FOLHA DE SP - 13/01
Para Smith, o homem moderno poderia vir a ser um covarde viciado em seus pequenos luxos
Sabemos todos das críticas comuns ao capitalismo. Injustiça social, viramos mercadoria. Sonhamos com um mundo no qual todos terão praia sem trânsito, com areia e água igual para todos. Mulheres e homens se amariam sem ciúmes e também amariam outros animais e plantas de forma igualitária e com respeito. Um mundo no qual todos viveriam numa mistura de Islândia e França, com clima italiano.
Vulcões não engoliriam civilizações, tsunamis não invadiriam a terra, jacarés respeitariam os direitos humanos. Mulheres não desejariam mais de um vestido, homens não teriam medo da impotência. Todos integrados num sistema autorregulativo de paz e amor. Críticas de uma mente infantil.
A melhor crítica à sociedade de mercado foi feita por seu maior defensor, Adam Smith (século 18). Tradutor de Rousseau, Smith discutiu com ele a corrupção do caráter causada pelo sociedade comercial.
Rousseau entendia que a corrupção era política e seria resolvida com remédios políticos: revolução, destruição da cultura e técnica, frutos do mundo baseado em trocas comerciais, uma nova pedagogia que deixasse a harmonia e beleza da natureza humana inata se manifestar de novo na sua integração com a harmonia e beleza da natureza a nossa volta. E, assim sendo, de novo, voltaríamos ao mundo no qual o homem acordaria, caçaria de manhã, almoçaria ao meio-dia, escreveria um livro à noite, sem um tsunami ou inveja sequer.
Para Smith, a corrupção é moral, e não política. Interessante ver como aquele para quem a sociedade comercial era um trunfo humano a ser preservado, será o mesmo homem para quem o risco dessa mesma sociedade será muito mais difícil de curar do que para nosso filósofo da vaidade, Rousseau.
Smith temia que a sociedade de mercado causasse um enfraquecimento das virtudes heroicas. A perda dessas virtudes (coragem, disciplina e força), causada por uma vida baseada na produção de riquezas materiais e consequente riqueza de bens imateriais (hoje materializados em leis luxuosas sobre direitos, desejos e liberdades numa sociedade baseada em escolhas individuais contra sociedades que esmagam esta escolha sob a bota de modelos coletivistas tradicionais, religiosos ou marxistas), apareceria na covardia generalizada e no vício do bem-estar, material e imaterial.
Se a URSS tivesse ganho a Guerra Fria, seriamos todos pobres e ninguém teria esses luxos materiais e imateriais. O capitalismo deixou todo mundo frouxo.
Logo, o enriquecimento produz homens e mulheres covardes em larga escala porque produz demandas de luxo generalizado.
Para Smith, o homem moderno poderia vir a ser um covarde viciado em seus pequenos luxos. No entendimento do nosso iluminista escocês (o iluminismo britânico é infinitamente mais sofisticado do que o francês, o único ensinado no Brasil tacanho de nosso dia a dia), somos capazes de benevolência e empatia (ou simpatia), e buscamos uma certa imparcialidade em nossos julgamentos morais por percebermos como ela é importante para o convívio racional.
Entretanto, a virtude heroica da sociedade de mercado, pensava ele, era a autonomia, não a pura kantiana, mas a capacidade de assumirmos nossas decisões morais na vida alimentada por nosso desejo de sermos donos de nossa vida material, na medida do possível.
Ele bem sabia o quão duro é ser assim. Sempre foi. Mas a corrupção do caráter, baseada nos ganhos materiais e imateriais do bem-estar, nos tornaria uns frouxos. E isso aconteceu. E esta frouxidão se materializa numa demanda interminável de facilitação da própria vida.
Logo, vamos exigir a abolição do trabalho como direito. Ganhar a vida com o suor do rosto sem garantia de retribuição será considerado contra os direitos humanos.
O novo crescimento do socialismo rosa-choque, inclusive em lideres como Obama, é fruto dessa corrupção. Smith previu as bases para o surgimento do pensamento de Marx e Gramsci: a corrosão do caráter causada pelo enriquecimento das sociedades e suas demandas de supressão das condições reais da vida como dor, luta e trabalho sem garantias.
segunda-feira, janeiro 13, 2014
O que é sucesso? - WANDA CAMARGO
GAZETA DO POVO - PR - 13/01
Nossas prioridades nos definem. A maioria de nós escolhe, humanamente, perseguir conforto, segurança, reconhecimento, até mesmo a fatuidade dos “símbolos de status”. Uns poucos, santos, demônios e artistas, preferem a eternidade – não têm a possibilidade de não preferi-la. A visão estética, política, de ideias ou de revolução os domina e leva a fazer grandes coisas, coisas terríveis, coisas medíocres, coisas geniais, sempre verdadeiras, ainda que nem sempre belas ou morais. O que de melhor e pior a humanidade já realizou foi por iniciativa dessas pessoas, que geralmente são indiferentes à riqueza, algo muito importante para os comuns mortais.
Já entre as pessoas que valorizam e obtêm sucesso material há as que nunca se sentem verdadeiramente seguras de sua sorte. Precisam de autoafirmação permanente, têm atitude ostensiva e arrogante, usam roupas e acessórios que custam muitas vezes mais do que realmente valem (mas trazem os sinais de seu preço à mostra), frequentam apenas “áreas vip”, gostam de champanhes caros servidos com fogos de artifício e de outras puerilidades. Parece que conseguem alguma ressonância, pois há entre muitos um sentimento difuso de que são realmente merecedores de deferência e inveja.
Ganha com isso repercussão o debate acerca do desinteresse pelos bens materiais representar na verdade uma espécie de fuga da sua busca. Qual seria o limite entre o direito individual a uma vida franciscana, de desapego, e o direito dos familiares e dependentes quando ainda não puderem prover o próprio sustento? Temos tendência a duvidar que essa desambição possa ser verdadeira – é quase como se acusássemos aquele que opta por ela de egoísmo ou infantilidade, por não dar maior importância àquilo que é fundamental na concepção da maioria. Mas possivelmente seja real – e uma das melhores coisas da vida.
Somos socialmente educados para valorizar apenas os símbolos fáceis de sucesso. Porém, este tem muitas vertentes, muitos significados, há infindas formas de tê-lo e, na maior parte delas, não estará ligado apenas à posse de bens materiais.
Tem-se valorizado muito pouco as conquistas intelectuais. Já quase não se admiram as pessoas por sua cultura e gentileza. Os heróis da ficção não são exatamente bons exemplos – são muitos os demagogos com belos discursos e escassas realizações.
Sem ter como referência um comportamento mais solidário, o desejo de desenvolvimento intelectual e uma boa reflexão sobre os valores sociais vigentes, até mesmo alguns que deveriam ser mais bem pensados antes de serem aceitos, será difícil mostrar aos jovens o verdadeiro valor da educação, embora seja possível e cada vez mais necessário.
Nossas prioridades nos definem. A maioria de nós escolhe, humanamente, perseguir conforto, segurança, reconhecimento, até mesmo a fatuidade dos “símbolos de status”. Uns poucos, santos, demônios e artistas, preferem a eternidade – não têm a possibilidade de não preferi-la. A visão estética, política, de ideias ou de revolução os domina e leva a fazer grandes coisas, coisas terríveis, coisas medíocres, coisas geniais, sempre verdadeiras, ainda que nem sempre belas ou morais. O que de melhor e pior a humanidade já realizou foi por iniciativa dessas pessoas, que geralmente são indiferentes à riqueza, algo muito importante para os comuns mortais.
Já entre as pessoas que valorizam e obtêm sucesso material há as que nunca se sentem verdadeiramente seguras de sua sorte. Precisam de autoafirmação permanente, têm atitude ostensiva e arrogante, usam roupas e acessórios que custam muitas vezes mais do que realmente valem (mas trazem os sinais de seu preço à mostra), frequentam apenas “áreas vip”, gostam de champanhes caros servidos com fogos de artifício e de outras puerilidades. Parece que conseguem alguma ressonância, pois há entre muitos um sentimento difuso de que são realmente merecedores de deferência e inveja.
Ganha com isso repercussão o debate acerca do desinteresse pelos bens materiais representar na verdade uma espécie de fuga da sua busca. Qual seria o limite entre o direito individual a uma vida franciscana, de desapego, e o direito dos familiares e dependentes quando ainda não puderem prover o próprio sustento? Temos tendência a duvidar que essa desambição possa ser verdadeira – é quase como se acusássemos aquele que opta por ela de egoísmo ou infantilidade, por não dar maior importância àquilo que é fundamental na concepção da maioria. Mas possivelmente seja real – e uma das melhores coisas da vida.
Somos socialmente educados para valorizar apenas os símbolos fáceis de sucesso. Porém, este tem muitas vertentes, muitos significados, há infindas formas de tê-lo e, na maior parte delas, não estará ligado apenas à posse de bens materiais.
Tem-se valorizado muito pouco as conquistas intelectuais. Já quase não se admiram as pessoas por sua cultura e gentileza. Os heróis da ficção não são exatamente bons exemplos – são muitos os demagogos com belos discursos e escassas realizações.
Sem ter como referência um comportamento mais solidário, o desejo de desenvolvimento intelectual e uma boa reflexão sobre os valores sociais vigentes, até mesmo alguns que deveriam ser mais bem pensados antes de serem aceitos, será difícil mostrar aos jovens o verdadeiro valor da educação, embora seja possível e cada vez mais necessário.
Com todo o respeito - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 13/01
RIO DE JANEIRO - Há três semanas, 8.000 mulheres confirmaram pelo Facebook sua presença num "toplessaço" em Ipanema, pela liberdade de ir à praia sem a parte de cima do biquíni --"como é normal na França e em Portugal", disse uma delas. A mídia mandou 200 jornalistas para o Posto 9 --seria a maior exposição de seios no Brasil desde 1500. Mas apenas três ou quatro ativistas compareceram e tiraram o sutiã.
Uma coisa é ostentar ousadias por um veículo ectoplásmico. Outra é desafiar ao vivo os próprios limites. E talvez o fiasco do evento não se deva ao conservadorismo da sociedade, como se disse, mas a alguma censura interna das próprias mulheres.
Afinal, este é o país cujas praias são um festival de glúteos sem paralelo no mundo --em todos os sentidos. Em nenhum outro os biquínis são fabricados para expor tanto as nádegas. Meninas, adolescentes, jovens adultas, mães de família e até avós os usam, sem provocar qualquer comoção. Tanto que o comentário da eterna vedete Carmen Verônica, "No meu tempo enfiava-se a bunda na calcinha; hoje, enfia-se a calcinha na bunda", foi só técnico, sem conotação moral.
Não se veem calcinhas tão micro nas praias de outros países --a mulher europeia mostra os seios com naturalidade, mas é recatada do cóccix para baixo. As próprias sungas masculinas brasileiras, de tão mínimas, são consideradas "inadequadas" na Califórnia e na Flórida. Então ficamos assim: alguns países não querem ver seios na praia; outros, não querem ver bundas.
Se os seios fossem uma parte tão inocente da anatomia, o grupo feminista internacional Femen não os usaria como arma política e de guerrilha, expondo-os de forma agressiva e antierótica. Como quem diz aos homens: "Estes vocês não vão ter, seus machistas!". Pena, porque algumas daquelas moças são --com todo o respeito-- uns chuchus.
RIO DE JANEIRO - Há três semanas, 8.000 mulheres confirmaram pelo Facebook sua presença num "toplessaço" em Ipanema, pela liberdade de ir à praia sem a parte de cima do biquíni --"como é normal na França e em Portugal", disse uma delas. A mídia mandou 200 jornalistas para o Posto 9 --seria a maior exposição de seios no Brasil desde 1500. Mas apenas três ou quatro ativistas compareceram e tiraram o sutiã.
Uma coisa é ostentar ousadias por um veículo ectoplásmico. Outra é desafiar ao vivo os próprios limites. E talvez o fiasco do evento não se deva ao conservadorismo da sociedade, como se disse, mas a alguma censura interna das próprias mulheres.
Afinal, este é o país cujas praias são um festival de glúteos sem paralelo no mundo --em todos os sentidos. Em nenhum outro os biquínis são fabricados para expor tanto as nádegas. Meninas, adolescentes, jovens adultas, mães de família e até avós os usam, sem provocar qualquer comoção. Tanto que o comentário da eterna vedete Carmen Verônica, "No meu tempo enfiava-se a bunda na calcinha; hoje, enfia-se a calcinha na bunda", foi só técnico, sem conotação moral.
Não se veem calcinhas tão micro nas praias de outros países --a mulher europeia mostra os seios com naturalidade, mas é recatada do cóccix para baixo. As próprias sungas masculinas brasileiras, de tão mínimas, são consideradas "inadequadas" na Califórnia e na Flórida. Então ficamos assim: alguns países não querem ver seios na praia; outros, não querem ver bundas.
Se os seios fossem uma parte tão inocente da anatomia, o grupo feminista internacional Femen não os usaria como arma política e de guerrilha, expondo-os de forma agressiva e antierótica. Como quem diz aos homens: "Estes vocês não vão ter, seus machistas!". Pena, porque algumas daquelas moças são --com todo o respeito-- uns chuchus.
Triste horizonte - LÚCIA GUIMARÃES
O Estado de S.Paulo - 13/01
Parece que estava adivinhando. Escrevi para o Aliás de ontem sobre o Vórtex Polar que castigou os Estados Unidos na semana passada. Estava a bordo de um voo para o Rio, alertada para a onda de calor escorchante que me esperava. Concluí o texto com uma admissão: ainda que carioca, criada na praia, não me importava de voltar para o ar gelado. Desliguei o computador e não entendi o significado da frase até a madrugada de domingo, quando mais um apagão da Light me despertou. Saí tateando atrás do celular, encharcada de suor, e não foi difícil confirmar o óbvio. Na mídia social, havia fotos de ruas de Ipanema mergulhadas na escuridão. O apagão afetou também sabe-se quantas ruas em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas. Minha fonte não é a Light e sim seus consumidores que, pelo que me contam, preferem ser chamados de reféns.
Às 4:30 da manhã, recebi o recado pelo Twitter: "Olá @luciaguimaraes! Você comunica a falta de luz enviando por DM para o @lightclientes #luz instalação, com espaço. Ex: #luz 040666663"
Como se o ponto de exclamação aliviasse o sufoco. Questionei o pedido de comunicação oficial. Suponho que quem estiver no controle de uma estação deve ter equipamento para detectar o apagão. De qualquer modo, não poderia enviar uma DM (quantos usuários saberão o que é DM - Direct Message - ou saberão enviá-la?) por não ter conta, estou hospedada num apartamento. Perguntei se a companhia aceitava o método empírico: não consegui ligar nenhum aparelho, fui à janela e os outros prédios estavam igualmente escuros aqui na rua.
Às 6 horas, fez-se a luz, perguntei se iam dar satisfações sobre o motivo do apagão e fui informada de que ainda estavam apurando a origem do apagão. A origem, como sabem muitos cariocas, não é mistério algum e precede o que quer que tenha acontecido na madrugada de ontem. Os pontos de exclamação e expressões de simpatia continuaram:
"Olá @luciaguimaraes! Trabalhamos constantemente para minimizar a possibilidade de interrupções. Se precisar novamente, conte com a gente." A mensagem está longe de me tranquilizar. A Light tinha estourado em 70%, em novembro, a expectativa de interrupção no fornecimento de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica para 2013. Quem é que pode contar com ela?
Na semana passada, recolhi uma pérola de corporativês quando explosões de bueiros no Rio foram definidas pela Light como "deslocamentos de tampas". Quem sabe, logo os apagões serão descritos como "saunas grátis".
Há seis semanas quando passei pelo Rio, embarquei num terminal às escuras do Galeão, que me recuso a chamar de Tom Jobim porque o Tom era meu amigo e não posso associá-lo a tal edifício público. Executivos da Associação Internacional de Transporte Aéreo se referem ao aeroporto do Rio de Janeiro pelo nome de um empobrecido país africano que não vou citar porque não quero insultar seus habitantes.
Há menos de 10 anos, exaltava em público os motoristas de táxi cariocas. Eles se saíam muito bem na comparação aos mal humorados e mal asseados motoristas nova-iorquinos que esperam de nós passageiros fluência em urdu. Os motoristas cariocas eram amáveis, engraçados, davam conselhos sentimentais e, ao contrário da concessionária de energia, a gente podia contar com eles. Várias vezes confiei amigos americanos aos que tinham algum conhecimento de inglês e nunca ouvi uma queixa sobre comportamento ao volante ou cobrança desonesta.
Agora uma corrida de táxi no Rio é um esporte radical sem equipamento de segurança. Minha anfitriã me conta que tem sido recusada por táxis vazios porque os motoristas querem evitar tráfego intenso. Nem a nova multa de R$ 625 pela recusa faz arrefecer a petulância. Tomei um táxi no sábado e mal deu tempo de dar o endereço completo. O motorista logo passou a mão no celular e começou a se queixar a uma companhia de cobrança de pedágio por débito que havia bloqueado sua conta. A conversa durou todo o trajeto em alta velocidade com uma só mão ao volante.
O Rio que eu deixei ficava num país subdesenvolvido. O Rio que visito hoje fica na sétima economia mundial. Suas favelas têm websites anunciando acomodações para turistas com TV's de plasma. Famílias de baixa renda possuem múltiplas linhas de celular mas as contas são exorbitantes e a ligação cai a toda hora. Sob o verniz da explosão de consumo há um colapso de serviços e civilidade que frequentemente torna o Rio irreconhecível. É como se a imagem da cidade que carrego comigo tivesse sido capturada por Marc Ferrez. A informalidade cordial e o bom senso foram substituídos pela linguagem robótica do corporativês coalhado de gerúndios atrás do qual se escondem todos os prestadores de serviço, seja num balcão, on-line ou por telefone.
