sexta-feira, novembro 15, 2013

Abriram-se as comportas - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 15/11

Para entender a corrupção na administração pública tente mudar sua concepção sobre "Crime Organizado"


Qualquer um que se disponha a discutir a relação entre a gestão Haddad e eventuais delitos de corrupção ou que queira traçar uma conexão entre atos es­púrios e a administração Kassab deve respirar fundo e fazer uma pausa para reflexão.

São Paulo é ingovernável, dividida não por bairros nem por zonas, mas por máfias institucionalizadas --nós conhecemos bem: nos transportes, na limpeza, na liberação de alvarás, em qualquer coisa, enfim, que gere dinheiro. E, quando pessoal perce­be que foi tudo dominado, bora in­ventar uma inspeção veicular aqui, uma licitação milionária de reló­gios assinada no apagar das luzes da última gestão ali, qualquer coisa que abra mais uma possibilidade que seja.

Quando sou abordada na rua, é frequente que me perguntem: "Não entendi sua última coluna, você é contra ou a favor dos "black blocs"? Contra ou a favor dos bea­gles? Contra ou a favor dos mensa­leiros?" Ora bolas, pela graça de Nosso Senhor do Alto da Serra eu não vim ao mundo para ser contra ou a favor. Não tenho esse incômo­do cacoete de reduzir as coisas a mocinhos e bandidos, e não sinto necessidade de ficar encaixotando em embalagens distintas coisas que, no Brasil de hoje, andam indis­sociáveis.

Não adianta simplificar: o panora­ma político está tão degradado que não dá mais para fazer uma distin­ção entre quem trilha o caminho da luz, e quem o das trevas.

Até a velha máxima dos tempos do idealismo mais "naïve", "os fins justi­ficam os meios", foi pra cucuia.

Não se aplica mais nem mesmo a radicais muçulmanos suicidas que, na maioria, são cooptados em troca de dinheiro para a família ou iludi­dos pela ideia de que vão papar um ônibus lotado de odaliscas quando chegarem do outro lado.

A questão fundamental a ser res­pondida se quisermos entender o que acontece em sucessivas admi­nistrações paulistanas, nos gover­nos estaduais, em todas as maracu­taias que envolvem peixe grande, seja na forma de teles, de megaobras públicas envolvendo suas majestades, as construtoras, nas mudanças de regras no setor imo­biliário ou mesmo no emblemático episódio do mensalão é a seguinte: o que é que a gente entende hoje por "Crime Organizado"?

Eu duvido que para a presidente da Petrobras, Graça Foster, que es­tá tentando juntar os escombros do cataclisma nuclear que atingiu a es­tatal, a definição de crime organi­zado restrinja-se apenas aos PCCs da vida. Rombos milionários, con­tratos fajutos, não é à toa que as contas da Petrobras estejam sendo questionadas pelo TCU.

Tá ligado no grau de descaramen­to da turma? As teles tomam mul­tas colossais das agências regulado­ras, não pagam e continuam ope­rando e cometendo as mesmas ir­regularidades. Costas quentes?

Sem corar, governador do Rio usa helicóptero para ir na esquina comprar papel higiênico ou insta­grama de Paris seu prato de orca mal passada ao molho pardo de ur­so panda em jantar com amigos da construtora a quem favoreceu (a­tenção: isto é sarcasmo, não deve ser levado ao pé da letra). Está co­meçando a ficar difícil conter o es­cracho. A lama anda permeando tudo. Abriram-se as comportas, os profissionais tomaram o país. E não estão conseguindo conter o es­banjamento, a compra de 80 imó­veis, viagens, barcos, carrões...

A qualquer minuto você pode aca­bar atropelado por uma Ferrari e o segurança que vier atrás só terá o trabalho de jogar seu corpo na lixei­ra, apagar os rastros e dar o fora.

E Haddad já foi avisado pela cúpu­la do PT. Esse negócio de mexer em vespeiro sempre acaba mal na polí­tica. Collor e Dirceu tentaram e...

Lula revela: a imprensa faz mal à democracia - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

As palavras de Lula põem gasolina no fogo dos vândalos que atacam carros da imprensa nas ruas



Discursando no Senado, em comemoração aos 25 anos de promulgação da Constituição, Lula disse que a imprensa “avacalha a política”. E explicou que quem agride a política propõe a ditadura. Parem as máquinas: para o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a imprensa brasileira atenta contra a democracia. É uma acusação grave.

O Brasil não tinha se dado conta de que os jornais, as rádios, a internet e as televisões punham em risco sua vida democrática. Felizmente o país tem um líder atento como Lula, capaz de perceber que os jornalistas brasileiros estão tramando uma ditadura. Espera-se que a denúncia do filho do Brasil e pai do PT tenha acontecido a tempo de evitar o pior.

No mesmo discurso, Lula cobriu José Sarney de elogios. Disse que o senador maranhense, então presidente da República, foi tão importante na Constituinte quanto Ulysses Guimarães. Para Lula, Sarney sim é, ao contrário da imprensa, um herói da democracia. É compreensível essa afinidade entre os dois ex-presidentes. Sarney e seu filho Fernando armaram a mordaça contra O Estado de S. Paulo. Proibiram o jornal de publicar notícias sobre a investigação da família Sarney por tráfico de influência no Senado, durante o governo do PT. Isso é que é democracia.

A imprensa é mesmo um perigo para a política nacional. Ela acaba de espalhar mais uma coisa horrenda sobre o governo popular – divulgou um relatório do FMI que denuncia a “contabilidade criativa” na tesouraria de Dilma. Contabilidade criativa é uma expressão macia para roubo, já que se trata de fraudar números para esconder dívidas e gastar mais o dinheiro do contribuinte. Assim, a imprensa avacalha a política petista, cassando-lhe o direito democrático de avacalhar as contas públicas.

Lula faz essa declaração no momento em que manifestantes em São Paulo e no Rio de Janeiro, numa epidemia fascista, depredam e incendeiam carros da imprensa, além de agredir jornalistas. Luiz Inácio sabe o que faz. Sabe que suas palavras são gasolina nesse fogo. E não há nada mais democrático do que insuflar vândalos contra a imprensa – já que o método Sarney de mordaça é muito trabalhoso, além de caro.

Do fundo do mar, onde desapareceu há 21 anos, Ulysses Guimarães deve estar quase vindo à tona para tentar entender como Lula conseguiu exaltar a Constituição cidadã e condenar a imprensa num mesmo discurso. Ulysses morreu vendo a imprensa expor os podres de um presidente que seria posto na rua. Ulysses viu a imprensa ressurgir depois do massacre militar contra a liberdade de expressão. Ele mesmo doou parte de sua vida nessa batalha contra o silêncio de chumbo. Ao promulgar a Constituição cidadã, jamais imaginaria que, um quarto de século depois, um ex-oprimido descobriria que o mal da democracia é a imprensa. E estimularia jovens boçais a fazer o que os tanques faziam contra essa praga do jornalismo.

Lula saiu de seu discurso no Senado e foi almoçar com Collor – cujo governo democraticamente conduzido pelo esquema PC também foi avacalhado pelos jornalistas. A união entre Lula e Collor é uma das garantias do Brasil contra a ditadura da imprensa, essa entidade truculenta e abelhuda. E o país se tranquiliza ainda mais ao saber que Lula e Collor estão unidos a Sarney. Com esse trio, a democracia brasileira está a salvo.

Chegará o dia em que a televisão e o rádio servirão apenas aos pronunciamentos de Dilma Rousseff em nome de seus padrinhos, poupando os brasileiros de assuntos ditatoriais como mensalão, contabilidade criativa, tráfico de influência, Rosemary Noronha e outras avacalhações.

Infelizmente Collor se atrasou e não pôde comparecer ao almoço. Lula pôde celebrar seu discurso com outros democratas, como o seu anfitrião, o senador Gim Argello (PTB-DF) – a quem a imprensa golpista também vive avacalhando, só porque ele responde a vários processos e a inquérito no STF por apropriação indébita, peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Com a mídia avacalhando a política desse jeito, não dá nem para almoçar em paz com um amigo do peito.

A Argentina e a Venezuela, que Lula e o PT exaltam como exemplos de democracia, já conseguiram domesticar boa parte da imprensa. Com a reeleição de Dilma, o Brasil chega lá.

