FOLHA DE SP - 09/12
No Brasil, muitos juízes acham que devem fazer (in)justiça social com as próprias mãos
Hoje vou contar uns casos para você. Aproximam-se o Natal e o Ano-Novo, e sempre pensamos o que poderia ser diferente no Brasil. Eu, diferentemente daqueles que creem em modas como "consciência política" (para mim isso é uma coisa tão real quanto carma), espero que um dia o Brasil se livre de sua inhaca de ser um país no qual quem dá emprego é visto como bandido. Porque, ao contrário do que diz a moçada da "justiça social" (carma...), quem dá emprego é quem faz verdadeira justiça social.
Imaginem uma jovem empresária cheia de vida e fé no seu negócio. Isso aconteceu alguns anos atrás, hoje ela se transformou numa cética com relação ao valor da atividade do pequeno e médio empresário brasileiro, porque acha que só ingênuo e mal informado dá emprego no Brasil.
Um dia sua loja de produtos finos foi assaltada em plena luz do dia. Ela e sua sócia tiveram suas vidas ameaçadas. Vários talões de cheques da empresa roubados do cofre. Não tinha muito dinheiro em "cash", por sorte.
Na sequência, se inicia a via crúcis para cancelar os talões e fazer o BO. Horas em delegacias com funcionários que complicavam as coisas com clara intenção de, quem sabe, garantir um "extra".
Alguns dias depois, a dona de um pequeno restaurante fora de São Paulo liga para elas dizendo que um grupo grande de homens havia passado um cheque de sua empresa como pagamento de uma festa que eles tinham dado no restaurante dela. Nossa jovem empresária, prontamente, informa à mulher que a loja tinha sido assaltada, que esses talões estavam cancelados e que tinha a documentação necessária para comprovar o relato, e, portanto, sentia muito, mas o cheque não tinha qualquer valor.
Claro que a dona do pequeno restaurante não quis saber e "pôs elas no pau". Foram obrigadas a depositar em juízo. Quando da audiência, após apresentar toda a documentação, o juiz decidiu que sim, elas deveriam pagar o cheque.
Quando questionado em sua decisão (já que elas tinham sido vítimas de um assalto!), o juiz as ameaçou dizendo que, caso não aceitassem a decisão, o processo se alongaria e sairia mais caro para elas. Ao ser indagado acerca da injustiça que ele cometia ao obrigá-las a pagar por um gasto que não fizeram, o juiz soltou a pérola de costume: "As senhoras são ricas, podem pagar por isso".
Eis o juiz fazendo caridade com a grana alheia. Comunista gosta de distribuir o dinheiro dos outros. No Brasil, muitos juízes acham que devem fazer (in)justiça social com as próprias mãos.
Moral da história: as empresárias foram roubadas duas vezes, uma pelos ladrões, outra pelo Estado.
Outro caso. Funcionário rouba o patrão. Ele demite o funcionário por justa causa. Abre processo na Justiça comum contra o funcionário. O juiz do trabalho decide que o patrão deve pagar "todos os direitos trabalhistas" do funcionário sob alegação de que uma coisa é roubar, outra é ser demitido. Risadas? Claro, o juiz do trabalho argumentou que as duas Justiças "não se comunicam" e que os direitos trabalhistas são inquestionáveis.
A questão é: afinal, roubar não seria causa suficiente para você demitir alguém? O problema é que cá nestas terras demitir é crime. O Brasil é mesmo o fim da picada.
Moral da história: o empresário foi roubado duas vezes, uma pelo funcionário ladrão, outra pelo Estado.
Mais um. Jovem empresário de uma cidade em outro Estado faz uma reforma na fachada de sua loja. Fica muito bonita. Dias depois, roubam quase tudo dessa fachada.
No Brasil, tudo é roubável. A fachada fica destruída. Passados poucos dias, aparece aquele cara chamado "fiscal da prefeitura". O "amigo" avisa ao empresário que vai lhe passar uma bela multa, a não ser que ele seja razoável. O jovem empresário, munido da fé comum daqueles que creem que escândalos com fiscais é coisa rara, argumenta e apresenta documentação provando a destruição criminosa e o roubo. Não adianta, o "representante do bem público", leia-se, o fiscal, lhe apresenta uma multa enorme.
Moral da história: o jovem empresário foi roubado duas vezes, uma pelo ladrão, outra pelo Estado.
segunda-feira, dezembro 09, 2013
Cinemas de calçada - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 08/12
Os cinemas em shoppings possuem um conforto e uma qualidade técnica que só confirma a evolução do setor, mas atire a primeira pipoca quem não sente saudades dos cinemas de bairro.
Como passei dos 11 aos 25 anos morando na D. Pedro II, o Astor era o mais perto de casa. Situado na esquina da Benjamim com a Cristóvão, tinha uma fachada imponente e era vizinho do cineteatro Presidente (onde nunca vi filmes, só shows). Foi no Astor que assisti Laranja Mecânica e E.T.
E havia o cine Colombo ali perto, acho que um dos primeiros a fechar, pois só recordo de ter ido lá quando criança, em turma, fazendo uma bagunça na primeira fila que atordoava os adultos sentados atrás de nós. Mas o que adultos faziam assistindo aos filmes do J.B.Tanko, como Som, Amor e Curtição?
Teve a fase do Coral, em frente ao Parcão, com sua imensa escadaria que nos reconduzia à realidade ao deixarmos a sala escura. Foi lá que assisti, aos 14 anos, meu primeiro filme proibido para menores de 18. Minha mãe me emprestou seus óculos escuros e cruzei o saguão feito uma Jackie Onassis mirim para assistirmos juntas a Nosso Amor de Ontem, com Barbra Streisand. E na véspera de um aniversário, quando bateu meia-noite e passei dos 16 para os 17 anos, estava dentro do Coral também, assistindo ao The Last Waltz, antológico show de despedida da The Band, filmado por Martin Scorsese. Bem melhor do que ouvir Parabéns a Você.
Difícil imaginar que houve um tempo em que eu ficava facilmente acordada à meia-noite, ainda mais dentro de um cinema. Como esquecer as sessões da madrugada no ABC, na Venâncio? Woodstock e Blade Runner foram vistos lá. Assisti Blade Runner apenas uma vez, sou um caso a ser estudado pela ciência. Na época, quem assistia menos, assistia quatro ou cinco vezes.
Perto do ABC tinha o Avenida, na João Pessoa, onde fui introduzida pela primeira vez à obra de Pedro Almodóvar com seu hilário Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
O Vogue, na Independência, era meu reduto depois das aulas da faculdade. Foi lá que assisti obras políticas como Sacco & Vanzzetti, A Batalha de Argel e todos os do Costa Gavras, e foi lá também que assisti ao primeiro filme com o primeiro namorado (Jonas, que Terá 25 Anos no Ano 2000 – nome do filme, não do namorado).
No Centro, tinha o Imperial e o Cacique, lado a lado. Difícil lembrar em qual deles assisti, recém liberado pela censura, a O Último Tango em Paris ao lado do meu irmão, na única vez em que fomos ao cinema juntos depois de virarmos gente grande (eu com 18, ele com 16). E foi no Cine Victória, na Borges, que me encantei com A Marvada Carne, que segue na lista dos meus filmes nacionais preferidos.
Nunca fui ao Capitólio.
Por fim, a dobradinha Baltimore e Bristol, na Oswaldo Aranha. O Bristol era cult, com sua pequeníssima sala no segundo andar, alcançável por uma escada estreita onde nos espremíamos em filas para assistir aos ciclos do Godard. Já o Baltimore tinha uma programação mais comercial. Foi onde assisti a Uma Linda Mulher, já que filme cabeça todo dia não dá.
Qual o mais inesquecível dos cinemas? Na verdade, ficava a 200km de Porto Alegre: era o da SAPT de Torres, onde assisti desde os filmes do Roberto Carlos até 2001, Uma Odisseia no Espaço, sempre batendo com os pés no chão antes do início, fazendo barulho no assoalho de madeira para marcar aqueles anos que não voltariam mais.
Os cinemas em shoppings possuem um conforto e uma qualidade técnica que só confirma a evolução do setor, mas atire a primeira pipoca quem não sente saudades dos cinemas de bairro.
Como passei dos 11 aos 25 anos morando na D. Pedro II, o Astor era o mais perto de casa. Situado na esquina da Benjamim com a Cristóvão, tinha uma fachada imponente e era vizinho do cineteatro Presidente (onde nunca vi filmes, só shows). Foi no Astor que assisti Laranja Mecânica e E.T.
E havia o cine Colombo ali perto, acho que um dos primeiros a fechar, pois só recordo de ter ido lá quando criança, em turma, fazendo uma bagunça na primeira fila que atordoava os adultos sentados atrás de nós. Mas o que adultos faziam assistindo aos filmes do J.B.Tanko, como Som, Amor e Curtição?
Teve a fase do Coral, em frente ao Parcão, com sua imensa escadaria que nos reconduzia à realidade ao deixarmos a sala escura. Foi lá que assisti, aos 14 anos, meu primeiro filme proibido para menores de 18. Minha mãe me emprestou seus óculos escuros e cruzei o saguão feito uma Jackie Onassis mirim para assistirmos juntas a Nosso Amor de Ontem, com Barbra Streisand. E na véspera de um aniversário, quando bateu meia-noite e passei dos 16 para os 17 anos, estava dentro do Coral também, assistindo ao The Last Waltz, antológico show de despedida da The Band, filmado por Martin Scorsese. Bem melhor do que ouvir Parabéns a Você.
Difícil imaginar que houve um tempo em que eu ficava facilmente acordada à meia-noite, ainda mais dentro de um cinema. Como esquecer as sessões da madrugada no ABC, na Venâncio? Woodstock e Blade Runner foram vistos lá. Assisti Blade Runner apenas uma vez, sou um caso a ser estudado pela ciência. Na época, quem assistia menos, assistia quatro ou cinco vezes.
Perto do ABC tinha o Avenida, na João Pessoa, onde fui introduzida pela primeira vez à obra de Pedro Almodóvar com seu hilário Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
O Vogue, na Independência, era meu reduto depois das aulas da faculdade. Foi lá que assisti obras políticas como Sacco & Vanzzetti, A Batalha de Argel e todos os do Costa Gavras, e foi lá também que assisti ao primeiro filme com o primeiro namorado (Jonas, que Terá 25 Anos no Ano 2000 – nome do filme, não do namorado).
No Centro, tinha o Imperial e o Cacique, lado a lado. Difícil lembrar em qual deles assisti, recém liberado pela censura, a O Último Tango em Paris ao lado do meu irmão, na única vez em que fomos ao cinema juntos depois de virarmos gente grande (eu com 18, ele com 16). E foi no Cine Victória, na Borges, que me encantei com A Marvada Carne, que segue na lista dos meus filmes nacionais preferidos.
Nunca fui ao Capitólio.
Por fim, a dobradinha Baltimore e Bristol, na Oswaldo Aranha. O Bristol era cult, com sua pequeníssima sala no segundo andar, alcançável por uma escada estreita onde nos espremíamos em filas para assistir aos ciclos do Godard. Já o Baltimore tinha uma programação mais comercial. Foi onde assisti a Uma Linda Mulher, já que filme cabeça todo dia não dá.
Qual o mais inesquecível dos cinemas? Na verdade, ficava a 200km de Porto Alegre: era o da SAPT de Torres, onde assisti desde os filmes do Roberto Carlos até 2001, Uma Odisseia no Espaço, sempre batendo com os pés no chão antes do início, fazendo barulho no assoalho de madeira para marcar aqueles anos que não voltariam mais.
O sobradinho do vovô - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 09/12
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal: a casa da família da presidente Dilma Rousseff em Uberaba (494 km de Belo Horizonte) foi declarada patrimônio histórico. É uma construção de 1938, de porta, janela e varanda com escadinha, como tantas. Em solteira, a mãe de Dilma morou ali com os pais. Casou-se com Pedro Rousseff e os dois se mudaram para Belo Horizonte, onde Dilma nasceu, em 1947. A menina só conheceu a casa nas vezes em que voltou à cidade para visitar o avô. Deve ter rabiscado seu nome a lápis em algumas paredes, não mais.
Para um imóvel se tornar patrimônio histórico, submete-se a um processo que o considere de utilidade pública. Daí é tombado e desapropriado, pagando-se ao proprietário um valor arbitrado por um órgão oficial. A casa, vazia e em mau estado, ainda pertence à família de Dilma. A ideia é transformá-la num memorial dos presidentes brasileiros, com os recursos do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e do Ministério da Cultura.
O prédio não tem qualquer interesse arquitetônico ou histórico, mas o prefeito de Uberaba é aliado político de Dilma e capaz de envolver órgãos federais nesse ato de puxa-saquismo explícito. Houve quem se revoltasse ao ler a notícia, mas prefiro vê-la por um ângulo otimista.
Se há dinheiro para salvar o sobradinho do vovô, não deverá faltar para recuperar, por exemplo, as magníficas edificações da antiga Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, construídas por d. Pedro 2º, em 1852. A Reitoria era originalmente o Hospital dos Alienados, onde Lima Barreto foi internado em 1914 e 1919. A cultura brasileira deve muito ao complexo por inteiro. Na Faculdade de Arquitetura, aconteceu em 1959 o primeiro grande show de bossa nova.
Ao passar por ali, hoje, a sensação é de abandono. Mas o MinC parece ter outras prioridades em matéria de patrimônio histórico.
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal: a casa da família da presidente Dilma Rousseff em Uberaba (494 km de Belo Horizonte) foi declarada patrimônio histórico. É uma construção de 1938, de porta, janela e varanda com escadinha, como tantas. Em solteira, a mãe de Dilma morou ali com os pais. Casou-se com Pedro Rousseff e os dois se mudaram para Belo Horizonte, onde Dilma nasceu, em 1947. A menina só conheceu a casa nas vezes em que voltou à cidade para visitar o avô. Deve ter rabiscado seu nome a lápis em algumas paredes, não mais.
Para um imóvel se tornar patrimônio histórico, submete-se a um processo que o considere de utilidade pública. Daí é tombado e desapropriado, pagando-se ao proprietário um valor arbitrado por um órgão oficial. A casa, vazia e em mau estado, ainda pertence à família de Dilma. A ideia é transformá-la num memorial dos presidentes brasileiros, com os recursos do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e do Ministério da Cultura.
O prédio não tem qualquer interesse arquitetônico ou histórico, mas o prefeito de Uberaba é aliado político de Dilma e capaz de envolver órgãos federais nesse ato de puxa-saquismo explícito. Houve quem se revoltasse ao ler a notícia, mas prefiro vê-la por um ângulo otimista.
Se há dinheiro para salvar o sobradinho do vovô, não deverá faltar para recuperar, por exemplo, as magníficas edificações da antiga Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, construídas por d. Pedro 2º, em 1852. A Reitoria era originalmente o Hospital dos Alienados, onde Lima Barreto foi internado em 1914 e 1919. A cultura brasileira deve muito ao complexo por inteiro. Na Faculdade de Arquitetura, aconteceu em 1959 o primeiro grande show de bossa nova.
Ao passar por ali, hoje, a sensação é de abandono. Mas o MinC parece ter outras prioridades em matéria de patrimônio histórico.
Minha tia não usava calcinha - TONY BELLOTO
O GLOBO - 08/12
Pergunto-me que efeito terão as peças antiestupro no imaginário masculino
Calcinha antiestupro
Foi desenvolvida nos Estados Unidos a calcinha antiestupro, uma peça de tecido resistente, impossível de ser rompido por lâminas, tesouras ou dentes afiados, de modelo sutilmente mas não exageradamente sexy — lembra um shortinho justo —, que adere firmemente aos quadris e pelve de quem a veste, cuja abertura é controlada não por botão, ou zíper, mas por cadeado que só pode ser desativado com senha memorizada pela usuária. O produto estará à disposição no mercado a partir de julho do ano que vem.
Mike Tyson
Feministas reclamam, afirmando que os criadores da calcinha antiestupro “sugerem que a mulher é parcialmente responsável, por não recusar o ato com clareza.” Ou seja, as feministas acusam os criadores da engenhoca de insinuar que mulheres precisam de proteção contra si mesmas para não incentivar o ato do estupro. Elas se rebelam com razão contra a ideia machista de que mulheres estupradas são de alguma forma responsáveis por “provocar” seus agressores.
“Porra, foi até o quarto do Mike Tyson sozinha, de minissaia… tá querendo o quê?”
Papo calcinha
Independentemente das implicações políticas da peça — uma versão up to date do cinto de castidade —, a calcinha antiestupro pode render situações cômicas, como a da garota precavida que vai para a balada vestida com sua calcinha protetora e, depois de beber umas e outras, ao se encantar com um mancebo com quem decide fazer sexo, não consegue se lembrar da senha na hora de se despir.
“Já tentou o CIC?”, pergunta o rapaz, impaciente.
“Que CIC o quê…é a data de aniversário do meu pai… em que ano mesmo nasceu aquele maluco? 1968 ou 1969?”
Ou o caso mais prosaico da mocinha obediente que, munida de sua calcinha antiestupro por sugestão da mãe preocupada, depois de beber o quinto chope esquece-se da senha na hora de ir ao banheiro.