Se antes a cidade operava numa rotina de contatos pessoais, com todas as falhas e a burocracia cartorial, hoje a interação é predominantemente transacional. O porteiro onde me hospedo numa rua afluente me vê carregada de volumes e não lhe ocorre destrancar o portão, palavra cujo radical é compartilhado pelo nome da sua profissão. Ele é um trabalhador orgulhoso e independente? Não, é um trabalhador certo da impunidade que observa à sua volta.
A cidade-cartão postal do Brasil no exterior nunca atraiu tanta atenção na mídia internacional. Mas não é a atenção desejada pelos autores do projeto megalomaníaco de hospedar a Copa e os Jogos Olímpicos num espaço de dois anos. É uma cobertura sobre despreparo para sediar os eventos, corrupção, injustiça social, pobreza e violência. Ainda que os presos tenham sido degolados no Maranhão, o Rio continua, no imaginário internacional, a sala de visitas do Brasil.
Uma pichação conhecida do tempo da ditadura militar emendava o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o" com a frase, "o último que sair, apague a luz do aeroporto." Quase meio século depois, é o desgoverno dos civis que escurece a cidade.
Parece que estava adivinhando. Escrevi para o Aliás de ontem sobre o Vórtex Polar que castigou os Estados Unidos na semana passada. Estava a bordo de um voo para o Rio, alertada para a onda de calor escorchante que me esperava. Concluí o texto com uma admissão: ainda que carioca, criada na praia, não me importava de voltar para o ar gelado. Desliguei o computador e não entendi o significado da frase até a madrugada de domingo, quando mais um apagão da Light me despertou. Saí tateando atrás do celular, encharcada de suor, e não foi difícil confirmar o óbvio. Na mídia social, havia fotos de ruas de Ipanema mergulhadas na escuridão. O apagão afetou também sabe-se quantas ruas em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas. Minha fonte não é a Light e sim seus consumidores que, pelo que me contam, preferem ser chamados de reféns.
Às 4:30 da manhã, recebi o recado pelo Twitter: "Olá @luciaguimaraes! Você comunica a falta de luz enviando por DM para o @lightclientes #luz instalação, com espaço. Ex: #luz 040666663"
Como se o ponto de exclamação aliviasse o sufoco. Questionei o pedido de comunicação oficial. Suponho que quem estiver no controle de uma estação deve ter equipamento para detectar o apagão. De qualquer modo, não poderia enviar uma DM (quantos usuários saberão o que é DM - Direct Message - ou saberão enviá-la?) por não ter conta, estou hospedada num apartamento. Perguntei se a companhia aceitava o método empírico: não consegui ligar nenhum aparelho, fui à janela e os outros prédios estavam igualmente escuros aqui na rua.
Às 6 horas, fez-se a luz, perguntei se iam dar satisfações sobre o motivo do apagão e fui informada de que ainda estavam apurando a origem do apagão. A origem, como sabem muitos cariocas, não é mistério algum e precede o que quer que tenha acontecido na madrugada de ontem. Os pontos de exclamação e expressões de simpatia continuaram:
"Olá @luciaguimaraes! Trabalhamos constantemente para minimizar a possibilidade de interrupções. Se precisar novamente, conte com a gente." A mensagem está longe de me tranquilizar. A Light tinha estourado em 70%, em novembro, a expectativa de interrupção no fornecimento de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica para 2013. Quem é que pode contar com ela?
Na semana passada, recolhi uma pérola de corporativês quando explosões de bueiros no Rio foram definidas pela Light como "deslocamentos de tampas". Quem sabe, logo os apagões serão descritos como "saunas grátis".
Há seis semanas quando passei pelo Rio, embarquei num terminal às escuras do Galeão, que me recuso a chamar de Tom Jobim porque o Tom era meu amigo e não posso associá-lo a tal edifício público. Executivos da Associação Internacional de Transporte Aéreo se referem ao aeroporto do Rio de Janeiro pelo nome de um empobrecido país africano que não vou citar porque não quero insultar seus habitantes.
Há menos de 10 anos, exaltava em público os motoristas de táxi cariocas. Eles se saíam muito bem na comparação aos mal humorados e mal asseados motoristas nova-iorquinos que esperam de nós passageiros fluência em urdu. Os motoristas cariocas eram amáveis, engraçados, davam conselhos sentimentais e, ao contrário da concessionária de energia, a gente podia contar com eles. Várias vezes confiei amigos americanos aos que tinham algum conhecimento de inglês e nunca ouvi uma queixa sobre comportamento ao volante ou cobrança desonesta.
Agora uma corrida de táxi no Rio é um esporte radical sem equipamento de segurança. Minha anfitriã me conta que tem sido recusada por táxis vazios porque os motoristas querem evitar tráfego intenso. Nem a nova multa de R$ 625 pela recusa faz arrefecer a petulância. Tomei um táxi no sábado e mal deu tempo de dar o endereço completo. O motorista logo passou a mão no celular e começou a se queixar a uma companhia de cobrança de pedágio por débito que havia bloqueado sua conta. A conversa durou todo o trajeto em alta velocidade com uma só mão ao volante.
O Rio que eu deixei ficava num país subdesenvolvido. O Rio que visito hoje fica na sétima economia mundial. Suas favelas têm websites anunciando acomodações para turistas com TV's de plasma. Famílias de baixa renda possuem múltiplas linhas de celular mas as contas são exorbitantes e a ligação cai a toda hora. Sob o verniz da explosão de consumo há um colapso de serviços e civilidade que frequentemente torna o Rio irreconhecível. É como se a imagem da cidade que carrego comigo tivesse sido capturada por Marc Ferrez. A informalidade cordial e o bom senso foram substituídos pela linguagem robótica do corporativês coalhado de gerúndios atrás do qual se escondem todos os prestadores de serviço, seja num balcão, on-line ou por telefone.
Se antes a cidade operava numa rotina de contatos pessoais, com todas as falhas e a burocracia cartorial, hoje a interação é predominantemente transacional. O porteiro onde me hospedo numa rua afluente me vê carregada de volumes e não lhe ocorre destrancar o portão, palavra cujo radical é compartilhado pelo nome da sua profissão. Ele é um trabalhador orgulhoso e independente? Não, é um trabalhador certo da impunidade que observa à sua volta.
A cidade-cartão postal do Brasil no exterior nunca atraiu tanta atenção na mídia internacional. Mas não é a atenção desejada pelos autores do projeto megalomaníaco de hospedar a Copa e os Jogos Olímpicos num espaço de dois anos. É uma cobertura sobre despreparo para sediar os eventos, corrupção, injustiça social, pobreza e violência. Ainda que os presos tenham sido degolados no Maranhão, o Rio continua, no imaginário internacional, a sala de visitas do Brasil.
Uma pichação conhecida do tempo da ditadura militar emendava o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o" com a frase, "o último que sair, apague a luz do aeroporto." Quase meio século depois, é o desgoverno dos civis que escurece a cidade.
#Sentimental - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS
O GLOBO - 13/01
A partir da bossa nova um inesperado mal se escondia no coração dos homens. Não era o golpe de Estado, o vento encanado ou o bicho do pé. Era a música brega
Cafonas são os beijos que não foram dados e as lágrimas derramadas pela crítica no leito de morte desses cantores outrora chamados bregas e que agora, toda semana um morto, são declarados como joias raras da melhor música brasileira.
Descansem em paz Nelson Ned, Reginaldo Rossi, Wando, Dom, Ravel, Evaldo Braga, Waldick Soriano, Lindomar Castilho e tantos outros no mesmo panteão dos que já se foram, grandes artistas marcados pela dor macambúzia de jamais conhecerem em vida o beijo refrescante do elogio impresso.
Perdoem esta espinhela caída que vira e mexe acomete a alma fúnebre nacional, uma viúva escrota sempre disposta a declarar simpatia culta hoje pelo cantor velhinho de mau gosto que morreu ontem.
Vocês eram pobres, tinham a pele oleosa, o cabelo esticado com meia de nylon e pararam de queimar as pestanas no ginásio. Queriam cantar da vida apenas aquilo que a bandida fornecia de mais sentimental, um roteiro de dor, perfídia, perfume de gardênia, mulheres que iam embora e as súplicas ajoelhadas para que voltassem. Vocês sofriam. Os bacanas não gostam disso.
Os críticos acham que cantor brega com valor é feito bandido bom, só existe depois de morto — e esperaram Nelson Ned morrer, anão coitado apedrejado em vida, para, compungidos, segurar-lhe a alça do caixão. Quando tiveram a certeza de que o corpo começava a esfriar, disseram que ia ali a versão nacional de um Frank Sinatra bonsai.
Eu nunca namorei uma garota em cadeira de rodas, como fez Fernando Mendes, eu nunca tirei mulher da zona, como perpetrou Odair José, mas eu estava lá. Vi. Desde aquele dia de 1958, quando estalaram sob as agulhas das vitrolas nacionais as primeiras bolhas do compacto de João Gilberto com “Chega de saudade”, criou-se um novo país de belas sonoridades — ao mesmo tempo surgiu a maldição de que do outro lado do ringue ficariam os párias do mau gosto. Passamos a viver num apartheid musical. Quem não cantasse baixinho estava fedido. Quem se deixasse iluminar pela luz difusa do abajur lilás era um perdedor.
O país do santo barroco baiano, sempre orgulhoso do turbante de frutas de Carmen Miranda e da cabeleira de príncipe na cabeça do mestre-sala, deu meia volta no sapato bicolor com que ia à pândega na gafieira. Pisou no freio do exagero estético. A partir da bossa nova surgia um inesperado mal que se escondia no coração dos homens. Ele devia ser evitado a todo custo, à base de enteroviofórmio, acordes dissonantes, amor, sorriso e muita flor. O novo mal brasileiro não era o golpe de Estado, o vento encanado ou o bicho do pé. Era a música brega.
Antes havia Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Joel e Gaúcho, Isaurinha Garcia, Custódio Mesquita, todos misturados e saudados no mesmo cordão encarnado da falta de preconceito. Diferentes, mas grandes artistas ouvidos por ricos e pobres, analfabetos e espertos. Mario Reis, o dândi do Copacabana Palace, ia até a Lapa gravar em primeira mão os sambas do malandro Sinhô. Antônio Maria enchia os cornos de uísque e mandava Nora Ney repetir “Ninguém me ama, ninguém me quer”. Alguns iam de dó de peito, outros se acompanhavam de zabumbas. A batuta de Radamés Gnatalli não perguntava nada. Regia a todos no democrático palco-estúdio da Rádio Nacional.
Não havia bem e mal, brega e chique, na MPB. Tanto fazia a comadre Sebastiana do Jackson do Pandeiro quanto a Nega Luzia do Wilson Batista ou a normalista do Nelson Gonçalves. Todas comíveis, lindas, musas cortejadas nos salões. Foram-se. Como cantava Nelson Ned, “tudo passa, tudo passará”.
Talvez por isso, neste momento em que a música popular pulsa tão broxa, todo mundo querendo se passar por cool, talvez por isso pinguem essas lágrimas da crítica pelos artistas-mortos que ela maltratou em vida.
Os tais bregas botavam os bofes para fora, como Núbia Lafayette, rasgavam os paletós no auge da súplica, como Orlando Dias, saíam declamando poemas como Silvinho. As fãs de Wando, agradecidas por terem suas vidas colocadas com tanta emoção em cena, jogavam sobre o palco o testemunho efusivo da vibração de suas calcinhas. Foi no tempo do crime passional, do coração fora do peito, do pulso sangrando, da camisola do dia tão transparentemente macia, da porta batendo para nunca mais e do chifre espetando a alma nacional.
Paulo Sérgio, Anísio Silva, Evaldo Braga, Luis Ayrão, Claudio Fontana, Altemar Dutra e Amado Batista. Nesses aplicativos modernos, onde as moças de hoje avaliam os rapazes começando pelas suas dimensões penianas, seria colocada ao lado do nome desses cantores bregas a hashtag #sentimental. Seria uma avaliação positiva. O tamanho do documento era outro
A partir da bossa nova um inesperado mal se escondia no coração dos homens. Não era o golpe de Estado, o vento encanado ou o bicho do pé. Era a música brega
Cafonas são os beijos que não foram dados e as lágrimas derramadas pela crítica no leito de morte desses cantores outrora chamados bregas e que agora, toda semana um morto, são declarados como joias raras da melhor música brasileira.
Descansem em paz Nelson Ned, Reginaldo Rossi, Wando, Dom, Ravel, Evaldo Braga, Waldick Soriano, Lindomar Castilho e tantos outros no mesmo panteão dos que já se foram, grandes artistas marcados pela dor macambúzia de jamais conhecerem em vida o beijo refrescante do elogio impresso.
Perdoem esta espinhela caída que vira e mexe acomete a alma fúnebre nacional, uma viúva escrota sempre disposta a declarar simpatia culta hoje pelo cantor velhinho de mau gosto que morreu ontem.
Vocês eram pobres, tinham a pele oleosa, o cabelo esticado com meia de nylon e pararam de queimar as pestanas no ginásio. Queriam cantar da vida apenas aquilo que a bandida fornecia de mais sentimental, um roteiro de dor, perfídia, perfume de gardênia, mulheres que iam embora e as súplicas ajoelhadas para que voltassem. Vocês sofriam. Os bacanas não gostam disso.
Os críticos acham que cantor brega com valor é feito bandido bom, só existe depois de morto — e esperaram Nelson Ned morrer, anão coitado apedrejado em vida, para, compungidos, segurar-lhe a alça do caixão. Quando tiveram a certeza de que o corpo começava a esfriar, disseram que ia ali a versão nacional de um Frank Sinatra bonsai.
Eu nunca namorei uma garota em cadeira de rodas, como fez Fernando Mendes, eu nunca tirei mulher da zona, como perpetrou Odair José, mas eu estava lá. Vi. Desde aquele dia de 1958, quando estalaram sob as agulhas das vitrolas nacionais as primeiras bolhas do compacto de João Gilberto com “Chega de saudade”, criou-se um novo país de belas sonoridades — ao mesmo tempo surgiu a maldição de que do outro lado do ringue ficariam os párias do mau gosto. Passamos a viver num apartheid musical. Quem não cantasse baixinho estava fedido. Quem se deixasse iluminar pela luz difusa do abajur lilás era um perdedor.
O país do santo barroco baiano, sempre orgulhoso do turbante de frutas de Carmen Miranda e da cabeleira de príncipe na cabeça do mestre-sala, deu meia volta no sapato bicolor com que ia à pândega na gafieira. Pisou no freio do exagero estético. A partir da bossa nova surgia um inesperado mal que se escondia no coração dos homens. Ele devia ser evitado a todo custo, à base de enteroviofórmio, acordes dissonantes, amor, sorriso e muita flor. O novo mal brasileiro não era o golpe de Estado, o vento encanado ou o bicho do pé. Era a música brega.
Antes havia Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Joel e Gaúcho, Isaurinha Garcia, Custódio Mesquita, todos misturados e saudados no mesmo cordão encarnado da falta de preconceito. Diferentes, mas grandes artistas ouvidos por ricos e pobres, analfabetos e espertos. Mario Reis, o dândi do Copacabana Palace, ia até a Lapa gravar em primeira mão os sambas do malandro Sinhô. Antônio Maria enchia os cornos de uísque e mandava Nora Ney repetir “Ninguém me ama, ninguém me quer”. Alguns iam de dó de peito, outros se acompanhavam de zabumbas. A batuta de Radamés Gnatalli não perguntava nada. Regia a todos no democrático palco-estúdio da Rádio Nacional.
Não havia bem e mal, brega e chique, na MPB. Tanto fazia a comadre Sebastiana do Jackson do Pandeiro quanto a Nega Luzia do Wilson Batista ou a normalista do Nelson Gonçalves. Todas comíveis, lindas, musas cortejadas nos salões. Foram-se. Como cantava Nelson Ned, “tudo passa, tudo passará”.
Talvez por isso, neste momento em que a música popular pulsa tão broxa, todo mundo querendo se passar por cool, talvez por isso pinguem essas lágrimas da crítica pelos artistas-mortos que ela maltratou em vida.
Os tais bregas botavam os bofes para fora, como Núbia Lafayette, rasgavam os paletós no auge da súplica, como Orlando Dias, saíam declamando poemas como Silvinho. As fãs de Wando, agradecidas por terem suas vidas colocadas com tanta emoção em cena, jogavam sobre o palco o testemunho efusivo da vibração de suas calcinhas. Foi no tempo do crime passional, do coração fora do peito, do pulso sangrando, da camisola do dia tão transparentemente macia, da porta batendo para nunca mais e do chifre espetando a alma nacional.
Paulo Sérgio, Anísio Silva, Evaldo Braga, Luis Ayrão, Claudio Fontana, Altemar Dutra e Amado Batista. Nesses aplicativos modernos, onde as moças de hoje avaliam os rapazes começando pelas suas dimensões penianas, seria colocada ao lado do nome desses cantores bregas a hashtag #sentimental. Seria uma avaliação positiva. O tamanho do documento era outro
Como as democracias se mantêm vivas - MARCELO COUTINHO
CORREIO BRAZILIENSE - 13/01
Em Como as democracias acabam, o filósofo francês Jean-François Revel, um ex-marxista e posteriormente seguidor das ideias de Raymond Aron, profetizou no início da década de 1980 a derrota das democracias ocidentais para o socialismo.