Dilemas brasileiros - NELSON MOTTA

O GLOBO - 15/11

Muitos professores são contra premiações por desempenho, mas assim nivelam os piores, os mais ausentes e incompetentes aos melhores, mais dedicados



Para o bem e para o mal, as sociedades que mais crescem, enriquecem e progridem são as mais competitivas, onde impera a meritocracia e são oferecidas condições para que mais gente concorra para a excelência profissional nas ciências, nas artes e na tecnologia, na busca de inovações, de novos produtos e serviços. Assim como a vida real, a competição social é dura, implacável e muitas vezes injusta, muitos caem pelo caminho, muitos espertos e desonestos se dão bem, mas toda a sociedade se beneficia com o progresso. Exemplos são desnecessários.

Há também quem veja a recompensa aos méritos individuais como simples darwinismo social, corrida de ratos engendrada pelo capitalismo, conspiração contra a dignidade, a unidade e os interesses dos trabalhadores e suas corporações. Um exemplo: muitos professores são contra premiações por desempenho, mas assim nivelam os piores, os mais ausentes e incompetentes aos melhores, mais dedicados e eficientes, em nome da solidariedade corporativa, em prejuízo dos alunos e da competitividade internacional do país.

Tão difícil quanto harmonizar os direitos à informação e à privacidade é equilibrar a competitividade e a solidariedade. Não é preciso ser nenhum professor DaMatta para ver que um de nossos maiores problemas é que os brasileiros — individualistas, malandros e sentimentais, habituados a misturar o publico ao privado e à cultura do compadrio e da boca livre — têm enorme dificuldade em escolher entre uma e outra, querem os benefícios das duas, mas sem pagar o preço.

Enquanto o Brasil for uma sociedade de mercado, nosso grande conflito estará na distribuição equitativa dos benefícios da sociedade competitiva. Enfraquecer os fortes não beneficia os fracos, prejudica a todos. Mas não fortalecer os fracos enfraquece toda a sociedade moralmente e atrasa o seu progresso material.

O Brasil de Dilma vive um estranho dilema em que os defensores da competitividade, que faz crescer toda a sociedade, são os liberais e conservadores, e os que privilegiam a solidariedade corporativa, que atrasa a vida do país, e dos seus cidadãos, os progressistas.

Vendedores e seus truques - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Calço 38, mas vendedores já me convenceram a levar até sapato 40. Fica uma lancha no meu pé!



Entro numa livraria. Uma jovem se aproxima, desfilando os dentes, tal o tamanho do sorriso.

– Parabéns. Hoje quem vier de preto, como o senhor, ganha um prêmio. É a cor da elegância.

Estou de preto porque emagrece. Mas, se vou ganhar um prêmio, ótimo! Sorrio e mostro meus dentes, também quase pretos, porque estou com provisórios, até ficarem prontos os definitivos. A jovem continua, insinuante:

– Diga, que revista o senhor prefere?

Minha vaidade sofre um golpe. A abordagem não tinha a ver com meu charme. Era para vender assinatura! Mas não faço assinaturas de revistas. Até gosto de recebê-las em casa. Só que vivo entre Rio e São Paulo. Prefiro usar meu iPad. Respondi com a sinceridade rude que me caracteriza:

– Sinto muito, não vou comprar assinatura.
– Mas não estou vendendo, vou oferecer todos os benefícios sem o senhor ter de pagar.

Continuo com o mantra: “Não vou comprar. Não vou comprar”. É malho de vendas, eu sei. Ela insiste. Corro para fora da loja. É o único jeito de me livrar de vendedores insistentes. Em loja de grife, é um susto. Boto um paletó. Não fecha. Peço um número maior. Não tem. O vendedor começa:

– Você faz questão de fechar o paletó?
– Para que comprar um paletó que não consigo fechar?
– Muita gente hoje em dia usa assim, aberto. É fashion.

Observo minha barriga se projetando para fora. Fashion?

– E você fica muito bem de paletó aberto – diz o vendedor.

Minha vontade é atirar o paletó na sua cara. Respondo:

– É muito ruim comprar com vendedor que não é sincero.

Ele age como se não fosse com ele. No momento, está interessado em me mostrar a loja toda, queira eu ou não.

– Tenho também umas camisetas.

Experimento. Ele diz:

– Está ótima! Salienta os ombros.
– De tão justa, parece que engoli uma melancia.

Vou fugindo, mas ele me acompanha.

– Precisa de carteira? Relógio? Chapéu?

Em restaurantes, a gente é muito enganado. Sempre desconfio quando o maître aconselha:

– A sugestão do chef hoje é linguado.

Se é um domingo, isso significa que o linguado chegou na sexta-feira. É um peixe delicado, que estraga depressa. Obviamente, as geladeiras e os freezers estão abarrotados de linguados. O maître tem de empurrar o peixe. Experimente observar sua expressão quando você diz que prefere um espaguete à bolonhesa. O maître tem vontade de atirar o linguado na sua cara. Mas se vira para sua acompanhante e pergunta, gentilmente:

– E a senhora, já escolheu? O linguado está ótimo!

Da mesma forma, os vinhos. Enólogos em restaurantes são, na prática, vendedores especializados. Claro, sabem o que combina com quê. Mas também há estoques a desovar, como aquele vinho que ninguém pede e mofa na adega. Ele sugere: “Tem um tinto que combina muito bem com carne e peixe ao mesmo tempo”. Até com jiló, se eu perguntar!

Vendedores de feirinhas de antiguidades mostram um prato rachado e pedem uma fortuna:

– É Companhia das Índias, raríssimo.
– Mas está rachado.
– São as marcas do tempo que acentuam a beleza do objeto!

Com essa conversa de “marcas do tempo”, no passado forrei minha casa com quinquilharias inúteis. Hoje, pratos, taças e toda uma parafernália estão escondidos numa prateleira do alto. Motivo: a empregada pode quebrar. Então, para não quebrar, não uso. Se não uso, para que preciso deles? – eu me pergunto. Tente vender um prato rachado a sua vizinha. Você vai ouvir!

Se entro numa joalheria, sempre há uma bela dama para me atender, oferece café e champanhe. Mostra brincos delicados, se pretendo presentear uma jovem. Quando me interesso, elogia minha sofisticação: “Você tem muito bom gosto, é nosso último lançamento internacional”. Eu me sinto gratificado. Sem lembrar que a regra de quem vende é elogiar o cliente. E se você precisa vender uma joia? Um amigo ganhou várias da mãe para comprar um carro. O comprador só pagava pelas pedras e pelo peso em ouro. Design, grife não tinham valor nenhum.

Um truque nunca falha comigo: sapatos. Calço 38. Quase nunca encontro a numeração do modelo que quero. O vendedor me convence: “Nossa fôrma é diferente, experimente o 39”. Papo! Fica uma lancha nos meus pés, mas ele me convence de que tudo bem. Já comprei até o 40. E depois, para usar? Se eu estiver andando torto, você já sabe. Mais uma vez, caí em conversa de vendedor. Como todos nós, algum dia.


Carta a um amigo que realizou o sonho - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

O Estado de S.Paulo - 15/11

Caro Antônio Torres. Você não imagina o que vi há poucos dias na periferia de São Paulo, em São Miguel Paulista. Ali há uma grande praça chamada Morumbizinho. Cheia de árvores. Dessas árvores pendiam cordões, e na extremidade de cada um, um livro. E na extremidade de cada livro uma pessoa. Como se fosse um fio terra. As árvores, símbolos da vida, mantinham os livros, igualmente símbolos de vida à sua maneira. Intrigou-me a cena. Inácio Neto, um dos coordenadores da Semana Literária de São Miguel explicou: pela manhã, em um ritual, os livros são pendurados nas árvores. Cedo as pessoas se juntam à espera, correm e tomam "posse" de seu livro. Às vezes, ficam ali por horas, com breves momentos de repouso, vigilantes. A certa altura, vem a liberação, cada qual puxa seu livro e parte, amanhã haverá outro ritual. E depois, e depois.

Numa semana em que tivemos imagens repulsivas, aterradoras, melancólicas, como a da criança catando latinhas num lixão fedorento ou a reportagem de total perplexidade sobre o "rei do camarote", a cena das pessoas agarradas aos livros que desciam das árvores me emocionou. Há um Brasil diferente. Há um país desconhecido e há pessoas trabalhando para mudá-lo, caríssimo Torres. Esse Brasil você conheceu em centenas de viagens. Pena que a mídia ignore a existência da Semana Literária de São Miguel Paulista. Numa região de 400 mil habitantes, acontecem centenas de encontros, palestras, oficinas, exposições, teatro, canto. São Miguel é o lado oculto da periferia, ansiosa, criativa, querendo e oferecendo coisas. A gerir isso uma organização como a Fundação Tide Setubal. Esta imagem do ritual da colheita dos livros é que deveria ser expandida pela rede social, para as primeira páginas dos jornais: os livros tirados das árvores.

