhões de cópias vendidas em 2007, Rhonda Byrne voltará às livrarias brasileiras em breve.
A Sextante lança “A magia” em março. Nele, Rhonda diz como usar no dia a dia o conhecimento de textos sagrados, escritos há dois mil anos. Nos EUA, o livro vendeu um milhão de exemplares.
Diário da Justiça
A 24ª Câmara Cível do Rio condenou a Gol Linhas Aéreas a pagar R$ 10 mil por danos morais a um passageiro.
É que ele comprou quatro passagens para passar o carnaval em Punta Cana com sua família. Mas... foi surpreendido com a alteração para outro voo com conexão e sem alimentação nas escalas. Ao final da viagem, teve uma das malas extraviada.
Rio selvagem
A conta é da Secretaria municipal de Saúde.
No ano passado, a rede de hospitais atendeu a 131 vítimas de ataques de micos, morcegos, capivaras e outros animais silvestres.
Alô?
O 6º Juizado Especial Cível da Lagoa condenou a Oi a indenizar a promoter Carol Sampaio, responsável por listas vips de eventos badalados no Rio, em R$ 8 mil.
A juíza entendeu que a promoter, que teve sua linha de celular injustamente bloqueada por 48h, teve danos morais e prejuízos no trabalho.
Bandido no Facebook
Um jovem de 19 anos foi assaltado, segunda passada, no Recreio, na Zona Oeste do Rio. Foi agredido e ficou sem o celular.
Horas depois, acredite, a vítima recebeu um pedido de amizade no Facebook. Era o larápio. O jovem levou o caso à 42ª DP.
Beija eu - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 05/02
O comentário rendeu mais de 95 mil curtidas. No palco, ela chegou a ser derrubada pelas fãs mais fervorosas na abertura da turnê, que chega ao Rio neste fim de semana.
Também emplacou sua versão de "Eu Sei que Vou te Amar", de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, na abertura da novela "Em Família" (Globo).
MÃE ÁFRICA
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, fará novo giro internacional nas próximas semanas. Desta vez, ele vai à África, atendendo a convites de diversos países. Deve passar, entre outros, por Angola, Gana e Moçambique.
ANDAR DE CIMA
A CBF já estuda recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) caso a confusão judicial no caso Portuguesa/Fluminense não chegue ao fim nos próximos dias. Até ontem, quatro liminares eram favoráveis à permanência da Lusa na primeira divisão do Brasileirão. E outras quatro, contrárias.
MÃO ÚNICA
A entidade deve pedir ao STJ que indique um único magistrado como juiz universal do caso para dar fim às decisões divergentes.
OFICIAL
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e Patrícia Kundrát optaram pelo reconhecimento de união estável ao oficializar o relacionamento em um cartório, no fim de janeiro. Declararam que estão juntos desde 2011.
Definiram também que o patrimônio de um não se comunica com o do outro.
VOLTEI!
Marta Suplicy (PT-SP) tenta voltar ao Clube Athletico Paulistano. Sócia quando era casada com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), a ministra teve que deixar os quadros da agremiação quando se separou. Agora, pode retornar pelos braços do atual marido, Márcio Toledo, sócio do Paulistano há vários anos. O título do clube custa mais de R$ 500 mil.
OLHAR COLETIVO
O nome de Marta está no mural no clube.
Outros sócios podem "gongar" a ministra, possibilidade considerada remota.
O APRENDIZ
O maestro João Carlos Martins está compondo a sua primeira trilha sonora para um longa-metragem.
Ela vai embalar Sabrina Sato e Caio Castro no filme "Aprendiz de Samurai", do diretor Stefano Lapietra.
NO MERCADO
Funcionários demitidos da rede de supermercados Econ vão fazer manifestação hoje no centro. A empresa dispensou ao menos 150 pessoas, segundo o Sindicato dos Comerciários. "Elas foram orientadas a procurar a Justiça para receber", diz Josimar Andrade, diretor da entidade. Os trabalhadores querem que o Ministério do Trabalho faça a mediação do conflito.
NO MERCADO 2
A empresa, que mudou de sócios no ano passado, herdou R$ 300 milhões de passivo, segundo o advogado Odair de Moraes Junior. E vai fechar 25 lojas. "O Econ está buscando uma solução de parcelamento. Mas, como seus recursos estão escassos, aguarda uma assembleia geral para a definição dos valores", diz. Os compromissos com os empregados "serão honrados em sua totalidade", afirma Moraes Junior.
PÉ NA ESTRADA
Os brasileiros estão com mais vontade de viajar, inclusive durante a Copa, segundo pesquisa do Ministério do Turismo. Dos 2.000 entrevistados em janeiro, 27% têm intenção de passear até julho --ante 25% em 2013.
ACORDES & ACÓRDÃOS
José Renato Nalini tomou posse na presidência do Tribunal de Justiça do Estado, anteontem, com concerto regido por João Carlos Martins, na Sala São Paulo. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), com a primeira-dama Lu, e o pré-candidato ao governo Alexandre Padilha (PT-SP), com Thássia Alves, foram à solenidade. Também compareceram: o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP), o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), a defensora pública-geral do Estado, Daniela Sollberger, e o poeta Paulo Bomfim.
TODOS OS TONS
O humorista Tom Cavalcante fez curta temporada do espetáculo "No Tom do Tom", no fim de semana, no espaço Pikadero, na Vila Olímpia. Ao lado da mulher, Patricia Cavalcante, Tom recebeu convidados como o ex-piloto Emerson Fittipaldi, o humorista Paulo Bonfá e o publicitário Washington Olivetto, que foi ao show com a mulher, Patrícia Viotti, e os gêmeos Theo e Antonia.
CURTO-CIRCUITO
A peça "Opus 12 para Vozes Humanas", com direção de José Roberto Jardim, estreia hoje, às 21h. No Club Noir, na rua Augusta. 14 anos.
O Movimento de Rua, bloco pré-carnavalesco que sai dia 15 do Jockey, terá parte da venda de abadás revertida para a Liga Solidária.
A guerra suja nas redes sociais - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/02
Um franco-atirador?
O desembargador Edson Vidal Pinto comandou a investigação, e seu despacho é de 28 de janeiro. Relator, ele afirma: “Houve flagrante violação ao direito de personalidade, ao ridicularizar a reclamante com referências grosseiras que transbordam os limites do livre exercício da liberdade de expressão”. O alvo era a senadora Gleisi Hoffmann, candidata do PT ao governo do Paraná. O magistrado conclui: “O único intuito da criação do perfil falso ‘Gleisi Indelicada’ era denegrir a imagem da autora”. No processo, o Facebook informou que em um mês o tal jornalista gastou mais de R$ 4.600, para atacar a petista, usando seu próprio cartão de crédito.
“A expectativa é que a bancada do PMDB na Câmara libere a presidente Dilma e entregue as
pastas do Turismo e da Agricultura”
Gastão Vieira
Ministro do Turismo, sobre a ação do partido para se descolar da pecha de fisiologismo
Todos são iguais na internet?
A campanha nas redes sociais será um novo foco de tensão nas eleições. Nelas, pratica-se um vale-tudo. Sua audiência cresce aos saltos, e todos querem fazer melhor. Esse “melhor” deve ser visto pelos lados do aceitável e do inaceitável.
Contra tudo e todos
A ex-deputada Luciana Genro (RS) será a vice do candidato do PSOL ao Planalto, senador Randolfe Rodrigues. O lançamento da chapa deve ocorrer no dia 17 no Rio. O partido vai disputar a Presidência para reforçar as candidaturas ao Congresso. O partido sonha chegar, ao menos, aos 6.575.393 votos (6,85%) alcançados por Heloísa Helena em 2006.
Aposta na divisão
O PMDB não gostou da atitude da presidente Dilma. Ela sugeriu a Integração para o líder no Senado, Eunício Oliveira (CE), sabendo que os senadores tinham indicado Vital do Rêgo (PB).
Na linha fina
Pesquisa qualitativa realizada pelo DEM, que ouviu 27 grupos em nove capitais, revela que: “Entre o ‘ruim’ (a presidente Dilma) e ‘o ruim desconhecido’ (Eduardo Campos e Aécio Neves), os eleitores preferem Dilma”. Os eleitores nao engolem promessas na Saúde, na Educação e na Segurança Pública, porque nunca sao cumpridas.
Faça chuva ou faça sol
A direção nacional do PT vai baixar o centralismo em Santa Catarina. O partido vai apoiar a reeleição do governador Raimundo Colombo (PSD). O presidente petista no estado, Cláudio Vignatti, será o candidato da chapa ao Senado.
Uma pedra no meio do caminho
Um simpatizante da candidatura Aécio Neves à Presidência, que esteve recentemente no Rio Grande do Sul, relata que o drama do tucano é que lá “ninguém quer chegar perto nem quer em seu palanque a ex-governadora Yeda Crusius”.
A SEDE da agência de notícias do PT será Brasília, que abrigará 80% da redação do portal de informação na internet. Sao Paulo terá sucursal.
Estação final - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 05/02
A Corregedoria Geral da Administração do governo de São Paulo produziu um relatório que recomenda ao secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o afastamento de dirigentes que comandaram licitações do sistema de transporte sobre trilhos suspeitas de superfaturamento. O documento é tratado com sigilo no Palácio dos Bandeirantes. Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) afirmam que o governador terá de analisar os nomes caso a caso.
Repescagem 1 O ex-subsecretário da Receita da Prefeitura de São Paulo, Douglas Amato, que pediu exoneração após ter sido acusado por um integrante da quadrilha que fraudava o ISS de receber propina em troca de isenções fiscais, pode ser nomeado para outro cargo de chefia.
Repescagem 2 Auxiliares do prefeito Fernando Haddad (PT) dizem que a denúncia não foi comprovada, e que Amato decidiu deixar o cargo por ter se sentido "abalado" com a acusação. Ele foi nomeado para o antigo posto na gestão Gilberto Kassab (PSD).
De carteirinha O ex-presidente da CUT Artur Henrique é um dos favoritos para assumir a Secretaria de Trabalho da capital paulista. O PT tenta obter apoio de movimentos sociais para que ele substitua Eliseu Gabriel (PSB), de saída de pasta.
Plantio Maurílio Biagi (PR) não foi confirmado como vice de Alexandre Padilha (PT) na corrida pelo governo paulista, mas passou a organizar encontros do petista com empresários do agronegócio para aproximá-lo de potenciais doadores de campanha.
Aviso prévio Alckmin informou seus auxiliares que fará a reforma do secretariado no fim de fevereiro. Pelo menos seis secretários devem deixar o governo, mas o número pode chegar a nove.
Voo solo O governador recusou proposta de reforço em sua segurança e da família após o tiroteio envolvendo policiais que fazem a escolta de seu filho, anteontem.
Na pista Em conversas recentes com aliados, José Serra (PSDB) deu a entender que pretende disputar vaga na Câmara dos Deputados. Já indicou até auxiliares que poderão atuar na campanha.
Operação... O PMDB se rebelou diante da oferta feita por Dilma Rousseff para que o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) assuma o Ministério da Integração. A bancada na Câmara fará reunião hoje para discutir a entrega dos cargos na Esplanada.
... tartaruga Avisada, Dilma se irritou e suspendeu as negociações com o partido para, nas palavras de um peemedebista, "pagar para ver". "Ela sentou em cima", diz um interlocutor.
Mimo O entendimento no PMDB é que a presidente sacrifica as negociações com o partido para atender a um "capricho" do governador Cid Gomes (Pros), que não quer que Eunício seja candidato ao governo do Ceará.
Sonhática Observadores atentos registraram: a ministra aposentada do STJ Eliana Calmon cochilou durante a cerimônia que reuniu Marina Silva e Eduardo Campos ontem, em Brasília, para o lançamento do programa de governo do PSB e da Rede.
Falha nossa Após a apresentação do documento com as propostas, o áudio dos microfones continuou sendo transmitido pelo site criado para divulgar o evento. Foi possível ouvir um dirigente pessebista reclamando da equipe de Marina.
Visita à Folha Yoel Barnea, cônsul-geral de Israel em São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava com Amit Mekel, vice-cônsul-geral.
tiroteio
"Na aritmética do PT, Padilha anuncia mais médicos, soma publicidade e o resultado é sempre menos benefício para a população."