Revel não foi o único. Um grande pessimismo contagiou o bloco liberal nesse período. Mas ao contrário dos prognósticos negativos, a democracia não só sobreviveu a tantos oponentes como prevaleceu no fim da Guerra Fria.
Até hoje existem mais ditaduras do que democracias no mundo. Não obstante, o regime liberal cresceu muito, alcançando, de acordo com institutos especializados, mais de 40% dos países.
Enquanto a democracia chega a lugares novos, muitas repúblicas pluripartidárias questionam-se. É o caso do Brasil. O paradoxo consiste no fato de que nunca tantos povos viveram sob as instituições democráticas como agora, ao mesmo tempo em que nunca a desilusão com essas instituições foi tão grande.
Adam Przeworski, autor de inúmeros livros sobre o tema, concluiu em seu mais recente Democracia e os limites do autogoverno, de 2010, que a insatisfação com o regime democrático está baseada em uma incompreensão de como a democracia funciona realmente.
Segundo o autor polonês, a democracia encontra dificuldades em atender a tudo que se espera dela, como o fim da pobreza e a participação ativa dos cidadãos na vida pública - ao contrário do que prometeram seus pais fundadores - porque vem associada ao capitalismo.
O comparativista, que por muitos anos foi professor da Universidade de Chicago, certamente não está defendendo uma recaída comunista, já ter sido ele próprio a decifrar em ensaios mais antigos a impossibilidade de liberdades políticas existirem em economias socialistas.
Przeworski está apenas demonstrando, mais uma vez com base em amplo estudo empírico, que a igualdade política formal estabelecida pela democracia não conseguiu eliminar as desigualdades econômicas e sociais, fazendo-as em alguns casos até mesmo aumentar.
O autor não vê alternativas e deixa para a imaginação futuras maneiras que possam contornar o problema. Os resultados das suas pesquisas desafiam teorias da justiça e outras postulações normativas que têm tentado solucionar a questão pelas próprias estruturas institucionais.
O pensador político liberal John Rawls, talvez o mais influente na passagem do século 20 para o 21, fundamentou sua teoria da justiça na ideia de que soluções constitucionais podem superar estruturas econômicas desiguais quando tomadas sob o "véu da ignorância" em um momento fundacional idealmente construído, isto é, quando os legisladores não fossem capazes de antecipar os efeitos das instituições por eles criadas sobre suas respectivas posições na sociedade.
Para Rawls, a justiça social se resume à igualdade de oportunidades e, dessa forma, nenhum interesse coletivo definido pelo governo ou qualquer outra entidade pode servir de justificativa para subtrair direitos e liberdades individuais consideradas invioláveis.
O debate teórico sobre democracia envolvendo o liberalismo revisitado, na linha da justiça de Rawls, e os limites do institucionalismo democrático, reconhecidos nos estudos de Przeworski, é da maior importância para o Brasil, neste momento com uma agenda de reforma política entreaberta.
A insatisfação que os brasileiros têm apresentado nas ruas e no dia a dia com relação à política representativa e o absoluto descrédito popular por qual passam nossas instituições democráticas são motivos mais do que suficientes para que este debate se desenvolva.
Assim como os céticos do passado, os pessimistas de hoje quanto ao futuro da democracia brasileira não devem ver suas profecias catastrofistas se realizarem. Mas, para que a democracia possa sair fortalecida e afastar hipóteses autoritárias, é preciso que ela se renove. Nada melhor para isso do que um ano de eleição, possivelmente acompanhado por mais protestos sociais.
Não é preciso que a democracia acabe para que voltemos a lhe dar valor. Mesmo para um grupo atualizado de marxistas, esse já é um regime considerado inegociável pelo menos desde o texto seminal do brasileiro Carlos Nelson Coutinho, publicado também nos anos 1980: Democracia como valor universal.
Em síntese, nenhuma insatisfação econômica, social, institucional ou de qualquer outra natureza pode servir de pretexto para destruir o pluralismo que já temos. Ao se reinventarem, as democracias simplesmente se mantêm vivas. Só é preciso que mudanças aconteçam sem repetir mais do mesmo.
A hipótese Gaia, revisitada - LULI RADFAHRER
FOLHA DE SP - 13/01
Como já não é mais possível nem desejável viver sem uma rede global, coletiva, é preciso educá-la
Os anos 70 foram bem loucos. No meio das pirações filosóficas e teorias paranormais, uma ideia chama a atenção. Tanto por sua bizarrice na época quanto por sua viabilidade, quase meio século depois, por meio da tecnologia. A hipótese Gaia foi uma mistura de misticismos que atribuíam ao planeta uma espécie de "consciência cósmica". Segundo a teoria, os seres vivos interagiriam com as redondezas inorgânicas para formar uma espécie de super-organismo, um sistema complexo responsável pela autorregulação do ambiente, garantindo a vida.
A ideia é poética, mas não tem cabimento. Mamãe Natureza não está preocupada com seus filhinhos, como bem o podem provar os pobres dinossauros. Não há equilíbrio. Depois de cada choque o ambiente se reconfigura de forma diferente, sacrificando espécies no processo.
Gaia não existe, mas há pouco tempo outra espécie de consciência global vem se formando. Ela não tem nada de natural nem esotérico. Pelo contrário, é construída pelos processos comerciais e industriais e conectada pelas redes digitais.
A presença humana desde a Revolução Industrial provocou mais mudanças no planeta do que boa parte dos acidentes geológicos. O uso da terra através de agricultura e mineração, a destruição de ecossistemas e o comprometimento da biodiversidade, a poluição e o crescimento das metrópoles levaram a uma mudança sem precedentes da superfície e das condições de habitação do planeta. A mudança é tão grande que vários cientistas se referem à época atual como o "Antropoceno", uma época que viria depois do Holoceno, o período geológico em que vivemos desde a última glaciação, há cerca de dez mil anos.
A tecnologia aplicada aos sistemas de transporte, comunicação, logística, mineração, agricultura, industrialização e energia cria uma nova espécie de inteligência global. Suas operações integradas criam um tipo de consciência de rede, coletiva, descentralizada e auto-organizável. Como a hipótese Gaia, ela é autorregulável, resistente a catástrofes naturais ou a qualquer interrupção da rede.
Onisciente, onipotente e onipresente, a tecnosfera cria uma espécie de "super-organismo", que envolve a terra em um processo complexo e descentralizado. É uma inteligência mais parecida com a de uma planta do que com a de um Godzilla. Plantas não têm cérebro, controle central ou órgãos vitais. Sua arquitetura modular permite a reconstrução de boa parte de sua estrutura sem morrer. Não há nada tão resiliente no mundo animal.
Aos 20 anos, essa super-planta ainda é jovem. Ela não tem objetivo a não ser se manter viva. Como qualquer organismo, cresce descontroladamente. Seus desejos não são muito diferentes dos nossos. Água pura e abundância de energia, por exemplo, são vitais para boa parte dos processos industriais.
Como já não é mais possível nem desejável viver sem a rede global, é preciso educá-la, criar nela um sistema imunológico que nos proteja de ações perigosas ou daninhas.
Mas para isso é preciso saber o que queremos. Precisamos reforçar as ideias de comunidade global e os valores de nossas instituições, com a consciência de que o sistema só se sustentará quando beneficiar a todos, sem exceção.
Como já não é mais possível nem desejável viver sem uma rede global, coletiva, é preciso educá-la
Os anos 70 foram bem loucos. No meio das pirações filosóficas e teorias paranormais, uma ideia chama a atenção. Tanto por sua bizarrice na época quanto por sua viabilidade, quase meio século depois, por meio da tecnologia. A hipótese Gaia foi uma mistura de misticismos que atribuíam ao planeta uma espécie de "consciência cósmica". Segundo a teoria, os seres vivos interagiriam com as redondezas inorgânicas para formar uma espécie de super-organismo, um sistema complexo responsável pela autorregulação do ambiente, garantindo a vida.
A ideia é poética, mas não tem cabimento. Mamãe Natureza não está preocupada com seus filhinhos, como bem o podem provar os pobres dinossauros. Não há equilíbrio. Depois de cada choque o ambiente se reconfigura de forma diferente, sacrificando espécies no processo.
Gaia não existe, mas há pouco tempo outra espécie de consciência global vem se formando. Ela não tem nada de natural nem esotérico. Pelo contrário, é construída pelos processos comerciais e industriais e conectada pelas redes digitais.
A presença humana desde a Revolução Industrial provocou mais mudanças no planeta do que boa parte dos acidentes geológicos. O uso da terra através de agricultura e mineração, a destruição de ecossistemas e o comprometimento da biodiversidade, a poluição e o crescimento das metrópoles levaram a uma mudança sem precedentes da superfície e das condições de habitação do planeta. A mudança é tão grande que vários cientistas se referem à época atual como o "Antropoceno", uma época que viria depois do Holoceno, o período geológico em que vivemos desde a última glaciação, há cerca de dez mil anos.
A tecnologia aplicada aos sistemas de transporte, comunicação, logística, mineração, agricultura, industrialização e energia cria uma nova espécie de inteligência global. Suas operações integradas criam um tipo de consciência de rede, coletiva, descentralizada e auto-organizável. Como a hipótese Gaia, ela é autorregulável, resistente a catástrofes naturais ou a qualquer interrupção da rede.
Onisciente, onipotente e onipresente, a tecnosfera cria uma espécie de "super-organismo", que envolve a terra em um processo complexo e descentralizado. É uma inteligência mais parecida com a de uma planta do que com a de um Godzilla. Plantas não têm cérebro, controle central ou órgãos vitais. Sua arquitetura modular permite a reconstrução de boa parte de sua estrutura sem morrer. Não há nada tão resiliente no mundo animal.
Aos 20 anos, essa super-planta ainda é jovem. Ela não tem objetivo a não ser se manter viva. Como qualquer organismo, cresce descontroladamente. Seus desejos não são muito diferentes dos nossos. Água pura e abundância de energia, por exemplo, são vitais para boa parte dos processos industriais.
Como já não é mais possível nem desejável viver sem a rede global, é preciso educá-la, criar nela um sistema imunológico que nos proteja de ações perigosas ou daninhas.
Mas para isso é preciso saber o que queremos. Precisamos reforçar as ideias de comunidade global e os valores de nossas instituições, com a consciência de que o sistema só se sustentará quando beneficiar a todos, sem exceção.
As contas e as plataformas - SERGIO LEO
Valor Econômico - 13/01
Em 2013, o Brasil elevou importações com origem... no Brasil
O Brasil, em 2013, aumentou em mais de 90% suas importações originadas... do Brasil. Está lá, nas estatísticas de comércio exterior, que apontam o Brasil como o 62º fornecedor dos importadores brasileiros, pouco abaixo de Angola e África do Sul.
São US$ 705 milhões em produtos, importados só pelos critérios da estatística. São, em grande parte, mercadorias brasileiras enviadas ao exterior em consignação e não vendidas, ou devolvidas pelos compradores, que voltam ao país como "importações", sujeitas a tributos. Por erros de preenchimento de guias, há também registro de quase US$ 8 milhões em exportações brasileiras para... o Brasil.
Considerando importações totais de US$ 239,6 bilhões, o dado bizarro de importação "brasileira" representa muito pouco, menos de 0,3%. No caso das exportações, então, é insignificante. Não sustenta acusações de "contabilidade criativa", e, como outras excentricidades estatísticas, não deveria manchar a imagem do sistema de registro e divulgação do comércio exterior brasileiro, com informações públicas semanais, uma rapidez sem igual no mundo, de confiabilidade unânime entre os especialistas.
A aparição do Brasil como exportador para si mesmo mostra, porém, que sempre há margem para erros e correções. O ano de 2013 chamou atenção para isso.
No ano passado, se houve um registro mal explicado foi o das importações de petróleo: mudanças do registro na Receita Federal levaram a um injustificado acúmulo de operações realizadas em 2012 e só contabilizadas no ano seguinte. As importações oficiais de 2013 foram infladas por esses números, assim como as de 2012 foram menores do que a realidade.
É pouco para comparar a adulterações estatísticas como as que ocorrem com os índices de inflação na vizinha Argentina, embora não possa passar em branco. O ministério não escondeu que havia o atraso no registro e que isso reduzia o valor oficial das importações no ano, mas não explicou por que a Receita Federal demorou tanto para regularizar as informações fornecidas em tempo hábil pela Petrobras e repassadas à Secretaria de Comércio Exterior. Oficiosamente, técnicos atribuíram os problemas a confusões entre funcionários da Receita. Faltou transparência.
Agora, no terreno das desconfianças sobre os relatos oficiais, as plataformas de petróleo ajudam, com suas dimensões colossais, a turvar o ambiente. Para garantir isenção de impostos e outros benefícios do programa de apoio ao setor, o Repetro, as plataformas construídas no Brasil são "compradas" por subsidiárias ou matrizes das petroleiras no exterior e arrendadas ao operador nacional, o que leva o governo a contabilizá-las como exportações.
Nunca essa prática, aceitável tecnicamente, havia mexido substancialmente com as estatísticas. Até este ano, quando, no embalo do pré-sal, sete plataformas e navios-plataforma foram "exportados", gerando US$ 7,7 bilhões que garantiram o superávit nas contas de comércio.
Diferentemente do que houve no atraso dos registros de importação de combustíveis, as plataformas seguiram os cronogramas normais de registro, e não deixaram nenhum detalhe técnico a ser esclarecido - quando muito, houve exagero do governo ao comemorar as maiores exportações de bens manufaturados, sem alertar para o peso-pesado das plataformas nesse aumento.
A chamada exportação "ficta" de plataformas não é o único dado que contraria o senso comum para legitimamente atender às conveniências de contabilidade. O debate levantado por elas não justifica acusações apressadas de manipulação de dados. Autoriza, porém, propostas de mudança.
No próprio ministério, o chefe da assessoria econômica, Leonardo Pontes Guerra, propôs, em artigo para o Valor, a discussão do modelo usado para incluir as plataformas nas estatísticas. Afinal, a Petrobras, sozinha, informa que iniciará a operação de 18 plataformas entre 2014 e 2017, três delas só neste ano. Entre 2014 e 2020 serão 31 novas plataformas ou navios-plataforma. Haja exportação.
Pontes Guerra chama atenção para outros efeitos dessas plataformas nas estatísticas, como o valor dos "aluguéis" pagos por elas, que deverá deprimir as contas externas aumentando o déficit no setor de serviços. A influência dessas exportações "fictas" atrapalhará a análise das contas de comércio daqui por diante, e não só no saldo comercial, como se vê nos dados de 2013.
No ano passado, oficialmente, o país melhorou, e muito, o desempenho de suas vendas aos países da América Latina e Caribe de fora do Mercosul. Mas as exportações caíram para Colômbia, Chile, Peru e todos os principais mercados da região, exceto México. Como então explicar o aumento de 6% nas exportação para o grupo latino-americano, que o levou a representar 10% do mercado externo brasileiro, quase tanto quanto os EUA?
Sim, foram principalmente as plataformas, que se tornaram o principal item de "exportação" do Brasil ao Panamá e ao México. Foram US$ 2,8 bilhões para subsidiárias panamenhas de petroleiras que atuam no Brasil. Ao México, foram US$ 624 milhões, mais que o dobro do aumento registrado no total de exportações brasileiras ao mercado mexicano, para onde caíram as vendas de automóveis de passeio e motores para veículos (até então os principais item de exportação). Quem comemorava a pujança do mercado latino para as exportações brasileiras, tome cuidado para não derramar óleo em sua champanhe.
É do interesse do governo evitar mal-entendidos sobre o comércio exterior, em um ano no qual as contas externas prometem emoções fortes. Um sinal de boa vontade e transparência seria avançar com o debate sobre como abrigar as particularidades do setor de petróleo nas contas nacionais, sem exageros nem artificialismos.
São US$ 705 milhões em produtos, importados só pelos critérios da estatística. São, em grande parte, mercadorias brasileiras enviadas ao exterior em consignação e não vendidas, ou devolvidas pelos compradores, que voltam ao país como "importações", sujeitas a tributos. Por erros de preenchimento de guias, há também registro de quase US$ 8 milhões em exportações brasileiras para... o Brasil.
Considerando importações totais de US$ 239,6 bilhões, o dado bizarro de importação "brasileira" representa muito pouco, menos de 0,3%. No caso das exportações, então, é insignificante. Não sustenta acusações de "contabilidade criativa", e, como outras excentricidades estatísticas, não deveria manchar a imagem do sistema de registro e divulgação do comércio exterior brasileiro, com informações públicas semanais, uma rapidez sem igual no mundo, de confiabilidade unânime entre os especialistas.
A aparição do Brasil como exportador para si mesmo mostra, porém, que sempre há margem para erros e correções. O ano de 2013 chamou atenção para isso.
No ano passado, se houve um registro mal explicado foi o das importações de petróleo: mudanças do registro na Receita Federal levaram a um injustificado acúmulo de operações realizadas em 2012 e só contabilizadas no ano seguinte. As importações oficiais de 2013 foram infladas por esses números, assim como as de 2012 foram menores do que a realidade.
É pouco para comparar a adulterações estatísticas como as que ocorrem com os índices de inflação na vizinha Argentina, embora não possa passar em branco. O ministério não escondeu que havia o atraso no registro e que isso reduzia o valor oficial das importações no ano, mas não explicou por que a Receita Federal demorou tanto para regularizar as informações fornecidas em tempo hábil pela Petrobras e repassadas à Secretaria de Comércio Exterior. Oficiosamente, técnicos atribuíram os problemas a confusões entre funcionários da Receita. Faltou transparência.