“Meu amor, voltou cedo… aconteceu alguma coisa ruim?”
“Não, mãe, tudo certo. Esqueci a senha.”
“Esqueceu? Tentaram alguma coisa com você?”
“Nada, não fui estuprada. Só fiz xixi na calça.”
Kátia Flávia
Pergunto-me que efeito terão as calcinhas antiestupro no imaginário masculino. Nos parágrafos de abertura do romance “Misto-quente”, Charles Bukowski evoca suas primeiras lembranças descrevendo a visão de um menino sob uma mesa olhando pernas de adultos que se movimentam à sua volta. Lembro de situações semelhantes em que ficava sob a mesa (ou a escada) ansiando pelo vislumbre de uma calcinha. Para um menino, a visão de uma calcinha é sempre impactante e reveladora das complexidades do mundo. Garotos gastam muito tempo de suas infâncias e adolescências em busca de relances de uma calcinha. Não importa que essa visão seja dificultada por saias, minissaias, vestidos, batas, shortinhos ou uniformes escolares. Quando se avista uma calcinha experimenta-se a sensação de vitória. Até mesmo meninos afegãos de comunidades talibãs anseiam pela visão de calcinhas brancas sob burcas negras.
Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, personagem da canção de Fausto Fawcett, uma “gostosona que só usa calcinhas comestíveis e bélicas, dessas com armamentos bordados”, depois de roubar um carro da polícia, avisa pelo rádio: “Alô, polícia! Eu tô usando um Exocet-calcinha! Calcinha bordadinha, calcinha de rendinha, calcinha geladinha…”
A canção não nos revela qual foi a reação dos policiais às provocações da louraça enlouquecida.
Maio de 1968
Em 1968 passei alguns meses na Europa por conta de pesquisas acadêmicas que meus pais realizavam. Enquanto eles viajavam pelo continente, eu e minha irmã ficávamos aos cuidados de nossa avó paterna, hospedados em casa de parentes na Póvoa do Rio de Moinhos, uma aldeia de 500 habitantes localizada na Beira Baixa, região central de Portugal. Eu tinha oito anos. Numa manhã saí em companhia de uma tia, a tia Saraiva, para acompanhá-la em sua rotina de colher couves e batatas pelos campos. A tia se parecia com uma bruxa, vestida de preto, com um nariz enorme, rosto enrugado e boca banguela. Tia Saraiva me colocou sobre uma mula enquanto caminhava ao meu lado por uma estradinha cercada de muros medievais que demarcavam terrenos com oliveiras. A mula, acostumada ao trajeto, mantinha o passo mesmo quando tia Saraiva se afastava momentaneamente para pegar um galho de árvore ou observar o voo de um pássaro. Numa curva, perdi a tia de vista e, sem saber como desmontar da mula, achei que me perderia para sempre naquele lugar estranho e desolado. Virei o rosto desesperado e a avistei de pé no meio da estrada, com as pernas abertas, urinando. Minha tia não usava calcinha. Ainda que muitas mulheres pelo mundo estivessem naquele momento queimando sutiãs em protesto contra a opressão masculina, foi observando aquela velha camponesa urinar que compreendi pela primeira vez a força da mulher.
Pergunto-me que efeito terão as peças antiestupro no imaginário masculino
Calcinha antiestupro
Foi desenvolvida nos Estados Unidos a calcinha antiestupro, uma peça de tecido resistente, impossível de ser rompido por lâminas, tesouras ou dentes afiados, de modelo sutilmente mas não exageradamente sexy — lembra um shortinho justo —, que adere firmemente aos quadris e pelve de quem a veste, cuja abertura é controlada não por botão, ou zíper, mas por cadeado que só pode ser desativado com senha memorizada pela usuária. O produto estará à disposição no mercado a partir de julho do ano que vem.
Mike Tyson
Feministas reclamam, afirmando que os criadores da calcinha antiestupro “sugerem que a mulher é parcialmente responsável, por não recusar o ato com clareza.” Ou seja, as feministas acusam os criadores da engenhoca de insinuar que mulheres precisam de proteção contra si mesmas para não incentivar o ato do estupro. Elas se rebelam com razão contra a ideia machista de que mulheres estupradas são de alguma forma responsáveis por “provocar” seus agressores.
“Porra, foi até o quarto do Mike Tyson sozinha, de minissaia… tá querendo o quê?”
Papo calcinha
Independentemente das implicações políticas da peça — uma versão up to date do cinto de castidade —, a calcinha antiestupro pode render situações cômicas, como a da garota precavida que vai para a balada vestida com sua calcinha protetora e, depois de beber umas e outras, ao se encantar com um mancebo com quem decide fazer sexo, não consegue se lembrar da senha na hora de se despir.
“Já tentou o CIC?”, pergunta o rapaz, impaciente.
“Que CIC o quê…é a data de aniversário do meu pai… em que ano mesmo nasceu aquele maluco? 1968 ou 1969?”
Ou o caso mais prosaico da mocinha obediente que, munida de sua calcinha antiestupro por sugestão da mãe preocupada, depois de beber o quinto chope esquece-se da senha na hora de ir ao banheiro.
“Meu amor, voltou cedo… aconteceu alguma coisa ruim?”
“Não, mãe, tudo certo. Esqueci a senha.”
“Esqueceu? Tentaram alguma coisa com você?”
“Nada, não fui estuprada. Só fiz xixi na calça.”
Kátia Flávia
Pergunto-me que efeito terão as calcinhas antiestupro no imaginário masculino. Nos parágrafos de abertura do romance “Misto-quente”, Charles Bukowski evoca suas primeiras lembranças descrevendo a visão de um menino sob uma mesa olhando pernas de adultos que se movimentam à sua volta. Lembro de situações semelhantes em que ficava sob a mesa (ou a escada) ansiando pelo vislumbre de uma calcinha. Para um menino, a visão de uma calcinha é sempre impactante e reveladora das complexidades do mundo. Garotos gastam muito tempo de suas infâncias e adolescências em busca de relances de uma calcinha. Não importa que essa visão seja dificultada por saias, minissaias, vestidos, batas, shortinhos ou uniformes escolares. Quando se avista uma calcinha experimenta-se a sensação de vitória. Até mesmo meninos afegãos de comunidades talibãs anseiam pela visão de calcinhas brancas sob burcas negras.
Kátia Flávia, a Godiva do Irajá, personagem da canção de Fausto Fawcett, uma “gostosona que só usa calcinhas comestíveis e bélicas, dessas com armamentos bordados”, depois de roubar um carro da polícia, avisa pelo rádio: “Alô, polícia! Eu tô usando um Exocet-calcinha! Calcinha bordadinha, calcinha de rendinha, calcinha geladinha…”
A canção não nos revela qual foi a reação dos policiais às provocações da louraça enlouquecida.
Maio de 1968
Em 1968 passei alguns meses na Europa por conta de pesquisas acadêmicas que meus pais realizavam. Enquanto eles viajavam pelo continente, eu e minha irmã ficávamos aos cuidados de nossa avó paterna, hospedados em casa de parentes na Póvoa do Rio de Moinhos, uma aldeia de 500 habitantes localizada na Beira Baixa, região central de Portugal. Eu tinha oito anos. Numa manhã saí em companhia de uma tia, a tia Saraiva, para acompanhá-la em sua rotina de colher couves e batatas pelos campos. A tia se parecia com uma bruxa, vestida de preto, com um nariz enorme, rosto enrugado e boca banguela. Tia Saraiva me colocou sobre uma mula enquanto caminhava ao meu lado por uma estradinha cercada de muros medievais que demarcavam terrenos com oliveiras. A mula, acostumada ao trajeto, mantinha o passo mesmo quando tia Saraiva se afastava momentaneamente para pegar um galho de árvore ou observar o voo de um pássaro. Numa curva, perdi a tia de vista e, sem saber como desmontar da mula, achei que me perderia para sempre naquele lugar estranho e desolado. Virei o rosto desesperado e a avistei de pé no meio da estrada, com as pernas abertas, urinando. Minha tia não usava calcinha. Ainda que muitas mulheres pelo mundo estivessem naquele momento queimando sutiãs em protesto contra a opressão masculina, foi observando aquela velha camponesa urinar que compreendi pela primeira vez a força da mulher.
Procriar e criar - LÚCIA GUIMARÃES
O Estado de S.Paulo - 09/12
Quando pesquisamos romancistas americanos na Wikipédia, encontramos uma subcategoria "Romancistas Mulheres" ("Female Novelists"). O substantivo romancista pode ser neutro, mas a existência da categoria sugere falta de neutralidade na percepção da criatividade literária feminina.
O detalhe me ocorreu quando alguém chamou a atenção sobre a indignada reação ao argumento da escritora Lauren Sandler, autora do livro One and Only: The Freedom of Having an Only Child, and the Joy of Being One (Um e Único: A Liberdade de Ter um Único Filho e a Alegria de Ser Uma Filha Única).
Sandler conta que, quando pesquisava o livro, descobriu quantas heroínas suas na literatura só tiveram um filho. A lista inclui Mary McCarthy, Margaret Atwood, Joan Didion, Susan Sontag e Margaret Atwood. Num artigo na revista Atlantic Monthly, em junho passado, Sandler defendeu sua tese citando uma resposta da romancista Alice Walker: "Com uma criança você pode se movimentar. Com mais de uma, se torna uma 'sitting duck'," e aqui destaco a expressão idiomática que alude a um pato sentado, ou seja, uma presa fácil para o caçador.
A ideia da maternidade como condição de vítima não é nova, claro, mas encontra uma angustiada audiência neste país onde vemos, cada vez mais, que criar uma criança deixa de ser visto como um esforço que deve envolver toda a sociedade - na escassez de creches, no desmonte do outrora orgulhoso sistema de educação pública e na falta de flexibilidade de empresas que punem a maternidade e a paternidade. Então, a privatização do que era visto como de interesse de todos inspira uma indústria de ansiedade e acusações.
A reação veio rápida e de romancistas cuja criatividade não pode ser questionada. Zadie Smith, dois filhos, autora de Dentes Brancos e Sobre a Beleza, protestou na seção de comentários. Lembrou que Charles Dickens e Tolstoi tiveram dez filhos cada um e sua obra não foi julgada com base na prole numerosa. O problema que aflige escritoras ou operárias, lembrou Smith, é a falta de tempo resultante da falta de apoio social e comunitário.
Jane Smiley, ganhadora do Pulitzer com A Herdade, 23 livros, três filhos e dois enteados no currículo, endossou o protesto, dizendo que sua obra prolífica é afilhada da generosa cidade do Estado de Iowa onde viveu vários anos com as crianças.
No filme Antes da Meia Noite, última parte da trilogia que começou com Antes do Amanhecer e continuou com Antes do Por do Sol, a personagem vivida por Julie Delpy revela seu ressentimento, quase 20 anos depois de encontrar o marido, vivido por Ethan Hawk. De férias na Grécia com as duas filhas, ela acusa o marido escritor de nunca ter deixado de ser criativo. Diz que ela tem o trabalho estável, toma conta da casa e das crianças. "E eu, quando tenho tempo para ser criativa?"
A estátua de Clarice Lispector na Praça Maciel Pinheiro, em Recife, representa a romancista com a máquina de escrever no colo porque era esta a sua rotina - trabalhar sentada no sofá com os filhos por perto. A mais admirada "romancista mulher" brasileira teve dois filhos e a nossa mais admirada poeta, Cecília Meireles, teve três filhas. Ana Maria Machado? Dois filhos e uma filha.
O que não significa, é claro, dizer que a falta de filhos é uma desvantagem criativa. A romancista Hilda Hilst não teve filhos. Seu pai era esquizofrênico. Ela contou que, depois de conversar com um médico sobre os riscos da hereditariedade da doença mental, desistiu de ser mãe.
Não fiz uma pesquisa como a autora Lauren Sandler, que foi buscar causa e efeito por conveniência própria. A ideia de que a imaginação pode ser embotada pela presença de múltiplos filhos é absurda. Se perguntarmos às artistas que conhecemos: conseguem separar sua imaginação criativa da aventura da maternidade?, alguém duvida que a resposta será um sonoro "Não"?
Quando pesquisamos romancistas americanos na Wikipédia, encontramos uma subcategoria "Romancistas Mulheres" ("Female Novelists"). O substantivo romancista pode ser neutro, mas a existência da categoria sugere falta de neutralidade na percepção da criatividade literária feminina.
O detalhe me ocorreu quando alguém chamou a atenção sobre a indignada reação ao argumento da escritora Lauren Sandler, autora do livro One and Only: The Freedom of Having an Only Child, and the Joy of Being One (Um e Único: A Liberdade de Ter um Único Filho e a Alegria de Ser Uma Filha Única).
Sandler conta que, quando pesquisava o livro, descobriu quantas heroínas suas na literatura só tiveram um filho. A lista inclui Mary McCarthy, Margaret Atwood, Joan Didion, Susan Sontag e Margaret Atwood. Num artigo na revista Atlantic Monthly, em junho passado, Sandler defendeu sua tese citando uma resposta da romancista Alice Walker: "Com uma criança você pode se movimentar. Com mais de uma, se torna uma 'sitting duck'," e aqui destaco a expressão idiomática que alude a um pato sentado, ou seja, uma presa fácil para o caçador.
A ideia da maternidade como condição de vítima não é nova, claro, mas encontra uma angustiada audiência neste país onde vemos, cada vez mais, que criar uma criança deixa de ser visto como um esforço que deve envolver toda a sociedade - na escassez de creches, no desmonte do outrora orgulhoso sistema de educação pública e na falta de flexibilidade de empresas que punem a maternidade e a paternidade. Então, a privatização do que era visto como de interesse de todos inspira uma indústria de ansiedade e acusações.
A reação veio rápida e de romancistas cuja criatividade não pode ser questionada. Zadie Smith, dois filhos, autora de Dentes Brancos e Sobre a Beleza, protestou na seção de comentários. Lembrou que Charles Dickens e Tolstoi tiveram dez filhos cada um e sua obra não foi julgada com base na prole numerosa. O problema que aflige escritoras ou operárias, lembrou Smith, é a falta de tempo resultante da falta de apoio social e comunitário.
Jane Smiley, ganhadora do Pulitzer com A Herdade, 23 livros, três filhos e dois enteados no currículo, endossou o protesto, dizendo que sua obra prolífica é afilhada da generosa cidade do Estado de Iowa onde viveu vários anos com as crianças.
No filme Antes da Meia Noite, última parte da trilogia que começou com Antes do Amanhecer e continuou com Antes do Por do Sol, a personagem vivida por Julie Delpy revela seu ressentimento, quase 20 anos depois de encontrar o marido, vivido por Ethan Hawk. De férias na Grécia com as duas filhas, ela acusa o marido escritor de nunca ter deixado de ser criativo. Diz que ela tem o trabalho estável, toma conta da casa e das crianças. "E eu, quando tenho tempo para ser criativa?"
A estátua de Clarice Lispector na Praça Maciel Pinheiro, em Recife, representa a romancista com a máquina de escrever no colo porque era esta a sua rotina - trabalhar sentada no sofá com os filhos por perto. A mais admirada "romancista mulher" brasileira teve dois filhos e a nossa mais admirada poeta, Cecília Meireles, teve três filhas. Ana Maria Machado? Dois filhos e uma filha.
O que não significa, é claro, dizer que a falta de filhos é uma desvantagem criativa. A romancista Hilda Hilst não teve filhos. Seu pai era esquizofrênico. Ela contou que, depois de conversar com um médico sobre os riscos da hereditariedade da doença mental, desistiu de ser mãe.
Não fiz uma pesquisa como a autora Lauren Sandler, que foi buscar causa e efeito por conveniência própria. A ideia de que a imaginação pode ser embotada pela presença de múltiplos filhos é absurda. Se perguntarmos às artistas que conhecemos: conseguem separar sua imaginação criativa da aventura da maternidade?, alguém duvida que a resposta será um sonoro "Não"?
Objetificação sem drama - DANIEL GALERA
O GLOBO - 09/12
O debate sobre o tema esquentou por causa do aplicativo Lulu; o problema é quando a discussão desemboca para o revanchismo
Não vejo problema nenhum em objetificar os outros sexualmente, independente de gênero e identidade sexual. Aprovo e incentivo. Se admitimos que o desejo é uma emoção complexa que envolve pulsões irracionais, o tratamento de outro ser humano como um objeto no contexto sexual precisa ser visto com naturalidade.
Em texto publicado no “New York Times”, o psicólogo e cientista cognitivo Paul Bloom comentou estudos, baseados na observação de imagens eróticas e na administração de choques elétricos, que confirmam a “natureza corporal de muitos de nossos sentimentos morais”. Os resultados mostraram que é mais difícil ver pessoas nuas como agentes livres. Por outro lado, elas também nos parecem mais capazes de ter experiências emocionais, o que é essencial para a prática da empatia e da compaixão. O que os estudos não mostram, ressalta Bloom, é até que ponto essas reações negativas e positivas afetam nossos relacionamentos complexos e de longa duração com outros seres humanos.