DO DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA, presidente do PSDB-SP, sobre o aumento de 19,7% dos gastos do Ministério da Saúde com propaganda em 2013.
contraponto
Uma pasta de bombachas
A ex-ministra Gleisi Hoffmann chegou ao gabinete de Aloizio Mercadante para a transmissão de cargo na Casa Civil, ontem, e avistou uma cuia de chimarrão, ao lado de um suprimento com erva-mate.
Curiosa, a paranaense perguntou ao sucessor qual a origem de seu insuspeito gosto pela bebida gaúcha, também muito popular nos demais Estados do Sul.
--Aprendi a tomar chimarrão com a minha filha e meu genro, que moram no Uruguai --esclareceu o ministro.
Também apreciadora do mate, Gleisi brincou:
--Esse é mais um sinal de continuidade na Casa Civil.
O jogo em silêncio - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 05/02
PMDB...
Foi tensa a reunião da cúpula peemedebista que varou a madrugada, no Palácio do Jaburu. A tentativa de oferecer o Ministério da Integração ao senador Eunício Oliveira foi um tiro no pé. A leitura foi a de que Dilma queria resolver o palanque do Ceará e não atender o PMDB, uma vez que o mesmo posto não foi oferecido ao senador Vital do Rego Filho, hoje um ministro sem pasta.
...em chamas
A novela está chegando ao ponto de desgastar até mesmo o vice-presidente da República, Michel Temer. Os deputados do PMDB dizem que ele está mais preocupado com o próprio cargo do que em atender a bancada.
Teste de fidelidade
O vice-presidente Michel Temer escalou o deputado Eliseu Padilha (RS) como coordenador político na campanha da reeleição. Assim, se Dilma conquistar um segundo mandato, o gaúcho — que, por 20 anos, ajudou as campanhas presidenciais do PSDB — estará na boca para ocupar um cargo no primeiro escalão do governo do PT.
Aécio comanda
Prefeitos do interior de Minas Gerais têm feito o seguinte pedido aos deputados federais de qualquer partido que chegam cobrando apoio para a campanha: “Tudo bem, mas não me peça para apoiar outro candidato a presidente da República que não seja Aécio Neves, o mineiro autêntico”.
Por falar em Minas...
Se Antônio Andrade deixar o governo e os peemedebistas mineiros ficarem sem ministério, Dilma verá o restante da bancada migrar para a campanha de Aécio. Hoje, o tucano reúne 70% dos deputados do PMDB de Minas em seu palanque.
Convidado/ Só depende agora do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB-PE, a decisão de concorrer à reeleição. Da parte do PSB, a porta do apoio está totalmente aberta. Jarbas, entretanto, ainda não se decidiu.
Na música/ O ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro (foto) vai lançar, em breve, um CD com 22 composições de sua autoria, em parceria com Nando Cordel. O trabalho está em fase de produção e definição de arranjos.
Fitness/ Era 7h30 de ontem, quando um deputado abriu a porta do elevador do prédio em que mora e se deparou com João Paulo Cunha. O deputado petista voltava de sua última caminhada em liberdade, antes da ordem de prisão.
O especialista/ A TV Justiça estreia hoje, às 13h30, um programa em que quatro jornalistas convidados sabatinam o presidente do TSE, Marco Aurélio Melo, sobre as eleições de 2014. O Correio estará representado pela editora de opinião Dad Squarisi.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 05/02
Setor de distribuição cresce acima do previsto
O setor atacadista distribuidor fechou 2013 com um crescimento de 4,2%, descontada a inflação, segundo a Abad (associação que representa empresas da área), com base em levantamento da FIA (Fundação Instituto de Administração).
A alta superou a previsão inicial de 3,5% que havia sido feita pela entidade no ano passado. Também deixou para trás 2012, quando houve uma evolução de 2,5%.
Em valores nominais, o faturamento chegou a R$ 197,6 bilhões no ano passado.
O segmento é um grande fornecedor de itens de consumo básico das famílias, como alimentos e produtos de higiene, sobretudo para pequenos e médios comércios.
Essa é uma das razões que garantiram o crescimento nos últimos anos, segundo José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da Abad.
"Os supermercados de pequeno porte são os principais clientes do nosso setor, que tem se beneficiado de um consumo maior por parte das classes C e D", afirma.
Para 2014, a associação volta a projetar um crescimento de 3,5%.
Embora a Copa do Mundo possa colaborar para um aumento no consumo, há o risco de perdas com manifestações e um número menor de dias úteis, diz o presidente.
"O nosso setor é dependente de uma logística de distribuição que pode ser afetada tanto pelos protestos como pelos dias parados", afirma.
"Por esse motivo, temos uma projeção tímida para o ano", diz. Lopes Filho também é dono da Jotujé, companhia de distribuição que atua no Ceará.
Os grupos atacadistas representados pela Abad abastecem cerca de um milhão de pontos de venda no país, segundo a entidade.
REJUVENESCIMENTO
O grupo FB4, dono da Mr. Kitsch, de moda masculina, vai lançar uma nova grife neste ano, a Brand 77, voltada para jovens.
A companhia tem outras três marcas: uma para o público feminino, uma para o infantil e outra focada em artigos esportivos.
"Queremos atingir a faixa etária de 14 a 21 anos com produtos voltados principalmente para as classes B e C", afirma Tiago Torres, presidente da empresa.
Serão aportados neste ano cerca de R$ 40 milhões na abertura de 40 novas lojas das marcas em todo o país. Ao menos quatro unidades serão próprias.
"O plano de expansão prevê também a entrada do grupo nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas."
Nos locais onde ainda não trabalha, a companhia inicia com uma loja própria e somente depois entra com franquias. O grupo tem hoje 85 unidades, com maior concentração em São Paulo, no Norte e no Nordeste.
IMPOSTO ARREMATADO
O governo de São Paulo leiloou ontem cerca de R$ 29,9 milhões em créditos de ICMS.
Todos os 26 lotes foram arrematados por uma única empresa pelo valor mínimo de R$ 1,1 milhão cada, segundo a Desenvolve SP, órgão que organiza os eventos.
O próximo leilão está previsto para maio.
"A edição deverá ter novos dispositivos para facilitar a concorrência e, com isso, reduzir o deságio, que foi de 6%", de acordo com Milton Luiz de Melo Santos, presidente da instituição.
Os papéis leiloados são originalmente de abatedouros de aves, beneficiados por um programa do governo estadual para recuperar o setor.
A Desenvolve SP concedeu empréstimos às empresas, com os créditos do imposto como compromisso de pagamento. Na hora do pagamento, elas optaram por ter a garantia executada.
R$ 29,6 mi
foi o montante leiloado em títulos de créditos de ICMS
6
empresas demonstraram interesse em participar do leilão
80%
foi o percentual aproximado de crédito dos abatedouros financiado pela entidade
26
foram os lotes leiloados
Grão na caixa A operadora de contêineres Santos Brasil teve alta de 297% no volume de milho transportado de janeiro a novembro de 2013, em relação a igual período de 2012. No mesmo intervalo, o transporte de soja cresceu 89%.
Traço italiano A Cyrela fechou um contrato com o escritório de design Pininfarina para um empreendimento imobiliário em São Paulo. O projeto arquitetônico será assinado pela empresa italiana.
ABAIXO DA INFLAÇÃO
O crescimento da indústria moveleira de Bento Gonçalves (RS) ficou abaixo da inflação no ano passado. Enquanto o faturamento nominal do setor avançou 3,01%, o IPCA ficou em 5,91%.
A receita total da indústria de móveis da cidade somou R$ 2,48 bilhões.
As exportações, com queda de 7,5%, foram as principais responsáveis pelo resultado fraco. Os embarques recuaram em seis dos dez principais destinos do segmento.
Na América do Sul, Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia e Chile reduziram as encomendas. Ocorreram perdas também na África do Sul, em Angola e em Moçambique.
O mau desempenho foi determinado pela perda de competitividade do país e pelo aumento dos custos logísticos e trabalhistas, de acordo com o Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves).
DOR DE CABEÇA NA INGLATERRA
A preocupação dos ingleses com a situação da economia diminuiu durante 2013.
Pesquisa da Ipsos mostra que em janeiro deste ano o assunto foi citado como motivo de apreensão por 41% dos entrevistados --11 pontos percentuais a menos do que em janeiro de 2013.
As questões relativas à imigração avançaram 19 pontos e agora empatam com as econômicas. Desemprego apareceu na terceira colocação, com 32% de menções. A inflação ficou na oitava posição, com 15%.
Ao todo, 952 ingleses foram entrevistados.
Setor de distribuição cresce acima do previsto
O setor atacadista distribuidor fechou 2013 com um crescimento de 4,2%, descontada a inflação, segundo a Abad (associação que representa empresas da área), com base em levantamento da FIA (Fundação Instituto de Administração).
A alta superou a previsão inicial de 3,5% que havia sido feita pela entidade no ano passado. Também deixou para trás 2012, quando houve uma evolução de 2,5%.
Em valores nominais, o faturamento chegou a R$ 197,6 bilhões no ano passado.
O segmento é um grande fornecedor de itens de consumo básico das famílias, como alimentos e produtos de higiene, sobretudo para pequenos e médios comércios.
Essa é uma das razões que garantiram o crescimento nos últimos anos, segundo José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da Abad.
"Os supermercados de pequeno porte são os principais clientes do nosso setor, que tem se beneficiado de um consumo maior por parte das classes C e D", afirma.
Para 2014, a associação volta a projetar um crescimento de 3,5%.
Embora a Copa do Mundo possa colaborar para um aumento no consumo, há o risco de perdas com manifestações e um número menor de dias úteis, diz o presidente.
"O nosso setor é dependente de uma logística de distribuição que pode ser afetada tanto pelos protestos como pelos dias parados", afirma.
"Por esse motivo, temos uma projeção tímida para o ano", diz. Lopes Filho também é dono da Jotujé, companhia de distribuição que atua no Ceará.
Os grupos atacadistas representados pela Abad abastecem cerca de um milhão de pontos de venda no país, segundo a entidade.
REJUVENESCIMENTO
O grupo FB4, dono da Mr. Kitsch, de moda masculina, vai lançar uma nova grife neste ano, a Brand 77, voltada para jovens.
A companhia tem outras três marcas: uma para o público feminino, uma para o infantil e outra focada em artigos esportivos.
"Queremos atingir a faixa etária de 14 a 21 anos com produtos voltados principalmente para as classes B e C", afirma Tiago Torres, presidente da empresa.
Serão aportados neste ano cerca de R$ 40 milhões na abertura de 40 novas lojas das marcas em todo o país. Ao menos quatro unidades serão próprias.
"O plano de expansão prevê também a entrada do grupo nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas."
Nos locais onde ainda não trabalha, a companhia inicia com uma loja própria e somente depois entra com franquias. O grupo tem hoje 85 unidades, com maior concentração em São Paulo, no Norte e no Nordeste.
IMPOSTO ARREMATADO
O governo de São Paulo leiloou ontem cerca de R$ 29,9 milhões em créditos de ICMS.
Todos os 26 lotes foram arrematados por uma única empresa pelo valor mínimo de R$ 1,1 milhão cada, segundo a Desenvolve SP, órgão que organiza os eventos.
O próximo leilão está previsto para maio.
"A edição deverá ter novos dispositivos para facilitar a concorrência e, com isso, reduzir o deságio, que foi de 6%", de acordo com Milton Luiz de Melo Santos, presidente da instituição.
Os papéis leiloados são originalmente de abatedouros de aves, beneficiados por um programa do governo estadual para recuperar o setor.
A Desenvolve SP concedeu empréstimos às empresas, com os créditos do imposto como compromisso de pagamento. Na hora do pagamento, elas optaram por ter a garantia executada.
R$ 29,6 mi
foi o montante leiloado em títulos de créditos de ICMS
6
empresas demonstraram interesse em participar do leilão
80%
foi o percentual aproximado de crédito dos abatedouros financiado pela entidade
26
foram os lotes leiloados
Grão na caixa A operadora de contêineres Santos Brasil teve alta de 297% no volume de milho transportado de janeiro a novembro de 2013, em relação a igual período de 2012. No mesmo intervalo, o transporte de soja cresceu 89%.