Agora, no terreno das desconfianças sobre os relatos oficiais, as plataformas de petróleo ajudam, com suas dimensões colossais, a turvar o ambiente. Para garantir isenção de impostos e outros benefícios do programa de apoio ao setor, o Repetro, as plataformas construídas no Brasil são "compradas" por subsidiárias ou matrizes das petroleiras no exterior e arrendadas ao operador nacional, o que leva o governo a contabilizá-las como exportações.
Nunca essa prática, aceitável tecnicamente, havia mexido substancialmente com as estatísticas. Até este ano, quando, no embalo do pré-sal, sete plataformas e navios-plataforma foram "exportados", gerando US$ 7,7 bilhões que garantiram o superávit nas contas de comércio.
Diferentemente do que houve no atraso dos registros de importação de combustíveis, as plataformas seguiram os cronogramas normais de registro, e não deixaram nenhum detalhe técnico a ser esclarecido - quando muito, houve exagero do governo ao comemorar as maiores exportações de bens manufaturados, sem alertar para o peso-pesado das plataformas nesse aumento.
A chamada exportação "ficta" de plataformas não é o único dado que contraria o senso comum para legitimamente atender às conveniências de contabilidade. O debate levantado por elas não justifica acusações apressadas de manipulação de dados. Autoriza, porém, propostas de mudança.
No próprio ministério, o chefe da assessoria econômica, Leonardo Pontes Guerra, propôs, em artigo para o Valor, a discussão do modelo usado para incluir as plataformas nas estatísticas. Afinal, a Petrobras, sozinha, informa que iniciará a operação de 18 plataformas entre 2014 e 2017, três delas só neste ano. Entre 2014 e 2020 serão 31 novas plataformas ou navios-plataforma. Haja exportação.
Pontes Guerra chama atenção para outros efeitos dessas plataformas nas estatísticas, como o valor dos "aluguéis" pagos por elas, que deverá deprimir as contas externas aumentando o déficit no setor de serviços. A influência dessas exportações "fictas" atrapalhará a análise das contas de comércio daqui por diante, e não só no saldo comercial, como se vê nos dados de 2013.
No ano passado, oficialmente, o país melhorou, e muito, o desempenho de suas vendas aos países da América Latina e Caribe de fora do Mercosul. Mas as exportações caíram para Colômbia, Chile, Peru e todos os principais mercados da região, exceto México. Como então explicar o aumento de 6% nas exportação para o grupo latino-americano, que o levou a representar 10% do mercado externo brasileiro, quase tanto quanto os EUA?
Sim, foram principalmente as plataformas, que se tornaram o principal item de "exportação" do Brasil ao Panamá e ao México. Foram US$ 2,8 bilhões para subsidiárias panamenhas de petroleiras que atuam no Brasil. Ao México, foram US$ 624 milhões, mais que o dobro do aumento registrado no total de exportações brasileiras ao mercado mexicano, para onde caíram as vendas de automóveis de passeio e motores para veículos (até então os principais item de exportação). Quem comemorava a pujança do mercado latino para as exportações brasileiras, tome cuidado para não derramar óleo em sua champanhe.
É do interesse do governo evitar mal-entendidos sobre o comércio exterior, em um ano no qual as contas externas prometem emoções fortes. Um sinal de boa vontade e transparência seria avançar com o debate sobre como abrigar as particularidades do setor de petróleo nas contas nacionais, sem exageros nem artificialismos.
Cenários eleitorais - FABIO GIAMBIAGI
O GLOBO - 13/01
O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído
A análise a seguir está sujeita à observação do sábio político que dizia que “política é como nuvem: agora está de um jeito; olha-se depois e já mudou”. Ela reflete o panorama em janeiro. Resta avaliar se “as nuvens irão mudar” depois. O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído, ao mesmo tempo em que é quase certo que o governador Eduardo Campos se apresentará como candidato e Aécio Neves consolida seu espaço no PSDB.
Nesse xadrez, a variável chave é o caminho que vier a ser trilhado por Eduardo Campos. Ele segue os ensinamentos de Tancredo, que dizia que “um político nunca deve embarcar numa aventura, mas tem o dever de correr riscos”. A candidatura presidencial, para ele, na medida em que a insatisfação de parte da coalizão oficial com o governo se avoluma, ao mesmo tempo em que a economia demora a melhorar, deixou de se situar no terreno da “aventura” e passou a ser um “risco”, onde as chances de sucesso são incertas, mas não desprezíveis. Sua candidatura está longe da figura de o “cavalo passar selado”, mas apresenta um potencial de crescimento importante, tanto pela possibilidade de herdar os votos de Marina, como pelo discurso tendente a quebrar a polarização PSDB-PT. Não é certo que terá sucesso, mas o fato de ter uma excelente imagem como gestor — é um governador muito bem avaliado — combinado com a possibilidade de se apresentar ao eleitorado como alguém que pode ser considerado sócio do êxito das políticas implementadas no governo Lula, lhe permite ter um campo de expansão considerável. A chance de esse espaço ser ocupado dependerá da eficácia do ex-presidente Lula — na qualidade de articulador da candidatura da presidente à reeleição — na tarefa de “desidratar” a campanha de Campos, ao impedir que esta venha a ser “turbinada” pelo tempo de TV oferecido por legendas insatisfeitas do condomínio governista.
Um dado importante será o papel desempenhado pelo candidato do PSOL. Isso porque, numa eleição bastante disputada, a realização do segundo turno estará em parte condicionada pelo tamanho que alcançar a candidatura de R. Rodrigues. Além disso, cabe considerar que a perspectiva de debater com Aécio, Campos e Rodrigues será um desafio para Dilma Rousseff maior que o que ela teve que enfrentar em 2010 nos debates contra Serra, Marina e Plínio.
Nesse quadro, como se apresentam as possibilidades para Eduardo Campos e Aécio? Campos tem dois cenários pela frente, em caso de segundo turno. No caso A, ele fica em segundo lugar e, com elevadas chances de receber os votos de quem tiver votado no Aécio no primeiro, será um forte candidato no segundo turno. No cenário B, se ele ficar em terceiro, atrás de Aécio, terá o apoio disputadíssimo e o governo acenará com o convite para ocupar uma das principais pastas ministeriais em 2015. Além disso, mesmo que apoie Aécio, não é certo que seus eleitores façam o mesmo.
Há, portanto, uma assimetria entre as situações dele e de Aécio. Se Aécio ficar em segundo (cenário B), ele tenderá a se esforçar ao máximo para obter o apoio de Campos, mas enfrentará dificuldades para herdar a quase totalidade dos votos conferidos a ele, pelo fato de que muitos eleitores deste avaliam o governo positivamente e podem votar na reeleição da presidente. Já se Aécio ficar em terceiro e Campos for para o segundo turno, a transferência de votos do PSDB em favor da candidatura do PSB numa eleição polarizada deve ser, arrisco a dizer, próxima de 100%.
Teremos então uma disputa na qual os candidatos colocados em segundo e terceiro lugar nas pesquisas precisarão do apoio do outro, se houver segundo “round”, mas irão competir para saber qual dos dois terá direito de ir para uma nova eleição poucas semanas depois. Assim, Dilma lutará para vencer no primeiro turno e os partidos de oposição para chegarem em segundo e haver outra eleição. Com uma diferença: se o PSDB for para o segundo turno, ele poderá vencer, mas teremos o quarto “mano a mano” seguido (2002, 2006, 2010 e 2014) e o governo fará todo o possível para fazer o PSDB cair nas mesmas armadilhas de sempre, enquanto que, se Campos for para o segundo turno, há boas chances de ele ser o próximo presidente da República.
O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído
A análise a seguir está sujeita à observação do sábio político que dizia que “política é como nuvem: agora está de um jeito; olha-se depois e já mudou”. Ela reflete o panorama em janeiro. Resta avaliar se “as nuvens irão mudar” depois. O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído, ao mesmo tempo em que é quase certo que o governador Eduardo Campos se apresentará como candidato e Aécio Neves consolida seu espaço no PSDB.
Nesse xadrez, a variável chave é o caminho que vier a ser trilhado por Eduardo Campos. Ele segue os ensinamentos de Tancredo, que dizia que “um político nunca deve embarcar numa aventura, mas tem o dever de correr riscos”. A candidatura presidencial, para ele, na medida em que a insatisfação de parte da coalizão oficial com o governo se avoluma, ao mesmo tempo em que a economia demora a melhorar, deixou de se situar no terreno da “aventura” e passou a ser um “risco”, onde as chances de sucesso são incertas, mas não desprezíveis. Sua candidatura está longe da figura de o “cavalo passar selado”, mas apresenta um potencial de crescimento importante, tanto pela possibilidade de herdar os votos de Marina, como pelo discurso tendente a quebrar a polarização PSDB-PT. Não é certo que terá sucesso, mas o fato de ter uma excelente imagem como gestor — é um governador muito bem avaliado — combinado com a possibilidade de se apresentar ao eleitorado como alguém que pode ser considerado sócio do êxito das políticas implementadas no governo Lula, lhe permite ter um campo de expansão considerável. A chance de esse espaço ser ocupado dependerá da eficácia do ex-presidente Lula — na qualidade de articulador da candidatura da presidente à reeleição — na tarefa de “desidratar” a campanha de Campos, ao impedir que esta venha a ser “turbinada” pelo tempo de TV oferecido por legendas insatisfeitas do condomínio governista.
Um dado importante será o papel desempenhado pelo candidato do PSOL. Isso porque, numa eleição bastante disputada, a realização do segundo turno estará em parte condicionada pelo tamanho que alcançar a candidatura de R. Rodrigues. Além disso, cabe considerar que a perspectiva de debater com Aécio, Campos e Rodrigues será um desafio para Dilma Rousseff maior que o que ela teve que enfrentar em 2010 nos debates contra Serra, Marina e Plínio.
Nesse quadro, como se apresentam as possibilidades para Eduardo Campos e Aécio? Campos tem dois cenários pela frente, em caso de segundo turno. No caso A, ele fica em segundo lugar e, com elevadas chances de receber os votos de quem tiver votado no Aécio no primeiro, será um forte candidato no segundo turno. No cenário B, se ele ficar em terceiro, atrás de Aécio, terá o apoio disputadíssimo e o governo acenará com o convite para ocupar uma das principais pastas ministeriais em 2015. Além disso, mesmo que apoie Aécio, não é certo que seus eleitores façam o mesmo.
Há, portanto, uma assimetria entre as situações dele e de Aécio. Se Aécio ficar em segundo (cenário B), ele tenderá a se esforçar ao máximo para obter o apoio de Campos, mas enfrentará dificuldades para herdar a quase totalidade dos votos conferidos a ele, pelo fato de que muitos eleitores deste avaliam o governo positivamente e podem votar na reeleição da presidente. Já se Aécio ficar em terceiro e Campos for para o segundo turno, a transferência de votos do PSDB em favor da candidatura do PSB numa eleição polarizada deve ser, arrisco a dizer, próxima de 100%.
Teremos então uma disputa na qual os candidatos colocados em segundo e terceiro lugar nas pesquisas precisarão do apoio do outro, se houver segundo “round”, mas irão competir para saber qual dos dois terá direito de ir para uma nova eleição poucas semanas depois. Assim, Dilma lutará para vencer no primeiro turno e os partidos de oposição para chegarem em segundo e haver outra eleição. Com uma diferença: se o PSDB for para o segundo turno, ele poderá vencer, mas teremos o quarto “mano a mano” seguido (2002, 2006, 2010 e 2014) e o governo fará todo o possível para fazer o PSDB cair nas mesmas armadilhas de sempre, enquanto que, se Campos for para o segundo turno, há boas chances de ele ser o próximo presidente da República.
O espírito de Bolonha - RENATO JANINE RIBEIRO
Valor Econômico - 13/01
O futuro depende de uma mobilidade estudantil intensa
Todo empresário interessado em ter mão de obra de nível universitário deveria saber o que é o processo de Bolonha. Todo professor universitário, igualmente. Mas não é o caso: poucos brasileiros o conhecem.
A União Europeia nasceu, em 1957, como Mercado Comum Europeu, unindo seis países. Seu objetivo mínimo era ampliar o comércio entre os membros e, assim, a produção em cada um deles. Já seu objetivo maior era impedir guerras: se para fazer aço era preciso carvão alemão e ferro francês, então ou um país roubava do outro o insumo que lhe faltava, ou os dois se aliariam. Aliaram-se. Com o tempo, o Mercado Europeu foi muito além de sua cópia sul-americana, o Mercosul. Autorizou seus cidadãos a viver e a trabalhar em qualquer dos países-membros, padronizou produtos, criou um Parlamento comum, cresceu. E em 1999 seus ministros da Educação assinaram a declaração de Bolonha, que depois seria endossada por outros países, hoje totalizando 47 - incluindo dezenove que não estão na União Europeia.
Seu ponto talvez central é promover uma enorme mobilidade estudantil. Um universitário pode começar seu curso num país, fazer matérias em outra universidade (ou país) e usar os créditos assim obtidos com certa facilidade. É o que se chama portabilidade de créditos. Imaginem isso aqui. Se um brasileiro for trabalhar dois anos na Argentina e levar os filhos crianças ou adolescentes, terá muito trabalho para revalidar os cursos que fizeram na escola básica. O que é de um absurdo total! É óbvio que, se meu filho passar dois anos em Buenos Aires, ele até poderá voltar ao Brasil cometendo alguns erros de português - mas dominando a língua, os costumes, a cultura de nosso principal aliado e parceiro. Em poucos meses, alcançará os colegas brasileiros no que lhe ficou faltando, e poderá repassar a eles muito do que aprendeu. Mas não temos previsão, em nosso sistema escolar, para um "fast track" nessa direção. Ao contrário, burocratizamos tudo isso. E no ensino superior ou na pós-graduação, a desconfiança é ainda maior.
Mas atenção. Bolonha não é um liberou geral. Não basta cursar uma disciplina qualquer, onde quer que seja, para ela valer. Aliás, o Brasil sabe dos problemas disso. Na Argentina, uma instituição de ensino superior - que não é reconhecida nem mesmo lá - se especializou em dar títulos de doutor a brasileiros. Nossos cursos de doutorado a conhecem e, com o apoio da Capes e do Conselho Nacional de Educação, se negaram a acolher seus títulos, que por sinal eram emitidos com a anotação de não valerem sequer na Argentina... Então, a necessidade suplementar do processo de Bolonha é: cada país precisa ter uma agência poderosa de avaliação e reconhecimento dos cursos de ensino superior. Ela pode ser estatal ou privada, conforme a lei local, mas tem de ser rigorosa. É ela que vai garantir que um crédito da USP valha um da UFRJ, e vice-versa, e vai descartar os cursos de má qualidade.
É preciso detalhar as vantagens desse sistema numa cultura globalizada? Formaremos alunos que conhecerão seu mundo para além das fronteiras. Acabará a atual exigência, sempre que faço uma disciplina fora da faculdade, de pedir seu reconhecimento a uma comissão de três professores, cujo parecer subirá ainda a mais uma ou duas instâncias superiores. A condição para tanto é rigor. Mas uma agência avaliadora sai da apreciação no varejo, no balcão, de cada pedido individual, e vai examinar a qualidade dos cursos mesmos. Todos os que trabalham bem ganham com isso; perde quem trabalha mal. O efeito educacional é enorme.
Quem leu os últimos rankings das universidades do mundo notou que, entre as primeiras 500, são raras as que não dão cursos regulares em inglês - como as nossas USP, Unicamp, UFRJ. Esse assunto é delicado porque, não tendo cursos regulares em inglês, atraímos menos alunos estrangeiros e pontuamos mal no item "mobilidade" - mas, se os dermos, poderemos chegar à esquisitice de professores brasileiros lecionando em inglês para alunos brasileiros, só para termos mais alguns estudantes de fora da América Latina. Esse é um desafio difícil para nossa educação, que precisará ser tratado nos próximos anos. Mas a questão crucial é que precisamos ter uma mobilidade intensa dos estudantes, com os nossos indo para outras instituições e mesmo países, e com nossas universidades recebendo jovens estrangeiros. Isso terá de ser feito, sob pena de nos atrasarmos na cooperação internacional. (Poderia acrescentar a competição internacional, mas na verdade necessitamos de ambas). Como fazer isso? Ninguém sabe ainda resolver a questão da língua, mas podemos começar a discutir a questão central, que é a mobilidade.
Um bom começo seria no âmbito do Mercosul - até para dar-lhe mais ambição porque, seis décadas depois do Tratado de Roma, é pouco nossos quatro países se limitarem a trocar mercadorias, sem uma intensa mobilidade humana, que deve principiar pelos jovens. Agências de avaliação educacional, como a Capes brasileira e congêneres, poderiam assegurar a qualidade pelo menos das melhores instituições de ensino superior desses países, tornando portáteis os seus créditos. Não deveria ser ainda em todas as habilitações, mas poderia começar com cem ou duzentos cursos, em uma ou duas dezenas de universidades de alta qualidade. Está na hora de termos a Universidade sem Fronteiras. Podemos iniciá-la pelas melhores. Isso não é fácil: cada iniciativa dessas abre lugar a ações duvidosas. Mas o desafio existe, e tem de ser enfrentado. Para o bem de nossa cultura, nossa economia e nossa política, não devemos perder tempo.