É certo que a objetificação pode acarretar tendências de comportamento malignas, e não por acaso essa é uma pauta constante do feminismo. Historicamente, o impulso de objetificação sexual embutido no desejo dos homens pelas mulheres se resolve, não raro, em condutas desrespeitosas e degradantes, com ampla aceitação social. Reivindicar um tratamento mais respeitoso, nos âmbitos público e privado, é justo e necessário. O problema é quando a causa desemboca no revanchismo — apoiado numa noção equivocada de reparação histórica — e na vitimização, postura essa que combina a denúncia de opressão em todo e qualquer comportamento masculino com uma diminuição autoinfligida da agência e do poder da mulher sobre seu corpo, seus atos e seus pensamentos, como se um olhar lascivo na rua pudesse de fato aniquilar a consciência e a liberdade de uma pessoa, reduzindo-a a um pedaço de carne “público” ou da propriedade de um babaca qualquer.
O debate a respeito da objetificação sexual esquentou nas últimas semanas por causa do sucesso do Lulu, aplicativo de Facebook usados por mulheres para compartilhar avaliações de parceiros sexuais. O anúncio do Tubby, versão masculina do Lulu, causou barulho com suas hashtags vulgares e chegou a ser proibido com base na Lei Maria da Penha, mas na última sexta revelou-se que o aplicativo era uma pegadinha.
Na “Folha de S. Paulo”, Talyta Carvalho publicou um artigo chamado “Lulus ofendidas”, na qual critica a reação da parcela mais exaltada de defensoras do Lulu contra os homens que se sentiram ofendidos pelo aplicativo. Ela aponta o perigo da visão da “falsa simetria”, segundo a qual é impossível comparar homens e mulheres por causa da “dívida histórica”, e conclama as mulheres a transcenderem a lógica revanchista. Acho que Talyta exagera ao zombar do desejo de privacidade que algumas pessoas ainda procuram em tempos digitais. É ingênuo, sim, clamar por privacidade quando se tem um perfil de Facebook recheado em tempo real com nossa intimidade, mas é válido protestar contra práticas abusivas nas redes sociais ou abdicar delas completamente por não concordar com a palhaçada. Ela também pesa a mão ao equacionar “décadas de feminismo” com políticas de ressentimento, o que é injusto com as muitas conquistas importantes do feminismo e com as mulheres não ressentidas. Mas acerta ao lembrar que o sexismo trafega nos dois sentidos e ao minimizar o drama todo da objetificação, afinal “tudo é objeto”.
A objetificação sexual é humana. É ingrediente nobre da dinâmica do desejo. O verdadeiro problema com o Lulu é que ele desumaniza a objetificação ao enquadrá-la em modelos informáticos e mercadológicos que mascaram a realidade suja, ambígua e diversificada das relações sensuais e afetivas. É saudável imaginar sexo com o corpo de uma pessoa atraente passando pela rua em trajes sumários, ignorando a existência de sua liberdade, sonhos e pensamentos, assim como coisificar alguém estrategicamente entre quatro paredes ou compartilhar, em privado, histórias sexuais com amigos. Reduzir tudo isso a formulários e tags de um aplicativo que vampiriza perfis em redes sociais com fins de monetização, bom, aí começa a ficar meio triste.
Em “O erotismo”, Georges Bataille salienta que a transgressão de tabus é essencial ao desejo. Dentro do convívio social, a transgressão é prevista, às vezes permitida ou mesmo incentivada. “Podemos chegar ao ponto de fazer uma proposição absurda: o tabu existe precisamente para ser violado”, diz. No ambiente pós-feminista, transgredir o respeito à individualidade e à autonomia de mulheres e homens exige tato e responsabilidade, e com isso a objetificação sexual ganha posição um pouco diferente em nossa cartela de tabus. Mas é hipocrisia pensar que ela deve cair fora. Ninguém engana o desejo.
O debate sobre o tema esquentou por causa do aplicativo Lulu; o problema é quando a discussão desemboca para o revanchismo
Não vejo problema nenhum em objetificar os outros sexualmente, independente de gênero e identidade sexual. Aprovo e incentivo. Se admitimos que o desejo é uma emoção complexa que envolve pulsões irracionais, o tratamento de outro ser humano como um objeto no contexto sexual precisa ser visto com naturalidade.
Em texto publicado no “New York Times”, o psicólogo e cientista cognitivo Paul Bloom comentou estudos, baseados na observação de imagens eróticas e na administração de choques elétricos, que confirmam a “natureza corporal de muitos de nossos sentimentos morais”. Os resultados mostraram que é mais difícil ver pessoas nuas como agentes livres. Por outro lado, elas também nos parecem mais capazes de ter experiências emocionais, o que é essencial para a prática da empatia e da compaixão. O que os estudos não mostram, ressalta Bloom, é até que ponto essas reações negativas e positivas afetam nossos relacionamentos complexos e de longa duração com outros seres humanos.
É certo que a objetificação pode acarretar tendências de comportamento malignas, e não por acaso essa é uma pauta constante do feminismo. Historicamente, o impulso de objetificação sexual embutido no desejo dos homens pelas mulheres se resolve, não raro, em condutas desrespeitosas e degradantes, com ampla aceitação social. Reivindicar um tratamento mais respeitoso, nos âmbitos público e privado, é justo e necessário. O problema é quando a causa desemboca no revanchismo — apoiado numa noção equivocada de reparação histórica — e na vitimização, postura essa que combina a denúncia de opressão em todo e qualquer comportamento masculino com uma diminuição autoinfligida da agência e do poder da mulher sobre seu corpo, seus atos e seus pensamentos, como se um olhar lascivo na rua pudesse de fato aniquilar a consciência e a liberdade de uma pessoa, reduzindo-a a um pedaço de carne “público” ou da propriedade de um babaca qualquer.
O debate a respeito da objetificação sexual esquentou nas últimas semanas por causa do sucesso do Lulu, aplicativo de Facebook usados por mulheres para compartilhar avaliações de parceiros sexuais. O anúncio do Tubby, versão masculina do Lulu, causou barulho com suas hashtags vulgares e chegou a ser proibido com base na Lei Maria da Penha, mas na última sexta revelou-se que o aplicativo era uma pegadinha.
Na “Folha de S. Paulo”, Talyta Carvalho publicou um artigo chamado “Lulus ofendidas”, na qual critica a reação da parcela mais exaltada de defensoras do Lulu contra os homens que se sentiram ofendidos pelo aplicativo. Ela aponta o perigo da visão da “falsa simetria”, segundo a qual é impossível comparar homens e mulheres por causa da “dívida histórica”, e conclama as mulheres a transcenderem a lógica revanchista. Acho que Talyta exagera ao zombar do desejo de privacidade que algumas pessoas ainda procuram em tempos digitais. É ingênuo, sim, clamar por privacidade quando se tem um perfil de Facebook recheado em tempo real com nossa intimidade, mas é válido protestar contra práticas abusivas nas redes sociais ou abdicar delas completamente por não concordar com a palhaçada. Ela também pesa a mão ao equacionar “décadas de feminismo” com políticas de ressentimento, o que é injusto com as muitas conquistas importantes do feminismo e com as mulheres não ressentidas. Mas acerta ao lembrar que o sexismo trafega nos dois sentidos e ao minimizar o drama todo da objetificação, afinal “tudo é objeto”.
A objetificação sexual é humana. É ingrediente nobre da dinâmica do desejo. O verdadeiro problema com o Lulu é que ele desumaniza a objetificação ao enquadrá-la em modelos informáticos e mercadológicos que mascaram a realidade suja, ambígua e diversificada das relações sensuais e afetivas. É saudável imaginar sexo com o corpo de uma pessoa atraente passando pela rua em trajes sumários, ignorando a existência de sua liberdade, sonhos e pensamentos, assim como coisificar alguém estrategicamente entre quatro paredes ou compartilhar, em privado, histórias sexuais com amigos. Reduzir tudo isso a formulários e tags de um aplicativo que vampiriza perfis em redes sociais com fins de monetização, bom, aí começa a ficar meio triste.
Em “O erotismo”, Georges Bataille salienta que a transgressão de tabus é essencial ao desejo. Dentro do convívio social, a transgressão é prevista, às vezes permitida ou mesmo incentivada. “Podemos chegar ao ponto de fazer uma proposição absurda: o tabu existe precisamente para ser violado”, diz. No ambiente pós-feminista, transgredir o respeito à individualidade e à autonomia de mulheres e homens exige tato e responsabilidade, e com isso a objetificação sexual ganha posição um pouco diferente em nossa cartela de tabus. Mas é hipocrisia pensar que ela deve cair fora. Ninguém engana o desejo.
Lulu - MARION STRECKER
FOLHA DE SP - 09/12
Rapazes, não se preocupem. Ele há de morrer. Nenhuma empresa dura para sempre, muito menos na internet
Outro dia alguns amigos da minha filha, de 15 anos, saíram de casa pedindo por favor que as meninas da turma deixassem boas avaliações sobre eles no aplicativo Lulu, a mais nova febre de quem usa celular e tem tempo sobrando para essas coisas. Elas prometeram que sim, mas não sei se fizeram.
No Lulu, as avaliações são supostamente anônimas. Ninguém assina crítica nem elogio. Se não confiarem na palavra delas, nenhum rapaz vai jamais saber quem o avaliou. A não ser que trabalhe no Lulu ou seja um hacker poderoso.
O Lulu permite que mulheres que usam o Facebook classifiquem seus contatos naquela rede social com base em palavras-chave (acompanhadas de hashtags) que o software oferece previamente.
Entre elas estão: #nãoquernadacomnada, #apaixonadopelaex, #perfeitoparaminhairmã, #bebesemcair, #feioarrumadinho, #lindotesãobonitoegostosão, #curteoromerobritto, #prefereovideogame, #semmedodeserfofo, #tocavuvuzela, #piormassagemdomundo, #maisbaratoquepãonachapa, #semlimites, #lavaroupa, #deletahistorico e #nãoliganodiaseguinte".
Convenhamos que o software tem certo humor e permite boas risadas. Para elas. Quando os alvos dos comentários não são sujeitos tão importantes. Para elas. No momento.
Consta que vingança é um dos motores dos comentários. Outro motor poderia ser o despiste. Fale mal de alguém para que fique subfaturado na praça, a ponto de ninguém querer adquiri-lo.
Não estou exagerando. Um dos argumentos dos defensores do Lulu é o seguinte: se qualquer produto pode ter avaliações publicadas na internet, por que não os homens? Sim, eu disse produto. Não, eu não concordo. Aliás, detesto.
O Lulu não pertence ao Facebook, mas usa sua base de dados. Já temos rapazes surpreendidos ao saber que estavam sendo avaliados publicamente e nem poderiam verificar que avaliação estavam recebendo, a não ser que uma alma caridosa (ou odiosa) enviasse foto da tela do celular com sua nota e os adjetivos recebidos pelo gajo.
O Lulu usa um truque antiquíssimo da internet, o tal do opt-out. Consiste no seguinte: todo mundo faz o que quiser com seu endereço de e-mail, seu perfil do Facebook, seu cadastro de loja etc. Até você reclamar, espernear, denunciar, processar ou qualquer coisa do gênero.
O oposto de opt-out é o opt-in, um sistema mais civilizado, daqueles que os marqueteiros desdenham, porque é menos agressivo e portanto menos eficaz. O opt-in é a lógica que faz com que uma empresa só mande informações, promoções, boletins se você pedir.
Essas variações de valores e perspectivas são típicas da internet, que glorifica a ruptura, a ruína de modelos de negócio (em inglês "disruption"). O Facebook cresceu e apareceu justamente porque há ali muita informação real, de pessoas reais. Só que, com o Lulu, transformou-se em ponte para o anonimato.
Rapazes, não se preocupem. Embora os números que o Lulu divulgue sejam grandes, muitas garotas não baixaram, não pretendem baixar e, se baixaram, foi só para espiar e ver como funciona, como eu.
Como surgiu, há de morrer. Nenhuma empresa dura para sempre. Muito menos na internet.
Rapazes, não se preocupem. Ele há de morrer. Nenhuma empresa dura para sempre, muito menos na internet
Outro dia alguns amigos da minha filha, de 15 anos, saíram de casa pedindo por favor que as meninas da turma deixassem boas avaliações sobre eles no aplicativo Lulu, a mais nova febre de quem usa celular e tem tempo sobrando para essas coisas. Elas prometeram que sim, mas não sei se fizeram.
No Lulu, as avaliações são supostamente anônimas. Ninguém assina crítica nem elogio. Se não confiarem na palavra delas, nenhum rapaz vai jamais saber quem o avaliou. A não ser que trabalhe no Lulu ou seja um hacker poderoso.
O Lulu permite que mulheres que usam o Facebook classifiquem seus contatos naquela rede social com base em palavras-chave (acompanhadas de hashtags) que o software oferece previamente.
Entre elas estão: #nãoquernadacomnada, #apaixonadopelaex, #perfeitoparaminhairmã, #bebesemcair, #feioarrumadinho, #lindotesãobonitoegostosão, #curteoromerobritto, #prefereovideogame, #semmedodeserfofo, #tocavuvuzela, #piormassagemdomundo, #maisbaratoquepãonachapa, #semlimites, #lavaroupa, #deletahistorico e #nãoliganodiaseguinte".
Convenhamos que o software tem certo humor e permite boas risadas. Para elas. Quando os alvos dos comentários não são sujeitos tão importantes. Para elas. No momento.
Consta que vingança é um dos motores dos comentários. Outro motor poderia ser o despiste. Fale mal de alguém para que fique subfaturado na praça, a ponto de ninguém querer adquiri-lo.
Não estou exagerando. Um dos argumentos dos defensores do Lulu é o seguinte: se qualquer produto pode ter avaliações publicadas na internet, por que não os homens? Sim, eu disse produto. Não, eu não concordo. Aliás, detesto.
O Lulu não pertence ao Facebook, mas usa sua base de dados. Já temos rapazes surpreendidos ao saber que estavam sendo avaliados publicamente e nem poderiam verificar que avaliação estavam recebendo, a não ser que uma alma caridosa (ou odiosa) enviasse foto da tela do celular com sua nota e os adjetivos recebidos pelo gajo.
O Lulu usa um truque antiquíssimo da internet, o tal do opt-out. Consiste no seguinte: todo mundo faz o que quiser com seu endereço de e-mail, seu perfil do Facebook, seu cadastro de loja etc. Até você reclamar, espernear, denunciar, processar ou qualquer coisa do gênero.
O oposto de opt-out é o opt-in, um sistema mais civilizado, daqueles que os marqueteiros desdenham, porque é menos agressivo e portanto menos eficaz. O opt-in é a lógica que faz com que uma empresa só mande informações, promoções, boletins se você pedir.
Essas variações de valores e perspectivas são típicas da internet, que glorifica a ruptura, a ruína de modelos de negócio (em inglês "disruption"). O Facebook cresceu e apareceu justamente porque há ali muita informação real, de pessoas reais. Só que, com o Lulu, transformou-se em ponte para o anonimato.
Rapazes, não se preocupem. Embora os números que o Lulu divulgue sejam grandes, muitas garotas não baixaram, não pretendem baixar e, se baixaram, foi só para espiar e ver como funciona, como eu.
Como surgiu, há de morrer. Nenhuma empresa dura para sempre. Muito menos na internet.
Que Copa, hein? - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 09/12
A delegação italiana que foi à Costa do Sauípe assistir, sexta, ao sorteio dos grupos da Copa por pouco não perdeu o avião de volta.
Eles ficaram presos num engarrafamento de quase duas horas até chegar ao aeroporto de Salvador, sem que houvesse ninguém para ajudar a abrir caminho.
País dos cartolas
Enquanto isso, Joseph Blatter, presidente da Fifa, andava escoltado por 30 batedores de moto.
Aliás...
O jornalão francês Le Monde estampou sábado matéria com o título: “No Brasil, sinais de inquietude se multiplicam antes da Copa do Mundo".
Diz lá que, a seis meses da Copa, além das obras em atraso e dos movimentos sociais, o transporte e a segurança são temas que semeiam inquietude, passíveis de perturbar o Mundial.
Mas...
A ação de vândalos ontem no jogo do Vasco contra o Atlético Paranaense vai reforçar, ainda mais, as preocupações em relação à Copa.
Só dá futebol
Em tempos de Copa, veja a força do esporte de Neymar.
Uma pesquisa da Portas Consultoria com 27 empresas, sobre investimento em esportes, concluiu que 60% das verbas vão para o futebol.
Varig, Varig, Varig
Quarta agora, dia 11, o STF retoma o julgamento daquela ação bilionária de defasagem tarifária da Varig.
O primeiro voto, da ministra Cármen Lúcia, foi favorável aos trabalhadores da antiga aviadora.
Retratos da vida
Uma mulher, ao se reconciliar com o seu ex-marido, descobriu que estava grávida de outro, fruto de uma relação no período da separação. O marido aceitou assumir a criança do outro.
Só que a reconciliação não deu certo.
Vida que segue...
Aí, o pai verdadeiro entrou na Justiça pedindo anulação do registro de nascimento da criança.
Mas a 2ª Câmara Cível do Rio recusou e reconheceu a “paternidade socioafetiva" do ex-marido.
Causa ganha pela advogada Lola Vainstok.
Homem de ferro
A Intrínseca acaba de adquirir os direitos da biografia do magnata da tecnologia Elon Musk, considerado pelos americanos o Tony Stark (“Homem de Ferro") da vida real.