Traço italiano A Cyrela fechou um contrato com o escritório de design Pininfarina para um empreendimento imobiliário em São Paulo. O projeto arquitetônico será assinado pela empresa italiana.
ABAIXO DA INFLAÇÃO
O crescimento da indústria moveleira de Bento Gonçalves (RS) ficou abaixo da inflação no ano passado. Enquanto o faturamento nominal do setor avançou 3,01%, o IPCA ficou em 5,91%.
A receita total da indústria de móveis da cidade somou R$ 2,48 bilhões.
As exportações, com queda de 7,5%, foram as principais responsáveis pelo resultado fraco. Os embarques recuaram em seis dos dez principais destinos do segmento.
Na América do Sul, Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia e Chile reduziram as encomendas. Ocorreram perdas também na África do Sul, em Angola e em Moçambique.
O mau desempenho foi determinado pela perda de competitividade do país e pelo aumento dos custos logísticos e trabalhistas, de acordo com o Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves).
DOR DE CABEÇA NA INGLATERRA
A preocupação dos ingleses com a situação da economia diminuiu durante 2013.
Pesquisa da Ipsos mostra que em janeiro deste ano o assunto foi citado como motivo de apreensão por 41% dos entrevistados --11 pontos percentuais a menos do que em janeiro de 2013.
As questões relativas à imigração avançaram 19 pontos e agora empatam com as econômicas. Desemprego apareceu na terceira colocação, com 32% de menções. A inflação ficou na oitava posição, com 15%.
Ao todo, 952 ingleses foram entrevistados.
Parabéns aos envolvidos - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 05/02
Meia década de estagnação da indústria é obra da paralisia e dos remendaços do governo
"PESSIMISMO" É EM geral a palavra de quem pretende reduzir discussões a desconversa ou, na melhor das hipóteses, consolar alguém.
Segundo o governo, seria pessimismo observar que o crescimento econômico se arrastaria no pântano. Seria pessimismo observar que:
1) Os juros estão em alta desde o início do ano passado; 2) A confiança dos empresários estava baixa; 3) A desvalorização do real criaria tensão, incerteza e encareceria investimentos; 4) O crédito crescia cada vez mais devagar; mesmo o marombado crédito direcionado (sujeito a normas do governo e subsidiado) iria pelo mesmo caminho, por falta de dinheiro.
Note-se que estão listados apenas alguns e mais imediatos obstáculos ao crescimento da economia. Que bicho deu?
A produção da indústria brasileira cresceu 1,1% em 2013. Não bastou nem para tapar o buraco deixado pela recessão de 2012, quando a indústria encolheu 2,5%.
O tombo foi feio em dezembro, de 3,5% em relação ao mês anterior. Foi bem feio na produção de bens de capital. Enfim, o segundo semestre foi deprimente, o que não deveria causar admiração, dados a aceleração da alta das taxas de juros, os piques de desvalorização do real etc., como exposto acima.
Vai fazer meia dúzia de anos que a produção industrial está praticamente estagnada.
Alta de custos (salários em alta excessiva e infraestrutura ruim), taxa de câmbio nominal desfavorável, liquidações no mercado mundial de manufaturados e escassos ganhos de produtividade são motivos do estrago, que tem ajudado a avariar o conjunto da economia brasileira.
O relativo fechamento do país ao comércio, devido à política de remendos protecionistas jecas, a subsídios mal justificados e à falta de planos de abertura inteligente, ajudaram a fazer uma razia nos incentivos econômicos à inovação e à eficiência.
O esforço maior do governo foi no sentido de aumentar os subsídios diretos e indiretos à indústria: reduções de impostos, empréstimos a juros de avô para neto, negativos, doações de dinheiro, enfim.
No fim das contas, o resultado foi apenas criar um remendo insustentável para uma situação estruturalmente problemática. O governo compensou a queda da rentabilidade da indústria com dinheiro público; gastou a fim de contribuir para que a taxa de desemprego ficasse baixa.
Dadas as condições fiscais brasileiras, obviamente isso não iria prestar. Isto é, o deficit público aumentou, as taxas de juros aumentaram, juros que desde quase sempre já são uma tétrica exorbitância brasileira. Não há mais como pagar a conta do remendaço.
O que entra por uma porta sai pela outra, como é visível em tantas obras deste governo. Tabelar a gasolina arrebenta a Petrobras. Subsidiar a indústria encalhada num pântano de ineficiências estoura as contas públicas, o que dá em mais inflação, o que deteriora ainda mais a situação da indústria. A maquiagem do custo da eletricidade torna-se mais dívida. Etc.
Enfim, o "modelo" faz água por todos os lados, para usar uma expressão original. Vai haver "desastre"? Não, provavelmente, não. Mas agora é essa a nossa medida de sucesso, não haver "desastre"?
Para usar outra expressão da moda, "parabéns aos envolvidos".
Meia década de estagnação da indústria é obra da paralisia e dos remendaços do governo
"PESSIMISMO" É EM geral a palavra de quem pretende reduzir discussões a desconversa ou, na melhor das hipóteses, consolar alguém.
Segundo o governo, seria pessimismo observar que o crescimento econômico se arrastaria no pântano. Seria pessimismo observar que:
1) Os juros estão em alta desde o início do ano passado; 2) A confiança dos empresários estava baixa; 3) A desvalorização do real criaria tensão, incerteza e encareceria investimentos; 4) O crédito crescia cada vez mais devagar; mesmo o marombado crédito direcionado (sujeito a normas do governo e subsidiado) iria pelo mesmo caminho, por falta de dinheiro.
Note-se que estão listados apenas alguns e mais imediatos obstáculos ao crescimento da economia. Que bicho deu?
A produção da indústria brasileira cresceu 1,1% em 2013. Não bastou nem para tapar o buraco deixado pela recessão de 2012, quando a indústria encolheu 2,5%.
O tombo foi feio em dezembro, de 3,5% em relação ao mês anterior. Foi bem feio na produção de bens de capital. Enfim, o segundo semestre foi deprimente, o que não deveria causar admiração, dados a aceleração da alta das taxas de juros, os piques de desvalorização do real etc., como exposto acima.
Vai fazer meia dúzia de anos que a produção industrial está praticamente estagnada.
Alta de custos (salários em alta excessiva e infraestrutura ruim), taxa de câmbio nominal desfavorável, liquidações no mercado mundial de manufaturados e escassos ganhos de produtividade são motivos do estrago, que tem ajudado a avariar o conjunto da economia brasileira.
O relativo fechamento do país ao comércio, devido à política de remendos protecionistas jecas, a subsídios mal justificados e à falta de planos de abertura inteligente, ajudaram a fazer uma razia nos incentivos econômicos à inovação e à eficiência.
O esforço maior do governo foi no sentido de aumentar os subsídios diretos e indiretos à indústria: reduções de impostos, empréstimos a juros de avô para neto, negativos, doações de dinheiro, enfim.
No fim das contas, o resultado foi apenas criar um remendo insustentável para uma situação estruturalmente problemática. O governo compensou a queda da rentabilidade da indústria com dinheiro público; gastou a fim de contribuir para que a taxa de desemprego ficasse baixa.
Dadas as condições fiscais brasileiras, obviamente isso não iria prestar. Isto é, o deficit público aumentou, as taxas de juros aumentaram, juros que desde quase sempre já são uma tétrica exorbitância brasileira. Não há mais como pagar a conta do remendaço.
O que entra por uma porta sai pela outra, como é visível em tantas obras deste governo. Tabelar a gasolina arrebenta a Petrobras. Subsidiar a indústria encalhada num pântano de ineficiências estoura as contas públicas, o que dá em mais inflação, o que deteriora ainda mais a situação da indústria. A maquiagem do custo da eletricidade torna-se mais dívida. Etc.
Enfim, o "modelo" faz água por todos os lados, para usar uma expressão original. Vai haver "desastre"? Não, provavelmente, não. Mas agora é essa a nossa medida de sucesso, não haver "desastre"?
Para usar outra expressão da moda, "parabéns aos envolvidos".
A indústria patina - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/02
Ninguém esperava retração tão forte da produção industrial em dezembro: queda de 3,5% em relação a novembro (veja o gráfico).
Dezembro é, em geral, um mês mais fraco para a indústria, pela temporada de final de ano e pelas férias coletivas. Todos os anos têm dezembro mais ou menos assim - o que é verdade - e, no entanto, este foi o pior dezembro para a indústria desde 2008, que foi o do auge da crise global.
O mau desempenho compromete o resultado do PIB de 2013 e carrega o baixo empuxo para o primeiro trimestre de 2014. De todo modo, o dado mais preocupante não é o recuo em relação a novembro, mas a queda generalizada, que atingiu 22 dos 27 subsetores da área.
Praticamente de tudo quanto a indústria pediu para o governo foi dado muito ou um pouco. A indústria quis mercado interno, pois teve mercado interno, já que o consumo cresce à proporção de 5% a 6% ao ano. O governo deu câmbio (desvalorização cambial de 3,4% entre agosto e dezembro de 2013); deu crédito, um bom pedaço dele subsidiado; deu redução de impostos, principalmente para a indústria de veículos, aparelhos domésticos, mobiliário e materiais de construção; deu desoneração de encargos sociais, que, em 2013, reduziu a arrecadação em R$ 60 bilhões; continuou proporcionando enorme proteção alfandegária para praticamente todos os setores; deu reserva de mercado para importantes segmentos, especialmente para a área de petróleo; e deu redução de tarifas de energia elétrica. A indústria não quis enfrentar mais concorrência com a abertura de mercado por meio de acordos comerciais? Pois o governo a atendeu, recusando negociações no âmbito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e com a União Europeia.
E, no entanto, a indústria patina. Seu nível de competitividade é baixo, o de investimento, também; o de inovação, mais ainda. Por mais que conclame o empresário a soltar o espírito animal, a presidente Dilma não consegue ser atendida.
A leitura do governo é a de que a indústria precisa de política industrial. Pois teve a tal política industrial consubstanciada nos itens acima citados. Mas será por aí? Ou a melhor política não seria cuidar da solidez dos fundamentos da economia e do crescimento sustentável?
Mas isso não é tudo. O empresário não tem confiança no governo e vice-versa. Ele identifica no governo um viés intervencionista, que achata seus lucros. E o governo às vezes sugere que o empresário não tem espírito público, porque só pensa em levar vantagem.
O que parece permear tudo é certa deterioração do ambiente de negócios porque toda a política econômica está vulnerável. A política de administração das finanças públicas não é austera o suficiente para controlar a inflação e, ao mesmo tempo, dispensar a disparada dos juros básicos; a carga tributária é desencorajadora; a infraestrutura é precária e cara demais; os investimentos são insuficientes; as regras do jogo não passam firmeza; as reformas não andam.
Ora, direis, ouvir lamúrias... Também não dá para seguir afirmando que os problemas se devem à crise externa. As mazelas são nossas. E as lambanças, também.
Ninguém esperava retração tão forte da produção industrial em dezembro: queda de 3,5% em relação a novembro (veja o gráfico).
Dezembro é, em geral, um mês mais fraco para a indústria, pela temporada de final de ano e pelas férias coletivas. Todos os anos têm dezembro mais ou menos assim - o que é verdade - e, no entanto, este foi o pior dezembro para a indústria desde 2008, que foi o do auge da crise global.
O mau desempenho compromete o resultado do PIB de 2013 e carrega o baixo empuxo para o primeiro trimestre de 2014. De todo modo, o dado mais preocupante não é o recuo em relação a novembro, mas a queda generalizada, que atingiu 22 dos 27 subsetores da área.
Praticamente de tudo quanto a indústria pediu para o governo foi dado muito ou um pouco. A indústria quis mercado interno, pois teve mercado interno, já que o consumo cresce à proporção de 5% a 6% ao ano. O governo deu câmbio (desvalorização cambial de 3,4% entre agosto e dezembro de 2013); deu crédito, um bom pedaço dele subsidiado; deu redução de impostos, principalmente para a indústria de veículos, aparelhos domésticos, mobiliário e materiais de construção; deu desoneração de encargos sociais, que, em 2013, reduziu a arrecadação em R$ 60 bilhões; continuou proporcionando enorme proteção alfandegária para praticamente todos os setores; deu reserva de mercado para importantes segmentos, especialmente para a área de petróleo; e deu redução de tarifas de energia elétrica. A indústria não quis enfrentar mais concorrência com a abertura de mercado por meio de acordos comerciais? Pois o governo a atendeu, recusando negociações no âmbito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e com a União Europeia.