A União Europeia nasceu, em 1957, como Mercado Comum Europeu, unindo seis países. Seu objetivo mínimo era ampliar o comércio entre os membros e, assim, a produção em cada um deles. Já seu objetivo maior era impedir guerras: se para fazer aço era preciso carvão alemão e ferro francês, então ou um país roubava do outro o insumo que lhe faltava, ou os dois se aliariam. Aliaram-se. Com o tempo, o Mercado Europeu foi muito além de sua cópia sul-americana, o Mercosul. Autorizou seus cidadãos a viver e a trabalhar em qualquer dos países-membros, padronizou produtos, criou um Parlamento comum, cresceu. E em 1999 seus ministros da Educação assinaram a declaração de Bolonha, que depois seria endossada por outros países, hoje totalizando 47 - incluindo dezenove que não estão na União Europeia.
Seu ponto talvez central é promover uma enorme mobilidade estudantil. Um universitário pode começar seu curso num país, fazer matérias em outra universidade (ou país) e usar os créditos assim obtidos com certa facilidade. É o que se chama portabilidade de créditos. Imaginem isso aqui. Se um brasileiro for trabalhar dois anos na Argentina e levar os filhos crianças ou adolescentes, terá muito trabalho para revalidar os cursos que fizeram na escola básica. O que é de um absurdo total! É óbvio que, se meu filho passar dois anos em Buenos Aires, ele até poderá voltar ao Brasil cometendo alguns erros de português - mas dominando a língua, os costumes, a cultura de nosso principal aliado e parceiro. Em poucos meses, alcançará os colegas brasileiros no que lhe ficou faltando, e poderá repassar a eles muito do que aprendeu. Mas não temos previsão, em nosso sistema escolar, para um "fast track" nessa direção. Ao contrário, burocratizamos tudo isso. E no ensino superior ou na pós-graduação, a desconfiança é ainda maior.
Mas atenção. Bolonha não é um liberou geral. Não basta cursar uma disciplina qualquer, onde quer que seja, para ela valer. Aliás, o Brasil sabe dos problemas disso. Na Argentina, uma instituição de ensino superior - que não é reconhecida nem mesmo lá - se especializou em dar títulos de doutor a brasileiros. Nossos cursos de doutorado a conhecem e, com o apoio da Capes e do Conselho Nacional de Educação, se negaram a acolher seus títulos, que por sinal eram emitidos com a anotação de não valerem sequer na Argentina... Então, a necessidade suplementar do processo de Bolonha é: cada país precisa ter uma agência poderosa de avaliação e reconhecimento dos cursos de ensino superior. Ela pode ser estatal ou privada, conforme a lei local, mas tem de ser rigorosa. É ela que vai garantir que um crédito da USP valha um da UFRJ, e vice-versa, e vai descartar os cursos de má qualidade.
É preciso detalhar as vantagens desse sistema numa cultura globalizada? Formaremos alunos que conhecerão seu mundo para além das fronteiras. Acabará a atual exigência, sempre que faço uma disciplina fora da faculdade, de pedir seu reconhecimento a uma comissão de três professores, cujo parecer subirá ainda a mais uma ou duas instâncias superiores. A condição para tanto é rigor. Mas uma agência avaliadora sai da apreciação no varejo, no balcão, de cada pedido individual, e vai examinar a qualidade dos cursos mesmos. Todos os que trabalham bem ganham com isso; perde quem trabalha mal. O efeito educacional é enorme.
Quem leu os últimos rankings das universidades do mundo notou que, entre as primeiras 500, são raras as que não dão cursos regulares em inglês - como as nossas USP, Unicamp, UFRJ. Esse assunto é delicado porque, não tendo cursos regulares em inglês, atraímos menos alunos estrangeiros e pontuamos mal no item "mobilidade" - mas, se os dermos, poderemos chegar à esquisitice de professores brasileiros lecionando em inglês para alunos brasileiros, só para termos mais alguns estudantes de fora da América Latina. Esse é um desafio difícil para nossa educação, que precisará ser tratado nos próximos anos. Mas a questão crucial é que precisamos ter uma mobilidade intensa dos estudantes, com os nossos indo para outras instituições e mesmo países, e com nossas universidades recebendo jovens estrangeiros. Isso terá de ser feito, sob pena de nos atrasarmos na cooperação internacional. (Poderia acrescentar a competição internacional, mas na verdade necessitamos de ambas). Como fazer isso? Ninguém sabe ainda resolver a questão da língua, mas podemos começar a discutir a questão central, que é a mobilidade.
Um bom começo seria no âmbito do Mercosul - até para dar-lhe mais ambição porque, seis décadas depois do Tratado de Roma, é pouco nossos quatro países se limitarem a trocar mercadorias, sem uma intensa mobilidade humana, que deve principiar pelos jovens. Agências de avaliação educacional, como a Capes brasileira e congêneres, poderiam assegurar a qualidade pelo menos das melhores instituições de ensino superior desses países, tornando portáteis os seus créditos. Não deveria ser ainda em todas as habilitações, mas poderia começar com cem ou duzentos cursos, em uma ou duas dezenas de universidades de alta qualidade. Está na hora de termos a Universidade sem Fronteiras. Podemos iniciá-la pelas melhores. Isso não é fácil: cada iniciativa dessas abre lugar a ações duvidosas. Mas o desafio existe, e tem de ser enfrentado. Para o bem de nossa cultura, nossa economia e nossa política, não devemos perder tempo.
LINHA CRUZADA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 13/10
Decisões políticas equivocadas do Ministério das Comunicações e da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) resultaram em serviços de internet caros e lentos no Brasil. É a conclusão de um estudo sobre a implantação da banda larga no país, apresentado na Universidade de Westminster, em Londres.
LINHA CRUZADA 2
A dissertação é de autoria de Elizabeth Veloso, consultora em telecomunicações da Câmara dos Deputados. Após ouvir 24 especialistas e autoridades do setor no Brasil, a autora mostra as consequências da "falta de competição em um mercado controlado por grandes operadoras e regulado por agência de baixa credibilidade".
LINHA CRUZADA 3
Em resposta aos questionamentos da pesquisadora, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, nega que tenha se autointitulado "o ministro das teles" e que defenda interesses das operadoras. "Nunca fiz essa afirmação e o papel do governo é manter relações cordiais com todos os segmentos", declarou, por e-mail, ao estudo. E criticou quem tenta "demonizar os investidores".
LINHA CRUZADA 4
"O Brasil vem se consolidando como um dos maiores mercados mundiais das comunicações, tanto pela popularização dos serviços quanto pelo crescente faturamento das empresas. É um jogo onde todos ganham", diz Bernardo. Já o presidente da Anatel, João Rezende, não se manifestou no estudo.
TIPO EXPORTAÇÃO
O Paraguai estuda adotar o padrão brasileiro de plugues e tomadas. O ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Indústria, e o presidente do Inmetro, João Jornada, vão hoje ao país vizinho tratar do assunto com autoridades locais.
BRASILEIRÍSSIMA
A atriz Camila Pitanga estará na próxima temporada da série "Sessão de Terapia", do GNT. Diferentemente das duas primeiras, que foram adaptadas do original israelense, a terceira terá um roteiro original, criado no Brasil. E trará uma personagem especialmente criada para a atriz. Produzida pela Moonshot Pictures e dirigida por Selton Mello, a série reestreia no segundo semestre.
BATUTA
Roberto Minczuk estará novamente à frente da orquestra do New York City Ballet, no Lincoln Center. O maestro brasileiro chega a Nova York para concertos entre os dias 22 e 25.
TROFÉU ABACAXI
Ativistas contrários à Copa do Mundo de 2014 estão se mobilizando na internet para tentar eleger a Fifa a "pior corporação do mundo". A entidade é uma das candidatas ao prêmio Public Eye Awards, que escolhe as instituições com "os piores históricos de responsabilidade social". Os brasileiros tentam fazer frente à campanha mundial do Greenpeace contra a petroleira Gazprom, a primeira colocada. A Fifa é a segunda.
BASE NACIONAL
A coleção de Pedro Lourenço para a M.A.C., gigante canadense de maquiagem, será comercializada a partir de junho. "São 11 produtos desenvolvidos em um ano de trabalho. Defini das cores à embalagem", diz o estilista, primeiro brasileiro a fazer parte do time de criadores da marca.
PERNAS PRA QUE TE QUERO
Claudia Raia fez cabelo e maquiagem e ainda recebeu massagem antes de subir ao palco na retomada da temporada do espetáculo "Crazy for You", após pausa no fim do ano. O namorado da atriz, Jarbas Homem de Mello, a bailarina Nina Sato e os atores, Mariana Gallindo e Daniel Cabral também fazem parte do elenco do musical em cartaz no Complexo Ohtake Cultural.
CURTO-CIRCUITO
A peça "Teatro de Bonecas" estreia hoje no teatro Sérgio Cardoso, às 20h. 12 anos.
O escritor e jornalista Cadão Volpato lança livro infantil hoje às 16h, na Livraria Saraiva da Consolação.
A Casa do Saber inicia hoje curso sobre história com base nas séries "The Tudors", "Os Bórgias" e "Downton Abbey", às 20h.
A mostra "Performances da Memória" foi prorrogada até dia 24, na galeria Mezanino, na Liberdade.
LINHA CRUZADA 2
A dissertação é de autoria de Elizabeth Veloso, consultora em telecomunicações da Câmara dos Deputados. Após ouvir 24 especialistas e autoridades do setor no Brasil, a autora mostra as consequências da "falta de competição em um mercado controlado por grandes operadoras e regulado por agência de baixa credibilidade".
LINHA CRUZADA 3
Em resposta aos questionamentos da pesquisadora, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, nega que tenha se autointitulado "o ministro das teles" e que defenda interesses das operadoras. "Nunca fiz essa afirmação e o papel do governo é manter relações cordiais com todos os segmentos", declarou, por e-mail, ao estudo. E criticou quem tenta "demonizar os investidores".
LINHA CRUZADA 4
"O Brasil vem se consolidando como um dos maiores mercados mundiais das comunicações, tanto pela popularização dos serviços quanto pelo crescente faturamento das empresas. É um jogo onde todos ganham", diz Bernardo. Já o presidente da Anatel, João Rezende, não se manifestou no estudo.
TIPO EXPORTAÇÃO
O Paraguai estuda adotar o padrão brasileiro de plugues e tomadas. O ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Indústria, e o presidente do Inmetro, João Jornada, vão hoje ao país vizinho tratar do assunto com autoridades locais.
BRASILEIRÍSSIMA
A atriz Camila Pitanga estará na próxima temporada da série "Sessão de Terapia", do GNT. Diferentemente das duas primeiras, que foram adaptadas do original israelense, a terceira terá um roteiro original, criado no Brasil. E trará uma personagem especialmente criada para a atriz. Produzida pela Moonshot Pictures e dirigida por Selton Mello, a série reestreia no segundo semestre.
BATUTA
Roberto Minczuk estará novamente à frente da orquestra do New York City Ballet, no Lincoln Center. O maestro brasileiro chega a Nova York para concertos entre os dias 22 e 25.
TROFÉU ABACAXI
Ativistas contrários à Copa do Mundo de 2014 estão se mobilizando na internet para tentar eleger a Fifa a "pior corporação do mundo". A entidade é uma das candidatas ao prêmio Public Eye Awards, que escolhe as instituições com "os piores históricos de responsabilidade social". Os brasileiros tentam fazer frente à campanha mundial do Greenpeace contra a petroleira Gazprom, a primeira colocada. A Fifa é a segunda.
BASE NACIONAL
A coleção de Pedro Lourenço para a M.A.C., gigante canadense de maquiagem, será comercializada a partir de junho. "São 11 produtos desenvolvidos em um ano de trabalho. Defini das cores à embalagem", diz o estilista, primeiro brasileiro a fazer parte do time de criadores da marca.
PERNAS PRA QUE TE QUERO
Claudia Raia fez cabelo e maquiagem e ainda recebeu massagem antes de subir ao palco na retomada da temporada do espetáculo "Crazy for You", após pausa no fim do ano. O namorado da atriz, Jarbas Homem de Mello, a bailarina Nina Sato e os atores, Mariana Gallindo e Daniel Cabral também fazem parte do elenco do musical em cartaz no Complexo Ohtake Cultural.
CURTO-CIRCUITO
A peça "Teatro de Bonecas" estreia hoje no teatro Sérgio Cardoso, às 20h. 12 anos.
O escritor e jornalista Cadão Volpato lança livro infantil hoje às 16h, na Livraria Saraiva da Consolação.
A Casa do Saber inicia hoje curso sobre história com base nas séries "The Tudors", "Os Bórgias" e "Downton Abbey", às 20h.
A mostra "Performances da Memória" foi prorrogada até dia 24, na galeria Mezanino, na Liberdade.
Sapos & rãs - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 13/01
De Bernardinho, ao “Corujão do esporte”, da TV Globo, explicando por que não deseja ser o candidato do PSDB ao governo do Rio:
— Não sou um homem da política, nunca fui. O problema não é competência nem capacidade. O problema é o tamanho do sapo que você está disposto a engolir, e eu dificilmente engulo uma rã.
A mágica de Guido
A decisão da Caixa de encerrar 496.776 contas e embolsar o dinheiro dos poupadores elevou o líquido do banco em R$ 420 milhões em 2012. O lucro foi repassado para o Tesouro Nacional, ajudando a chamada contabilidade criativa.
Há vaga
O cargo vale mais do que alguns ministérios. Há uma disputa no governo pela presidência da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. O atual presidente, Luiz Carlos Afonso, está deixando o lugar.
Boca-livre
Uma turma do cinema trocou de mal com o Itamaraty, que costuma custear a viagem dos brasileiros convidados para o Festival de Berlim, na Alemanha. Este ano, dez pessoas receberam convites para o evento, em fevereiro. Mas o Itamaraty não quer liberar a verba, dinheiro meu, seu, nosso.
No mais
Veja por que Lula & cia. tratam Sarney & cia. à base de pão de ló (ou seria lagosta?). Serra venceu a eleição de 2010 nos três estados sulistas (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) com uma diferença de 1,2 milhão de votos. Mas, só no Maranhão, Dilma, que teve oito em cada dez votos lá, conquistou a diferença de l,7 milhão de votos a mais.
Como nossos pais
Belchior, o grande artista que, hoje, vive recluso, com a namorada, em Porto Alegre, RS, procurou um escritório de Direito de família, na Barra, no Rio. Quer resolver a situação das pensões para seus quatro filhos.
Segue...
O autor de “Como nossos pais” deve R$ 300 mil de pensão. Os advogados de Belchior dizem que ele quer pagar as dívidas em 12 parcelas fixas. Nos últimos três anos, o compositor teria recebido, em direitos autorais, mais do que esses R$ 300 mil. Aliás, as contas do artista estão bloqueadas pela Justiça.
Bangue-bangue
Um brasileiro de férias na Flórida, nos EUA, deu de cara com uma caminhonete, em um pedágio em Orlando, que trazia um adesivo com a seguinte inscrição, em inglês: “Impeachment para Obama! Controle de arma é conseguir acertar o seu alvo!”
No mais...
Que horror!
Não sou eu
Veja como este Geraldo, comerciante de Carmo, cidade do Centro Fluminense, é bem-humorado. Cansado, segundo o próprio, de ver uns cobradores à sua porta em busca de um tal Geraldinho, ele colocou esta placa na frente de seu bar: “Sou o Geraldo e não o Geraldinho. Não venham me cobrar. Geraldinho é ao lado”. Ah, bom!
Até turista sabe
Um carioca de Ipanema, após horas sem luz em casa, ligou, na madrugada de ontem, para a Light: — Está faltando luz em Ipanema! E a atendente: — Há algum ponto de referência para esta região? Meu Deus!
Classe A
Vem aí a Deli Delícia, uma nova rede carioca que deve concorrer com o Zona Sul e o Hortifruti. O negócio pertence à família Cunha, tradicional no ramo de supermercado.
Viva Tom!
Os amigos de Tom Jobim, que morreu há quase 20 anos, vão comemorar o aniversário do maestro dia 25 agora, no Bar do Leblon, que fica onde antigamente funcionava o Antonio’s. Tom faria 87 anos.
Toplessaço no carnaval
Não serão só as moças do abre-alas da Mocidade que farão topless este ano. A cineasta Ana Paula Nogueira, que liderou o toplessaço em Ipanema, repetirá a performance como musa da Banda do Mercado neste carnaval.
Ponto Final
Várias lojas do BarraShopping, no Rio, já lançaram liquidações. Mas “sale” é o cacete! Com todo o respeito!
De Bernardinho, ao “Corujão do esporte”, da TV Globo, explicando por que não deseja ser o candidato do PSDB ao governo do Rio:
— Não sou um homem da política, nunca fui. O problema não é competência nem capacidade. O problema é o tamanho do sapo que você está disposto a engolir, e eu dificilmente engulo uma rã.
A mágica de Guido
A decisão da Caixa de encerrar 496.776 contas e embolsar o dinheiro dos poupadores elevou o líquido do banco em R$ 420 milhões em 2012. O lucro foi repassado para o Tesouro Nacional, ajudando a chamada contabilidade criativa.
Há vaga
O cargo vale mais do que alguns ministérios. Há uma disputa no governo pela presidência da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. O atual presidente, Luiz Carlos Afonso, está deixando o lugar.