Você, Torres, eleito para a Academia Brasileira de Letras com votação quase unânime, ficaria feliz ao ver o que vi. Aos 73 anos e com 18 livros publicados, você, nascido no Junco, Bahia, chegou lá. O Junco mudou de nome, agora é Sátiro Dias. A Academia era um sonho e você conseguiu. Perdeu duas vezes, foi paciente. Perder faz parte do jogo, de todos os jogos. Agora está lá ao lado de Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, João Ubaldo Ribeiro com quem viajou muito por esse Brasil, de bibocas remotas às capitais. Pena, Moacyr Scliar se foi, era de nossa geração. Estivesse vivo, João Antonio estaria feliz, ainda que, na sua encarnação limabarretiana, virasse a cara.

Falei em João Antonio porque ele, você e eu sempre fomos unidos, fizemos infindáveis viagens por este Brasil. Os três vindos de famílias humildes. Gostaria de ver João se meter em um smoking para ir à sua posse, o que é de praxe. Ou ele chegaria de chinelão à Academia e seria impedido de entrar? Fiquei feliz por você, companheiro do jornal Última Hora nos anos 60. Quantos daquela época estão vivos para comemorar?

Garotões, escondíamos nossas ambições, desejos secretos, tínhamos medo de ser ridicularizados. Por inibição, medo de sermos gozados, ficávamos em silêncio. Você foi para a publicidade, mudou-se para o Rio. Anos mais tarde, em 1972, espantei-me, quando nos encontramos no Center Três, em São Paulo, e você que me mostrou um livro, Um Cão Uivando Para a Lua. Não vi o autor, perguntei:

- É bom? Acabou de comprar?

- Não, acabei de escrever e publicar.

Surpresa, então você tinha se calado todos aqueles anos? Logo depois, nos juntaríamos a João Antonio, formando o trio que percorreu o País após a polêmica Semana Contra a Censura realizada no Teatro Casa Grande no Rio de Janeiro em 1975. Numa dessas viagens, passamos por Araraquara e meu pai te elegeu amigo. "Um grande escritor," dizia o velho Brandão. "Tem cheiro de terra." Ele prenunciava o Essa Terra, enorme sucesso? Comovido, meu pai ouviu a história de como você, dos raros alfabetizados do Junco, escrevia cartas para os que não sabiam ler nem escrever. E como lia as respostas que chegavam. "Assim ele aprendeu, assim se aprende." Meu pai, estivesse vivo, teria me ligado para comemorar a sua eleição. Você, meu amigo, tinha muita ternura por ele, assim como teve para com o próprio pai, retratado em um livro, Adeus, Velho.

Publicado em dezenas de países, agora você é acadêmico. Na cadeira de Machado de Assis e de Jorge Amado. E o que me vem neste momento é uma fala sua no encontro do Paiol Literário de Curitiba, promovido pelo jornal Rascunho: "Por que é que a gente escreve? Deve haver uma falha dentro de nós. Por que o homem cria? Primeiro, porque ele não é capaz de carregar um ser humano dentro dele. De gerar um ser humano dentro dele. As mulheres não, elas não deixam de criar por causa disso, mas acho que, no homem, há esse componente, essa diferença, essa falta. Ele não gera uma criação dentro dele, então cria outras coisas. Tem um buraco dentro dele que é preciso preencher. Tem que criar, inventar coisas e se entreter com isso. E, de outra parte, você vê o seguinte: a literatura serve muito, muito mesmo, para a gente se centrar. Enquanto você a está fazendo, está filtrando, sendo a esponja de uma atmosfera que não é necessariamente saudável. E aí é que entra o escritor como alguém incomodado, alguém desconfortável dentro do seu tempo. Todo escritor mostrou o desconforto que sente durante seu tempo. Vá ver Proust e Dostoievski, e tantos outros. Há um desconforto ali, terrível. Diante da sociedade, diante de tudo".

O patrão cordial e a vida curta - MARIO SERGIO CONTI

FOLHA DE SP -15/11

O primado da inteligência, no qual o espetáculo 'O Patrão Cordial' investe, é uma raridade na arte atual


Nas jornadas de junho, saímos da frente dos computadores. Fomos do mundo virtual para o real, onde assumimos riscos para atacar a ordem. A agitação foi detonada pelos jovens do Movimento Passe Livre, e milhões os seguiram. Depois de 20 anos, a plebe voltou com formas inéditas de manifestação. Como o perigo mobiliza, eis aí os black blocs.

"O Patrão Cordial", que está em cartaz no Sesc Belenzinho, começou a ser preparada antes do terremoto e estreou depois dele. Mas é à luz da nova agitação que a peça deve ser vista, ainda que a arte não tenha o mesmo tempo do comentário político. Isso porque o grupo que a apresenta, a Companhia do Latão, se filia ao teatro épico de Bertolt Brecht, cujo engajamento na luta social é a pedra de toque.

"O Patrão Cordial" parte de duas matrizes. Uma é "O Senhor Puntila e seu Criado Matti", peça de Brecht em que o assunto é a relação entre proprietários e empregados. A outra, "Raízes do Brasil", ensaio no qual Sérgio Buarque de Holanda criou o conceito do "homem cordial": a interação na qual o sentimento e o favor sobrepujam a impessoalidade da lei.

Trazida pelo diretor Sérgio de Carvalho da Finlândia para uma fazenda no Vale do Paraíba, a ação foi deslocada para os anos 1970 do século passado. O patrão Cornélio é generoso e cordial quando bêbado, e explorador calculista nos períodos de sobriedade. Sua filha, Vidinha, está prestes a se casar com um homem pelo qual não tem afeto, e se interessa por um empregado, o motorista Vitor.

O enredo é de comédia e a peça diverte. A ausência de cenários, aliado ao fato de alguns atores representarem diversos papéis, evita a identificação com eles e as facilidades do gênero. O primado da inteligência, no qual o espetáculo investe, é uma raridade na arte atual. O elenco conta com uma atriz de talento formidável, Helena Albergaria. A recusa do grupo ao comercialismo é tocante.

Mesmo assim, "O Patrão Cordial" parece anacrônico, adquire ar de museu. Não porque inexista choque de classes, o ponto de fuga do teatro brechtiano. Mas a filha do fazendeiro que se apaixona pelo motorista caberia numa novela de horário nobre, pelo clichê melodramático. Num Brasil de agronegócio generalizado, aproximar patrões e trabalhadores para a relação pessoal, como faz a peça, é buscar refúgio nas boas certezas do passado.

Para piorar, o noivo da moça rica é pródigo em trejeitos afeminados, enquanto o motorista é um boa-praça parrudo e cheio de bom senso. O lugar-comum, que tem seu lado de realismo socialista, lembra estereótipos de "A Praça é Nossa" pelo subtexto de preconceito. O público ri porque o machismo é visto com naturalidade, e não porque a peça o satirize. Nesse ambiente, uma canção com frases do "Manifesto Comunista" soa como lembrete vazio: somos de esquerda.

É tarefa da arte introduzir caos na ordem, e "O Patrão Cordial", por meio de um materialismo acadêmico, faz o contrário. A plateia da Companhia do Latão sai do teatro com o progressismo reconfortado, achando o que já achava antes, que o homem cordial é uma balela frente à divisão da sociedade em classes. Não há esclarecimento nem provocação.

Reduzir "O Patrão Cordial" a esse fracasso não é tudo. A contraposição da montagem às monstruosidades do entretenimento diz algo sobre as dificuldades do presente. Se o Passe Livre abriu as comportas, por que não o Latão, a esfera artística?

Vislumbra-se essa abertura no final da peça, num momento de real distanciamento brechtiano. É quando a magia da arte se liberta da mentira de ser verdade. O ator Renan Rovida diz ao público que, se aquilo fosse teatro, a plateia seria de pessoas que gostariam de mudar o mundo. Mas isso não é teatro, é vida, e ela é curta.

Mensalão! Algema de sex shop! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/11

Os monarquistas dizem que a República foi proclamada, mas no Brasil tudo é rei: Rei Pelé, Rei Roberto Carlos...


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! "Condenados do mensalão querem evitar algemas!". Concordo. Algemas, só de sex shop. Aquelas acolchoadas. De oncinha! De pelúcia. Prisão Fetiche!

E o presídio da Papuda vai mudar de nome pra Hospedaria do Zé Dirceu! Rarará!

E tem que melhorar aquela quentinha porque no Brasil ainda não tem pena de morte!

E eu não gosto de ver ninguém indo preso. Mesmo que mereça. Me sinto mal.

E o predestinado dos condenados: Jacinto Lamas! Tesoureiro do PR, Jacinto Lamas até o pescoço!