E, no entanto, a indústria patina. Seu nível de competitividade é baixo, o de investimento, também; o de inovação, mais ainda. Por mais que conclame o empresário a soltar o espírito animal, a presidente Dilma não consegue ser atendida.
A leitura do governo é a de que a indústria precisa de política industrial. Pois teve a tal política industrial consubstanciada nos itens acima citados. Mas será por aí? Ou a melhor política não seria cuidar da solidez dos fundamentos da economia e do crescimento sustentável?
Mas isso não é tudo. O empresário não tem confiança no governo e vice-versa. Ele identifica no governo um viés intervencionista, que achata seus lucros. E o governo às vezes sugere que o empresário não tem espírito público, porque só pensa em levar vantagem.
O que parece permear tudo é certa deterioração do ambiente de negócios porque toda a política econômica está vulnerável. A política de administração das finanças públicas não é austera o suficiente para controlar a inflação e, ao mesmo tempo, dispensar a disparada dos juros básicos; a carga tributária é desencorajadora; a infraestrutura é precária e cara demais; os investimentos são insuficientes; as regras do jogo não passam firmeza; as reformas não andam.
Ora, direis, ouvir lamúrias... Também não dá para seguir afirmando que os problemas se devem à crise externa. As mazelas são nossas. E as lambanças, também.
Juras de Davos - MARCELO DE PAIVA ABREU
O Estado de S.Paulo - 05/02
A celeuma provocada pela escala da presidente Dilma Rousseff na sua viagem de volta de Davos, rumo a Havana, tendeu a ofuscar a substância do seu discurso no Fórum Econômico Mundial 2014. Dadas as limitações de autonomia do Embraer presidencial, a presidente demonstrou, mais uma vez, bom gosto na escolha de suas escalas. Jantar brandade de bacalhau num restaurante decente em Lisboa foi muito melhor do que antecipar a chegada a Havana. Existirão justificativas para explicar escalas anteriores no Porto, com almoço no Cafeína (bacalhau gratinado), ou em Palermo, com jantar na Trattoria Piccolo Napoli (segredo de Estado: polvo ou bucatini com sardinhas?). Mas houve, sim, "falta de transparência" na comunicação do Palácio do Planalto sobre a alteração do roteiro. E, no limite, caberia dúvida quanto às eventuais despesas adicionais acarretadas pela mudança dos planos originais.
Quanto ao Fórum de Davos, há vários ângulos a analisar. Inicialmente, caberia avaliar, em vista do histórico de ausências, as razões para o comparecimento de Dilma Rousseff. Em seguida, considerar a credibilidade de suas assertivas à luz tanto de suas declarações anteriores quanto do desempenho de seu governo. Finalmente, avaliar os cenários que poderiam decorrer do cumprimento ou do desrespeito aos supostos compromissos explicitados na Suíça.
É difícil de não ter simpatia pelo diagnóstico de que o fórum em Davos não é mais do que um grande minueto, paroxismo do marketing global. Mas o comparecimento é obrigatório, em vista da presença maciça da manada de governantes/competidores. Lula era freguês, embora também fosse assíduo no Fórum Social. Dilma esnobou Davos antes de 2014, quando, com o vento a favor, a crença na "nova matriz econômica", alardeada por Guido Mantega, estava em alta. A decisão de 2014 tem que ver com a fadiga da nova matriz e as ameaças potenciais às economias emergentes geradas pelo tapering nos EUA e pelo arrefecimento do crescimento da China. E também com a agenda eleitoral da presidente. Houve quem comparasse as juras de Davos à Carta ao Povo Brasileiro, assinada por Lula em 2002. Seria o caso de lembrar o provérbio que diz que "palavras voam".
A presidente "beijou a cruz". Após sublinhar os feitos de seu governo no terreno social, afirmou que "buscamos, com determinação, a convergência para o centro da meta inflacionária". Sublinhou seu compromisso com responsabilidade fiscal em todos os níveis de governo. Sinalizou que os bancos públicos retornarão às suas "vocações naturais". Classificou a flutuação cambial como a "nossa primeira linha de defesa". Fez promessas quanto aos investimentos em infraestrutura. O contraste entre o desempenho do governo e essas afirmações é marcante. A alternativa caridosa é considerar o discurso como um rol de promessas. O que disse também conflita com o seu discurso em 2012, quando foi não a Davos, mas ao Fórum Social de Porto Alegre. A ênfase ali foi nas "medidas fiscais regressivas", "políticas fracassadas estão sendo propostas novamente na Europa" e "dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas". Mesmo agora, em Havana, em contraponto a Davos, visitou Fidel e participou de reunião da inócua Celac. É mais do que razoável, portanto, que haja dúvida quanto ao efetivo compromisso da presidente com o que afirmou em Davos.
Dilma meteu-se numa encrenca. Se cumprir o que prometeu, o mau desempenho da economia, decorrente de políticas monetária e fiscal compatíveis com as suas promessas, poderá ter repercussão eleitoral relevante. Se, alternativamente, o discurso de Davos tiver sido só mais um "arroubo retórico" da presidente, e tudo continue como antes, terá fornecido munição à oposição.
Com base no retrospecto de ações do governo no presente e de discursos da presidente em outros tempos, a segunda alternativa parece bem mais provável.
A celeuma provocada pela escala da presidente Dilma Rousseff na sua viagem de volta de Davos, rumo a Havana, tendeu a ofuscar a substância do seu discurso no Fórum Econômico Mundial 2014. Dadas as limitações de autonomia do Embraer presidencial, a presidente demonstrou, mais uma vez, bom gosto na escolha de suas escalas. Jantar brandade de bacalhau num restaurante decente em Lisboa foi muito melhor do que antecipar a chegada a Havana. Existirão justificativas para explicar escalas anteriores no Porto, com almoço no Cafeína (bacalhau gratinado), ou em Palermo, com jantar na Trattoria Piccolo Napoli (segredo de Estado: polvo ou bucatini com sardinhas?). Mas houve, sim, "falta de transparência" na comunicação do Palácio do Planalto sobre a alteração do roteiro. E, no limite, caberia dúvida quanto às eventuais despesas adicionais acarretadas pela mudança dos planos originais.
Quanto ao Fórum de Davos, há vários ângulos a analisar. Inicialmente, caberia avaliar, em vista do histórico de ausências, as razões para o comparecimento de Dilma Rousseff. Em seguida, considerar a credibilidade de suas assertivas à luz tanto de suas declarações anteriores quanto do desempenho de seu governo. Finalmente, avaliar os cenários que poderiam decorrer do cumprimento ou do desrespeito aos supostos compromissos explicitados na Suíça.
É difícil de não ter simpatia pelo diagnóstico de que o fórum em Davos não é mais do que um grande minueto, paroxismo do marketing global. Mas o comparecimento é obrigatório, em vista da presença maciça da manada de governantes/competidores. Lula era freguês, embora também fosse assíduo no Fórum Social. Dilma esnobou Davos antes de 2014, quando, com o vento a favor, a crença na "nova matriz econômica", alardeada por Guido Mantega, estava em alta. A decisão de 2014 tem que ver com a fadiga da nova matriz e as ameaças potenciais às economias emergentes geradas pelo tapering nos EUA e pelo arrefecimento do crescimento da China. E também com a agenda eleitoral da presidente. Houve quem comparasse as juras de Davos à Carta ao Povo Brasileiro, assinada por Lula em 2002. Seria o caso de lembrar o provérbio que diz que "palavras voam".
A presidente "beijou a cruz". Após sublinhar os feitos de seu governo no terreno social, afirmou que "buscamos, com determinação, a convergência para o centro da meta inflacionária". Sublinhou seu compromisso com responsabilidade fiscal em todos os níveis de governo. Sinalizou que os bancos públicos retornarão às suas "vocações naturais". Classificou a flutuação cambial como a "nossa primeira linha de defesa". Fez promessas quanto aos investimentos em infraestrutura. O contraste entre o desempenho do governo e essas afirmações é marcante. A alternativa caridosa é considerar o discurso como um rol de promessas. O que disse também conflita com o seu discurso em 2012, quando foi não a Davos, mas ao Fórum Social de Porto Alegre. A ênfase ali foi nas "medidas fiscais regressivas", "políticas fracassadas estão sendo propostas novamente na Europa" e "dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas". Mesmo agora, em Havana, em contraponto a Davos, visitou Fidel e participou de reunião da inócua Celac. É mais do que razoável, portanto, que haja dúvida quanto ao efetivo compromisso da presidente com o que afirmou em Davos.
Dilma meteu-se numa encrenca. Se cumprir o que prometeu, o mau desempenho da economia, decorrente de políticas monetária e fiscal compatíveis com as suas promessas, poderá ter repercussão eleitoral relevante. Se, alternativamente, o discurso de Davos tiver sido só mais um "arroubo retórico" da presidente, e tudo continue como antes, terá fornecido munição à oposição.
Com base no retrospecto de ações do governo no presente e de discursos da presidente em outros tempos, a segunda alternativa parece bem mais provável.
Crise permanente - ILDO SAUER
FOLHA DE SP - 05/02
Explosão tarifária e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta
A proposta eleitoral vencedora em 2002 propunha profundas mudanças na estrutura de organização e gestão do setor elétrico, como resposta ao racionamento de 2001: planejamento, com a caracterização dos recursos para expansão da produção e de racionalização do uso da energia, segundo atributos técnicos, econômicos, ambientais e sociais.
O portfólio seria desenvolvido seguindo a ordem de mérito, com contratos de longo prazo compatíveis com o investimento, substituindo o mercado "spot", no qual o preço era formado a partir de fatores aleatórios, especialmente a hidrologia, e não por fatores de produção como capital, insumos, gestão e trabalho.
A metamorfose entre o plano de governo e a tímida reforma baixada em 2004 foi justificada pela então ministra de Minas e Energia como sendo a "construção da regulamentação" por "processo participativo, medidas negociadas, acordos entre os agentes, arbitragem do governo". Empresas estatais, consumidores, organizações sociais e especialistas independentes foram excluídos. As barganhas do modelo se tornaram acertos com a base de apoio político e econômico do novo governo.
A crise recorrente é fruto dessa metamorfose. Sem realizar o dever de casa de organizar o portfólio de recursos para otimizar a expansão, quando se esgotou o estoque de capacidade ociosa decorrente do racionamento, nos leilões de expansão, a partir de 2005, prevaleceram termoelétricas à carvão e óleo, caras e poluentes. Com as críticas, o governo lançou mão de projetos herdados, como as usinas do rio Madeira (FHC) e Belo Monte, revisão de proposta dos militares.
O fracasso da reforma de 2004 foi reconhecido em 2012 com a medida provisória nº 579. A trajetória de explosão tarifária e deterioração da qualidade é injustificável para um país dotado de excelentes recursos tecnológicos, humanos e naturais (hídricos, eólicos, cogeração com biomassa e gás natural, fotovoltaicas e minieólicas embebidas na rede de distribuição, racionalização).
A medida provisória não corrigiu as deficiências, mas aprofundou a crise e ampliou os impasses com a judicialização do setor. Em vez de desmontar a máquina de aumentar custos, intrínseca ao modelo vigente, criou uma sangria bilionária de recursos públicos para manter uma inexequível promessa de reduzir tarifas sem reduzir custos. Transfere dezenas de bilhões de reais da nação e destrói patrimônio público.
Pela Constituição, as usinas com concessões vencidas pertencem à nação, e não ao governo de plantão. Foram construídas pelas gerações passadas e deveriam beneficiar as futuras ao contribuir para redução de assimetrias sociais, e não como butim para propaganda populista. O sistema Eletrobras, especialmente Chesf e Furnas, patrimônio social, foram dilapidadas financeira e debilitadas tecnicamente.