Ele é criador e presidente de uma empresa privada de ônibus espaciais e viagens ao espaço, a SpaceX, e CEO da Tesla Motors, que desenvolve veículos movidos a eletricidade. O livro tem previsão para lançamento em 2014.
Viva a folia!
Veja como vai ser a estampa da camiseta do querido bloco Carmelitas para o carnaval de 2014. É obra do designer Luiz de França, o Zod.
O lançamento será amanhã, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa.
Luta com música
O Movimento Down lança, quarta agora, na Casa Daros, no Rio, um CD para divulgar a luta pela inclusão de pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual na sociedade.
O álbum “Toda cor" promove encontros inusitados, como o de João Gordo e Elza Soares, cantando “É tão lindo", do Balão Mágico.
Eu apoio.
Livro de ouro
Lembra-se do ex-jogador Donizete, conhecido como Pantera, que foi campeão no Botafogo e no Vasco?
Cobra R$ 2.500 para participar de festas de fim de ano em empresas. E diz que está com todos os dias reservados.
Navalha na carne
A Golden Cross, como se sabe, repassou em outubro parte de seus associados para a Unimed.
De lá para cá o que se diz é que a operadora de planos de saúde demitiu uns 120 funcionários, alguns com mais de 20 anos de casa.
Tango de Cazuza
Fazem sucesso dentro dos vagões do metrô carioca dois argentinos cantando rock brasileiro. O forte do repertório é Cazuza.
O “show” dura uns 20 minutos e vira humor escrachado toda vez que um segurança entra no veículo e os dois fingem ser apenas passageiros.
A turma adora.
A delegação italiana que foi à Costa do Sauípe assistir, sexta, ao sorteio dos grupos da Copa por pouco não perdeu o avião de volta.
Eles ficaram presos num engarrafamento de quase duas horas até chegar ao aeroporto de Salvador, sem que houvesse ninguém para ajudar a abrir caminho.
País dos cartolas
Enquanto isso, Joseph Blatter, presidente da Fifa, andava escoltado por 30 batedores de moto.
Aliás...
O jornalão francês Le Monde estampou sábado matéria com o título: “No Brasil, sinais de inquietude se multiplicam antes da Copa do Mundo".
Diz lá que, a seis meses da Copa, além das obras em atraso e dos movimentos sociais, o transporte e a segurança são temas que semeiam inquietude, passíveis de perturbar o Mundial.
Mas...
A ação de vândalos ontem no jogo do Vasco contra o Atlético Paranaense vai reforçar, ainda mais, as preocupações em relação à Copa.
Só dá futebol
Em tempos de Copa, veja a força do esporte de Neymar.
Uma pesquisa da Portas Consultoria com 27 empresas, sobre investimento em esportes, concluiu que 60% das verbas vão para o futebol.
Varig, Varig, Varig
Quarta agora, dia 11, o STF retoma o julgamento daquela ação bilionária de defasagem tarifária da Varig.
O primeiro voto, da ministra Cármen Lúcia, foi favorável aos trabalhadores da antiga aviadora.
Retratos da vida
Uma mulher, ao se reconciliar com o seu ex-marido, descobriu que estava grávida de outro, fruto de uma relação no período da separação. O marido aceitou assumir a criança do outro.
Só que a reconciliação não deu certo.
Vida que segue...
Aí, o pai verdadeiro entrou na Justiça pedindo anulação do registro de nascimento da criança.
Mas a 2ª Câmara Cível do Rio recusou e reconheceu a “paternidade socioafetiva" do ex-marido.
Causa ganha pela advogada Lola Vainstok.
Homem de ferro
A Intrínseca acaba de adquirir os direitos da biografia do magnata da tecnologia Elon Musk, considerado pelos americanos o Tony Stark (“Homem de Ferro") da vida real.
Ele é criador e presidente de uma empresa privada de ônibus espaciais e viagens ao espaço, a SpaceX, e CEO da Tesla Motors, que desenvolve veículos movidos a eletricidade. O livro tem previsão para lançamento em 2014.
Viva a folia!
Veja como vai ser a estampa da camiseta do querido bloco Carmelitas para o carnaval de 2014. É obra do designer Luiz de França, o Zod.
O lançamento será amanhã, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa.
Luta com música
O Movimento Down lança, quarta agora, na Casa Daros, no Rio, um CD para divulgar a luta pela inclusão de pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual na sociedade.
O álbum “Toda cor" promove encontros inusitados, como o de João Gordo e Elza Soares, cantando “É tão lindo", do Balão Mágico.
Eu apoio.
Livro de ouro
Lembra-se do ex-jogador Donizete, conhecido como Pantera, que foi campeão no Botafogo e no Vasco?
Cobra R$ 2.500 para participar de festas de fim de ano em empresas. E diz que está com todos os dias reservados.
Navalha na carne
A Golden Cross, como se sabe, repassou em outubro parte de seus associados para a Unimed.
De lá para cá o que se diz é que a operadora de planos de saúde demitiu uns 120 funcionários, alguns com mais de 20 anos de casa.
Tango de Cazuza
Fazem sucesso dentro dos vagões do metrô carioca dois argentinos cantando rock brasileiro. O forte do repertório é Cazuza.
O “show” dura uns 20 minutos e vira humor escrachado toda vez que um segurança entra no veículo e os dois fingem ser apenas passageiros.
A turma adora.
JOIA RARA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 09/12
Jade debutou como modelo ao mesmo tempo em que festejava seus 15 anos em novembro. Filha da designer Elisa Stecca, ela posou para o primeiro ensaio profissional para a grife de joias da mãe.
"Cada um apresenta a filha à sociedade como sabe. O meu jeito foi escolher a Jade como rosto do catálogo de verão", diz Elisa, que usou apenas metal nas criações. "Ela é a pedra preciosa da coleção."
NO MESMO LUGAR
A presidente Dilma Rousseff está sofrendo pressão de ministros que não querem deixar o cargo antes de abril. Entre outros está Alexandre Padilha, da Saúde, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento. Candidatos ao governo em São Paulo e Minas Gerais, eles não querem perder a vitrine do governo federal.
PRESENTE
A presidente, no entanto, está inclinada a fazer a reforma de sua equipe de uma só vez. E já marcou data para se debruçar quase que exclusivamente sobre o tema: o próximo sábado, 14 de dezembro --dia de seu aniversário.
INTERVALO
Pelos planos iniciais, Dilma intensifica as negociações partidárias até dezembro. Sai de férias, reflete, volta a Brasília no dia 6 de janeiro e anuncia a sua decisão.
TCHAU, DILMA
A vontade de mudar todo o ministério de uma vez decorre de uma constatação: quase nenhum ministro candidato trabalha às sextas-feiras, por exemplo. Todos viajam às suas bases eleitorais. Estão no governo, mas com a cabeça longe de Brasília.
PODE SER
E Dilma deu sinais de que Aloizio Mercadante, da Educação, pode mesmo ocupar a Casa Civil em 2014.
Ele, por sinal, é um dos poucos que, em geral, ficam às sextas na capital.
SEM FALTA
Um auxiliar direto do secretário Herman Voorwald, da Educação de SP, impôs importante derrota ao governo de Geraldo Alckmin: ele desempatou a favor dos professores, numa votação do conselho da pasta, proposta que permite aos profissionais ter até 16 faltas anuais, sem que elas contem pontos negativos quando buscam promoção. Até então o teto era de seis faltas.
SEM FALTA 2
João Cardoso Palma Filho, que era secretário-adjunto de Voorwald, foi exonerado. "Pedi demissão", afirma. Das 16 faltas, dez podem ser ausências para que o profissional vá a reuniões sindicais. A secretaria diz que ele votou contra a "principal linha da gestão", a de "manter o professor na sala de aula".
RECADO
Mais de 15 milhões de mensagens serão enviadas para celulares a partir de hoje para incentivar a doação de sangue em SP. Parceria da Secretaria de Estado da Saúde com a Claro, a campanha busca reforçar estoques nos hospitais públicos no fim de ano.
SAÚDE
O empresário da noite Ricardo Amaral e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, lançam na quinta em SP o "Guia dos Guias Boni & Amaral". Amigos há 55 anos, eles dão dicas de cem restaurantes do mundo.
VEM BRINCAR
Amaral ainda prepara o lançamento de várias biografias --autorizadas --em 2014, pelo selo Quitanda e Casa da Palavra. A vida de Alexandre Accioly será contada em "Não Sabe Brincar, Não Desce Pro Play", a de Luiz Carlos Barreto, em "Tudo a Declarar". Michael Koellreutter lançará "Intimidades", com perfis de pessoas como Márcio Thomaz Bastos, Roberto Campos e Roberta Close.
TUDO VERDE
A corrida pela produção do etanol de segunda geração, a partir do bagaço da cana, reunirá especialistas em seminário amanhã no Palácio dos Bandeirantes. "É um desdobramento da Rio+20", diz Mário Garnero, do Fórum das Américas, que organiza o encontro. Os secretários estaduais de Energia, José Aníbal, e de Agricultura, Mônica Bergamaschi, vão participar.
ENCONTRO DE CLASSE
O MDA (Movimento de Defesa da Advocacia) organizou almoço de confraternização na Sociedade Harmonia de Tênis. Os advogados Marcelo Knopfelmacher, presidente da entidade, Cibele Toldo, Arystóbulo Freitas e Márcio Kayatt estiveram na reunião.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Caco Azulgaray, presidente da Editora Três, recebeu os homenageados na entrega do prêmio Brasileiros do Ano 2013, das revistas do grupo. O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o empresário Joesley Batista, casado com a jornalista Ticiana Villas Boas, foram premiados. A atriz Gloria Pires, com marido, o cantor Orlando Morais, e a top Ana Beatriz Barros também foram destaques da noite.
CURTO-CIRCUITO
Arnaldo Antunes apresenta o CD "Disco", hoje, na Saraiva do shopping Pátio Paulista, às 19h30.
O livro "Sexo com Todas as Letras", organizado por João Luiz Vieira, será lançado na SP Escola de Teatro, hoje, às 20h.
Oskar Metsavaht faz palestra hoje no Clinton Global Initiative, no Rio.
O Prêmio Magneti Marelli de Cinema Italiano será entregue hoje, às 20h30, no Reserva Cultural.
A cabine fotográfica do Studio Harcourt em SP será inaugurada hoje, no Citroën Centre Oscar Freire.
"Cada um apresenta a filha à sociedade como sabe. O meu jeito foi escolher a Jade como rosto do catálogo de verão", diz Elisa, que usou apenas metal nas criações. "Ela é a pedra preciosa da coleção."
NO MESMO LUGAR
A presidente Dilma Rousseff está sofrendo pressão de ministros que não querem deixar o cargo antes de abril. Entre outros está Alexandre Padilha, da Saúde, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento. Candidatos ao governo em São Paulo e Minas Gerais, eles não querem perder a vitrine do governo federal.
PRESENTE
A presidente, no entanto, está inclinada a fazer a reforma de sua equipe de uma só vez. E já marcou data para se debruçar quase que exclusivamente sobre o tema: o próximo sábado, 14 de dezembro --dia de seu aniversário.
INTERVALO
Pelos planos iniciais, Dilma intensifica as negociações partidárias até dezembro. Sai de férias, reflete, volta a Brasília no dia 6 de janeiro e anuncia a sua decisão.
TCHAU, DILMA
A vontade de mudar todo o ministério de uma vez decorre de uma constatação: quase nenhum ministro candidato trabalha às sextas-feiras, por exemplo. Todos viajam às suas bases eleitorais. Estão no governo, mas com a cabeça longe de Brasília.
PODE SER
E Dilma deu sinais de que Aloizio Mercadante, da Educação, pode mesmo ocupar a Casa Civil em 2014.
Ele, por sinal, é um dos poucos que, em geral, ficam às sextas na capital.
SEM FALTA
Um auxiliar direto do secretário Herman Voorwald, da Educação de SP, impôs importante derrota ao governo de Geraldo Alckmin: ele desempatou a favor dos professores, numa votação do conselho da pasta, proposta que permite aos profissionais ter até 16 faltas anuais, sem que elas contem pontos negativos quando buscam promoção. Até então o teto era de seis faltas.
SEM FALTA 2
João Cardoso Palma Filho, que era secretário-adjunto de Voorwald, foi exonerado. "Pedi demissão", afirma. Das 16 faltas, dez podem ser ausências para que o profissional vá a reuniões sindicais. A secretaria diz que ele votou contra a "principal linha da gestão", a de "manter o professor na sala de aula".
RECADO
Mais de 15 milhões de mensagens serão enviadas para celulares a partir de hoje para incentivar a doação de sangue em SP. Parceria da Secretaria de Estado da Saúde com a Claro, a campanha busca reforçar estoques nos hospitais públicos no fim de ano.
SAÚDE
O empresário da noite Ricardo Amaral e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, lançam na quinta em SP o "Guia dos Guias Boni & Amaral". Amigos há 55 anos, eles dão dicas de cem restaurantes do mundo.
VEM BRINCAR
Amaral ainda prepara o lançamento de várias biografias --autorizadas --em 2014, pelo selo Quitanda e Casa da Palavra. A vida de Alexandre Accioly será contada em "Não Sabe Brincar, Não Desce Pro Play", a de Luiz Carlos Barreto, em "Tudo a Declarar". Michael Koellreutter lançará "Intimidades", com perfis de pessoas como Márcio Thomaz Bastos, Roberto Campos e Roberta Close.
TUDO VERDE
A corrida pela produção do etanol de segunda geração, a partir do bagaço da cana, reunirá especialistas em seminário amanhã no Palácio dos Bandeirantes. "É um desdobramento da Rio+20", diz Mário Garnero, do Fórum das Américas, que organiza o encontro. Os secretários estaduais de Energia, José Aníbal, e de Agricultura, Mônica Bergamaschi, vão participar.
ENCONTRO DE CLASSE
O MDA (Movimento de Defesa da Advocacia) organizou almoço de confraternização na Sociedade Harmonia de Tênis. Os advogados Marcelo Knopfelmacher, presidente da entidade, Cibele Toldo, Arystóbulo Freitas e Márcio Kayatt estiveram na reunião.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Caco Azulgaray, presidente da Editora Três, recebeu os homenageados na entrega do prêmio Brasileiros do Ano 2013, das revistas do grupo. O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o empresário Joesley Batista, casado com a jornalista Ticiana Villas Boas, foram premiados. A atriz Gloria Pires, com marido, o cantor Orlando Morais, e a top Ana Beatriz Barros também foram destaques da noite.
CURTO-CIRCUITO
Arnaldo Antunes apresenta o CD "Disco", hoje, na Saraiva do shopping Pátio Paulista, às 19h30.
O livro "Sexo com Todas as Letras", organizado por João Luiz Vieira, será lançado na SP Escola de Teatro, hoje, às 20h.
Oskar Metsavaht faz palestra hoje no Clinton Global Initiative, no Rio.
O Prêmio Magneti Marelli de Cinema Italiano será entregue hoje, às 20h30, no Reserva Cultural.
A cabine fotográfica do Studio Harcourt em SP será inaugurada hoje, no Citroën Centre Oscar Freire.
Dada a largada - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 09/12
A presidente Dilma Rousseff liberou que seus dois comitês de campanha comecem a funcionar a partir de fevereiro. Um deles ficará em Brasília e concentrará a equipe política. Esse time cuidará de sua agenda, do programa de governo, dos partidos aliados e de parte da comunicação. O segundo ficará em São Paulo, e concentrará a arrecadação de recursos e a costura das alianças do PT pelo país. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, pilotará as duas equipes.
Hollywood O estúdio de TV e a equipe do marqueteiro João Santana também deverão se fixar em São Paulo.
"Luz, câmera" As equipes de TV do PT registraram em vídeo a participação da presidente Dilma no sorteio da Copa. A ideia é usar as imagens do evento na propaganda do ano que vem.
Pororoca 1 O novo presidente do PT paulista, Emídio Souza, convidou todos os partidos da base de Dilma para sua posse, hoje. Há chances de que o prefeito Fernando Haddad, o ex Gilberto Kassab e o vereador Antonio Donato (PT) se encontrem.
Pororoca 2 Donato deixou a Secretaria de Governo de Haddad depois de ser citado nas investigações da máfia dos auditores fiscais municipais, que também registram acusações contra a gestão de Kassab, seu antecessor.
Verde Fabio Feldmann, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, e José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente de FHC, oferecem jantar hoje, em São Paulo, ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Participam 50 ambientalistas de organizações não governamentais como o Greenpeace.
À mesa Eduardo Campos (PSB-PE) reuniu, no sábado, secretários e ex-secretários em sua casa para o tradicional almoço de fim de ano. Dentre os presentes estavam os petistas Humberto Costa e Fernando Duarte.
Café... Aliados de Aécio Neves se irritaram com a falta de empenho do governador Geraldo Alckmin na articulação de uma aliança com o PPS em torno da candidatura presidencial do mineiro.
... frio Parte dos 80 delegados do PPS paulista, que ocupa uma secretaria no governo Alckmin, votou a favor de um apoio da sigla a Eduardo Campos. "Delegados próximos a um secretário de Alckmin votam pelo apoio a Campos. Muito estranho, não?", diz um político do círculo de Aécio.