E atenção! Levanta a espada! Feriadão da Proclamação da República! Deodoro da Fonseca levantou a espada. Dom Pedro 1º levantou a espada! No Brasil, tudo se resolve levantando a espada! Rarará!

Levantou a espada, proclama qualquer coisa! Tô na Bahia. Vim proclamar a República na Bahia. Ops, a República DA Bahia! Vim levantar a espada na Bahia! Rarará!

E sabe por que proclamaram a República? Pra gente votar no Collor, no Romário, no Tiririca, no Maluf e na Mulher Pera! Rarará!

E avisa praquele povo de Brasília que a República já foi proclamada, os caras querem ficar no poder a vida inteira. Tronopólio!

E os monarquistas dizem que a República foi proclamada, mas no Brasil tudo é rei: Rei Pelé, Rei Roberto Carlos, Rei do Gado, Rei do Bacalhau, Rei do Camarote, Rainha dos Baixinhos, Rainha do Bumbum. E em São Paulo tem uma padaria chamada Rainha da Traição. Esse padeiro não levou uma vida de rei, levou um corno de rei! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E proclamaram a República, mas esqueceram de avisar o Fernando Henrique. Que tá sempre com aquela cara de rei no exílio!

E o Lula tem cara de Reizinho de revista de quadrinhos! Aquele bem barrigudão com o manto arrastando no chão!

E brasileiro reclama tanto que hoje devia ser dia da Reclamação da República! Ops, República da Reclamação!

E trabalhar em feriadão dá gastura, calo seco, ovo virado, nó nas tripas, zumbido no zovido e cansaço no coração! Rarará!

Cansaço no coração é estar na Bahia e ter que falar de mensalão! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A tinta que separa - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/11

Recomenda-se a casais de artistas pensarem duas vezes antes de aceitar fazer campanha para a Suvinil.
Em junho, a marca lançou anúncios com o casal Luan Santana e Jade Magalhães que, agora, estão separados. Ano passado, Cauã Reymond e Grazi Massafera estrelaram a campanha da tinta.

Vida nova...
Aliás, veja só o que disse Fábio Porchat, que está emagrecendo no quadro Medida Certa, do
“Fantástico”, na quarta-feira, durante a peça “Fora do normal”, no Teatro Arthur Azevedo:
— Eu emagreci e me separei. Ou seja, uni o útil ao agradável. Há controvérsias.

Cabo Dias
Segunda agora, haverá um almoço numa churrascaria em Laranjeiras, no Rio, reunindo velhos comunas para celebrar o centenário de nascimento de Giocondo Dias (1913-1987), que foi secretário executivo do PCB.
Foi Dias quem apresentou, em 1949, Prestes a dona Maria, companheira do líder comunista por mais de 40 anos.

Aluguel de filmes
A Supervídeo, última locadora de vídeos do Humaitá, no Rio, fecha em dezembro.
Este mês, como se sabe, a Blockbuster anunciou o fechamento das últimas 300 lojas nos EUA.

Um pingo de História
Quando o Brasil declarou guerra ao Eixo, em 1942, na Segunda Guerra, o governo de Getúlio Vargas proibiu por aqui qualquer menção à Itália, à Alemanha e ao Japão.
Foi por isso que o Palestra Itália, de Minas, campeão brasileiro de 2013, passou a se chamar Cruzeiro, e o Palestra Itália de São Paulo,
Palmeiras. 

Jango e os militares
Com a exumação do corpo do presidente João Goulart, voltou a se falar da construção do Memorial Jango, em Brasília.
Como se sabe, a ideia é que o projeto de Oscar Niemeyer seja executado na Praça Municipal, no Eixo Memorial.

Só que...
O terreno escolhido fica em frente ao Setor Militar Urbano, área da capital federal onde estão instalações das Forças Armadas. E o projeto de Niemeyer tem uma flecha vermelha, com a inscrição 1964, que atinge a cúpula da construção.
A inauguração está prevista para o ano que vem, quando o golpe que depôs Jango completa 50 anos.

Memorial Lou Reed
Uma homenagem a Lou Reed ontem, em Nova York, emocionou a plateia do Lincoln Center.
Laurie Anderson, viúva do músico — que morreu há duas semanas — fez uma seleção de músicas de Reed que foram tocadas durante três horas em dezenas de caixas de som distribuídas pela casa de espetáculos. Na plateia estavam Salman Rushdie e Philip Glass.

Uma brasileira
Geraldo Azevedo voltou a sorrir. Uma faxineira do Galeão/Tom Jobim encontrou e guardou o iPhone 4s do compositor, com suas 20 músicas inéditas, esquecido numa cadeira do aeroporto, como saiu aqui.
Ela descobriu o número do telefone da casa do músico e entrou em contato com a família. Geraldo está em turnê pela Alemanha.

Segue...
De lá, fazendo shows, Geraldo comemorou:
— Eu quero conhecê-la pessoalmente. Ela tem três filhos e dois empregos para mantê-los. E disse que devolveu o aparelho porque quer deitar no travesseiro e dormir.

Luz no fim do túnel
A Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de Lisboa, Portugal, negocia a compra da enferma Universidade Gama Filho.

Boletim médico
Cláudia Jimenez esteve ontem no Pró-Cardíaco fazendo um check-up.
A atriz começou a gravar ontem a novela “Além do horizonte”.

Fica, Vasco!
François Dossa, presidente da Nissan no Brasil, escreveu para o vascaíno Sérgio Cabral reforçando que a empresa, patrocinadora do Vasco, torce pela permanência do clube na elite do Brasileirão.
É que o diretor de marketing da Nissan no Brasil, Murilo Moreno, numa palestra na FGV, teria dito que se o time caísse para a Série B seria “melhor ainda”, pois a marca teria mais exposição na mídia.

Fora da mesa
O Porcão Gourmet corre o risco de ser despejado do Jockey Club do Rio.
Motivo: estaria há quatro meses sem pagar aluguel.

NA SALA COM JANOT - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/11

O pedido de prisão dos réus do mensalão, nesta semana, foi precedido de um encontro entre a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e de Luis Adams, advogado-geral da União, com Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Um dia depois, Janot assinou a solicitação encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a detenção imediata dos condenados.

NO QUINTAL
A reunião chegou ao conhecimento de José Dirceu e dos deputados José Genoino e João Paulo Cunha, do PT, e se espalhou pelo partido. Foi interpretada como um envolvimento do próprio governo de Dilma Rousseff com a iniciativa, que surpreendeu a legenda e também os condenados. No mínimo, dizem, o governo foi informado com antecedência.

PAUTA
Adams confirma o encontro com Janot. E diz que ele nada teve a ver com o pedido de prisão. "Nem tocamos no assunto mensalão", afirma. Segundo o advogado-geral, Janot pediu um encontro com Gleisi Hoffmann. Ela decidiu visitar a PGR (Procuradoria-Geral da República). E pediu que Adams a acompanhasse. Conversaram, segundo ele, sobre "tratados internacionais".

RUÍDO
A interpretação de dirigentes do PT e de outros partidos é a de que a prisão dos réus agora favorece Dilma. Na campanha eleitoral, o impacto da medida já estaria amenizado pelo tempo. E ela não teria que responder a acusações de que seu governo se esforçava para garantir a "impunidade" dos petistas.

NADA PESSOAL
Uma das pessoas mais próximas de Dirceu na fase do mensalão disse à coluna que, do ponto de vista pessoal, Dilma sempre foi uma das lideranças mais solidárias ao petista.

ATÉ BREVE
José Dirceu passou boa parte da manhã de ontem telefonando para familiares -- entre outros, as três irmãs, os irmãos, os três filhos já adultos e as ex-mulheres. Dizia estar bem e pedia tranquilidade a todos.

CARA...
A Proclamação da República "foi um dia lamentável na história" do país, na visão de dom Bertrand de Orleans e Bragança, 72, príncipe imperial do Brasil e defensor do retorno da monarquia. "O país foi desviado das vias nas quais devia ter continuado", afirma o segundo na linha de sucessão (se a realeza voltar). Para ele, não há "nada a festejar" hoje. A "prova" do "fracasso absoluto" do regime é que "as pessoas só votam porque é obrigatório."

...OU COROA
O trineto de Pedro 2º se diz preocupado com os "black blocs". Teme que "se aproveitem da inconformidade popular com a República".

NOVENTA
Samuel Klein, patriarca das Casas Bahia, festeja hoje seus 90 anos em uma comemoração tripla. Noventa convidados vão participar da festa de aniversário que acontece junto com o "brit milá" (cerimônia de circuncisão do rito judaico) dos netos Joseph e Benjamin, que completam 45 dias de vida. Os gêmeos são herdeiros de Michel, 60, um dos três filhos do aniversariante, que tem sete netos e três bisnetos.