Boca-livre
Uma turma do cinema trocou de mal com o Itamaraty, que costuma custear a viagem dos brasileiros convidados para o Festival de Berlim, na Alemanha. Este ano, dez pessoas receberam convites para o evento, em fevereiro. Mas o Itamaraty não quer liberar a verba, dinheiro meu, seu, nosso.
No mais
Veja por que Lula & cia. tratam Sarney & cia. à base de pão de ló (ou seria lagosta?). Serra venceu a eleição de 2010 nos três estados sulistas (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) com uma diferença de 1,2 milhão de votos. Mas, só no Maranhão, Dilma, que teve oito em cada dez votos lá, conquistou a diferença de l,7 milhão de votos a mais.
Como nossos pais
Belchior, o grande artista que, hoje, vive recluso, com a namorada, em Porto Alegre, RS, procurou um escritório de Direito de família, na Barra, no Rio. Quer resolver a situação das pensões para seus quatro filhos.
Segue...
O autor de “Como nossos pais” deve R$ 300 mil de pensão. Os advogados de Belchior dizem que ele quer pagar as dívidas em 12 parcelas fixas. Nos últimos três anos, o compositor teria recebido, em direitos autorais, mais do que esses R$ 300 mil. Aliás, as contas do artista estão bloqueadas pela Justiça.
Bangue-bangue
Um brasileiro de férias na Flórida, nos EUA, deu de cara com uma caminhonete, em um pedágio em Orlando, que trazia um adesivo com a seguinte inscrição, em inglês: “Impeachment para Obama! Controle de arma é conseguir acertar o seu alvo!”
No mais...
Que horror!
Não sou eu
Veja como este Geraldo, comerciante de Carmo, cidade do Centro Fluminense, é bem-humorado. Cansado, segundo o próprio, de ver uns cobradores à sua porta em busca de um tal Geraldinho, ele colocou esta placa na frente de seu bar: “Sou o Geraldo e não o Geraldinho. Não venham me cobrar. Geraldinho é ao lado”. Ah, bom!
Até turista sabe
Um carioca de Ipanema, após horas sem luz em casa, ligou, na madrugada de ontem, para a Light: — Está faltando luz em Ipanema! E a atendente: — Há algum ponto de referência para esta região? Meu Deus!
Classe A
Vem aí a Deli Delícia, uma nova rede carioca que deve concorrer com o Zona Sul e o Hortifruti. O negócio pertence à família Cunha, tradicional no ramo de supermercado.
Viva Tom!
Os amigos de Tom Jobim, que morreu há quase 20 anos, vão comemorar o aniversário do maestro dia 25 agora, no Bar do Leblon, que fica onde antigamente funcionava o Antonio’s. Tom faria 87 anos.
Toplessaço no carnaval
Não serão só as moças do abre-alas da Mocidade que farão topless este ano. A cineasta Ana Paula Nogueira, que liderou o toplessaço em Ipanema, repetirá a performance como musa da Banda do Mercado neste carnaval.
Ponto Final
Várias lojas do BarraShopping, no Rio, já lançaram liquidações. Mas “sale” é o cacete! Com todo o respeito!
Haddad mexe no time - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL
FOLHA DE SP - 13/01
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vai antecipar para o fim deste mês a reforma de seu primeiro escalão. A principal mudança será na poderosa Secretaria de Governo. Ele quer entregá-la ao petista Chico Macena, hoje à frente das Subprefeituras. A pasta está sem titular desde a queda de Antonio Donato, citado no escândalo do ISS. Macena foi tesoureiro da campanha de Haddad em 2012. Hoje o prefeito o considera seu aliado mais próximo no PT paulistano.
Quem sai Nos próximos dias, Haddad definirá os substitutos dos secretários Netinho de Paula (Igualdade Racial) e Eliseu Gabriel (Desenvolvimento), que serão candidatos a deputado.
Quem espera Ricardo Teixeira (Verde) ainda não definiu se concorrerá à Assembleia Legislativa. E João Antonio (Relações Governamentais) espera a garantia de que será eleito para o Tribunal de Contas do Município.
Quem fica Apesar do fogo amigo no PT, Haddad garante que Leda Paulani, sua colega de USP, continuará na Secretaria de Planejamento.
Muy amigos O Planalto fez um pente-fino e identificou 115 perfis falsos de Dilma Rousseff nas redes, entre sites, blogs e contas no Twitter. A maioria foi considerada negativa para a campanha da presidente à reeleição.
Por bem ou... A ideia é evitar que falsas Dilmas defendam causas como a anistia aos mensaleiros. Os responsáveis serão instados a deixar claro que os perfis não são oficiais. Em casos mais graves, a Advocacia-Geral da União tentará tirá-los do ar.
Aloprados Em 2013, um site pró-Dilma criou forte embaraço ao associar o presidente do STF, Joaquim Barbosa, à imagem de um macaco.
A fila anda Com a escolha de dom Orani Tempesta, do Rio, outro arcebispo assume o primeiro lugar na fila dos brasileiros que esperam para virar cardeal: dom Murilo Krieger, de Salvador.
Orfandade Desde a saída de dom Geraldo Majella Agnelo, que seguiu a praxe de renunciar aos 75 anos, a capital baiana não tem um cardeal para chamar de seu.
Voz do porão A lista de lançamentos sobre os 50 anos do golpe de 1964 ganhou reforço à direita. O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, atualizou seu livro "A Verdade Sufocada".
Não vai elogiar A obra ganhará mais 82 páginas. Ustra promete tratar de temas como a Comissão da Verdade, o último mandato de Lula e o governo Dilma.
Em baixa O bigode já teve mais prestígio na política brasileira. O governador gaúcho Tarso Genro (PT) raspou o seu no fim das férias no Uruguai. Hoje ele volta de visual novo ao Palácio Piratini.
Persona... É antiga a implicância de Roseana Sarney (PMDB) com Maria do Rosário (PT), vetada na comitiva federal que foi ao Maranhão na semana passada. Em 2011, a ministra dos Direitos Humanos desembarcou no Estado sem avisá-la para negociar com quilombolas.
... non grata Assim que soube de sua presença, Roseana convocou a petista ao Palácio dos Leões. Lá, disse não admitir que uma ministra fosse ao Maranhão tratar de "assuntos dessa natureza'' sem aviso prévio.
Só no Rio A turma dos protestos abriu ontem uma faixa nova nas escadas do Palácio Tiradentes, sede do Legislativo do Rio: "Vai ter Carnaval, mas não vai ter Copa".
tiroteio
Agora, mais do que nunca, torna-se necessária uma intervenção federal no Maranhão. A governadora endoidou de vez.
DO DEPUTADO DOMINGOS DUTRA (SDD-MA), sobre os editais do governo Roseana Sarney (PMDB) para abastecer os palácios de lagosta e camarão
Contraponto
A dúvida hamletiana de Itamar
No auge da crise do impeachment, quando já limpava as gavetas para assumir a Presidência no lugar de Fernando Collor, Itamar Franco convocou o então senador Fernando Henrique Cardoso para uma conversa. Queria saber o que se dizia dele fora dos muros do palácio.
O tucano respondeu que o vice era visto como um homem íntegro, mas parte do empresariado o considerava xenófobo e estatizante. Itamar não se deu por satisfeito.
-E você, Fernando? Você me acha burro?
-Claro que não, Itamar. Mas certamente é teimoso. Muito teimoso! -respondeu FHC.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vai antecipar para o fim deste mês a reforma de seu primeiro escalão. A principal mudança será na poderosa Secretaria de Governo. Ele quer entregá-la ao petista Chico Macena, hoje à frente das Subprefeituras. A pasta está sem titular desde a queda de Antonio Donato, citado no escândalo do ISS. Macena foi tesoureiro da campanha de Haddad em 2012. Hoje o prefeito o considera seu aliado mais próximo no PT paulistano.
Quem sai Nos próximos dias, Haddad definirá os substitutos dos secretários Netinho de Paula (Igualdade Racial) e Eliseu Gabriel (Desenvolvimento), que serão candidatos a deputado.
Quem espera Ricardo Teixeira (Verde) ainda não definiu se concorrerá à Assembleia Legislativa. E João Antonio (Relações Governamentais) espera a garantia de que será eleito para o Tribunal de Contas do Município.
Quem fica Apesar do fogo amigo no PT, Haddad garante que Leda Paulani, sua colega de USP, continuará na Secretaria de Planejamento.
Muy amigos O Planalto fez um pente-fino e identificou 115 perfis falsos de Dilma Rousseff nas redes, entre sites, blogs e contas no Twitter. A maioria foi considerada negativa para a campanha da presidente à reeleição.
Por bem ou... A ideia é evitar que falsas Dilmas defendam causas como a anistia aos mensaleiros. Os responsáveis serão instados a deixar claro que os perfis não são oficiais. Em casos mais graves, a Advocacia-Geral da União tentará tirá-los do ar.
Aloprados Em 2013, um site pró-Dilma criou forte embaraço ao associar o presidente do STF, Joaquim Barbosa, à imagem de um macaco.
A fila anda Com a escolha de dom Orani Tempesta, do Rio, outro arcebispo assume o primeiro lugar na fila dos brasileiros que esperam para virar cardeal: dom Murilo Krieger, de Salvador.
Orfandade Desde a saída de dom Geraldo Majella Agnelo, que seguiu a praxe de renunciar aos 75 anos, a capital baiana não tem um cardeal para chamar de seu.
Voz do porão A lista de lançamentos sobre os 50 anos do golpe de 1964 ganhou reforço à direita. O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, atualizou seu livro "A Verdade Sufocada".
Não vai elogiar A obra ganhará mais 82 páginas. Ustra promete tratar de temas como a Comissão da Verdade, o último mandato de Lula e o governo Dilma.
Em baixa O bigode já teve mais prestígio na política brasileira. O governador gaúcho Tarso Genro (PT) raspou o seu no fim das férias no Uruguai. Hoje ele volta de visual novo ao Palácio Piratini.
Persona... É antiga a implicância de Roseana Sarney (PMDB) com Maria do Rosário (PT), vetada na comitiva federal que foi ao Maranhão na semana passada. Em 2011, a ministra dos Direitos Humanos desembarcou no Estado sem avisá-la para negociar com quilombolas.
... non grata Assim que soube de sua presença, Roseana convocou a petista ao Palácio dos Leões. Lá, disse não admitir que uma ministra fosse ao Maranhão tratar de "assuntos dessa natureza'' sem aviso prévio.
Só no Rio A turma dos protestos abriu ontem uma faixa nova nas escadas do Palácio Tiradentes, sede do Legislativo do Rio: "Vai ter Carnaval, mas não vai ter Copa".
tiroteio
Agora, mais do que nunca, torna-se necessária uma intervenção federal no Maranhão. A governadora endoidou de vez.
DO DEPUTADO DOMINGOS DUTRA (SDD-MA), sobre os editais do governo Roseana Sarney (PMDB) para abastecer os palácios de lagosta e camarão
Contraponto
A dúvida hamletiana de Itamar
No auge da crise do impeachment, quando já limpava as gavetas para assumir a Presidência no lugar de Fernando Collor, Itamar Franco convocou o então senador Fernando Henrique Cardoso para uma conversa. Queria saber o que se dizia dele fora dos muros do palácio.
O tucano respondeu que o vice era visto como um homem íntegro, mas parte do empresariado o considerava xenófobo e estatizante. Itamar não se deu por satisfeito.
-E você, Fernando? Você me acha burro?
-Claro que não, Itamar. Mas certamente é teimoso. Muito teimoso! -respondeu FHC.
Em família - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 13/01
“Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos”
Roseana Sarney, governadora do Maranhão
Roma falou. Ou melhor: Brasília. A crise da segurança pública no Maranhão agravou-se desde o mês passado. Finalmente, na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff postou sete mensagens consecutivas em seu Twitter. Para dizer que acompanha a crise, que despachou para São Luís seu ministro da Justiça e que providências para controlá-la começaram a ser tomadas. Citou algumas. E voltou a se calar.
TODO O CUIDADO é pouco. Dilma é candidata à reeleição. Há quatro anos, depois do Amazonas, foi o Maranhão, feudo da família Sarney há meio século, o estado a lhe conferir a maior vantagem de votos sobre Serra (PSDB) — 79% dos válidos no segundo turno. Primeiro cacique a se incorporar em 2002 à campanha de Lula, José Sarney foi o único a acompanhá-lo no avião que o devolveria a São Paulo, oito anos depois.
LULA APRENDEU a gostar dele. No passado, em comício no Maranhão, chamou Sarney de “ladrão”. No governo, encantado com seu apoio, batizou-o de “homem incomum” e fez-lhe quase todas as vontades. A crise da segurança pública que provocou até aqui decapitação de presos, atentados contra delegacias e a morte de uma criança queimada por bandidos veio em má hora para os Sarney — e, por tabela, para Dilma.
HÁ UM CANDIDATO favorito ao governo do Maranhão e ele é adversário da família — Flávio Dino, advogado, ex-deputado federal, filiado ao PCdoB e atual presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). No plano nacional, o PCdoB está com a candidatura Dilma e não abre. No Maranhão, Flávio Dino está com a candidatura a presidente de Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco. E também não abre.
ALI, NA MAIS recente eleição municipal, o PSB apoiou Edivaldo Holanda Junior (PTC) para prefeito de São Luís, e indicou seu vice. Eduardo participou ativamente da campanha de Edivaldo. Que agora é eleitor de Dino. Em Pernambuco, empurrada por Lula e Eduardo, Dilma teve três quartos dos votos. Agora não terá mais. Minas Gerais presenteou-a no segundo turno com quase 60% dos votos válidos.
O CANDIDATO majoritário de Minas Gerais à vaga de Dilma é o senador Aécio Neves (PSDB). Que espera colher em São Paulo, com a ajuda do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, uma vitória igual ou maior do que a de Serra em 2010. A luz amarela está acesa nos bastidores da campanha por ora informal de Dilma. Vê só por que ela aparenta estar alheia ao que acontece no Maranhão?
ALGUÉM VIU por aí a ministra dos Direitos Humanos? Ela não deveria ter viajado ao Maranhão? Roseana vetou — e Dilma acatou o veto. O procurador-geral da República deverá pedir intervenção federal no Maranhão. A ministra dos Direitos Humanos empenhou-se para que seus conselheiros não pedissem. Foi bem-sucedida. Roseana deixará o governo em abril próximo para ser candidata ao Senado.
SOMENTE NA semana passada ela quebrou o silêncio e falou sobre a crise. Foi um desastre. Agrediu o bom senso. Revelou-se despreparada para o exercício do cargo que ocupa pela segunda vez. Traiu a arrogância de quem está acostumada a não dar satisfações ao distinto público. Cometeu a frase desde já candidata a frase do ano: “Um dos problemas que está piorando a segurança é que o estado está mais rico”.
O MARANHÃO TEM a pior renda per capita entre os 27 estados brasileiros. Está em 26º lugar em matéria de Índice de Desenvolvimento Humano. Quase 40% de sua população são pobres. Ali, manda a família de um homem incomum.
“Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos”
Roseana Sarney, governadora do Maranhão
Roma falou. Ou melhor: Brasília. A crise da segurança pública no Maranhão agravou-se desde o mês passado. Finalmente, na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff postou sete mensagens consecutivas em seu Twitter. Para dizer que acompanha a crise, que despachou para São Luís seu ministro da Justiça e que providências para controlá-la começaram a ser tomadas. Citou algumas. E voltou a se calar.
TODO O CUIDADO é pouco. Dilma é candidata à reeleição. Há quatro anos, depois do Amazonas, foi o Maranhão, feudo da família Sarney há meio século, o estado a lhe conferir a maior vantagem de votos sobre Serra (PSDB) — 79% dos válidos no segundo turno. Primeiro cacique a se incorporar em 2002 à campanha de Lula, José Sarney foi o único a acompanhá-lo no avião que o devolveria a São Paulo, oito anos depois.
LULA APRENDEU a gostar dele. No passado, em comício no Maranhão, chamou Sarney de “ladrão”. No governo, encantado com seu apoio, batizou-o de “homem incomum” e fez-lhe quase todas as vontades. A crise da segurança pública que provocou até aqui decapitação de presos, atentados contra delegacias e a morte de uma criança queimada por bandidos veio em má hora para os Sarney — e, por tabela, para Dilma.
HÁ UM CANDIDATO favorito ao governo do Maranhão e ele é adversário da família — Flávio Dino, advogado, ex-deputado federal, filiado ao PCdoB e atual presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). No plano nacional, o PCdoB está com a candidatura Dilma e não abre. No Maranhão, Flávio Dino está com a candidatura a presidente de Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco. E também não abre.
ALI, NA MAIS recente eleição municipal, o PSB apoiou Edivaldo Holanda Junior (PTC) para prefeito de São Luís, e indicou seu vice. Eduardo participou ativamente da campanha de Edivaldo. Que agora é eleitor de Dino. Em Pernambuco, empurrada por Lula e Eduardo, Dilma teve três quartos dos votos. Agora não terá mais. Minas Gerais presenteou-a no segundo turno com quase 60% dos votos válidos.
O CANDIDATO majoritário de Minas Gerais à vaga de Dilma é o senador Aécio Neves (PSDB). Que espera colher em São Paulo, com a ajuda do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, uma vitória igual ou maior do que a de Serra em 2010. A luz amarela está acesa nos bastidores da campanha por ora informal de Dilma. Vê só por que ela aparenta estar alheia ao que acontece no Maranhão?