Olha eu Campos deve reforçar suas viagens pelo Nordeste na reta final do ano. Correligionários detectaram nas últimas pesquisas que o pré-candidato à Presidência ainda é desconhecido por 40% dos eleitores de sua própria região, taxa similar à que tem no Sul (41%).
Adesão Mesmo sem conversas formais sobre o tema, o nome de Silas Brasileiro (PMDB-MG) começa a ganhar o apoio tanto do Palácio do Planalto quanto de Michel Temer e da bancada peemedebista na Câmara para substituir Antonio Andrade no Ministério da Agricultura a partir da reforma da Esplanada, no início de 2014.
Livre... O Brasil ajudou a convencer Cuba a desistir de bloquear o acordo comercial da OMC, em Bali. Acionado pelo chanceler Luiz Alberto Figueiredo, que estava na Indonésia, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) telefonou de Brasília para o ministro do Comércio Exterior cubano Rodrigo Malmierca, de quem é amigo.
... e solto Quando a reunião foi retomada, a posição de Cuba havia mudado e o acordo comercial global entre 159 países, o primeiro em 20 anos, foi assinado.
tiroteio
"As licitações dos portos estão parecendo o Titanic: festa demais no lançamento e naufrágio previsto para o primeiro cruzeiro."
DO DEPUTADO FEDERAL MÁRCIO FRANÇA (PSB-SP), sobre a ameaça do TCU de suspender a concessão de portos no país por suspeita de direcionamento.
contraponto
O preço do machismo
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) explicava na Câmara, na quarta-feira, como será a atuação da PF na investigação do cartel do metrô em São Paulo. Foi defendido pelos líderes dos partidos aliados. Tudo ia bem até que a deputada Manoela D´Ávila, líder do PC do B e ex-namorada do ministro, pediu a palavra para defendê-lo. Ao terminar, ela ouviu do tucano Duarte Nogueira:
--Ah, tem razões que só o coração conhece!
As outras deputadas se revoltaram, teve início um bate-boca e Manoela reagiu:
--Se eu fosse um homem, o senhor não teria dito isso.
A presidente Dilma Rousseff liberou que seus dois comitês de campanha comecem a funcionar a partir de fevereiro. Um deles ficará em Brasília e concentrará a equipe política. Esse time cuidará de sua agenda, do programa de governo, dos partidos aliados e de parte da comunicação. O segundo ficará em São Paulo, e concentrará a arrecadação de recursos e a costura das alianças do PT pelo país. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, pilotará as duas equipes.
Hollywood O estúdio de TV e a equipe do marqueteiro João Santana também deverão se fixar em São Paulo.
"Luz, câmera" As equipes de TV do PT registraram em vídeo a participação da presidente Dilma no sorteio da Copa. A ideia é usar as imagens do evento na propaganda do ano que vem.
Pororoca 1 O novo presidente do PT paulista, Emídio Souza, convidou todos os partidos da base de Dilma para sua posse, hoje. Há chances de que o prefeito Fernando Haddad, o ex Gilberto Kassab e o vereador Antonio Donato (PT) se encontrem.
Pororoca 2 Donato deixou a Secretaria de Governo de Haddad depois de ser citado nas investigações da máfia dos auditores fiscais municipais, que também registram acusações contra a gestão de Kassab, seu antecessor.
Verde Fabio Feldmann, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, e José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente de FHC, oferecem jantar hoje, em São Paulo, ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Participam 50 ambientalistas de organizações não governamentais como o Greenpeace.
À mesa Eduardo Campos (PSB-PE) reuniu, no sábado, secretários e ex-secretários em sua casa para o tradicional almoço de fim de ano. Dentre os presentes estavam os petistas Humberto Costa e Fernando Duarte.
Café... Aliados de Aécio Neves se irritaram com a falta de empenho do governador Geraldo Alckmin na articulação de uma aliança com o PPS em torno da candidatura presidencial do mineiro.
... frio Parte dos 80 delegados do PPS paulista, que ocupa uma secretaria no governo Alckmin, votou a favor de um apoio da sigla a Eduardo Campos. "Delegados próximos a um secretário de Alckmin votam pelo apoio a Campos. Muito estranho, não?", diz um político do círculo de Aécio.
Olha eu Campos deve reforçar suas viagens pelo Nordeste na reta final do ano. Correligionários detectaram nas últimas pesquisas que o pré-candidato à Presidência ainda é desconhecido por 40% dos eleitores de sua própria região, taxa similar à que tem no Sul (41%).
Adesão Mesmo sem conversas formais sobre o tema, o nome de Silas Brasileiro (PMDB-MG) começa a ganhar o apoio tanto do Palácio do Planalto quanto de Michel Temer e da bancada peemedebista na Câmara para substituir Antonio Andrade no Ministério da Agricultura a partir da reforma da Esplanada, no início de 2014.
Livre... O Brasil ajudou a convencer Cuba a desistir de bloquear o acordo comercial da OMC, em Bali. Acionado pelo chanceler Luiz Alberto Figueiredo, que estava na Indonésia, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) telefonou de Brasília para o ministro do Comércio Exterior cubano Rodrigo Malmierca, de quem é amigo.
... e solto Quando a reunião foi retomada, a posição de Cuba havia mudado e o acordo comercial global entre 159 países, o primeiro em 20 anos, foi assinado.
tiroteio
"As licitações dos portos estão parecendo o Titanic: festa demais no lançamento e naufrágio previsto para o primeiro cruzeiro."
DO DEPUTADO FEDERAL MÁRCIO FRANÇA (PSB-SP), sobre a ameaça do TCU de suspender a concessão de portos no país por suspeita de direcionamento.
contraponto
O preço do machismo
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) explicava na Câmara, na quarta-feira, como será a atuação da PF na investigação do cartel do metrô em São Paulo. Foi defendido pelos líderes dos partidos aliados. Tudo ia bem até que a deputada Manoela D´Ávila, líder do PC do B e ex-namorada do ministro, pediu a palavra para defendê-lo. Ao terminar, ela ouviu do tucano Duarte Nogueira:
--Ah, tem razões que só o coração conhece!
As outras deputadas se revoltaram, teve início um bate-boca e Manoela reagiu:
--Se eu fosse um homem, o senhor não teria dito isso.
Para frente Brasil, salve a seleção - LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 09/12
De certa forma, uma insatisfação difusa está instalada e se traduz de forma bem-humorada no jargão "padrão Fifa", que passou a ser adotado, ironicamente, nas críticas populares a tudo o que há de errado nos serviços públicos
A Seleção Brasileira de futebol, como diria Nelson Rodrigues, é a pátria de chuteiras. Gera uma corrente de esperança e paixão entre os brasileiros praticamente inquebrantável, mesmo para os mais desencantados e revoltados com a situação do país, como nos relata Cid Queiroz Benjamin em sua recém lançada e excelente biografia, intitulada Gracias a la vida (Editora José Olímpio). Mesmo nas prisões e no exílio, militantes radicais da oposição decididos a torcer pela derrota do Brasil acabaram comemorando, como os demais brasileiros, a espetacular vitória da nossa Seleção canarinho nos gramados do México, na Copa do Mundo de 1970.
Como se sabe, a gloriosa campanha do Brasil no México despertou muito patriotismo. Marcou o momento de maior apoio popular ao regime militar, então presidido pelo general Emílio Garrastazu Médici, que era um torcedor gremista fervoroso e chegou a frequentar o estádio do Maracanã de radinho de pilha ao ouvido, sob aplausos da torcida. Era a época do milagre econômico e a oposição, representada pelo MDB, sofreria nas urnas a sua maior derrota para a Arena. Nunca, até então, o futebol e o marketing político estiveram tão juntos.
Eis por que, como não poderia deixar de ser, a presidente Dilma Rousseff aposta suas fichas na vitória do Brasil na Copa de 2014, uma empreitada que herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que tem uma certa dose de risco político. É que há muita contestação à realização do evento no Brasil, mais por causa do valor proibitivo dos ingressos para os jogos e das passagens aéreas para acompanhar o escrete nacional, pelas suspeitas de superfaturamento dos custos das obras de alguns estádios e não realização da maior parte dos projetos de mobilidade urbana, do que em razão de uma atitude antipatriótica dos que se opõem à realização dos jogos nos termos previstos pela Fifa.
Há muitas controvérsias sobre essa relação entre a política e o futebol, haja vista que uma coisa não está necessariamente ligada a outra, apesar de os cartolas e governantes fazerem o maior esforço possível para isso. A vitória de 1958, na Suécia, por exemplo, fez parte do ambiente de franco otimismo que pautou a vida nacional durante os anos do governo de Juscelino Kubitschek. Já a vitória de 1962, no Chile, não impediu o naufrágio econômico do governo Jango e o golpe militar que o apeou do poder.
Do ponto de vista da Copa de 2014, portanto, antes de mais nada, é necessário dizer que os principais candidatos de oposição, o senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), são sócios da empreitada, pois ambos estão comprometidos, respectivamente, com a realização dos jogos em Belo Horizonte (MG) e no Recife (PE) e com o sucesso do Brasil, consequentemente. Isso, porém, não quer dizer que sejam solidários com o governo Dilma no caso de um eventual fracasso brasileiro na realização dos jogos. Eis a grande questão política posta pelo desempenho da Seleção para a reeleição da atual presidente da República.
Já nos assombra o fantasma da derrota da Seleção Brasileira de 1950, por 2 x 1, para a seleção do Uruguai, na final da Copa do Mundo, na qual o Maracanã chorou com aquele inacreditável gol de Ghiggia 11 minutos antes de o jogo acabar. É o responsável por aquele friozinho na espinha que sentimos ao saber que, por sorteio, o Brasil enfrentaria o México, a Croácia e Camarões logo de saída. Há que se considerar também o papel que os protestos contra a Copa das Confederações tiveram nas manifestações de junho passado.
De certa forma, uma insatisfação difusa está instalada e se traduz de forma bem-humorada no jargão “padrão Fifa” , que passou a ser adotado, ironicamente, nas críticas populares a tudo o que há de errado nos serviços públicos. Vamos todos torcer para que o Brasil ganhe a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Quem corre mais risco político em caso de derrota, entre os candidatos nas eleições de 2014, porém, indiscutivelmente, é a presidente Dilma Rousseff, que trocou o radinho de pilha pelo Twitter e decidiu fazer dos jogos uma plataforma para a própria reeleição. Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência, diria o mitológico botafoguense Neném Prancha. Mas, para ganhar o jogo, é preciso fazer os gols.
A Seleção Brasileira de futebol, como diria Nelson Rodrigues, é a pátria de chuteiras. Gera uma corrente de esperança e paixão entre os brasileiros praticamente inquebrantável, mesmo para os mais desencantados e revoltados com a situação do país, como nos relata Cid Queiroz Benjamin em sua recém lançada e excelente biografia, intitulada Gracias a la vida (Editora José Olímpio). Mesmo nas prisões e no exílio, militantes radicais da oposição decididos a torcer pela derrota do Brasil acabaram comemorando, como os demais brasileiros, a espetacular vitória da nossa Seleção canarinho nos gramados do México, na Copa do Mundo de 1970.
Como se sabe, a gloriosa campanha do Brasil no México despertou muito patriotismo. Marcou o momento de maior apoio popular ao regime militar, então presidido pelo general Emílio Garrastazu Médici, que era um torcedor gremista fervoroso e chegou a frequentar o estádio do Maracanã de radinho de pilha ao ouvido, sob aplausos da torcida. Era a época do milagre econômico e a oposição, representada pelo MDB, sofreria nas urnas a sua maior derrota para a Arena. Nunca, até então, o futebol e o marketing político estiveram tão juntos.
Eis por que, como não poderia deixar de ser, a presidente Dilma Rousseff aposta suas fichas na vitória do Brasil na Copa de 2014, uma empreitada que herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que tem uma certa dose de risco político. É que há muita contestação à realização do evento no Brasil, mais por causa do valor proibitivo dos ingressos para os jogos e das passagens aéreas para acompanhar o escrete nacional, pelas suspeitas de superfaturamento dos custos das obras de alguns estádios e não realização da maior parte dos projetos de mobilidade urbana, do que em razão de uma atitude antipatriótica dos que se opõem à realização dos jogos nos termos previstos pela Fifa.
Há muitas controvérsias sobre essa relação entre a política e o futebol, haja vista que uma coisa não está necessariamente ligada a outra, apesar de os cartolas e governantes fazerem o maior esforço possível para isso. A vitória de 1958, na Suécia, por exemplo, fez parte do ambiente de franco otimismo que pautou a vida nacional durante os anos do governo de Juscelino Kubitschek. Já a vitória de 1962, no Chile, não impediu o naufrágio econômico do governo Jango e o golpe militar que o apeou do poder.
Do ponto de vista da Copa de 2014, portanto, antes de mais nada, é necessário dizer que os principais candidatos de oposição, o senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), são sócios da empreitada, pois ambos estão comprometidos, respectivamente, com a realização dos jogos em Belo Horizonte (MG) e no Recife (PE) e com o sucesso do Brasil, consequentemente. Isso, porém, não quer dizer que sejam solidários com o governo Dilma no caso de um eventual fracasso brasileiro na realização dos jogos. Eis a grande questão política posta pelo desempenho da Seleção para a reeleição da atual presidente da República.
Já nos assombra o fantasma da derrota da Seleção Brasileira de 1950, por 2 x 1, para a seleção do Uruguai, na final da Copa do Mundo, na qual o Maracanã chorou com aquele inacreditável gol de Ghiggia 11 minutos antes de o jogo acabar. É o responsável por aquele friozinho na espinha que sentimos ao saber que, por sorteio, o Brasil enfrentaria o México, a Croácia e Camarões logo de saída. Há que se considerar também o papel que os protestos contra a Copa das Confederações tiveram nas manifestações de junho passado.
De certa forma, uma insatisfação difusa está instalada e se traduz de forma bem-humorada no jargão “padrão Fifa” , que passou a ser adotado, ironicamente, nas críticas populares a tudo o que há de errado nos serviços públicos. Vamos todos torcer para que o Brasil ganhe a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Quem corre mais risco político em caso de derrota, entre os candidatos nas eleições de 2014, porém, indiscutivelmente, é a presidente Dilma Rousseff, que trocou o radinho de pilha pelo Twitter e decidiu fazer dos jogos uma plataforma para a própria reeleição. Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência, diria o mitológico botafoguense Neném Prancha. Mas, para ganhar o jogo, é preciso fazer os gols.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 09/12
Venda de recebíveis cresce entre pequenas empresas
Impulsionado pela redução na oferta de crédito nos bancos, o setor de factoring (compra de títulos recebíveis) fechará 2013 com um crescimento de 11% em relação a 2012, de acordo com a Anfac (associação do segmento).
Para 2014, a projeção de alta é ainda maior, de 20%.
O valor movimentado, que no ano passado foi de R$ 90 bilhões, chegará a R$ 100 bilhões neste ano. Em 2014, a estimativa é que atinja R$ 120 bilhões, segundo a entidade.
Tanto neste ano como no próximo, a expansão será puxada por pequenas e médias empresas.
São sobretudo os empresários de menor porte os que enfrentam barreiras maiores na obtenção de financiamentos bancários e recorrem ao factoring em busca de recursos.
"Com uma instabilidade maior da economia e mais dificuldade de crédito nos bancos, houve espaço para a evolução do nosso setor", afirma Luiz Lemos Leite, presidente da associação.
"Foi uma brecha de mercado que se abriu", diz.
As companhias de fomento comercial compram recebíveis de empresas que precisam de dinheiro para, por exemplo, ter capital de giro ou adquirir matéria prima.
"A empresa vende seu produto a prazo, mas comercializa o título de crédito para a companhia de factoring, que antecipa o valor, pagando à vista", afirma Leite.
Do total de negócios fechados, aproximadamente 25% envolvem indústrias de metalurgia, de acordo com o executivo. Outras áreas com participação significativa são o agronegócio e o comércio.
"Cerca de 60% das empresas clientes estão em São Paulo. Há outras regiões onde o segmento também já se desenvolveu bem, como Paraná, Rio e Minas Gerais."
Empresa vai investir R$ 73 mi na malha ferroviária
A VLI, empresa de logística e transportes ferroviários, investirá cerca de R$ 73 milhões na construção e ampliação de 24 pátios de cruzamento até o final de 2014.
O montante será aportado na bifurcação da malha viária da Ferrovia Centro-Atlântica, eixo que atende as regiões regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, sob concessão da VLI.
Com a intervenção, será possível aumentar o tamanho dos trens que trafegam na via e agilizar a viagem.
"A capacidade de volume transportado em um trem será quase 50% superior à atual", afirma Fabiano Lorenzi, diretor da empresa.
Cada trem com 90 vagões demorava 75 horas para carregar na região do Triângulo Mineiro, pois era preciso desmembrar os vagões.
"Agora, esse tempo se reduzirá a seis ou oito horas."
O agronegócio corresponde a quase 100% da carga transportada na malha.
CARGA NA CARROCERIA
A Librelato, indústria catarinense de carrocerias para caminhões, vai construir uma fábrica em Linhares, no litoral norte do Espírito Santo.