A COR DESSA CIDADE
Uma extensão de 3,5 km de muros no caminho para o Itaquerão será coberta por grafites para a Copa do Mundo. As pinturas, com o tema futebol e torcida, serão feitas ao longo da linha vermelha do metrô por 30 artistas. "É a maior intervenção de grafite da América Latina", diz Raquel Verdenacci, coordenadora do Comitê Paulista da Copa, autor do projeto.

CRÔ ATACA NOVAMENTE
O cineasta Bruno Barreto exibiu anteontem para convidados o filme "Crô", estrelado por Marcelo Serrado. As apresentadoras Ticiane Pinheiro e Ana Hickmann com o marido, Alexandre Corrêa, e o ginasta Diego Hypolito estiveram no plateia. Os atores Alexandre Nero, Katia Moraes e Karin Rodrigues, que também fazem parte do elenco do longa, foram ao evento no shopping Eldorado.

DA TERRA DA RAINHA
Cristiana Arcangeli ofereceu jantar em sua casa a membros do Conselho de Moda Britânico, anteontem, nos Jardins. Ela e o marido, o também empresário e apresentador de TV Álvaro Garnero, receberam Anna Orsini e Marits Roberts, respectivamente consultora e diretor de marketing da entidade, e Kimberly Carroll, relações-públicas da Semana de Moda de Londres. As estilistas Barbara Casasola e Lethicia Bronstein e a designer Paola de Orleans e Bragança compareceram.

CURTO-CIRCUITO
A ópera "La Bohème", que estreia no mês que vem no Theatro Municipal de SP, já tem mais de 10 mil ingressos vendidos.

O documentário "Blood Money - Aborto Legalizado" entra em cartaz hoje nos cinemas. 14 anos.

Marina Lima apresenta hoje e amanhã o show "Maneira de Ser", às 22h, no Tom Jazz. 14 anos.

O espetáculo de dança "Baderna - Reverberações Antropofágicas" inicia temporada hoje, no Kasulo, na Barra Funda. 16 anos.

Pode isso? - SONIA RACY

O ESTADÃO - 15/11

Mesmo investigado pelo CNJ, o desembargador Armando Toledo, do TJ-SP, disputará o cargo de corregedor-geral da Justiça – em eleição dia 4. Também estão no páreo Hamilton Elliot Akel e Luis Antonio Ganzerla.
Denúncia anônima acusa Toledo de “sentar” sobre processo contra Barros Munhoz, ex-presidente da Assembleia paulista, durante três anos. Para que as acusações prescrevessem.

Pode isso? 2
Procurado, Armando Toledo afirmou que o CNJ ainda não decidiu se irá arquivar ou prosseguir com a investigação. “Ainda não é um processo administrativo. O CNJ me pediu explicações sobre o caso e eu respondi.”
O desembargador diz também que “falam em prescrição, mas a prova de que não ajudei nem prejudiquei ninguém é que o processo (contra Munhoz) prossegue.”

Quilometragem
A nova política de preços da Petrobrás só será discutida dia 22, mas, em muitas estradas brasileiras, o preço do diesel... já subiu. Segundo números do IPTC, de setembro para outubro o litro teve incremento de 1,34% na rodovia dos Bandeirantes, em SP.

O mesmo se deu na BR-262, que interliga ES, MG, SP e MS. Aumento de 0,91%.

Holiday
Audiência com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, marcada para ontem na Comissão de Relações Exteriores e Segurança Nacional do Senado, foi cancelada pouco menos de 24 horas antes de ocorrer.

A ONG Conectas questionou a comissão sobre o motivo do cancelamento. Resposta? Por hoje ser feriado, senadores membros da CRE estariam viajando já na quinta, devido à dificuldade de conseguir voo.

Lotadaço
Juvenal Juvêncio está rindo à toa. A Prefeitura concedeu alvará ao São Paulo para que o Morumbi “opere com capacidade máxima de 67.052 torcedores”. Cerca de 250 pessoas a mais do que o presidente do clube esperava.

Lotadinho
E Mario Gobbi ficou contrariado com decisão da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana do Município – que indeferiu pedido do Corinthians para instalar mastro com abandeira do clube no Itaquerão.

Sem high line
O futuro do Minhocão continua na pauta do paulistano. No site colaborativo Sampa Criativa, por exemplo, existem pelo menos 5 propostas de revitalização do Elevado Costa e Silva.

Além das já conhecidas ideias de transformá-lo em parque linear – com direito a ciclovia e área de lazer –, há sugestões para demolira obra ou implementar uma área de Zona Azul na calçada logo abaixo do viaduto, hoje usada como “abrigo” por moradores de rua.

High line 2
Indagada, aSecretariade Planejamento Urbano da Prefeitura afirma que a demolição do Minhocão era uma das diretrizes presentes nos estudos da operação urbana Lapa-Brás.

Entretanto, o projeto está dentro do perímetro do Arco Tietê, em fase de chamamento público –no qual empresas da iniciativa privada s ão convidadas a apresentar propostas urbanísticas.

High line 3
Ainda segundo a secretaria, ao final desse procedimento, acredita-se que poderão surgir propostas para o elevado – levando em conta aviabilidade econômica e o consenso entre todas as partes que sofrerão impacto direto da reurbanização: moradores, investidores, empreendedores privados e as diversas esferas de governo.

O julgamento do julgamento - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/11

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, está xingando nos bastidores o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Barbosa não se conforma com o pedido de prisão dos réus do mensalão feito por Janot às vésperas da retomada do julgamento. Acredita que o PGR ofereceu a isca para o ministro Ricardo Lewandowski pedir nova intervenção da defesa. E acusa Janot de ter tentado inviabilizar a sessão do STF de anteontem.

Passando o bastão
A primeira missão do vice Michel Temer, ao retornar da viagem à China e aos Emirados Árabes, foi conversar com os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves. Os dois têm medido forças, e esse embate ficou mais intenso nos últimos 15 dias. Temer pediu que ambos baixem a bola. A Henrique Alves, fez apelo especial: que ele combine com parceiros e aliados antes de chutar a gol. Mas a guerra não vai acabar. Na semana que vem, a Câmara promete aprovar o piso para os agentes comunitários de Saúde com mudanças no texto. Assim, a proposta volta à sua Casa de origem, o Senado, e o ônus de rejeitar será dos senadores.

“A corrupção não tem partidos e é um mal em si. Nestes poucos meses, explodiram escândalos em um ministério, em um importante estado e em uma importante prefeitura”.
Luís Roberto Barroso, Ministro do STF, no julgamento do mensalão

Se a moda pega
A viúva de um ex-senador ganhou na Justiça o direito de ser ressarcida pelo Senado em R$ 260 mil com despesas médicas. Uma norma interna limita este ressarcimento em R$ 32 mil anuais. O Senado está recorrendo da sentença.

Não é mais aquele
O MST perdeu seu vigor. Relatório da Ouvidoria Agrária Nacional fez um Raio-X da ação da organização e constatou que as ocupações de terra caem a cada ano. Neste, até novembro, ocorreram 78 ocupações. É o menor número da história. O MST perdeu gás devido à redução do desemprego e ao aumento da renda da agricultura familiar.

A esperança é a última que morre
A ministra Ideli Salvatti estava aliviada ontem e convencida que tinha desarmado a pauta-bomba. Depois de semanas de negociações, acredita que não será aprovado nenhum projeto que amplia, sem entendimento prévio, os gastos públicos.

Pulando fora
O presidente do TCU, Augusto Nardes, nega que tenha feito proposta para mudar a lei do teto salarial. Lembra que, em 2009, relatou acórdão dizendo que o teto valia mesmo que o pagamento viesse de esferas ou poderes distintos. “Por que eu mudaria isso agora? pergunta. O ministro diz que não se lembra de quem propôs isso, acrescentando que a decisão final da matéria será do Congresso.

Checar todos os detalhes
A assessoria do presidente do STF, Joaquim Barbosa, vai trabalhar ao seu lado no feriado para preparar os pedidos de prisão dos condenados no mensalão. O ministro não quer cometer erros.

Na política não tem espaço vazio
O governador Raimundo Colombo (PSD-SC) desistiu do PT. A bola foi lançada para o PP, e o presidente da Assembleia, Joares Ponticelli, pode concorrer ao Senado, O PMDB terá o vice.

RODRIGO MAIA (DEM-RJ) prepara ação legal para suspender leilão do Galeão após a Justiça bloquear pagamentos à EDP, cujo projeto desaloja três mil famílias.