Explosão tarifária, deterioração da qualidade e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta, sem respeitar a sequência de mérito; de insuficiente capacidade instalada de usinas hídricas e eólicas, requerendo a operação térmica muito acima do justificável; de modelo e critérios de operação deficientes; de alocação de garantia física de venda superior à capacidade confiável de geração para muitas usinas; da representação errônea de parâmetros das usinas, reservatórios e da hidrologia no modelo de operação; de custos de transação e de riscos que poderiam ser evitados, especialmente nos contratos de suprimento de combustível; de privilégios para os grandes consumidores, ditos livres, com alocação assimétrica de riscos e custos entre os ambientes de contratação.
A hidrologia e a demanda voltam a ser culpadas pelos riscos e problemas, mas têm se comportado previsivelmente. A crise permanente é consequência do modelo de organização, gestão, planejamento e operação, exigindo revisão.
Explosão tarifária e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta
A proposta eleitoral vencedora em 2002 propunha profundas mudanças na estrutura de organização e gestão do setor elétrico, como resposta ao racionamento de 2001: planejamento, com a caracterização dos recursos para expansão da produção e de racionalização do uso da energia, segundo atributos técnicos, econômicos, ambientais e sociais.
O portfólio seria desenvolvido seguindo a ordem de mérito, com contratos de longo prazo compatíveis com o investimento, substituindo o mercado "spot", no qual o preço era formado a partir de fatores aleatórios, especialmente a hidrologia, e não por fatores de produção como capital, insumos, gestão e trabalho.
A metamorfose entre o plano de governo e a tímida reforma baixada em 2004 foi justificada pela então ministra de Minas e Energia como sendo a "construção da regulamentação" por "processo participativo, medidas negociadas, acordos entre os agentes, arbitragem do governo". Empresas estatais, consumidores, organizações sociais e especialistas independentes foram excluídos. As barganhas do modelo se tornaram acertos com a base de apoio político e econômico do novo governo.
A crise recorrente é fruto dessa metamorfose. Sem realizar o dever de casa de organizar o portfólio de recursos para otimizar a expansão, quando se esgotou o estoque de capacidade ociosa decorrente do racionamento, nos leilões de expansão, a partir de 2005, prevaleceram termoelétricas à carvão e óleo, caras e poluentes. Com as críticas, o governo lançou mão de projetos herdados, como as usinas do rio Madeira (FHC) e Belo Monte, revisão de proposta dos militares.
O fracasso da reforma de 2004 foi reconhecido em 2012 com a medida provisória nº 579. A trajetória de explosão tarifária e deterioração da qualidade é injustificável para um país dotado de excelentes recursos tecnológicos, humanos e naturais (hídricos, eólicos, cogeração com biomassa e gás natural, fotovoltaicas e minieólicas embebidas na rede de distribuição, racionalização).
A medida provisória não corrigiu as deficiências, mas aprofundou a crise e ampliou os impasses com a judicialização do setor. Em vez de desmontar a máquina de aumentar custos, intrínseca ao modelo vigente, criou uma sangria bilionária de recursos públicos para manter uma inexequível promessa de reduzir tarifas sem reduzir custos. Transfere dezenas de bilhões de reais da nação e destrói patrimônio público.
Pela Constituição, as usinas com concessões vencidas pertencem à nação, e não ao governo de plantão. Foram construídas pelas gerações passadas e deveriam beneficiar as futuras ao contribuir para redução de assimetrias sociais, e não como butim para propaganda populista. O sistema Eletrobras, especialmente Chesf e Furnas, patrimônio social, foram dilapidadas financeira e debilitadas tecnicamente.
Explosão tarifária, deterioração da qualidade e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta, sem respeitar a sequência de mérito; de insuficiente capacidade instalada de usinas hídricas e eólicas, requerendo a operação térmica muito acima do justificável; de modelo e critérios de operação deficientes; de alocação de garantia física de venda superior à capacidade confiável de geração para muitas usinas; da representação errônea de parâmetros das usinas, reservatórios e da hidrologia no modelo de operação; de custos de transação e de riscos que poderiam ser evitados, especialmente nos contratos de suprimento de combustível; de privilégios para os grandes consumidores, ditos livres, com alocação assimétrica de riscos e custos entre os ambientes de contratação.
A hidrologia e a demanda voltam a ser culpadas pelos riscos e problemas, mas têm se comportado previsivelmente. A crise permanente é consequência do modelo de organização, gestão, planejamento e operação, exigindo revisão.
As respostas de Brasília à turbulência - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 05/02
Demorou, demorou muito, mas o governo, premido pela turbulência dos mercados emergentes, dá sinais de que reconhece a seriedade dos problemas e de que, por isso, adotará medidas para melhorar a gestão macroeconômica. O objetivo é diferenciar o Brasil dos países que mais vêm sofrendo com o processo de normalização da política monetária dos Estados Unidos.
O roteiro de medidas passa pelo anúncio de uma meta de superávit primário das contas públicas entre 1,8% e 2% do PIB - o valor não foi definido porque os técnicos estão trabalhando nos números neste momento, mas, no Ministério da Fazenda, há quem duvide da capacidade de se entregar 2%. Vamos ter que anunciar algo robusto , diz uma fonte, reconhecendo que, na área fiscal, existe um problema sério de credibilidade.
O governo avalia que não precisa fazer um ajuste fiscal do tipo que os europeus em crise foram obrigados a promover, mas admite que é preciso dar um direcionamento claro e mais explícito às contas públicas e dizer como fará isso. Com um plano razoável de contingenciamento [do orçamento] , revela uma fonte.
O Banco Central (BC) segue preocupado com a inflação e, por isso, deve manter o ciclo de aperto monetário iniciado em abril do ano passado, embora considere que já fez um aperto significativo - de 325 pontos percentuais na taxa básica (Selic). Na próxima reunião, em 26 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária deve aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual, elevando-a para 11% ao ano. A política não muda enquanto não ficar claro que os preços neste início de ano estão mais comportados.
O governo avalia que o repasse da desvalorização do real para os preços domésticos tem sido controlado e está dentro do esperado. Mas se houver nova depreciação do real, o BC não se furtará a combater seus efeitos, bem como o impacto dos reajustes dos preços administrados, que neste ano vão subir bem mais que em 2013.
O governo acredita que o BC previu com grande antecedência o processo de redução dos estímulos monetários nos EUA e, portanto, de reprecificação dos ativos, com a valorização daqueles de menor risco. O primeiro passo foi o ciclo de aperto monetário iniciado em abril, um mês antes de o Federal Reserve, o banco central americano, sinalizar mudanças em sua política monetária.
O movimento seguinte foi adotar o programa de oferta de hedge (proteção) cambial, que começou na última semana de agosto, terminaria em dezembro, mas foi estendido até junho. O programa é especialmente importante para empresas e investidores com passivos em dólar. Como a moeda americana está mudando de patamar sem que se saiba exatamente onde vai parar e com expectativa de que não volte aos níveis anteriores, a proteção deu e está dando tranquilidade ao mercado.
O governo acredita que o grosso desse trabalho (de oferta de hedge) foi feito até dezembro. Não estamos behind the curve [atrás da curva ou atrasados na reação à turbulência]. Fizemos todo o trabalho , sustentou uma fonte, confessando, porém, a carência de credibilidade na área fiscal, mas ressalvando que a situação não é de descontrole . A gente se preparou porque sabia que viria a reversão [dos estímulos monetários]. Construímos progressivamente mecanismos de defesa do ponto de vista monetário e cambial.
Brasília acredita que a percepção do país lá fora já começou a mudar. Tem uma diferenciação em curso , assevera uma fonte. O governo separa o que é análise objetiva da volatilidade decorrente da reposicionamento mundial do dólar do que considera exageros que não são só retóricos , mas têm o interesse de favorecer certas apostas de mercado.
De fato, o Brasil possui indicadores que, se não desautorizam a inclusão do país em grupos e acrônimos de economias vulneráveis - os cinco frágeis e BIITA (Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul), por exemplo -, deveriam ser ponderados nas análises. A relação entre reservas internacionais e dívida externa de curto prazo monta a 10 vezes no Brasil, enquanto no México restringe-se a 2,2 e na Turquia, a 1,2 (ver tabela).
Quando se comparam outros indicadores, como dívida pública líquida, déficit em conta corrente ou dívida em poder de residentes, o Brasil não está mal posicionado. Evidentemente, os números são um retrato, logo, não contam a história toda. Nos últimos cinco anos, houve deterioração fiscal relevante - a dívida pública bruta teve salto de cinco pontos percentuais entre 2011 e 2013 - que, hoje, ameaça provocar o rebaixamento da classificação da dívida brasileira, o que seria um retrocesso lamentável.
Os sinais de que as coisas vão melhorar na área fiscal já foram emitidos, mas uma medida da dificuldade que o governo tem para lidar com o tema pode ser dada por episódio recente. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff encarregou o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, de conversar com bancos para saber o que eles esperam da área fiscal. Holland cumpriu a tarefa e preparou uma apresentação. Ao realizá-la para a presidente, na presença do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, foi confrontado duramente por este. Augustin tomou as observações como críticas pessoais e revidou.
Demorou, demorou muito, mas o governo, premido pela turbulência dos mercados emergentes, dá sinais de que reconhece a seriedade dos problemas e de que, por isso, adotará medidas para melhorar a gestão macroeconômica. O objetivo é diferenciar o Brasil dos países que mais vêm sofrendo com o processo de normalização da política monetária dos Estados Unidos.
O roteiro de medidas passa pelo anúncio de uma meta de superávit primário das contas públicas entre 1,8% e 2% do PIB - o valor não foi definido porque os técnicos estão trabalhando nos números neste momento, mas, no Ministério da Fazenda, há quem duvide da capacidade de se entregar 2%. Vamos ter que anunciar algo robusto , diz uma fonte, reconhecendo que, na área fiscal, existe um problema sério de credibilidade.
O governo avalia que não precisa fazer um ajuste fiscal do tipo que os europeus em crise foram obrigados a promover, mas admite que é preciso dar um direcionamento claro e mais explícito às contas públicas e dizer como fará isso. Com um plano razoável de contingenciamento [do orçamento] , revela uma fonte.
O Banco Central (BC) segue preocupado com a inflação e, por isso, deve manter o ciclo de aperto monetário iniciado em abril do ano passado, embora considere que já fez um aperto significativo - de 325 pontos percentuais na taxa básica (Selic). Na próxima reunião, em 26 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária deve aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual, elevando-a para 11% ao ano. A política não muda enquanto não ficar claro que os preços neste início de ano estão mais comportados.
O governo avalia que o repasse da desvalorização do real para os preços domésticos tem sido controlado e está dentro do esperado. Mas se houver nova depreciação do real, o BC não se furtará a combater seus efeitos, bem como o impacto dos reajustes dos preços administrados, que neste ano vão subir bem mais que em 2013.
O governo acredita que o BC previu com grande antecedência o processo de redução dos estímulos monetários nos EUA e, portanto, de reprecificação dos ativos, com a valorização daqueles de menor risco. O primeiro passo foi o ciclo de aperto monetário iniciado em abril, um mês antes de o Federal Reserve, o banco central americano, sinalizar mudanças em sua política monetária.
O movimento seguinte foi adotar o programa de oferta de hedge (proteção) cambial, que começou na última semana de agosto, terminaria em dezembro, mas foi estendido até junho. O programa é especialmente importante para empresas e investidores com passivos em dólar. Como a moeda americana está mudando de patamar sem que se saiba exatamente onde vai parar e com expectativa de que não volte aos níveis anteriores, a proteção deu e está dando tranquilidade ao mercado.
O governo acredita que o grosso desse trabalho (de oferta de hedge) foi feito até dezembro. Não estamos behind the curve [atrás da curva ou atrasados na reação à turbulência]. Fizemos todo o trabalho , sustentou uma fonte, confessando, porém, a carência de credibilidade na área fiscal, mas ressalvando que a situação não é de descontrole . A gente se preparou porque sabia que viria a reversão [dos estímulos monetários]. Construímos progressivamente mecanismos de defesa do ponto de vista monetário e cambial.
Brasília acredita que a percepção do país lá fora já começou a mudar. Tem uma diferenciação em curso , assevera uma fonte. O governo separa o que é análise objetiva da volatilidade decorrente da reposicionamento mundial do dólar do que considera exageros que não são só retóricos , mas têm o interesse de favorecer certas apostas de mercado.