ALGUÉM VIU por aí a ministra dos Direitos Humanos? Ela não deveria ter viajado ao Maranhão? Roseana vetou — e Dilma acatou o veto. O procurador-geral da República deverá pedir intervenção federal no Maranhão. A ministra dos Direitos Humanos empenhou-se para que seus conselheiros não pedissem. Foi bem-sucedida. Roseana deixará o governo em abril próximo para ser candidata ao Senado.
SOMENTE NA semana passada ela quebrou o silêncio e falou sobre a crise. Foi um desastre. Agrediu o bom senso. Revelou-se despreparada para o exercício do cargo que ocupa pela segunda vez. Traiu a arrogância de quem está acostumada a não dar satisfações ao distinto público. Cometeu a frase desde já candidata a frase do ano: “Um dos problemas que está piorando a segurança é que o estado está mais rico”.
O MARANHÃO TEM a pior renda per capita entre os 27 estados brasileiros. Está em 26º lugar em matéria de Índice de Desenvolvimento Humano. Quase 40% de sua população são pobres. Ali, manda a família de um homem incomum.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 13/01
Custo de exportador cresce com fim do Reintegra
Os custos dos exportadores brasileiros aumentarão em cerca de R$ 3 bilhões por ano com o fim do Reintegra --programa do governo federal de incentivo às exportações encerrado em dezembro.
O Reintegra previa a devolução de parte dos impostos com base no faturamento obtido pela companhia com a venda de produtos industrializados a outros países.
O cálculo é da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que prevê ainda um impacto negativo de 3% nos embarques de manufaturados.
"Esse número é uma média do crédito tributário que a indústria recebeu. Alguns setores têm um valor de resíduo tributário diferente", afirma Diego Bonomo, gerente-executivo de comércio exterior da CNI.
A cotação do dólar em um patamar mais favorável aos embarques --uma das justificativas do governo para encerrar o regime de reintegração de tributos-- não compensa o fim do programa, de acordo com Bonomo.
"O câmbio é instável por natureza. Não tem como planejar como ele estará daqui 36 meses. É diferente ter um instrumento que dá previsibilidade ao empresário do que apostar em um nível em que a moeda estará competitiva", acrescenta.
A retirada do incentivo vem em um momento difícil para as exportadoras de mercadorias industrializadas, segundo a CNI. A entidade estima que o deficit da balança comercial do segmento tenha crescido 5,3% em 2013 e alcançado R$ 99,1 bilhões.
Contratação no setor hoteleiro crescerá 33% em dois anos
Sem depender dos cronogramas da Copa do Mundo e da Olimpíada, o setor hoteleiro prevê um crescimento de 33% em contratação de mão de obra até 2015.
A projeção para o período é abrir mais 50 mil postos de trabalho diretos e indiretos, segundo o Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Hoje, são 150 mil.
O incremento se deverá à inauguração de hotéis nos próximos anos --serão 40 mil novos apartamentos, de acordo com Flávia Matos, diretora da entidade.
"A expansão está muito mais pautada pelo desenvolvimento do país do que especificamente pelos grandes eventos", afirma.
Por conta das inaugurações, a concentração do setor no Sudeste se diluirá. A oferta hoteleira da região passará dos 63% do total do país em 2012 para 60% em 2015.
"Com a diminuição na concentração de oferta, teremos um ligeiro equilíbrio tanto em hotéis como em geração de empregos", diz.
TIJOLOS EM BAIXA
O setor da construção civil brasileira fechou 30,6 mil postos de trabalho em novembro do ano passado, segundo levantamento do SindusCon-SP (sindicato da indústria de São Paulo).
O número, que representa queda de 0,86% em relação ao mês anterior, está dentro do esperado para o período de fim de ano, de acordo com Sergio Watanabe, presidente da entidade.
"A construção civil também tem sazonalidade. Todo final de ano, postos de trabalho são fechados", diz.
"Normalmente, em janeiro, o setor reinicia a recuperação e vai crescendo durante o ano", acrescenta.
Apesar do recuo, no acumulado até novembro, houve aumento de 0,95% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No período de 12 meses encerrado em novembro, o incremente é ligeiramente maior (1,13%), o que representa 39,3 mil contratações.
A região do país mais afetada, em valores absolutos, foi a Sudeste, com 21.984 baixas (1,23%). No Estado de São Paulo, o recuo foi menor: -0,73% ou 6.600 postos.
REMÉDIO RASTREADO
Na tentativa de reduzir perdas que podem chegar a R$ 600 milhões por ano, o governo do Estado de São Paulo realizará uma PPP (parceria público-privada) para armazenagem e distribuição de medicamentos.
"O Estado gasta R$ 6 bilhões com remédios anualmente. Estima-se que as perdas com roubos, validade vencida e má conservação dos produtos fiquem entre 5% e 10% desse valor", diz Wilson Pollara, secretário-adjunto da Saúde.
O projeto prevê que uma empresa só seja responsável pela logística dos medicamentos. Essa companhia deverá receber R$ 150 milhões por ano, segundo Pollara.
Também está prevista a implantação de centros de distribuição em São Paulo, Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto e Marília. Ainda não há um valor definido de investimento para cada um.
A contratação da PPP se dará na modalidade de concessão administrativa pelo prazo de 20 anos.
CRÉDITO PARA ACESSIBILIDADE
A concessão de crédito para a compra de equipamentos utilizados por pessoas com deficiências cresceu em 2013, segundo o Banco do Brasil.
O valor financiado passou de R$ 15,3 milhões em 2012 para R$ 69,5 milhões no ano passado. A partir deste mês, a linha oferecida pela instituição passou a abranger a reforma de casas.
No Santander, o volume concedido chegou a R$ 9,5 milhões de janeiro a setembro de 2013 --evolução de 11% ante o mesmo período de 2012.
A Caixa informou que houve alta na linha que financia bens duráveis (incluindo itens de acessibilidade), mas não deu valores específicos.
Custo de exportador cresce com fim do Reintegra
Os custos dos exportadores brasileiros aumentarão em cerca de R$ 3 bilhões por ano com o fim do Reintegra --programa do governo federal de incentivo às exportações encerrado em dezembro.
O Reintegra previa a devolução de parte dos impostos com base no faturamento obtido pela companhia com a venda de produtos industrializados a outros países.
O cálculo é da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que prevê ainda um impacto negativo de 3% nos embarques de manufaturados.
"Esse número é uma média do crédito tributário que a indústria recebeu. Alguns setores têm um valor de resíduo tributário diferente", afirma Diego Bonomo, gerente-executivo de comércio exterior da CNI.
A cotação do dólar em um patamar mais favorável aos embarques --uma das justificativas do governo para encerrar o regime de reintegração de tributos-- não compensa o fim do programa, de acordo com Bonomo.
"O câmbio é instável por natureza. Não tem como planejar como ele estará daqui 36 meses. É diferente ter um instrumento que dá previsibilidade ao empresário do que apostar em um nível em que a moeda estará competitiva", acrescenta.
A retirada do incentivo vem em um momento difícil para as exportadoras de mercadorias industrializadas, segundo a CNI. A entidade estima que o deficit da balança comercial do segmento tenha crescido 5,3% em 2013 e alcançado R$ 99,1 bilhões.
Contratação no setor hoteleiro crescerá 33% em dois anos
Sem depender dos cronogramas da Copa do Mundo e da Olimpíada, o setor hoteleiro prevê um crescimento de 33% em contratação de mão de obra até 2015.
A projeção para o período é abrir mais 50 mil postos de trabalho diretos e indiretos, segundo o Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Hoje, são 150 mil.
O incremento se deverá à inauguração de hotéis nos próximos anos --serão 40 mil novos apartamentos, de acordo com Flávia Matos, diretora da entidade.
"A expansão está muito mais pautada pelo desenvolvimento do país do que especificamente pelos grandes eventos", afirma.
Por conta das inaugurações, a concentração do setor no Sudeste se diluirá. A oferta hoteleira da região passará dos 63% do total do país em 2012 para 60% em 2015.
"Com a diminuição na concentração de oferta, teremos um ligeiro equilíbrio tanto em hotéis como em geração de empregos", diz.
TIJOLOS EM BAIXA
O setor da construção civil brasileira fechou 30,6 mil postos de trabalho em novembro do ano passado, segundo levantamento do SindusCon-SP (sindicato da indústria de São Paulo).
O número, que representa queda de 0,86% em relação ao mês anterior, está dentro do esperado para o período de fim de ano, de acordo com Sergio Watanabe, presidente da entidade.
"A construção civil também tem sazonalidade. Todo final de ano, postos de trabalho são fechados", diz.
"Normalmente, em janeiro, o setor reinicia a recuperação e vai crescendo durante o ano", acrescenta.
Apesar do recuo, no acumulado até novembro, houve aumento de 0,95% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No período de 12 meses encerrado em novembro, o incremente é ligeiramente maior (1,13%), o que representa 39,3 mil contratações.
A região do país mais afetada, em valores absolutos, foi a Sudeste, com 21.984 baixas (1,23%). No Estado de São Paulo, o recuo foi menor: -0,73% ou 6.600 postos.
REMÉDIO RASTREADO
Na tentativa de reduzir perdas que podem chegar a R$ 600 milhões por ano, o governo do Estado de São Paulo realizará uma PPP (parceria público-privada) para armazenagem e distribuição de medicamentos.
"O Estado gasta R$ 6 bilhões com remédios anualmente. Estima-se que as perdas com roubos, validade vencida e má conservação dos produtos fiquem entre 5% e 10% desse valor", diz Wilson Pollara, secretário-adjunto da Saúde.
O projeto prevê que uma empresa só seja responsável pela logística dos medicamentos. Essa companhia deverá receber R$ 150 milhões por ano, segundo Pollara.
Também está prevista a implantação de centros de distribuição em São Paulo, Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto e Marília. Ainda não há um valor definido de investimento para cada um.
A contratação da PPP se dará na modalidade de concessão administrativa pelo prazo de 20 anos.
CRÉDITO PARA ACESSIBILIDADE
A concessão de crédito para a compra de equipamentos utilizados por pessoas com deficiências cresceu em 2013, segundo o Banco do Brasil.
O valor financiado passou de R$ 15,3 milhões em 2012 para R$ 69,5 milhões no ano passado. A partir deste mês, a linha oferecida pela instituição passou a abranger a reforma de casas.
No Santander, o volume concedido chegou a R$ 9,5 milhões de janeiro a setembro de 2013 --evolução de 11% ante o mesmo período de 2012.
A Caixa informou que houve alta na linha que financia bens duráveis (incluindo itens de acessibilidade), mas não deu valores específicos.
É preciso melhorar ainda mais - RAUL VELLOSO
O GLOBO - 13/01
Ainda há muito chão a percorrer, cabendo ainda avaliar cuidadosamente a experiência dos últimos leilões
No início de 2013, ao ser avisado de que um leilão de rodovias marcado para dali a poucos dias não teria concorrentes, o governo recolheu osflaps e suspendeu a realização do evento. Mais adiante, tentou retomar a agenda sem reexaminar adequadamente o assunto, e acabou enfrentando enorme desgaste — não apareceu nenhum candidato para o negócio. Haviam decorrido vários meses desde que o novo programa oficial tinha sido anunciado, o governo jogara todas as fichas nessa iniciativa para a retomada dos investimentos, e o plano parecia continuar fadado ao fracasso.
Em estudo disponível em minha página na internet (www.raulvelloso.com.br), discuti essa experiência recente com os coautores do trabalho, e alertei para os principais problemas remanescentes. Recentemente, contudo, no fim do túnel das idas e vindas das concessões na área de infraestrutura, tem surgido uma luz promissora. Tanto os leilões de rodovias como os de aeroportos começaram a ficar em pé, trazendo um certo alívio às autoridades do setor.
São indícios de que o governo pode ter começado a acordar para a necessidade de pôr a expansão dos investimentos na linha de frente das prioridades nacionais. O modelo pró-consumo dá claros sinais de esgotamento, os ganhos de preços de nossas exportações perderam força, e finalmente as autoridades parecem se dar conta de que não há como conciliar mais investimento público em áreas típicas de sua participação, como a de transportes, com gastos correntes em forte escalada ascendente. (Recorde-se que este ano será de eleições gerais, época em que o grau de racionalidade das decisões governamentais tende a diminuir consideravelmente).
A verdade é que, tanto quanto ocorre no caso dos demais serviços, não há como importar pontes, estradas, aeroportos etc. Ou seja, a infraestrutura só se expande se houver maior investimento local. E a hipótese de destinar mais recursos para transportes tem a vantagem adicional de propiciar o aumento da produtividade total dos fatores de produção, tão necessário quando a carência de investimentos é aguda. Assim, se o Estado não separa dinheiro em volume minimamente suficiente para esse fim, a única saída é leiloar concessões junto ao setor privado, por mais que o viés ideológico dominante vá na direção oposta.
Havia duas dificuldades básicas para os leilões darem certo. Uma era a baixa qualidade dos projetos oficiais, resultado da falta de prioridade conferida à área de transportes nas últimas décadas. Como leiloar serviços tão complexos como os de infraestrutura, sem um conhecimento qualificado do poder concedente sobre a matéria? Outro obstáculo era a grande confusão criada pelas autoridades, diante da ordem superior de buscar modicidade tarifária a qualquer custo. Em vez de procurar chegar às menores tarifas possíveis — que normalmente se determinam por meio de certames competitivos, a partir de tarifas-teto adequadas —, o governo estruturou leilões sob tetos extremamente reduzidos, na ilusão de que esse seria o caminho para chegar aos preços corretos. Na prática, em vez de resultarem nas menores tarifas possíveis, os tetos tarifários muito baixos acabaram simplesmente afugentando os concorrentes.
Nos últimos meses, o governo se dispôs a rediscutir as premissas dos cálculos e os próprios modelos de concessões com as partes interessadas, corrigindo vários erros que os projetos anteriores continham. Em seguida, recalculou as tarifas-teto, num processo que acabou elevando consideravelmente os valores fixados anteriormente. Diante desse novo quadro, estruturaram-se leilões bem mais competitivos, permitindo a comemoração de elevados deságios dos resultados finais em relação às novas tarifas-teto oferecidas.
Tudo resolvido com as concessões que foram aprovadas até agora? Penso que ainda há muito chão a percorrer, cabendo ainda avaliar cuidadosamente a experiência dos últimos leilões. Algo que salta aos olhos é a eliminação da exigência da apresentação de planos de negócios por parte dos concorrentes dos leilões. Como se reconhecesse o despreparo de suas equipes técnicas para analisar esses documentos, o governo prefere navegar meio às escuras ao longo da duração das concessões, o que é obviamente inadequado. Um bom plano de negócios contribui para empreendimentos de melhor qualidade, algo que serve igualmente a qualquer das partes envolvidas.
O curioso é que o BNDES, principal financiador dos projetos, vai sempre exigir em modalidades de financiamento project finance um plano de negócios de qualidade consistente. Há, por isso, o risco de que o plano levado ao banco só se viabilize financeiramente se for descartado o impacto de obrigações assumidas na proposta original, algo que seria difícil de rastrear sem a existência daquele documento. Outro absurdo seria implementar o reequilíbrio financeiro de contratos no futuro sem se dispor de forma clara dos parâmetros disponíveis apenas nos planos originais de negócios.
Ainda há muito chão a percorrer, cabendo ainda avaliar cuidadosamente a experiência dos últimos leilões
No início de 2013, ao ser avisado de que um leilão de rodovias marcado para dali a poucos dias não teria concorrentes, o governo recolheu osflaps e suspendeu a realização do evento. Mais adiante, tentou retomar a agenda sem reexaminar adequadamente o assunto, e acabou enfrentando enorme desgaste — não apareceu nenhum candidato para o negócio. Haviam decorrido vários meses desde que o novo programa oficial tinha sido anunciado, o governo jogara todas as fichas nessa iniciativa para a retomada dos investimentos, e o plano parecia continuar fadado ao fracasso.
Em estudo disponível em minha página na internet (www.raulvelloso.com.br), discuti essa experiência recente com os coautores do trabalho, e alertei para os principais problemas remanescentes. Recentemente, contudo, no fim do túnel das idas e vindas das concessões na área de infraestrutura, tem surgido uma luz promissora. Tanto os leilões de rodovias como os de aeroportos começaram a ficar em pé, trazendo um certo alívio às autoridades do setor.
São indícios de que o governo pode ter começado a acordar para a necessidade de pôr a expansão dos investimentos na linha de frente das prioridades nacionais. O modelo pró-consumo dá claros sinais de esgotamento, os ganhos de preços de nossas exportações perderam força, e finalmente as autoridades parecem se dar conta de que não há como conciliar mais investimento público em áreas típicas de sua participação, como a de transportes, com gastos correntes em forte escalada ascendente. (Recorde-se que este ano será de eleições gerais, época em que o grau de racionalidade das decisões governamentais tende a diminuir consideravelmente).
A verdade é que, tanto quanto ocorre no caso dos demais serviços, não há como importar pontes, estradas, aeroportos etc. Ou seja, a infraestrutura só se expande se houver maior investimento local. E a hipótese de destinar mais recursos para transportes tem a vantagem adicional de propiciar o aumento da produtividade total dos fatores de produção, tão necessário quando a carência de investimentos é aguda. Assim, se o Estado não separa dinheiro em volume minimamente suficiente para esse fim, a única saída é leiloar concessões junto ao setor privado, por mais que o viés ideológico dominante vá na direção oposta.