Geopolítica da aliança - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/11

Em almoço ontem após a homenagem a João Goulart, Dilma Rousseff, Lula e Rui Falcão se debruçaram sobre os entraves à aliança com o PMDB em 2014: justamente os Estados dos principais caciques peemedebistas. O apoio do PT só está assegurado ao filho de Jader Barbalho, Helder, para o governo do Pará, e ao candidato da família Sarney no Maranhão. Há preocupação quanto ao impasse no Ceará e em Alagoas. No Rio, os dois partidos estão conformados em marchar separados.

Intensivão 1 Na quarta-feira, Dilma recebeu o governador Sérgio Cabral (RJ) e e seu vice, Luiz Fernando Pezão, para um jantar no Palácio da Alvorada. Eles levaram pesquisas mostrando crescimento do peemedebista.

Intensivão 2 Ontem, antes do almoço, Lula sentou-se ao lado de José Sarney (AP) no ato na Base Militar.

Ao vivo Nas primeiras filas no evento, os senadores Eduardo Braga (PMDB-AM) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) e os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Anthony Garotinho (PR-RJ) filmaram nos telefones celulares até o momento em que a viúva de Jango, Teresa Goulart, colocou flores sobre seu esquife.

Ordem unida A resolução que o PC do B deve aprovar em seu congresso, que acaba amanhã, cita como diretriz "assegurar a quarta vitória do povo", em referência ao apoio à reeleição de Dilma.

Puro sangue Grupo de cardeais do PSD se reuniu para discutir a sucessão paulista. O desenho mais provável é a repetição da chapa Gilberto Kassab e Alda Marco Antonio para o governo, com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles como candidato ao Senado.

Distância Kassab foi convidado para participar do congresso do PC do B hoje de manhã. O prefeito Fernando Haddad (PT), em fase de rusgas com o antecessor, só deve aparecer no fim do dia.

Esta tarde... Três ministros do STF criticaram a condução de Joaquim Barbosa na confusa sessão que decidiu pelo início da execução das penas no mensalão.

... se improvisa A avaliação é que o presidente da corte não se preparou para a possibilidade de o pedido de Rodrigo Janot ser acatado, e deveria ter submetido antes ao plenário os casos pendentes sobre admissibilidade de embargos infringentes.

Laudo 1 A defesa do deputado José Genoino não apresentará, por ora, pedido de aplicação de regime mais brando de prisão devido a problemas de saúde, como fez Roberto Jefferson.

Laudo 2 O advogado do petista, Luiz Fernando Pacheco, disse que só tomará a decisão se receber orientação dos médicos de Genoino.

Guichê A Prefeitura de São Paulo já notificou quatro empreendimentos sob investigação para que apresentem comprovação de pagamento de ISS. As empresas terão de demonstrar que pagaram o tributo com desconto. O total de empreendimentos notificados deve chegar a 50.

À mesa Diante do impasse sobre a votação do Marco Civil da Internet, Dilma deve assumir pessoalmente a articulação com líderes da base aliada. Deputados afirmam que ainda não há data prevista para a discussão.

Culpa A troca de acusações entre Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Alves (PMDB-RN) sobre a responsabilidade pela demora na aprovação do voto aberto abalou a relação dos presidentes do Senado e da Câmara. A despeito da declaração de Alves de que a questão está superada, nos bastidores o clima é de discórdia.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

tiroteio

"O Brasil é um país de paradoxos: enquanto a estátua da Mônica é levada de camburão, mensaleiros descansam em praias da Bahia."

DO SENADOR ALVARO DIAS (PSDB-PR), sobre viagem de José Dirceu na véspera da sessão que acabou não definindo a data em que os condenados serão presos.

contraponto

Capitanias hereditárias

Discursando em plenário sobre a proclamação da República, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) lembrou telegrama enviado de Goiás pelo bisavô de FHC, capitão Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, dizendo que "a República não serviu para nada, pois aqui, como antes, continuam mandando os Caiado", quando foi saudado pelo colega Amauri Teixeira (PT-BA):

--Nada como um historiador para relembrar a nossa marcha a ré pública!

--Ou, ao menos, a hereditariedade política. Seja pelos dotes intelectuais, seja pelos de terra... --concluiu.

É pegar ou largar - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/11

Fracassada a tentativa de fatiar a emenda que institui o voto aberto em todas as situações, a ala do PMDB contrária à proposta se revoltou: “Ah é?! Eles querem tudo? Pois agora não terão nada”, reagiu o senador Lobão Filho (PMDB-MA), que concordava com o voto aberto apenas para efeito de cassação de mandato.

A reação é para forçar um acordo em torno da manutenção do voto secreto para vetos, aprovação de autoridades e eleição da Mesa Diretora da Casa. Até no PT é dado como certo um arranjo de quatro votos em favor do que for costurado. Afinal, depois que o governo manteve vários vetos polêmicos por meio do voto secreto em plenário, há quem avalie que o voto aberto, nesse caso, poderia prejudicar os interesses do Planalto.

Vital vai
Está fechado: o atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Vital do Rego Filho (PMDB-PB), será ministro. Só não se sabe ainda de quê. Isso porque a presidente Dilma tem dito que poderá precisar da pasta da Integração Nacional para contemplar outro partido.

Turismo sai
A futura nomeação de Vitalzinho, entretanto, não será sinônimo de aumento do número de ministérios do PMDB. Turismo, hoje a cargo do maranhense Gastão Vieira, está na lista de reserva da presidente como quota para atender o Pros de Cid Gomes.

E Portos…
…, com seus R$ 6 bilhões, deve ficar mesmo para um técnico ligado à presidente Dilma Rousseff.

E no Instituto Lula…O ex-presidente recebeu dia desses o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Na conversa, concluíram que Cid Gomes só tem mesmo a oferecer ao senador o apoio à candidatura para governador. Afinal, se o peemedebista vencer, o PT ganha mais um voto no plenário da Casa. É tudo o que Lula deseja para o governo Dilma.

Cada um na sua
Coincidência ou não, a homenagem póstuma a Jango na Base Aérea de Brasília vem cinco dias antes da solenidade para marcar os 30 anos da declaração de Poços de Caldas, o primeiro manifesto em prol das eleições diretas para presidente da República. Na segunda-feira, o anfitrião será o tucano Aécio Neves. É a pré-campanha do resgate histórico.

Musa/ O ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) achou Maria Tereza Goulart, viúva do ex-preisdente João Goulart, com semblante de sofrimento. “Foi uma das mulheres mais bonitas que conheci, mas está com ares de sofrida. Vai ver que ela achou a mesma coisa de mim”, comentou Sarney com um amigo.

Papo DNA/ A conversa entre Lula e Sarney não é mais aquela de outros tempos. Ambos só falavam de exames e médicos. “E aí, como vai a coluna?”, quis saber Lula. “E você está bem, tem feito os checapes?”, perguntou Sarney. Ainda bem que ambos têm bom humor: “É conversa sobre problema de DNA — data de nascimento antiga”, brincou o ex-presidente do Senado.

Escola Donadon/ Natan Donadon se entregou à polícia numa parada de ônibus, em Brasília, para não passar pelo constrangimento de ser fotografado algemado. Estratégia semelhante será seguida pelos condenados no processo do mensalão, para evitar tal cena.

Se depender de vontade…/ O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (foto), não planeja candidatar-se a mandato eletivo no ano que vem. Tudo para se manter onde está, com todo o apoio da presidente Dilma Rousseff, que, até aqui, não lhe faltou.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/11

Câmara de energia projeta alta de 77% em pagamentos
Os pagamentos realizados entre as empresas que compram e vendem energia devem atingir R$ 22 bilhões em 2013, uma alta de 77,5% em relação a 2012, segundo cálculo da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

No ano passado, a liquidação foi de R$ 12,4 bilhões. O maior aumento deverá ocorrer nos volumes do mercado de curto prazo --de R$ 9 bilhões para R$ 15 bilhões.

"[O crescimento] será por causa [do uso] das térmicas e do PLD alto", diz Luiz Eduardo Barata Ferreira, presidente do conselho da CCEE.

O PLD (preço de liquidação das diferenças) é um índice semanal utilizado para calcular o valor da energia no mercado de curto prazo.

A partir deste ano, as despesas extras com as térmicas que são acionadas para evitar o risco de racionamento passaram a integrar o índice.

Com os níveis dos reservatórios das hidrelétricas mais baixos e uma maior dependência das térmicas, os valores foram puxados para cima.

Outro motivo para o aumento das liquidações é que a CCEE absorveu atividades que não eram de sua responsabilidade até 2012, como a contabilização dos pagamentos das usinas de Angra.

Para 2014, o cenário projetado é de permanência de reservatórios hídricos baixos, sobretudo no Nordeste.