De fato, o Brasil possui indicadores que, se não desautorizam a inclusão do país em grupos e acrônimos de economias vulneráveis - os cinco frágeis e BIITA (Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul), por exemplo -, deveriam ser ponderados nas análises. A relação entre reservas internacionais e dívida externa de curto prazo monta a 10 vezes no Brasil, enquanto no México restringe-se a 2,2 e na Turquia, a 1,2 (ver tabela).
Quando se comparam outros indicadores, como dívida pública líquida, déficit em conta corrente ou dívida em poder de residentes, o Brasil não está mal posicionado. Evidentemente, os números são um retrato, logo, não contam a história toda. Nos últimos cinco anos, houve deterioração fiscal relevante - a dívida pública bruta teve salto de cinco pontos percentuais entre 2011 e 2013 - que, hoje, ameaça provocar o rebaixamento da classificação da dívida brasileira, o que seria um retrocesso lamentável.
Os sinais de que as coisas vão melhorar na área fiscal já foram emitidos, mas uma medida da dificuldade que o governo tem para lidar com o tema pode ser dada por episódio recente. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff encarregou o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, de conversar com bancos para saber o que eles esperam da área fiscal. Holland cumpriu a tarefa e preparou uma apresentação. Ao realizá-la para a presidente, na presença do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, foi confrontado duramente por este. Augustin tomou as observações como críticas pessoais e revidou.
Preço justo - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 05/02
Assisti a um debate televisivo entre um competente economista e um inteligente burocrata. Visava a formação dos preços de um determinado bem na situação em que a demanda explode, como se espera quando se realizar a Copa do Mundo no Brasil.
O economista, obviamente, insistiu que o preço será formado pelo equilíbrio entre a oferta (a quantidade disponível) e a procura (intensidade do desejo e renda) em cada mercado (como o de habitação, por exemplo).
O burocrata entendia que, em momentos "especiais", era obrigação do governo fixar o "preço justo". Era evidente que não poderia emergir qualquer compromisso porque argumentavam em universos diferentes: o economista tentando apelar para conceitos relativamente objetivos e o burocrata defendendo um conceito fluído e normativo.
Voltamos ao século 13. A ideia do "preço justo", desenvolvida por são Tomás de Aquino, parece perseguir o governo. Ela fazia sentido na Idade Média quando a ausência de mercados bem organizados recomendava restrições éticas que proporcionassem algum controle sobre os preços.
Quase no mesmo dia do debate entre o economista e o burocrata, comemorava-se o sucesso de uma política de controle do uso de drogas que emprega viciados, em troca de uma pequena remuneração,o que é muito bom. No dia do pagamento, a demanda aumentou com a renda. Como a oferta de droga era fixa, o preço "explodiu".
Existem basicamente duas formas de distribuir a quantidade finita de um bem (digamos, "alojamentos" ou "entorpecentes"), entre indivíduos cujo desejo somado de obtê-lo o excede: pela força ou pelo mercado. Nos dois casos alguém ficará insatisfeito, pela simples e boa razão que a oferta física é inferior à demanda física do mesmo bem. Como se resolve quem é e quem não é atendido?
Podemos discutir filosoficamente os problemas éticos envolvidos nas duas soluções, mas é preciso reconhecer que é impossível conciliar a demanda física de um bem com uma oferta física inferior a ela sem algum mecanismo de coordenação que "escolha" quem vai ser atendido.
O tabelamento apoiado na teoria do "preço justo" para funcionar precisa do poder de polícia. O efeito mais provável é que a oferta se reduza (a não ser que a polícia a constranja fisicamente) o que agrava o problema. E como se escolhe o "sortudo"? Ou na base do compadrio ou do suborno.
A solução do mercado é superior porque: 1) estimula o aumento da oferta e a escolha do "sortudo" é feita automaticamente pelo nível de renda que lhe permite pagar o preço do mercado e, 2) dispensa a "força" e o "suborno".
Assisti a um debate televisivo entre um competente economista e um inteligente burocrata. Visava a formação dos preços de um determinado bem na situação em que a demanda explode, como se espera quando se realizar a Copa do Mundo no Brasil.
O economista, obviamente, insistiu que o preço será formado pelo equilíbrio entre a oferta (a quantidade disponível) e a procura (intensidade do desejo e renda) em cada mercado (como o de habitação, por exemplo).
O burocrata entendia que, em momentos "especiais", era obrigação do governo fixar o "preço justo". Era evidente que não poderia emergir qualquer compromisso porque argumentavam em universos diferentes: o economista tentando apelar para conceitos relativamente objetivos e o burocrata defendendo um conceito fluído e normativo.
Voltamos ao século 13. A ideia do "preço justo", desenvolvida por são Tomás de Aquino, parece perseguir o governo. Ela fazia sentido na Idade Média quando a ausência de mercados bem organizados recomendava restrições éticas que proporcionassem algum controle sobre os preços.
Quase no mesmo dia do debate entre o economista e o burocrata, comemorava-se o sucesso de uma política de controle do uso de drogas que emprega viciados, em troca de uma pequena remuneração,o que é muito bom. No dia do pagamento, a demanda aumentou com a renda. Como a oferta de droga era fixa, o preço "explodiu".
Existem basicamente duas formas de distribuir a quantidade finita de um bem (digamos, "alojamentos" ou "entorpecentes"), entre indivíduos cujo desejo somado de obtê-lo o excede: pela força ou pelo mercado. Nos dois casos alguém ficará insatisfeito, pela simples e boa razão que a oferta física é inferior à demanda física do mesmo bem. Como se resolve quem é e quem não é atendido?
Podemos discutir filosoficamente os problemas éticos envolvidos nas duas soluções, mas é preciso reconhecer que é impossível conciliar a demanda física de um bem com uma oferta física inferior a ela sem algum mecanismo de coordenação que "escolha" quem vai ser atendido.
O tabelamento apoiado na teoria do "preço justo" para funcionar precisa do poder de polícia. O efeito mais provável é que a oferta se reduza (a não ser que a polícia a constranja fisicamente) o que agrava o problema. E como se escolhe o "sortudo"? Ou na base do compadrio ou do suborno.
A solução do mercado é superior porque: 1) estimula o aumento da oferta e a escolha do "sortudo" é feita automaticamente pelo nível de renda que lhe permite pagar o preço do mercado e, 2) dispensa a "força" e o "suborno".
Banco dos Brics - MARCO LUCCHESI
O GLOBO - 05/02
Discurso das políticas econômicas tem vício de origem
É o que parece desenhar-se no horizonte da sexta reunião de cúpula dos Brics, que se realizará em Fortaleza no mês de março. A ideia de um banco de desenvolvimento de países emergentes enseja um debate produtivo, para além do exausto sistema de Bretton Woods, de que o FMI e o Banco Mundial são as pupilas gerenciais. Defendem-se diversas vantagens com o banco de desenvolvimento dos Brics: desde a consolidação da nova ordem multipolar ao incremento das relações Sul-Sul (global south), de uma nova moeda mais forte e alternativa ao dólar até a expansão dos mercados entre as potências emergentes.
Os desafios são enormes e guardam um discreto sabor hamletiano. Depois da embriaguez das cifras realmente elevadas, restará saber como o quantum de democracia de cada país poderá afetar sua capacidade acionária. Desde já o endosso de qualquer decisão, através do sufrágio universal, mostra-se impensável. Seria preciso levar adiante o debate sobre a desigualdade e a lógica da redistribuição, dentro de um quadro ético, não limitado apenas a responder ao FMI, o que seria restritivo e insuficiente. Falta decidir a estratégia do crescimento, se pautada na sustentabilidade ou presa ao velho paradigma, que move a economia chinesa, com graves efeitos ambientais. Um banco de desenvolvimento que se limite à macroeconomia neoliberal ou que se empenhe em programas da “redução da desigualdade”?
O mais inquietante de todo o processo é o vício de origem do discurso das políticas econômicas, não importa se desenhadas ao sul ou ao norte, por emergentes ou desenvolvidos: é sempre a economia como fim, uma super-realidade, em que a cultura e a diversidade social perdem a densidade específica e se aproximam do zero! Inúmeras reuniões para a criação do estatuto do banco e nenhum projeto consistente de aproximação cultural entre os Brics. Os novos economistas não se distinguem de seus antigos mestres: tudo sabem e tudo podem. Como se a cultura da paz e o monstro da desigualdade se limitassem a uma repaginação do capital.
Faço essas observações, depois de participar de um encontro com poetas em Nova Deli, promovido pela Embaixada do Brasil, o Instituto Camões e a Universidade Millia Islamia. A professora Sonya Gupta desenhou os marcos da mesa-redonda, de que participaram os poetas Mangalesh Dabral, Pankaj Singh, Makarand Paranjape e Savita Singh. Os amigos da Índia evocaram a bela tradução de Tagore feita por Cecília Meireles. Disse-lhes que não podíamos começar melhor nossa conversa, evocando nossas canções mais profundas.
Não tratamos da cotação da rúpia e do real, mas da conversão entre duas formas de dizer a lua cheia, nos versos de Cecília ou de Tagore. Cheguei mesmo a pensar na criação de uma agência cultural, de um banco literário capaz de responder ao capital do diálogo entre os povos, agência onde se façam ouvir, em igualdade e plenitude, os sujeitos dessas vozes.
Discurso das políticas econômicas tem vício de origem
É o que parece desenhar-se no horizonte da sexta reunião de cúpula dos Brics, que se realizará em Fortaleza no mês de março. A ideia de um banco de desenvolvimento de países emergentes enseja um debate produtivo, para além do exausto sistema de Bretton Woods, de que o FMI e o Banco Mundial são as pupilas gerenciais. Defendem-se diversas vantagens com o banco de desenvolvimento dos Brics: desde a consolidação da nova ordem multipolar ao incremento das relações Sul-Sul (global south), de uma nova moeda mais forte e alternativa ao dólar até a expansão dos mercados entre as potências emergentes.
Os desafios são enormes e guardam um discreto sabor hamletiano. Depois da embriaguez das cifras realmente elevadas, restará saber como o quantum de democracia de cada país poderá afetar sua capacidade acionária. Desde já o endosso de qualquer decisão, através do sufrágio universal, mostra-se impensável. Seria preciso levar adiante o debate sobre a desigualdade e a lógica da redistribuição, dentro de um quadro ético, não limitado apenas a responder ao FMI, o que seria restritivo e insuficiente. Falta decidir a estratégia do crescimento, se pautada na sustentabilidade ou presa ao velho paradigma, que move a economia chinesa, com graves efeitos ambientais. Um banco de desenvolvimento que se limite à macroeconomia neoliberal ou que se empenhe em programas da “redução da desigualdade”?
O mais inquietante de todo o processo é o vício de origem do discurso das políticas econômicas, não importa se desenhadas ao sul ou ao norte, por emergentes ou desenvolvidos: é sempre a economia como fim, uma super-realidade, em que a cultura e a diversidade social perdem a densidade específica e se aproximam do zero! Inúmeras reuniões para a criação do estatuto do banco e nenhum projeto consistente de aproximação cultural entre os Brics. Os novos economistas não se distinguem de seus antigos mestres: tudo sabem e tudo podem. Como se a cultura da paz e o monstro da desigualdade se limitassem a uma repaginação do capital.
Faço essas observações, depois de participar de um encontro com poetas em Nova Deli, promovido pela Embaixada do Brasil, o Instituto Camões e a Universidade Millia Islamia. A professora Sonya Gupta desenhou os marcos da mesa-redonda, de que participaram os poetas Mangalesh Dabral, Pankaj Singh, Makarand Paranjape e Savita Singh. Os amigos da Índia evocaram a bela tradução de Tagore feita por Cecília Meireles. Disse-lhes que não podíamos começar melhor nossa conversa, evocando nossas canções mais profundas.
Não tratamos da cotação da rúpia e do real, mas da conversão entre duas formas de dizer a lua cheia, nos versos de Cecília ou de Tagore. Cheguei mesmo a pensar na criação de uma agência cultural, de um banco literário capaz de responder ao capital do diálogo entre os povos, agência onde se façam ouvir, em igualdade e plenitude, os sujeitos dessas vozes.