Havia duas dificuldades básicas para os leilões darem certo. Uma era a baixa qualidade dos projetos oficiais, resultado da falta de prioridade conferida à área de transportes nas últimas décadas. Como leiloar serviços tão complexos como os de infraestrutura, sem um conhecimento qualificado do poder concedente sobre a matéria? Outro obstáculo era a grande confusão criada pelas autoridades, diante da ordem superior de buscar modicidade tarifária a qualquer custo. Em vez de procurar chegar às menores tarifas possíveis — que normalmente se determinam por meio de certames competitivos, a partir de tarifas-teto adequadas —, o governo estruturou leilões sob tetos extremamente reduzidos, na ilusão de que esse seria o caminho para chegar aos preços corretos. Na prática, em vez de resultarem nas menores tarifas possíveis, os tetos tarifários muito baixos acabaram simplesmente afugentando os concorrentes.
Nos últimos meses, o governo se dispôs a rediscutir as premissas dos cálculos e os próprios modelos de concessões com as partes interessadas, corrigindo vários erros que os projetos anteriores continham. Em seguida, recalculou as tarifas-teto, num processo que acabou elevando consideravelmente os valores fixados anteriormente. Diante desse novo quadro, estruturaram-se leilões bem mais competitivos, permitindo a comemoração de elevados deságios dos resultados finais em relação às novas tarifas-teto oferecidas.
Tudo resolvido com as concessões que foram aprovadas até agora? Penso que ainda há muito chão a percorrer, cabendo ainda avaliar cuidadosamente a experiência dos últimos leilões. Algo que salta aos olhos é a eliminação da exigência da apresentação de planos de negócios por parte dos concorrentes dos leilões. Como se reconhecesse o despreparo de suas equipes técnicas para analisar esses documentos, o governo prefere navegar meio às escuras ao longo da duração das concessões, o que é obviamente inadequado. Um bom plano de negócios contribui para empreendimentos de melhor qualidade, algo que serve igualmente a qualquer das partes envolvidas.
O curioso é que o BNDES, principal financiador dos projetos, vai sempre exigir em modalidades de financiamento project finance um plano de negócios de qualidade consistente. Há, por isso, o risco de que o plano levado ao banco só se viabilize financeiramente se for descartado o impacto de obrigações assumidas na proposta original, algo que seria difícil de rastrear sem a existência daquele documento. Outro absurdo seria implementar o reequilíbrio financeiro de contratos no futuro sem se dispor de forma clara dos parâmetros disponíveis apenas nos planos originais de negócios.
Falta de compromisso - PAULO GUEDES
O GLOBO - 13/01
O maior problema não é a inflação de 0,92% em dezembro último ter sido a maior taxa mensal registrada desde 2003. Nem mesmo que a inflação de 2013 seja ainda maior que a de 2012. Pior é sabermos que isso aconteceu apesar de o governo ter reprimido os preços administrados sob seu controle; é não termos a certeza de que o Banco Central tem mesmo um compromisso com as metas anuais de inflação; é sabermos do descompromisso do Ministério da Fazenda com a mudança do regime fiscal, que permitiria taxas de juros mais baixas e menor sacrifício em termos de crescimento da produção e do emprego; é a presidente Dilma não perceber a importância da credibilidade das autoridades para que tenham sucesso na coordenação das expectativas que movimentam toda a engrenagem econômica.
O compromisso de uma equipe econômica com o cumprimento de metas fiscais e monetárias reduz dramaticamente a incerteza, alonga os horizontes de investimento, derruba as expectativas de inflação, projeta trajetórias futuras de juros reais declinantes. Cria em síntese um macroambiente favorável à aceleração do crescimento da economia. O mais importante não é se o superávit fiscal do ano passado foi bastante baixo sem a criatividade contábil ou próximo da meta graças às receitas não recorrentes de última hora. O que realmente importa são o compromisso das autoridades com as trajetórias futuras e a credibilidade dessas mesmas autoridades em cumprir tais compromissos.
Foi por isso que eu disse: "Ou a equipe econômica muda sua política ou a presidente muda sua equipe ou o país vai mudar de presidente".
É tempo de mudanças. Erros acontecem, o problema é insistir nos mesmos erros. A cada indicação de que vamos prosseguir com a mesma e equivocada determinação numa política fiscal frouxa e numa política monetária hesitante, contaminamos adversamente todo o processo de formação de expectativas. Sobem a taxa de câmbio, as expectativas de inflação, as taxas de juros, os pedidos de reajustes salariais, disparando mecanismos de retroalimentação ao longo da cadeia produtiva. Aumenta a incerteza, desfalecem os "animal spirits", erguendose a sombra de mais inflação e menos crescimento para 2014 e 2015. Mas não creio nessa simples extrapolação. Somos uma sociedade aberta. Haverá mudanças.
O que realmente importa é a credibilidade das autoridades quanto ao cumprimento das metas fiscais e monetárias.
O compromisso de uma equipe econômica com o cumprimento de metas fiscais e monetárias reduz dramaticamente a incerteza, alonga os horizontes de investimento, derruba as expectativas de inflação, projeta trajetórias futuras de juros reais declinantes. Cria em síntese um macroambiente favorável à aceleração do crescimento da economia. O mais importante não é se o superávit fiscal do ano passado foi bastante baixo sem a criatividade contábil ou próximo da meta graças às receitas não recorrentes de última hora. O que realmente importa são o compromisso das autoridades com as trajetórias futuras e a credibilidade dessas mesmas autoridades em cumprir tais compromissos.
Foi por isso que eu disse: "Ou a equipe econômica muda sua política ou a presidente muda sua equipe ou o país vai mudar de presidente".
É tempo de mudanças. Erros acontecem, o problema é insistir nos mesmos erros. A cada indicação de que vamos prosseguir com a mesma e equivocada determinação numa política fiscal frouxa e numa política monetária hesitante, contaminamos adversamente todo o processo de formação de expectativas. Sobem a taxa de câmbio, as expectativas de inflação, as taxas de juros, os pedidos de reajustes salariais, disparando mecanismos de retroalimentação ao longo da cadeia produtiva. Aumenta a incerteza, desfalecem os "animal spirits", erguendose a sombra de mais inflação e menos crescimento para 2014 e 2015. Mas não creio nessa simples extrapolação. Somos uma sociedade aberta. Haverá mudanças.
O que realmente importa é a credibilidade das autoridades quanto ao cumprimento das metas fiscais e monetárias.
Os riscos para o cenário econômico de 2014 - CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ
O Estado de S.Paulo - 13/01
O superávit da balança comercial brasileira em 2013 foi de apenas US$ 2,5 bilhões. Não fossem as distorções causadas pelas operações da Petrobrás, o País teria registrado seu primeiro déficit comercial em 13 anos. Já o déficit em conta corrente, que inclui também as contas de serviços, deve ter fechado o ano em US$ 80 bilhões (3,6% do PIB). O pior é que esses péssimos resultados nas contas externas ocorreram num ano em que o crescimento do PIB não deve ter alcançado minguados 2,5%, a inflação de preços livres superou o teto da meta de 6,5% (os administrados, como se sabe, estão virtualmente congelados) e houve expressiva deterioração das contas públicas.
Com esse legado macroeconômico, o Brasil em 2014 dependerá, crucialmente, não só de suas ações, mas também do bom desempenho das economias desenvolvidas e, evidentemente, também da China. Quanto maior for o diferencial (positivo) entre o crescimento médio dessas economias e o da brasileira, maior será o ajuste das nossas contas externas, sem pressões exageradas e desestabilizadoras sobre a taxa de câmbio.
Vejamos, então, as perspectivas para a economia global em 2014.
A China não deverá concorrer, na margem, para a elevação do crescimento mundial. Um cenário que me parece relativamente otimista é que a segunda economia do mundo cresça em torno de 7% e que as complexas reformas para o reequilíbrio macroeconômico do país se desenvolvam sem sobressaltos, o que, obviamente, não está garantido.
A zona do euro, sem ter resolvido seus intrincados problemas estruturais, que tornam sua economia pouco eficiente, continuará apresentando desempenho pífio. Segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a região crescerá 1% em 2014, após provável queda de 0,4% em 2013. Mas mesmo essa moderada recuperação se dará de forma extremamente desigual entre os Estados-membros, com a manutenção de taxas de desemprego insuportavelmente elevadas nos países periféricos. Portanto, não se podem descartar novas tensões econômicas e políticas na região.
O Japão desenvolve um arrojado programa de expansão monetária que já logrou depreciar o iene em mais de 30% nos últimos 12 meses, dando impulso ao setor exportador e reduzindo o risco de deflação. No lado oposto, no entanto, deverá apertar as contas públicas, com queda de dispêndio e aumento de tributos sobre as vendas, o que poderá debilitar ainda mais o já frágil consumo doméstico. Nada de brilhante, portanto, se deve esperar da terceira economia do mundo, cujo crescimento em 2014 não deve superar pífio 1%.
Todas as esperanças se concentram na economia norte-americana. De fato, 2013 mostrou números animadores, principalmente no final do ano. A taxa de desemprego caiu de 7,8%, no final de 2012, para 7%, atualmente. Nos últimos 12 meses, os preços dos imóveis subiram quase 15%, enquanto o principal índice de ações do país (S&P 500) valorizou-se cerca de 30%. No terceiro trimestre do ano passado, o PIB cresceu à taxa anual de 4,1% sobre o trimestre anterior. Para 2014, a maior parte dos analistas espera que o crescimento econômico supere a marca de 3%.
Mas não há consenso quanto à sustentabilidade desse crescimento. Sem contar os pessimistas contumazes, há analistas de peso que enxergam com preocupação o futuro da economia estadunidense. Entre eles, merece destaque a opinião do ex-secretário do Tesouro, o renomado economista Lawrence Summers, que crê em queda estrutural da demanda interna por consumo e investimento.
Summers não acredita que a política monetária de juro zero atualmente praticada pelo banco central (Fed) seja eficiente e propõe o aumento do dispêndio público para ocupar a grande capacidade ociosa atualmente existente, concentrando os gastos em áreas que aumentem a produtividade da economia, tais como infraestrutura e educação. Mas o governo americano, em boa parte graças à força do Partido Republicano no Congresso, vem fazendo exatamente o contrário, ou seja, impondo ao país um duro e quiçá prematuro aperto fiscal.
Enquanto otimistas e pessimistas em relação ao crescimento econômico norte-americano se digladiam, o pior dos mundos para o Brasil é se ambos tiverem um pouco de razão. Explique-se: a política de juro zero poderia estar provocando valorização artificial no preço dos ativos e, portanto, gerando estímulos apenas temporários ao crescimento. Mas isso já seria suficiente para o mercado promover elevação ainda maior nos juros longos (títulos do Tesouro de prazo de dez anos), que já subiram de 1,5% ao ano, em maio do ano passado, para 3% ao ano, no momento em que este artigo estava sendo redigido.
Em tal cenário, aqui mencionado como uma possibilidade real, embora não como uma previsão, nossa economia sofreria as consequências negativas da alta dos juros americanos (fuga de capitais, depreciação cambial, aumento da inflação e dos juros internos, queda da atividade, etc.), mas não colheria os frutos decorrentes da retomada do crescimento naquele país, dado que, por hipótese, esta seria apenas temporária.
Essas incertezas da economia internacional não deverão se dissipar com facilidade ao longo de 2014, o que torna imperativa a correção de rumo da política econômica brasileira, especialmente na área fiscal. O superávit primário (resultado antes do abatimento dos juros) do setor público consolidado deverá cair, neste ano, para pouco mais de 1% do PIB, e isso fará com que o déficit nominal, medido pelo aumento da dívida pública líquida, suba dos atuais 3,5% do PIB para 4,6% do PIB no final de 2014.
Diante de tais números e na falta de uma sinalização firme (por meio de lei) de um ajuste fiscal de longo prazo, o rebaixamento da nota do Brasil por pelo menos uma das agências internacionais classificadoras de risco seria inevitável. A partir daí o mercado começaria a contagem regressiva para a perda do grau de investimento. Se isso ocorrer em ambiente de alta volatilidade internacional, as consequências para a economia brasileira podem ser desastrosas.
O superávit da balança comercial brasileira em 2013 foi de apenas US$ 2,5 bilhões. Não fossem as distorções causadas pelas operações da Petrobrás, o País teria registrado seu primeiro déficit comercial em 13 anos. Já o déficit em conta corrente, que inclui também as contas de serviços, deve ter fechado o ano em US$ 80 bilhões (3,6% do PIB). O pior é que esses péssimos resultados nas contas externas ocorreram num ano em que o crescimento do PIB não deve ter alcançado minguados 2,5%, a inflação de preços livres superou o teto da meta de 6,5% (os administrados, como se sabe, estão virtualmente congelados) e houve expressiva deterioração das contas públicas.
Com esse legado macroeconômico, o Brasil em 2014 dependerá, crucialmente, não só de suas ações, mas também do bom desempenho das economias desenvolvidas e, evidentemente, também da China. Quanto maior for o diferencial (positivo) entre o crescimento médio dessas economias e o da brasileira, maior será o ajuste das nossas contas externas, sem pressões exageradas e desestabilizadoras sobre a taxa de câmbio.
Vejamos, então, as perspectivas para a economia global em 2014.
A China não deverá concorrer, na margem, para a elevação do crescimento mundial. Um cenário que me parece relativamente otimista é que a segunda economia do mundo cresça em torno de 7% e que as complexas reformas para o reequilíbrio macroeconômico do país se desenvolvam sem sobressaltos, o que, obviamente, não está garantido.
A zona do euro, sem ter resolvido seus intrincados problemas estruturais, que tornam sua economia pouco eficiente, continuará apresentando desempenho pífio. Segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a região crescerá 1% em 2014, após provável queda de 0,4% em 2013. Mas mesmo essa moderada recuperação se dará de forma extremamente desigual entre os Estados-membros, com a manutenção de taxas de desemprego insuportavelmente elevadas nos países periféricos. Portanto, não se podem descartar novas tensões econômicas e políticas na região.
O Japão desenvolve um arrojado programa de expansão monetária que já logrou depreciar o iene em mais de 30% nos últimos 12 meses, dando impulso ao setor exportador e reduzindo o risco de deflação. No lado oposto, no entanto, deverá apertar as contas públicas, com queda de dispêndio e aumento de tributos sobre as vendas, o que poderá debilitar ainda mais o já frágil consumo doméstico. Nada de brilhante, portanto, se deve esperar da terceira economia do mundo, cujo crescimento em 2014 não deve superar pífio 1%.
Todas as esperanças se concentram na economia norte-americana. De fato, 2013 mostrou números animadores, principalmente no final do ano. A taxa de desemprego caiu de 7,8%, no final de 2012, para 7%, atualmente. Nos últimos 12 meses, os preços dos imóveis subiram quase 15%, enquanto o principal índice de ações do país (S&P 500) valorizou-se cerca de 30%. No terceiro trimestre do ano passado, o PIB cresceu à taxa anual de 4,1% sobre o trimestre anterior. Para 2014, a maior parte dos analistas espera que o crescimento econômico supere a marca de 3%.
Mas não há consenso quanto à sustentabilidade desse crescimento. Sem contar os pessimistas contumazes, há analistas de peso que enxergam com preocupação o futuro da economia estadunidense. Entre eles, merece destaque a opinião do ex-secretário do Tesouro, o renomado economista Lawrence Summers, que crê em queda estrutural da demanda interna por consumo e investimento.
Summers não acredita que a política monetária de juro zero atualmente praticada pelo banco central (Fed) seja eficiente e propõe o aumento do dispêndio público para ocupar a grande capacidade ociosa atualmente existente, concentrando os gastos em áreas que aumentem a produtividade da economia, tais como infraestrutura e educação. Mas o governo americano, em boa parte graças à força do Partido Republicano no Congresso, vem fazendo exatamente o contrário, ou seja, impondo ao país um duro e quiçá prematuro aperto fiscal.
Enquanto otimistas e pessimistas em relação ao crescimento econômico norte-americano se digladiam, o pior dos mundos para o Brasil é se ambos tiverem um pouco de razão. Explique-se: a política de juro zero poderia estar provocando valorização artificial no preço dos ativos e, portanto, gerando estímulos apenas temporários ao crescimento. Mas isso já seria suficiente para o mercado promover elevação ainda maior nos juros longos (títulos do Tesouro de prazo de dez anos), que já subiram de 1,5% ao ano, em maio do ano passado, para 3% ao ano, no momento em que este artigo estava sendo redigido.
Em tal cenário, aqui mencionado como uma possibilidade real, embora não como uma previsão, nossa economia sofreria as consequências negativas da alta dos juros americanos (fuga de capitais, depreciação cambial, aumento da inflação e dos juros internos, queda da atividade, etc.), mas não colheria os frutos decorrentes da retomada do crescimento naquele país, dado que, por hipótese, esta seria apenas temporária.
Essas incertezas da economia internacional não deverão se dissipar com facilidade ao longo de 2014, o que torna imperativa a correção de rumo da política econômica brasileira, especialmente na área fiscal. O superávit primário (resultado antes do abatimento dos juros) do setor público consolidado deverá cair, neste ano, para pouco mais de 1% do PIB, e isso fará com que o déficit nominal, medido pelo aumento da dívida pública líquida, suba dos atuais 3,5% do PIB para 4,6% do PIB no final de 2014.
Diante de tais números e na falta de uma sinalização firme (por meio de lei) de um ajuste fiscal de longo prazo, o rebaixamento da nota do Brasil por pelo menos uma das agências internacionais classificadoras de risco seria inevitável. A partir daí o mercado começaria a contagem regressiva para a perda do grau de investimento. Se isso ocorrer em ambiente de alta volatilidade internacional, as consequências para a economia brasileira podem ser desastrosas.