A estrutura produzirá implementos rodoviários como semirreboques basculantes e veículos para carregamento de grãos e contêineres.
Hoje, as cinco unidades fabris ficam em Santa Catarina.
"[A nova planta] vai nos aproximar de mercados importantes, como Minas Gerais e o próprio Espírito Santo", diz José Carlos Sprícigo, presidente da companhia.
O investimento será de R$ 40 milhões. A obra começará em julho de 2014 e a produção está programada para o início de 2015.
O grupo planeja ampliar as exportações, que hoje ocorrem exclusivamente no Mercosul e representam 8% dos negócios. "O dólar perto dos R$ 2,40 já deixa as vendas ao exterior mais atrativas."
A VER NAVIOS
Os navios de cruzeiros não devem complementar a oferta hoteleira de cidades litorâneas durante a Copa do Mundo, segundo a Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos).
"Teremos no máximo dois ou três navios fretados por clientes internacionais", afirma Ricardo Amaral, presidente da entidade.
Por ocorrer fora da temporada brasileira de cruzeiros, a vinda não é lucrativa.
"Há cinco anos avisamos que, para os navios serem uma opção de hospedagem, seriam necessárias mudanças nos custos tributários e de operação dos portos."
A atuação do setor marítimo vai incrementar o turismo, segundo o executivo, mas abaixo do esperado.
"A expectativa do setor com a Copa não se confirmou como se desejava", acrescenta Amaral.
COMÉRCIO OCEÂNICO
Alavancado pelos negócios feitos no interior da Ásia e entre os países do hemisfério Sul, o comércio internacional marítimo cresceu 4,3% no ano passado.
Os dados são de um novo levantamento feito pela Unctad (braço da ONU para o comércio e o desenvolvimento), que mostra também que as transações globais como um todo avançaram 1,8% no mesmo período.
Durante 2012, cerca de 9,2 milhões de toneladas de produtos foram carregados nos portos em todo o mundo.
Navios que levavam petróleo e gás corresponderam a um pouco menos de um terço do total transportado. Cargas secas foram responsáveis pelo restante.
A expansão do comércio com contêineres foi de 3,2% --inferior a de 2011, quando for registrada uma alta de 7,1%, e a de 2010 (13,1%).
Indústria de equipamentos médicos deve crescer 10%
As vendas do setor de equipamentos e produtos médico-hospitalares deverão fechar este ano com uma alta de 10%, de acordo com dados que a Abimed (associação da indústria) divulga hoje.
Em 2012, o segmento avançou 4,2%. Nos anos anteriores, porém, a expansão havia ficado ao redor dos 20%.
"A situação macroeconômica não ajudou muito, mas também não nos afetou de forma tão direta", afirma o presidente da entidade, Carlos Goulart.
"Nosso incremento é bem maior que o do PIB. O mercado tem uma expectativa de crescimento sistemático no médio prazo, pois há uma grande demanda reprimida e a população está envelhecendo", acrescenta o executivo.
Nos nove primeiros meses do ano, as produção da indústria registrou elevação de 8,5%. O número de postos de trabalho chegou a 130 mil, o que representa uma alta de 8% na comparação com o acumulado entre janeiro e setembro de 2012.
Para o próximo ano, a estimativa é que o crescimento do setor fique em cerca de 10% novamente.
Venda de recebíveis cresce entre pequenas empresas
Impulsionado pela redução na oferta de crédito nos bancos, o setor de factoring (compra de títulos recebíveis) fechará 2013 com um crescimento de 11% em relação a 2012, de acordo com a Anfac (associação do segmento).
Para 2014, a projeção de alta é ainda maior, de 20%.
O valor movimentado, que no ano passado foi de R$ 90 bilhões, chegará a R$ 100 bilhões neste ano. Em 2014, a estimativa é que atinja R$ 120 bilhões, segundo a entidade.
Tanto neste ano como no próximo, a expansão será puxada por pequenas e médias empresas.
São sobretudo os empresários de menor porte os que enfrentam barreiras maiores na obtenção de financiamentos bancários e recorrem ao factoring em busca de recursos.
"Com uma instabilidade maior da economia e mais dificuldade de crédito nos bancos, houve espaço para a evolução do nosso setor", afirma Luiz Lemos Leite, presidente da associação.
"Foi uma brecha de mercado que se abriu", diz.
As companhias de fomento comercial compram recebíveis de empresas que precisam de dinheiro para, por exemplo, ter capital de giro ou adquirir matéria prima.
"A empresa vende seu produto a prazo, mas comercializa o título de crédito para a companhia de factoring, que antecipa o valor, pagando à vista", afirma Leite.
Do total de negócios fechados, aproximadamente 25% envolvem indústrias de metalurgia, de acordo com o executivo. Outras áreas com participação significativa são o agronegócio e o comércio.
"Cerca de 60% das empresas clientes estão em São Paulo. Há outras regiões onde o segmento também já se desenvolveu bem, como Paraná, Rio e Minas Gerais."
Empresa vai investir R$ 73 mi na malha ferroviária
A VLI, empresa de logística e transportes ferroviários, investirá cerca de R$ 73 milhões na construção e ampliação de 24 pátios de cruzamento até o final de 2014.
O montante será aportado na bifurcação da malha viária da Ferrovia Centro-Atlântica, eixo que atende as regiões regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, sob concessão da VLI.
Com a intervenção, será possível aumentar o tamanho dos trens que trafegam na via e agilizar a viagem.
"A capacidade de volume transportado em um trem será quase 50% superior à atual", afirma Fabiano Lorenzi, diretor da empresa.
Cada trem com 90 vagões demorava 75 horas para carregar na região do Triângulo Mineiro, pois era preciso desmembrar os vagões.
"Agora, esse tempo se reduzirá a seis ou oito horas."
O agronegócio corresponde a quase 100% da carga transportada na malha.
CARGA NA CARROCERIA
A Librelato, indústria catarinense de carrocerias para caminhões, vai construir uma fábrica em Linhares, no litoral norte do Espírito Santo.
A estrutura produzirá implementos rodoviários como semirreboques basculantes e veículos para carregamento de grãos e contêineres.
Hoje, as cinco unidades fabris ficam em Santa Catarina.
"[A nova planta] vai nos aproximar de mercados importantes, como Minas Gerais e o próprio Espírito Santo", diz José Carlos Sprícigo, presidente da companhia.
O investimento será de R$ 40 milhões. A obra começará em julho de 2014 e a produção está programada para o início de 2015.
O grupo planeja ampliar as exportações, que hoje ocorrem exclusivamente no Mercosul e representam 8% dos negócios. "O dólar perto dos R$ 2,40 já deixa as vendas ao exterior mais atrativas."
A VER NAVIOS
Os navios de cruzeiros não devem complementar a oferta hoteleira de cidades litorâneas durante a Copa do Mundo, segundo a Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos).
"Teremos no máximo dois ou três navios fretados por clientes internacionais", afirma Ricardo Amaral, presidente da entidade.
Por ocorrer fora da temporada brasileira de cruzeiros, a vinda não é lucrativa.
"Há cinco anos avisamos que, para os navios serem uma opção de hospedagem, seriam necessárias mudanças nos custos tributários e de operação dos portos."
A atuação do setor marítimo vai incrementar o turismo, segundo o executivo, mas abaixo do esperado.
"A expectativa do setor com a Copa não se confirmou como se desejava", acrescenta Amaral.
COMÉRCIO OCEÂNICO
Alavancado pelos negócios feitos no interior da Ásia e entre os países do hemisfério Sul, o comércio internacional marítimo cresceu 4,3% no ano passado.
Os dados são de um novo levantamento feito pela Unctad (braço da ONU para o comércio e o desenvolvimento), que mostra também que as transações globais como um todo avançaram 1,8% no mesmo período.
Durante 2012, cerca de 9,2 milhões de toneladas de produtos foram carregados nos portos em todo o mundo.
Navios que levavam petróleo e gás corresponderam a um pouco menos de um terço do total transportado. Cargas secas foram responsáveis pelo restante.
A expansão do comércio com contêineres foi de 3,2% --inferior a de 2011, quando for registrada uma alta de 7,1%, e a de 2010 (13,1%).
Indústria de equipamentos médicos deve crescer 10%
As vendas do setor de equipamentos e produtos médico-hospitalares deverão fechar este ano com uma alta de 10%, de acordo com dados que a Abimed (associação da indústria) divulga hoje.
Em 2012, o segmento avançou 4,2%. Nos anos anteriores, porém, a expansão havia ficado ao redor dos 20%.
"A situação macroeconômica não ajudou muito, mas também não nos afetou de forma tão direta", afirma o presidente da entidade, Carlos Goulart.
"Nosso incremento é bem maior que o do PIB. O mercado tem uma expectativa de crescimento sistemático no médio prazo, pois há uma grande demanda reprimida e a população está envelhecendo", acrescenta o executivo.
Nos nove primeiros meses do ano, as produção da indústria registrou elevação de 8,5%. O número de postos de trabalho chegou a 130 mil, o que representa uma alta de 8% na comparação com o acumulado entre janeiro e setembro de 2012.
Para o próximo ano, a estimativa é que o crescimento do setor fique em cerca de 10% novamente.
Muito barulho por pouco - RAUL VELLOSO
O GLOBO - 09/12
Até a crise de 2008/9, o governo Lula vinha pisando fundo no acelerador dos gastos públicos, na esteira do boom mundial. Em 2003-2008, eles aumentaram à incrível taxa média de 9% ao ano acima da inflação, o dobro do aumento do PIB. Como a arrecadação bruta também cresceu 9%, os superávits fiscais se mantiveram intactos. Assim, a relação dívida/PIB continuou caindo, e os credores disseram amém. Em contraste, como a carga tributária estava aumentando com toda a força em comparação com o PIB, isso pegou de frente a indústria, o primo pobre do modelo de crescimento pró-consumo adotado com entusiasmo desde 2003.
Esse modelo é o seguinte. Gasto público corrente e crédito puxam a economia. O setor de serviços — que não sofre concorrência de importados — faz a festa. Preços e salários desse setor em geral sobem, enquanto o segmento de commodities de exportação segue sob o comando da forte demanda e da consequente robustez das cotações externas. A indústria tem de enfrentar a concorrência intensa dos chineses, e não consegue pagar os mesmos salários que os demais setores. Isso piorou quando, mais recentemente, a produtividade industrial passou a crescer menos do que os salários. Nesses casos não há alternativa. Quando o consumo é alto — ou a poupança é baixa —, a economia funciona no sentido de criar déficits externos em conta-corrente de forma a atrair poupança externa e complementar a interna. O candidato natural ao papel de “importador estratégico” é o galho fraco da árvore de produção, ou seja, a indústria.
O que fez, então, o governo? Sem alterar o modelo pró-consumo, elegeu a recuperação da indústria como prioridade máxima, ao criar programas compensatórios para as empresas. Navegando contra a maré, lançou mão desde o controle de preços de insumos básicos à turbinagem de empréstimos subsidiados pelo BNDES, passando por um expressivo programa de desonerações tributárias voltado especialmente para o setor industrial. Finalmente, vieram as tentativas de desvalorização forçada da moeda, cuja necessidade foi posteriormente dispensada em face do recente processo de fuga de capitais
Na sequência, a taxa de crescimento real da arrecadação caiu bastante, devendo fechar este ano em 3%, em contraste com os 9% da média 2003-2008. Parte dessa queda deveu-se ao menor crescimento do PIB, hoje ao redor de 2% ao ano, parte às desonerações. O governo conseguiu segurar um pouco a despesa com pessoal, represando reajustes prometidos anteriormente, mas o avanço dos demais segmentos, ultrarrígidos no Brasil, inclusive pelos subsídios originados no apoio à indústria, foi tal que o gasto agregado subiu 6,1% nos últimos 12 meses acumulados até outubro. Isso representa o dobro do desempenho da receita de tributos e é, obviamente, insustentável.
Assim, a primeira consequência desfavorável da política pró-indústria foi a queda dos superávits fiscais, que o governo tentou esconder, provocando o iminente rebaixamento da classificação de risco do Brasil nas agências internacionais. Há quem defenda que esse rebaixamento, de fato, já aconteceu… Outro subproduto foi a forte subida da dívida bruta em virtude dos vultosos empréstimos via BNDES. E, por último, a necessidade de aumentar ainda mais os tentáculos dos controles de preços, para compensar os efeitos desfavoráveis do aumento da taxa de câmbio sobre a inflação. Isso tem um cheiro de inflação reprimida do passado que já parecia ter saído do nosso radar.
É difícil calcular o custo das desonerações, a não ser fazendo hipóteses heroicas sobre a elasticidade receita-PIB, que mostra quanto a arrecadação cresce diante de uma evolução de 1% do PIB. Se fosse igual à da fase 2003-2008, ou seja, 2, a arrecadação escalaria este ano 4%, para o esperado crescimento de 2% do PIB. Como o aumento da arrecadação deve fechar 2013 em 3%, a perda total devida às desonerações poderia ser estimada em 1%. Se aplicarmos essa taxa à arrecadação de 2012 e atualizarmos seu valor pela inflação média estimada pelo Focus para 2013 (6,2%), chega-se ao expressivo impacto de R$ 95 bilhões — algo ao redor de 2% do PIB, parcialmente repartidos com os estados e municípios. Como esses últimos reagiram muito mal à situação, o governo aumentou o volume total de empréstimos que eles poderiam captar, amenizando seu sufoco. Só que, com isso, o panorama fiscal deteriorou-se ainda mais.
É duro chegar ao diagnóstico do qual não se pode fugir: a política econômica precisa ser urgentemente ajustada. Para começar, é imprescindível conter o crescimento real dos dispêndios públicos correntes e as desonerações, de forma a igualar a trajetória real do gasto federal total — hoje em 6,1%, em bases anuais — à caminhada da arrecadação, de 3% este ano. Ao fim de cinco anos, os dados mostram que a indústria continua estagnada, a taxa de investimento não sai da faixa de 18-19% do PIB, e este não cresce de forma sustentada acima de 2,5% ao ano. Para que, então, tanto ruído, como o causado pela política pró-indústria, se os resultados são pífios?
Até a crise de 2008/9, o governo Lula vinha pisando fundo no acelerador dos gastos públicos, na esteira do boom mundial. Em 2003-2008, eles aumentaram à incrível taxa média de 9% ao ano acima da inflação, o dobro do aumento do PIB. Como a arrecadação bruta também cresceu 9%, os superávits fiscais se mantiveram intactos. Assim, a relação dívida/PIB continuou caindo, e os credores disseram amém. Em contraste, como a carga tributária estava aumentando com toda a força em comparação com o PIB, isso pegou de frente a indústria, o primo pobre do modelo de crescimento pró-consumo adotado com entusiasmo desde 2003.
Esse modelo é o seguinte. Gasto público corrente e crédito puxam a economia. O setor de serviços — que não sofre concorrência de importados — faz a festa. Preços e salários desse setor em geral sobem, enquanto o segmento de commodities de exportação segue sob o comando da forte demanda e da consequente robustez das cotações externas. A indústria tem de enfrentar a concorrência intensa dos chineses, e não consegue pagar os mesmos salários que os demais setores. Isso piorou quando, mais recentemente, a produtividade industrial passou a crescer menos do que os salários. Nesses casos não há alternativa. Quando o consumo é alto — ou a poupança é baixa —, a economia funciona no sentido de criar déficits externos em conta-corrente de forma a atrair poupança externa e complementar a interna. O candidato natural ao papel de “importador estratégico” é o galho fraco da árvore de produção, ou seja, a indústria.
O que fez, então, o governo? Sem alterar o modelo pró-consumo, elegeu a recuperação da indústria como prioridade máxima, ao criar programas compensatórios para as empresas. Navegando contra a maré, lançou mão desde o controle de preços de insumos básicos à turbinagem de empréstimos subsidiados pelo BNDES, passando por um expressivo programa de desonerações tributárias voltado especialmente para o setor industrial. Finalmente, vieram as tentativas de desvalorização forçada da moeda, cuja necessidade foi posteriormente dispensada em face do recente processo de fuga de capitais
Na sequência, a taxa de crescimento real da arrecadação caiu bastante, devendo fechar este ano em 3%, em contraste com os 9% da média 2003-2008. Parte dessa queda deveu-se ao menor crescimento do PIB, hoje ao redor de 2% ao ano, parte às desonerações. O governo conseguiu segurar um pouco a despesa com pessoal, represando reajustes prometidos anteriormente, mas o avanço dos demais segmentos, ultrarrígidos no Brasil, inclusive pelos subsídios originados no apoio à indústria, foi tal que o gasto agregado subiu 6,1% nos últimos 12 meses acumulados até outubro. Isso representa o dobro do desempenho da receita de tributos e é, obviamente, insustentável.
Assim, a primeira consequência desfavorável da política pró-indústria foi a queda dos superávits fiscais, que o governo tentou esconder, provocando o iminente rebaixamento da classificação de risco do Brasil nas agências internacionais. Há quem defenda que esse rebaixamento, de fato, já aconteceu… Outro subproduto foi a forte subida da dívida bruta em virtude dos vultosos empréstimos via BNDES. E, por último, a necessidade de aumentar ainda mais os tentáculos dos controles de preços, para compensar os efeitos desfavoráveis do aumento da taxa de câmbio sobre a inflação. Isso tem um cheiro de inflação reprimida do passado que já parecia ter saído do nosso radar.