"O que significa que, provavelmente, vai haver mais despacho de usinas térmicas e o preço vai se manter elevado", afirma Ricardo Lima, conselheiro da câmara.

O mercado de curto prazo não atinge diretamente os consumidores residenciais, diz Lima. "As distribuidoras contratam no longo prazo."

Otimismo de micro e pequeno industrial atinge maior patamar
A satisfação dos micros e pequenos industriais com seus negócios alcançou o maior nível desde março deste ano, mês em que o Simpi (sindicato do setor) começou a fazer um levantamento em parceria com o Datafolha.

Dos 317 entrevistados no Estado de São Paulo, 53% consideraram, em outubro, a situação de sua empresa como boa ou ótima.

A parcela dos que afirmaram estar em um momento ruim também chegou ao mais baixo patamar (12%).

Entre os principais motivos que elevaram o otimismo do empresariado aparecem a boa aceitação de seus produtos no mercado (21%), o fato de atuarem em um segmento que está em alta (19%) e a ausência de dívidas (17%).

A satisfação dos industriais com suas margens de lucro também atingiu o nível mais alto da série: subiu de 31%, em setembro, para 41%, no mês passado.

A alta dos indicadores é consequência do bom momento financeiros das companhias, aponta a entidade.

A maior parte dos entrevistados (40%) ainda afirmou acreditar que o período de festas deste fim de ano será melhor que o de 2012. Pouco mais de 35% disse que será igual, e 22%, pior.

VAGA NO GALPÃO
O mercado de condomínios logísticos de alto padrão no país recebeu novos 500 mil m² no terceiro trimestre e atingiu 7,7 milhões de m², um crescimento de 7,1% em relação aos três meses anteriores, segundo estudo da Colliers.

Com a entrega dos empreendimentos, a taxa de disponibilidade subiu e fechou o trimestre em 17,3%.

"O mercado continua movimentado e está bom. O que causa essa taxa [de galpões vagos] é a oferta, que está muito grande", afirma Ricardo Betancourt, presidente da companhia no Brasil.

A projeção para o último trimestre de 2013 é que a disponibilidade deverá continuar em patamares mais elevados, porque outros 700 mil m² serão entregues.

O preço de locação, por sua vez, seguiu estável ao longo do ano, perto de R$ 19 o m².

O Estado de São Paulo concentrou os novos condomínios no terceiro trimestre, com 64% do total lançado.

MORDIDA NO RENDIMENTO
O número de países que reajustaram a alíquota mais alta do imposto de renda cresceu neste ano, na comparação com 2012, segundo estudo da Eca International.

Do total de 93 países analisados, 15 ampliaram o percentual de tributação sobre os rendimentos de pessoa física em 2013. No ano passado, o reajuste havia sido em dez localidades.

A Eslovênia registrou a maior elevação neste ano em termos percentuais. A alíquota mais alta do imposto de renda passou de 41% para 50% --um reajuste de 22%.

Na Finlândia, a tributação subiu de 48,25% para 50,25%.

Em situação oposta, apenas cinco dos países avaliados tiveram recuo na faixa mais alta de tributação.

São eles Dinamarca (onde a principal alíquota foi reduzida para 52,8%), Grécia (46%), Reino Unido (45%), Sérvia (25%) e Letônia (24%).

No Brasil não houve mudança --o topo da tributação permaneceu em 27,5% do total de rendimentos.

SEM GARAGEM
Cerca de 10% dos compradores de imóveis da região central de São Paulo entrevistados pelo grupo Hubert afirmaram não necessitar de vaga de garagem se puderem utilizar transporte público.

"Para eles, se tiver vaga, melhor, se não tiver, isso não será um obstáculo", diz Hubert Gebara, diretor da empresa. O executivo afirma que um imóvel sem garagem pode ser 20% mais barato.

Tempestade perfeita - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/11

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto vem advertindo, como na entrevista publicada nesta edição na página B4, que a economia brasileira corre o risco de ter de enfrentar uma tempestade perfeita se a presidente Dilma não der um passo decisivo para a recuperação da confiança.

A desconfiança é fato repisado, ainda que o governo a todo tempo tente desqualificá-la como obra de pessimistas profissionais. Mas não dá para negar os problemas. O crescimento econômico é insatisfatório, como ainda ontem atestou o IBC-Br, do Banco Central (veja o Confira): o governo federal gasta mais do que pode; as contas externas estão em deterioração e os dólares continuam saindo mais do que entrando; a inflação anual continua no sexto andar e por aí vai. Nesse ambiente pouco animador, o empresário trava seus investimentos por aqui e começa a sair do Brasil.

A tempestade perfeita, para o ex-ministro Delfim Netto, acontecerá se esse clima persistir na temporada de reversão da política monetária, fortemente expansionista, empreendida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). À medida que menos dólares forem emitidos (hoje são à proporção de US$ 85 bilhões por mês) e que a oferta de moeda estrangeira escassear, o câmbio interno poderá passar pelas turbulências já conhecidas.

Outro rombo que se abriria no casco do navio seria o rebaixamento da qualidade da dívida brasileira pelas agências de qualificação de risco, fator que provocaria rejeições de títulos e outros ativos do Brasil. Mas não precisaria tudo isso. Efeito parecido com esse poderia ser causado pelo simples rebaixamento da dívida da Petrobrás, que teria alto poder de contaminação na economia.

Para Delfim, bastaria que a presidente Dilma assumisse o compromisso firme de que o governo fará uma economia de 2% do PIB (cerca de R$ 96 bilhões) por ano, destinada a amortizar a dívida (superávit primário), para que a política econômica começasse a passar firmeza e, nessas condições, a tempestade poderia ser enfrentada sem avarias de monta para o navio. Nesse caso, teria de basear-se em cálculo transparente das contas públicas, sem os truques contábeis inventados em 2012 pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, o mesmo que vem denunciando a existência de ataques especulativos contra as finanças do governo.

A outra ideia destinada a aumentar a credibilidade do governo, sugerida também por Delfim, seria a aprovação da Lei Complementar que desse autonomia ao Banco Central. Mas a presidente Dilma tratou de esvaziar esse balão.

Se não por outras razões, pelo menos por ser trunfo eleitoral não desprezível, a presidente Dilma parece mesmo precisada de um par de asas que pudesse ser proporcionado por uma nova Carta ao Povo Brasileiro, o compromisso solene feito em 2002 pelo então candidato Lula à Presidência da República. Por enquanto, não há sinais disso. Mas, se os serviços de meteorologia confirmarem a formação da tal tempestade perfeita, o governo será pressionado a fazer alguma coisa.

Brasil brinca na gangorra - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 15/11

Boato sobre mudança nos EUA se aquieta e dólar pode voltar a cair, mas não é esse o nosso problema


OS PALPITES sobre o futuro da política econômica dos EUA variam desde setembro de modo agora quase pendular e mais ou menos quinzenal.

Ontem, a futura presidente do banco central americano (o Fed), Janet Yellen, confirmou no Congresso americano as palavras e intenções de seu discurso vazado na noite quarta-feira, induzindo "o mercado" a desacreditar que a mudança está próxima (entre dezembro e março).

Esse era o zum-zum dos últimos 15 dias.

Numa quinzena, como na passada, chuta-se que "agora vai", que apareceram sinais importantes de que a economia americana vai começar a crescer. Assim, aposta-se (literalmente) que o BC deles vai fechar um pouco a torneira de dinheiro que despeja na economia.

Como já se deve saber, pela recorrência do assunto, um aperto monetário miudinho eleva juros por lá, encarece o dólar por aqui, derruba Bolsas pelo mundo etc., os efeitos mais evidentes da mudança.

As declarações de Yellen e a escassez de indicadores que alimentassem apostas altistas na economia americana anestesiaram a conversa sobre o começo lentíssimo, gradual e seguro da prévia do aperto monetário americano (menos dinheiro na praça).

Refresco para nós, que podemos sofrer com uma alta forte, talvez exagerada e acelerada do dólar? Um refresco temporário e aguado, cada vez mais aguado.

Primeiro, porque a própria incerteza e as variações constantes do dólar já não nos fazem bem. Segundo, poucos duvidam de que essa torrente de dinheiro do Fed tem de começar a minguar em algum momento (quem não duvida é ainda mais pessimista sobre o estado do mundo). Em algum momento de 2014.

Logo, para quem pensa assim, o dólar subirá, o capital ficará um tanto mais escasso para países emergentes e, tudo mais constante, o dinheiro ficará mais caro por aqui.

Terceiro, mesmo que os Estados Unidos voltem a crescer em ritmo decente e a mudança na política monetária americana não cause desordens maiores, a gente não está bem em posição de aproveitar bem a maré eventualmente boa.