Por que o tombo? - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/02
Os números ruins da indústria deixam várias lições. O tombo foi de 3,5% em dezembro. No ano, cresceu apenas 1,2%, o que não recupera a queda de 2,5% de 2012. Os dados mostram que a política industrial está errada. Não é com renúncias fiscais, subsídios e barreiras ao comércio que se aumenta a competitividade da indústria. A forte retração em dezembro torna o cenário mais difícil em 2014.
O governo apostou nisso nos últimos anos: reduções de IPI para o setor automobilístico e alguns outros, barreiras contra o produto importado, escolha de algumas empresas para receber o crédito subsidiado. Não deu certo. Nada substitui o aumento da competitividade geral da economia através de medidas como melhoria da logística e da simplificação de processos burocráticos.
O governo acreditou também que o câmbio elevaria a capacidade de o produto brasileiro competir. O câmbio ajuda, mas não é uma poção mágica.
Quando os dados da indústria foram saindo durante o ano, o Ministério da Fazenda disse que o aumento do investimento provava que estavam no caminho certo. Mas o setor de bens de capital foi o que mais caiu no fim do ano; e o que mais subiu no começo. Confira no gráfico.
A explicação: uma grande parte do aumento dos bens de capital era a renovação da frota de caminhões com a nova tecnologia menos poluidora. As vendas tinham parado durante a transição, em 2012 e, por isso, dispararam no começo do ano passado. Não era exatamente a indústria investindo em aumento de capacidade ou em eficiência.
O ano de 2013 deixou um peso para o PIB deste ano. Com o dado de ontem, o PIB do quarto trimestre está sendo revisto para baixo e deixará um impulso menor em termos de crescimento para 2014.
O resultado de dezembro foi pior do que o esperado, com retração em todas as categorias de usoeem22dos27 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE. Foi o pior dezembro desde 2008, na crise internacional.
A política industrial tem um alto custo para o Tesouro, pela redução de impostos e pelo aumento da dívida bruta para transferir dinheiro para os bancos públicos, que emprestam a juros subsidiados aos grupos favoritos. A indústria automobilística foi quem mais recebeu ajuda e foi quem mais cresceu no ano, 7,2%. Mas levou um tombo de 22,9% nos últimos três meses de 2013.O IPI reduzido provocou apenas antecipação de compras e não crescimento real.
A venda de caminhões começou o ano de 2013 acelerada — pelo motivo explicado acima — mas perdeu força e isso murchou o item “bens de capital".
O resultado de ontem surpreendeu. Os economistas esperavam queda menor. Agora, vários estão de volta aos seus cálculos e projeções porque vai impactar o PIB. A consultoria Rosenberg Associados, por exemplo, revisou de 2,5% para 2,3% sua estimativa para o PIB de 2013. E de 2,5% para 2,1% o de 2014. Na economia, os números têm reflexos nos que vêm a seguir.
Os números ruins da indústria deixam várias lições. O tombo foi de 3,5% em dezembro. No ano, cresceu apenas 1,2%, o que não recupera a queda de 2,5% de 2012. Os dados mostram que a política industrial está errada. Não é com renúncias fiscais, subsídios e barreiras ao comércio que se aumenta a competitividade da indústria. A forte retração em dezembro torna o cenário mais difícil em 2014.
O governo apostou nisso nos últimos anos: reduções de IPI para o setor automobilístico e alguns outros, barreiras contra o produto importado, escolha de algumas empresas para receber o crédito subsidiado. Não deu certo. Nada substitui o aumento da competitividade geral da economia através de medidas como melhoria da logística e da simplificação de processos burocráticos.
O governo acreditou também que o câmbio elevaria a capacidade de o produto brasileiro competir. O câmbio ajuda, mas não é uma poção mágica.
Quando os dados da indústria foram saindo durante o ano, o Ministério da Fazenda disse que o aumento do investimento provava que estavam no caminho certo. Mas o setor de bens de capital foi o que mais caiu no fim do ano; e o que mais subiu no começo. Confira no gráfico.
A explicação: uma grande parte do aumento dos bens de capital era a renovação da frota de caminhões com a nova tecnologia menos poluidora. As vendas tinham parado durante a transição, em 2012 e, por isso, dispararam no começo do ano passado. Não era exatamente a indústria investindo em aumento de capacidade ou em eficiência.
O ano de 2013 deixou um peso para o PIB deste ano. Com o dado de ontem, o PIB do quarto trimestre está sendo revisto para baixo e deixará um impulso menor em termos de crescimento para 2014.
O resultado de dezembro foi pior do que o esperado, com retração em todas as categorias de usoeem22dos27 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE. Foi o pior dezembro desde 2008, na crise internacional.
A política industrial tem um alto custo para o Tesouro, pela redução de impostos e pelo aumento da dívida bruta para transferir dinheiro para os bancos públicos, que emprestam a juros subsidiados aos grupos favoritos. A indústria automobilística foi quem mais recebeu ajuda e foi quem mais cresceu no ano, 7,2%. Mas levou um tombo de 22,9% nos últimos três meses de 2013.O IPI reduzido provocou apenas antecipação de compras e não crescimento real.
A venda de caminhões começou o ano de 2013 acelerada — pelo motivo explicado acima — mas perdeu força e isso murchou o item “bens de capital".
O resultado de ontem surpreendeu. Os economistas esperavam queda menor. Agora, vários estão de volta aos seus cálculos e projeções porque vai impactar o PIB. A consultoria Rosenberg Associados, por exemplo, revisou de 2,5% para 2,3% sua estimativa para o PIB de 2013. E de 2,5% para 2,1% o de 2014. Na economia, os números têm reflexos nos que vêm a seguir.
Sinais de alerta - SÉRGIO DA COSTA FRANCO
ZERO HORA - 05/02
As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas
Estávamos no último ano do segundo quatriênio de Lula, quando já se aprontava o tapete vermelho para a eleição de Dilma Rousseff. Cultivavam-se orçamentos generosos, gastança fácil, créditos largos no sistema bancário. Escrevemos, então, um comentário sob o título de “Memória da inflação”, relembrando, para quem não lembrava, a época desastrosa que precedeu o salvador e benemérito Plano Real, de 1994.
E dado que hoje se divulga que tivemos, em 2013, o menor superávit primário dos últimos 12 anos, além de outras notícias menos animadoras, preciso resistir à tentação de reeditar aquele artigo, em que lembrei as taxas inflacionárias de 90% ao mês e aquela fantástica taxa anual de 2.400% ao ano, registrada em 1993. Os sucessivos planos governamentais de combate à inflação haviam naufragado: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Collor… Os salários murchavam antes do dia 15, ninguém investia em qualquer negócio de resultado previsível, e a maquininha de maior utilização era a de remarcar os preços de varejo nos mercados. Nós a tínhamos quase esquecido, mas ela está voltando, mui ativa, na mão dos servidores dos supermercados. Os economistas daquele tempo conversavam muito, faziam prognósticos e diagnósticos (lembram daquela senhora Zélia Cardoso de Melo que foi ministra?), mas os cidadãos, já com as poupanças saqueadas, não acreditavam mais numa possível salvação. A salvação veio, entretanto, nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique, com a introdução do Plano Real, de saudosa memória.
Digo de “saudosa memória”, porque os dados mais recentes apontam vários sinais de alerta para a recidiva de um processo inflacionário. Elevação reiterada dos preços, retorno aos déficits (especialmente nos Estados e municípios), larguezas pré-eleitorais, estímulos ao crédito e ao consumo ostentatório… Tudo isso, somado à alta do dólar e à queda do volume de investimentos, não demanda uma pós-graduação em macroeconomia para autorizar maus prognósticos para os próximos meses ou anos. A aproximação do pleito federal, com a presidente Dilma habilitando-se para a reeleição, já é suficiente motivo de preocupação, sabido que as reeleições sempre são difíceis e de resultados desastrosos para o equilíbrio fiscal.
As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas. O ministro Guido Mantega aparece e reaparece na televisão com semblante desanimado, para reconhecer que a meta não pôde ser alcançada. Mas não desiste de fixar novas metas, que, pelo visto, nunca serão atingidas, enquanto não houver uma efetiva e severa redução dos gastos públicos. Será talvez necessário restabelecer, pelo voto, a rotatividade dos poderes, para que algo de novo aconteça na condução da política econômica.
As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas
Estávamos no último ano do segundo quatriênio de Lula, quando já se aprontava o tapete vermelho para a eleição de Dilma Rousseff. Cultivavam-se orçamentos generosos, gastança fácil, créditos largos no sistema bancário. Escrevemos, então, um comentário sob o título de “Memória da inflação”, relembrando, para quem não lembrava, a época desastrosa que precedeu o salvador e benemérito Plano Real, de 1994.
E dado que hoje se divulga que tivemos, em 2013, o menor superávit primário dos últimos 12 anos, além de outras notícias menos animadoras, preciso resistir à tentação de reeditar aquele artigo, em que lembrei as taxas inflacionárias de 90% ao mês e aquela fantástica taxa anual de 2.400% ao ano, registrada em 1993. Os sucessivos planos governamentais de combate à inflação haviam naufragado: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Collor… Os salários murchavam antes do dia 15, ninguém investia em qualquer negócio de resultado previsível, e a maquininha de maior utilização era a de remarcar os preços de varejo nos mercados. Nós a tínhamos quase esquecido, mas ela está voltando, mui ativa, na mão dos servidores dos supermercados. Os economistas daquele tempo conversavam muito, faziam prognósticos e diagnósticos (lembram daquela senhora Zélia Cardoso de Melo que foi ministra?), mas os cidadãos, já com as poupanças saqueadas, não acreditavam mais numa possível salvação. A salvação veio, entretanto, nos governos de Itamar Franco e de Fernando Henrique, com a introdução do Plano Real, de saudosa memória.
Digo de “saudosa memória”, porque os dados mais recentes apontam vários sinais de alerta para a recidiva de um processo inflacionário. Elevação reiterada dos preços, retorno aos déficits (especialmente nos Estados e municípios), larguezas pré-eleitorais, estímulos ao crédito e ao consumo ostentatório… Tudo isso, somado à alta do dólar e à queda do volume de investimentos, não demanda uma pós-graduação em macroeconomia para autorizar maus prognósticos para os próximos meses ou anos. A aproximação do pleito federal, com a presidente Dilma habilitando-se para a reeleição, já é suficiente motivo de preocupação, sabido que as reeleições sempre são difíceis e de resultados desastrosos para o equilíbrio fiscal.
As metas fixadas para elevação dos preços têm sido invariavelmente ultrapassadas. O ministro Guido Mantega aparece e reaparece na televisão com semblante desanimado, para reconhecer que a meta não pôde ser alcançada. Mas não desiste de fixar novas metas, que, pelo visto, nunca serão atingidas, enquanto não houver uma efetiva e severa redução dos gastos públicos. Será talvez necessário restabelecer, pelo voto, a rotatividade dos poderes, para que algo de novo aconteça na condução da política econômica.
Lua de fel - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 05/02
No fim, pode ser que fique tudo na mesma e a história se repita como acontece desde 2002. Dilma Rousseff ganhe a eleição, o PT continue na Presidência e Luiz Inácio da Silva se prepare para lutar pela permanência do poder em 2018.
Mas, uma coisa é certa: as eleições de 2014, pelo menos no tocante às campanhas, notadamente ao tom do embate entre governo e oposição, não serão iguais àquelas que passaram.
Pela primeira vez desde que o PT assumiu o Palácio do Planalto, os adversários da candidatura governista dão sinais inequívocos de contundência.
Já foram muito mais tímidos. Lá no início, em 2002, em parte porque não acreditavam que poderiam perder para o PT, em parte porque o então presidente Fernando Henrique Cardoso não considerou de todo desagradável capitanear uma missão civilizatória na transição de governo muito fidalga ao mitológico operário Lula. Isso até ouvir a referência à "herança maldita" já no primeiro discurso do sucessor.
Nas campanhas seguintes a oposição perdeu-se em brigas internas, traições explícitas com alianças implícitas ao governismo, atos patéticos e discursos acanhados. Era quase como se pedissem desculpas ao País por se opor a Lula e ao PT.
Agora se desenha outro cenário. Os adversários estão dizendo que são contra tudo "isso que está aí". O senador Aécio Neves, contrariamente à sua atuação no Senado nos últimos anos, vem subindo o tom das críticas a fim de firmar posição junto ao eleitorado.