É difícil calcular o custo das desonerações, a não ser fazendo hipóteses heroicas sobre a elasticidade receita-PIB, que mostra quanto a arrecadação cresce diante de uma evolução de 1% do PIB. Se fosse igual à da fase 2003-2008, ou seja, 2, a arrecadação escalaria este ano 4%, para o esperado crescimento de 2% do PIB. Como o aumento da arrecadação deve fechar 2013 em 3%, a perda total devida às desonerações poderia ser estimada em 1%. Se aplicarmos essa taxa à arrecadação de 2012 e atualizarmos seu valor pela inflação média estimada pelo Focus para 2013 (6,2%), chega-se ao expressivo impacto de R$ 95 bilhões — algo ao redor de 2% do PIB, parcialmente repartidos com os estados e municípios. Como esses últimos reagiram muito mal à situação, o governo aumentou o volume total de empréstimos que eles poderiam captar, amenizando seu sufoco. Só que, com isso, o panorama fiscal deteriorou-se ainda mais.
É duro chegar ao diagnóstico do qual não se pode fugir: a política econômica precisa ser urgentemente ajustada. Para começar, é imprescindível conter o crescimento real dos dispêndios públicos correntes e as desonerações, de forma a igualar a trajetória real do gasto federal total — hoje em 6,1%, em bases anuais — à caminhada da arrecadação, de 3% este ano. Ao fim de cinco anos, os dados mostram que a indústria continua estagnada, a taxa de investimento não sai da faixa de 18-19% do PIB, e este não cresce de forma sustentada acima de 2,5% ao ano. Para que, então, tanto ruído, como o causado pela política pró-indústria, se os resultados são pífios?
Espelho nacional - FABIO GIAMBIAGI
O GLOBO - 09/12
O ministro está fazendo o que o país vem fazendo há cem anos, sem ir à raiz do problema e sem que ele seja equacionado em bases estruturais
Na hora de voltar para casa, sempre escuto a “Hora do Brasil”. O programa é uma verdadeira aula da Nação e seu título espelha a forma como o país pensa. Com certa imaginação, vou criar alguns exemplos da programação (as notícias e os nomes são fictícios): “Poder Executivo. O ministro João da Silva assinou hoje o convênio com o estado X para transferência de recursos ligados ao esforço de combate à seca. Na ocasião, o ministro ressaltou que o convênio indica o compromisso do governo federal com a solução definitiva do problema que há tantas décadas assola o sertão. Passamos agora para o noticiário sobre o Poder Legislativo, começando pela Câmara dos Deputados. O deputado Pedro Dantas discursou hoje em defesa de um aumento de 10% para os aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo. O deputado salientou que o fato de os aposentados que recebem mais de um salário mínimo terem tido ao longo dos últimos anos reajustes inferiores ao daqueles que ganham o mínimo cria dois tipos de aposentadorias, estabelecendo uma discriminação que o deputado qualificou como ‘injustificada e odiosa’. Ele foi apartado pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, que disse se sentir sensibilizado com a proposta e que iria se encarregar de levar a reivindicação à Presidência da República. Vamos agora para o Senado Federal. O senador Romualdo Antunes defendeu seu projeto que muda os contratos de renegociação da dívida das entidades subnacionais com o governo federal, passando a adotar a partir de agora uma taxa nominal de juros de 4% e eliminando qualquer indexação. O senador alegou que os juros são muito elevados e que as finanças estaduais encontram-se estranguladas, razão pela qual é essencial para o equilíbrio da Federação que os juros pagos pelos estados sejam iguais ao que ele entende que poderia ser considerada uma taxa de inflação de longo prazo e sem qualquer acréscimo adicional.”
Os exemplos são inventados, mas representam aproximadamente o que milhões de brasileiros ouvem todos os dias. Quando escuto tais bondades, lembro das palavras de FHC, expressas com “chapéu” de sociólogo, ao preparar Armínio Fraga para a sabatina no Senado e reproduzidas no seu livro “A arte da política” (Civilização Brasileira, página 428): “Não se esqueça do seguinte: o Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas não gostam do capitalismo, os jornalistas não gostam do capitalismo, os universitários não gostam do capitalismo... O ideal, o pressuposto, que está por trás das cabeças, é um regime não capitalista e isolado, com Estado forte e bem-estar social amplo.”
Nos exemplos acima, num caso o ministro está fazendo o que o país vem fazendo há cem anos, sem ir à raiz do problema e sem que ele seja equacionado em bases estruturais; o deputado fica bem com milhões de pessoas, sem se dar ao trabalho de definir de onde sairiam os recursos; e o senador faz um agrado às suas bases estaduais, propondo um disparate, mesmo que isso dinamite as finanças da União.
A “Hora do Brasil” é um relato de utopias. Ela espelha a alma nacional, onde os planos mirabolantes e a retórica das promessas ultrapassam o esforço em dimensionar o que se pode fazer, com o melhor retorno possível, dada certa restrição de recursos. Diz-se que Jean Daniel, diretor de “Le Nouvel Observateur”, teria dito: “Prefiro me enganar com Jean-Paul-Sartre a ter razão com Raymond Aron” (ambos protagonistas de intensas controvérsias ideológicas nos anos da Guerra Fria). Na cultura nacional onde, no terreno da retórica, tudo é possível, a grande maioria de nossos políticos prefere “se enganar com Sartre ao invés de ter razão com Aron”, ou seja, prometer coisas que não fazem o menor sentido, para não correr o risco de incorrer em um raciocínio que possa ser qualificado de “neoliberal”, “tecnocrático” ou “ortodoxo”. Um antigo diplomata dizia que “políticos preferem lidar com sonhos e não com a realidade, porque esta necessariamente impõe limites, enquanto nos sonhos tudo é possível”. O Brasil terá feito um avanço cultural no dia em que a “Hora do Brasil” deixar de ser o que sempre foi e levar o ouvinte a entender a dificuldade de fazer escolhas entre políticas, em vez de se limitar a ser um enunciado de ideais
O ministro está fazendo o que o país vem fazendo há cem anos, sem ir à raiz do problema e sem que ele seja equacionado em bases estruturais
Na hora de voltar para casa, sempre escuto a “Hora do Brasil”. O programa é uma verdadeira aula da Nação e seu título espelha a forma como o país pensa. Com certa imaginação, vou criar alguns exemplos da programação (as notícias e os nomes são fictícios): “Poder Executivo. O ministro João da Silva assinou hoje o convênio com o estado X para transferência de recursos ligados ao esforço de combate à seca. Na ocasião, o ministro ressaltou que o convênio indica o compromisso do governo federal com a solução definitiva do problema que há tantas décadas assola o sertão. Passamos agora para o noticiário sobre o Poder Legislativo, começando pela Câmara dos Deputados. O deputado Pedro Dantas discursou hoje em defesa de um aumento de 10% para os aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo. O deputado salientou que o fato de os aposentados que recebem mais de um salário mínimo terem tido ao longo dos últimos anos reajustes inferiores ao daqueles que ganham o mínimo cria dois tipos de aposentadorias, estabelecendo uma discriminação que o deputado qualificou como ‘injustificada e odiosa’. Ele foi apartado pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, que disse se sentir sensibilizado com a proposta e que iria se encarregar de levar a reivindicação à Presidência da República. Vamos agora para o Senado Federal. O senador Romualdo Antunes defendeu seu projeto que muda os contratos de renegociação da dívida das entidades subnacionais com o governo federal, passando a adotar a partir de agora uma taxa nominal de juros de 4% e eliminando qualquer indexação. O senador alegou que os juros são muito elevados e que as finanças estaduais encontram-se estranguladas, razão pela qual é essencial para o equilíbrio da Federação que os juros pagos pelos estados sejam iguais ao que ele entende que poderia ser considerada uma taxa de inflação de longo prazo e sem qualquer acréscimo adicional.”
Os exemplos são inventados, mas representam aproximadamente o que milhões de brasileiros ouvem todos os dias. Quando escuto tais bondades, lembro das palavras de FHC, expressas com “chapéu” de sociólogo, ao preparar Armínio Fraga para a sabatina no Senado e reproduzidas no seu livro “A arte da política” (Civilização Brasileira, página 428): “Não se esqueça do seguinte: o Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas não gostam do capitalismo, os jornalistas não gostam do capitalismo, os universitários não gostam do capitalismo... O ideal, o pressuposto, que está por trás das cabeças, é um regime não capitalista e isolado, com Estado forte e bem-estar social amplo.”
Nos exemplos acima, num caso o ministro está fazendo o que o país vem fazendo há cem anos, sem ir à raiz do problema e sem que ele seja equacionado em bases estruturais; o deputado fica bem com milhões de pessoas, sem se dar ao trabalho de definir de onde sairiam os recursos; e o senador faz um agrado às suas bases estaduais, propondo um disparate, mesmo que isso dinamite as finanças da União.
A “Hora do Brasil” é um relato de utopias. Ela espelha a alma nacional, onde os planos mirabolantes e a retórica das promessas ultrapassam o esforço em dimensionar o que se pode fazer, com o melhor retorno possível, dada certa restrição de recursos. Diz-se que Jean Daniel, diretor de “Le Nouvel Observateur”, teria dito: “Prefiro me enganar com Jean-Paul-Sartre a ter razão com Raymond Aron” (ambos protagonistas de intensas controvérsias ideológicas nos anos da Guerra Fria). Na cultura nacional onde, no terreno da retórica, tudo é possível, a grande maioria de nossos políticos prefere “se enganar com Sartre ao invés de ter razão com Aron”, ou seja, prometer coisas que não fazem o menor sentido, para não correr o risco de incorrer em um raciocínio que possa ser qualificado de “neoliberal”, “tecnocrático” ou “ortodoxo”. Um antigo diplomata dizia que “políticos preferem lidar com sonhos e não com a realidade, porque esta necessariamente impõe limites, enquanto nos sonhos tudo é possível”. O Brasil terá feito um avanço cultural no dia em que a “Hora do Brasil” deixar de ser o que sempre foi e levar o ouvinte a entender a dificuldade de fazer escolhas entre políticas, em vez de se limitar a ser um enunciado de ideais
Copa, urna e bola - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 09/12
A Copa do Mundo coincidiu com oito eleições presidenciais brasileiras. A bola, porém, nunca encheu nem esvaziou as urnas. Em 1930, a votação precedeu o torneio. A eleição de 1934 foi indireta. Em 1938, a ditadura Vargas deixou a urna no banco. Veio a guerra, interromperam-se também as Copas. No retorno, em 1950, nem o "maracanazo" evitou a eleição de Getúlio Vargas.
Depois disso o divórcio dos calendários político e futebolístico durou quase meio século. Até que, em 1994, tudo casou: o Brasil foi campeão e deu situação. Parecia que o futebol ajudava o presidente de plantão. Mas, em 1998, a despeito de a seleção perder a final por 3 a 0, aconteceu a reeleição. Ficou claro: não era a bola a determinar o voto, mas o bolso cheio de reais.
Desde então, a escrita perdura. Copa e eleição convivem, mas não se misturam. Em 2002, o time ganhou, mas o governo perdeu para a oposição. Em 2006 e 2010, a seleção caiu antes das finais e, mesmo assim, o governo papou as duas. O eleitor nunca confundiu as bolas com o torcedor - embora políticos acreditem piamente no contrário. E em 2014, as urnas ficarão imunes ao clima de Copa?
Desta vez, o Brasil não apenas compete, mas é anfitrião. A responsabilidade é dupla. Um vexame extracampo seria pior do que uma goleada dentro de casa. Descalabros de infraestrutura, escândalos na venda de ingressos ou manifestações-monstro na porta dos estádios podem, sim, influir no clima da opinião pública. Os protestos de junho já provaram isso.
Para os eleitores, o que estará em jogo não é a honra boleira da nação, mas o orgulho de fazer as coisas bem feitas. De receber direito. De dar conta do recado. As chuteiras da pátria estão abaixo do figurino de mestre de cerimônias. Para esta ser "a Copa das Copas", como prevê Dilma Rousseff, a presidente dependerá de cartolas, não dos jogadores. Muito mais arriscado.
A tradição joga contra. Fotos aéreas do Maracanã durante a final de 1950 evidenciam as obras inacabadas do lado de fora do estádio. Nossa pontualidade nunca foi britânica. O minuto de silêncio proposto por Dilma durante o sorteio das chaves da Copa durou 10 segundos. A homenagem a Nelson Mandela foi abreviada precisamente pelo rei da cartolagem, o suíço Joseph Blatter.
Por mais fora que chute, um jogador jamais conseguirá derrubar um guindaste e matar operários. Nem gastar R$ 670 milhões em um estádio que, passados 360 minutos de bola rolando, é candidato a virar presídio temporário. Convém o público aproveitar ao máximo a Arena Amazônia, em Manaus: cada segundo de Honduras X Suíça terá custado R$ 31 mil do seu, do meu, do nosso.
A crença dos políticos de que dois ou três jogos de Copa do Mundo têm o poder de salvar anos de má administração será posta à prova. Nesta semana, pesquisa CNI/Ibope mostrará o ranking de popularidade dos 27 governadores. Muitos dos que devem aparecer na parte mais baixa da tabela serão anfitriões de jogos da Copa. Veremos se o futebol é capaz de salvá-los do rebaixamento.
A súmula desse jogo indica que, além de drenar cofres públicos, a Copa oferece muito mais riscos à popularidade do que benefícios à imagem do governante. É uma aposta alta, com grandes chances de dar zebra. O mesmo dinheiro bem aplicado em mais médicos e melhores hospitais provavelmente resultaria em mais pontos de aprovação do que uma arena ludopédica-circense.
Há de haver alguma planilha perdida por aí que explique tal predileção empreiteira de governantes que nunca pisaram em um estádio fora da tribuna de honra. Do mesmo jeito que há 50% de chance de o Brasil cruzar com Espanha ou Holanda, se passar às oitavas-de-final. Se a seleção for a primeira do grupo, o confronto será em Belo Horizonte. Para Dilma, é jogar na casa do adversário.
A Copa do Mundo coincidiu com oito eleições presidenciais brasileiras. A bola, porém, nunca encheu nem esvaziou as urnas. Em 1930, a votação precedeu o torneio. A eleição de 1934 foi indireta. Em 1938, a ditadura Vargas deixou a urna no banco. Veio a guerra, interromperam-se também as Copas. No retorno, em 1950, nem o "maracanazo" evitou a eleição de Getúlio Vargas.
Depois disso o divórcio dos calendários político e futebolístico durou quase meio século. Até que, em 1994, tudo casou: o Brasil foi campeão e deu situação. Parecia que o futebol ajudava o presidente de plantão. Mas, em 1998, a despeito de a seleção perder a final por 3 a 0, aconteceu a reeleição. Ficou claro: não era a bola a determinar o voto, mas o bolso cheio de reais.
Desde então, a escrita perdura. Copa e eleição convivem, mas não se misturam. Em 2002, o time ganhou, mas o governo perdeu para a oposição. Em 2006 e 2010, a seleção caiu antes das finais e, mesmo assim, o governo papou as duas. O eleitor nunca confundiu as bolas com o torcedor - embora políticos acreditem piamente no contrário. E em 2014, as urnas ficarão imunes ao clima de Copa?
Desta vez, o Brasil não apenas compete, mas é anfitrião. A responsabilidade é dupla. Um vexame extracampo seria pior do que uma goleada dentro de casa. Descalabros de infraestrutura, escândalos na venda de ingressos ou manifestações-monstro na porta dos estádios podem, sim, influir no clima da opinião pública. Os protestos de junho já provaram isso.
Para os eleitores, o que estará em jogo não é a honra boleira da nação, mas o orgulho de fazer as coisas bem feitas. De receber direito. De dar conta do recado. As chuteiras da pátria estão abaixo do figurino de mestre de cerimônias. Para esta ser "a Copa das Copas", como prevê Dilma Rousseff, a presidente dependerá de cartolas, não dos jogadores. Muito mais arriscado.
A tradição joga contra. Fotos aéreas do Maracanã durante a final de 1950 evidenciam as obras inacabadas do lado de fora do estádio. Nossa pontualidade nunca foi britânica. O minuto de silêncio proposto por Dilma durante o sorteio das chaves da Copa durou 10 segundos. A homenagem a Nelson Mandela foi abreviada precisamente pelo rei da cartolagem, o suíço Joseph Blatter.
Por mais fora que chute, um jogador jamais conseguirá derrubar um guindaste e matar operários. Nem gastar R$ 670 milhões em um estádio que, passados 360 minutos de bola rolando, é candidato a virar presídio temporário. Convém o público aproveitar ao máximo a Arena Amazônia, em Manaus: cada segundo de Honduras X Suíça terá custado R$ 31 mil do seu, do meu, do nosso.
A crença dos políticos de que dois ou três jogos de Copa do Mundo têm o poder de salvar anos de má administração será posta à prova. Nesta semana, pesquisa CNI/Ibope mostrará o ranking de popularidade dos 27 governadores. Muitos dos que devem aparecer na parte mais baixa da tabela serão anfitriões de jogos da Copa. Veremos se o futebol é capaz de salvá-los do rebaixamento.