No fim das contas, parece positivo que os EUA, maior economia do mundo, cresçam, certo? Os americanos são o grande mercado consumidor da produção mundial, compram mais do que vendem etc. Algum deveria sobrar para nós, pelo menos por tabela.

Talvez sobre, mais por tabela, pois nossas vendas diretas ao mercado americano são miudinhas em relação ao tamanho da nossa economia.

Também não vamos aproveitar a maré boa por desarranjos internos, que não vão passar até 2015, pelo menos, com boa vontade.

Essa é a conversa geral de quem tem dinheiro e voz no mundo da finança, aqui e lá fora. Não se trata de previsão de catástrofe, claro, mas de turbulência adicional para um aviãozinho que já voa bem avariado, com instrumentos quebrados.

Logo, é melhor ignorar a conversa de que o "Brasil ganhou tempo", que tem uma "pausa para respirar", que inflação vai deixar de crescer "x" centésimos porque o dólar caiu durante umas semanas e outros diversionismos. Nosso problema maior nem é esse, a virada monetária americana, e, seja como for, "vamos estar enrolando" a solução deles até pelo menos 2015.

O Paraíso pode ser perdido - PAULO PAIVA

O Estado de S.Paulo - 15/11

Um dos ganhos mais expressivos da sociedade brasileira pós-real foi o aumento da classe média, cujo contingente já ultrapassa 50% da população. Nos últimos 20 anos, os brasileiros passaram de 150 milhões, em 1993, para 201 milhões, em 2013. Nesse período, as classes D e E, que representavam 62% em 1993, baixaram para 33,2% da população total. Assim, os pobres, que eram cerca de 93,150 milhões há 20 anos, hoje são 66,732 milhões. Feito extraordinário. Em termos líquidos, pode-se dizer que esses 26,418 milhões que deixaram a pobreza se somaram aos novos 51 milhões, perfazendo 77,418 milhões de pessoas integradas às classes consumidoras: à nova classe média (classe C) e à velha classe média ou os ricos (classes A e B). É como se a população da Turquia ou do Irã tivesse sido incorporada ao mercado de consumo do País. Considerando somente a nova classe média, o aumento foi comparável em tamanho ao da população da França.

Esse crescimento expressivo da classe média ocorreu graças ao desempenho da economia brasileira. As reformas econômicas acompanhadas da gestão da política macroeconômica, que teve como pilares o controle da inflação, o equilíbrio fiscal e a flutuação da taxa de câmbio, foram fundamentais para permitir a retomada dos investimentos privados e, em consequência, do crescimento do PIB e do emprego. No mercado de trabalho, as taxas de desemprego caíram para os níveis históricos mais baixos e o emprego formal cresceu. A continuidade na condução da política macroeconômica nos governos FHC e Lula garantiu a trajetória de estabilidade monetária e crescimento econômico dos últimos anos.

Segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, a classe média é constituída pelos indivíduos que vivem em famílias com renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00, ou seja, com a capacidade de consumo diário entre R$ 10 e R$ 34 por pessoa. Essas famílias tiveram seu nível de consumo elevado graças, por um lado, à estabilidade dos preços e, por outro lado, à expansão do crédito. São famílias que passaram a frequentar os shopping centers e a consumir mais roupas e bens duráveis, como computadores, telefones celulares, eletrodomésticos, automóveis, etc. Na mesma linha, tiveram acesso ao financiamento para a casa própria.

Contudo, os bens públicos que poderiam ampliar o bem-estar dessas famílias não cresceram na mesma proporção. O sistema público de saúde continuou precário no atendimento à população. Hospitais lotados e filas intermináveis nos postos de saúde. Serviços de baixa qualidade e insuficientes para atender à demanda crescente. As escolas públicas não ampliaram sua rede na proporção necessária e mantiveram a má qualidade. No caso do ensino fundamental, com desempenho abaixo da média das escolas privadas. O transporte urbano também não acompanhou as mudanças ocorridas com a população. Manteve sua conhecida baixa qualidade, insuficiente para atender a população em padrões minimamente adequados. E a segurança pública parece ter se deteriorado nesses 20 anos.

Vê-se que os ganhos para a população decorrentes da política econômica, que estimulou o fortalecimento do mercado, não tiveram correspondência nas políticas responsáveis pela oferta de bens públicos. Preocupa muito a tendência atual de desmonte da política macroeconômica. Essa nova classe média é fruto do êxito da política econômica - não da política social - e será o primeiro segmento a sofrer com a desaceleração do crescimento e a volta da inflação. O subgrupo classificado pelo governo como baixa classe média tem uma renda individual per capita de R$ 10 a R$ 15 por dia. Essas famílias serão as primeiras a voltar para a pobreza, se o crescimento não for restabelecido e a inflação, contida.

Pode-se estar pondo muito a perder por falta de entendimento correto das razões da expansão da nova classe média. O desafio é combinar política econômica que estimule o crescimento e estabilidade monetária com adoção de gestão que garanta a qualidade na oferta dos serviços públicos.

Marx e os simplistas - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 15/11

Ao ser entrevistado, um sujeito disse que a economia não tem mais que meia dúzia de princípios simples, os quais, uma vez observados, produziriam o crescimento econômico e, por consequência, a superação da pobreza. Trata-se de exagerado simplismo. Seguramente, é possível selecionar seis princípios econômicos cuja observância é condição necessária para o crescimento do produto. Porém, sejam eles quais forem, jamais serão condição suficiente para alcançar expansão da produção e eliminar a pobreza.

De início, duas questões podem ser levantadas. Uma, o aumento da produção não gera, por si só, a superação da pobreza, pois uma complexidade sempre presente está na difícil tarefa de distribuir o produto e a renda. Outra, o tabuleiro econômico é um mosaico de peças, cujo entrelaçamento e movimento nenhuma mente genial consegue ajustar com precisão de modo a obter os dois objetivos até o ponto em que o bem-estar de todos seja conquistado.

Karl Marx dizia: “Se a aparência e a essência dos fenômenos fossem a mesma coisa, a ciência seria desnecessária”. A ilusão dos simplistas vem do fato de que a compreensão de meia dúzia de princípios econômicos desvenda um mundo de mistérios capazes de dar, a quem os compreende, a impressão de que já sabem tudo. Enganam-se. O próprio Marx, com todo o poder de seu sofisticado intelecto, angustiou-se profundamente diante de certos fenômenos, alguns dos quais ele não conseguiu desvendar.

O primeiro fenômeno que angustiou Karl Marx diz respeito à produtividade. Alguns leitores superficiais da obra desse autor atribuem a ele a ideia de que o problema da produção já estava resolvido, e tudo se resumia a distribuir o produto e a renda. Marx jamais disse isso. Ou melhor, ele disse, sim, que era preciso distribuir os frutos da produção e disse também que era ingenuidade deixar tal tarefa a carga dos empresários. Porém, ele alertou que esse caminho nada resolveria se não houvesse aumento da produtividade-hora do trabalho.

Ocorre que gritar contra a distribuição do produto – e ficar só nisso – tornou-se uma poderosa arma de conquista de poder sindical e de poder político. Até hoje, não há melhor arma para colher votos que posar de defensor dos pobres e crítico dos ricos. Marx declarou com insistência que era preciso aumentar a produtividade geral da economia e isso exigia impedir a explosão demográfica, educar o povo, treinar os trabalhadores e entender que pobreza não é virtude nem caminho para o céu. Por essas posições, ele andou às turras com as religiões.

Marx brigava também com os marxistas fanáticos quando eles desdenhavam o papel da acumulação de capital e da incorporação da tecnologia. Ele não gostava da ideia de deixar a acumulação capitalista a cargo de empresários sem uma legislação paralela capaz de proteger o trabalhador da exploração e do tratamento desumano. Mas também dizia que o pior inimigo do trabalhador era o conformismo e o baixo nível de educação.

Outro ponto que angustiou Marx foi o paradoxo do valor. Ele queria entender quais elementos entravam na produção de um bem ou serviço, como a produtividade se dava, como deveria ser a formação dos preços e como se daria a relação entre o preço de um bem e de outro. Ele queria entender qual deveria ser a relação real entre o preço de um par de sapatos e o preço de um litro de leite. Dizendo de outra forma, quantas horas um operário teria de trabalhar para comprar um litro de leite, comparado com quantas horas seriam necessárias para adquirir um par de sapatos.

Marx nunca foi leviano nem superficial na análise desses fenômenos, pois ele entendia a complexidade do tema. Entretanto, há quem não estudou um décimo dele e, no entanto, acredita ter decifrado os enigmas que nem Marx decifrou.