De parlamentar praticamente omisso, o tucano passou à condição de comentarista cáustico de quaisquer atos e declarações com origem no governo.
Quanto a Eduardo Campos, se alguma dúvida havia em relação à forma como vai se posicionar na campanha, ele tratou de dirimir todas elas ontem no lançamento das diretrizes do programa de governo da aliança firmada com a ex-senadora Marina Silva.
Foi aos pontos de maneira direta e sem titubeios. Nas palavras dele os governistas se agarram desesperadamente aos cargos, falta liderança no Brasil, a política social distributivista sem o crescimento do grau de qualificação das pessoas é mero exercício de enxugamento de gelo, o governo é pródigo em promessas e ineficaz na resolução dos problemas.
O governador de Pernambuco ainda atribuiu a saída do PSB da base governista à percepção de que o País havia sido tomado pela paralisia. Em miúdos: atacou a capacidade de gestão da presidente, o atributo mais festejado pelos construtores da imagem de Dilma.
As pontes se incendiaram. Por elas já não passam Campos, o aliado militante; nem Aécio Neves, o oposicionista simpatizante.
Apropriação. Teria sido apenas um ato pueril (no sentido da tolice), não fosse a justificativa do vice-presidente da Câmara, André Vargas, para o braço erguido e o punho cerrado ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal durante a cerimônia de reabertura do Congresso.
"No PT a gente tem se cumprimentado assim. Foi o símbolo de reação dos nossos companheiros injustamente condenados. O ministro (Joaquim Barbosa) está na nossa casa, tem nosso respeito, mas estamos bastante à vontade para cumprimentar do jeito que a gente achar que deve", disse o petista.
Equivocado no seguinte ponto: a Câmara dos Deputados não é a "casa" desse ou daquele partido. É uma das Casas do Poder Legislativo. Instituição da República. O PT está no poder, mas continua sendo uma entidade privada de direito público como qualquer outra agremiação partidária.
No fim, pode ser que fique tudo na mesma e a história se repita como acontece desde 2002. Dilma Rousseff ganhe a eleição, o PT continue na Presidência e Luiz Inácio da Silva se prepare para lutar pela permanência do poder em 2018.
Mas, uma coisa é certa: as eleições de 2014, pelo menos no tocante às campanhas, notadamente ao tom do embate entre governo e oposição, não serão iguais àquelas que passaram.
Pela primeira vez desde que o PT assumiu o Palácio do Planalto, os adversários da candidatura governista dão sinais inequívocos de contundência.
Já foram muito mais tímidos. Lá no início, em 2002, em parte porque não acreditavam que poderiam perder para o PT, em parte porque o então presidente Fernando Henrique Cardoso não considerou de todo desagradável capitanear uma missão civilizatória na transição de governo muito fidalga ao mitológico operário Lula. Isso até ouvir a referência à "herança maldita" já no primeiro discurso do sucessor.
Nas campanhas seguintes a oposição perdeu-se em brigas internas, traições explícitas com alianças implícitas ao governismo, atos patéticos e discursos acanhados. Era quase como se pedissem desculpas ao País por se opor a Lula e ao PT.
Agora se desenha outro cenário. Os adversários estão dizendo que são contra tudo "isso que está aí". O senador Aécio Neves, contrariamente à sua atuação no Senado nos últimos anos, vem subindo o tom das críticas a fim de firmar posição junto ao eleitorado.
De parlamentar praticamente omisso, o tucano passou à condição de comentarista cáustico de quaisquer atos e declarações com origem no governo.
Quanto a Eduardo Campos, se alguma dúvida havia em relação à forma como vai se posicionar na campanha, ele tratou de dirimir todas elas ontem no lançamento das diretrizes do programa de governo da aliança firmada com a ex-senadora Marina Silva.
Foi aos pontos de maneira direta e sem titubeios. Nas palavras dele os governistas se agarram desesperadamente aos cargos, falta liderança no Brasil, a política social distributivista sem o crescimento do grau de qualificação das pessoas é mero exercício de enxugamento de gelo, o governo é pródigo em promessas e ineficaz na resolução dos problemas.
O governador de Pernambuco ainda atribuiu a saída do PSB da base governista à percepção de que o País havia sido tomado pela paralisia. Em miúdos: atacou a capacidade de gestão da presidente, o atributo mais festejado pelos construtores da imagem de Dilma.
As pontes se incendiaram. Por elas já não passam Campos, o aliado militante; nem Aécio Neves, o oposicionista simpatizante.
Apropriação. Teria sido apenas um ato pueril (no sentido da tolice), não fosse a justificativa do vice-presidente da Câmara, André Vargas, para o braço erguido e o punho cerrado ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal durante a cerimônia de reabertura do Congresso.
"No PT a gente tem se cumprimentado assim. Foi o símbolo de reação dos nossos companheiros injustamente condenados. O ministro (Joaquim Barbosa) está na nossa casa, tem nosso respeito, mas estamos bastante à vontade para cumprimentar do jeito que a gente achar que deve", disse o petista.
Equivocado no seguinte ponto: a Câmara dos Deputados não é a "casa" desse ou daquele partido. É uma das Casas do Poder Legislativo. Instituição da República. O PT está no poder, mas continua sendo uma entidade privada de direito público como qualquer outra agremiação partidária.
A fritura de Helena Chagas - ELIO GASPARI
O GLOBO - 05/02
Pela 1ª vez, o destino das verbas decidiu o futuro da máquina de comunicação do governo federal
O comissariado fritou a ministra Helena Chagas. Pela primeira vez em quase um século, desde que o jornalista Lourival Fontes foi cuidar da imagem de Getúlio Vargas, o funcionário encarregado da comunicação do Palácio do Planalto caiu por causa de dinheiro, acusado de não atender aos objetivos políticos do governo. A jornalista, com 32 anos de carreira, teve no seu ofício um desempenho muito superior à média do comissariado petista. Não a fritaram porque divulgou o que não devia, ou deixou de divulgar o que devia. Muito menos porque suas opiniões políticas divergiam do governo. Na raiz do mal-estar estavam apenas verbas, o dinheiro da Viúva.
Seja qual for o governo, sempre haverá alguém reclamando porque não recebe dele verbas publicitárias proporcionais à fidelidade com que o defende. O patrono dessa espécie deveria ser o jornalista Alexandre von Baumgarten. Amigo de generais da ditadura, queria reerguer uma revista falida e buscava no Planalto perdões de dívidas e verbas publicitárias. Acabou-se em 1982, com uma bala na cabeça, e deixou um dossiê acusando o Serviço Nacional de Informações pela sua morte.
Em 2012 a máquina de propaganda do palácio moveu R$ 1,9 bilhão. Esse é o dinheiro que Brasília promete repassar ao governo do Estado do Rio para enfrentar desastres naturais. Noutra conta, R$ 1,2 bilhão é o total dos financiamentos brasileiros para obras e serviços em Cuba. Vale lembrar que esse tipo de munificência não foi inventada pelo PT, nem é exclusiva do governo federal. Ele apenas inflou-a, pois em 2000 o tucanato torrou R$ 1,2 bilhão.
Em 2012 o Planalto gastou mais em publicidade que a Ambev (R$ 1,6 bilhão), que vive de vender cervejas e refrigerantes. Com R$ 1,7 bilhão, a Caixa Econômica (cujas despesas não estão na caixa do Planalto) gastou mais que o Bradesco e o Itaú, somados.
A conta de R$ 1,9 bilhão expande-se para uma cifra difícil de ser calculada. Nela entram outras campanhas promocionais, como as de ministérios, empresas estatais e contratos com agências de relações públicas que se superpõem às burocracias do Estado. Num cálculo grosseiro, esse aparelho federal pode custar até R$ 4 bilhões por ano.
Quando um governo desenvolve a mentalidade do sítio, julgando-se injustiçado pelos meios de comunicação, a arca torna-se um saco sem fundo, capturada por um círculo vicioso: se estão contra nós, precisamos ajudar quem nos defende e, se alguém nos defende, nada mais natural que ajudá-lo. Num outro estágio, o hierarca federal, estadual ou municipal, seja qual for seu partido, confunde deliberadamente a divulgação de políticas públicas com a exaltação de suas próprias atividades (leia-se candidaturas). Como fica feio fazer isso com o aparelho do Estado, privatizam a ambição política e estatizam seu custo. Em 2013 o Ministério da Saúde gastou R$ 232 milhões e Alexandre Padilha disputará o governo de São Paulo.
Pedir que os governos parem de gastar dinheiro com publicidade num ano eleitoral é um exercício fútil. Precisamente porque este é um ano eleitoral, o balcão está aberto para candidatos capazes de se comprometer a reduzir drasticamente esse tipo de despesa. Basta contar ao público quanto seus antecessores torraram e dizer quanto e como pretendem gastar.
Pela 1ª vez, o destino das verbas decidiu o futuro da máquina de comunicação do governo federal
O comissariado fritou a ministra Helena Chagas. Pela primeira vez em quase um século, desde que o jornalista Lourival Fontes foi cuidar da imagem de Getúlio Vargas, o funcionário encarregado da comunicação do Palácio do Planalto caiu por causa de dinheiro, acusado de não atender aos objetivos políticos do governo. A jornalista, com 32 anos de carreira, teve no seu ofício um desempenho muito superior à média do comissariado petista. Não a fritaram porque divulgou o que não devia, ou deixou de divulgar o que devia. Muito menos porque suas opiniões políticas divergiam do governo. Na raiz do mal-estar estavam apenas verbas, o dinheiro da Viúva.
Seja qual for o governo, sempre haverá alguém reclamando porque não recebe dele verbas publicitárias proporcionais à fidelidade com que o defende. O patrono dessa espécie deveria ser o jornalista Alexandre von Baumgarten. Amigo de generais da ditadura, queria reerguer uma revista falida e buscava no Planalto perdões de dívidas e verbas publicitárias. Acabou-se em 1982, com uma bala na cabeça, e deixou um dossiê acusando o Serviço Nacional de Informações pela sua morte.
Em 2012 a máquina de propaganda do palácio moveu R$ 1,9 bilhão. Esse é o dinheiro que Brasília promete repassar ao governo do Estado do Rio para enfrentar desastres naturais. Noutra conta, R$ 1,2 bilhão é o total dos financiamentos brasileiros para obras e serviços em Cuba. Vale lembrar que esse tipo de munificência não foi inventada pelo PT, nem é exclusiva do governo federal. Ele apenas inflou-a, pois em 2000 o tucanato torrou R$ 1,2 bilhão.
Em 2012 o Planalto gastou mais em publicidade que a Ambev (R$ 1,6 bilhão), que vive de vender cervejas e refrigerantes. Com R$ 1,7 bilhão, a Caixa Econômica (cujas despesas não estão na caixa do Planalto) gastou mais que o Bradesco e o Itaú, somados.
A conta de R$ 1,9 bilhão expande-se para uma cifra difícil de ser calculada. Nela entram outras campanhas promocionais, como as de ministérios, empresas estatais e contratos com agências de relações públicas que se superpõem às burocracias do Estado. Num cálculo grosseiro, esse aparelho federal pode custar até R$ 4 bilhões por ano.
Quando um governo desenvolve a mentalidade do sítio, julgando-se injustiçado pelos meios de comunicação, a arca torna-se um saco sem fundo, capturada por um círculo vicioso: se estão contra nós, precisamos ajudar quem nos defende e, se alguém nos defende, nada mais natural que ajudá-lo. Num outro estágio, o hierarca federal, estadual ou municipal, seja qual for seu partido, confunde deliberadamente a divulgação de políticas públicas com a exaltação de suas próprias atividades (leia-se candidaturas). Como fica feio fazer isso com o aparelho do Estado, privatizam a ambição política e estatizam seu custo. Em 2013 o Ministério da Saúde gastou R$ 232 milhões e Alexandre Padilha disputará o governo de São Paulo.
Pedir que os governos parem de gastar dinheiro com publicidade num ano eleitoral é um exercício fútil. Precisamente porque este é um ano eleitoral, o balcão está aberto para candidatos capazes de se comprometer a reduzir drasticamente esse tipo de despesa. Basta contar ao público quanto seus antecessores torraram e dizer quanto e como pretendem gastar.