A súmula desse jogo indica que, além de drenar cofres públicos, a Copa oferece muito mais riscos à popularidade do que benefícios à imagem do governante. É uma aposta alta, com grandes chances de dar zebra. O mesmo dinheiro bem aplicado em mais médicos e melhores hospitais provavelmente resultaria em mais pontos de aprovação do que uma arena ludopédica-circense.
Há de haver alguma planilha perdida por aí que explique tal predileção empreiteira de governantes que nunca pisaram em um estádio fora da tribuna de honra. Do mesmo jeito que há 50% de chance de o Brasil cruzar com Espanha ou Holanda, se passar às oitavas-de-final. Se a seleção for a primeira do grupo, o confronto será em Belo Horizonte. Para Dilma, é jogar na casa do adversário.
220 dias, 7 horas - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 09/12
SÃO PAULO - Entre colocar o filho numa escola particular ou numa pública, pais brasileiros deveriam optar pela primeira. Ainda que a mensalidade soe baixa para sustentar a qualidade do ensino. Ainda que os professores não pareçam melhores que os da instituição pública vizinha.
Na escola particular, é maior a probabilidade de o aluno receber todas as aulas obrigatórias, e de modo contínuo, ao longo do ano. Na pública, sujeita a greves e a um volume significativo de faltas dos mestres, ele não terá a mesma garantia.
O tempo de exposição ao aprendizado é decisivo no desempenho dos alunos. Associa-se a esse fator boa parte do atraso do Brasil em relação a outros países, novamente verificado no Pisa, exame internacional promovido pela OCDE. Quem está à nossa frente em geral oferece às crianças muito mais horas de instrução.
Nações com 220 dias letivos e jornada de sete horas diárias propiciam aos alunos, ao longo de um ano, uma carga de aulas que é quase o dobro da brasileira. No final dos 12 anos do ciclo básico, aqueles estrangeiros terão o equivalente a 11 anos a mais de exposição ao aprendizado.
O simples aumento da carga brasileira de 200 para 220 dias letivos seria o mesmo que adicionar mais de um ano ao ensino básico de hoje. Se, além disso, houver o acréscimo de uma hora às quatro mínimas atuais, o resultado seria equivalente a quatro anos e meio a mais de instrução.
Por uma conjunção de fatores, o gasto público por aluno tende a aumentar nos próximos anos. A demografia já não entrega tantas crianças às escolas. O dispêndio mínimo em educação está fixado em lei. Uma nova vinculação, desta vez às receitas do petróleo, está a caminho.
Aproveitar essa oportunidade para financiar o aumento da carga de ensino seria uma escolha sábia. Que nossas crianças tenham direito a 220 dias de aula por ano, e a sete horas por dia de instrução.
SÃO PAULO - Entre colocar o filho numa escola particular ou numa pública, pais brasileiros deveriam optar pela primeira. Ainda que a mensalidade soe baixa para sustentar a qualidade do ensino. Ainda que os professores não pareçam melhores que os da instituição pública vizinha.
Na escola particular, é maior a probabilidade de o aluno receber todas as aulas obrigatórias, e de modo contínuo, ao longo do ano. Na pública, sujeita a greves e a um volume significativo de faltas dos mestres, ele não terá a mesma garantia.
O tempo de exposição ao aprendizado é decisivo no desempenho dos alunos. Associa-se a esse fator boa parte do atraso do Brasil em relação a outros países, novamente verificado no Pisa, exame internacional promovido pela OCDE. Quem está à nossa frente em geral oferece às crianças muito mais horas de instrução.
Nações com 220 dias letivos e jornada de sete horas diárias propiciam aos alunos, ao longo de um ano, uma carga de aulas que é quase o dobro da brasileira. No final dos 12 anos do ciclo básico, aqueles estrangeiros terão o equivalente a 11 anos a mais de exposição ao aprendizado.
O simples aumento da carga brasileira de 200 para 220 dias letivos seria o mesmo que adicionar mais de um ano ao ensino básico de hoje. Se, além disso, houver o acréscimo de uma hora às quatro mínimas atuais, o resultado seria equivalente a quatro anos e meio a mais de instrução.
Por uma conjunção de fatores, o gasto público por aluno tende a aumentar nos próximos anos. A demografia já não entrega tantas crianças às escolas. O dispêndio mínimo em educação está fixado em lei. Uma nova vinculação, desta vez às receitas do petróleo, está a caminho.
Aproveitar essa oportunidade para financiar o aumento da carga de ensino seria uma escolha sábia. Que nossas crianças tenham direito a 220 dias de aula por ano, e a sete horas por dia de instrução.
Só Dilma em campo - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 09/12
Por ora, as pesquisas de intenção de voto para a eleição do próximo presidente da República não passam de curiosidade. Ou de assunto oferecido à discussão dos aficionados pela política, à falta de algo mais empolgante. Ainda vivemos à sombra do julgamento do mensalão. E tudo indica que assim continuará, até que sejam examinados, daqui a alguns meses, os derradeiros recursos impetrados pelos réus.
FAÇA DE CONTA que você é um paulista apressado de passagem pelo Centro da cidade. Ou um carioca que percorre as ruelas por detrás da Avenida Rio Branco. De repente, você é abordado por um rapaz que lhe apresenta a credencial do Instituto Datafolha e que pede licença para lhe fazer perguntas rápidas.
Uma delas, de resposta espontânea: em quem você pretende votar para presidente da República em 2014? VOCÊ NEM SABE quais serão os candidatos. O mais provável é que você cite Dilma, o primeiro nome que lhe ocorra, ou Serra, cujo nome guardou na memória desde a eleição de 2010. Ou o nome daquela moreninha magrinha, que já foi ministra... Sim, a Marina. No Rio, principalmente, ela foi bem votada.
Em Belo Horizonte, teve mais votos do que Dilma.
Em seguida, o pesquisador exibe uma lista de candidatos.
Em qual deles você votaria hoje?
EM ORDEM ALFABÉTICA, o nome de Dilma aparece em segundo lugar. Em primeiro, o de Aécio Neves.
Governador... De qual estado mesmo? Sim, de Minas, auxilia o pesquisador. E esse aqui? Quem é Eduardo Campos? Nunca ouvi falar nele, você se desculpa.
E cadê Marina? Ah, ela só entra na lista no lugar de Eduardo. É o que o pesquisador chama de cenário.
Ou cenários, porque são vários. O sol esquenta, e você quer ir embora.
SERIA MAIS CONFORTÁVEL se você tivesse diante de si um pesquisador do Ibope. O do Datafolha atua na rua, no meio do fluxo de pessoas. O do Ibope bate à sua porta. É uma questão de metodologia de cada instituto. Há vantagens e desvantagens em cada uma delas - mas, no geral, se bem aplicadas, funcionam.
De mais a mais, a gente só liga para resultado de pesquisas a poucas semanas da eleição. É ou não é?
A DEFINIÇÃO DE PARCELA expressiva dos votos também se faz a poucas semanas da eleição. Em alguns casos, na semana da eleição. Em 1989, por exemplo, Lula acabou derrotado por Fernando Collor na antevéspera do dia da eleição. Ancorado pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso venceu Lula com folga, em 1994. Mas dali a quatro anos, na noite da apuração dos votos, levou um susto: corria o risco de a decisão ficar para o segundo turno.
NO TIPO DE PRESIDENCIALISMO que temos, é brutal a força da presença do presidente em quase tudo que tenha a ver com o dia a dia dos cidadãos. A reeleição, introduzida durante o primeiro mandato de Fernando Henrique, serviu para aumentar essa força.
Daqui até meados de agosto próximo, só dará Dilma na telinha e nas ondas sonoras. Fora a Copa do Mundo. Talvez manifestações contra a realização da Copa por aqui.
BOBAGEM DIZER QUE os candidatos de oposição não ocupam espaço nos meios de comunicação porque não conseguem articular um discurso inovador, capaz de seduzir. Onde eles farão tal discurso? A partir de agosto, no rádio e na TV, conforme manda a lei. Mas, antes? Enquanto isso, qualquer espirro dado pela presidente é notícia. A propaganda oficial se encarrega de massificar os supostos êxitos do seu governo.
FAÇA DE CONTA que você é um paulista apressado de passagem pelo Centro da cidade. Ou um carioca que percorre as ruelas por detrás da Avenida Rio Branco. De repente, você é abordado por um rapaz que lhe apresenta a credencial do Instituto Datafolha e que pede licença para lhe fazer perguntas rápidas.
Uma delas, de resposta espontânea: em quem você pretende votar para presidente da República em 2014? VOCÊ NEM SABE quais serão os candidatos. O mais provável é que você cite Dilma, o primeiro nome que lhe ocorra, ou Serra, cujo nome guardou na memória desde a eleição de 2010. Ou o nome daquela moreninha magrinha, que já foi ministra... Sim, a Marina. No Rio, principalmente, ela foi bem votada.
Em Belo Horizonte, teve mais votos do que Dilma.
Em seguida, o pesquisador exibe uma lista de candidatos.
Em qual deles você votaria hoje?
EM ORDEM ALFABÉTICA, o nome de Dilma aparece em segundo lugar. Em primeiro, o de Aécio Neves.
Governador... De qual estado mesmo? Sim, de Minas, auxilia o pesquisador. E esse aqui? Quem é Eduardo Campos? Nunca ouvi falar nele, você se desculpa.
E cadê Marina? Ah, ela só entra na lista no lugar de Eduardo. É o que o pesquisador chama de cenário.
Ou cenários, porque são vários. O sol esquenta, e você quer ir embora.
SERIA MAIS CONFORTÁVEL se você tivesse diante de si um pesquisador do Ibope. O do Datafolha atua na rua, no meio do fluxo de pessoas. O do Ibope bate à sua porta. É uma questão de metodologia de cada instituto. Há vantagens e desvantagens em cada uma delas - mas, no geral, se bem aplicadas, funcionam.
De mais a mais, a gente só liga para resultado de pesquisas a poucas semanas da eleição. É ou não é?
A DEFINIÇÃO DE PARCELA expressiva dos votos também se faz a poucas semanas da eleição. Em alguns casos, na semana da eleição. Em 1989, por exemplo, Lula acabou derrotado por Fernando Collor na antevéspera do dia da eleição. Ancorado pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso venceu Lula com folga, em 1994. Mas dali a quatro anos, na noite da apuração dos votos, levou um susto: corria o risco de a decisão ficar para o segundo turno.
NO TIPO DE PRESIDENCIALISMO que temos, é brutal a força da presença do presidente em quase tudo que tenha a ver com o dia a dia dos cidadãos. A reeleição, introduzida durante o primeiro mandato de Fernando Henrique, serviu para aumentar essa força.
Daqui até meados de agosto próximo, só dará Dilma na telinha e nas ondas sonoras. Fora a Copa do Mundo. Talvez manifestações contra a realização da Copa por aqui.
BOBAGEM DIZER QUE os candidatos de oposição não ocupam espaço nos meios de comunicação porque não conseguem articular um discurso inovador, capaz de seduzir. Onde eles farão tal discurso? A partir de agosto, no rádio e na TV, conforme manda a lei. Mas, antes? Enquanto isso, qualquer espirro dado pela presidente é notícia. A propaganda oficial se encarrega de massificar os supostos êxitos do seu governo.
Personalidade excepcional - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 09/12
Sem exagero, pode-se dizer que, com a morte de Nelson Mandela, desaparece uma grande figura humana; independente da cor da sua pele e da posição por ele assumida ao enfrentar o enorme poder estatal que o levou à prisão por 27 anos, era um homem. Era um homem que, ao cabo desse longo tempo de encarceramento, teve a grandeza e a sabedoria de, assumindo a liderança da maioria negra da África do Sul, selar a mútua convivência que não existia entre brancos e pretos. Era uma sociedade em que suas partes não se conheciam ou conviviam.
Em vez de fel ao sair da prisão, ele trazia o mel no coração e, desse modo, ao retomar a liberdade, veio a realizar o milagre da junção de duas parcelas originalmente desavindas, em recíproca aversão decorrente da congênita animosidade senão repugnância. Graças à ação daquele homem que passou no cárcere quase o período de uma geração, o negro apesar de ser negro, e o branco, a despeito de ser branco, deixaram de ser incompatíveis e como seres humanos passaram a conviver. Também aqui suponho não exagerar ao dizer que, sem ele, o fenômeno não teria se consumado e tornado indivorciável. E o que é mais: o inacreditável se operou em poucos sóis.
Foi presidente da República e continuava a ser a personalidade mais notável de sua pátria. Em vida colheu as maiores homenagens, principalmente internacionais, o Prêmio Nobel da Paz entre elas, e ainda em vida atingiu a imortalidade. Morreu um imortal, quer dizer, o arcabouço material cessou de funcionar, mas a imortalidade transcende o tempo e não se apaga.
* * * *
Aqui, na vulgaridade dos dias sem brilho, vão acontecendo coisas estranhas; condenados e condenados pelo mais alto tribunal da nação foram 25 e 12 absolvidos; em sua maioria ou não, vem se distinguindo pelas críticas às pessoas dos juízes que os julgaram. Um deles, talvez o de mais alta posição político-social em razão da prisão em regime semiaberto que lhe ensejaria trabalhar durante o dia e recolher-se à prisão durante à noite, conseguiu emprego no Hotel Saint Peter com remuneração de R$ 20 mil mensais. O ex ministro ora condenado e já empregado no mencionado hotel, sem demora desligou-se do emprego já assegurado. Vale acentuar que, segundo divulgado, o hotel pertence a empresa panamenha Truston International, cujo presidente seria o auxiliar de escritório José Eugênio Silva Ritter que residiria em bairro pobre da cidade do Panamá; teria ele declarado que nem se lembra da empresa da qual é presidente, tantas são elas, mais de mil e das quais é sócio. Esses os fatos divulgados pela grande publicidade. Tais dados por sua singularidade despertaram dúvidas e suspeitas, até porque não se escondem os donos da empresa gratuita e imotivadamente.
Não quero extrair ilações dos estranhos dados da empresa proprietária do Hotel Saint Peter, mas não há dúvida que eles surpreendem, pois são invulgares. Nessa altura torna-se evidente que o problema do mensalão carece de esclarecimentos que podem ser necessários para a inteira compreensão da extraordinária ocorrência.
Sem exagero, pode-se dizer que, com a morte de Nelson Mandela, desaparece uma grande figura humana; independente da cor da sua pele e da posição por ele assumida ao enfrentar o enorme poder estatal que o levou à prisão por 27 anos, era um homem. Era um homem que, ao cabo desse longo tempo de encarceramento, teve a grandeza e a sabedoria de, assumindo a liderança da maioria negra da África do Sul, selar a mútua convivência que não existia entre brancos e pretos. Era uma sociedade em que suas partes não se conheciam ou conviviam.
Em vez de fel ao sair da prisão, ele trazia o mel no coração e, desse modo, ao retomar a liberdade, veio a realizar o milagre da junção de duas parcelas originalmente desavindas, em recíproca aversão decorrente da congênita animosidade senão repugnância. Graças à ação daquele homem que passou no cárcere quase o período de uma geração, o negro apesar de ser negro, e o branco, a despeito de ser branco, deixaram de ser incompatíveis e como seres humanos passaram a conviver. Também aqui suponho não exagerar ao dizer que, sem ele, o fenômeno não teria se consumado e tornado indivorciável. E o que é mais: o inacreditável se operou em poucos sóis.
Foi presidente da República e continuava a ser a personalidade mais notável de sua pátria. Em vida colheu as maiores homenagens, principalmente internacionais, o Prêmio Nobel da Paz entre elas, e ainda em vida atingiu a imortalidade. Morreu um imortal, quer dizer, o arcabouço material cessou de funcionar, mas a imortalidade transcende o tempo e não se apaga.
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Aqui, na vulgaridade dos dias sem brilho, vão acontecendo coisas estranhas; condenados e condenados pelo mais alto tribunal da nação foram 25 e 12 absolvidos; em sua maioria ou não, vem se distinguindo pelas críticas às pessoas dos juízes que os julgaram. Um deles, talvez o de mais alta posição político-social em razão da prisão em regime semiaberto que lhe ensejaria trabalhar durante o dia e recolher-se à prisão durante à noite, conseguiu emprego no Hotel Saint Peter com remuneração de R$ 20 mil mensais. O ex ministro ora condenado e já empregado no mencionado hotel, sem demora desligou-se do emprego já assegurado. Vale acentuar que, segundo divulgado, o hotel pertence a empresa panamenha Truston International, cujo presidente seria o auxiliar de escritório José Eugênio Silva Ritter que residiria em bairro pobre da cidade do Panamá; teria ele declarado que nem se lembra da empresa da qual é presidente, tantas são elas, mais de mil e das quais é sócio. Esses os fatos divulgados pela grande publicidade. Tais dados por sua singularidade despertaram dúvidas e suspeitas, até porque não se escondem os donos da empresa gratuita e imotivadamente.
Não quero extrair ilações dos estranhos dados da empresa proprietária do Hotel Saint Peter, mas não há dúvida que eles surpreendem, pois são invulgares. Nessa altura torna-se evidente que o problema do mensalão carece de esclarecimentos que podem ser necessários para a inteira compreensão da extraordinária ocorrência.